OUTROS OLHARES

GRÁVIDAS APÓS ESTUPRO RELATAM A FALTA DE ASSISTÊNCIA

Sob anonimato, três vítimas dizem que além da violência sexual, sofreram com a falta de informação sobre direitos legais, pressões familiares, afastamento de grupos sociais e despreparo de profissionais de saúde

A cada hora, seis meninas ou mulheres foram estupradas no ano passado no Brasil. A triste média, apresentada há poucos dias no 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, inclui vítimas que precisaram lidar — além do trauma do episódio — com gestações indesejadas, desinformação sobre caminhos legais de encaminhamento da gravidez, preconceito e exclusão de seus núcleos sociais.

Casos recentes como o da menina de 11 anos de Santa Catarina, cujo aborto legal encontrou barreiras para ser executado, e o da atriz Klara Castanho, de 21 anos, vítima de ataques nas redes sociais por entregar à adoção um bebê fruto de estupro, são exemplos de uma realidade que avança fora dos holofotes.

“Falta informação para essas mulheres, além do serviço de abortamento legal. É preciso dizer que se deve buscar o serviço de saúde imediatamente após o estupro, que se busque profilaxia para ISTs e que tomem a chamada pílula do dia seguinte”, diz a psicóloga Daniela Pedroso, que acompanha vítimas de estupro, elegíveis ao aborto legal.

“Essas mulheres relatam sentir vergonha e culpa. Demoram para chegar no serviço de atendimento, porque se fecham e acham que vão esquecer, que não terão que lidar com esse episódio. Assim como relata Daniela, mulheres vítimas de violência sexual disseram ter vivido uma rotina de vergonha e medo ao encarar o tema envolto de preconceitos. A estudante universitária Rafaela (nome fictício), de 29 anos, conta que teve coragem de relatar a violência e que estava grávida apenas para uma professora. Para ter acesso ao aborto, que lhe é garantido por lei, contou com a ajuda do grupo Milhas Pela Vida de Mulheres, que localizou um hospital estadual em Feira de Santana, na Bahia, onde ela mora.

“Uma médica que me atendeu quis saber detalhes do episódio. Deixou claro que era contra o aborto e insinuou que eu não havia sido violentada, pois eu tinha ido até a casa do agressor”, diz Rafaela, que fez o procedimento neste ano e conta que tomou a pílula do dia seguinte, mas não denunciou o agressor por ser uma pessoa bem relacionada na cidade em que vive.

“Vi meus sonhos indo por água abaixo. Não tive estrutura (para manter a gravidez).

Professor do curso de medicina da Universidade de Pernambuco, Olímpio Barbosa, que também dirigiu um centro de referência para interrupção de gestações de forma legalizada, em Recife, diz que há falta de preparo nos hospitais para receber as vítimas. Ele já ouviu relatos de algumas que chegaram ao pré-natal revelando que a gestação era fruto de estupro e foram chamadas de “mãezinhas”.

“Elas chegam ao centro de saúde destruídas. Sofrem violência e, por vezes, nem têm consciência que são vítimas. Algumas nem sabem o que é estupro”, diz Barbosa.

A empregada doméstica Juliana (nome fictício), de 25 anos, de Bento Gonçalves (RS) foi estuprada por um primo de uma amiga em uma festa, quando ainda tinha 13 anos. Seria elegível ao aborto legal, mas na época não foi informada dessa possibilidade.

“Meus pais acreditam que a culpa sempre é da mulher e foram duros comigo. Fui mãe nova, um baque, percebi que não tinha mais vida”, lembra. Após duas outras gestações, ela criou o difícil vínculo maternal com a primogênita:

“Amo minha filha, mas, se eu pudesse ter essa decisão, não teria tido essa gravidez. Não estudei, e quando você engravida na adolescência não tem mais amigos.

