A alta perfumaria segue o novo comportamento social que derruba a barreira entre homens e mulheres e investe no lançamento de essências que agradem ao olfato de todos
Construções sociais tendem a sedimentar estereótipos. Há pelo menos oitenta anos, convencionou-se que perfumes femininos eram adocicados e suaves e os masculinos deveriam transmitir a sensação de sobriedade e poder. Notas de rosas seriam, portanto, destinadas às mulheres, enquanto aos homens ficariam ofertados os fundos amadeirados. A verdade é que também na sensibilidade olfativa não há compartimentos onde devam ser armazenados este ou aquele aroma como marca de gênero. Por isso, os perfumes, tal qual a comida, o esporte ou a profissão, são opções individuais cada vez menos pautadas por preceitos que desrespeitam a diversidade entre os indivíduos. A barreira entre o que era classificado como essências de mulher ou de homem se tornou tão fluida quanto as fragrâncias que se dissipam no ar. Dessa forma, ganham espaço nas prateleiras os produtos genderless, ou sem gênero, ou, ainda, chamados de compartilháveis.
Tanto as marcas mais tradicionais quanto a perfumaria de nicho – conduzida por perfumistas independentes – começam a investir com força nesses artigos. Só nos primeiros meses deste ano, duas grandes grifes, Armani e Guerlain, lançaram os seus. A Calvin Klein pôs nas prateleiras o Everyone EDT. Do italiano Armani veio o Índigo Tanzanite, de essência âmbar amadeirada com notas que vão de amêndoa a bergamota e patchouli. A francesa Guerlain apresentou o Nerolia Vetiver de Guerlain, um amadeirado floral almiscarado. A preferência pelas madeiras e pelos almiscarados tem um motivo: são os que mais servem à nova ordem, sem nichos.
As essências compartilháveis são em boa medida as responsáveis pelo reaquecimento do mercado, esmaecido pelos dois anos de isolamento da pandemia. Os números aferidos pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos nos primeiros três meses de 2022 são animadores, com crescimento de vendas 9% superior ao registrado no mesmo período em 2021. É interessante saber, no entanto, que a entrada dos produtos no mercado bebe de sua própria longínqua história, como se fosse uma correção. A fragrância das rosas, por exemplo, era profundamente admirada por homens na Índia e depois passou a ser o cheiro que perfumava os banhos romanos, prazer que guerreiros e imperadores desfrutavam docemente. Passou a ser relacionada ao universo feminino em meados do século XX, quando a separação das famílias aromáticas por gênero ocorreu como jogada de publicidade e de marketing, em busca de vendas.
O retorno à liberdade dos aromas, alheia a escaninhos restritos, deve ser festejado não só como um movimento adequado ao seu tempo, mas também por devolver ao ser humano a capacidade de explorar seu incrível sistema olfativo, o mais complexo de todos os que processam os sentidos. O escritor americano Bill Bryson, divulgador científico, lembra em Corpo – Um Guia para Usuários que o olfato é o único dos cinco sentidos básicos não mediado pelo hipotálamo. Quando cheiramos algo, a informação, por motivos que desconhecemos, vai direto ao córtex olfativo, aninhado junto ao hipocampo, onde as memórias são formadas, e alguns neurocientistas acham que isso talvez explique por que certos odores são tão poderosamente evocativos de lembranças. “As misturas de odores originam aromas muito particulares porque partem da sobreposição de fragrâncias ao cheiro natural da pessoa”, diz Leonora Nogueira, curadora de perfumes da Eaux parfums. É química fascinante, ainda mais agora, sem distinção de gênero.
‘METAVERSO CORPORATIVO’ REPRODUZ ESCRITÓRIO PARA A ERA DO HOME OFFICE
Criação de espaços que representam o ambiente de trabalho vira moda e atrai empresas como Bosch, TIM e Gerdau
Sentindo falta de uma troca mais constante de ideias com os colegas, mas sem vontade de enfrentar o trânsito para chegar até o escritório? Sem problemas: algumas empresas já estão criando espaços para interação entre funcionários no metaverso.
É o que já acontece no Grupo Epic, formado por sete startups focadas em economia criativa e no mundo geek. Segundo Luiz Guilherme Guedes, CEO do grupo, trata-se de um experimento para responder a uma necessidade premente: a de convívio.
“A ideia de criar um metaverso do escritório veio quando a gente percebeu que o time não tinha a menor vontade de voltar para o presencial. Aliás, 70% das gerações Y e Z não querem voltar para esse formato, é a turma do nomadismo digital”, explica. “Falamos que não iríamos reabrir os escritórios, mas também não vamos perder o convívio.”
A empresa, que já atua no setor de games, desenvolveu uma plataforma 2.0 que pode ser acessada via celular e reproduz a versão física do escritório da Epic. Tem cafeteria, salas de treinamento e de reunião e até os “mascotes da casa” – a cachorrinha Luna e um gato chamado Luke, que existem na vida real e, no metaverso, interagem com os avatares dos colaboradores e convidados.
A ideia deu tão certo que clientes começaram a contratar a Epic para criar o metaverso retratando seus próprios escritórios. Desde agosto, quando o projeto começou, já foram projetados cerca de 130 metaversos, para companhias como Warner Bros, Globo, Bosch, TIM, Gerdau e Golden Cross. Guedes explica que o metaverso na dimensão do corporativo veio para resolver também um problema de motivação, retenção de conteúdo e comunicação interna, ressaltando que a taxa de engajamento nos treinos corporativos, que já não era alta antes da pandemia (28%), despencou para 2% com o isolamento social.
Ele também revela que há diferenças interessantes na forma como as distintas gerações usam o metaverso corporativo.
Entre os 130 modelos que a Epic criou até agora, metade foi para empresas em que o time pertence majoritariamente à geração X, enquanto as startups e empresas de tecnologia são abarrotadas de pessoas da geração Y e até da Z.
“A gente nota que a geração X está usando pontualmente para reuniões, eventos, design thinking, memorias. Terminou, saiu”, descreve. “Já a geração Z faz tudo. Tem Pikachu na mesa, molha a plantinha, abre o Gmail pelo computador do próprio metaverso. É um pessoal que já nasce com a mentalidade de jogo e habituado ao conceito de estar online em tempo integral.”
TESTANDO AS ÁGUAS
De olho no crescente movimento do ambiente corporativo em direção ao metaverso, a Like Marketing, que tem 54 funcionários, está prestes a implantar a solução, mas ainda estudando qual a melhor opção. “A gente quer modernizar, já que trabalha com tecnologia, mas temos receio de parecer invasivo”, pondera Rejane Tolgo, fundadora da empresa.
Com esses cuidados em mente, duas colaboradoras já estão na chamada “escola do metaverso” para aprender e avaliar a ideia. “Acho que as reuniões e principalmente a convivência do metaverso, as decisões em conjunto, podem contribuir muito para o desenvolvimento do ambiente e da cultura da empresa”, diz a empresária
Há, porém, quem esteja em estágio mais avançado. No caso da VCI Digital, do grupo de soluções conectadas VC ONE, todas as reuniões do time já ocorrem em um metaverso próprio. “A gente tem um escritório dentro de uma plataforma imersiva, com toda a caracterização do nosso escritório físico – a parte de apresentação, salas de reunião, zonas de voz, tudo”, afirma o CEO Pablo Martin Ayerza.
Para a realização de reuniões 100% imersivas, a empresa está utilizando o Workrooms, ferramenta da Meta (dona do Facebook), com direito ao uso dos óculos de realidade virtual (VR) da gigante de Mark Zuckerberg. “O espaço imersivo conta com uma série de recursos e ferramentas de produtividade que transformam as reuniões em experiências únicas, incríveis e radicalmente diferenciadas em comparação com outros meios virtuais de trabalho remoto”, diz.
Para quem não tem os óculos – na internet, o preço varia de R$2,5 mi) a RS 4 mil -, Ayerza diz que a plataforma permite a participação por videoconferência. “É uma excelente oportunidade para conectar equipes, aumentar a produtividade das reuniões e experimentar alguns benefícios do conceito de metaverso nas relações de trabalho.”
Fundador da Gespro, consultoria em transformação digital, Júnior Rodrigues diz que, quando o trabalho migrou para o online, as pessoas foram cansando do excesso de encontros online e lives. No caso da empresa dele, a solução foi trazer os workshops para o metaverso.
“O metaverso veio justamente para suprir essa necessidade das pessoas de estarem próximas. Além de a gente utilizar um ambiente lúdico, com aparência de jogo, o uso de avatares promove uma integração maior e mais divertida”, observa. “Ficou mais produtivo porque, como as pessoas se veem como se estivessem num local físico, interagem mais.”
PROCESSO SELETIVO
A gigante de bebidas Ambev usou o metaverso para uma ação especifica. Em abril, a empresa lançou dois processos seletivos – o de estágio e o Representa, voltado exclusivamente a profissionais negros – no universo virtual, com todas as etapas 100% on-line e games interativos para interação com os candidatos.
Na última etapa, eles foram direcionados para o Ambev Expo, onde usaram seus avatares para participar de dinâmicas entre si e com membros da companhia. Para criar o avatar, a plataforma oferecia mais de 20 milhões de possibilidades de customização, com diferentes tipos de cabelo, roupa, acessórios e tons de pele. Além disso, era possível falar com NPCs (personagens não jogáveis) que representavam os colaboradores da Ambev.
“Foi uma oportunidade de conhecer a cadeia produtiva do campo ao copo, através de textos explicativos, interações e vídeos com a participação de colaboradores da Ambev de diferentes áreas em versões digitais”, diz Camilla Tabet, diretora de gente e gestão da Ambev no Brasil. “Esse é um ótimo exemplo de como a tecnologia pode deixar os processos de recrutamento mais dinâmicos e em linha com o momento.”
Estava participando de um evento, quando uma moça se aproximou de mim e disse: “Gostaria de saber sua opinião: sempre que eu pergunto para o meu marido sobre o que ele está pensando, ele responde que não está pensando em nada. Isso é possível”.
Não, não é possível, respondi. Não é possível que você pergunte para o seu marido sobre o que ele está pensando. Você não tem pena do coitado’
Rimos, e trocamos de assunto.
O fato é que não é só ela. Muitas vezes compartilhamos o silêncio com alguém que amamos muito, mas o amor nem sempre é blindagem suficiente contra a insegurança, e aí aquele silêncio vai se tornando incômodo, aflitivo, até que, pra não deixar o caladão ou a caladona fugir para muito longe, surge a invasiva pergunta: “No que você está pensando.”
Pode acontecer durante uma viagem de carro, durante uma caminhada, até mesmo em frente à tevê: “No que você está pensando?”.
Estava pensando se o bolo desandou por eu ter colocado farinha de rosca em vez de farinha de trigo. Estava tentando lembrar se foi o Robert Downey Jr. que fez o papel de Gandhi no cinema. Estava procurando entender como o elefante, sendo herbívoro, consegue ser tão gordo.
Como diria Olavo Bilac, certo perdeste o senso.
O pensamento é sagrado, o único território livre de patrulha, livre de julgamentos, livre de investigações, livre, livre, livre. Área de recreação da loucura. Espaço aberto para a imaginação. Paraíso inviolável. Se estivermos estranhamente quietos num momento em que o natural seria estarmos desabafando, ok, é bacana que quem esteja a nosso lado demonstre atenção. Você está aborrecido comigo? Está preocupado’ Quer conversar’ Está precisando de alguma coisa? Quem gosta de nós percebe quando nosso silêncio é uma manifestação de sofrimento ou desagrado, e nos convocar para um diálogo é uma tentativa de ajudar.
Mas durante uma viagem de carro em que está tudo numa boa e você apenas aprecia a paisagem? Durante uma caminhada no parque em que você está observando as diferentes tonalidades de verde das árvores? Na frente da tevê, quando você está fixado na entrevista do seu cineasta preferido? Esse é o silêncio da paz, do sossego, e não merece ser interrompido por suspeitas. Sim, até pode ser que você esteja pensando, durante a viagem, que o relacionamento de vocês também já foi longe demais. E que o parque seria um belo local para um encontro clandestino. De preferência com o cineasta da entrevista, que você nem imaginava ser tão bonitão. Sim, pode ser.
Em que você está pensando? Em nada, meu bem. Em nada.
CIENTISTAS ACHAM MOLÉCULA QUE ALTERA APETITE APÓS EXERCÍCIOS
A chave para saber por que ficamos famintos após certos treinos e sem vontade de comer depois de outros pode estar na intensidade
Porque ficamos tão famintos depois de um treino, mas sem muito apetite depois de outro? Em um novo estudo publicado pela revista Nature, uma equipe de cientistas sugere que a resposta está nas ações de uma única molécula produzida após o exercício que diminui a fome. A molécula – encontrada na corrente sanguínea de camundongos, humanos e cavalos de corrida – apareceu em uma quantidade muito maior após exercícios intensos do que nos mais leves, sugerindo que o exercício intenso pode ser a chave para controlar o quanto comemos depois do treino.
A relação entre condicionamento físico e alimentação é espinhosa. Estudos já mostraram que as pessoas que começam a se exercitar sem também gerenciar sua ingestão calórica normalmente perdem poucos quilos ao longo do tempo e podem ganhar peso. Muitos fatores contribuem para esse resultado, incluindo a condição física atual, massa corporal, dieta, gênero, genética, taxa metabólica e até mesmo o momento do exercício.
O apetite também importa. Se você ficar faminto nas horas após um treino, pode facilmente acabar consumindo mais calorias do que queimou. Mas o que nos faz sentir fome – ou não – depois de nos exercitarmos tem sido um mistério.
Durante décadas, os cientistas conheceram várias substancias, como os hormônios leptina e grelina, que nos levam a ter mais ou menos interesse em comer. Estudos mostram que o exercício altera os níveis dessas substâncias, mas o mesmo acontece com a dieta e os hábitos de sono. Alguns pesquisadores começaram, então, a se perguntar se poderia haver algum tipo de reação especifica ao exercício que influencia o apetite.
A MOLÉCULA
Assim, cientistas da Escola de Medicinada Universidade de Stanford, da Universidade de Copenhague e de outras instituições usaram novas técnicas para caçar moléculas que apareciam em maior número na corrente sanguínea após o exercício. Eles começaram com camundongos, colocando-os em pequenas esteiras para correr em velocidades crescentes. Tiraram sangue antes e depois e então compararam os níveis de milhares de moléculas nessas amostras dos roedores.
Uma se destacou, aumentando mais do que qualquer outra. Já havia sido observado antes em alguns estudos, mas sua química e papel biológico permaneciam desconhecidos. Os cientistas descobriram que essa nova molécula – uma mistura de lactato e o aminoácido fenilalanina – foi criada aparentemente em resposta aos altos níveis de lactato liberados durante o exercício. Os cientistas a chamaram de lac-phe.
O lac-phe pode ter algo a ver com o balanço energético após o exercício, uma vez que as células do sangue e de outros lugares que o criam também estão envolvidas na ingestão de energia e na massa corporal. Pensaram que talvez isso afete o apetite. Para descobrir, eles deram uma fórmula de lac-phe para camundongos obesos, que comem sem problemas. Mas a ingestão de ração caiu mais de 30%. Eles estavam aparentemente menos famintos com o lac-phe extra.
Os pesquisadores então voltaram ao exercício. Criaram camundongos que produziam pouco ou nenhum lac-phe e os fizeram correr em esteiras cinco vezes por semana durante várias semanas. Após cada corrida, os animais recebiam a quantidade de ração com alto teor de gordura quando quisessem. Normalmente, a corrida ajuda os camundongos a evitar o ganho de peso, mesmo em uma dieta rica em calorias. Mas os animais incapazes de produzir lac-phe incharam comendo mais ração e ganhando cerca de 25% mais peso do que o grupo controle.
INTENSIDADE
Lac-phe, ao que parece, foi a chave de como o exercício intenso ajudou os ratos a evitar o ganho de peso. Sem ele, esse mesmo exercício resultou em excesso.
Finalmente, os pesquisadores verificaram a presença de lac-phe em outras criaturas que se exercitavam. Encontraram pela primeira vez na corrente sanguínea de cavalos de corrida em níveis muito mais altos após uma corrida difícil. Em seguida, pediram a oito jovens saudáveis que se exercitassem três vezes: uma pedalando em ritmo lento por 90 minutos, outra levantando pesos e uma terceira com várias arrancadas de 30 segundos sobre uma bicicleta ergométrica.
Os níveis sanguíneos de lac-phe atingiram o pico após cada tipo de exercício, mas foram mais altos após as arrancadas seguidas pelo treino com pesos.
Em outras palavras, quanto mais intenso o exercício, mais lac-phe era produzido e, pelo menos em camundongos, mais o apetite parecia diminuir.
Os resultados são fascinantes e adicionam uma nova dimensão ao nosso pensamento sobre exercícios e regulação do peso corporal”, disse Richard Palmiter, professor de bioquímica da Universidade de Washington.
“Sempre soubemos que nosso menu atual de moléculas que parecem regular o apetite e a ingestão de alimentos, como leptina, grelina, dentre outros, estava incompleto, e esse novo metabólito/molécula sinalizadora é uma adição potencialmente importante a essa lista”, afirmou Baay Brauu, diretor do Laboratório de Pesquisa Clínica de Desempenho Humano da Universidade Estadual do Colorado.
Supondo que esse processo funcione da mesma forma em humanos e camundongos, a descoberta do lacphe fornece uma informação útil. Se quisermos evitar a compulsão depois de um treino, talvez precisemos aumentar a intensidade.
Histórias para dormir ajudam adultos a combater a insônia
No vilarejo Nada Acontece; não há grandes emoções. Perto de casa você pode comprar peras perfumadas num dia de chuva. Visitar uma loja repleta de especiarias ou ver um veado pacífico na floresta próxima. No entanto, é nesse lugar que você pode descansar seus pensamentos, esquecer do estresse e, finalmente, dormir. Nada Acontece é palco de singelas histórias de ninar, só que para adultos.
O livro “No final nada acontece”, que está sendo lançado pela editora Sextante, é fruto de um podcast em inglês, e faz parte de uma nova forma de combater a insônia, para além de barulhinhos relaxantes, exercícios de respiração ou de meditação guiada.
A autora Kathryn Nicola explica que todas as pequenas histórias, com cerca de cinco páginas, sempre têm três componentes: em primeiro, o assunto tem que ser relaxante, algo em torno de uma experiência prazerosa. Depois, é preciso ter elementos familiares e facilmente reconhecíveis. E, por fim, deve ser muito rica em sensações.
“Tudo isso cria um clima. Como não há uma trama – ou vou te deixar acordada – tem que ser uma experiência sensorial. Me perguntam se as histórias são chatas e digo: não, você merece mais que isso, merece histórias bonitas. São lembranças de que mesmo neste mundo difícil há bons momento, que merecem atenção. Eu quero dar um lugar seguro para seus pensamentos irem, onde você possa repousar a mente.
Nicola é professora de meditação e yoga, mas, dessa vez, não quis “dar instruções e, sim permitir que as pessoas vivessem a experiência”. Segundo ela, seus contos vêm sendo usados por quem tem problemas de ansiedade, ataques de pânico e, claro, dificuldade para dormir ou retomar o sono.
No começo do livro, a escritora sugere que as pessoas que acordam no meio da noite e têm dificuldade para voltar a dormir tentem retomar mentalmente a história lida anteriormente, relembrando os acontecimentos, cenários e sensações. A explicação para o efeito antiestresse estaria na neurociência:
“Precisamos falar de estados mentais. Temos a rede de modo padrão, que éa atividade mental que acontece quando você não está fazendo nada. É também o que acontece quando você acorda 3h da manhã, seu cérebro desperta e começa a trabalhar. E uma vez nesse estado, você não consegue voltar a dormir. Então precisamos mudar a atividade cerebral para “task positive network”, que significa dar um trabalho para seu cérebro. As histórias dão uma tarefa simples: imaginar as circunstâncias, sentir o clima, se deixar levar pelas emoções reconfortantes. Isso permite que você volte a dormir no meio da noite.
Já há outros livros do gênero como “Histórias para adultos estressados” (editora BestSeller). Vídeos no Youtube, como o canal Meditando, de Juliana Tamietti, ou o app Caim também oferecem contos, entre outros recursos.
Um estudo do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Universidade Federal do ABC (UFABC) publicado em 2021 na Proceedings of the National Academy of Sciences avaliou os efeitos fisiológicos e psicológicos da narração de histórias em 81 crianças internadas na UTI. Um grupo ouviu histórias enquanto outro brincou de jogos
de adivinhação. Antes e depois foram coletadas amostras de ocitocina (hormônio do vínculo afetivo) e de cortisol (hormônio do estresse). Ambos os grupos apresentaram melhora, mas as crianças que ouviram histórias tiveram aumento em dobro da ocitocina e diminuição em dobro do cortisol. Para completar, numa escala de dor, o índice caiu duas vezes mais e, na análise de sentimentos, as crianças demonstraram mais emoções positivas.
Para o pesquisador, professor e autor do estudo, Guilherme Brockington, o conjunto de evidências científicas em neurociência e psicologia atesta que existe o fenômeno de “transporte da narrativa”, ou seja, as histórias levam o ouvinte para outro lugar.
“Não é especulativo, é muito provável que ocorra, ainda mais com os adultos. Não temos dúvida de que as histórias modulam as emoções, muitas pesquisas mostram. Um livro ou filme pode alegrar, excitar, mas, nesse caso, você quer gerar outra coisa, que é tranquilidade. O esforço é de te transportar para um lugar mais calmo, sensorialmente diferente do que você está, ansioso e insone. E a história induz mesmo a sensações e estados mentais.
