OUTROS OLHARES

REFÉNS DO MEDO

Justiça concedeu 15 mil medidas protetivas, só este ano, para vítimas de violência doméstica

Maria (nome fictício), de 33 anos, perdeu a conta de quantas vezes terminou o dia na emergência de hospitais. Mas não por problemas de saúde. Ela era constantemente agredida pelo ex-marido. Entre a primeira e a segunda vez que engravidou, um chute na pelve evoluiu para trombose, depois, um tumor nas trompas. Precisou fazer uma histerectomia (cirurgia de remoção do útero). A filha mais velha, hoje com 5 anos, presenciou muitos dos espancamentos. Em 2019, Maria rompeu o ciclo de violência e se separou. Conseguiu também, na Justiça, uma medida protetiva para tentar manter o ex- marido longe dela e das duas filhas. Maria não está sozinha: apenas entre janeiro e maio deste ano, o Judiciário estadual concedeu 15.087 ordens judiciais para proteger mulheres vítimas da violência doméstica.

São, em média, cem mulheres por dia que conseguem ajuda na Justiça para sair de situações de violência. No ano passado, foram mais de 33.830 medidas protetivas deferidas para mulheres vítimas de violência no Rio. É unanimidade entre as instituições e grupos que lutam pela proteção dessas vítimas a força dessas medidas, principalmente quando elas são concedidas de forma rápida. Mas também é consenso que a decisão judicial precisa vir acompanhada de outras formas de proteção.

“Cada processo de medida protetiva é uma mulher em situação de perigo, em situação de violência. Esses números assustadores são de mulheres que procuraram a Justiça. Muitas não procuraram ainda. Então, a quantidade de mulheres que estão em risco é muito maior”, lamenta Katerine Jatahy, juíza do Juizado de Violência Doméstica da Leopoldina, uma das comarcas com mais pedidos de medida protetiva no estado.

De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), 52 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado entre janeiro e maio deste ano, e 128 sofreram tentativa de feminicídio.

SINTOMAS PERMANECEM

Depressão, ansiedade, síndrome do pânico, transtornos do sono e alimentares, autodepreciação, falta de concentração, abortos espontâneos, desmaios repentinos, doenças e dores crônicas e comportamentos autodestrutivos são alguns dos sintomas que podem acompanhar as vítimas por até cinco anos após conseguirem romper o ciclo de violência, segundo psicólogos e profissionais que acompanham essas mulheres.

No caso de Maria, sua filha demorou para desenvolver a fala. Até hoje, ela tem medo de tudo, ouve qualquer barulho mais forte e corre para se esconder. A coragem para se separar e denunciar o agressor veio após uma tentativa de estrangulamento e quando ela conseguiu achar apoio no grupo Ser Elas, que reúne mulheres vítimas de violência.

“Na agressão mais grave, ele tentou me estrangular e, se não fosse um anjo que apareceu para interferir, eu não estaria aqui hoje”, conta ela, que passou a ser perseguida on-line pelo agressor por causa da visitação das filhas. “Tive que ficar cara a cara com ele nas audiências para decidir sobrea visitação das meninas e sobrea guarda. O mediador disse que eu precisava desbloquear ele no WhatsApp. A partir daí, ele fala comigo 24 horas por dia, no meu horário de trabalho e, se eu não responder em dez minutos, ameaça tirar minhas filhas de mim. Hoje, quando o telefone toca, já começo a tremer, passar mal. Estou emocionalmente cada vez pior.”

Uma mulher em situação de violência crônica vive em eterno estado de alerta, explica Gabriela Barros, psicóloga e gestora do Mapa do Acolhimento, grupo de voluntárias que dá suporte psicológico e jurídico às vítimas de violência:

“A maioria delas, quatro anos depois, ainda não consegue falar sobreo que viveram ou sobreo  agressor sem tremer. O corpo cria memórias: cheiros, barulhos, movimentos. Tudo vira um gatilho. É como se você estivesse em um prédio pegando fogo, mas a porta de emergência contra incêndio não pudesse ser aberta.”

Muitas medidas protetivas são descumpridas e acabam não sendo denunciadas pelas mulheres, porque o agressor entra com pedidos de guarda compartilhada. Algumas mulheres que se recusam a entregar a criança, por medo do agressor, acabam respondendo a processos de alienação parental e outros crimes nas Varas de Família. Para a juíza Luciana Fiala, do 5º Juizado de Violência Doméstica da capital, é essencial que se estabeleça um diálogo maior entre as duas áreas do Judiciário, para que o agressor não seja beneficiado.