O preconceito também marcou Marli, de 43 anos. Ela engravidou aos 13 de um jovem de 15 anos, com quem tinha uma relação afetiva. Ela não chama o caso de estupro, pois acredita que tratava-se de uma relação consentida —para a lei, porém, qualquer relação sexual abaixo de 14 anos é considerada “estupro de vulnerável” e, portanto, passível ao aborto legal.

“Uma menina grávida tão nova, mesmo sem querer, é como se assinasse um atestado de ninfeta. Deixam de ver como criança e passam a ver como ameaça”, afirma Marli, cuja filha foi criada como sua irmã até o fim da infância.

Especialistas de Varas da Infância e Adolescência explicam que o encaminhamento para a adoção, opção de Klara Castanho, é um direito que se estende a todas as mulheres, não só a vítimas de estupro. E, diferentemente do que ocorreu com a atriz, as que optam por esse desfecho da gestação têm direito legal ao sigilo.

REFLEXOS DO MACHISMO

A advogada Ana Paula Braga, membro da Comissão Mulher Advogada da OAB-SP, diz que ainda é preciso avançar muito na divulgação do que são direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Ela diz ainda que é preciso informar sobre a existência de estupro marital (quando o companheiro força a relação) ou quando, durante a atividade sexual, o parceiro retira o preservativo, expondo a mulher ao risco de gestação ou contaminação de doenças sexualmente transmissíveis. Já a advogada Maíra Récchia, da Rede Feminista de Juristas, diz que a questão reflete o machismo do país.

“Os direitos garantidos não podem ser ameaçados por razões ideológicas.”

GESTÃO E CARREIRA

ADOÇÃO DO PARTNERSHlP AJUDA A EXPANDIR NEGÓCIOS

Estratégia incentiva o engajamento de funcionários no cumprimento das metas estabelecidas pelas empresas, além de contribuir para a retenção de talentos

Ganhar elogio é sempre bom, mas, quando a recompensa pelo esforço se dá por meio de ganho financeiro maior, o funcionário tem um motivo a mais para se empenhar. É por este caminho que empresas procuram crescer e atingir objetivos mais depressa: adotando a política de rendimento variável para os empregados. Na prática, todos acabam lucrando, pois o comprometimento com as metas estabelecidas torna a expansão dos negócios mais fácil.

Um dos modelos que têm sido adotados é o do partnership (parceria, em inglês), em que os funcionários com funções mais estratégicas ou quo se destacam têm acesso à compra de ações da empresa em condições especiais ou recebem cotas como prêmio. Outra modalidade e a de stock option (opção de compra), cuja aquisição não precisa se dar de imediato.

Essas estratégias vêm sendo empregadas como forma de garantir mais engajamento por parte dos sócios-empregados, mas também ajudam a reter talentos, pois quem tem participação acionária acaba pensando duas vezes antes de deixar o negócio, mesmo diante de uma boa proposta.

Mas há outro motivo que também gera encantos por essa política, a valorização da companhia no mercado. Por isso, é comum que startups, interessadas em realizar uma fusão ou mesmo a abertura de capital, procurem introduzir o modelo como forma de atrair investidores.

“O partnership éum modelo em que os indivíduos conseguem converter remuneração em participação acionária e permite mobilidade acionária interna, recompensando os melhores talentos com participação no negócio,” explica Julian Tonioli, sócio da consultoria Auddas, que adverte para a necessidade de a empresa associar o plano ao atingimento de metas e estratégias de longo prazo.

Contar com colaboradores aliados aos resultados e ao engajamento foi fundamental para a Cadastra (empresa de soluções de marketing, estratégia de negócios, tecnologia, dados e analytic)crescer e se estabelecer no Reino Unido. Criada há 10 anos para atuar no mercado digital, ela foi aos poucos convidando funcionários para seu quadro societário, o que foi fundamental para sua consolidação e retenção de talentos. No entanto, só em 2020 foi criado um programa específico com foco em partnership, aberto a qualquer funcionário, independentemente do tempo de casa.

“Essa estratégia reforça os laços e fortalece a rede de pessoas que compartilham nossos valores, desafios, objetivos e ideias. Naturalmente, fazem o mesmo com os clientes, amplificando resultados em uma via de mão dupla”, afirma Thiago Bacchin, CEO da Cadastra.

