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ABUSO DE VITAMINA D PODE TRAZER RISCOS À SAÚDE

Estudo britânico relata caso de homem que precisou ser hospitalizado depois de sofrer uma hipervitaminose. Sintomas incluem vômitos, náuseas e várias manifestações neurológicas, como sonolência, confusão e apatia

Médicos do Reino Unido relataram um caso de overdose de vitamina D e alertaram para os riscos da ingestão excessiva da substância em publicação na revista científica BMJ Case Reports. O paciente precisou ser hospitalizado por vômitos recorrentes, náuseas, dores abdominais, diarreia e outros sintomas decorrentes do quadro chamado de hipervitaminose D.

Segundo os responsáveis pelo caso, o problema está em alta e representa uma série de riscos à saúde. O homem britânico começou a manifestar os sinais cerca de um mês após iniciar um regime de suplementação de diversas vitaminas. Os problemas, que envolveram ainda cãibras nas pernas, zumbido no ouvido, boca seca, aumento da sede e perda de peso, duraram por aproximadamente três meses antes de levar o paciente ao hospital.

Entre os compostos ingeridos por ele nessa suplementação, foi relatada uma dose diária de 150.000 UI (unidade internacional utilizada para vitaminas), embora o recomendado seja de no máximo 400 UI por dia.

Quando os sintomas tiveram início, ele deixou de tomar os suplementos, porém seu quadro não melhorou. No hospital, os exames de sangue mostraram que ele tinha níveis além do normal de cálcio e que a taxa de vitamina D estava sete vezes acima do considerado suficiente para o corpo.

O paciente permaneceu internado por oito dias recebendo fluidos intravenosos para limpar o organismo e sendo tratado com bisfosfonatos, remédios normalmente utilizados para reduzir os níveis excessivos de cálcio no sangue. As taxas da substância no sangue, que crescem com o aumento da vitamina D, apenas retornaram ao normal dois meses após a alta. Porém, a concentração da vitamina continuou além do ideal.

“Globalmente, há uma tendência crescente de hipervitaminose D, uma condição clínica caracterizada por níveis elevados de vitamina D no sangue”, escreveram os pesquisadores, que alertam: “Esse relato de caso destaca ainda mais a toxicidade potencial de suplementos que são amplamente considerados seguros até serem tomados em quantidades ou em combinações inseguras”.

Eles explicam que, devido ao tempo longo que a substância leva para ser absorvida, de aproximadamente dois meses, os sintomas de quadros de intoxicação podem durar muitas semanas.

PISTAS DO EXCESSO

Os sinais de abuso são muitos e variados, apontam os cientistas, geralmente ligados a esse consequente excesso de cálcio no sangue. Eles podem ser neurológicos, como sonolência, confusão, apatia, psicose, depressão, ou desconfortos no corpo como dor abdominal, vômitos, constipação, úlceras, pressão alta, insuficiência renal, entre outros.

Embora esteja em alta, a hipervitaminose D continua sendo um quadro relativamente raro, destacam os autores do trabalho. No entanto, como os suplementos vitamínicos estão mais populares, eles defendem ser importante alertar para os riscos. O consumo desses produtos cresceu na pandemia, e muitos não acreditam ser possível ingerir doses prejudiciais de vitaminas.

GESTÃO E CARREIRA

MEDO DE DEMISSÃO FAZ PROFISSIONAL TRABALHAR DOENTE

Fenômeno é conhecido como presenteísmo, caracterizado pela presença física na empresa, mas ausência de foco

Você começa a trabalhar, está na empresa ou no home office, mas seus pensamentos estão distantes, o foco quase inexiste e o fim do expediente é aguardado com impaciência. Assim pode ser caracterizado o presenteísmo, fenômeno causado por questões como falta de perspectiva na carreira, desvalorização do trabalho e problemas pessoais. Nos últimos anos, a saúde mental debilitada também se destacou como motivo. “Pacientes com depressão vivem anos com a doença, que tende a ser crônica e recorrente, levando a um custo econômico e social enorme. É a principal doença relacionada ao presenteísmo, em que, mesmo doente, a pessoa continua trabalhando pelo estigma associado à saúde mental”, disse o professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Humberto Corrêa, durante evento da Janssen.