“A gente nota que é cada vez mais constante essa estratégia por parte do agressor: uma espécie de vingança contra a mulher através dos filhos. Há uma necessidade enorme de uma maior interseção entre a Vara de Violência Doméstica e as Varas de Família para que se identifique quando há interesses conflitantes, principalmente em casos envolvendo um denunciado.

Um fator crucial para evitar o descumprimento das medidas é a inclusão dessas mulheres em programas de proteção como a Patrulha Maria da Penha. Quando uma medida protetiva é deferida, o batalhão da área recebe a notificação, agentes da patrulha fazem o primeiro contato coma vítima e a convidam para participar do programa.

PROGRAMA DE PROTEÇÃO

Desde 2020, quando foi implementada, até o fim de junho deste ano, a Patrulha Maria da Penha já atendeu 43.500 mulheres. Dessas, 36 mil aceitaram participar do programa de proteção e, de acordo com os dados levantados pela Patrulha, apenas uma dessas mulheres sofreu feminicídio.

“A gente faz um acompanhamento muito próximo da vítima. Quando é reportado o descumprimento da medida, tentamos uma prisão em flagrante. Se o agressor não estiver mais no local, orientamos essa mulher a registrar a ocorrência na delegacia e, ao mesmo tempo, encaminhamos um relatório notificando diretamente o juiz que emitiu a medida do descumprimento”, explica a tenente-coronel Cláudia Orlinda, responsável pela Patrulha.

O simples fato de descumprir medidas protetivas se tornou um crime a partir de 2018. No primeiro semestre de 2022, o percentual de descumprimento de medidas protetivas nos casos em que as mulheres estão sendo acompanhadas pela Patrulha Maria da Penha no estado do Rio foi de 1,5%. Esse número representa uma redução de 49,8% no total de descumprimentos de medidas protetivas, quando comparado com o mesmo período de 2020. Só este ano, policiais da Patrulha efetuaram 39 prisões de agressores, a maioria por não respeitar as medidas determinadas pela Justiça.

AJUDA PELO APLICATIVO

Desde novembro de 2020, começou a ser disponibiliza- do na cidade do Rio o aplicativo Maria da Penha Virtual, desenvolvido por alunos da Faculdade de Direito da UFRJ, que possibilita que as próprias mulheres, sem sair de casa, possam enviar um pedido de medida protetiva para o Tribunal de Justiça.

A vítima preenche um formulário simples, podendo anexar foto, vídeo, laudo médico, gravar áudio e, depois, escolher o tipo de medida protetiva que quer solicitar. O pedido é encaminhado diretamente ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar. O objetivo é dar mais agilidade na concessão de medidas protetivas, já que nesses casos o tempo é determinante para a sobrevivência da vítima.

“Com o aplicativo, que é acessado através de um link on-line e não deixa vestígios no celular dessa mulher, conseguimos diminuir o prazo máximo de concessão das medidas protetivas de quatro para dois dias. Pela Lei Maria da Penha, o delegado tem 48 horas para fazer o pedido, e o juiz mais 48 horas para deferir. O app reduz esse tempo na metade”, detalha um dos fundadores do Maria da Penha Virtual, Rafael Wanderley.

O aplicativo passou a valer para todo o estado do Rio em março deste ano, e desde que começou a funcionar já foi usado para quase 1.500 pedidos de proteção, inclusive por mulheres em situação de cárcere privado.

GESTÃO E CARREIRA

‘GAMIFICAÇÃO’ GANHA ESPAÇO NAS EMPRESAS PARA FIDELIZAR CLIENTES

Ações interativas atraem consumidores, que dão acesso, em contrapartida, aos seus dados e hábitos

A professora aposentada Maria Luiza Apóstolo, 54 anos, é uma usuária assídua de aplicativos que usam a “gamificação” para oferecer descontos, cashback e doações de produtos. Desde que começou a usar esses serviços, ela já resgatou mais de R$ 3 mil em brindes e ganhou R$ 400 de recompensa. Para isso, conta que desenvolveu uma rotina diária, respondendo questionários, publicando fotos dos itens e desvendando charadas nos aplicativos. “É igual nas redes sociais, entro todos os dias para ver os prêmios que posso conseguir de graça”, conta.