PROGRAMA DE AVALIAÇÃO

Já os empregados da NF Market, agência especializada em gestão e desenvolvimento de projetos em NFT (ativos digitais), têm que mostrar bom desempenho antes de entrar na sociedade. O programa de avaliação foi efetivado depois que a empresa analisou outros casos, principalmente no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e dois colaboradores foram selecionados para integrar o quadro acionário.

Segundo Thiago Valadares, sócio-diretor da agência, o programa não impede outras formas de bonificação para equipes, que também são instrumentos de estimulo ao engajamento. Mas ter sociedade envolve os funcionários diretamente nos objetivos da empresa.

“O propósito desse modelo de participação é dar um norte ao colaborador. Dessa maneira, ele se sente ainda mais parte do time, começa a pensar como dono e, consegue ver que suas ações diretas podem colaborar para o sucesso financeiro da empresa e o dele, consequentemente”, ressalta Valadares, acrescentando que, assim, se cria um forte compromisso do colaborador com a empresa.

A Crowe Macro Auditores e Consultores, com mais de 20 anos de mercado, também tem  um programa que permite ao empregado tornar-se sócio da empresa, inclusive seis deles começaram na empresa como trainees. No entanto, são muitas etapas até chegar lá  e, além do desempenho, a retenção do capital intelectual também está em jogo. Essa estratégia ajudou a consultoria a crescer acima de dois dígitos por ano.

Um dos princípios adotados é o da transparência, um critério fundamental, segundo o sócio- fundador Marcelo Lico,  para que cada um entenda seu papel nos objetivos da empresa e possa de fato contribuir com os resultados. Os colaboradores podem receber bonificação, mas quem de fato se torna sócio pode também obter dividendos.

“Sempre compartilhamos os resultados com nossos funcionários. Somos 11 sócios, e seis começaram como trainees. Além da participação no capital social, eles têm participação nos lucros conforme o percentual de participação na empresa. Em 22 anos, tivemos um crescimento médio de 25% ao ano e atingimos um grupo de 400 profissionais”, destaca Lico.

EU ACHO …

EUREKA!

Cada semana, uma novidade. A última foi que pizza previne câncer do esôfago. Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem  problema, qualquer gole de álcool é nocivo,  tome água em abundância, mas não exagere … Diante dessa profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.

Prazer faz muito bem. Dormir me deixa zero-quilômetro. Ler um bom livro faz eu me sentir nova em folha. Viajar me deixa tensa antes de embarcar, mas depois eu rejuvenesço uns cinco anos. Voos aéreos não me incham as pernas, e sim o cérebro, volto cheia de ideias.

Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais os médicos deveriam proibir – como doem!

Essa história de que sexo faz bem pra pele acho que é conversa, mas mal tenho certeza de que não faz, então, pode-se abusar. Caminhar  faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo faz muito bem: você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.

Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde. E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou muzzarela que previna.

Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser excepcionalmente bom, uau! Cinema é melhor pra saúde do que pipoca. Conversa é melhor do que piada. Beijar é melhor do que fumar. Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida.

Tomo pouca água, bebo mais de um cálice de vinho por dia, faz dois meses que não piso na academia, mas tenho dormido bem, trabalhado bastante, encontrado meus amigos, ido ao cinema e confiado que tudo isso pode me levar a uma idade avançada. Sonhar é melhor do que nada.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

TENSÕES DO COTIDIANO PREJUDICAM IMUNIDADE

Fatores desgastantes como trabalho exaustivo, traumas e discriminação afetam proteção do corpo, sobretudo na velhice

Hoje, a maioria das pessoas sabe que o estresse pode causar sérios danos à saúde mental e física. E quando a influência estressante se prolonga, estudos sugerem que pode crescer o risco de certas condições de saúde, como asma, úlceras, ataque cardíaco e derrame. Agora, uma nova pesquisa indica que certos tipos de estresse podem até envelhecer o sistema imunológico.

