OUTROS OLHARES

TEMPERO QUE VALE OURO

Afetado pelas mudanças climáticas, o valiosíssimo açafrão ficou mais raro e mais caro ainda, insuflando um vasto mercado de produtos falsificados

De cor inconfundível e sabor marcante, o açafrão é uma espécie de diamante azul do mundo das especiarias: a mais rara e, de longe, a mais cara de todas. Originária (provavelmente) do Irã, até hoje o maior produtor, e usada desde sempre no Oriente, difundiu-se pelo Ocidente na época dos descobrimentos, quando um mundo novo de temperos e pigmentos invadiu e conquistou a Europa. Produzir não é fácil: aproveitam-se apenas os filamentos vermelho-alaranjados e os pistilos amarelos da flor e são necessárias 150.000 flores para obter 1 quilo do condimento miraculoso que pintará de amarelo os grãos de arroz, o frango, paellas e risotos. Um amarelo que vale mais do que ouro –  na cotação atual, o grama do metal custa 60 dólares e o do açafrão, 80 dólares.

Como se já não fosse suficientemente exclusivo, o produto corre o risco de se valorizar ainda mais em consequência das secas aceleradas pelo aquecimento global, que já destruíram plantações na Índia, no Afeganistão e na Espanha, o mais respeitado produtor ocidental. “Por ser uma espécie muito exigente, que precisa de condições específicas para florir, qualquer alteração climática vai impactar negativamente a produção”, explica a bióloga Mariana Reis, professora da PUC­ Rio. Pois a escassez de açafrão, além de aumentar os preços já estratosféricos, está movimentando uma indústria de falsificações com ramificações planetárias e consequências que desembocam em estreladas panelas.

A polícia espanhola anunciou recentemente a apreensão de mais de 2 toneladas de açafrão adulterado, avaliadas em 1.750.000 euros. A Operação Jardim investiga empresas envolvidas no comércio de gardênia, uma prima pobre que se passa pelo tesouro oriental, com margens de lucro na faixa dos 800%. No Brasil, o açafrão costuma ser confundido com cúrcuma, apelidada de açafrão-da-terra por ter cor parecida, embora seja uma raiz de sabor bem mais amargo. Há quem, no entanto, prefira abertamente a cúrcuma para obter o “efeito amarelo”. “Tem muito açafrão falsificado no mercado internacional, por isso fico com a cúrcuma, que compro fresca de um fornecedor orgânico, e com ela produzo meu próprio pó, sabendo o que estou usando”, diz Alberto Landgraf, chef do renomado restaurante carioca Oteque. “A origem do fornecedor é o aspecto mais relevante do mercado. Só compro em lugares de extrema confiança”, diz Danio Braga, que atua no grupo Fasano, onde uma das iguarias famosas é o ossobuco com risoto de açafrão.

Além de endeusado no ramo da gastronomia, o açafrão também é útil como pigmento, tem propriedades medicinais e circula com desenvoltura pelos retiros espirituais. O registro mais antigo de seu uso é em pinturas rupestres datadas de 50.000 anos, na região do atual Iraque. A flor possui comprovada ação anti-inflamatória e antioxidante, é eficiente no tratamento de doenças respiratórias e dermatológicas e, segundo pesquisas recentes, consegue frear o crescimento de algumas células cancerígenas. No Oriente Médio, o açafrão é consumido na forma de chá relaxante, para combater sintomas de depressão e ansiedade. A floração da planta que lhe dá origem é curta, de dez a vinte dias, três semanas por ano. Uma vez aberta a flor, é preciso retirar os filamentos e os pistilos imediatamente, a mão. “O mais consumido do mundo hoje em dia é o açafrão espanhol, mas acho o iraniano mais aromático”, avalia Katia Hannequim, chefe especialista em especiarias.

Embora o açafrão esteja no topo da escala de temperos escassos, outros produtos indispensáveis em culinárias diversas também atravessam um período pouco picante. Uma seca persistente desde o início do ano no norte do México está dizimando a colheita da pimenta jalapeno vermelha – e a Huy Fong Foods, da Califórnia, que consome 45 toneladas por ano em seus molhos, programa para setembro a entrega de encomendas feitas em abril. No Japão, as ondas de calor, os tufões mais intensos e as inundações estão afetando o delicado cultivo de wasabi, uma raiz que se desenvolve em terreno alagado, sob temperaturas amenas. Em Shizuoka, uma das maiores regiões produtoras, a colheita minguou 55% em uma década, péssima notícia para os restaurantes que fazem questão do wasabi de verdade – nada a ver com a pasta artificial servida em sushi bars mundo afora. Mais de cinco séculos depois de as caravelas partirem para desbravar novas rotas para o Oriente, aportarem no Novo Mundo e mudarem para sempre o gosto e a apresentação dos alimentos, o descuido com o meio ambiente vem agora ameaçar esse espetacular avanço da humanidade.