Para entender o comportamento dos consumidores, algo essencial nas estratégias de negócios e para impulsionar marcas no varejo, cada vez mais empresas utilizam o marketing de experiência, em que fazem do lado lúdico dos jogos uma ferramenta para atrair clientes e oferecer recompensas em forma de brindes – de itens de maquiagem a investimentos em renda fixa. Empresas como Nívea, Grupo Boticário, Ifood, Localiza e MRV são algumas que têm utilizado a ferramenta no dia a dia.

Mas se engana quem acredita que essas recompensas são realmente gratuitas. Sem dinheiro envolvido nas transações, o pagamento pelas benesses se dá por meio de informações dos usuários, como explica a pesquisadora em segurança de dados do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV, Erica Bakonyi. “Precisamos entender que não existe nada de gratuito nisso. Nós sempre estamos oferecendo algo, neste caso, os nossos dados”, diz Erica. Na opinião da especialista, consumidores precisam estar atentos a golpes, já que a entrega de dados pessoais na internet pode gerar dores de cabeça em caso de vazamento de informações. A gamificação já está no radar das grandes varejistas. Um exemplo é o Magalu, que tem um projeto desse tipo, que está em desenvolvimento pelo núcleo de jogos da companhia.

ECONOMIA DOMÉSTICA

Um dos aplicativos usados pela professora Maria Luiza é o Gelt, startup de marketing que concede cashback por meio da gamificação. Para ter acesso às recompensas, os usuários participam de gincanas virtuais transmitidas nas redes sociais e realizam tarefas no próprio app.

Para o presidente da empresa, Henrique de Melo Franco, essa troca de informações por brindes auxilia empresas da indústria de bens de consumo a entender o comportamento dos clientes. “Atendemos às necessidades das empresas e ainda beneficiamos os clientes.”

As recompensas nesse segmento são as mais variadas. Na plataforma Mimoo, por exemplo, os usuários podem escolher itens de alimentação, higiene e perfumaria. Embora ligada ao virtual, algumas atividades do mundo físico também começam a ser ‘gamificadas’. É o que faz a healthtech VIK, que oferece pagamentos em Pix de até R$ 100 para clientes que atinjam metas de exercícios semanais. “Incentivamos as pessoas a mudarem os hábitos”, diz Pedro Reis, presidente da empresa.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Além de compilar dados, as plataformas com aspectos lúdicos ajudam a reforçar a marca e atrair novos usuários. No caso da corretora de investimentos Guide, o processo de gamificação é utilizado para incentivar os seus assinantes a usar um guia financeiro. No serviço, quem assiste às videoaulas e acompanha os relatórios acumula moedas virtuais, que podem ser trocadas por mentorias e papéis de renda fixa. Desde que foi inaugurado o modelo, a corretora teve uma conversão de 30% no número de usuários que se tornaram assinantes da corretora. “Nós queremos ser a Netflix dos investimentos, trazendo uma linguagem de entretenimento”, afirma a diretora Loni Batist.

Para Rejane Tomoto, da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), os programas de fidelidade com entregas de brindes já são um clássico entre as companhias. A novidade é o uso da tecnologia para promover o modelo de negócio. Mas a especialista alerta para o fato de que a estratégia de marketing dessas empresas pode criar falsas necessidades e atrapalhar avida financeira dos consumidores. “No fim, esses programas de recompensa são uma forma de as empresas venderem mais.”

PROTEÇÃO DE DADOS

USO CONSCIENTE

Ao usar programas de benefícios gamificados é preciso sempre buscar informações sobre sites e aplicativos que receberão seus dados pessoais

ATUALIZAÇÃO

É muito importante manter sistemas operacionais sempre atualizados, seja no celular seja no computador

PESQUISA

Se for necessário fazer o download de um programa para realizar as tarefas, faça isso apenas se o software estiver disponível em uma plataforma confiável, seja um site ou uma loja de aplicativos

ATENÇÃO

Antes de iniciar o jogo, é recomendado que o usuário leia a política de privacidade e os termos de uso do serviço, com especial atenção à palavras-chave como “dados pessoais coletados” e “dados compartilhados”

PREVENÇÃO

Evite formulações simples se for preciso criar uma senha para usar o game. Opte por usar mais de 8 caracteres, de preferência com símbolos e letras variadas