FAZER O BÁSICO
Já o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono, afirma que, assim como acontece com as crianças, a história de ninar serve para desconectar a cabeça das atividades intensas durante o dia:
“É uma estratégia que pode ser efetiva. O conteúdo da história não pode ter nada a ver com o que acontece no dia e deve ser rica em adjetivos de forma a envolver o cérebro. Tem que servir para a pessoa se desconectar dos problemas e focar numa coisa diferente. Existem várias estratégias para isso, como meditação, yoga, alongamento, diversas formas de relaxamento. Mas nada funciona se o básico não for feito; tirar estimulantes à noite, como cafeína, atividade física tarde, telas e adotar horários regulares de sono.
AUMENTA A PREOCUPAÇÃO COM BULLYING E COMBATE É INSUFICIENTE, DIZ PESQUISA
Estudo alerta para efeitos dos atos repetitivos de humilhação e intimidação em crianças e jovens, principalmente nas escolas
A maioria dos brasileiros acredita que os atos repetitivos de humilhação, intimidação e ameaças, que caracterizam o bullying, e essas mesmas agressões no ambiente digital, o cyberbullying, têm aumentado no país. Os dados são do Observatório Febraban, a partir da Pesquisa Febraban/Ipespe “Bullying e cancelamento: impacto na vida dos brasileiros”, realizada entre os dias 21 de maio e 2 de junho deste ano, com três mil pessoas nas cinco regiões do país. A preocupação entre famílias de que seus filhos sofram essa violência também é alta e a escola foi apontada como o principal local de ocorrência por 63% dos entrevistados, seguida do ambiente digital (25%).
A pesquisa alerta para a gravidade dos efeitos dessas condutas em crianças e adolescentes quando não tratadas com a devida importância. A percepção dos entrevistados é de que ainda faltam ações efetivas de combate ao problema. Segundo o levantamento, 79% dos entrevistados acham que os casos de bullying cresceram muito no Brasil. A impressão sobe para 85% em relação a essas práticas em redes sociais, celulares, plataformas de mensagens e jogos.
Entre os pais com filhos em idade escolar, 81% expressam o receio de que seus filhos sejam vítimas de tais práticas. Para 75% dos entrevistados, atitudes que discriminam, humilham ou ridicularizam alguém não podem ser tratadas como “brincadeira”.
Quase metade dos entrevistados (49%) considera que o tema tem sido tratado de forma insuficiente. Entre os mais jovens, de 18 a 24 anos, 57% acham que há descaso com o assunto.
“Os problemas de bullying e cyberbullying assumem um quadro dramático para crianças e jovens. E ameaçam o equilíbrio psicológico e a saúde mental deles, com indicativos de que também comprometem o desempenho escolar e as relações sociais. O estresse provocado ainda encontra esses seres em uma fase frágil de desenvolvimento”, afirma o sociólogo e cientista político Antônio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe.
Cor e etnia foram citadas pelos entrevistados como os principais fatores alvo de bullying, seguidas da orientação sexual. Há menções também ao aspecto físico ou a padrões de beleza.
Entre os mais jovens, 42% disseram já ter sido alvo de bullying ou conhecem alguém vítima desse assédio.
“Os dados reforçam o que vemos. A preocupação dos pais, das crianças e dos adolescentes com a escola tem razão de ser. Mesmo os fenômenos que são virtuais costumam envolver pessoas com as quais esses jovens convivem na escola”, afirma a professora e pesquisadora do Departamento de Psicologia da Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Luciene Tognetta.
Por outro lado, diz, as escolas não sabem lidar com a questão e só “apagam o fogo”.
“Mas o bullying muitas vezes não dá tempo de apagar, porque pega fogo e destrói, só sobram cinzas. Aí não tem mais o que fazer. É uma preocupação de que as escolas estão se dando conta agora”, afirma a pesquisadora.
Segundo o levantamento Observatório Febraban, quase sete em cada dez entrevistados (66%) acreditam que a principal consequência do bullying é o desenvolvimento de problemas de ansiedade, insegurança, distúrbio alimentar, depressão e até suicídio.
“Sabemos que há uma relação direta entre o bullying e o suicídio, entre o bullying e o aparecimento de doenças mentais. Isso é grave e não estamos dando a atenção que deveríamos dar”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O registro de silêncio das vítimas de bullying e cyberbullying chama atenção: 62% dos entrevistados dizem que as vítimas não denunciam os agressores. Os motivos mais citados são falta de apoio, medo de retaliação, vergonha e a falta de conhecimento sobre como fazer a denúncia.
A maioria dos entrevistados (67%) não sabia da sanção da Lei do Crime de Stalking, no ano passado, que tipifica o crime de perseguição. Luciene também cita a lei de combate ao bullying de 2015, que não teve os efeitos esperados:
“Não adianta termos lei sem aplicabilidade. Precisamos que as escolas a incorporem nos seus currículos”, diz a pesquisadora.
CULTURA DO CANCELAMENTO
O estudo também levantou informações sobreo entendimento dos brasileiros sobre a chamada “cultura do cancelamento”. O termo ainda é bem menos conhecido que bullying ou cyberbullying, sobretudo entre os mais velhos. Apenas 30% ouviram falar ou conhecem bem a expressão “cancelamento”, contra 78% que ouviram falar ou conhece bem o bullying.
“Esses temas provavelmente ainda vão crescer muito nos próximos anos”, opina Lavareda.
Com novas regras, União Europeia projeta maior presença feminina no topo de empresas
Cotas, metas, licenças maternidade e paternidade ampliadas, escolas de período integral, horários flexíveis no trabalho, programas de mentoria, seleção para vagas com finalistas de ambos os sexos. São várias as medidas que podem auxiliar a reduzir a desigualdade de gênero no ambiente corporativo.
Talvez a mais polêmica – e que ganha força em vários países – é a adoção de cotas. Elas começaram a ser usadas na Europa em uma tentativa de ampliar a participação feminina nos conselhos de administração e, nos últimos anos, passaram a ser discutidas para diretorias executivas.
Na semana passada, a União Europeia chegou a um acordo político para que uma lei obrigue as empresas de capital aberto a ter pelo menos 40% de participação feminina nos conselhos não executivos e 33% nos executivos. A regra ainda precisa passar pelo Congresso de todos os países do bloco e deve valer a partir de 2026.
O primeiro país a estabelecer cotas por lei já o fez há mais de 15 anos. Em 2005, a Noruega passou a exigir 40% de representação de ambos os sexos nos comitês. Segundo levantamento da consultoria Delloite que analisou 56 companhias no país, a participação das mulheres em conselhos chegou a 42,4% no ano passado.
Ainda de acordo com a consultoria, ao menos 16 países, a maioria na Europa, já têm alguma lei que estabelece cotas de gênero na alta liderança. Na França, a legislação avança sobre as diretorias executivas, e a Bélgica já vinha discutindo medida semelhante mesmo antes do acordo da União Europeia. No Brasil, um projeto de lei da deputada Tabata Amaral (PSB-SP) propõe a reserva para mulheres de 30% das cadeiras de conselhos de administração.
A regra, se aprovada, deve valer para empresas abertas, públicas e de economia mista. Dentro dessas vagas para mulheres, 15% devem ser preenchidas por mulheres negras, com deficiência, lésbicas, bissexuais, transexuais ou intersexuais.
Na avaliação de Lígia Pinto, diretora de relações governamentais do Mulheres do Brasil -grupo liderado pela empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza – , os países que adotaram cotas têm conseguido resultados melhores na luta pela desigualdade de gênero no mundo corporativo. A participação feminina na alta liderança das companhias brasileiras, acrescenta Lígia, também professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), poderia ser ampliada mais rapidamente se leis semelhantes fossem adotadas aqui.
Solange Sobral, vice-presidente da multinacional brasileira de tecnologia CI & T e membro dos conselhos de administração da Telefônica/Vivo e da Locamerica, é a favor das cotas, mas ressalva que elas são insuficientes para fazer a mudança necessária. “É preciso realizar, ao mesmo tempo, um trabalho nas empresas para que as pessoas entendam por que ações corretivas são fundamentais. Se não houver isso, a inclusão não vai ocorrer.”
NÃO BASTA A META
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) estuda o tema, segundo a diretora Valéria Café. Por enquanto, tem defendido a adoção de metas – que antes condenava. “Mudamos nossa posição depois que trouxemos para o IBGC profissionais mais diversos e os escutamos. Mas, além da meta, é preciso ter alguém para cobrar que elas sejam atingidas”, diz.
Com uma participação feminina de 31% no conselho e de 33% na diretoria, o grupo Natura é uma das empresas entre as listadas no Ibovespa com menor desigualdade na alta liderança. A meta da companhia é ter 50% de mulheres no conselho e nas posições acima da diretoria até 2023. “Quando o CEO declara que há uma meta, significa que isso é um valor para a organização. A partir daí, os funcionários passam a reconhecer que isso é realmente importante”, diz Mariana Talarico, diretora de cultura e desenvolvimento organizacional da Natura & Co.
Para a executiva, é fundamental que as companhias trabalhem com metas nos estágios iniciais do processo de diversidade, pelo menos até que a diversidade se insira na cultura da empresa. “Sem metas, fica tudo muito dependendo da vontade do gestor. E tem gestor que simplesmente não quer mulher em sua equipe porque ela pode ter de sair, em algum momento, de licença-maternidade.”
No grupo Natura, a remuneração variável de alguns cargos é atrelada ao cumprimento das metas de diversidade.
Há exceções, mas, em geral, existem quatro modelos que mantêm os relacionamentos de pé
As regras implicam exceções notáveis. Faça uma análise honesta, querida leitora e estimado leitor. Quase todos os casais podem ser enquadrados nos quatro modelos que descreverei. Enfatizo: quase todos…
O primeiro modelo foi descrito em um romance de 1938: O Feijão e o Sonho (Orígenes Lessa). O escritor paulista inventou um poeta, Campos Lara, idealista e que deseja fazer poesia tradicional. A esposa, Maria Rosa, é prática e luta com os devaneios do marido. Ela era o feijão, cotidiano; ele, o sonho. Em todo casal, um é dado a voar com sua imaginação idealista. Dooutro lado, até pelo saudável equilíbrio, o cônjuge prático sabe que não existe almoço grátis. O feijão, confiável e concreto, tende a ser o mais chato. O sonho puro (insustentável e não pragmático) é mais leve. O casal do segundo modelo trata de duas concepções de tempo. A primeira, agostiniana: o tempo e uma criatura e, como foi feito pelo supremo Poder, é um dom. O tempo deve ser usufruído de forma generosa e levando em conta uma confiança em um arquiteto superior que o concebeu. A outra pessoa trata do tempo relógio, o tempo do mercador, como definiu o historiador Le Goff. Um se entrega ao deleite indiscernível do passar dos dias. O outro metrifica, coloca em planilha Excel e compartilha da máxima calvinista do time is money. Onde os dois acabam entrando em rota de conflito. Em geral, nas viagens: um quer executar planos minuciosos; o outro deseja se entregar às novas paisagens. Claro que há casais com combinações de tipos: o feijão tende à planilha, o sonho, à sensação agostiniana, de presente contínuo.
Já fiz crônica sobrea flor e o jardineiro. É o terceiro tipo. Sim, o casal amoroso apresenta cuidados recíprocos, jamais à mesma proporção. Um sempre tenderá ao papel do jardineiro, pensando em regar, adubar e, fato necessário, podar suas rosas. O outro membro da associação conjugal será mais flor. Com o tempo, isso parece até natural na gramática afetiva. A flor tende ao mimo; o jardineiro, ao mau humor orgulhoso por fazer tudo. O jardineiro pode ser feijão e usar o relógio do mercador. A flor é do tempo fluido e viceja no sonho.
Nenhum ser humano pode se orgulhar de estar 100% liberto do pensamento mágico. Faz parte da nossa espécie. Passamos mais tempo em cavernas, tomados de terror pelos raios e trovões, do que em laboratórios de física. É um peso cultural instintivo. Porém… pensemos bem: sempre há no casal um feiticeiro e um cientista. O quarto modelo fala daquela dualidade curiosa. Vamos fazer um almoço no jardim? Um consultará a previsão do tempo ou pensará em lugares alternativos e plano B para situação de chuva. O outro jogará um ovo no telhado para Santa Clara.
Queremos prosperidade no lar? É possível pensar em um bom investimento ou… comer nhoque da sorte todo dia 29, com uma nota de dólar sob o prato e ingerindo as primeiras porções de pé.
A casa precisa de proteção? Há vários caminhos. O assim chamado cientista procurará seguros residenciais, verificará trancas e alarmes, estimulará a presença de extintores e indicará algum treinamento familiar, em casos de emergência. O feiticeiro plantará um vaso com sete ervas protetoras contra olho-grande, colocará um elefante com o derriere voltado contra a porta, comprará um olho grego e alguma imagem protetora para pôr junto às saídas da residência. Em alguns casos mais elaborados, o feiticeiro fará disposição de espelhos, cristais, fontes de água e outras posições para reorganizar, a seu favor, o fluxo energético da casa.
Para garantir coesão textual, vamos lá: o feijão/time is money/jardineiro/cientista andará ao lado do sonho/tempo dom de Deus/rosa/mago. São, claro, tipos ideais. Quem compra cristais e os alinha cuidadosamente na estante da sala está em atitude de jardineiro, mais do que de flor. Crê, sinceramente, que o ato protegerá a casa e busca agir como protagonista. Se a casa tiver o privilégio raro de nunca ser assaltada, quem pode garantir que foram as trancas de ferro, a segurança contratada da rua ou as trancas energéticas do alinhamento dos cristais? Quem pode, de verdade, garantir a eficácia?
O mistério da natureza é o acasalamento entre os tipos descritos. Um mago sofrerá escárnio e atritos com um cientista ao lado. O racional perderá a paciência com o intuitivo mágico. Não obstante, a seta de Cupido aproxima, com frequência, um tipo ao seu polo oposto. Motivo de tal atração bizarra? Podem existir as causas em dois campos. Uma pessoa do casal dirá freudianamente: “Eu me aproximo da minha sombra, do renegado em mim”. Outro, inclinado ao Taoísmo, dirá: “São Yin e Yang na conspiração dos fluxos universais.”
Estaria inscrito nas estrelas ou seria fruto de um impulso psíquico? A esperança está no amor, que, claro, é um processo químico e um destino cármico ao mesmo tempo, como sabemos casais harmoniosamente polares.
PAPEL HIGIÊNICO? DUCHA? LENCINHO? SAIBA COMO FAZER A HIGIENE ANAL
Com vídeo de 11 milhões de visualizações, fisioterapeuta orienta a limpeza correta da região de forma clara e sem preconceitos
Depois de fazer suas necessidades fisiológicas, você costuma limpar apenas com o papel higiênico? Usa um lenço umedecido? Ou é daqueles que precisa tomar uma ducha para se certificar que a área anal está totalmente limpa? Na pressa do dia a dia não costumamos prestar muita atenção nesses detalhes, mas a higiene do ânus éuma das mais importantes do nosso corpo por ser porta de entrada para dezenas de bactérias e fungos.
A fisioterapeuta pélvica e especialista em sexualidade e pompoarismo Camila Gutz explica que a higiene anal é importante principalmente para as mulheres, já que elas têm a região do canal vaginal próxima ao ânus.
Na última semana, Camila postou em suas redes um vídeo que viralizou, no qual ensina a melhor maneira de limpar o ânus no chuveiro. A sequência, que tem duração de um minuto e meio, conta com quase 11 milhões de visualizações. Em entrevista, ela conta quais são as melhores estratégias para lavar o ânus e como ele deve ser higienizado para evitar bactérias, fungos e mau cheiro.
“Essa área, tanto do homem quanto da mulher, precisa ser muito bem higienizada: lavar e secar bem, não deixar úmido, para não favorecer a proliferação de fungos, bactérias e outros microrganismos. Também é importante manter a região anal limpa para as relações sexuais. Hoje, falamos sobre sexo anal, beijo grego, e outros tipos que podem interferir na qualidade do relacionamento. Muitas pessoas me procuram reclamando e pedindo conselhos de como falar para o parceiro ou parceira, de forma delicada, sem ofender, que o ânus apresenta um cheiro ruim.
É importante ressaltai que, principalmente nas mulheres, por ter a vagina muito próxima, a falta de higiene favorece e pode estar relacionada a infecções ginecológicas, como a candidíase, que podem ser tratadas com antifúngicos e pomadas. No entanto, uma boa higiene é capaz de prevenir esse desconforto.
SABONETE
Segundo a especialista, é muito importante, sempre que terminar suas necessidades, tomar um banho e lavar a área anal com água e sabonete. Entretanto, não se deve usar qualquer produto e, em hipótese alguma, o sabonete corporal deve ser usado para limpar a região. A recomendação é usar sabonetes líquidos específicos para as partes íntimas do corpo, ou o sabonete glicerinado neutro, sem substâncias químicas que podem causar irritabilidade, coceiras, alergias ou desequilibrar o pH da região.
CHUVEIRO/CHUVEIRINHO
Nem sempre estamos em casa e podemos utilizar o sabonete na hora de nossa limpeza intima. A recomendação élavar a região com bastante água. Com as duas mãos afaste as nádegas com cuidado, pois apesar de ter uma musculatura forte é uma área fina e sensível, com facilidade para ter fissuras e sangramentos. Com a ponta dos dedos, limpe a borda do ânus. A Fisioterapeuta alerta para alguns cuidados como não introduzir o dedo dentro do ânus.
“As pessoas acreditam que vão ter uma higienização melhor se limparem lá dentro, mas não existe essa necessidade, pois pode causar ferimentos na região. É uma leve puxada para limpar os resquícios de fezes que ficam armazenados ali.
PAPEL HIGIÊNICO
A maioria das pessoas provavelmente usa apenas o papel higiênico na hora de se limpar, e isso está errado. Camila Gutz afirma que a falta de informação em casa e escolas, principalmente durante o crescimento das crianças, e o tabu em torno do assunto da higiene intima são os principais responsáveis por esses erros corriqueiros.
O papel é um material seco, que ajuda a disseminar a sujeira, não limpa completamente as rugosidades do ânus, é fino e solta pequenos pedaços, além de aumentar o odor característico e possíveis infecções. A recomendação é, após usar o papel, tomar uma ducha e limpar bem a região. Se não tiver chuveiro, molhe outro pedaço de papel higiênico e passe suavemente na área. Em seguida use outro pedaço seco para enxugar.
LENÇO UMEDECIDO
Assim como o papel higiênico, o lencinho também não é recomendado para esse fim. Porém, segundo Gutz, há situações em que é preciso fazer “o máximo que pode com a ferramenta que tem”. Se estiver fora de casa, é preferível sempre usar um lenço umedecido em vez do papel higiênico. Mas, tanto o papel higiênico quanto o lenço umedecido não dispensam uma limpeza mais caprichada, com um bom banho depois, ao chegar em casa.
TOALHA COMPACTA DESIDRATADA
A toalha desidratada serve como substituta do lenço umedecido. Ela vem enrolada como um pacote pequeno, do tamanho de uma moeda, e, ao molhar, expande e vira em uma pequena toalha – um pouco maior do que a palma da mão. Não tem álcool, produto químico ou perfume, e que é positivo na hora da limpeza para não alterar o pH. É prática, cabe com folga dentro de bolsas e mochilas, além de ser encontrada facilmente em lojas de beleza ou na internet.
SECAGEM
A secagem é igual em todas os processos citados acima. A região precisa ser enxaguada completamente, até eliminar qualquer umidade, pois esse é o tipo de ambiente ideal para a proliferação de bactérias e fungos. Use sempre uma toalha seca, ou um pedaço de papel higiênico mais firme. Abra as nádegas com as pontas dos dedos e passe delicadamente uma ponta do tecido pela região.
COMBINAÇÃO DE FILHO E TRABALHO FAZ CRESCER BURNOUT PARENTAL
Estudo indica que 68% das mães e 42% dos pais sofrem com esgotamento: falta de modelos e pressão podem ser causas
Quando Ane Bengoa, de 36 anos começou a cuidar de seu bebê, não sentia aquela conexão mágica que todos falavam. Só queria chorar, mas enxugava as lágrimas afinal, tinha um filho saudável, um parceiro amoroso uma família que os apoiava; não tinha direito de reclamar. Ane morava em Ibiza na Espanha, e sua família em Bilbao. Quase não tinha amigos com filhos ou uma rede de apoio. Sentia-se sozinha, estressada com o mundo e realmente não sabia por quê.
“E de repente o tempo passa e eu me dei conta de que não tive um minuto sequer para dedicar a mim mesma”, explica. “Não me olho no espelho há vários meses, não durmo mis de duas horas seguidas desde que meu filho nasceu. Todo o meu mundo mudou, a vida dos outros continua em movimento, eu sigo em casa e, ao mesmo tempo não tenho um momento de descanso de qualidade”.
Ane Bengoa sofria de burnout ou exaustão parental, termo não clínico que designa os pais que estão tão esgotados pela pressão de cuidar dos filhos que não lhes sobra tempo para outras coisas. Um estudo da Universidade de Ohio, publicado em maio, diz que 66% dos pais que trabalham atendem aos critérios que designam esse perfil.