GESTÃO E CARREIRA

CENÁRIO USADO EM VIDEOCONFERÊNCIA PODE REVELAR PERFIL DE PROFISSIONAL

Muita gente decidiu investir no ambiente doméstico para melhorar o cenário nas reuniões do dia a dia de trabalho

Já se passaram mais de dois anos desde que os escritórios foram fechados e milhões de pessoas começaram a trabalhar de casa. Tempo mais do que suficiente para comprar um ring light (iluminador), pendurar quadros nas paredes e descobrir onde fica o botão de mudo. Mas, como está claro para Claude Taylor, cocriador do perfil Room Rater no Twitter, que avalia o cenário de fundo de videochamadas, não foi isso que aconteceu.

Houve um momento em abril de 2020 em que era difícil encontrar álcool em gel, havia tempo de sobra e, talvez, para se distrair em meio ao medo e à incerteza de uma pandemia violenta, aqueles que tiveram a sorte de ficar presos em casa, se divertiram julgando as casas dos outros. Taylor e sua amiga Jessie Bahrey começaram a postar opiniões no Twitter. Celebridades se esforçaram para conseguir melhores pontuações do Room Rater, equipando suas casas com plantas, pôsteres e livros.

“No espaço de meses, as pessoas que havíamos avaliado com notas dois e três estavam se tornado oito, nove e dez”, disse Taylor, que escreveu um livro com Jessie chamado How to Zoom Your Room (Como mostrar sua casa no Zoom, em tradução livre), lançado esta semana. “As pessoas melhoraram bastante (suas decorações). É óbvio que aceitamos algum crédito por isso.”

Mas nem todo mundo conseguiu fazer melhorias no ambiente mostrado pelo Zoom. Embora o número de participantes diários do Zoom tenha saltado de 10 milhões em dezembro de 2019 para 300 milhões em abril de 2020, muitos ainda estão sentados em frente a paredes em branco, que criam o que Taylor chama de “vídeos de reféns”. As pessoas estão posicionando a câmera abaixo do nariz e proporcionando uma “visão completa da narina” acidental.

OCUPAÇÃO DOS ESCRITÓRIOS

No final de 2021, 3 milhões de pessoas passaram a trabalhar permanentemente de modo remoto. Muitos outros trabalhadores estão no limbo, indo ao escritório alguns dias ou esperando por um plano de retorno ao local de trabalho que não seja adiado. A ocupação de escritórios nos Estados Unidos permanece abaixo de 50%.

“Muitos foram empurrados para o isolamento do trabalho remoto de forma abrupta e ainda não aceitaram que seus futuros esquemas de trabalho provavelmente não parecerão com os anteriores a 2020. Os contratempos técnicos das primeiras semanas da pandemia continuam se repetindo como se estivéssemos presos em uma combinação de The Office com Feitiço do Tempo.

“Você ainda tem pessoas que dizem: Desculpe, não percebi que estava com o microfone no mudo. Estão me ouvindo agora?”, afirmou Rachele Clegg, 28 anos, que trabalhou para uma organização sem fins lucrativos em Washington, D.C., durante a maior parte da pandemia.

FALHAS TÉCNICAS

Em março de 2020, Rachele estava em uma reunião na qual a conversa por vídeo apresentava falhas e a chefe dela não conseguia tirar o filtro que a fazia parecer uma batata. “Quando ela baixou a cabeça virou uma batata. Quando levantou a cabeça, virou uma batata enterrada no solo.”

Rachele ficou perplexa ao descobrir que esses tipos de dificuldade técnica não diminuíram. Dois anos depois, o trabalho remoto às vezes ainda parece um show de improvisação. Na semana passada, por exemplo, Sujay Jaswa, ex-executivo do Dropbox, fez uma gravação de vídeo com a câmera voltada para o teto.