O médico afirmou que os custos relacionados ao presenteísmo superam os do absenteísmo, que é quando o funcionário se ausenta do trabalho. A afirmação vem de um estudo publicado na revista médica Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, que avaliou a produtividade no trabalho de pessoas com depressão, considerando a extensão e os custos do absenteísmo e do presenteísmo em oito países, incluindo o Brasil.

Por aqui, o resultado mostrou que o custo anual de produtividade associado ao presenteísmo foi três vezes maior que o do absenteísmo, US$ 5.788 ante US$ 1.361. Ao considerar a força de trabalho total e a prevalência anual estimada da doença entre as pessoas ocupadas, o custo brasileiro passa dos US$ 63 bilhões, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com US$ 84 bilhões.

MUDANÇA DE FOCO

Algumas empresas já perceberam que o caminho é reorganizar suas estruturas para amenizar o problema, afirma o médico psicanalista André Fusco, que trabalha há mais de dez anos com saúde mental nas corporações. Para ele, em vez de focar na doença e no doente, a abordagem tem de estar na organização e nos processos de funcionamento da empresa. “Brinco que não sou médico do trabalhador. Sou médico do trabalho e o desafio é entender como o trabalho está gerando incoerência, constrangimentos e contradições, o que faz com que as pessoas tenham mecanismos de compensação.”

Fusco explica que quando o foco está na doença e não no contexto, o resultado é o constrangimento, tanto por parte do funcionário – que se vê incapaz de hábitos melhores – quanto por parte do gestor direto, que se sente culpado. Dessa forma, o primeiro tabu em torno do tema é admitir a necessidade de ajuda.

Pesquisa conduzida por Fusco a pedido de uma empresa (que não quer ser identificada) mostra que 90% das pessoas que estavam tomando medicação tarja preta, fazendo terapia ou consultando psiquiatra não apresentaram atestado de transtorno mental ao empregador. Ou seja, para cada funcionário que entrega atestado, há nove em presenteísmo. Corroborando o medo do estigma, os pesquisadores de Londres mostraram que 65,4% dos brasileiros entrevistados, com diagnóstico prévio, não saíram de licença durante o episódio de depressão; 17,7% ficaram 21 dias ou mais afastados; e 6,6% passaram entre 11 e 15 dias distantes do trabalho. Na amostra total, os funcionários na faixa dos 18 aos 64 anos não contaram sobre a doença porque achavam que o atestado colocaria o emprego em risco, principalmente num cenário econômico ruim.

“Se tem algo positivo que a pandemia nos trouxe é poder falar mais sobre saúde mental. O ambiente de trabalho tem de tratar doença mental da mesma forma que trata diabete ou qualquer outra doença”, diz Humberto Corrêa.

NOVOS CONCEITOS

No banco digital Will Bank, uma pesquisa de clima, engajamento e satisfação dos colaboradores identificou práticas que podiam ser gatilhos de ansiedade no time de atendimento ao cliente. Indisponibilidade do sistema para iniciar o trabalho, métricas que estimulavam uma competitividade não saudável e ausência de um plano de carreira explícito foram alvos de atenção.

Com a pandemia, a saúde mental ficou mais evidente e, conversando com supervisores, a empresa viu relatos de absenteísmo. A junção desses fatores moveu a fintech a buscar a consultoria de Fusco. Após novas análises, um plano de ação foi implementado com resultados positivos.

“Agora, não falamos de produtividade, mas de performance coletiva”, diz a gerente de experiência do cliente do Will Bank, Karina Bucceli. “Continuamos fazendo a avaliação de qualidade pessoa a pessoa, mas o retorno é individual, de como ela pode melhorar como profissional. Quando falamos de indicadores de performance coletiva, é um grupo de agentes que tem um objetivo de entrega, não mais metas.”