De acordo com a pesquisa, as mulheres são mais propensas a experimentar o esgotamento parental do que os homens: 68% vivenciam isso contra 42% dos parceiros.
“Isso acontece porque, frequentemente, as mulheres continuam a arcar com grande parte da responsabilidade de cuidar dos filhos, assim como equilibrar o trabalho e a vida familiar”, explica a autora do estudo, Bernadette Meinyk.
Essa variável era, de certa forma, esperada, no entanto, Meinyk destaca outros aspectos que são menos evidentes à primeira vista:
“O estudo forneceu evidências de que o esgotamento dos pais afeta negativamente não apenas eles, mas também seus filhos, que acabam externalizando o estresse de alguma forma. O estudo foi realizado entre janeiro e abril de 2021.
Oferece um retrato de uma época diferente, quando boa parte das famílias estava em casa devido à pandemia. O confinamento foi a cereja do bolo, mas o bolo, diz a pesquisadora, já estava assando há muito tempo.
Os dados podem ser extrapolados para a Europa e também para essa nova normalidade. Outra pesquisa, realizada por Lingokids na Espanha, chega a conclusões surpreendentemente semelhantes: 67% das pessoas consultadas admitem que “a importância que atribuem a ser um bom pai ou mãe e o esforço que dedicam para isso, no fim, torna-se exaustivo”.
TEMA TABU
A síndrome de burnout parental não só não aparece nos livros clínicos, como também não consta dos dicionários. E não é porque é um termo em inglês, mas sim porque é algo do qual não se fala. Até pouco tempo, havia um tabu em torno da maternidade, e apenas seu lado positivo podia ser mencionado. Muitas mães afetadas nem sabiam como dar um nome ao que estava acontecendo com elas. O que não tem nome não existe e tende a ser invisibilizado pela sociedade. Lola, uma professora de 38 anos de Sevilha, confirma:
“Muitos pais se sentem assim, mas não contam a menos que você seja um amigo íntimo”, diz a professora que, depois de conversar com mães de diferentes idades, acredita que estamos diante de um problema geracional. “Minha mãe não se sentia assim. Não sei o que está acontecendo… Acho que, por um lado, nós não temos as ferramentas que eles tinham e, por outro lado, temos mais pressão e mais informação. Ane Bengoa teve que ir a um psicólogo para falar sobre o que estava acontecendo. Ela conheceu um grupo de mães e criou uma “tribo”. Hoje, meses depois de dar um nome ao que viveu, está gostando de ser mãe e se sente menos exausta.
“Agora que se passou mais de um ano, tenho uma visão clara do que aconteceu comigo”, diz. “Não tive exemplos de mães perto de mim, nunca tive bebês perto de mim, nem vi parentes amamentando. Faltavam exemplos no meu ambiente.”
Em muitos países, como na Espanha, nunca nasceram tão poucos filhos. Nem mesmo durante a Guerra Civil Espanhola. E isso, de certa forma, afeta as mães:
“As mulheres aprendem muito sobre crianças pela proximidade”, explica a psicóloga Isabel dei Campo. “Elas tinham contato com amigas que tiveram filhos, com primos, com sobrinhos. A maioria das mulheres enfrenta essa experiência sem conhecimento prévio. E isso pode ser um problema.”
REFERÊNCIAS MATERNAS
Isso se agrava ainda mais quando a falta de referências próximas é substituída por celebridades e influenciadora.
“A imagem que vendem da maternidade é muito romantizada”, critica Natalia López, de 33 anos, moradora de Barcelona com um filho de 3 anos. A partir das redes sociais ela acrescenta, se estabelecem padrões irreais, com os quais uma nova mãe tende a se comparar. E nessa comparação ela sempre fica para trás.”
“É como a imagem de como as mulheres tinham que ser nos anos 1950, mas adaptada aos dias de hoje. E é assustador. Você tem que estar sempre apaixonada pelo seu filho, que também tem que ser o mais legal, mais engraçado e compartilhar seus valores. E para tudo você sempre tem que estar com o seu melhor sorriso e, se não tirar um tempo para sair para beber, você é uma daquelas que mudou desde que se tornou mãe e se tornou imbecil”, resume Natalia, criticando as ideias que são plantadas na cabeça de uma mãe.
O problema, concordam as entrevistadas, não são os filhos nem o trabalho: é o sistema. A incorporação da mulher no mercado de trabalho tem levado os pais mais ricos a terceirizar os cuidados e os que não têm condições de bancar essa ajuda conjuguem trabalho e filhos, numa distribuição de papéis em que as mulheres tendem a perder.
“Temos um problema como sociedade”, diz a psicóloga Dei Campo. “Se o trabalho e a maternidade forem combinados, as relações sociais e o tempo para si mesma vão ser cortados. E isso é difícil de assumir em um contexto em que há muita pressão sobre os pais para educar de forma consciente, para serem positivos, não desperdiçarem nem um minuto.”
Natalia López resume em uma frase que leu uma vez e que se repete sem parar desde então: “Temos que criar nossos filhos como se não tivéssemos trabalho e temos que trabalhar como se não tivéssemos filhos”.
Cuidados com o cabelo, unhas etc. deixaram de ser prioridade para muitas mulheres, que reinventaram um novo modo de autoestima em tempos de isolamento
”Não existem mulheres feias, apenas mulheres preguiçosas”, disse a polonesa Helena Rubinstein (1872-1965), a célebre empresária do ramo de cosméticos. Revelar a própria beleza, portanto – algo indissociável de toda mulher -, dependeria apenas de não ceder a alguma eventual prostração. Por isso, tome arrumação de cabelo, pintura de unhas, batons, cremes etc. etc. Em tempos de quarentena, no entanto, com parte do planeta submetida ao distanciamento social para frear a propagação do novo coronavírus, todos aqueles cuidados deixaram de ser prioritários no dia a dia das mulheres (sim, fiquemos aqui no terreno feminino, embora o desassossego com a aparência não exclua os homens, em face, por exemplo, das portas cerradas das barbearias).
Assoberbadas de trabalho – profissional e doméstico – dentro de casa, e diante das exigências de confinamento, muitas mulheres buscam às vezes soluções inusitadas para se cuidar, como a que se vê na foto no alto, feita em Amsterdã, na Holanda. A verdade, contudo, é que elas se sentem impossibilitadas de dar a si mesmas a atenção estética, digamos desse modo, de que gostariam. Não se trata, porém, é claro, de desleixo, de desapego – ou, em uma palavra, de preguiça. E as mulheres, aos poucos, estão começando a entender isso melhor.
Para a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, o que está ocorrendo em virtude da pandemia é um processo de inversão de valores. “A máxima do culto ao corpo martela: ‘Para que conviver com defeitos se posso mudá-los?’. Agora, diante do novo coronavírus, que já alcançou o mundo inteiro, essa lógica não faz o menor sentido. O olhar passou a ser direcionado para a sobrevivência e não mais para a aparência”, explica ela.
Antes do afastamento social, toda vez que a publicitária Julia Velo aparecia na agência onde trabalha sem nenhuma pintura no rosto, os colegas, relata ela, chegavam a perguntar se estava doente. “Era impossível sair de casa sem colocar a máscara de mulher bem cuidada. Hoje em dia, quando me olho no espelho, sinto orgulho de tudo o que faço para cuidar de mim e da minha família, mesmo que pareça esteticamente ‘quebrada’”, assegura a jovem, que vive com o namorado em São Paulo. Fios brancos de cabelo, olheiras, espinhas — tudo passou a poder ficar exposto aos olhos de quem se acostumou a esconder as imperfeições, os “defeitos” do corpo. “É preciso se sentir bem consigo mesmo para conseguir cuidar melhor do outro, como o momento exige”, acredita a publicitária.
A opinião é compartilhada com a atriz Lila Guimarães, criadora do blog Cena Crua, no qual publica posts sobre beleza natural. Passando a quarentena em São Bento do Sapucaí (SP) com o marido e a filha de 1 ano e 9 meses, Lila aposta numa renovada da autoestima para atravessar a pandemia. “Quem faz uma máscara de argila no rosto quer ficar mais bonita, é óbvio. Mas, ao mesmo tempo, está olhando para dentro de si. Olho para o espelho e vejo o reflexo de uma circunstância histórica, o terrível surto que estamos vivendo. Então, não vou me exigir ficar incrível. Vou me exigir ficar saudável”, afirma a atriz.
Desde o início do confinamento social, a maquiadora Vanessa Rozan diz que percebeu no instituto Liceu de Maquiagem, fundado por ela na capital paulista, dois movimentos: um, de desapego dos cosméticos, com o devido detox dos produtos; e o outro, que o sucede em alguns casos, marcado pelo resgate da rotina de procurar se embelezar, só que no ambiente familiar, o que pode ajudar até a diminuir a ansiedade. “Muitas mulheres passaram a fazer maquiagem em casa para dizer: ‘Comecei o dia’”, atesta Vanessa. Anos de imagem retocada evidentemente não passam impunes, observa ela. “A hora é de autoaprendizado e reaprendizagem”, sublinha.
A lição, entretanto, não precisa ser pesada. Na quarentena, a publicitária Julia se lembrou de quando, ainda menina, usava os cosméticos da mãe. “A maquiagem voltou para o lugar da brincadeira. Não ‘tenho de’, mas pode ser divertido me ver com um batonzão vermelho.” Alguém discordaria da naturalidade dessa beleza?
Gestores buscam ficar mais perto de suas equipes; êxodo corporativo é um desafio para o setor imobiliário de NY
Antes da pandemia, o trajeto de Maz Karimian até Manhattan era um deslocamento muitas vezes degradante de 30 minutos entre duas linhas de metrô que costumam estar lotadas ou atrasadas. Mas, quando ele voltou ao escritório na semana passada, seu trajeto parecia tranquilo: um passeio de bicicleta de sua casa em Carroll Gardens até o escritório realocado de sua empresa, a cerca de 10 minutos, em Dumbo. “Adoro o metrô e acho que é um ótimo meio de transporte, mas, sinceramente, se eu puder escolher entre ar fresco e ar compartilhado e em ambiente fechado, escolherei isso aqui todas as vezes”, disse Karimian, diretor de estratégia do Ustwo, um estúdio de design digital.
Mais de dois anos após a pandemia provocar um êxodo em massa dos prédios de escritórios da cidade de Nova York, e depois de muitas empresas anunciarem e depois suspenderem os planos de retorno ao escritório, os funcionários finalmente começaram a voltar para suas mesas. Mas, o trabalho remoto basicamente reformulou a maneira como as pessoas trabalham e diminuiu a predominância do local de trabalho dentro das corporações. As empresas se adaptaram.
As salas de reuniões ganharam uma nova cara. As mesas que antes eram usadas apenas por uma pessoa passaram a estar disponíveis a qualquer um por ordem de chegada. Os gestores adotaram acordos de trabalho flexíveis, permitindo que os funcionários decidam quando querem trabalhar presencialmente.
E algumas estão tomando medidas para tornar o retorno ao local de trabalho interessante: realocando seus escritórios em áreas mais próximas aos locais onde seus funcionários vivem. Em Nova York, as mudanças refletem um esforço das organizações para reduzir um grande obstáculo para ir trabalhar: o deslocamento. Antes da pandemia, os trabalhadores da cidade tinham o trajeto de ida mais longo dos EUA: cerca de 38 minutos, em média.
RETOMADA
Há sinais recentes de que a Nova York está se recuperando. Os turistas estão chegando em número maior do que em 2021, a ocupação dos hotéis aumentou e, no início deste mês, o número diário de passageiros do metrô alcançou um recorde para os tempos de pandemia com 3,53 milhões de passageiros. Embora esses sinais sejam promissores, um elemento vital da economia da cidade continua prejudicado: os prédios de escritórios.
O prefeito Eric Adams e a governadora Kathy Hochul fizeram apelos para que as empresas exigissem o retorno das pessoas ao escritório. Mas, do fim de abril ao início de maio, só 8% dos funcionários de Manhattan trabalhavam presencialmente cinco dias por semana, segundo pesquisa da Partnership for New York City, grupo que reúne os principais CEOs da cidade. Cerca de 78% dos 160 principais empregadores entrevistados disseram que adotaram sistemas de trabalho híbrido. A maioria dos trabalhadores planeja voltar ao escritório apenas alguns dias por semana.
Essa situação tem sido uma das mais desafiadoras em décadas para o setor imobiliário de Nova York. Cerca de 19% dos escritórios em Manhattan estão vagos. Antes da pandemia, esse número era de 12%.
Antes da pandemia, era comum que empresas mudassem os endereços de seus escritórios pela cidade. A cidade oferece um incentivo fiscal de até USS3 mil em créditos no imposto de renda para empresas que se mudam para um bairro mais distante. Quase 200 empresas receberam o desconto em 2018, totalizando US$ 27 milhões, segundo o Departamento de Finanças da cidade.
Algumas construtoras de escritórios estão apostando que bairros fora de Manhattan são atraentes por conta própria. Milhares de metros quadrados estão em construção no Brooklyn, incluindo um prédio de 24 andares. “Você não pode ignorar a base de talentos que se mudou para o Brooklyn e para o Queens”, disse Jed Walentas, CEO da incorporadora imobiliária Two Trees Management.
Vou lhe dizer certas coisas porque acho que você está preparado para ouvir, mas se eu for longe demais, me interrompa. Reconheço que é preciso muita delicadeza para tocar na dor do outro, e é o que vou fazer, tocar na sua.
Não importa agora a razão de vocês terem se separado, mas separaram. Foi dilacerante, eu sei. Você não esperava, não queria e não se conforma até hoje. Mas aconteceu. Se acredita que é possível um reatamento, tente. Não dá? Entendo, você me disse que não há mais nenhuma chance de retorno, nenhuma. Então, passados dois anos, está na hora de você enfrentar mais uma despedida. É. Mais uma. Você pensa não ter forças para outro final, mas tem. Precisa ter. Por que este será o final definitivo, o final que vai liberar você para a vida que merece ter. Você terá que dizer adeus para sua dor.
As pessoas se perguntam se não haveria uma fórmula mágica para tirar da cabeça aquele ex-amor que ainda atormenta. Não é bem uma fórmula, mas há um recurso: reconhecer que a dor que você carrega ainda é um vínculo. A dor preenche o seu vazio. A dor é o substituto que restou de uma história que não existe mais. A dor é uma aliança com o seu passado. Você tirou a aliança do seu dedo – foi uma cena triste, posso imaginar. Você lembra em que momento foi? Antes de dormir? Durante um acesso de raiva? Jogou-a longe? Deu para um mendigo? Derreteu? Vendeu? Guardou? Não há nada de errado em guardar numa gaveta, num cofre, num porta-joias – desde que você não a esteja usando mais.
Mas você ainda usa a sua dor. Usa para se proteger contra novos amores, para lembrar que foi amado, para reunir os amigos em torno de si, para impedir que todo aquele investimento afetivo evapore.
Faz parte do luto, eu sei. Mas basta. Chega. Tire essa dor de dentro de você como um dia tirou a aliança. Prepare um ritual, se quiser. Faça uma cerimônia de adeus. Anote num papel tudo o que você quer que suma da sua vida: mágoa, rancor, desesperança, tristeza, pensamentos obsessivos, amargura. Coloque todos os papeizinhos no bolso e saia para caminhar. Vá escutando músicas que te emocionem. Durante a caminhada, deixe cada papelzinho numa lixeira diferente. E retorne a casa consciente de que não está voltando para o passado, mas iniciando um futuro. Se puder fazer isso numa cidade diferente da que mora, ou ao menos num bairro afastado, melhor ainda. Deixe lá sua dor e nunca mais volte para buscá-la.
Você se sentirá ridículo, porque é ridículo mesmo (não comente nem com seu analista), mas pode funcionar. Se tiver uma ideia melhor, coloque-a em prática. Seja criativo.
Despedir-se de uma pessoa é difícil. Despedir-se da dor é ainda pior, pois, sem a pessoa a seu lado e sem a dor que a ausência dela provoca, sobrará o quê?
SAIBA COMO DRIBLAR APETITE EXTRA TRAZIDO PELOS DIAS FRIOS
Temperaturas mais baixas fazem corpo lutar para manter seu calor. Pedidas como sopas e fibras trazem conforto
É só a temperatura cair para bater aquela vontade de comer algo quentinho e gostoso – normalmente mais calórico e gorduroso. Isso não é coisa de gente gulosa: é normal sentir mais fome no frio. E a ciência explica esse fenômeno.
Para funcionar bem, nosso corpo deve estar em uma temperatura de aproximadamente 36,5ºC. Nos dia mais frios, o organismo precisa gastar mais energia para se manter aquecido. Como a nossa fonte energética é a alimentação, o cérebro manda o alerta para que aumentemos a ingestão de alimentos. Com esse “recado”, a fome dá as caras.
“É correto dizer que o aumento da fome com as quedas de temperatura é um mecanismo adaptativo fisiológico, para promover fonte energética para produção de calor”, afirma o endocrinologista Antônio Carlos.
Mas sentir mais fome não é sinal de que devemos, necessariamente, comer mais.
“A produção de calor ocorrerá, mesmo que não haja ingestão alimentar, mas este mecanismo de fome será acionado e mantido. Se não houver fonte de alimento, o organismo gastará o que ele tiver de reserva”, explica o médico.
Durante o inverno, que vai de 21 de junho a 22 de setembro, os dias são menores e há menos incidência solar. Esses fatores influenciam diretamente na produção de melatonina – conhecida por ser o hormônio do sono.
Quanto menos luz, mais dessa substância o nosso corpo produz. Isso faz com que o organismo entre em um estágio de repouso, provocando mais sonolência e reduzindo a energia. E, quanto menos vigor temos, mais o organismo entende que é preciso agir, aumentando a fome.
Com o crescimento do apetite, é preciso ter cuidado para não ingerir alimentos demais e acabar ganhando uns quilinhos durante os períodos de frio – o que não égasto pelo corpo é estocado em forma de gordura. Por isso, é interessante incluir na dieta alguns pratos que vão ajudar a se manter aquecido ou a saciar melhor a fome extra gerada pelas temperaturas mais baixas.
ALIADOS DO ORGANISMO NO INVERNO
ALIMENTOS QUENTES:
Chocolate quente, café, mingau e salada de frutas cozidas são algumas opções de comidas quentinhas que já podem entrar (ou serem mantidas) no seu cardápio de café da manhã. Comidas e bebidas quentes ajudam o corpo a manter a temperatura ideal e reduzem as energias gastas para se auto aquecer.
SOPAS E CALDOS:
Outra opção de comida quente para ingerir no almoço ou no jantar. Tomar sopa pode ser uma ótima estratégia para driblar a fome extra enganadora que surge com o frio.
INGREDIENTES TERMOGÊNICOS:
Pimenta vermelha, gengibre, canela, chá verde, óleo de coco e produtos derivados do chocolate (quanto maior concentração de cacau, melhor) são algumas opções de alimentos termogênicos. Eles aumentam a temperatura do corpo e podem ser aliados na luta contra o frio.
FIBRAS:
Uma ótima estratégia para quem quer se alimentar sem excessos no frio é investir em alimentos com alto teor de fibras. Eles geram uma sensação de saciedade mais longa. Aveia, frutas com casca e arroz integral são exemplos de alimentos ricos em fibras que podem ser incluídos na dieta.
O NERVO VAGO TEM INFLUÊNCIA EM TODO O NOSSO CORPO – E TAMBÉM NA MENTE
Estudos indicam que estimular essa parte do sistema nervoso pode trazer benefícios em casos de depressão, ansiedade e obesidade
Nos últimos anos, o nervo vago tornou-se objeto de fascínio, principalmente nas redes sociais. As fibras nervosas vagais, que vão do cérebro ao abdômen, foram ungidas por alguns influenciadores como a chave para reduzir a ansiedade, regular o sistema nervoso e ajudar o corpo a relaxar.
Os vídeos do Tik Tok com a hashtag #vagusnerve foram vistos mais de 64 milhões de vezes e há quase 70 mil postagens com a hashtag no Instagram. Alguns dos mais populares apresentam truques simples para “tonificar” ou “redefinir” o nervo vago, nos quais as pessoas mergulham o rosto em água gelada ou deitam de costas com compressas de gelo no peito. Há também massagens no pescoço e nos ouvidos, exercícios para os olhos e técnicas de respiração profunda.
Pesquisadores dizem que estimulá-lo com eletrodos pode melhorar o humor e aliviar os sintomas de depressão, entre outras doenças. Mas existem outras maneiras de ativá-lo? E o que exatamente é o nervo vago? Aqui está o que sabemos.
O QUE É
O termo nervo vago é uma abreviação para milhares de fibras. Elas são organizadas em dois feixes que descem do tronco cerebral para cada lado do pescoço até o tronco, ramificando-se para tocar nossos órgãos internos, disse o dr. Kevin J. Tracey, neurocirurgião e presidente do Feinstein Institutes for Medical Research, centro de pesquisa da Northwell Health em Nova York. Imagine algo como uma árvore, cujos membros interagem com quase todos os sistemas orgânicos do corpo. O nervo vago capta informações sobre o funcionamento dos órgãos e envia informações do tronco cerebral de volta ao corpo, ajudando a controlar a digestão, a frequência cardíaca, a voz, o humor e o sistema imunológico.
Por isso, o nervo vago – o mais longo dos 12 nervos cranianos – às vezes é chamado de “superestrada da informação”. “Cada sinal tem um trabalho específico”, informa o dr. Tracey.