EU ACHO …

ATÉ QUE CHEGA A NOSSA VEZ

Eu pensava assim: “Se eu vir um acidente de carro na estrada, telefonarei para ambulâncias, pra polícia rodoviária, pro Lula, mas não terei coragem de parar e remover eu mesma os feridos”. Sei, nem um pouco nobre. Mas eu apostava mesmo que não teria estômago pra tanto. Até que um dia, na BR-101, aconteceu um acidente de carro bem na minha frente. Um choque entre um caminhão e um chevette caindo aos pedaços, com umas sete pessoas dentro, entre elas duas crianças. Nada que precisasse de remoção com equipe especializada, mas era preciso socorrê-los. O que fiz? Saltei do carro em que estava, interrompi o trânsito e ajudei a distribuir os feridos entre os outros carros que se ofereceram para ajudar – as duas crianças e a mãe delas vieram comigo. Levei-as ao hospital (estávamos pertinho de Torres) e, apesar da sangueira, soube no dia seguinte que salvaram-se todos. Eu havia garantido meu lugarzinho no céu.

O que me ficou desse episódio, além do alívio de saber que não sou tão covarde, é que a gente nunca sabe nada, até que chega a nossa vez. Eu não sabia como iria reagir diante de um acidente, até que me vi testemunha de um. Assim como não sei como reagirei diante de um assalto, como reagirei diante de uma perda profunda, como reagirei diante de um bilhete premiado da megasena ou de um convite para um drinque com o Jude Law. Palpites, tenho alguns. Mas certeza mesmo, nenhuma.

“Eu sofreria um ataque cardíaco se tivesse que saltar de um avião.” “Eu jamais teria um caso extraconjugal.”

“Eu distribuiria metade do dinheiro se ficasse rico com a loteria.” “Eu nunca aceitaria suborno.”

“Eu não suportaria ter um filho homossexual.”

Quem garante? São apenas defesas pré-programadas. A gente não sabe do que o nosso amor é capaz, o que a nossa natureza nos reserva, o poder da nossa desobediência ou subordinação. A gente não pode prever nossa reação diante do susto, da paixão, da fome, do medo. Podemos vir a ser uma grata surpresa para nós mesmos.

Para fechar este assunto, recomendo o excelente Queda livre, livro de ensaios do Otávio Frias Filho, que relata oito situações vivenciadas por ele. São experiências que ele jamais havia pensado em realizar, como saltar de paraquedas, ir a um clube de troca de casais, ser voluntário do CW, percorrer a pé o caminho de Santiago de Compostela, ir à Amazônia para conhecer de perto a seita do Santo Daime e outras aventuras. São reflexões inteligentes, elegantes, bem-humoradas e que nos dão uma vontade imensa de, como ele, ir além da teoria. Porque falar a gente fala sobre tudo e sobre todos, o que mais temos é opinião. Mas autoconhecimento, mesmo, a gente ganha é através do enfrentamento, e não com especulações.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

COMO ASSUMIR OS CABELOS BRANCOS

A cada dia mais mulheres decidem manter os fios grisalhos, ainda vistos por muitos como um sinal de desleixo, decadência do corpo ou doença. Veja também como elas cuidam dos fios platinados

Que mulher linda!” Não faltam elogios às fotos da maquiadora Gislaine Pimentel, de 45 anos, no seu perfil do Instagram, Grisalha Natural (@grisalheieagora), com 11 mil seguidores. Dona de longos cabelos brancos, ela conta que muitas pessoas mandam mensagem – ou até a param na rua – para perguntar sobre os cuidados que ela tem com os seus fios platinados.

Percebendo a demanda do mercado publicitário por pessoas grisalhas, ela começou a trabalhar como modelo. “Gosto de estar em evidência como modelo e intensificar essa influência de que é possível ser quem você é, com o cabelo natural, sem a química”, diz.

Na sociedade brasileira, em geral, ainda há preconceito contra a mulher que assume seus cabelos brancos, na percepção de Gislaine. ”Infelizmente, associam o cabelo branco ao desleixo e à falta de cuidado da mulher. Hoje me aceitam, mas quando resolvi parar de pintar os meus cabelos, em 2014, ouvi pessoas dizerem que eu não podia fazer isso”, lembra. Para Gislaine, o cabelo branco representa a liberdade. “É ótimo poder ser como eu sou, natural. Mas essa é uma atitude minha, que não quero impor a outras pessoas”, pondera.

Atrizes, modelos no Brasil e no mundo há alguns anos apontaram a tendência, que se intensificou na pandemia por conta do isolamento social. O cabeleireiro Gil  Scawia, que trabalha na rede Jacques Janine, em São Paulo, percebe esse aumento de interesse das suas clientes em assumir os cabelos brancos nos últimos anos, mas ao mesmo tempo um medo de parecerem “velhas”.