Essa experiência fez a equipe se aproximar mais da cultura jovem e colaborativa da empresa, permitiu que as pessoas se apoiassem e diminuiu a ansiedade por resultados. Já a questão da carreira foi trabalhada com um mapa visual. “Agora, eles sabem em que posição estão, como e para onde podem ir.” De 2019 para cá, a executiva conta que o resultado do diagnóstico de clima evoluiu 55% e a taxa de absenteísmo foi reduzida em 7,5%.

APOIO

Outro cenário em que o presenteísmo pode ocorrer é no retorno do profissional que ficou afastado do trabalho. “Se a pessoa já adoeceu ali, vai ter indisposição maior e uma busca por culpados. E quanto maior o tempo de afastamento, mais difícil é a volta”, avalia Fusco. Segundo ele, o fenômeno pode ser mais comum nesses casos, pois há receio da demissão após o afastamento. “A empresa não considera a dificuldade e delicadeza desse retorno. A volta tem de ser gradativa e respeitosa.”

“O problema da saúde mental no trabalho é a forma como o trabalho está organizado”, diz Fusco, citando modelos de produção baseados nas linhas de montagem de Henry Ford e Frederick Taylor, com alta produtividade e pouca atenção ao ser humano. Por isso, o olhar dele está voltado para métodos de avaliação, metas, plano de carreira, modos de seleção e relação com clientes.

EU ACHO …

ESCONDERIJO CONJUGAL

No livro Monogamia, do psicanalista Adam Philips, há um trecho em que ele diz que o esconderijo mais aconchegante é aquele em que conseguimos esquecer do que estamos nos escondendo. Mais: é aquele em que até esquecemos que estamos escondidos. E conclui: “Formamos casais porque é impossível se esconder sozinho”.

O casamento como esconderijo. Eu nunca havia pensado nisso.

Uma pessoa avulsa é uma pessoa com sua solidão escancarada, é uma pessoa que necessita fazer contatos e explicar quem é, o que faz, do que gosta. Uma pessoa sozinha é visada, está exposta, julgam que ela tem mais tempo, está mais disponível, uma pessoa sozinha não tem onde se esconder. Já duas pessoas juntas escondem-se das fantasias e do julgamento alheio, se escondem de sua própria vulnerabilidade e dos seus próprios segredos, duas pessoas juntas protegem-se oficialmente, mesmo sem ter a consciência de que sua união também é isso, um esconderijo.

A sociedade costuma cobrar relações amorosas daqueles que escolheram viver sozinhos, ou que estão sozinhos por contingência do destino. Os solitários, os ermitãos, °s donos da própria vida são tratados como se estivessem à margem, mas são os casados os verdadeiros excluídos, porque uma vez cumpridores de uma expectativa social, perdem seu potencial para surpreender, não chamam mais a atenção, passam a ser apenas fazedores de filhos e de dívidas, consumidores de imóveis de três dormitórios e carros utilitários, viram alvo apenas das corretoras de seguro e dos agentes de viagem. Dentro de um casamento, julga-se que há duas pessoas realizadas, completamente a salvo da angústia existencial, da carência afetiva, dos traumas de infância, da insanidade, do vício e dos ímpetos – imagine, ímpetos: casais jamais ousariam fazer algo sem pensar, sem conversar muitas vezes antes, durante e depois do jantar.

A solidão, que sempre pareceu nos proteger, na verdade nos coloca no centro das atenções, permite que coloquem o dedo nas nossas feridas. Já o casamento nos tira da prateleira, nos resguarda, nos esconde tão bem e tão sem alarde que a gente nem percebe que está escondido. Que ironia: o casamento é que é underground.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

TOMAR MUITOS BANHOS PODE SER PREJUDICIAL À SAÚDE DA PELE

Água e sabão frequentes ameaçam o óleo natural e as bactérias boas que ajudam a manter epiderme equilibrada e funcional

Um contingente cada vez maior de rebeldes tem renunciado ao banho diário e a outros padrões-ouro de higiene pessoal, como lavar o cabelo com xampu e usar desodorante, desafiando uma cultura de limpeza. Para os contidos a essa opção de estilo de vida, há muitas razões para se banhar menos e ficar com o cheiro mais natural.