O vago é o principal nervo do sistema nervoso parassimpático. Ao contrário do sistema nervoso simpático, que está associado à resposta de “luta ou fuga” do corpo, o ramo parassimpático nos ajuda a descansar.
PESQUISAS
Evidências indicam que estimular o nervo vago pode ajudar pessoas com epilepsia, diabete, aquelas com depressão resistente a tratamentos e transtorno de estresse pós-traumático – bem como condições autoimunes inflamatórias, como doença de Crohn ou artrite reumatoide. Pesquisas preliminares sugerem que alguns sintomas da covid longa podem originar-se do efeito do vírus no nervo vago. “Pode soar meio mágico com tanta coisa que faz”, explicou Eric Porges, professor de psicologia clínica da Universidade da Flórida. Nossa compreensão do nervo vago “continua a crescer em riqueza e profundidade”, contou, mas ainda há muito a aprender. No início dos anos 2000, os pesquisadores começaram a mostrar que a estimulação do nervo vago poderia ajudar pacientes que estavam gravemente deprimidos e não respondiam a outros tratamentos. Em 2005, o FDA (órgão que regulamenta medicamentos nos EUA) aprovou dispositivos geradores de pulso implantáveis que enviavam sinais elétricos para o nervo vago, para uso em pacientes com depressão resistente a tratamentos. Dispositivos semelhantes também foram aprovados para a obesidade – para ajudar a controlar a sensação de fome e saciedade – e para o tratamento da epilepsia. A desvantagem é que a cirurgia é cara e pode levar meses para ter efeito. Os pesquisadores agora estão recrutando pacientes para o maior ensaio clínico até o momento, examinando até que ponto a estimulação do nervo vago pode ajudar pacientes com depressão.
A pesquisa do dr. Tracey, que usa estimulação interna do nervo vago para tratar inflamações, pode ser usada para distúrbios psiquiátricos como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), adiantou o dr. Andrew H. Miller, da Universidade Emory.
O TEPT é caracterizado por medidas aumentadas de inflamação no sangue, que podem influenciar circuitos no cérebro relacionados à ansiedade. Em um estudo piloto na Emory, por exemplo, os pesquisadores estimularam eletronicamente a pele do pescoço perto do vago em 16 pessoas, 8 das quais receberam tratamento de estimulação do nervo vago e as outras 8 receberam um tratamento simulado. Os pesquisadores descobriram que o tratamento de estimulação reduziu as respostas inflamatórias ao estresse e foi associado a uma diminuição nos sintomas de TEPT, indicando que tal estimulação pode ser útil para alguns pacientes, incluindo aqueles com biomarcadores inflamatórios elevados.
COMO MEDIR A ATIVIDADE?
É difícil medir diretamente a atividade do nervo vago, especialmente por causa de sua complexidade. Mas, como algumas fibras do nervo vago se conectam ao coração, os especialistas podem medir indiretamente o tônus vagal cardíaco – ou a maneira como o sistema nervoso regula seu coração –, observando a variação de sua frequência cardíaca, que são as flutuações na quantidade de tempo entre seus batimentos cardíacos, em um eletrocardiograma.
Um tônus vagal anormal – aquele em que há muito pouca variação da frequência cardíaca – tem sido associado a condições como diabete, insuficiência cardíaca e hipertensão. Uma alta variação entre os batimentos cardíacos pode significar um tônus vagal ideal.
COMO MELHORAR O TÔNUS VAGAL?
Prender a respiração e mergulhar o rosto em água fria pode desencadear o “reflexo de mergulho”, uma resposta que diminui o batimento cardíaco e contrai os vasos sanguíneos. Algumas pessoas que experimentaram relatam que isso tem um efeito calmante e pode até reduzir a insônia. Outros enrolam uma bolsa de gelo em um pano e a colocam no peito para aliviar a ansiedade.
Esses exercícios específicos não foram suficientemente estudados como métodos para controlar a ansiedade ou a depressão, por isso é difícil saber se funcionam, ou se funcionam, quão bem. Mesmo assim, alguns especialistas dizem que vale a pena tentar. Mas o dr. Tracey pediu cautela, acrescentando que é difícil avaliar adequadamente os riscos e benefícios sem dados clínicos. “Para o bem-estar, tente manter a atividade do nervo vago alta por meio da prática de mindfulness, exercícios e respiração acelerada”, completou o dr. Tracey.
Primeiro tratamento contra alopecia é aprovado nos EUA
A alopecia areata é um tipo de calvície que afeta homens, mulheres e até mesmo crianças. A doença pode variar em gravidade. Para alguns, a perda total de pelos no corpo, incluindo cabelos, cílios, sobrancelhas, até no nariz e nas orelhas, pode ser devastadora. Até esta semana, não havia uma solução especifica para a doença. Mas o cenário acaba de mudar com a decisão da agência que regula medicamentos nos Estados Unidos de aprovar a droga baracitinibe como tratamento.
O medicamento, fabricado pela EIi Lilly, regenera o cabelo impedindo o sistema imunológico de atacar os folículos capilares. A fabricante disse que a indicação do medicamento para alopecia areata já está em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A empresa aguarda aprovação no último trimestre de 2022, com comercialização prevista no Brasil para 2023.
O baracitinibe já é aprovado no país para o tratamento de diversas condições, como artrite reumatoide e Covid-19. Inclusive, para essas indicações, ele já foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Recentemente, o medicamento foi aprovado para dermatite atópica. Nos Estados Unidos, alguns médicos já usavam o baracitinibe para alopecia antes mesmo da aprovação da FDA. A diferença é que agora, é possível solicitar a cobertura do tratamento, que é considerado de alto custo, aos planos de saúde.
O preço de tabela no mercado norte-americano é de quase 2.500 dólares ao mês. Duas outras empresas, a Pfizer e a Concert Pharmaceuticals, também contam com medicamentos semelhantes, conhecidos como inibidores de JAK, cuja eficácia está em avaliação. Assim como o baracitinibe, essas outras drogas já estão no mercado para o tratamento da artrite reumatoide e outras doenças autoimunes.
A droga da Eli Lily foi estudada em dois ensaios, patrocinados pela empresa e publicados no mês passado na revista New England Journal of Medicine, envolvendo 1.200 pacientes com a doença.
Quase 40% dos que tomaram a droga tiveram um crescimento de cabelo completo ou quase completo após 36 semanas. Depois de um ano, a taxa aumentou para quase 50% dos voluntários.
Os efeitos colaterais foram considerados leves, incluíram um pequeno aumento do risco de acne e infecções como a do trato urinário. Essas consequências foram facilmente tratáveis ou melhoraram sem tratamento.
RESULTADO PROMISSOR
Em um editorial que acompanhou a publicação do estudo na New England, os médicos Andrew Messenger, da Universidade de Sheffield, e Matthew Harries, da Universidade de Manchester, consideraram as conclusões do estudo da Lilly “impressionantes”. E acrescentaram que os resultados “representam os primeiros ensaios publicados de fases de qualquer tratamento para essa condição”.
O médico Brett King, professor de dermatologia da Universidade de Yale, está à frente de todos os estudos que avaliam a eficácia desses medicamentos para a alopecia areata. Ele disse estar otimista de que a taxa de sucesso das drogas aumentará.
King éconsiderado o responsável pelo interesse no uso de inibidores de JAK para tratar alopecia areata. Tudo começou entre 2012 e 2013, quando denotou três estudos envolvendo camundongos que indicaram que esses medicamentos poderiam reverter a queda de cabelo.
Mais de 300 mil americanos vivem com alopecia areata grave, de acordo com a FDA. A doença ficou mais conhecida após a cerimônia do Oscar, quando o ator Will Smith deu um tapa no comediante Chris Rock como reação a uma piada sobre a careca de sua esposa, Jada Smith. Ela é completamente calva devido ao problema.
MÚLTIPLAS CAUSAS
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a condição é uma doença inflamatória sem causa especifica. Diversos fatores estão envolvidos no seu desenvolvimento, como a genética, e até uma questão autoimune. Fatores emocionais, traumas físicos e infecções podem desencadear ou agravar o quadro.
Para a maioria dos pacientes, a doença se manifesta como uma ou algumas pequenas regiões calvas na cabeça. Mas aqueles com casos graves têm uma progressão acentuada. Três meses ou até três semanas depois das manifestações, eles não têm mais pelo algum.
A perda de cabelo severa não apenas “rouba a identidade de uma pessoa”, mas é ”uma questão médica”, explica a dermatologista Natasha Atanaskova Mesinkovska, acrescentando que, quando as pessoas perdem cabelo no nariz e nas orelhas, isso afeta as alergias e a audição.
Um dos primeiros pacientes de King foi Kyle. Quando tinha 25 anos, ele procurou o médico para tratar sua psoríase. Ele quase não tinha cabelo e sua cabeça e corpo tinham grandes placas escamosas e vermelhas.
Por sugestão do médico, o paciente adotou um tratamento inédito, com uma droga aprovada para artrite reumatoide. King deixou claro que só havia evidências de estudo em ratos. Kyle passou a tomar tofacitinibe, um inibidor de JAK da Pfizer semelhante ao medicamento da Lilly. Oito meses depois, seu cabelo estava de volta.
EMPRESAS DE CONSUMO SE DESDOBRAM PARA AGRADAR A 4 GERAÇÕES
Marcas têm de estar atentas às necessidades de todas as faixas etárias para isso, precisam encontrar a forma de se comunicar com cada uma delas
O aumento da expectativa de vida da população e os novos hábitos da geração Z criaram um desafio a mais para as empresas conquistarem os consumidores. Ao mesmo tempo em que precisam atender o público com maior poder aquisitivo, representados pelos baby boomers e X, também são pressionados pelo comportamento moderado e consciente da geração Z, o consumidor do futuro.
Cada uma dessas gerações tem particularidades, pois todas cresceram em contextos socioculturais e econômicos distintos, o que influencia a forma de consumir. Para a geração Y e Z, não basta ter preço e produto bom. É preciso ter propósito e uma história por trás daquilo que estão comprando. Para os baby boomers e parte da X, valem qualidade e, lógico, preço adequado. Esses grupos gostam de ostentar bens mais do que os jovens, que buscam praticidade e comodidade.
“As marcas têm dificuldade para encantar essa nova geração, que praticamente não vê TV aberta. Eles estudaram mais, têm mais acesso a saúde e são mais plurais”, diz o sócio da GS & Consulting, Jean Paul Rebetz. Ele explica que esses consumidores nasceram numa época de oferta abundante de produtos, diferentemente de gerações passadas, que viveram a escassez no mercado devido à economia mais fechada. “Agora é mais fácil falar em sustentabilidade e storytelling.”
ESPELHO
Na outra ponta, a vida das empresas também não tem sido fácil. Pesquisa da Nielsen mostra que só 23% das pessoas com mais de 55 anos se sentem representados nas propagandas. “O envelhecimento no Brasil é algo novo. As empresas ainda não sabem como atender esse público”, diz Clea Khouri, sócia-fundadora da Data8, especializada no mercado da longevidade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 32,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais – quase 12 milhões a mais do que há dez anos. Apesar de ser um mercado de elevado potencial de consumo, diz Clea, as marcas não conversam com esse público. É uma geração invisível que reclama da falta de produtos adequados em quase todos os setores, como beleza, moda e até alimentos.
Segundo ela, apesar de as empresas ainda terem receio de se comunicar com esse público e parecer uma marca velha, há um movimento – ainda tímido – para romper essa barreira.
A Natura é uma das que buscam se aproximar dos consumidores maduros, com mais dinheiro para gastar. “Temos uma diversidade e amplitude de marcas para cada personalidade. A linha Chronos, é para mulheres acima de 40 anos” diz Maria Paula Fonseca, diretora global da marca Natura. Segundo ela, para a Natura, é mais fácil chegar a esse público do que à geração Z. “Esse público, exige unia mensagem diferente, que envolve uma causa. Nessa linha, apostamos na sustentabilidade.”
A iniciativa ocorreu na linha mais popular, o Kayak, em que as tampas da embalagem passaram a ser feitas com plástico retirado do oceano. “Com isso, desenvolvemos uma cadeia de reciclagem. E isso responde em parte à pergunta dessa geração sobre o que a empresa faz.”
CONDIÇÕES
As causas sociais e ambientais têm ganhado relevância na vida das pessoas, o que influencia o consumo. Apoiar essas iniciativas passou a ser exigência dos clientes na hora de escolher uma marca. A jovem Bianca Sales, por exemplo, exige produtos orgânicos, enquanto a mãe, Maria Eliete, leva mais em conta o preço.
“A preparação para o futuro está ocorrendo em ritmo acelerado e queremos ser uma empresa de tecnologia de mobilidade”, diz Frederico Battaglia, diretor de marketing da Stellantis, empresa que detém 14 marcas, entre elas a Fiat, Jeep, Peugeot, Citroen e Ram. Para garantir a pegada de carbono zero, a empresa tem um plano ambicioso que envolve eletrificação e veículos híbridos (etanol e elétrico).
Hoje, diz ele, os consumidores pedem uma história interessante sobre o produto, que precisa ser real. “Com o acesso à informação, não basta dizer que é legal, tem de mostrar que é legal.” Segundo o executivo, a Lição de casa das empresas nesses tempos tão conectados é entender o perfil dos clientes e tentar entregar o melhor produto possível. Por isso, em 2021, a empresa criou a Flua, uma empresa de assinatura de carros que oferece planos de locação de 1 a 3 anos.
Para alcançar consumidores tão diversos, as empresas têm explorado inúmeros canais de comunicação. O desafio com essa multiplicidade de meios é usar a linguagem adequada para cada um deles. “Além disso, tem um criador específico para cada plataforma, um nativo ‘expert’ daquele ambiente”, diz a diretora de marketing corporativo da Lojas Renner, Maria Cristina Merçon.
A Renner está presente em todas as redes sociais. No Tik Tok, na qual tem mais de 1,1 milhão de seguidores, a estratégia é fazer lives e levar mensagem de encantamento para os usuários. “Antes era mais simples. Usávamos uma mesma mensagem num discurso menos direto. Hoje temos de entender como o cliente se relaciona com a marca e ver como falar com ele.”
Na C&A, a estratégia também está focada na sustentabilidade. A empresa tem feito coleções baseadas no meio ambiente. São coleções com algodão mais sustentável e peças recicláveis – segundo a empresa, 55% das matérias-primas são de origem mais sustentável. O vice-presidente comercial da empresa, Francisley Donatti, conta que a C&A recolhe jeans usado, recicla e faz novas peças.
Lido razoavelmente bem com a ideia da morte. Considero-a uma balizadora – diria até que uma aliada. Ter consciência tranquila da morte dá à vida um sabor menos azedo e nos faz valorizar cada pequeno milagre diário, em vez de esperar por uma guinada gigantesca que quase nunca acontece.
Confúcio, filósofo chinês, tem uma frase diabólica sobre esse assunto: “Nós temos duas vidas e a segunda começa no dia em que nos damos conta de que temos apenas uma”.
Cerca de onze anos atrás, recebi uma notícia que poderia ter sido desestabilizadora: havia grande chance de eu estar com câncer. A certeza só viria depois de fazer um exame minucioso cujo resultado sairia em três dias. Durante três dias convivi com essa espada sobre a cabeça. Muitos talvez pensem que foi então que descobri que só possuía uma vida, mas não. Bem antes disso eu já a desfrutava como sendo única. Por isso, quando surgiu aquela notícia que poderia ter sido desestabilizadora, não me desestabilizei. Já vivia como se fosse uma sobrevivente muito antes de esse diagnóstico chegar às minhas mãos. Estava satisfeita com o meu histórico até ali, e, se tudo acabasse mais cedo do que o desejado, não seria perda total. Então, durante esses três dias, afora a preocupação com as minhas filhas, nada mudou. Não senti que estava passando por um divisor de águas. Quando o resultado do exame acusou nada de grave, suspirei de alívio e continuei a fazer o que estava fazendo. Não virei outra pessoa. Não nasci de novo.
A frase de Confúcio sugere que o momento de dar-se conta de que a vida é única pode também margear alguma data redonda da maturidade. Aos 40? 50? 60? São idades emblemáticas, em que a perspectiva do fim realmente assusta e tomamos decisões radicais que antes não tínhamos coragem: separar, tirar um ano sabático, fazer uma viagem ritualística, colocar em prática um projeto, casar de novo, enfim, o famoso “correr atrás” com o fôlego que resta. Mas a iluminação pode acontecer aos 18. Aos 20. Aos 26. Agora, por exemplo.
Não, não me venha falar em vida eterna. Deus me livre da vida eterna. Sinto calafrios só de imaginar que é possível que nada acabe, nem eu. Caso eu lhe pareça uma herege, seja misericordioso, me ofereça seu perdão e toque em frente. Nem perca seu tempo me enviando mensagens desaforadas ou tentando fazer com que eu mude de ideia. Sou um caso perdido. Dedique-se há quem ainda tem salvação.
Mas se você, como eu, acredita que um dia tudo terminará, não espere por um diagnóstico, não espere uma data redonda, não espere que algo grandioso aconteça para começar a fazer o que tem vontade. Ter nascido já foi grandioso o suficiente.
Com a queda hormonal, a mulher pode experimentar calores, insônia e aumento de peso. Alimentação saudável e exercícios podem ajudar
Assim como na adolescência, a oscilação de hormônios provoca uma avalanche de mudanças no corpo e na mente das mulheres que estão no climatério, transição da fase reprodutiva para a não reprodutiva. A menopausa, a última menstruação, costuma ocorrer entre os 45 e 55 anos e, ao longo desse período de adaptação do corpo, pode provocar irritabilidade, cansaço, dores no corpo, insônia, falta de libido, fogachos (ondas de calor), entre outros sintomas. Mas nem sempre a mulher busca ajuda para lidar com as dificuldades dessa fase – que podem ser amenizadas com hábitos saudáveis e tratamento médico.
A juíza aposentada Claudia Arruga, de 54 anos, viveu uma tempestade emocional, em 2018, sem desconfiar de que estava no climatério. “Eu estava deprimida, chata, com autoestima baixa. Era como se tivesse um ‘alien’ dentro de mim. Minha mãe e minha tia me chamaram e disseram que eu estava insuportável e que isso era sinal de que a menopausa estava chegando”, conta. Claudia procurou o ginecologista, mas achou que ele não estava preparado para falar do tema
Acompanhada por outra médica, ela resgatou o seu bem-estar. Para isso, passou por um check-up de saúde completo, fez terapia de reposição hormonal, melhorou sua alimentação e adotou a prática de exercícios físicos. “É preciso conviver com um corpo que mudou. Por isso, vou fazer musculação ou exercício aeróbico na academia todos os dias e isso faz diferença”, lembra. E para garantir o humor, procurou um psiquiatra.
No seu canal Cool50s, no Instagram, no qual trata das questões relevantes para as mulheres de mais de 50 anos, Claudia gosta de falar sobre menopausa porque percebe que isso ainda é um tabu. “Minha mãe fala baixinho sobre isso e minhas amigas não aceitam que estão passando por essa fase.”
A ginecologista Helena Hachul diz que as mulheres não são bem informadas em relação ao climatério. “Quando sabemos as modificações pelas quais vamos passar, enfrentamos melhor e sabemos o que fazer. O ginecologista deveria preparar a mulher para as alterações que vêm com a menopausa”, explica a médica e professora de Saúde da Mulher na Faculdade de Medicina Albert Einstein.
A menopausa é um evento fisiológico natural: indica que os ovários deixaram de funcionar. Os sintomas do climatério são consequência da perda hormonal, que pode começar muitos anos antes da última menstruação, analisa Helena. Segundo ela, as ondas de calor são um dos sintomas mais comuns de correntes da queda da produção de estrogênio pelos ovários, relatadas por 70% das mulheres no climatério, em intensidade e frequência variáveis. A insônia é problema para 60% delas, o que aumenta a irritabilidade. Há ainda um impacto na pele, que fica mais seca e perde colágeno nas unhas e nos cabelos, que ficam mais frágeis. Além disso, a secura vaginal e a diminuição de libido atrapalham a vida sexual.
Com o metabolismo lento, há uma tendência de acúmulo de gordura no corpo, o que aumenta o risco de desenvolver uma síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. As mudanças hormonais também podem propiciar a osteoporose. Apesar do cenário difícil, a ginecologista Helena esclarece que os sintomas do climatério não duram para sempre e melhoram gradativamente. Enquanto isso, é possível recorrer a um tratamento para enfrentar a fase, embora muitas mulheres não saibam disso, pondera a médica. “‘Elas acham que terão de sofrer e simplesmente aceitar, já faz parte da vida.”
HÁBITOS
Buscar um estilo de vida saudável é fundamental no climatério, com melhorias na alimentação, prática de exercícios físicos, lazer e descanso. Depois de aderir ao programa de exercícios online Menopausa Fit, a administradora Simone Cristina de Brito Oliveira, de 55 anos, percebeu uma diminuição dos fogachos e das dores no corpo. “Tenho mais disposição e melhor sono e humor”, afirma ela, que teve sua menopausa aos 50 anos.