“Mesmo com a inspiração das mulheres famosas, o cabelo grisalho ainda está restrito mais às mulheres que trabalham com moda, arte, e que sejam muito seguras de si”, observa. “Aqui no Brasil, o homem grisalho é considerado charmoso, mas a mulher de cabelos brancos é vista como descuidada”, avalia.

Quando uma cliente quer fazer a transição para o visual grisalho e fica incomodada com o visual do cabelo só com a raiz branca, Scawia sugere o uso de chapéus, lenços e outros acessórios, enquanto espera que ele cresça para cortar e deixar a sua cor uniforme. Mas a mulher brasileira costuma ser imediatista e geralmente pede para fazer mechas platinadas. Nesse caso, para causar menos danos eu recomendo que sejam feitas em etapas, intercaladas por reconstrução capilar.” A fase de transição para o cabelo grisalho da dona de casa Elizabete Castro Antunes, de 43 anos, foi mais demorada do que ela esperava. Ela parou de pintar o cabelo em setembro de 2018 e foi fazendo os cortes nos seus cachos para diminuir a diferença da cor da raiz para as pontas dos fios, mas, no fim de 2019, a tintura ainda não tinha sido completamente eliminada.

“Como sou desencanada, deu certo. Mas o mundo inteiro me criticou. Escutei que aquilo   me envelheceu 10 anos, que eu estava louca. Teve até um senhor que eu não conhecia, numa fila do supermercado, que disse que eu não tinha idade para ter esse cabelo”, conta. Com apoio do marido e da mãe, ela seguiu em frente. “Comecei a publicar fotos no Instagram, para mostrar que estava ficando bom”, recorda a dona de casa.

A partir daí, Elizabete, mais conhecida como Bete, passou a cuidar mais de sua aparência, a caprichar na maquiagem e nas roupas. “Comecei a usar mais salto, roupa justa, ganhei autoestima. Comecei a receber dúvidas de mulheres interessadas em fazer a transição para o grisalho”, explica ela, que hoje tem 17 mil seguidores no seu perfil no Instagram.

Nas suas publicações, ela fala dos cuidados que tem com os cachos platinados, que considera “rebeldes”. “Toda semana faço um tratamento de umectação. Cuido para não usar secador em excesso, uso protetores térmicos e um chapéu quando saio ao sol”, ressalta.

Antes de assumir os fios brancos, além de tingir os cabelos, Bete alisava com a escova progressiva. “Comecei a me incomodar com o cheiro dos produtos químicos e resolvi parar de alisar. Na sequência, achei que deveria parar de pintar os cabelos também!’ Bete começou a tingir seus cabelos brancos com 20 anos. “Puxei à minha mãe, que tem cabelo branco desde nova.”

GENÉTICA

A genética é um dos fatores que influenciam a idade de surgimento dos cabelos brancos, afirma a dermatologista e tricologista (especialista em cabelo) Juliana Annunciato. “Para ter uma ideia da idade em que você terá cabelos brancos, veja se você puxou a textura e o tipo de fio do seu pai ou da sua mãe e pergunte com quantos anos eles ficaram grisalhos, pois provavelmente será igual para você”, ensina.

Outro fator que influencia o surgimento dos brancos é a qualidade de vida. Padrão de sono ruim, má alimentação, tabagismo e estresse aceleram o branqueamento dos cabelos. “Teve gente que percebeu o aumento de cabelos brancos durante a pandemia e isso se deve ao estresse”, esclarece.

A dermatologista explica que doenças agudas como a covid-19 também podem dar um “susto” no melanócito, célula que produz a melanina, pigmento usado no cabelo. “O melanócito suspende temporariamente a produção de melanina. Por isso, alguns pacientes com covid-19 ficaram com uma faixa de cabelo branco que depois voltou a escurecer”, observa.

Mas, com o avanço da idade e o envelhecimento celular, o que ocorre é que esses melanócitos diminuem a produção de melanina e morrem, sendo substituídos por queratinócitos, que produzem a queratina, proteína que dá resistência a unhas, pele e cabelo. “Por isso o cabelo branco costuma ser mais rígido e grosso”, analisa Juliana. Mas ela esclarece que, nesse caso, não há como reverter o processo de branqueamento dos cabelos.

Quando chegam os cabelos brancos, outros problemas decorrentes da idade também podem ter impacto nos fios, como alterações hormonais e uso de remédios. Com isso, os fios podem ficar ainda mais fragilizados – embora isso não prejudique o bulbo, que é a fábrica do cabelo. “Como a química agride os fios, é uma boa escolha deixar os brancos naturais”, garante a dermatologista.