Usando dados de uma pesquisa já existente, os cientistas analisaram as respostas de uma amostra nacionalmente representativa de mais de 5.700 adultos nos Estados Unidos com 50 anos ou mais e as compararam com contagens de células imunes do sangue dos participantes. Na pesquisa foi perguntado aos entrevistados sobre suas experiências com estresses sociais, como tensão no trabalho, estresse crônico, eventos estressantes da vida, discriminação cotidiana ou ao longo da vida (incluindo sexismo ou idade) e eventos traumáticos. A equipe descobriu que níveis mais altos de estresse estavam ligados a versões do sistema imunológico mais envelhecidas. As descobertas foram publicadas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

À medida que seu sistema imunológico envelhece, seu organismo tem uma resposta menos coordenada a novas ameaças, porque produz vários tipos de células imunológicas em proporções diferentes do que quando se é mais jovem, disse Eric Klopack, principal autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado em gerontologia da Universidade do Sul da Califórnia. Ao mesmo tempo, os anticorpos mais velhos e desgastados tendem a dominar os mais novos e ágeis, resultando em uma resposta imune menos robusta.

Até agora, ninguém investigou a fundo a relação entre estresse social e função imunológica, pelo menos não com atenção aos detalhes, afirmou Matthew Yousefzadeh, que pesquisa o envelhecimento na Universidade de Minnesota e não esteve envolvido no estudo. E embora o novo trabalho seja limita- do, pois analisou apenas alguns tipos de células imunológicas —especificamente as células TCD4 e CD8 —Yousefzadeh disse que elas são um bom indicador do desenvolvimento da imunidade.

A nova pesquisa aborda uma preocupação oportuna em meio à pandemia de Covid-19.

“Acho que muitas pessoas agora estão procurando maneiras de rejuvenescer ou estimular o sistema imunológico, principalmente com o envelhecimento”, disse Yousefzadeh. “E, portanto, qualquer informação sobre como funciona o envelhecimento imunológico, ou como ele pode ser diferente para certas pessoas, é valiosa para a saúde pública.

RELAÇÃO DE INFLUÊNCIA

Ainda que os pesquisadores tenham descoberto que certas formas de estresse social estão ligadas a mudanças nas células imunes dos participantes, Eric Klopack advertiu que os especialistas ainda não entendem completamente como um influencia o outro.

Quando eles controlaram estatisticamente comportamentos como fumar ou beber, algumas dessas associações com o envelhecimento imunológico “desapareceram ou foram reduzidas”, contou ele, sugerindo que essas atitudes podem ter desempenhado algum papel no envelhecimento de seus sistemas imunológicos.

Uma maneira de prevenir o envelhecimento das células imunes pode ser ficar atento a hábitos pouco saudáveis, indicou Klopack. Pesquisas como essa tornam visível o que as pessoas que sofrem discriminação e trauma já sabem intuitivamente, apontou Renee Eddy, psicoterapeuta de Nova York: o estresse tem um impacto tangível na saúde física.

Suavizar esses efeitos requer fazer um balanço de suas emoções atuais, explicou Eddy. Ela acrescentou que todo mundo é afetado pelo estresse de maneira diferente, então as formas de processá-lo também podem variar. Concentrar-se no que lhe traz alegria e onde você pode encontrar apoio social pode ajudar nesse sentido. Isso pode significar praticar hobbies, passar tempo com entes queridos ou desconectar-se do trabalho ou das mídias sociais quando puder.

“Práticas de atenção plena, exercícios e hábitos alimentares saudáveis também podem ajudá-lo a se sentir bem fisicamente, o que, por sua vez, pode fazer você se sentir bem mentalmente”, completou.

SEGUIR EM FRENTE

Se as opiniões políticas de um amigo estão constantemente te causando angústia, você conseguiria limitar seu contato com ele ou mudar seu círculo social? Se um colega de trabalho está colocando você para baixo por causa de sua idade, seria válido conversar com ele sobre isso? Observar o contexto completo de onde e como as situações estressantes se manifestam em sua vida é o primeiro passo para decidir como você pode seguir em frente.