Simone relata que não se reconhecia havia 5 anos: tinha fogachos, nervosismo, depressão, dores pelo corpo todo, ansiedade, aumento de peso e insônia. “Todos me estranhavam, pois sempre fui bem-humorada.” Ela deixou de frequentar a academia, o que piorou a situação – até que sua fisioterapeuta sugeriu que procurasse ajuda. Com apoio da ginecologista, ela iniciou a reposição hormonal e, com a educadora física Bruna Oneda, começou a praticar exercícios online três vezes por semana
Focada em treinar mulheres no climatério, Bruna oferece dois programas: o SOS Menopausa, voltado a quem tem dificuldade em começar a praticar os exercícios, e o Menopausa Fie, para quem já está mais disposta a malhar. “Quem está com dor tende a paralisar o corpo, mas quanto mais parado pior é o sintoma”, garante. Bruna faz um encaminhamento personalizado para cada aluna. Em poucos meses é possível ter melhor disposição e equilíbrio, ver resultados estéticos e nos ossos leva pelo menos 1 ano. Para combater os fogachos, falta de libido e outros sintomas, Miriam Aleixo Finholt, de 58 anos, secretária aposentada, faz musculação, reposição hormonal e uma dieta orientada por nutricionista. “Hoje estou em minha melhor versão.” Há dois anos, ela teve sua última menstruação e só então percebeu o tanto que havia sofrido com o climatério nos anos anteriores. “Estava com o humor alterado, calorões que me impediam de sair e os médicos diziam que era ansiedade. Mas eram sintomas mascarados pela vida agitada.”
NUTRIÇÃO
Para Miriam, aderir ao Programa de Emagrecimento na Menopausa, de 3 meses, proposto pela nutricionista Thais Dias, surtiu efeito em seu bem-estar e na estética. “Perdi quatro quilos em um mês, pois havia inchado após a menopausa.” Ela aumentou o consumo de proteína, passou a fracionar mais as refeições e a consumir shots matinais anti-inflamatórios. “Tive acesso a um conjunto de informações importantes, que me levaram a ter mais saúde.”
Thais Dias adverte que a mulher que está no climatério precisa ter uma estratégia para emagrecer. Ela afirma que é possível perder peso, mesmo com o metabolismo mais lento, e que isso traz uma melhoria nos sintomas. “Com as escolhas corretas, os resultados aparecem”, assegura.
Uma das recomendações de Thais é evitar alimentos industrializados (ultraprocessados), e o consumo excessivo de farinha de trigo, açúcar, leite, café e bebidas alcoólicas, considerados inflamatórios. Por outro lado, é positivo aumentar o consumo de alimentos proteicos (para aumentar a saciedade), frutas e legumes de cor vermelha e roxa (antioxidantes), além de trocar os carboidratos refinados por aqueles que contém mais fibra, como mandioca, inhame e aveia.
NÃO É PARA TODAS
Para melhorar os sintomas do climatério, Ivaldo da Silva, professor de Ginecologia e Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que a terapia de reposição hormonal traz ótimos resultados, mas não é para todas – qualquer medicamento apresenta efeitos colaterais. “Médico e paciente devem ter uma conversa franca, discutindo riscos e benefícios”, aconselha
A Terapia de Reposição Hormonal ficou na berlinda em 2002, quando foram publicados os resultados de um grande estudo promovido pelo Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos, o Women’s Health lniciative, WHJ (Iniciativa pela Saúde da Mulher). A pesquisa foi interrompida precocemente ao constatar-se que o grupo que usava hormônios tinha maior risco de câncer de mama. “Depois disso, outros estudos foram feitos e apontaram que há uma janela de oportunidade para realizar a terapia hormonal, antes dos 60 anos”, informa o ginecologista Marcelo Steiner, professor de Ginecologia Endócrina, Climatério e Planejamento Familiar da Faculdade de Medicina do ABC.
Para Steiner, há um aumento de risco, mas pequeno. “Baseado no WHI, a incidência de câncer de mama na população abaixo de 60 anos que não faz terapia de reposição hormonal é de 30 casos entre 10 mil mulheres, por ano. O número sobe para 37 entre aquelas que fazem a reposição hormonal”, acrescenta.
Segundo ele, o uso de medicamentos fitoterápicos é uma alternativa com menos riscos, mas com menos eficácia. “Não há comprovação científica, mas na observação clínica percebemos que muitas mulheres se beneficiam, por um período mais curto, de até um ano”, avalia.
A terapia de reposição hormonal tem contraindicação absoluta em mulheres que tiveram trombose ou câncer hormônio-dependente, afirma a endocrinologista Mônica de Oliveira, vice-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Ela explica que cada terapia será individualizada e reavaliada com frequência – e deverá vir acompanhada de bons hábitos de saúde. “É difícil mudar a rotina. Mas é preciso aproveitar esse momento para ter um olhar carinhoso consigo mesma e cuidar de si.”
Mia Athayde, de 62 anos, teve sua menopausa aos 54,com apresentação de fogachos, instabilidade no humor e outros sintomas, mas não fez reposição hormonal. Ela acredita que a sua ginecologista não recomendou, por conta de nódulos que tinha na tireoide, mamas e ovários.
Os sintomas a incomodaram por cerca de quatro anos, mas foram ficando mais leves. Nesse período, ela tomou medicamentos fitoterápicos, deu mais atenção à alimentação, à hidratação e às atividades físicas. Para cuidar da vida sexual, buscou conversar bastante com o parceiro. “Tenho a sorte de ter um companheiro parceiro, uma boa ginecologista na retaguarda e amigas à minha volta, com quem conversava sem tabus.”
Foco nas coisas boas também ajuda a superar as dificuldades, afirma Mia. “Eu sabia que era apenas uma fase e enfrentei os sintomas de forma positiva. Hoje isso não é mais um incômodo na minha vida.”
CAFEÍNA ANTES DAS COMPRAS PODE DESENCADEAR GASTOS SUPÉRFLUOS
Pessoas tendem a consumir mais e pior após xícara de café, diz pesquisa
O café é uma das bebidas mais consumidas no Brasil e no resto do mundo. Popular por sua ação estimulante, a cafeína também pode ser encontrada em chás, refrigerantes e energéticos. Porém, pesquisadores dos sul da Flórida descobriram um revés desse hábito: a incitação ao consumo.
“A cafeína, como um poderoso estimulante, libera dopamina no cérebro, o que excita a mente e o corpo. Isso leva a um estado energético mais alto, que por sua vez aumenta a impulsividade e diminui o autocontrole”, explica, no estudo, um dos seus autores, o pesquisador Dipayan Biswas.
Biswas e seus colegas fizeram um experimento para comprovar a teoria. Eles instalaram uma máquina de café expresso nas entradas de três lojas. Duas delas, uma de varejo e outra de artigos para o lar, ficam na França: a terceira, na Espanha, é uma loja de departamento.
Cerca de 300 clientes receberam uma xícara de 100 mg de café de cortesia e os outros ganharam bebidas descafeinadas e água. Ao fim, compartilhavam os recibos das compras que tinham feito com os pesquisadores.
Os autores do estudo descobriram que os compradores que eram estimulados pela cafeína gastavam 50% a mais na hora das compras e escolhiam cerca de 30% mais itens do que aqueles que bebiam água ou bebidas descafeinadas. O estimulante também influenciou os tipos de item que eles compravam. Aqueles que tomaram café, por exemplo, compravam mais itens não essenciais, como velas perfumadas e fragrâncias do que os outros compradores que se mantinham firmes e objetivos nas escolhas.
Os pesquisadores ainda montaram um experimento em laboratório para checar se teriam resultados semelhantes em relação às compras online. Eles dividiram um grupo de 200 alunos de escolas de administração entre indivíduos que consumiram cafeína com cafeína e descafeinado e pediram que escolhessem quais itens comprariam de uma lista pré-selecionada de 66 opções.
O resultado foi semelhante. Aqueles que ingeriram cafeína escolheram mais itens por impulso, como massageadores. Enquanto os que não estavam sob efeito da substância escolheram menos itens e foram mais práticos nas suas compras.
“Ou seja, consumidores que tentam controlar os gastos devem evitar bebidas com cafeína antes das compras’, recomendou Biswas.
Análise aponta que suplementos de vitaminas são inúteis para a maioria
Durante anos, o uso de suplementos de vitaminas e minerais para fortalecer o corpo e prevenir doenças foi tratado na medicina ora como benéfico, ora como nocivo por sobrecarregar o organismo. Agora, uma das mais amplas análises já realizadas sobre o assunto pôs um fim nessa gangorra afirmando que simplesmente não há benefícios comprovados na ingestão dessas substâncias por pessoas saudáveis e não gestantes na prevenção de doenças.
A conclusão de que produtos do tipo só devem ser indicados quando de fato houver deficiência do composto no organismo ou em casos específicos, como durante a gravidez, faz parte de um nova orientação da Força Tarefa dos Serviços de Prevenção dos Estados Unido (USPSTF), órgão consultor independente de saúde, divulgada nesta semana.
O relatório, com base na análise de 84 estudos conduzidos sobre o tema – 52 deles apenas nos últimos oito anos -, constatou que “as evidências são insuficientes” para o uso dos suplementos com a finalidade de prevenir doenças cardiovasculares, câncer e mortalidade de forma genética.
“As pessoas têm essa ideia de que suplementar vitaminas além do necessário faz bem para a saúde, o que não é verdade. Essa nova resolução é mais uma evidência para o que já sabemos: você indicar uma vitamina ou um mineral a quem não tem deficiência não muda nada”, afirma o endocrinologista Alexandre Hohl, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia {SBEM) e professor da Universidade Federal de Santa Catarina.
Um dos documentos que embasaram a divulgação das novas diretrizes foi um editorial publicado por cientistas da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, na revista cientifica JAMA Network. Nele, os pesquisadores explicam que ”na melhor das hipóteses, as evidências atuais sugerem que quaisquer benefícios potenciais de um multivitamínico (suplemento de diversas vitaminas) na redução da mortalidade provavelmente serão pequenos.
REDUÇÃO MÍNIMA
Eles explicam, por exemplo, que um dos estudos mostra que, para uma mulher saudável de 65 anos, que tenha um risco de mortalidade de 8% até os 75 anos, ingerir um multivitamínico durante cinco a dez anos reduziu essa probabilidade para 7,5% apenas, variação considerada irrelevante, que demonstra um baixo benefício em relação aos riscos.
“A força-tarefa não está dizendo ‘não tome multivitamínicos’, mas há essa ideia de que, se fossem realmente bons para você, já saberíamos”, explica o chefe de medicina interna geral da Universidade Northwestern Jeffrey Linder, um dos autores do editorial na JAMA, em comunicado.
Além disso, os pesquisadores alertam para problemas encontrados nos estudos, afirmando que “essa estimativa ébaseada em evidências imperfeitas, é imprecisa e altamente sensível à forma como os dados sãointerpretados e analisados”.
“Os pacientes perguntam o tempo todo: ‘Que suplementos devo tomar?’. Eles estão desperdiçando dinheiro e se concentrando em pensar que deve haver um conjunto magico de pílulas que os manterá saudáveis quando todos deveríamos seguir as práticas baseadas em evidências de alimentação saudável e exercícios”, defendeu Linder.
Porém, embora o corpo de evidências sugira poucos benefícios para a maior parte da população, a USPSTF aponta no relatório que, segundo o último questionário nacional de saúde e nutrição do país, 52% dos adultos americanos relataram utilizar ao menos um suplemento.
No Brasil, dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais (Abiad) mostram que, em 2020, 59% das casas brasileiras tinham pelo menos uma pessoa suplementando a nutrição com vitamínicos.
ALIMENTAÇÃO
Hohl alerta que, na maioria dos casos, esse tipo de suplementação não é necessário, uma vez que é possível obter todos os nutrientes de que o organismo precisa apenas por meio da alimentação.
“Suplementar significa complementar algo que não está vindo da dieta, mas a maioria das pessoas que comem de maneira adequada vão ter todas as vitaminas necessárias. Somente aqueles com restrições alimentares ou com alguma doença que afete os níveis de vitaminas devem fazer avaliações nutricionais, porque podem ter um tipo de carência. Porém, essas são exceções na população brasileira”, afirma o ex-presidente da SBEM.
Segundo dados da empresa de consultoria e análise de mercado Grand View Research, no último ano, os americanos gastaram cerca de 50 bilhões de dólares em suplementos, movimentando uma indústria que investiu cerca de 900 milhões de dólares em estratégias de vendas.
No Brasil, dados da Abiad mostram que as vendas desse tipo de produto devem aumentar 12% neste ano em relação ao anterior, alcançando quase RS 3 bilhões. Porém, embora pareçam inofensivos, há riscos ligados ao abuso de suplementos, explica o professor de endocrinologia da UFSC.
“Um bom exemplo hoje em dia éa vitamina D, que está em alta. É verdade que muitas pessoas têm carência e de fato precisam repor. Porém, essa propaganda leva ao excesso de doses em casos desnecessários, o que gera um risco de intoxicação. E esse potencial tóxico do excesso dessas substancias não é exclusivo da vitamina D”, alerta Hohl.
Além disso, na recomendação da força-tarefa dos Estados Unidos, há uma orientação especificamente, contra o uso de suplementos de betacaroteno por pessoas que não sofrem deficiência da substância. Isso porque a análise dos estudos constatou um risco elevado para mortalidade, doenças cardiovasculares e câncer de pulmão na ingestão excessiva durante quatro a 12 anos.
“Um dos problemas hoje são os rótulos desses produtos, que omitem ou colocam substâncias que não estão ali de maneira adequada, o que é desafiador quando pensamos na saúde pública”, observa o endocrinologista da SBEM.
Na resolução, a força-tarefa americana deixa claro que a ausência de benefícios foi apontada para pessoas saudáveis e não gestantes. Isso porque, entre mulheres grávidas, foram observados pontos positivos no consumo de suplementos em certos casos, mesmo entre pessoas que não sofrem de problemas de saúde.
“As pessoas grávidas devem ter em mente que essas diretrizes não se aplicam a elas. Certas vitaminas, como o ácido fólico, são essenciais para as gestantes terem um desenvolvimento fetal saudável. A maneira mais comum de atender a essas necessidades é tomar uma vitamina pré-natal”, diz Natalie Cameron, também autora do artigo na JAMA e pesquisadora da universidade americana, num comunicado.
Há ainda evidências que apontam para um benefício do ácido fólico – também chamado de vitamina B9 – em prevenir desfechos cardiovasculares durante a gravidez, analisados pelo órgão americano. Porém, Cameron destaca que ainda são necessários mais dados para entender se o suplemento de fato teria essa capacidade.
“Essa exceção é porque as gestantes são um universo separado, elas precisam de um aporte nutricional adequado para um ser humano em desenvolvimento. Em geral, esse grupo faz algum tipo de suplementação por conta disso, mas sempre com orientação de um médico ou um nutricionista”, explica Hohl.
SAÚDE MENSTRUAL DEVE SER VISTA COMO DIREITO POR EMPREGADORES
É essencial reconhecer período para as mulheres que sentem muitas dores
Em 17 de maio, o governo da Espanha deu um passo histórico em matéria de igualdade e não discriminação. Graças ao impulso do Ministério da Igualdade encabeçado por Unidas Podemos, a Espanha terá a legislação reguladora do direito a saúde sexual e reprodutiva mais avançada da Europa.
Para isso, o governo deu luz verde à tramitação normativa de uma reforma que ampliará o direito das mulheres de decidir sobre seu próprio corpo, reforçará a educação sexual, reconhecerá a gestação por substituição como uma forma de violência contra as mulheres e regulará a saúde menstrual em termos laborais.
Uma das questões mais discutidas a respeito dessa reforma foi a regulação de uma incapacidade temporária derivada de regras incapacitantes, abrindo um debate nos âmbitos políticos e até mesmo sindicais sobre se a regulamentação proposta pode acabar agravando a discriminação nas contratações laborais.
Assim, os efeitos da menstruação sobre a vida das mulheres têm protagonizado, pela primeira vez, talk shows e debates na mídia, rompendo o tabu sobre a questão.
Durante dias temos escutado o conjunto de dores sofridas por mulheres e pessoas que menstruam e que inclui cólicas abdominais, náuseas, fadiga, sensação de desmaio, dores de cabeça, dores nas costas e desconforto geral ou enxaquecas. Com tudo isso, uma vez ao mês e 480 vezes ao longo da nossa vida vamos trabalhar com dores incapacitantes, gerando um “presenteísmo” (trabalhar em condições subótimas) que supera em muito o absenteísmo e que impacta consideravelmente na saúde ocupacional e na produtividade das empresas.
Apesar de se tratar de uma situação que metade da população mundial pode experimentar, a saúde menstrual se mantém em um âmbito coberto por estigma, vergonha e estereótipos em quase todos os países do mundo. Nem o direito trabalhista nem as normas da previdência social contemplaram especificamente estas situações. Pelo contrário, geralmente as políticas de saúde ocupacional se desenvolvem mediante normas supostamente “neutras” (baseadas na experiência de trabalhadores masculinos e ignorando a diferente realidade da saúde das mulheres) ou políticas de saúde e segurança ocupacional que consideravam a mulher a partir de uma perspectiva protecionista, como coletivo fraco e centradas na proteção da gravidez e da maternidade. A menstruação, como situação a ser considerada per se, tem estado pouco presente nos debates jurídicos.
De fato, algumas das experiências regulatórias prévias deram maus resultados. Em particular, o Japão aprovou uma lei relativa à menstruação no trabalho em 1947; a Coréia do Sul concede às mulheres um dia de licença pela menstruação e Taiwan três; a Indonésia dois. Ademais, em algumas províncias da China foram adotadas políticas similares. Diversos relatórios apontam as dificuldades de implementação dessas normas vinculadas e sua relação com práticas discriminatórias ou mesmo violações dos direitos das mulheres, todas provavelmente relacionadas a regulamentação defeituosa e negligência empresarial. Alguns autores, em vista dos escassos ou maus resultados, qualificaram estas práticas como “sexismo benevolente”.
O debate em outros países, como França, Reino Unido e Austrália, foi aberto pelas experiências em diversas empresas que implementaram modelos de organização do trabalho compatíveis com a proteção da saúde menstrual (incluindo também os períodos de menopausa) e que relatam taxas consistentes de êxito tanto do ponto de vista do aumento da produtividade como da melhora do bem-estar das pessoas que se beneficiam dessas licenças. Em abril de 2016, o Parlamento italiano debateu um projeto de lei intitulado “Estabelecimento de licença para mulheres que sofrem de dismenorreia”.
A proposta, que não foi aprovada, contemplava o direito de se ausentar do trabalho por um máximo de três dias por mês para as mulheres que sofrem uma dismenorreia que as impede de desempenhar as funções ordinárias do trabalho diário, condição que tinha que ser constatada em um atestado médico anual. Esta “licença menstrual” seria coberta pelo Estado com uma prestação igual ao salário. Além disso, alguns convênios coletivos na Espanha e na Argentina regulamentam as licenças recuperáveis pelas trabalhadoras, com pouco êxito.
A proposta espanhola é sem dúvida a mais completa e se concentra na proteção da saúde menstrual no âmbito do contrato de trabalho, como um direito dentro da saúde ocupacional. Para isso, reconhece o direito a uma incapacidade temporária especial para as mulheres com menstruações dolorosas que as incapacitam de trabalhar, sem máximo de dias como indicado no relatório médico obrigatório, às custas da previdência social, pago a partir do primeiro dia de ausência e sem requisitos de contribuição prévia. Não haverá, portanto, nenhuma carga econômica para o empregador.
Diante da regulamentação desta licença trabalhista por menstruação, argumenta-se que pôr o foco em como a menstruação afeta a capacidade de trabalho de um bom número de mulheres durante determinados dias do mês significaria reconhecer uma debilidade e poderia implicar uma reação empresarial, uma espécie de backlash (pela qual já passamos) que poderia aprofundar a preferência por contratação masculina.
Para descartar ou minimizar esta possibilidade, é necessário recordar que medidas como esta não podem ser dispositivos jurídicos isolados, mas devem ser combinadas com uma boa política de igualdade em matéria de direitos vinculados aos cuidados, e particularmente à maternidade e paternidade, baseada na corresponsabilidade; uma forte estrutura normativa antidiscriminação que sanciona as condutas sexistas no trabalho; um potente esforço pedagógico que evidencie aos empregadores que a igualdade nas empresas é um direito (e igualmente positivo para a produtividade) e um compromisso com o diálogo social para seu desenvolvimento adequado. Para que a saúde menstrual entre nas empresas, o Estado deve promover esses dispositivos e o setor empresarial deve internalizar a necessidade de protegê-la.
A proposta de regulamentos como a espanhola é, perse, um enorme passo adiante em termos jurídicos, simbólicos e culturais, que permite visibilizar e verbalizar uma realidade e uma necessidade historicamente ofuscada. Com ela, abre-se um caminho que pode ser exemplo para a América Latina, acompanhando os passos adiante na descriminalização do aborto e os processos para o reconhecimento da igualdade e proibição de discriminação nas relações de trabalho. Evidentemente, os obstáculos a superar são consideráveis em muitos aspectos. Em nossa região, a corresponsabilidade é escassa (o tempo de trabalho não remunerado ou de cuidados das mulheres é muito maior que o tempo que os homens dedicam) e isso dificulta a contratação feminina e perpetua as desigualdades.
Ademais, é bem conhecido que, na América Latina, as pessoas que trabalham sem garantias jurídicas vinculadas ao contrato de trabalho (o chamado trabalho informal) representam mais da metade da força trabalhista, o que dificulta a aplicação de medidas como a mencionada. Além disso, é igualmente evidente a permanência do estigma e o tabu em torno da menstruação, que no linguajar popular ainda é identificada como uma doença. Felizmente, o poder do movimento feminista na região está permitindo os avanços normativos que nos fazem caminhar em direção a uma sociedade mais justa, onde ninguém tem que ir trabalhar sofrendo de dores incapacitantes e onde a menstruação faz parte da vida cotidiana, livre de estereótipos, estigmas e discriminações.