A bancária Gabriela Medeiros, de 38 anos, ficou cansada de visitar o cabeleireiro para retocar a tintura nas raízes dos fios a cada 20 dias. “Criei até repulsa de ir ao salão e  comecei a pintar em casa, mas fazia a maior sujeira”, destaca. Seus primeiros fios brancos chegaram quando ela tinha 15 anos e eram arrancados um a um. Há três anos, resolveu que não ia pintar mais, mas não tinha referências de como fazer essa transição para o  visual grisalho. “Ninguém me apoiava nem me ajudava.”

CRÍTICAS

Decidiu, então, ir pelo caminho mais rápido e radical: “Fui ao barbeiro e raspei tudo. Senti um alívio imenso ao pensar que não teria mais de pintar o cabelo”. Enquanto deixava o  cabelo branco crescer, choviam críticas. “As pessoas diziam que eu havia envelhecido, que tinha ficado ridículo. Comecei então a caprichar na maquiagem e a usar brincos grandões.” Os comentários maldosos e olhares persistem, mas ela afirma que hoje não liga mais. “Com isso, aprendi a me valorizar e me amar pelo que sou”, conclui Gabriela.

Para deixar o cabelo bonito, ela tem o cuidado de protege-lo do sole e evita o uso de chapinha e secador. “O calor deixa o cabelo amarelado”, adverte. Para corrigir a cor, ela usa um xampu matizador. “Fica um branco bonito, cor da neve”, analisa. O xampu ou máscara matizadora contém um pigmento azul, que não fica permanente no cabelo, adianta o cabeleireiro e tricologista Tharik Bonomo. “Esse pigmento deixa o cabelo em um tom moderno, mas ele sai na próxima lavada”, avisa.

No seu salão e no seu consultório, o tricologista vê casos de mulheres que passam a ter lesões no couro cabeludo por causa de alergias desencadeadas pelo uso frequente de tintura. “Elas optam pelo visual grisalho pensando na saúde do couro cabeludo e na beleza dos fios.” Para suas clientes, ele explica a importância da qualidade de vida para que o cabelo cresça bonito. “Comer bem importa. Alimentos antioxidantes, ricos em vitamina B12, por exemplo, ajudam.”

Os fios brancos exigem cuidados especiais, reforça Bonomo. Calor, vento, sol e mar podem fragilizar os cabelos brancos, que são mais porosos e perdem mais facilmente a hidratação. Por isso é preciso lançar mão de produtos que contenham óleos para proteger os fios, recomenda o tricologista. Produtos com proteção térmica são indicados caso seja necessário usar secador ou chapinha, para evitar o ressecamento e amarelamento dos fios. “Se a mulher optar pelo alisamento, é preciso cuidado na escolha dos produtos usados, que podem alterar a cor do cabelo”, aconselha.

NEGRA

Mônica Jorge, de 62 anos, dona de casa, não quer alisar os seus cabelos crespos nem pintar os brancos. Semanalmente, ela se dedica a fazer sessões de hidratação e umectação para tratar os fios e diz que o trabalho compensa.

No seu perfil do Instagram, ela procura ajudar mulheres que desejam fazer a transição para o grisalho, especialmente as mulheres negras. “A mulher negra que decidir assumir os brancos tem de estar bem decidida, pois a pressão é maior. Todo mundo diz que não vai ficar bom . É verdade que é mais difícil, por conta da textura do cabelo, mais poroso, mas se cuidar com carinho fica bonito”, assegura.

Mônica escuta histórias de mulheres que enfrentam pressão para pintar o cabelo, como no ambiente de trabalho, mas percebe que há um movimento das grisalhas que se vem fortalecendo, embora lentamente. “Essas mulheres estão dando as mãos para mostrar que a sociedade não pode impor isso a elas”, declara.

Com fios brancos desde os seus 35 anos, Mônica resolveu assumi-los em 2011. “Percebi que meu cabelo não aceitava mais a pintura. E eu tinha de retocar a tintura em poucos dias.” Apenas a mãe e os filhos de Mônica apoiaram a decisão. “A sociedade não vê com bons olhos essa aceitação e faz críticas e cobranças. Havia momentos em que isso me deixava irritada ou desanimada, pois queria ver meu cabelo grisalho.”

