JOVENS ADULTOS LGBTQIAP+ SÃO MAIS VULNERÁVEIS A DOENÇAS CARDÍACAS
Estresse provocado pelo estigma, discriminação e medo da violência aumentam o risco de problemas no coração, dizem especialistas

Em junho, o mundo celebra o mês do orgulho LGBTQIAP+. Neste momento em que muito tem se discutido sobre a comunidade, médicos especialistas destacam questões de saúde vividas por adultos que fazem parte do grupo: casos desproporcionais de varíola em homens que se relacionam com outros do mesmo sexo, altas taxas relatadas de abuso de álcool, obstáculos ao acesso a exames e tratamentos para o câncer.
Mas, de acordo com alguns especialistas, uma das desigualdades de saúde mais críticas geralmente passa despercebida.
Um conjunto crescente de pesquisas mostra que os adultos LGBTQIAP+ são mais propensos a ter saúde cardíaca pior do que pessoas heterossexuais. Lésbicas, gays e bissexuais adultos eram 36% menos propensos do que adultos heterossexuais a ter uma saúde cardiovascular ideal, concluiu a Associação Americana do Coração em 2018, com base em pesquisas de fatores de risco como tabagismo e glicose no sangue. Em 2021, a organização divulgou uma declaração sobre as altas taxas de doenças cardíacas entre indivíduos transgêneros e de gênero diverso, vinculando o cenário em parte ao estresse que vem da discriminação e da transfobia.
Os dados apoiam o que os médicos e aqueles que pesquisam a saúde da comunidade LGBTQIAP+ observaram por décadas – que elesenfrentam obstáculos específicos e abrangentes por conta das discriminações que sofrem, tendo seu cérebro e o corpo afetados.
A doença cardiovascular é a principal causa de morte no Brasil e nos Estados Unidos. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estimam que 80% das doenças cardíacas prematuras e derrames poderiam ser evitadas. No entanto, há disparidades em relação a onde esse fardo recai dentro da população em geral.
TENSÃO E MEDO
Especialistas dizem que os adultos LGBTQIAP+ enfrentam fatores de estresse únicos – estigma, discriminação, medo da violência – que podem levar direta e indiretamente à doença.
O estresse afeta diretamente certos hormônios que regulam a pressão arterial e a frequência cardíaca, diz Billy Caceres, professor assistente da Escola de Enfermagem e do Centro de Pesquisa em Saúde Sexual e de Minorias de Gênero da Universidade de Columbia. A hipervigilância – a sensação de estar sempre no limite, constantemente procurando a próxima ameaça – faz com que os níveis de cortisol aumentem, o que pode levar a problemas cardiovasculares em longo prazo, é o que e o que explica Carl Streed, professor assistente da Escola de Medicina da Universidade de Boston.
Erin Michos, diretora associada de cardiologia preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins acrescenta que, além disso o estresse pode levar à inflamação crônica e também aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca.
“É lógico que nossos corpos respondem a esses eventos e demandas da vida realmente complexos e desafiadores”, afirma Scott Bertani, diretor da Health HIV, uma organização sem fins lucrativos focada no avanço da prevenção e cuidados para pessoas em risco de HIV.
Ele dá o exemplo do ato de sair do armário: em alguns casos, épreciso ter que repetidamente reafirmar quem são, o que geralmente vem acompanhado de uma alta carga de estresse.
Para lidar com a constante ameaça de discriminação ou assédio, muitos usam drogas como tabaco e álcool”, diz Streed, que também é pesquisador do Centro de Medicina e Cirurgia Transgênero do Boston Medical Center. Essas indústrias têm como alvo a comunidade LGBTQIAP+ por meio de publicidade, especialmente durante o mês do Orgulho. Os CDCs relatam que cerca de 25% de lésbicas, gays ou bissexuais adultos usaram um produto comercial à base de tabaco em2020, em comparação com 18,8% dos adultos heterossexuais, uma disparidade que a agência atribui parcialmente ao longo histórico de campanha de marketing agressivas da indústria do fumo.
A pesquisa também identificou uma ligação entre o sono e a saúde do coração, diz Billy Caceres. Evidências crescentes mostram que os adultos LGBTQIAP+ experimentam mais problemas e interrupções do sono do que a população em geral, o que pode estar ligado ao estresse crônico.
OBSTÁCULOS
Uma pesquisa de 2017 com quase 500 adultos LGBTQIAP+, feita por pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard TH Chan e da Fundação Robert Wood Johnson. descobriu que mais de um em cada seis em revistados relatou evitar cuidados de saúde porque se preocupava com a discriminação. A hesitação significa que essa população é menos propensa a acessar cuidados de saúde preventivos que podem salvar vidas, diz Erin Michos. Todos os adultos devem ser examinados pelo menos uma vez por ano para investigar fatores de risco cardiovascular, o que costuma fazer parte do hábito de check-up rotineiro.
Outro fator de risco é apontado pela cardiologista Erin Michos. Ela diz que, embora os hormônios de transição de gênero tenham demonstrado um impacto positivo na saúde mental, há algumas evidências de que altas quantidades de testosterona e estrogênio podem ter riscos cardiovasculares. As pessoas que estão tomando esses hormônios devem consultar seus médicos para saber como manter a saúde do coração durante o tratamento.
Encontrar médicos com os quais você se sinta confortável e seguro pode ser fundamental na prevenção de doenças cardíacas, dizem especialistas.
Yuck, so gross.
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