ADORACIÓN GUAMÁN – Cientista política e jurista. Professora da Universidade de Valência. Coordenadora do GT de CLACSO ‘Lex Mercatoria, Direitos Humanos e Democracia’. Membro fundador do CLAJUD (Conselho Latinoamericano de Justiça e Democracia).
Algumas frases se propagam sem que saibamos quem é o verdadeiro autor. É o caso de “Enquanto não surge o homem certo, vou me divertindo com os errados”, que eu ouvi pela primeira vez num programa da jornalista Marília Gabriela – ou será que li numa camiseta? Que a frase é espirituosa, nem se discute, mas é uma cilada: buscar a pessoa certa, como ideia fixa, é a razão dos nossos problemas de relacionamento. Por que a gente insiste em acreditar em lendas?
Essa entidade abstrata – a pessoa certa – é aquela que vai entender todas as suas manias, vai adivinhar quando você quiser ficar em silêncio, terá o corpo e o rosto que você idealizou em seus delírios românticos, e a sua mãe – a sua, não dela – vai aprovar sua escolha assim que abrir a porta da sala de visita. Bastará uma rastreada com o olhar e logo ela piscará pra você como quem diz: agora sim.
Agora sim o quê? Agora você pensa que encontrou alguém com quem não irá brigar jamais e que vai se encaixar com perfeição na sua ambiciosa procura pela pessoa certa, esta que (atenção, spoiler) não existe.
A pessoa certa pra você é a errada. Lembra a pessoa errada?
Morava num cafundó. Ria alto. Não entendia muito os filmes de que você gostava, mas fazia comentários deliciosos a respeito. Era muito mais velha que você. Ou muito mais jovem que você. Não parava em emprego algum e sua coleção de ex era preocupante. Que saudade da pessoa errada.
Nunca acertou um único presente – mas lembrava de todas as datas. Depois de uma hora e meia ao telefone, queria falar um pouco mais e ficava triste se você sugeria que desligassem. Como amava você a pessoa errada.
Não conhecia nenhum de seus amigos. Nem você os dela. Fumava demais. Ou bebia demais. Ou ambos. Mas nunca teve passagem pela polícia. A fissuração por previsões astrológicas era meio exagerada, e já estava na hora de aprender a arrumar a bagunça que era seu apartamento, mas nunca deixou de sair do banho perfumada – molhando o chão do quarto, claro. Era a incorreção mais bem-vinda para aquele seu momento de entressafra, não era’
Até que surgiu a pessoa certa. Toda a família comemorou e os amigos respiraram aliviados: agora sim você tinha alguém a sua altura, agora sim, você não precisaria mais passar por altos e baixos, agora sim, nunca mais um barraco, nenhuma surpresa. Agora sim, um casal-padrão.
Quase posso ver você, daqui a uns meses, usando uma camiseta que diz: “Enquanto não surge a pessoa errada, vou me entediando com as certinhas”.
PLANO ALIMENTAR DESREGULADO PODE DAR MAIS FOME NA DIETA
Genética e questões emocionais também fazem pessoas comerem mais em períodos de restrição
Uma reclamação comum entre pessoas que fazem dieta é a fome excessiva mesmo seguindo à risca as regras do regime. A falta de porções adaptadas à realidade do paciente é um dos fatores que leva ao apetite aumentado durante o período de restrição alimentar, dificultando a reeducação.
Dietas da moda que oferecem a todos os pacientes os mesmos alimentos em quantidades iguais também podem causar mais fome do que o esperado. Questões emocionais também podem estar ligadas.
Quando isso acontece, significa que o cardápio está desequilibrado, diz a nutricionista Lidiane Pereira Magalhães, do Departamento de Oncologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Com essas dietas malucas e restrições que o povo sai fazendo, geralmente, a pessoa tem fome porque a forma como deve comer não está equilibrada.”
A profissional diz que um cardápio personalizado desenvolvido por profissional habilitado será adaptado de acordo com os horários e os gostos alimentares da pessoa, o que facilita a reeducação.
“A partir do momento em que a pessoa faz uma dieta, por exemplo, que ela viu na revista ou o vizinho contou, e impossível dar certo, pois é feita baseado no nada. Ela funciona por um tempo, mas não tem seguimento e pode acarretar problemas de saúde, alerta Magalhães.
Mesmo uma pessoa que possui acompanhamento de um profissional habilitado, porém, pode sentir fome, o que significa que o plano alimentar não está ajustado de forma adequada.
Segundo a especialista, isso ocorre quando o cardápio escolhido não atende as necessidades do corpo da pessoa. A escolha dos alimentos, porções e horários deve ser feita de acordo com as particularidades de cada um, e o profissional pode fazer ajustes, caso a primeira versão não funcione.
Além de dietas generalistas e quantidades incorretas, a mudança na rotina alimentar visando a perda de peso também mexe com um instinto primitivo do nosso cérebro.
De acordo com o endocrinologista Marcio Mancini, vice-presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), o corpo humano não entende que a dieta é feita devido ao excesso de peso. Para o organismo, a pessoa está simplesmente passando fome e, por isso, o corpo entende que precisa se proteger para evitar à morte.
A nutricionista e coordenadora da comissão de comunicação da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição), Lara Natacci, lembra ainda que o excesso de fome durante dietas ocorre pois os hormônios que promovem a fome não reagem como o desejado.
“Quando a gente perde peso com dieta, aumenta a secreção dos hormônios que são orexígenos, ou seja, aqueles hormônios que trazem a sensação de fome. Em uma dieta, fazemos uma restrição na nossa alimentação, deixamos de comer a quantidade que a gente gostaria ou que o nosso organismo necessitaria. Então a resposta do nosso organismo é a fome.”
Os especialistas também apontam para a questão emocional e psicológica.
“Hoje em dia, o ser humano come muito mais ativando o apetite hedônico, do prazer, ligado ao sistema límbico, do que do apetite homeostático, o apetite de sobrevivência, a fome, propriamente dita”, destaca Mancini.
Além disso, a chamada fome emocional pode ser confundida com a fome fisiológica.
“Ela aparece de repente, de uma hora para outra e normalmente a pessoa busca um alimento específico, o tipo do alimento que se torna reconfortante muitas vezes, como aqueles relacionados com alguma lembrança de infância”, afirma Natacci.
Essa sensação pode estar ligada a problemas emocionais como ansiedade e depressão. Por isso, é importante buscar a ajuda de um psicólogo.
As nutricionistas dão conselhos e dicas que podem te ajudar a lidar com a fome quando ela apertar durante a dieta – e não for emocional.
Não existe milagre na perda de peso. “Você quer emagrecer em um mês tudo o que você engordou ao longo de anos? Não faz nem sentido”, afirma Magalhães.
Durante uma refeição, é importante que a pessoa use todos os sentidos para apreciar a comida. Nada de comer com pressa, diante do celular e do computador. “Estudos dizem que quando a gente come na frente da TV ou com distrações, a tendência é a comer em maior quantidade, além de demorar para ficar saciado”, afirma Natacci.
O ideal é comer devagar, pois, de acordo com Magalhães, o centro responsável pela saciedade demora cerca de 15 minutos para ser acionado.
Invista nas fibras e nas proteínas. Inclua esses alimentos em todas as refeições – e não apenas nas principais. Eles demoram a serem digeridos, são ideais na busca da saciedade. Dê preferência às fibras hidrossolúveis como a chia. Gorduras boas em pequenas quantidades como as que existem no abacate, castanhas e amêndoas podem ser boas aliadas.
Antes das refeições, tire uns minutos para parar um pouco e se acalmar da rotina agitada. Técnicas respiratórias e de meditação ajudam a trazer a atenção plena para aquele momento e desfrutar o prazer de comer.
Psiquiatras estudam mecanismos do ‘comportamento de manada’
Um fenômeno que há muito tempo atrai o interesse de cientistas, o chamado ”comportamento de manada” tem entrado mais recentemente no foco de médicos, por ter implicações de saúde pública e sociais.
Psiquiatras, psicólogos e neurocientistas estão avançando no entendimento daquilo que eles consideram ser um comportamento contagioso, nos quais as pessoas tendem a imitar as outras por sugestionamento.
Em um congresso internacional da área em Gramado (RS), no início do mês uma das sessões se dedicou ao tema. Casos de linchamento, em que pessoas são impelidas umas pelas outras a participar de atos de agressão, ou até o aumento na taxa de suicídios após notícias de celebridades que se matam, chamam a atenção, mas são difíceis de estudar na prática.
JANELAS QUEBRADAS
Fenômeno semelhante, porém, foi objeto de estudo de Jair Mari, professor de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em colaboração com a colega moçambicana Lídia Gouveia, ele analisou um fenômeno ocorrido em Maputo na década passada: uma epidemia de desmaios em uma escola feminina da cidade.
Durante um período iniciado em 2010 por várias vezes as estudantes entravam em catarse e desmaiavam, como resposta à ansiedade provocada por um boato de que o colégio havia sido construído sobre um cemitério.
Num estudo ainda inédito que os cientistas submeteram recentemente para publicação, eles traçam o perfil das meninas que tinham mais propensão a se deixar afetar por essa crise. Fatores como personalidade extrovertida e até a ausência de relação afetiva tornavam algumas das meninas mais propensas. Segundo Mari, a avaliação clínica das estudantes foi importante para ajudar a dar suporte a elas:
“Quando isso acontece, nós temos que fazer alguma coisa. Essas meninas precisam de cuidado psicológico.”
Na psicologia experimental, um dos cientistas que tem se preocupado com a questão de como as pessoas se deixam influenciar pelo comportamento das outras é Kees Keizer, da Universidade de Groningen (Holanda). Sua ideia é testar cientificamente, a chamada “teoria das janelas quebradas”, segundo a qual as pessoas tendem a desrespeitar regras com mais facilidade em locais onde parece haver mais desordem e violação de normas. Um bairro com janelas quebradas foi o exemplo usado em 1982 pelo criminologista George Kelling, proponente da teoria.
Em um dos experimentos controlados por uma metodologia rigorosa, o cientista colocava uma nota de 5 euros dentro de um envelope e o encaixava na boca de uma caixa de correio, deixando um pedaço visível para fora. A ideia era ver se os transeuntes iriam pegar o envelope ou fazer a boa ação de terminar de inseri-lo na caixa de correio.
Após medir as reações de algumas centenas de pessoas, o psicólogo viu que apenas 13% delas furtavam o envelope. O cientista passou então a espalhar lixo pelo chão, para ver se a reação das pessoas mudava. E mudou: com a rua emporcalhada, a taxa de furto do envelope aumentou para 25% . Numa outra rodada, em que os muros do local receberam pichações, o índice subiu ainda mais, para 27%.
O resultado do trabalho é de interesse para formuladores de política pública, claro, mas Keizer afirma que psicólogos precisam levar em conta que o comportamento das pessoas é muito mais impelido por fatores subjetivos do que se costuma reconhecer, para o bem ou para o mal:
“Uma das nossas conclusões é que o nível de cuidado que você dedica para fazer cumprir uma determinada norma impacta a probabilidade de obediência a outras normas também.
Mari mostra interesse em estudar também fenômenos como atos coletivos de agressão. O pesquisador cita como episódio emblemático o caso de linchamento de uma dona de casa no Guarujá (SP) em 2014, quando moradores se convenceram de que a mulher sequestrava crianças.
Os cientistas reconhecem que ainda não conseguem enxergar multo bem como intervir nesse tipo de caso, mas o interesse em entender os mecanismos que levam ao comportamento de manada já são estudados também no campo da neurobiologia.
ESTÍMULO E RECOMPENSA
O pesquisador russo Vasily Klucharev, da Universidade de Amsterdã, usando técnicas de imageamento cerebral, como sequências de ressonância magnética, busca entender quais regiões do cérebro estão ativas quando uma pessoa expressa consonância com uma opinião. Ao mapear a operação desse fenômeno no cérebro, ele enxergou que o ato de estar em conformidade com seu grupo ativa circuitos controlados pelo neurotransmissor dopamínico, que desperta sensações mais primitivas de prazer, atuando como em um condicionamento comportamental de estímulo e recompensa.
Esse mecanismo pode ser explorado para o bem e para o mal, especialmente quando o comportamento das pessoas se dá numa interação complexa com o ambiente virtual.
“A conformidade com as normas sociais é particularmente preocupante num ambiente em transformação, quando a maioria das pessoas ainda não sabe muito bem como se comportar. Nesse contexto, essa tendência de se conformar a maioria pode ser perigosa”, afirma Klucharev.
PANDEMIA ELEVA EM 41% DIAGNÓSTICOS DE DEPRESSÃO E PIORA HÁBITOS SAUDÁVEIS
Taxa da doença em mulheres é mais do que o dobro da registrada entre homens, aponta inquérito
Os diagnósticos de depressão na população adulta brasileira cresceram 41% nos dois primeiros anos de pandemia de Covid-19. As mulheres foram as que mais impulsionaram a alta, com mais do que o dobro da prevalência, registrada entre os homens.
Na população deprimida, houve piora significativa dos hábitos saudáveis de vida, como queda do consumo de verduras e legumes e da prática de atividade física, além de aumento da taxa de tabagismo.
A conclusão é de análise inédita do Govitel, um inquérito telefônico que retratou o impacto da pandemia de coronavírus nos fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis. Foram analisados dados de antes da Covid-19 e do primeiro trimestre de 2021, período em que a crise sanitária deu uma pequena trégua.
Realizado pelo Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela UFPel (Universidade Federal de Pelaras), o levantamento entrevistou 9.000 brasileiros, distribuídos nas cinco regiões do país. O aumento da depressão foi registrado em todo mundo e a OMS (Organização Mundial da Saúde) vem alertando os governos no sentido de destinarem mais investimentos na prevenção e na assistência dos casos.
No caso das mulheres, a prevalência do diagnóstico de depressão saiu de 13,5% para 18,8%. Entre os homens, pulou de 5.4% para 7,8%.
Há várias hipóteses para explicar a maior taxa da depressão feminina, de fatores genéticos e hormonais até a dupla jornada de trabalho para conciliar a carreira e as tarefas domésticas.
Mas, para Luciana Vasconcelos Sardinha, assessora técnica de epidemiologia e saúde pública da Vital Strategies, a principal razão é o fato de as mulheres procurarem mais ajuda médica do que os homens. Logo, são as mais diagnosticadas com a doença.
“Em geral, os homens não buscam ajuda, não investem em prevenção e promoção da saúde. Quando eles chegam ao serviço médico, [o estado de saúde] já está muito agravado”, afirma.
O inquérito também analisou como a depressão influenciou aos hábitos de vida da população, que são fatores de risco para várias doenças crônicas, como as cardiovasculares e o diabetes.
Para uma alimentação saudável, a recomendação é o consumo de legumes, verduras e frutas cinco vezes ou mais na semana. No primeiro trimestre deste ano, 12% das pessoas deprimidas relataram não ter esse hábito. Na população em geral, a taxa foi de 39%, em média.
Entre as mulheres com depressão, essa rotina é pouco mais de um terço (16,9 %) da declarada pela população feminina total (4,5%).
As pessoas com diagnóstico de depressão também declararam praticar menos atividades físicas, (11,5%) e serem mais tabagistas, (9,9%). Na população adulta em geral, as taxas para esses hábitos foram de 30% e de 12,2%, respectivamente.
A prevalência do tabagismo entre as mulheres deprimidas é quase o triplo em relação à população feminina em geral: 25,4% contra 9,9%.
“Era esperado, mas é a primeira vez que a gente consegue comprovar o que de fato aconteceu nesse momento de pandemia”, afirma a pesquisadora.
Segundo Vasconcelos, o trabalho teve um diferencial de ouvir as mesmas pessoas sobre os seus hábitos antes da pandemia e neste início de ano, quando a crise deu uma trégua.
Ela disse que havia a hipótese de que, nesse período ,as pessoas pudessem ter retomado suas rotinas. “Infelizmente, continua tudo no mesmo esquema. O nível de atividade física continua como no início da pandemia. As pessoas não voltaram.”
Além das mulheres, a prevalência maior da depressão foi observada em pessoas brancas com maior escolaridade (11 anos ou mais de estudo). Mas, de novo, a explicação é que são essas parcelas da população que geralmente têm maior acesso aos serviço de saúde.
Para a pesquisadora éurgente que o governo brasileiro monitore essa população deprimida e amplie a assistência a ela. Segundo Vasconcelos, ao mesmo tempo que a crise da saúde mental se agrava no país, os serviços públicos existentes, como os Caps (Centros de Atenção Psicossocial, estão muito aquém do necessário.
“São poucas vagas, o número de psiquiatras éinsuficiente. Nas regiões Norte e Nordeste, às vezes nem tem psiquiatra para contratar. Concursos são abertos, mas, as vagas não são preenchidas”·
Além disso, as escolas também precisam ser treinadas para reconhecer os sinais da depressão entre os alunos e encaminhar os casos para uma ajuda especializada.
Uma revisão recente com 9 pesquisas, divulgadas pelo Ministério da Saúde, mostrou que os sintomas de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes dobraram após o início da pandemia. Antes da crise sanitária, 12,9% desse grupo relatavam sintomas depressivos. Durante a crise do coronavírus, a taxa saltou para 25,2%. Os sintomas de ansiedade, por sua vez, aumentaram de 11,64% para 20,5%.
Uma das contribuições do Vital Strategies nesse enfrentamento das doenças psiquiátricas é o desenvolvimento de um índice de saúde mental, captando não apenas dados da saúde, mas também da educação e da segurança pública, entre outros.
O Covitel teve financiamento da Umane e do Instituto Ibirapitanga e apoio do Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
O inquérito tem diferença em relação ao Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) porque reúne dados das 27 capitais brasileiras e do interior. Já o Vigitel trabalha com amostras só das capitais.
Para o período de pré-pandemia da Covid-19, o novo levantamento considerou dados do último trimestre de 2019 e de janeiro e fevereiro de 2020.
O Ministério da Saúde anunciou no último dia 13 de junho investimentos na ordem de R$ 45 milhões para ampliar ações na área da saúde mental.
Entre as iniciativas estão o serviço telefônico 196 (Linha Vida), teleconsultas e linhas de cuidados para organizar o atendimento de pacientes com ansiedade e depressão. Um projeto-piloto do Linha Vida, segundo o ministério, começará pelo Distrito Federal, por um sistema de atendimento multicanal. A meta é prevenir suicídio e automutilação.
Já o projeto de teleconsulta está sendo feito em parceria com a SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) e é destinado a pessoas com transtornos mentais leves. A proposta é oferecer 12 mil teleconsultas mensais de psicólogos e psiquiatras.
Os atendimentos serão agendados pelas equipes das UBSs (Unidades Básicas de Saúde).
O ministério também lançou uma linha de cuidados com foco em crianças, adolescentes e adultos com transtorno de ansiedade e depressão.
Segundo o Ministério da Saúde, ela funcionará já a partir de repasses de recursos federais às equipes multiprofissionais em saúde mental, que podem estar vinculadas a ambulatórios, policlínicas ou unidades hospitalares.
Para a epidemiologista Luciana Vasconcelos Sardinha, que já atuou no Ministério da Saúde, um serviço telefônico e a oferta de teleconsultas estão muito distantes das necessidades atuais em saúde mental.
Estratégia que faz do funcionário sócio ganha espaço entre startups; rentabilidade, porém, depende da evolução da companhia
Ter um ganho financeiro elevado, ser sócio de uma empresa e se sentir dono são elementos que stock optimis prometem para o funcionário que optar por esse plano de compra de ações. É uma possibilidade de o colaborador adquirir ações por um preço prefixado, muitas vezes por valores inferiores aos de mercado, ou seja, um programa de incentivo de longo prazo com base em ações, pensado para promover e engajar seus talentos.
Mas é preciso transparência e análise para fechar um acordo de pacote de ativos – e paciência para aguardar os lucros, que dependem da evolução da empresa, em tempos difíceis para as empresas de tecnologia, principalmente os “unicórnios” (startups avaliadas em mais de US$1 bilhão), que têm promovido uma onda de demissões.
Além disso, o advogado tributarista Marcello Leal aponta que a concessão de papéis da empresa não garante um ganho efetivo para o funcionário, uma vez que só a venda dá ação com valor superior trará lucro.
NA CONTRATAÇÃO
Na fintech Noh, criada em novembro de 2021, o funcionário entra na empresa e escolhe a porcentagem de ações – disponibilizadas pela empresa – que deseja. Ou seja, todos, desde o primeiro dia, têm a opção de aderir ao modelo. “Era o que eu queria que tivessem feito contigo”, diz Ana Zucato, CEO da empresa – que definiu uma fatia de 15% da companhia para isso.
A startup criou três combinações entre ações e salário para os funcionários. Pode ser um salário mais alto com poucas ações, um meio a meio, ou um salário mais baixo com muitas ações. Com poucos meses de existência, a Noh tem 16 colaboradores e todos adotam algum tipo de pacote de ativos. Outra fintech que segue por esse caminho é a Pomelo, que desenvolve infraestrutura de serviços financeiros. Ela implementou o modelo após cinco meses de existência, em setembro de 2021. Na época com 120 funcionários, só 10% deles não tinham acesso ao plano de compra de ações. Hoje, todos os 280 empregados que trabalham no Brasil, Argentina, México e Colômbia têm ações.