Ultrapassadas as barreiras, Mônica só vê vantagens. “É ótimo ter a liberdade de ir a uma festa sem ter de se empenhar em manter o cabelo. Além disso, há o benefício financeiro, pois manter ó cabelo pintado sai caro.” Acima de tudo, ela se vê como urna mulher dona de si, que não precisa “se camuflar” para agradar a ninguém. Diante do espelho, ela aprova o visual. “Acho que o cabelo branco iluminou o meu rosto. Me gosto mais assim.”

O QUE É INDICADO PARA MANTER OS FIOS GRISALHOS

•  Capriche na hidratação ou na umectação para dar mais maleabilidade ao cabelo, já que os fios brancos tendem a ser mais rígidos.

•  Dê preferência a xampus que ajudam a tirar o tom amarelado dos fios. O matizador costuma ter um pigmento azulado, que deixa um tom mais acinzentado, mas quando usado em excesso pode deixar o cabelo roxo.

•  Prefira os xampus e cremes transparentes ou brancos, pois os pigmentos dos produtos podem deixar os fios brancos amarelados.

•  Abuse de chapéus e lenços, caso se sinta desconfortável durante a transição para o  visual grisalho.

•  Procure perfis nas redes sociais para se sentir unida a outras pessoas que passam pela mesma situação, de forma a se blindar de comentários negativos.

•  Faça mechas claras (reflexos) e descoloração, se a ideia for pular a etapa da transição para o visual grisalho. Mas é preciso saber que isso enfraquece os fios. Caso sua escolha seja ir por esse caminho, os especialistas indicam que seja feito em etapas, com cuidados na reconstrução dos fios nos intervalos.

•  Evite expor o cabelo ao sol. Use acessórios ou produtos para o cabelo que contenham protetor solar.

•  Evite o uso de chapinha e de secador, pois o calor pode danificar os fios brancos, que são mais frágeis. Se quiser usá-los, não se esqueça de aplicar antes um protetor térmico.

•  Invista na sua qualidade de vida: ter um bom sono, praticar exercícios físicos, evitar estresse e ter uma alimentação de qualidade se refletem na beleza da pele e do cabelo.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PESO DAS DÍVIDAS

Crise econômica e bolso vazio prejudicam mente e corpo, agravando risco de doenças

O cenário econômico atual, com alta inflação, taxa elevada de desemprego e crise econômica, agravou o endividamento dos brasileiros. Um quadro que afeta o bolso, mas também a saúde, apontam estudos. E os impactos vão muito além dos já conhecidos, como o aumento da ansiedade e da depressão. Pressões financeiras também estão associadas à incidência maior de doenças cardiovasculares e a um sistema imunológico enfraquecido para combater infecções, alertam especialistas.

De acordo com uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), para 78% dos brasileiros a incerteza financeira é a principal causa de preocupação. Especialistas ouvidos explicam que esse estado de alerta permanente promove um quadro de estresse crônico que resulta em uma liberação constante de hormônios.

“São hormônios que respondem ao estresse físico, como durante os exercícios, mas que também respondem ao estresse psíquico em situações como o endividamento. É o caso da adrenalina, do cortisol e seus derivados, que aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial”, explica a endocrinologista Ana Carolina Nader, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Rio de Janeiro (SBEM-RJ). Um estudo de pesquisadores suecos publicado na revista científica BMC Public Health mostrou que adultos sem dinheiro guardado têm quase o dobro do risco de desenvolverem doenças cardiovasculares devido a esse desequilíbrio de hormônios.

“Hoje há diversos trabalhos mostrando esse verdadeiro eixo entre cérebro e coração. Esses mecanismos desencadeados pelo estresse levam a espasmos de vasos do coração, aumentando o risco de infarto e de acidente vascular cerebral (AVC). No caso de pessoas que já têm predisposição a doenças cardiovasculares, o quadro é piorado na fase de estresse”, afirma a cardiologista Salete Nacif, diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

GRUPO VULNERÁVEL

Os maiores impactos estão entre os mais velhos. Um estudo do Centro de Pesquisa de Finanças Pessoais (PFRC) da Universidade de Bristol e do Instituto Internacional de Longevidade do Reino Unido (ILC-UK) mostrou que aqueles que estão lutando para gerenciar suas finanças com mais de 50 anos são oito vezes mais propensos a ter níveis reduzidos de bem-estar mental do que as pessoas na mesma faixa etária com melhores condições econômicas.

O prejuízo, entretanto, não é restrito a essa faixa etária. Pesquisadores da Universidade de Colorado Denver, da Dartmouth College e da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, descobriram que os impactos podem chegar cedo na vida.