IMAGEM

Os gestores dizem ter ficado surpresos com alguns dos itens que aparecem no cenário de profissionais durante as videochamadas: lavanderia, lençóis, embalagens de refeições para viagem. “Eu estava entrevistando um candidato para uma vaga de emprego outro dia e, no balcão atrás dele, havia uma garrafa aberta de vodca”, disse Noah Zandan, que dirige a plataforma de coaching Quantified. “Tento dar às pessoas o benefício da dúvida em relação ao que está atrás delas, mas há limites que precisam ser estabelecidos.”

Aqueles que se importavam mais com a imagem fizeram um esforço para melhorar seus “panos” de fundo no início da pandemia. Beto O’Rourke, candidato democrata ao governo do Texas, foi um dos alvos do Room Rater que mais melhoraram sua avaliação, saindo de um zero para um dez.

INVESTIMENTO

A maioria dos trabalhadores estava se comunicando com seus chefes, não com o público americano. Mesmo assim, os gastos com melhorias domésticas e manutenção aumentaram e estão 11% acima das projeções anteriores à pandemia, de acordo com a empresa de consultoria McKinsey. As vendas de móveis para escritório subiram, sobretudo de cadeiras ergonômicas.

Observar os cenários do Zoom de outras pessoas pode ser um lembrete de que algumas pessoas têm muito mais espaço para trabalhar. Entretanto, Taylor insiste que todos podem melhorar suas casas: “Não é preciso que elas ganhem a cara do estilo de pessoas ricas e famosas”.

EU ACHO …

A INTERFERÊNCIA DO TEMPO

Há quem diga que o tempo não existe, que somos nós que o inventamos e tentamos controlá-lo com nossos relógios e calendários. Nem ousarei discutir essa questão filosófica, existencial e cabeluda. Se o tempo não existe, eu existo. Se o tempo não passa, eu passo. E não é só o espelho que me dá a certeza disso.

O tempo interfere no meu olhar. Lembro do colégio em que estudei durante mais de uma década, meu primeiro contato com o mundo fora da minha casa. O pátio não era grande – era colossal. Uma espécie de superfície lunar sem horizontes à vista, assim eu o percebia aos sete anos de idade. As escadas levavam ao céu, eu poderia jurar que elas atravessavam os telhados. Os corredores eram passarelas infinitas, as janelas pareciam enormes portões de vidro, eu me sentia na terra dos gigantes. Volto, depois de muitos anos, para visitá-lo e descubro que ele continua sendo um colégio grande, mas nem o pátio, nem os corredores, nem as escadas, nada tem o tamanho que parecia ter antes. O tempo ajustou minhas retinas e deu proporção às minhas ilusões.

A interferência do tempo atinge minhas emoções também. Houve uma época em que eu temia certo tipo de gente, aqueles que estavam sempre a postos para apontar minhas fraquezas. Hoje revejo essas pessoas, e a sensação que me causam não é nem um pouco desafiadora. E mesmo os que amei já não me provocam perturbação alguma, apenas um carinho sereno. Me pergunto como é que se explica que sentimentos tão fortes como o medo, o amor ou a raiva se desintegrem. Alguém era grande no meu passado, fica pequeno no meu presente. O tempo, de novo, dando a devida proporção aos meus afetos e desafetos.

Talvez seja esta a prova da sua existência: o tempo altera o tamanho das coisas. Uma rua da infância, que exigia muitas pedaladas para ser percorrida, hoje é atravessada em poucos passos. Uma árvore, que para ser explorada exigia uma certa logística – ou ao menos um “calço” de quem estivesse por perto e com as mãos livres -, hoje teria seus galhos alcançados num pulo. A gente vai crescendo e vê tudo do tamanho que é, sem a condescendência da fantasia.

E ainda nem mencionei as coisas que realmente foram reduzidas: apartamentos que parecem caixotes, carros compactos, conversas telegráficas, livros de bolso, pequenas salas de cinema, casamentos curtos. Todo aquele espaço da infância, em que cabia com folga nossa imaginação e inocência, precisa hoje se adaptar ao micro, ao mínimo, a uma vida funcional.

Eu cresci. Por dentro e por fora (e, reconheço, pros lados). Sou gente grande, como se diz por aí. E o mundo à minha volta, à nossa volta, virou aldeia, somos todos vizinhos, todos vivendo apertados, financeira e emocionalmente falando. Saudade de uma alegria descomunal, de uma esperança gigantesca, de uma confiança do tamanho do futuro – quando o futuro também era infinito à nossa frente.

***MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

COMO DEIXAR OS LÁBIOS MAIORES SEM FAZER PREENCHIMENTO

De hidratação ao uso de maquiagens mais adequadas para cada pele, conheça os truques para criar o efeito de forma natural

Lábios carnudos, volumosos e macios. Aonde quer que você vá, uma nova atriz modelo ou influenciadora está exibindo lindos lábios. Se você estivesse buscando explicações para esse fenômeno, poderia culpar o retorno da moda dos anos 90 e as tendências de beleza feminina daquela década do grunge.

Mas as características exageradas das maiores influenciadoras de beleza do Instagram têm muito a ver com os desejos de beleza predominantes: lábios que podem variar de sutilmente definidos aos de bonecas sexuais.

Digamos que você gostaria de acentuar seus lábios, mas evitando preenchimentos injetáveis. Vários maquiadores de primeira linha compartilharam dicas de como deixar seus lábios mais volumosos apenas com maquiagem.

“A região em volta dos lábios é algo também atribuído à saúde”, diz Christine d’Omano, vice-presidente global da marca Sisley Paris.

A maioria das pessoas se concentra na hidratação dos lábios, mas d’Omano enfatiza a importância de hidratar também a pele do entorno:

“As linhas ao redor da boca podem fazer seus lábios parecerem menos carnudos.

Se preferir formulações hidratantes mais naturais, escolha as que contenham peptídeos  em sua composição, indica a especialista.

Para quem usa esfoliante na região no intuito de fazer com que fique mais volumosa, Daniel Martin, que cuidou da maquiagem de Meghan Markle para seu casamento e é embaixador da marca Dior Beauty, aconselha abandonar o hábito.

“Os esfoliantes não têm efeito algum, apenas têm gosto de açúcar”, explica.

Em vez disso, ele usa um pano úmido levemente aquecido nos lábios de suas clientes, antes de aplicar quaisquer outras coisas. Ele aconselha que seja utilizado um produto que ofereça hidratação profunda e os de uso noturno, que mesmo em alguns minutos fazem efeito e podem ajudar.

FORMATO DO LÁBIO

A maneira profissional de dar volume aos lábios  com maquiagem significa adicionar alguns passos a mais na sua rotina. Primeiro, Martin neutraliza o tom dos lábios com base ou corretivo, pois dessa forma será possível visualizar o formato da boca.

Em seguida, ele seleciona um delineador de lábios que corresponda a um tom um pouco mais escuro. Isso dá estrutura aos lábios e fornece uma base para qualquer outro produto que você  aplique.

“A verdade é que, a menos que você esteja reaplicando constantemente os produtos labiais escorrerão, mesmo que pouco, para as bordas .A medida que o dia passa, um delineador que corresponda ao tom mais próximo dos lábios parecerá mais natural conforme o batom ou o brilho forem desaparecendo”, explicou Martin.

Depois de encontrar seu delineador e determinar o seu formato natural de lábios, desenhe apenas a largura da ponta de um lápis para fora da linha dos lábios, ensina Bau Nelson, um maquiador que costuma trabalhar com a atriz Kristen Stewart. Caso você prefira um  desenho mais ousado, preencha o resto do lábio com o mesmo delineador.

Alguns truques ópticos podem ajudar bastante a passar a impressão de uma boca mais volumosa.  Você pode usar o delineador de lábios sozinho ou, se preferir, com uma generosa camada de brilho no estilo anos 90. A superfície reflexiva e bem brilhosa cria a ilusão de volume.

Para uma fórmula de longa duração – não importa quão bom seja o brilho, o mais provável é que em algum momento ele perca a cor -, um batom cremoso ou um batom acetinado sobre o delineador pedem alternativas exuberantes e bonitas, diz Vincent Oquendo, maquiador conhecido por seu trabalho com modelos da Victoria’s Secret.

Se você prefere um acabamento fosco, procure fórmulas mais recentes à base de gel com polímeros, que mantêm a cor fora das linhas finas. Aplique e depois desfoque dando batidinhas com o dedo anelar para um efeito mais suave.

Dica profissional: destaque o arco dos lábios com um pouco de pó ou lápis cintilante.

“Usar um produto para iluminar (a área) chama a atenção para fora e pode criar a  aparência de haver um pouco mais de volume”, aconselha Nelson.