Segundo o diretor de operações da empresa, John Paz, a ideia era reter talentos na empresa. Mas, com o tempo, acabou se tornando uma cultura da companhia. “Não é só uma questão de pensar na composição salarial. “Fabrício Bittar, líder de CX (experiência do cliente), destaca o aumento do engajamento e da proatividade entre os funcionários. “A gente é sócio e o nosso bônus é um só, vinculado ao sucesso da companhia”, ressalta.
Já a Méliuz, hoje com mil funcionários, iniciou o programa em 2012. A fintech de cashback e pagamentos, que tem atualmente mais de 23,6 milhões de usuários, optou por dar a alternativa de stock options aos funcionários como reconhecimento. O pacote de ativos não é proposto na hora da contratação, ele é oferecido após um processo interno.
O funcionário precisa escrever aos fundadores uma carta de 15 a 35 páginas sobre o seu passado, sua atuação na empresa, seu legado na companhia e o que planeja para o futuro. A seleção é anual e hoje são 40 sócios. “Se o funcionário tem grande potencial, não vamos apostar nele, mas na pessoa que já transformou todo o potencial dela em realidade e agora vamos reconhecê-la”, diz Lucas Marques, diretor de Recursos Humanos e também um dos sócios da Méliuz. O tempo de carência, para poder comprar e vender as ações, é de três anos na Méliuz.
AUXILIO PARA COORDENAR
Para gerir muitas pessoas no quadro societário, algumas startups e empresas recorrem a plataformas digitais como o Basement, que busca descomplicar a gestão societária. Frederico Rizzo, CEO da startup, afirma que um ponto fundamental para as companhias que contratam o serviço é mostrar e explicar como vai funcionar o plano de compra de ações para os beneficiários. “A gente foca muito na experiência do colaborador. Não é fácil entender o que está recebendo. Qual é o custo? Quais são as implicações? Então a gente oferece uma visão para que o beneficiário entenda”, destaca.
Uma das perguntas que mais fazem a escritores é sobre a diferença entre a literatura feminina e a literatura masculina. Eu nunca senti essa diferença de forma gritante. Em tese, TPM e parto podem ser melhor descritos por uma mulher do que por um homem, e assim entraríamos no terreno das vivências para diferenciar uma literatura de outra, mas acredito que, havendo talento, qualquer um escreve sobre qualquer coisa. Como já disse Virginia Woolf, todo artista é um andrógino.
As pessoas se inquietam com essa afirmação, como se estivéssemos dizendo que todo artista é um androide, quando é justamente o contrário. O artista não é programado para pensar como mulher ou como homem, para gostar de cor-de-rosa ou de azul, para ser mais romântico ou mais pragmático, segundo as generalizações impostas no berço. O artista é o oposto do androide, é desprogramado de nascença, aberto a todas as correntes de pensamento, dono de uma antena que capta os sentimentos mais contraditórios. O artista traz uma liberdade assustadora no peito e o ímpeto de expressá-la na sua dança, através de seus pincéis ou num palco. Não há juventude e velhice no ato da criação, não há livros escritos por cabeludos que sejam diferentes de livros escritos por calvos, não é o alcoolismo de um músico que o diferenciará de um músico abstêmio, somos todos diferentes na nossa percepção individual e unos na nossa descrença em relação a verdades únicas.
Todo artista é ao mesmo tempo o louco e o sensato. Artista é público e solitário, é quem se dá e se recebe de volta, encarna e desencarna, fala por João, por Maria e pelos bichos todos que traz dentro. Artista é o que toca no extremo.
Catalogar um artista como homem ou mulher e a partir daí tirar conclusões é percorrer um caminho muito curto para a compreensão da obra de alguém. Fumamos charuto (somos homens ou mulheres?), sentimos a ausência de um filho (somos homens ou mulheres?), ciumentos patológicos (somos homens ou mulheres?), gostamos de cozinhar (somos homens ou mulheres?). Somos pessoas que buscam o sentido da vida e que convidam a embarcar nessa viagem aqueles que não se preocupam de onde a viagem parte, mas para onde ela nos leva.
Doença atinge cerca de dois milhões de brasileiros, mas pode ser evitada com alguns cuidados
No começo, uma sensação de queimação insistente. Em seguida, um pouco de enjoo, dor na boca do estômago após as refeições. Talvez vômitos. Um mal-estar insistente.
Foi assim com o professor universitário Henrique Carvalho. Ou com a aposentada Antonieta Santana Nunes. Ela pensou que tinha comido alguma coisa que não havia caído bem. Ele achou estranho: azias nunca haviam sido um problema.
Depois de uma ida ao médico, um mesmo diagnóstico: gastrite. Não estavam sozinhos. Segundo levantamento do Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil, cerca de 2 milhões convivem com a doença no País.
E o número tem crescido: dados do HCor, em São Paulo, mostraram um aumento de 15% nas internações provocadas pela doença em 2021.
“Apesar de ser muito comum, a gastrite é uma doença que precisa ser cuidada e merece toda a atenção”, explica o dr. Antônio Lopes, cirurgião do aparelho digestivo, da Rede D’Or em São Paulo.
A gastrite é uma inflamação da mucosa interna do estômago, que pode ser causada por diferentes motivos.
“São erros alimentares, a ingestão de alimentos que irritam a mucosa, ou a infecção pela bactéria H. pylori, que leva ao aumento do ácido gástrico. E também o estresse, que piora todas essas agressões”, explica a dra. Tabata Cristina Antoniaci, gastroenterologista do Grupo São Cristóvão.
O aspecto emocional é relevante e ajuda a explicar o aumento recente de casos. Ainda que alguns estudos sugiram a capacidade da covid-19 de acometer esôfago, estômago ou intestino, diz Lopes, a questão não passa necessariamente pelo vírus
“Todo o cenário mexeu com a vida das pessoas e aumentou o nível de estresse. Preocupação financeira, com falta de trabalho, o medo de pegar a doença, tudo isso pode levar a uma piora na alimentação, à pouca qualidade de sono.”
Henrique Carvalho lembra ter sido esse o seu caso. “Eu não mudei meus hábitos alimentares de maneira significativa. Mas comecei a sentir os sintomas no final do primeiro semestre de 2021, que foi um momento de piora da pandemia depois de alguns meses mais tranquilos”, elelembra.
ROTINA
A boa notícia é que é possível evitar a gastrite com mudanças na rotina. Foi algo que a vendedora do mercado livreiro Rosália Meireles aprendeu na prática, após ter a doença três vezes. “Foi preciso abrir mão de muita coisa, evitar bebida alcoólica, tirar alguns alimentos das refeições, comer com mais qualidade”, ela conta.
Para a dra. Antoniaci, a alimentação é de fato um elemento central na prevenção.
“É possível evitar o problema tendo bons hábitos alimentares, que incluem comer devagar, mastigando bem os alimentos, prestando atenção na comida e não em outras atividades, como a TV ou o telefone celular”, ela observa.
“Vale a pena também optar pela ingestão de mais alimentos ricos em vitaminas e proteínas, como legumes e frutas, beber água em vez de refrigerantes e sucos e equilibrar a ingestão dos alimentos vilões, como o café, doces e frituras.” Mas, se os sintomas aparecerem, é bom ficar atento. Entre eles, além da famosa azia, a dor persistente, a alteração na coloração das fezes, vômitos, despertar no meio da noite por dor ou refluxo em diversos dias da semana. Nestes casos, vale apena procurar o médico para um diagnóstico preciso. E evitar a automedicação.
“Os remédios para a gastrite não precisam de receitas e isso leva à automedicação. É comum receber pacientes que vivem há anos com os sintomas, controlando-os com medicações sem orientação médica. E eles normalmente dizem que, ao parar com os remédios, os sintomas voltam ainda piores”, ressalta o dr. Lopes.
“A gastrite pode levar a quadros complicados como úlceras, ou assumir caráter crônico que pode levar a doenças como o câncer. O acompanhamento é fundamental para orientar o paciente”, completa.
Ansiedade gerada após dois anos de pandemia é maior, mas há soluções
Durante boa parte dos últimos dois anos, as publicações nas redes sociais seguiam uma mesma cartilha: informações sobre a pandemia, dicas do que fazer na quarentena um apelo para que fique em casa como estratégia de combate à Covid-19. Mas, com a vacinação e a consequente melhora do cenário epidemiológico, a vida voltou a parecer com o que era antes, com festas, eventos, viagens e, também, com a síndrome do FOMO. Acrônimo de Fear of Missing Out, algo como “medo de estar de fora”, o termo remete a ansiedade sentida quando a impressão é de que todos ao seu redor estão aproveitando a vida, menos você.
A psicóloga Anna Lucia King, doutora em saúde mental e coordenadora do Laboratório Delete, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, explica que o FOMO acontece especialmente entre pessoas mais inseguras, com baixa autoestima e alta dependência emocional, que acabam sendo mais vulneráveis às opiniões alheias e, especialmente, ao conteúdo publicado nas redes sociais.
“Só que essas redes são mais do parecer do que do ser. O que importa ali é a imagem, não o real. Então, as pessoas mostram uma vida em que tudo é maravilhoso, com ótimos relacionamentos, festas incríveis, uma imagem que nem sempre combina com a realidade da vida delas. E isso tende a fazer com que essas pessoas mais vulneráveis se sintam excluídas desse contexto tão maravilhoso com sentimentos de tristeza e de angústia”, afirma King.
Dentro desse cenário de comparação com retratos “perfeitos” das vidas alheias, a pandemia – e a melhora dela – pode ter um impacto ainda mais forte no FOMO, ressalta o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, coordenador do ambulatório de dependência de comportamento do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp.
“Esse fenômeno fica um pouco mais em evidência exatamente porque as pessoas passaram por um tempo em que todo mundo estava com a vida meio parecida. Então, de repente, você começa a ver seus colegas postando fotos de viagens, festas, eventos, e o impacto é maior porque a ideia é que eu estou “devendo” dois anos de vida a mim mesmo e, quando eu vejo que o colega começou a pagar essa dívida antes de mim isso causa uma ansiedade ainda mais forte”, explica o especialista.
MARKETING
A síndrome do FOMO, apesar de hoje ser ligada a ansiedades e questões psicológicas de saúde mental, foi criada em um contexto de negócios. Isso porque muitas estratégias de propaganda utilizam essa sensação de se sentir “por fora” para convencer o seu público-alvo a realizar determinada compra ou a ir a certo evento, por exemplo.
Assim a primeira menção ao termo de forma oficial apareceu em 2000. Nos anos seguintes, o FOMO foi ganhando repercussão a partir de uma abordagem mais ampla até ser incorporado ao dicionário da língua inglesa de Oxford, em 2013. Na ocasião, foi definido como “um sentimento de preocupação, que um evento animado ou interessante esteja acontecendo em algum outro lugar” (tradução livre). Com o tempo, ele também passou a ser alvo da psicologia como um conceito relevante nos estudos relativos à saúde mental e os relacionamentos sociais.
Um estudo de pesquisadores dos departamentos de psicologia da Universidade de Essex, no Reino Unido, e das Universidades da Califórnia e de Rochester, nos Estados Unidos, definem a sensação como uma apreensão generalizada de que os outros podem estar tendo experiências gratificantes, das quais se está ausente, e um desejo em permanecer continuamente conectado com o que estão fazendo.
Além disso, pesquisadores do Centro Psiquiátrico Clarion, nos EUA, descobriram que o FOMO foi ligado a consequências como um aumento na distração, um declínio na produtividade, dificuldades no sono, piora no desempenho acadêmico e maior risco para transtorno de ansiedade e depressão.
Os responsáveis pelo estudo consideram ainda que estar inserido em grandes comunidades online pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da síndrome, assim como um diagnóstico anterior para distúrbios de saúde mental. Eles explicam que estes fatores incentivam as pessoas a estarem constantemente se comparando com as outras, um comportamento que gera frustração, inveja, ciúme, ressentimento e outras emoções consideradas negativas – características do FOMO.
ALEGRIA DE ESTAR POR FORA
Para os cientistas americanos, o primeiro passo para melhora no quadro e a restrição do tempo gasto nas redes é o entendimento de que o conteúdo online não reflete a vida real.
É justamente essa ideia que motivou o surgimento de um conflito em resposta ao FOMO: o JOMO. A sigla significa – Joy of Missing out, ou “felicidade em ficar de fora, em português, e celebra a desconectividade, a atenção para o momento presente e o prazer nas pequenas coisas e na própria companhia.
Segundo definição do dicionário de Oxford, o JOMO é caracterizado como um estado de “gostar de passar o tempo livre fazendo o que quiser, sem se preocupar que algo mais interessante esteja acontecendo em outro lugar”.
O conceito ganhou relevância pela autora canadense Christina Crook, que escreveu um livro sobre o tema em que faz um relato sobre a sua própria experiência durante um mês longe da internet.
Anna Lucia King, do Instituto Delete, destaca que o primeiro passo para trocar o FOMO pelo JOMO é adotar hábitos que promovam um uso consciente das redes.
“As pessoas que sofrem com o uso excessivo da tecnologia precisam dar limites ao seu dia, então reduzir o tempo de uso dos aparelhos, utilizá-los para o trabalho apenas em horários comerciais, evitar o acesso durante as refeições e não usá-los por pelo menos uma hora antes de dormir. Essas são algumas técnicas para um uso adequado no dia a dia, que ajudam a reduzir esse excesso”, diz.
Aderbal Vieira Júnior ressalta ainda que é importante ter em mente que o que é publicado nas redes é apenas um recorte editado dos melhores momentos da vida real, portanto, não deve ser comparado com a vida cotidiana:
“Nas redes, publica-se aquela super refeição, aquele lugar incrível, então a gente fica com uma edição da realidade. Não é a vida da pessoa como ela é. Portanto, para as mais sensíveis a essa miragem, sempre há uma certa pressão por algo inalcançável. Porque a comparação é sempre da nossa vida cotidiana com o melhor da vida alheia.”
Em alguns casos, no entanto, os especialistas destacam que o uso excessivo pode passar a configurar uma situação de dependência que, nesse caso, demanda ajuda especializada. King explica que esse vício chega a ser semelhante ao do álcool e de outras drogas, e o tratamento envolve acompanhamento psicológico, em casos leves, ou ajuda de medicamentos, nos quadros mais graves.
Represadas pela pandemia, as festas de casamento agora causam mais estresse ainda: não há espaços disponíveis, os preços explodiram e tem celebração até na segunda
Nos contos de fadas, o casal apaixonado passa por altos e baixos e chega ao final feliz. Pois durante a pandemia, sempre ela, até o final feliz ficou comprometido. Na impossibilidade de as pessoas saírem de casa e proibidas as aglomerações, pré-requisitos de qualquer boa festa, casamentos foram cancelados em série, criando uma demanda reprimida de quase dois anos que agora, com a população vacinada, instalou o caos e disseminou o vale-tudo no mercado matrimonial. O calendário das casas de festa estão lotados, fotógrafos, DJs e estilistas se declaram sem espaço na agenda e o sábado, dia da semana mais almejado pelos pombinhos, virou sonho inalcançável. “Estamos indo para sextas e domingos, mas nada é capaz de impedir as pessoas de comemorar. Diversão é a palavra de ordem. Todo mundo quer festejar”, afirma o cobiçado cerimonialista carioca Roberto Cohen, que só tem sábados livres no segundo semestre de 2023.
A questão do dia é dramática – a ponto de a subida ao altar estar sendo planejada até para a antes esnobadíssima segunda-feira. O casal Natália, 32 anos, e Renan Nogueira, 30, que mora em Vitória mas vai se casar em Fortaleza (no religioso – o civil, simplesinho e seguido de um jantar para poucas pessoas, aconteceu no ano passado), escolheu esse dia da semana em novembro para subir ao altar por ser véspera de feriado – e, milagre, estar livre. “O casamento ia ser em um sábado de setembro de 2020, mas tivemos de adiar duas vezes. Quando enfim as festas voltaram a ser autorizadas, não tinha mais fim de semana disponível para encaixar todos os fornecedores com quem eu havia fechado anos atrás”, conta Natália. Esse, aliás, é outro problemão a empurrar as pobres noivas para o tradicional ataque de nervos: como muitos contratos foram fechados com datas específicas, reorganizar os profissionais para o novo dia virou um quebra-cabeça. O fotógrafo Roberto Tamer, que tem trabalhos agendados até 2024, fazia em média 42 casamentos por ano. Em 2022, está batendo em 187 festas. Só em maio, o mês das noivas, chegou a clicar quatro cerimônias por semana. “Tive de remanejar todos os casamentos que estavam fechados antes da pandemia, o que tornou muitas datas livres. Alguns foram para os dias de semana, único jeito de as pessoas se encaixarem na agenda do profissional que queriam,” explica Tamer. Nos cartórios, a espera para assinar os papéis pode chegar a meses. De acordo com a Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil), que trata do assunto, só nos primeiros quatro meses de 2022 houve um aumento de 21% na entrada de documentação para matrimônios, em comparação com o mesmo período de 2020. A demora é tanta que a lista de convidados acaba tendo ausências e adesões excepcionais. A nutricionista Mariana Veloso, 34 anos, foi pedida em casamento pelo empresário Munir Khayat, 39, do Rio de Janeiro, em junho de 2019, e eles planejaram subir ao altar um ano depois. Veio o novo coronavírus e tiveram de adiar a data três vezes. Mariana sonhava em ter os avós ao seu lado no grande dia, mas eles se foram no intervalo. Em compensação, o casal teve uma filhinha, que, aos 7 meses, será uma das estrelas da cerimônia agendada para setembro, no Copacabana Palace. “Confesso que sinto um pouquinho de medo. Depois de tantas tentativas, não tem como saber o que ainda pode acontecer,” desabafa a noiva.
Dois hábitos cultivados durante o mutirão anticontágio viraram tendência no universo casamenteiro: as reuniões em espaços abertos e, consequência natural, ainda com o dia claro. Isso, óbvio, se as reservas – e o orçamento – permitirem. Cumprindo à risca a lei da oferta e procura, os locais mais procurados, como a Hípica Santo Amaro e o hotel Palácio Tangará, em São Paulo, aumentaram até 50% o valor do aluguel de suas dependências nos últimos seis meses. “Aconselho os casais a ver tudo com bastante antecedência. A organização da festa hoje em dia está levando pelo menos um ano e meio, seis meses a mais do que antes da pandemia”, diz a assessora de casamentos Georgia Nog, da Toda de Branco. Os cariocas Bárbara Piva, 22 anos, e Lucas Morgado, 24, resolveram se casar em um espaço aberto no feriado de 12 de outubro – de 2023, claro. “Visitamos um lugar que adorei, mas não tinha a data que eu queria. Continuamos vendo outras opções, mas está difícil. Já ando pensando em abrir mão do feriado”, suspira Bárbara. No pós-pandemia, chegar ao final feliz dos contos de fadas virou, isso sim, uma epopeia.
MENTORIA E COACHING ACELERAM O AMADURECIMENTO PROFISSIONAL
Especialistas dizem que esses processos ajudam em questões que vão da busca por cargos de liderança a mudanças de área
Fazer uma transição de carreira, chegar à liderança ou resolver um dilema pontual são desafios em que uma ajuda é sempre bem-vinda. Nesse sentido os processos de mentoria e coaching servem como um guia contribuindo para o amadurecimento do profissional. Com metodologias diferentes, no entanto, essas ferramentas se aplicam a momentos distintos o que requer um bom entendimento de si e das propostas.
Thais Pegoraro, sócia e líder da área de consultoria de liderança da Exec – empresa especializada no recrutamento de executivos -, distingue que, na mentoria, o mentor é alguém experienciado, com mais consistência na matéria de interesse do mentorado e vai guiá-lo nos melhores caminhos”. Geralmente, quem orienta trilha um caminho que o outro quer seguir, teve desafios semelhantes e compartilha a experiência como forma de oferecer algumas respostas que podem ser adaptadas. “No coaching, há imparcialidade; na mentoria tem a parcialidade do mentor.”
A coordenadora de gestão de talentos Carolina Vaz, de 30 anos, passou pelos dois processos. Ela buscou um coach no final da graduação em Psicologia, quando fazia estágio, mas não tinha certeza da efetivação. O objetivo era se preparar para outros processos seletivos e trainees.
Mais recentemente, quando foi promovida ao cargo atual voltou às sessões para receber apoio estratégico nessa transição. Com a orientação do coach, ela se inscreveu para o programa de mentoria Executiva do Amanhã, da Exec, a fim de crescer dentro da empresa ”Busquei a mentoria com o objetivo de ter uma pessoa que passou por isso, para dividir aprendizados e trazer insights que poderiam me ajudar”, conta Carolina, que teve Luiza Helena Trajano como “guia”.
DIFERENÇAS
Carolina avalia que os dois formatos aceleram a maturidade profissional, mas com recursos distintos. “A mentoria dá caminhos, o coaching me dá as melhores ferramentas para usar em pontos específicos, em desafios profissionais e pessoais também”, compara. Ela também viu na mentoria uma oportunidade de agilizar a caminhada rumo à liderança. “Acabei me formando com Z7 anos, que eu considerei tarde. Queria muito essa aceleração para correr atrás do tempo que acho que me atrasei.”
Ela destaca ainda que, independentemente do processo escolhido, é relevante ter um objetivo desenhado e comprometimento. “A sua disposição para as duas frentes é muito importante, porque dá trabalho, tem dever de casa. Não adianta se inscrever se você não vai se dedicar, senão o resultado não vem”, diz Carolina.