Usando dados coletados entre 1994 e 2018, de mais de 4 mil pessoas que ao fim tinham até 44 anos, o estudo apontou que a chance de problemas cardiovasculares é consideravelmente maior entre pessoas que fizeram um empréstimo ou estavam sempre endividados em relação aos que pegaram dinheiro emprestado e pagaram ou que nunca tiveram dívidas.

Além dos riscos para o coração, Nader acrescenta que há hormônios ligados à liberação da glicose que atuam para gerar mais energia quando o estresse é físico, mas no caso da preocupação crônica com dinheiro eles podem estar por trás de quadros de hiperglicemia em pessoas diabéticas ou com genética suscetível à doença. O estresse crônico também fragiliza o sistema imune. Segundo um novo estudo, publicado na revista científica Nature, esse impacto acontece porque ele ativa neurônios de uma região chamada de hipotálamo paraventricular. Essa área impulsiona uma migração de células imunes em larga escala dos linfonodos — estruturas que funcionam como filtros para agentes infecciosos — para o sangue e a medula óssea.

Esse mecanismo diminui a ação dos agentes de defesa no combate a infecções. Para chegar a essa conclusão, especialistas realizaram um experimento com camundongos em que os animais foram expostos aos vírus da influenza e da Covid-19. Os grupos sob estresse tiveram menor ação do sistema imune, quadros mais graves da doença e índices maiores de óbito.

Além disso, uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, descobriu que o estresse contínuo pode acelerar o envelhecimento do sistema de defesa. Publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), o estudo observou que a situação desencadeia uma queda acelerada no número das células T chamadas de imaturas, que conseguem responder melhor a novos vírus e bactérias. Essa diminuição leva, por exemplo, os idosos a serem mais vulneráveis a infecções.

Nader explica que um dos motivos para isso acontecer é porque o cortisol, um dos chamados “hormônios do estresse”, além de aumentar os riscos cardiovasculares, tem um efeito imunossupressor no organismo, reduzindo as barreiras de defesa.

“Ele funciona mediando uma série de funções no corpo. Quando se eleva promove alterações nos sistemas imunológicos, diminuição das defesas e sintomas relacionados a essa queda, como cansaço e fadiga”, afirma a endocrinologista.

EQUILÍBRIO MENTAL

Há ainda as consequências mais conhecidas, porém não irrelevantes, das dificuldades financeiras: os impactos na saúde mental. E esses quadros acentuados de ansiedade e depressão tornam mais difícil sair de uma situação de endividamento, constatou um estudo publicado na revista científica International Journal of Social Psychiatry.

“Torna-se um ciclo vicioso, porque os impactos do estresse financeiro na saúde mental deixam a pessoa cada vez mais debilitada para lidar com a sua situação econômica”, explica a doutora em psicologia clínica, Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR e diretora da clínica de Stress e Biofeedback.

Para amenizar esses impactos nocivos, as especialistas destacam que é preciso atuar em duas frentes, a financeira e a de saúde.

“É importante o diálogo com a família, porque envolve gestão do orçamento e, em muitos casos, contenção de gastos. Pode ser necessária também uma orientação especializada para não gerar novos gastos”, diz Rossi.

Para ter condições de pensar sobreo problema de forma prática e racional, a psicóloga reforça que é importante priorizar um sono reparador, sem que os problemas sejam levados para a cama. Isso porque noites mal dormidas também agravam os riscos de doenças cardiovasculares, aumentam a gordura abdominal e visceral e levam a uma rotina de fadiga que dificulta atividades como trabalho e gestão das finanças durante o dia.

“Como medidas preventivas para os desfechos cardiovasculares, temos que pensar em dietas saudáveis, pobres em gordura e em sal e ricas em frutas e verduras, além de atividade física regular, com pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica por semana”, orienta a cardiologista Salete Nacif.

Para aqueles que podem ter dificuldades de encaixar o exercício físico na rotina, Ana Maria Rossi sugere que uma boa saída é aproveitar os momentos do dia em que é possível utilizar escadas no lugar de elevadores ou descer alguns pontos antes do ônibus para fazer uma caminhada. Embora não seja muito, o movimento já traz benefícios, diz a diretora da clínica de Stress e Biofeedback.

No entanto, as especialistas lembram que em casos mais acentuados de problemas de saúde mental e de efeitos na circulação, como dores no peito, taquicardia constante e pensamentos autodepreciativos, é indispensável a busca por ajuda médica especializada.

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