O LANCHE DE BORDO ESTÁ DE VOLTA, MAS EM VERSÃO MODESTA
Nem nos ares a inflação de alimentos dá trégua. Alguns snacks ficaram mais simples. Há casos em que dá para tomar cerveja

Quem voou em rotas domésticas recentemente já percebeu: o serviço de bordo voltou. Em meio à alta de preços de passagens e margens menores de lucro das empresas, as três maiores companhias do país (Latam Brasil, Gol e Azul) redesenharam as próprias ofertas de lanchinhos. Barrinhas e amendoins estão mais modestos, mas em alguns voos é possível até tomar cerveja.
As refeições ficaram ainda mais simples. Ao mesmo tempo, as aéreas criam diferenciais para atrair os clientes com maior poder aquisitivo.
De modo geral, o glamour nostálgico de refeições quentes e bebidas inclusas em todo voo virou coisa do passado, sem perspectiva de voltar. Tentando sair de uma das maiores crises do setor em décadas, as empresas buscam todas as formas de diluir custos.
“O serviço varia, mas é simples em comparação ao que tínhamos na década de 1990, com oferta de pratos quentes em todo voo. Em contrapartida, era outra realidade de mercado e as tarifas médias eram mais altas”, diz o diretor de aeroportos da Latam Brasil, Derick Barbosa.
O retorno dos lanches envolveu planejamento das empresas, que não sabiam quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) editaria a resolução que permitiu a volta do serviço.
‘HAPPY HOUR’ NAS NUVENS
Na Azul, a preparação levou sete meses, de acordo com o diretor de Marketing da aérea, Daniel Bicudo:
“Envolvemos 450 pessoas na preparação de kits e retreinamos comissários porque, na Azul, eles carregam bandejas com as opções de snacks.
No país, a Azul é a única que serve os alimentos em embalagens com a própria marca da companhia aérea. Os fornecedores, segundo Bicudo, não são os mesmos dos alimentos doces e salgados.
A empresa foi a primeira a voltar a oferecer o serviço. São, de acordo com Bicudo, 31 bases que já estavam abastecidas com produtos à espera da liberação da Anvisa.
Hoje, os 800 voos da Azul têm oferta de lanches e bebidas variadas. A partir de hoje, a ponte aérea Rio-São Paulo passará a ter cerveja disponível às quartas, quintas e sextas-feiras em voos entre 16h e 22h, em ambos os sentidos da rota.
Nos demais voos, são oferecidos lanches salgados e doces, e o passageiro pode repetir.
“Para nós, era importante servir as balinhas com formato de avião, que são um dos emblemas da Azul. Elas são oferecidas em todos os voos. O restante depende do horário do voo. Temos cookies, bolinhos e goiabinhas como opções doces. Nas salgadas, pacote de batata chips ou salgadinho sabor torresmo ou bacon”, explica Bicudo.
BISCOITO DE 10G
Na Latam Brasil, o retorno do serviço de bordo foi em 1º de junho, em todos os voos. A escolha do que servir foi repensada e varia de acordo com o tempo do voo, segundo Derick Barbosa, diretor de Aeroportos da companhia.
Segundo ele, o nível de satisfação dos clientes já aumentou em razão dos lanchinhos em pesquisas feitas depois de cada voo, ainda que se resumam a biscoitinho e água nas curtas distâncias.
“Fizemos contratações de fornecedores no começo do ano com contrato de 12 meses. Empurramos isso para frente por restrições sanitárias e, depois do aval da Anvisa, tivemos oito dias para preparara logística”, diz Barbosa, que diz que a empresa sente o impacto da inflação dos alimentos.
Na Latam, são oferecidos a passageiros da classe econômica em rotas curtas, de menos de uma hora e meia de voo, água e um cookie de 10g. Nas rotas médias (de uma hora e meia a duas horas de voo), além dos snacks, entram o café e, eventualmente, outras bebidas. Nas longas, há bebidas como sucos e refrigerantes.
A partir de sexta-feira, em rotas de durações médias e longas, haverá entrega de sanduíches quentes a passageiros da categoria Premium Economy, em que se paga tarifa mais elevada para ter, entre outras vantagens, mais espaço entre os assentos. O objetivo é fidelizar quem valoriza mais conforto.
“Olhamos constantemente o que os concorrentes oferecem e, eventualmente, fazemos ajustes em uma rota específica para manter competitividade”, diz o executivo.
Uma rota com mais passageiros corporativos, menos sensíveis à alta de preços, pode ter uma oferta maior de snacks, portanto.
Na Gol, o serviço de bordo voltou em maio para voos com partida em São Paulo e, em 1º de junho, de modo geral. Segundo Haroldo Lima, coordenador de Produtos e Parcerias da Gol, os voos com mais de 45 minutos têm oferta de lanches e bebidas, como sucos e café. Em rotas mais curtas, o passageiro recebe um copo d’água.
Entre as opções de alimentos, estão doces como biscoitos recheados e cookies. Na salgada, biscoito de polvilho sem lactose e sem glúten.
“A grande dificuldade que tivemos foi a falta de previsão da volta do serviço de bordo”, conta Lima, acrescentando que a companhia sentiu o impacto da inflação. “Apesar disso, não quisemos prejudicar a qualidade do serviço e mantivemos a mesma oferta de snacks anterior à pandemia. Segundo ele, a empresa estuda adiante a retomada de oferta de lanches sob demanda. A Gol chegou a oferecer a opção de o passageiro comprar comida antes da pandemia.
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