PRODUTOS QUE DÃO VOLUME

Muito familiarizado com os produtos para preenchimento de antigamente que faziam você se sentir como se seus lábios estivessem pegando fogo?

“Esses agentes de preenchimento labial contêm ingredientes que causam irritação. Eles criam fluxo sanguíneo e provocam leve inchaço”, diz a dermatologista Shereene Idriss.

Se você está constantemente irritando seus lábios, eles ficarão secos e rachados, explica a especialista, que não recomenda o uso regular desses produtos. Os ingredientes a serem evitados incluem canela, óleo de gualtéria e até niacina, que pode dilatar os vasos sanguíneos. Ela diz que existem opções mais sofisticadas que funcionam atraindo a umidade para os lábios com ingredientes como ácido hialurônico ou visam construir colágeno ao longo do tempo.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

OS JOVENS QUE ABANDONARAM FESTAS E ESTÃO MAIS CASEIROS APÓS A QUARENTENA

Restrições a eventos presenciais revelaram prazeres como ver séries, fazer esporte, artesanato e ficar com a família; receio ao recusar convites é de se afastar dos amigos

Se para alguns jovens a volta de eventos presenciais, após dois anos de restrição na pandemia, tem sido agitada e com festas frequentes, outros deixaram as noitadas para trás e ficaram mais caseiros. No isolamento, se conectaram com outros prazeres – como curtir o streaming ou fazer exercícios físicos. Agora são mais seletivos e as saídas têm horário bem definido para acabar.

Muitos associam a mudança a um autoconhecimento motivado por reflexões na quarentena. Eles não necessariamente deixam de sair, mas estão mais exigentes e passam a respeitar mais as próprias vontades. Ou seja, cedem menos a pressões de amigos ou turmas. Para especialistas, há vários motivos, entre eles o amadurecimento, marcando o fim da adolescência, e um possível novo padrão comportamental derivado da proteção anticovid. Eles destacam que os jovens caseiros têm a possibilidade de descobrir novos interesses e fortalecer vínculos familiares. Mas, alertam, a reclusão em excesso pode indicar quadros de depressão ou fobia social.

DE FESTEIRO A FITNESS

Estudante de Letras, Dênnis Ferreira, de 23 anos, costumava ir a festas e bares de duas até três vezes na semana. Sextas-feiras e sábados sem sair eram sinônimo de ansiedade. “Era como se eu não estivesse vivendo.”

Os primeiros três meses de pandemia foram difíceis, mas aos poucos se adaptou. “Em casa tem tudo, meu wi-fi, minhas músicas, minha TV.” Gosta de ler, ver filmes e séries, além de ouvir músicas. Com o retorno de festas e encontros, até se perguntou se voltaria a frequentar, mas se viu em nova fase. “Achava que isso só ia acontecer aos 28, 30 anos.”

Agora, vai a bares com amigos no máximo duas vezes no mês e volta antes das 22h. “Não tenho mais aquele gás para ficar até de madrugada.”

O consumo de álcool caiu bastante, sobretudo quando começou a musculação em janeiro. “Bebia muito, parecia um Opala”, brinca ele, do Recife. Atualmente, quase não consome álcool e leva uma vida mais saudável. Ele ainda estima economizar entre R$300 e R$400 mensalmente. “O bolso agradece.” Os amigos, diz, não estranham. “Estão na mesma ‘vibe’.” Mas, às vezes, cria desculpas para não ir em alguma festa. “Trabalho da faculdade é a clássica”, confessa.

AMIGA DO FIM

Aluna de Jornalismo Júlia Duarte, de 22 anos, conta que mesmo amigos que saíram da pandemia com “espírito festeiro” acolhem sua fase mais caseira. Antes, a jovem era a “inimiga do fim”. Hoje, no máximo, ela quer estar em casa às 23 horas. Baladas e bares foram substituídos por almoços e cafés da tarde.

E se antes Júlia perguntava apenas que hora começaria o rolê, o questionário ganha, ao menos, duas perguntas extras: que horas termina e o tipo de ambiente. “As pessoas têm o hábito de pensar que foram dois anos em que a gente não viveu. Na verdade, foram dois anos de mudança. Muita coisa se atualizou na minha vida”, reflete a jovem de Fortaleza.