“Não precisamos nos banhar como fazíamos quando éramos agricultores. Desde o advento dos carros e das máquinas que economizam trabalho, nunca precisamos de tão pouco banho e ao invés disso, estamos tomando mais”, afirma Katherine Ashenburg, de 65 anos, autora de “The Dirt on Clean: Na Unsanítized History” (A sujeira no limpo: Uma história não higienizada, em tradução livre).

A retenção dos óleos naturais da pele e a conservação da água são duas razões usadas como explicação para não tomar banho diariamente. Alguns concluíram que o desodorante é desnecessário depois de esquecê-lo uma vez sem repercussões sociais, ou estão preocupados com antitranspirantes contendo alumínio, embora tanto o Instituto Nacional do Câncer quanto a Associação de Alzheimer não compartilhem dessas preocupações.

Lavar o mínimo possível com xampu pode ajudar a reter a umidade em mechas secas e melhorar a forma dos cachos, argumentam os adeptos da pratica.

ANTIBIÓTICO NATURAL

Resista ao desejo de recuar diante desse grupo: eles podem estar no caminho certo. Ultimamente, os pesquisadores descobriram que, assim como o intestino contém boas bactérias que o ajudam a funcionar com mais eficiência, nossa pele está repleta de germes benéficos, que talvez não queiramos mandar pelo ralo abaixo.

“Boas bactérias estão educando as células da pele para fazer seus próprios antibióticos. Elas produzem seus antibióticos que matam as bactérias ruins”, explica Richard Gallo, chefe da divisão de dermatologia da Universidade da Califórnia, em San Diego.

Algumas pessoas há muito reclamam que tomar banho demais deixa a pele mais seca ou mais propensa a surtos de eczema, e Gallo diz que os cientistas estão apenas começando a entender o porquê.

“Não é apenas a remoção dos lipídios e óleos da pele que a resseca. Você pode estar removendo algumas das boas bactérias que ajudam a manter seu equilíbrio saudável também”, afirmou.

Elaine Larson, professora da Escola de Enfermagem da Universidade de Columbia com Ph.D. em epidemiologia, alertou que os passageiros de transporte coletivo, frequentadores de academias e outros que entram em contato com muitos estranhos devem considerar se ensaboar.

“Se é temporada de gripes e resfriados, você vai querer se livrar das coisas que não fazem parte de seus próprios germes normais”, afirma.

Seja qual for a motivação, a limpeza pessoal tem sido um grande negócio. A publicidade sempre aborda (e possivelmente gera) a ansiedade sobre o odor corporal.

Adultos com menos de 24 anos usam desodorante e antitranspirante mais de nove vezes por semana, mas mesmo para grupos etários mais velhos, o uso nunca cai abaixo da média de uma vez por dia, de acordo com a Mintel, uma empresa de pesquisa de mercado. Noventa e três por cento dos adultos dos Estados Unidos usam xampu quase diariamente, relata a empresa. Estatísticas confiáveis sobre a frequência com que os americanos tomam banho são difíceis de encontrar, como explica Regina Corso, vice-presidente sênior da Harris Poli, outra empresa de pesquisa:

“As pessoas costumam hesitar em dizer que não tomam banho todos os dias.”

SEM DESODORANTE

Todd Felix, um ator de aparência limpa e produtor online da Sony que mora em Los Angeles, ficou feliz em relatar que considera desodorante desnecessário e antitranspirantes absurdos. Para ele, o último ésemelhante a cobrir os poros com uma embalagem plástica.

Para manter seu odor corporal sob controle, ele toma um banho diário com sabonete líquido sem perfume, geralmente depois da academia. Mas Felix, que está na casa dos 30 e não quer ser tachado de hippie, é cauteloso ao revelar que não usa proteção nas axilas para pessoas com quem sai.