É claro que haverá situações que você não pode controlar, ponderou Eddy, mas quanto mais você puder fazer para entender melhor o efeito delas sobre você, mais poderá fazer para ajudar a aliviá-las.

Sobre como essas situações sociais afetam seu sistema imunológico, há muito mais a descobrir, disse Klopack.

Uma coisa a lembrar, no entanto, é que a maior causa “que contribui para o envelhecimento imunológico é apenas o envelhecer”, explicou Idan Shalev, cientista de saúde biocomportamental da Universidade Estadual da Pensilvânia, que estuda os efeitos do estresse ao longo da vida. Portanto, as estratégias para evitar o envelhecimento imunológico são geralmente as mesmas que evitam os efeitos do envelhecimento em geral: seguir uma dieta saudável, fazer exercícios regulares, limitar ou evitar fumar e beber e dormir bem.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO A PANDEMIA PREJUDICOU O CICLO DE SONO DOS JOVENS

Estudos recentes mostram que isolamento fez adolescentes dormirem mais tarde e pior. Especialistas destacam que perda de horas de descanso atrapalha etapa de formação cerebral

Os impactos da pandemia na vida dos jovens, com a interrupção das aulas presenciais e a necessidade de permanecer em isolamento, ainda estão sendo desvendados pela ciência. Porém, um deles cada vez mais claro é a forma como a crise sanitária impactou a hora de dormir —com uma série de pesquisas apontando para uma piora na qualidade do sono. O cenário envolve uma preocupação em dobro, já que se trata de uma fase da vida em que o cérebro ainda está em formação.

Os dados mostram que, no geral, os brasileiros já têm problemas relacionados ao sono. Segundo a última pesquisa da Associação Brasileira do Sono (ABS), as dificuldades para atingir um descanso noturno de qualidade afetam 65% da população, informação corroborada por um estudo publicado recentemente na revista científica Sleep Epidemiology, que ressalta ainda a maior propensão dos jovens a sofrer desse incômodo.

“Sabemos que é uma faixa mais vulnerável à privação de sono e às adversidades em geral, porque é uma etapa de enorme plasticidade cerebral, de modificação das redes neuronais. Não é só de modificação do pensamento e comportamento, mas da estrutura física do cérebro”, explica o especialista em sono e doutor em neurociências Fernando Louzada, coordenador do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Paraná.

E esse cenário piorou com a pandemia. Em comparação com o ano anterior, um levantamento da ABS de 2020 mostrou que a média de horas de sono por noite caiu de 7,12 horas —o mínimo recomendado pela Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos — para 6,23 horas. Entre os jovens, que precisam de mais tempo por noite, um estudo conduzido no primeiro ano da pandemia pela Fiocruz mostrou esse impacto da Covid-19.

Cerca de 36% dos adolescentes de 12 a 17 anos relataram uma piora na qualidade  do sono com a chegada da pandemia, com 24% tendo desenvolvido problemas relacionados à hora de dormir e 12% que já tinham dificuldades relatando agravamento. E a situação não é exclusiva do primeiro ano da Covid-19: um estudo publicado em 2022 na revista Sleep Science por pesquisadoras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com pessoas de 13 a 18 anos, mostrou que um índice maior, de 58,2%, ainda relatava uma piora na qualidade do sono.

“A pandemia colocou um grande ponto de interrogação sobreo futuro. Os jovens que estavam em momentos cruciais, como entrada numa universidade ou no mercado de trabalho, tiveram que lidar com a frustração de não dar o “próximo passo”, avalia a neurologista Christianne Martins Bahia, responsável pelo Ambulatório de Distúrbios do Sono do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

ISOLAMENTO

A forma como a pandemia provocou mudanças no sono dos jovens pode ser resumida em três principais áreas, segundo os especialistas. A primeira, e a principal, é a perda da ritmicidade com o isolamento social, decorrente da súbita mudança de rotina. A diretora de ensino e pesquisa do Instituto do Sono, Monica Andersen, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que, como não precisavam sair de casa tão cedo, a pessoas postergaram a hora de dormir, e alteraram o ciclo do sono.

