MEDO DE INTIMIDADE

Intimidade não é sexo, não é dar beijo, abraço, amasso. Essas são manifestações de carinho e de desejo que estabelecem um vínculo provisório – a evolução para a intimidade permanente dependerá de fatores bem mais profundos.
Tenho reparado que, quanto mais carente é a pessoa, mais ela evita intimidade, o que é contraditório. Se a pessoa sente falta de receber atenção e mimos, por que ela faz de conta que se basta? Não preciso ir longe ao encontro da resposta: olho para trás e vejo que eu mesma fui uma adolescente insegura e refratária a contatos físicos muito exagerados – preferia que gostassem de mim a certa distância. Estratégia de autoproteção: tinha medo que chegassem muito perto das minhas feridas da alma.
Qual o adolescente que não tem as suas, mesmo que fruto de alguma fantasia?
Até que um dia a gente se liberta dessas paranoias. Crescer, digo crescer de verdade, por dentro e por fora, de forma realmente amadurecida, implica assumir-se como um ser falível, mas que não se acovarda diante da vida. À medida que nos tornamos gentis conosco, passamos a enfrentar nossas carências em vez de mascará-las, e isso faz com que passemos a permitir que os outros se aproximem o suficiente para nos enxergarem como realmente somos, a fim de nos ajudarem no estimulante processo de autoconhecimento. Como é que vou me conhecer se não dou espaço para minhas fragilidades virem à tona? Como é que vou superar minhas dificuldades se não confrontá-las com as dificuldades dos outros? Como é que vou curar aquelas tais feridas da alma se não faço outra coisa a não ser disfarçá-las?
É através da intimidade que construímos relações sólidas de amor e de amizade, só que isso não se estabelece em encontros ocasionais – é preciso abrir-se e confiar. Não em qualquer estranho, obviamente, mas naqueles que reconhecemos como potenciais parceiros para a vida inteira. Sem temer ser abandonado. Não é fácil, eu sei. Intimidade é para os raçudos.
Temos vários parentes, temos amigos de longa data, temos parceiros conjugais, e mesmo com todo esse arsenal afetivo, é possível passarmos uma vida inteira sem estabelecer com eles laços de verdadeira intimidade, tudo porque nos sentimos mais confortáveis representando o papel de autossuficientes – uma couraça que evita que sejamos machucados. Porém, já não será dolorido o suficiente viver assim tão isolado em seus sentimentos mais íntimos? Que coisa cansativa usar a solidão como um escudo perpétuo. O que parece defesa contra os outros é só uma tentativa de não enxergar que o verdadeiro inimigo está dentro de nós, nos impedindo de experimentar conexões elevadas e arrebatadoras que poderiam tornar nossa vida infinitamente mais plena.
*** MARTHA MEDEIROS
Uma consideração sobre “EU ACHO …”
Os comentários estão encerrados.