“Quando você diz a uma pessoa que não usa desodorante, você se depara com “Oh, que europeu, que natural, que descolado”.

As poucas vezes que Felix mencionou em um encontro que ele fica sem desodorante, ele disse, as coisas rapidamente azedaram. “É estranho, mas eu não fico fedido”, ele costuma dizer. A resposta ésempre: “Você é que pensa que não cheira mal”.  

Mas Mart Merkel, um engenheiro de Birdsboro, Pensilvânia, tem certeza de que cheira bem. Como? Recentemente, Merkel, 29 anos, disse à mãe e à irmã que desistiu do desodorante quando adolescente, e elas ficaram chocadas.

“Eu estava tipo, “Me cheire eu não me importo!”, ele disse a elas, acrescentando; “Elas provavelmente pensavam que eu ainda tinha 13 ou 14 anos e fazia isso porque alguém me disse para fazer isso.

O costume americano de limpeza rigorosa estava em pleno andamento na Segunda Guerra Mundial quando a maioria das casas adquiriu um banheiro completo, diz Ashenburg, e intensificou-se com os esforços de marketing do pós-guerra.

Mas alguns jovens aspirantes não se preocuparam com suor ou mal odor.

“Não me sinto mais fedido do que qualquer outro cara, e conheço muitas pessoas que dizem a mesma coisa. Nunca me falaram que estou fedendo. Quando digo às pessoas que não uso desodorante, elas ficam surpresas ao ouvir isso”, conta Blake Johnson, de 25 anos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

POR QUE FALAR SOZINHO FAZ BEM PARA A SAÚDE MENTAL

Hábito é encarado com preconceito, mas pode ser ótimo para aprender a lidar com os próprios problemas

Tremendo na cama à noite, com os cobertores sobre a cabeça, salvo por uma abertura que deixei no meu rosto, eu sussurrava meus problemas para meu confidente mais próximo: Parede. Parede era o que existia de mais próximo da minha cama na infância e, além do ocasional estrondo ou deslizar abafado, um comunicador não verbal. Isso não me impediu de ouvir e seguir seus conselhos. Nem sua fachada barata – painéis de madeira falsa acastanhada cheios de adesivos – moderou minha crença em suas profundezas ternas. Parede era um garoto como eu, porém mais calmo, mais frio, mais reflexivo. Ele me ouvia, debatia comigo, completava as frases que eu não terminava. Com ele eu podia lançar ideias como bolas, até que o sono finalmente vencesse o medo.

Não falo mais com o Parede ou com nenhum parente dele: Rendas, Teto, Piso Rabugento. Parece que nos esquecemos de como nos comunicarmos uns com os outros. Além disso, quase não nos vemos mais. Em vez disso, falo em voz alta para mim mesmo. No museu onde trabalho, enumero as tarefas do dia e as ferramentas necessárias: furadeira, broca, ponta magnética e um medidor de nível. No supermercado, interrogo minha lista de compras mental e me desprezo por sua ilegibilidade: Precisamos de, hum… macarrão? Ovos? Nós? Tornei-me o que sempre fui: meu próprio Parede. Os psicólogos chamam o que eu faço de “conversa interna externa” para diferenciá-la da conversa interna regular, também conhecida como monólogo ou diálogo interno. Muitas pessoas fazem isso – apenas assista a uma partida de tênis se você não acredita em mim. É visto como normal dentro de certos limites, até benéfico, embora a discrição do falante seja recomendada. Como muitos comportamentos normais, também é estranho se a pessoa errada o observar, especialmente quando você é jovem.

Quando criança, eu sabia que, se falasse comigo mesmo no terreno da escola, corria o risco de me tornar “aquele maluco” que fala sozinho, e que as associações populares do ato – psicose aguda, desajuste – tendem para o negativo. O estigma me manteve quieto, mas sua potência diminuiu à medida que envelhecia.