“Isso é muito ruim porque o fator mais importante para nossa qualidade do sono é a ritmicidade. Na hora que você perde isso, os processos fisiológicos do corpo passam a funcionar de forma diferente. No entardecer, nosso corpo começa a liberar a melatonina, estimulada pela escuridão, que sinaliza a hora de dormir. Como as pessoas ficaram mais horas acordadas de madrugada, na televisão, na internet, estimulando o cérebro, houve uma alteração na produção desse hormônio”, diz a professora.

O impacto é mais forte entre os jovens porque eles já são mais propensos a sofrer o chamado atraso defase do sono, explica a neurologista e neuropediatra Rosana Alves, membro da Associação Brasileira do Sono (ABS).

“Esse atraso é uma tendência natural a dormir e a acordar mais tarde, postergando o ciclo circadiano. Isso é relativamente comum nessa faixa etária, mas com a chegada da pandemia, especialmente no início, isso piorou”, afirma a médica.

SONO ADIADO

Um estudo brasileiro, publicado no Journal of Clinical Sleep Medicine, evidenciou esses novos hábitos. A partir de um questionário, realizado antes e depois da pandemia, observou-se que os alunos de ensino médio passaram a dormir uma hora e meia mais tarde e acordar duas horas depois do habitual.

Outro fator para as alterações e piora do sono com a Covid-19 foi a maior adesão aos dispositivos eletrônicos, que se tornaram parte ainda mais importante da rotina com o isolamento social. Segundo a pesquisa da Fiocruz, 70% dos entrevistados passaram a ficar mais de quatro horas por dia em frente ao computador, tablet ou celular.

“São pessoas que estão numa fase de construção de redes de socialização, o que não pôde acontecer de forma física, apenas digital. Então, eles acabaram se tornando mais dependentes ainda desses dispositivos e, consequentemente, diminuindo as horas de sono. Esses aparelhos provocam no cérebro uma avalanche de substâncias que estimulam que ele fique acordado”, afirma Monica, do Instituto do Sono.

Toda essa realidade de quebra da rotina e maior uso de aparelhos eletrônicos encontra um cenário de piora da saúde mental com a pandemia. Especialistas destacam que problemas como ansiedade e depressão cresceram na faixa etária e atuam tanto piorando o sono como sendo intensificados pela ausência do descanso adequado.

“A insônia pode ser um sintoma da ansiedade e da depressão. Geralmente, no caso da ansiedade, o jovem tem mais dificuldade para pegar no sono, mas depois dorme. Já aqueles com depressão podem até adormecer de forma rápida, mas costumam acordar de madrugada. Só que esse sono de tempo reduzido ou interrompido também predispõe os problemas de saúde mental. Então uma coisa piora a outra”, explica Rosana, da ABN.

Christianne, do ambulatório do sono do Hupe, explica que essa faixa etária é mais suscetível aos problemas da mente relacionados ao sono devido a um processo de amadurecimento cerebral chamado de mielinização, que se completa aos 25 anos.

ALTERAÇÕES DE HUMOR

Louzada destaca ainda que há outros efeitos da redução ou interrupção do sono nessa idade que podem ser observados em poucos dias ou semanas. Há um impacto negativo na consolidação da aprendizagem, na memória, na atenção e na regulação emocional. Os jovens se tornam mais impulsivos, irritados e mais propensos a manifestar alterações de humor.

Outros estudos já mostraram que o sono inadequado pode levar também ao aumento na gordura abdominal e visceral, que é ligada ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Um trabalho da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, publicado no American Journal of Human Biology, estimou que o risco para obesidade, por exemplo, cresce em 80% a cada hora reduzida no sono de jovens entre 11 e 16 anos.

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