No isolamento, ela descobriu o artesanato e a pintura de pratos – hobbies que ainda cultiva. Outra atividade que virou rotina foram os jogos em família. Júlia voltou a morar com os pais no início da pandemia. “A gente se conectou mais. Começamos a nos ver como iguais e falar mais abertamente sobre as coisas.” Agora, relata, os papéis se inverteram: eles saem mais do que ela. “Guerreiros.” Voltar cedo também significa mais segurança. “Como mulher, quanto mais tarde, mais perigoso.” Ela não acha que o perigo aumentou, mas sente que sua percepção de risco aumentou. “Quando era mais jovem, tinha um sentimento que nada iria acontecer”, conclui.

TRANSIÇÃO DIFÍCIL

Compreender que não era mais festeira e preferia ficar em casa foi um processo difícil para a estudante de Jornalismo Natália Poliche, de 22 anos, que vive em Florianópolis. “Eu via as meninas que moram comigo saindo, e pensava: ‘sou um desperdício de jovem’.”

Por um tempo, ela achava que tinha medo da covid, mas após sessões de terapia percebeu que a rotina pré-pandemia simplesmente não combinava mais com ela. “E isso não significa que sou menos jovem ou que as pessoas estão vivendo mais. Só vivo de outra forma.” Natália temia ser considerada “chata” pelas amigas. “Percebi que era mais paranoia minha”, fala. Mesmo sem aceitar todos, ela segue recebendo convites. Agora, quando vai a bares – uma vez a cada duas semanas, no máximo – prefere os mais próximos de casa e fica até as 23h. Antes, era até o estabelecimento fecharas portas.

Terapia também foi fundamental para a atriz baiana Janaina Leal, de 33 anos, que mora em São Paulo. “Achava que minha felicidade estava na rua, em sair o tempo todo. Às vezes, a felicidade está em você mesmo”, aponta. “Hoje, prefiro mais silêncio do que ‘zoada’.” Ela destaca ter aprendido também a dizer não. “Antigamente dizia sim para tudo.”

Já a atriz e produtora Joana Mendes, de 32 anos, que mora no Rio, diz que vê mais compreensão sobre a recusa de convites. “Antes a galera não respeitava: ‘Por que você não quer? Dinheiro? Te empresto! Te pago um Uber!’. Aí, você não conseguia passar.”

Ela nunca se considerou “festeira”, mas tem ficado cada vez mais em casa. “Estou saindo mais seletivamente.” Com humor e criatividade, ela compartilha seus hábitos mais caseiros em vídeos curtos do Tik-Tok. Alguns vídeos têm quase 30 mil curtidas e mais de 900 comentários. Boa parte deles, avalia, positivos, e de jovens que se identificam com ela. Joana acredita que, antes da pandemia, um conteúdo como esse não faria tanto sucesso.

A designer Maikeli Andressa Coppi, de 23 anos, de Chapecó (SC), crê que a fase mais caseira chegaria de todo jeito, mas a quarentena antecipou. Ela percebeu o peso da rotina de bares, festas eletrônicas e open bar. “Começava a semana cansada.” Trocou o agito pelo pôr do sol, jantares aconchegantes com os amigos e a própria companhia. E, em 2021, começou a namorar, o que ajudou a reduzir a vontade de sair sempre. “Ele tem mais vontade de sair do que eu. Sempre digo que se quiser sair, ele pode.”

ALÍVIO NA PRESSÃO DE CURTIR BALADA DÁ ESPAÇO PARA DESCOBERTAS

A convenção de que a adolescência, associada a festas e reuniões frequentes, acabaria aos 18 ou 20 anos caiu por terra conforme a “juventude eterna” se firmou como valor para a sociedade, diz a psicóloga Rosely Sayão. “O bebê nasce quase adolescente e o velho quer ser jovem. Não há lugar no mundo para quem não seja ‘jovem’”, aponta ela.

Com isso, bares e baladas podem virar pressão. Não significa necessariamente que são maléficos, (dão chance ao jovem de se reconhecer no outro, trocar informação e afeição), mas se some a cobrança por curtir a noite (como na quarentena), abre-se portas para descobertas.

Já o psicólogo Marcelo Santos, da Universidade Mackenzie, ressalta que o exagero é um risco. “O jovem pode estar iniciando um processo de melancolia profunda e entrar em depressão; de fobia social, em que só se sente seguro em casa; ou síndrome do pânico, porque estar junto a muitas pessoas causa insegurança e ansiedade.” É preciso atenção a mudanças de hábitos bruscas, como dormir demais, falar pouco e atrasar atividades.

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