LIBERADO

Faça outra coisa: olhe ao redor. As pessoas andam pelas ruas conversando e gesticulando, pequenos botões brancos nos ouvidos. Eles apontam para câmeras de telefone. Determinar a qual público invisível um pedestre está se dirigindo tornou-se um cálculo muito difícil para se preocupar em resolver; a autoconsciência desvanecida e os estranhos efeitos do consumo dos eletrônicos me libertaram.

Ainda assim, costumo ficar sozinho em meu apartamento ou escritório para minhas conversas mais animadas. Elas geralmente se iniciam quando chego a um impasse enquanto escrevo e sigo um loop regular. A pressão se acumula até que a liberação se torna inevitável.

Meu monólogo interno não será mais suficiente. A realidade mais dura da linguagem falada começa a sair da minha boca. Eu me amaldiçoo. Eu me flagro. Meus murmúrios se transformam em uma positividade plástica: você não é a pior pessoa; você não precisa desaparecer no vazio. Em vez disso, você é bom e capaz.

Referir-me a mim mesmo como “você” acontece inconscientemente, à medida que a voz falada e o que se ouve se separam. A lacuna se alarga. A primeira pessoa salta para a segunda.

Quando minhas garantias não me asseguram, tento uma imitação de [Samuel] Beckett e um conselho geral: você deve continuar, você vai continuar. Preso como sempre, gradualmente transformo minha conversa estimulante em uma espécie de sessão psicodinâmica com o eu, por meio da qual discerno a forma do meu bloqueio. É uma questão pragmática: divida seu problema em partes, descreva o que está faltando, incorpore o que te atrapalha. A distância de “você” finalmente oferece perspectiva e autoridade. Eu faço uma mudança. Eu chamo isso de progresso. Surgem bolhas de autoconfiança genuína: você pode fazer isso; então eu posso fazer isso; então, vamos fazer isso. Como eu poderia ter duvidado de mim mesmo? Mais tarde vislumbrarei outro impasse, e o processo se repetirá.

Outros podem preferir chamar um amigo para ajudar. Por que não procurar alguém de “fora”? Não é um pouco antissocial falar consigo mesmo? Embora eu ainda tenha que renunciar inteiramente à amizade e seu socorro.

Descobri que a autoanálise vocalizada e a disposição de se arrastar por dilemas intelectuais e morais em solidão barulhenta é um complemento valioso para saídas de conversação mais tradicionais, especialmente quando se trata de pensamento criativo.

Quando perguntei a amigos se eles falavam sozinhos, um deles descreveu associação livre e encenação para se preparar para reuniões de alto risco. Outro amigo, um fotógrafo, refina sua estética pretendida para um trabalho falando sobre isso, em voz alta, e antecipa como ele lidará com dificuldades hipotéticas no dia da filmagem.

Claramente, os fenômenos gêmeos de bem-estar e auto otimização pulsam sob o capô aqui. Pode-se imaginar as manchetes inspiradas em SEO: “Como falar consigo mesmo pode ajudá-lo a trabalhar de maneira mais inteligente e rápida”. É justo, mas a conversa interna externa também é um meio de negociar quem é e quem se pode ser.

O medo que associamos a uma pessoa que fala longamente consigo mesma publicamente, e sem aparente preocupação ou consciência do impacto que seu comportamento tem sobre os que a cercam, é o medo de um eu em erosão, sua suposta constância e singularidade se desfazendo, fios soltos conversando uns com os outros caoticamente.

Mas o ato de falar comigo mesmo é um lembrete de que a constância e a singularidade são ilusórias por princípio. Que minha multiplicidade é, por sua vez, uma espécie de promessa: não preciso ser como sou. Você também não precisa. Podemos ser diferentes do esperado de uma maneira menor. Ou podemos ser capazes de formular uma frase difícil, que pode levar a um parágrafo, depois a uma nova peça, depois a uma nova pessoa.

Provavelmente, muito provavelmente falar consigo mesmo não mudará o mundo. Pode até não mudar radicalmente você. Mas o diálogo entre os eus atuais e potenciais é uma pequena prova de que tal mudança é possível. Ou talvez seja apenas algo que eu gosto de dizer a mim mesmo.

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