A consultora organizacional e coach executiva Caroline Marcon diz que é preciso saber qual processo buscar em cada momento. Ela indica que todo profissional tenha um ou mais mentores ao longo da carreira, como um exercício de crescimento. Já o coach, ela diz, é para casos mais práticos e profundos. ”Ele te leva do ponto A para o B de maneira mais impactante e não se faz isso o tempo todo, ninguém vive em coach.”
IMPOSTORA?
Ao fundar a consultoria Se Candidate, Mulher! , a empreendedora Jhenyffer Coutinho se propôs a trabalhar com a falta de autoconfiança das mulheres para se candidatar a vagas de emprego.
“É a síndrome da impostora. Ela consegue, mas não vê a luz no fim do túnel sozinha e às vezes, precisa de um empurrão”, diz. E esse “empurrãozinho” o que ela oferece na se candidate, mulher! por meio de uma jornada de aprendizado pessoal e de empregabilidade com atividades focadas no autoconhecimento e em questões mais práticas, como montagem do currículo e atuação em entrevistas.
Os públicos-alvo da plataforma são mulheres desempregadas e as que estão insatisfeitas com o trabalho atual. “Esse fato de não se candidatar não é só para vagas, mas para promoção também”, observa Jhenyffer.
Para ela, ter serviços como coach e mentoria exclusivos para mulheres é também oferecer uma rede de apoio. “Nem sempre a mulher tem apoio em casa para empreender ou ser mais ousada na carreira. Às vezes, é na mentoria ou no grupo de coaching que ela tem acesso a outras pessoas que têm o mesmo problema”, diz.
DEMOCRATIZAÇÃO
No mercado de mentorias e coaching, há plataformas que buscam democratizar o acesso a esses profissionais e o fazem com flexibilidade e de forma contínua. É o caso da Todas Group, startup que oferece aulas gravadas e encontros coletivos ao vivo com executivas C-level de destaque no cenário brasileiro, como Camila Farani, sócia-fundadora da boutique de investimentos G2 Capital, e Fiamma Zarife, diretora geral do Twitter no Brasil.
“Eu sempre atuei em cargos operacionais. No fim de 2020, recebi um convite para atuar num cargo mais consultivo de vendas. Nesse momento, entendi que tinha de mudar meu pensamento, comportamento profissional e soube que era um passo para um cargo de liderança. Precisava desenvolver habilidades mais de soft skiils (habilidades comportamentais),”conta Bárbara Ramos, de 27 anos, que subiu novamente de cargo e agora é coordenadora de trade marketing na indústria de bens de consumo.
Foi durante essa transição que ela descobriu a comunidade do Todas Group e passou a fazer parte dela. “É um ambiente confortável em que todas estão a fim de ajudar. Posso confiar nessa rede de apoio para tirar dúvidas com alguém que já passou por isso na prática.” Bárbara cita que participou de mentorias com prazos definidos e que o diferencial do Todas é ter esse suporte continuo e a qualquer momento.
Tatiana Sadala, cofundadora da plataforma, diz que a proposta é “conectar todas as mulheres que querem crescer, possibilitando acesso ao melhor do desenvolvimento de educação, mentoria e suporte em escala”. Para isso, o conteúdo segue 16 habilidades fundamentais indicadas em pesquisa com CEOs mulheres, como autoconhecimento e inteligência emocional. Tem um modelo de negócio para pessoas físicas e outro para empresas.
“Elas têm acesso a três pilares: metodologia proprietária de aprendizagem e conhecimento; tecnologia, que possibilita suporte e networking e escala, que conecta mulheres por afinidade e a uma rede de especialistas que respondem a qualquer dúvida em até 48 horas; e o pilar de gamificação do conhecimento”, explica. Nesse último caso, conforme as alunas vão progredindo na jornada, ganham recompensas e premiações, como encontros mais exclusivos.
Há mentoras e coaches no rol de instrutoras e a empresária afirma que o serviço pode ser buscado em qualquer fase. “As 16 habilidades são essenciais e atemporais, fazem diferença para qualquer momento da carreira”, diz Tatiana. “Como estamos falando de desenvolvimento de liderança, muita gente acredita que não se encaixa, mas tudo começa pela nossa capacidade de liderar a nós mesmos.”
Nós viajávamos juntos em busca de trilhas distantes, nós descobríamos os detalhes de uma nova cidade percorrendo-a de bicicleta, nós tomávamos litros de vinho tinto durante o inverno gélido e também quando não fazia tanto frio assim, nós éramos os anfitriões dos amigos que vinham nos visitar e éramos, depois, a visita aguardada na casa deles, em retribuição. Nós éramos torcedores do mesmo clube de futebol e, em alguns casos, não torcíamos para ninguém, apenas para nós mesmos. Nós – o nome do nosso time. Nós – uma espécie de identidade secreta. Nós – o elenco da peça em que atuávamos: uma história de amor para dois personagens principais.
Como quase sempre acontece, às vezes cedo demais, às vezes com atraso, o “nós” se desmembra e volta a ser apenas eu e apenas você, dois times distintos, duas identidades avulsas, dois personagens que já não contracenam. Um final triste, mas digerível – a vida é assim, fazer o quê.
E então um dia você telefona para seu antigo amor e escuta do outro lado da linha algo inacreditável como “nós estamos de saída, poderia telefonar amanhã'”·
Você está falando com seu ex. Uma unidade. Que “nós” é esse que
não se refere mais a você e ele juntos?
Seu antigo par formou um novo plural. Ele voltou a ser nós. Você ainda é só você, um singular.
Onde foi parar a misericórdia? A sensibilidade recomenda não anunciar a nova condição conjugal antes de todos os corações estarem cicatrizados. O uso do pronome pessoal pode ser uma forma sutil de dizer que a fila andou, mas não ameniza o golpe. Um amigo me contou esse baque pelo qual passou e estou tentando fazer uma narrativa refinada do seu desalento, transformá-lo em poesia, literatura, canção, sei lá, encontrar alguma análise confortante para esse “nós” que ele pescou no ar, durante uma conversa trivial, um “nós” que já havia sido dele e que agora não lhe pertencia mais.
Só que não há como confortar. É natural que sejamos exclusivistas e nostálgicos em relação ao “nós” que era nosso, aquele “nós” que de pois entrou num vácuo, se desfez, silenciou. O fim simultâneo do que era seu e de outra pessoa foi o último ato de intimidade entre vocês. Até o surgimento desse outro “nós” que agora pertence só a eles dois – e que te dói.
MEIA HORA DE ATIVIDADE FÍSICA POR DIA É SUFICIENTE PARA UMA VIDA LONGA?
A ciência nos diz que são necessários menos exercícios do que se pensa para viver mais, e com qualidade
Para qualquer pessoa interessada na relação entre exercício e vida longa, uma das questões mais urgentes é de quanto realmente precisamos para nos manter saudáveis. Trinta minutos por dia são suficientes? Podemos sobreviver com menos? Temos de fazer tudo em uma sessão, ou podemos distribuir os exercícios ao longo do dia? E quando falamos de exercício, tem de ser difícil contar?
Durante anos, os cientistas do exercício tentaram quantificar a “dose” ideal para a maioria das pessoas. Eles finalmente chegaram a um amplo consenso, em 2008, com as Diretrizes de Atividade Física para Americanos, que foram atualizadas em 2018 após uma extensa revisão da ciência disponível sobre movimento, sedentarismo e saúde. Em ambas as versões, as diretrizes aconselhavam qualquer pessoa fisicamente capaz a acumular 150 minutos de exercício moderado por semana, e metade disso se ele for intenso.
Mas qual é a melhor maneira de espaçar esses minutos semanais? E o que significa “moderado”? Aqui, está o que alguns dos principais pesquisadores da ciência do exercício têm a dizer sobre contagem de passos, escadarias, atletas de fim de semana, maior longevidade e por que o passo mais saudável que podemos dar é aquele que nos tira do sofá.
MIRE NO ALVO IDEAL DE 150 MINUTOS
“Para longevidade, 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada a vigorosa é claramente suficiente”, avalia a dra. I-Min Lee, professora de epidemiologia na Faculdade de Saúde Pública Harvard T.H. Chan. Ela estudou extensivamente movimento e saúde e ajudou a redigir as atuais diretrizes nacionais de atividade física.
Para fins práticos, os cientistas do exercício geralmente recomendam dividir esses 150 minutos em sessões de 30 minutos de caminhada rápida ou atividade semelhante cinco vezes por semana. “Está bastante claro, a partir de numerosos estudos epidemiológicos de grande escala bem conduzidos, que 30 minutos de atividade de moderada intensidade na maioria dos dias reduz o risco de morte prematura e muitas doenças – como derrame, ataque cardíaco, diabete tipo2, e muitos tipos de câncer”, afirmou Ulf Ekelund, professor especializado em epidemiologia da atividade física na Faculdade Norueguesa de Ciências do Esporte em Oslo, que liderou muitos desses estudos.
Exercício moderado, ele acrescenta, significa ”atividades que aumentam sua respiração e frequência cardíaca, então o esforço representa um 5 ou 6 em uma escala de 1 a 10.
Em outras palavras, aumente um pouco o ritmo se sua disposição for para passear, mas não se sinta compelido a correr.
CONSIDERE ‘LANCHINHOS DE EXERCÍCIO’
Você também pode dividir seu exercício em segmentos ainda menores. “Não importa se o exercício é feito em uma sessão longa e continua de 30 minutos ou se é disperso ao longo do dia em sessões mais curtas”, explicou Emanuel Stamatakis, cientista do exercício da Universidade de Sydney, na Austrália, que estuda atividade física e saúde.
Estudos recentes mostram de forma impressionante que podemos acumular nossos 150 minutos semanais de exercícios moderados da maneira que funcionar melhor para nós, ele lembrou. “Muitas pessoas podem achar mais fácil e sustentável fazer algumas dezenas de caminhadas de um minuto ou dois minutos entre as tarefas de trabalho” ou outros compromissos. “Não há nada especial em uma sessão contínua de 30 minutos de exercício” para a maioria dos benefícios à saúde.
Pense nesses pequenos treinos como ‘lanchinhos de exercício’, ele observou. “Atividades como caminhadas muito rápidas, subir escadas e carregar sacolas de compras oferecem excelentes oportunidades para lanchinhos de movimento.” Para concentrar os benefícios para a saúde desses nuggets de treino, ele acrescentou, mantenha a intensidade relativamente alta, para que você se sinta um pouco sem fôlego.
CONTE SEUS PASSOS
As recomendações permanecem as mesmas se você medir seu exercício em passos em vez de minutos. Para a maioria das pessoas, “150 minutos de exercício por semana se traduziriam em cerca de 7 mil a 8 mil passos por dia”, enfatizou Lee. Em um novo estudo em larga escala de Lee e Ekelund sobre a relação entre passos e longevidade, publicado em março na revista científica The Lancet, a contagem ideal de passos para pessoas com menos de 60 anos era de cerca de 8 mil a 10 mil por dia, e para aqueles com 60 anos ou mais, seriam de cerca de 6 mil a 8 mil por dia.
CONSIDERE MAIS
Obviamente, essas recomendações sobre passos e minutos se concentram na saúde e na expectativa de vida, não no desempenho físico. “Se vocêquer correr uma maratona ou uma corrida de 10 Km ou mais rapidamente possível, precisa de muito mais exercício”, admitiu Ekelund.
Os 150 minutos recomendados por semana também podem ser muito pouco para evitar o ganho de peso com a idade. Em estudo de 2010 com quase 35 mil mulheres, liderado por Lee, só aquelas que caminhavam ou se exercitavam moderadamente por cerca de uma hora por dia durante a meia-idade mantiveram seu peso à medida que envelheciam.
Então, se você tiver tempo e disposição, movimente-se mais de 30 minutos por dia, ressaltaram Lee e outros cientistas. Em geral, de acordo com sua pesquisa e outros estudos, quanto mais ativos somos, bem além de 30minutos por dia, mais nossos riscos de doenças crônicas diminuem e mais longas nossas vidas podem ser.
Mas qualquer atividade é melhor do que nenhuma. “Cada minuto conta”, completou Ekelund. “Subir as escadas traz benefícios para a saúde, mesmo que dure apenas um ou dois minutos, se você repetir regularmente.”
Produtos manipulados para gerar absorção rápida podem ativar compulsão, mas ação é controversa
Há cinco anos, um grupo de cientistas que pesquisa nutrição estudou o que os americanos comem e chegou a uma conclusão surpreendente; mais da metade das calorias que o americano médio consome vem de alimentos ultra processados, que eles definiram como “formulações industriais”, com grandes quantidades de açúcar, sal, óleos, gorduras e outros aditivos.
Esses alimentos continuam a dominar a dieta americana, apesar de estarem ligados a obesidade, doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e outros problemas de saúde. Eles são baratos e convenientes, e projetados para serem saborosos. São comercializados em altas quantidades pela indústria alimentícia. Mas um número crescente de cientistas diz que outra razão pela qual o alto consumo é que, para muitas pessoas, os produtos não são apenas tentadores, mas de fato viciantes.
Recentemente, o American Journal of Clinical Nutrition explorou a ciência por trás do vício em alimentos e se os denominados ultra processados podem estar contribuindo para excessos e obesidade. Houve um debate entre dois dos maiores especialistas no assunto, Ashley Gearhardt, professora associada do departamento de psicologia da Universidade de Michigan, e o médico Johannes Hebebrand, chefedo departamento de psiquiatria infantil e adolescente, psicossomática e psicoterapia da Universidade de Duisburg Essen, na Alemanha.
A psicóloga de ciência clínica ajudou a desenvolver a pesquisa chamada de “Vale Food Addiction Scale”(Escala de Dependência Alimentar), usada para determinar se uma pessoa mostra sinais de comportamento viciante em relação à comida. Em um estudo envolvendo mais de 500 pessoas, ela e seus colegas descobriram que certos alimentos eram especialmente propensos a provocar comportamentos alimentares compulsivos, como desejos intensos, perda de controle e incapacidade de reduzir o consumo apesar das consequências prejudiciais.
No topo da lista estavam pizza, chocolate, batata frita, biscoitos, sorvete e cheeseburguer. Gearhardt descobriu em sua pesquisa que essas comidas altamente processadas têm muito em comum com substâncias que causam dependência.
MENTE ACESA
Assim como os cigarros ecocaína, seus ingredientes são derivados de plantas e alimentos naturais que são despojados de componentes que retardam sua absorção, como fibras, água e proteínas. Em seguida, seus elementos mais prazerosos são refinados e processados para gerarem absorção rápida pela corrente sanguínea, aumentando sua capacidade de “iluminar” regiões cerebrais que regulam recompensa, emoção e motivação.
A psicóloga diz que sal, espessantes, sabores artificiais e outros aditivos em alimentos ultra processados fortalecem sua atração, melhorando propriedades como textura e sensação na boca, semelhante à forma como os cigarros contêm uma série de itens projetados para aumentar seu potencial viciante.
Um denominador comum entre os alimentos ultra processado, mais irresistíveis é que eles contêm grandes quantidades de gordura e carboidratos refinados, uma combinação potente raramente vista em alimentos naturais que os humanos comem, como frutas, legumes, carne, nozes, mel, feijão e sementes, explicou Gearhardt.
“As pessoa não experimentam uma resposta comportamental viciante a alimentos naturais que são bons para nossa saúde, como morangos”, explicou.
Em um estudo, ela descobriu que quando pessoas cortam alimentos altamente processados experimentam sintomas comparáveis à abstinência observada em usuários de drogas, como irritabilidade, fadiga, sentimentos de tristeza e forte desejo. Outros pesquisadores descobriram em estudos de imagens cerebrais que as pessoas que consomem frequentemente comidas não saudáveis como fast food, podem desenvolver uma tolerância a eles ao longo do tempo, levando-os a exigir quantidades maiores para obter o mesmo prazer.
No entanto, Hebebrand contesta a ideia de que comida vicia. Enquanto batatas fritas e pizza podem parecer irresistíveis para alguns, ele argumenta que eles não causam um estado mental alterado, nunca registrada de substâncias viciantes. O médico diz que fumar um cigarro, beber vinho ou injetar heroína no corpo, por exemplo, provoca uma sensação imediata no cérebro, algo que alimentos não causam.
Na dependência química, as pessoas criam uma relação com uma substância química especifica que atua no cérebro, como a nicotina do cigarro ou o etanol da bebida. Mas em alimentos altamente processados não há um composto que possa ser apontado como viciante, explica o psiquiatra. Evidências sugerem que pessoas obesas que comem demais tendem a ingerir uma grande variedade de alimentos com diferentes sabores, texturas e composições.
SOB CONTROLE
Para as pessoas que lutam para limitar a ingestão de ultra processados, Gearhardt recomenda manter um controle do que se come para identificar os alimentos que causam mais desejos intensos e compulsão. Mantenha esses alimentos fora de casa, enquanto abastece a geladeira e despensa com alternativas mais saudáveis.
Mantenha o controle dos gatilhos que levam a desejos e excessos. Eles podem estar ligados a emoções como estresse, tédio e solidão. Faça um plano para gerenciar esses chamados, escolhendo um caminho diferente para casa, por exemplo, ou usando atividades não alimentares para aliviar o estresse e o tédio. E evite pular refeições, porque fome demais pode gerar desejos que levam a decisões impensadas.
“Alimentar regularmente seu corpo com itens nutritivos e minimamente processados de que você gosta é importante para ajudá-lo a navegar em um ambiente alimentar desafiador”, aconselhou a psicóloga.
Aumento de lares com pets e do número de separações aquecem debate nas famílias e em tribunais sobre guarda compartilhada de animais
Quando seus “pais” se separaram, pouco antes do início da pandemia, Baltazar passou a se revezar em duas casas: quatro dias em uma; três na outra, em um acordo amigável entre Mariah Trotta, especialista em Marketing, e Luciano Linhares, empresário. Mas logo o ex-casal percebeu que Baltazar estava “sentindo”. O chiwawa, que completa 6 anos em setembro, ficou mais arredio, triste, fazia xixi por todos os cantos… Quando começava a melhorar, já era hora de mudar de lar novamente. Mariah e Luciano, casados por quatro anos e separados há dois, testaram um esquema diferente e perceberam, então, que o filho canino se adaptou bem com períodos maiores em cada casa. “Não tem uma regra determinada, mas chega a ficar meses comigo, e depois com ele. Com visitas para matar saudade. A única coisa certa é o fim do ano. Alternamos o réveillon, para facilitar viagens”, conta Mariah, que pesquisou e descobriu ser comum o estresse do bichinho quando há separação.
A guarda compartilhada de cachorros virou realidade no país com a segunda maior população pet do mundo (o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos), e um crescimento de 30% de 2020 para 2021, de acordo com pesquisa da Comissão de Animais de Companhia, ligada ao Sindicado da Indústria Veterinária.
Histórias como a de Baltazar, portanto, são cada vez mais comuns, mas nem sempre com arranjos harmônicos entre os donos. A família multiespécie (formada por humanos e animais ) vem ganhando espaço como um tema desafiador para a Justiça, que encara disputa em processos similares à separação com filhos.
Advogada especializada em Direito de Família, Maria Magalhães, do escritório Fernanda Lins, conta que, antigamente, casos assim iam parar na vara cível, tratando o pet como um bem. Hoje, tramitam por varas de família, entendendo o bichinho como um integrante. “Especialistas na área já observam que essa nova configuração requer enfrentamento nos poderes judiciário e no legislativo em meio aos processos de divórcio ou dissolução da união estável. E o grande número de divórcios, principalmente durante e pós pandemia, têm potencializado a questão, sintetiza a advogada, que já cuidou de dois processos dessa natureza O mais recente precisou de acordo extrajudicial para incluir custos com alimento do cachorro na pensão (R$ 300, por mês).
Já para o dachshund Eddie, de 13 anos, a pensão determinada pela justiça foi de 20% do salário mínimo. Sua dona, a servidora pública Ingrid de Oliveira, acaba de ganhar o processo, que já dura quase dois anos (e continua, porque o ex-marido recorreu). O cachorro foi comprado por ele durante o casamento, de 11 anos. “Eddie sempre foi tratado como parte da família por nós. E tem uma doença, chamada leishmaniose, que requer exames, remédios e vacinas. Meu ex-marido ganha bem mais do que eu, e arcava com essa parte. Mas deixou de pagar quando eu iniciei um novo relacionamento”, conta Ingrid, que se separou no meio de 2019.
Existe até um Projeto de Lei (4.375/2021) na Câmara dos Deputados, em vias de ser aprovado, que contempla a obrigação do ex-casal de contribuir para a manutenção dos pets. “A legislação não acompanhou as mudanças sociais em relação aos animais de estimação, obrigando os magistrados a decidir sem o devido amparo legal. Ao que parece, isso está prestes a mudar”, completa Maria Magalhães.
Presidente da Comissão de Gênero e Violência do Instituto Brasileiro de Direito de Família, a advogada Ana Beatriz Rutowitsch Bicalho tem dois cavalliers, Charlotte e Oliver, e defende ser essencial o compartilhamento do tempo e das despesas dos animais adquiridos durante uma relação: “Charlotte foi diagnosticada com uma doença renal grave e exige não apenas cuidados especiais, mas exames e medicações. Vale lembrar que não necessariamente aquele indicado como ‘proprietário’ do animal em sua carteira de vacinação é a pessoa que ele escolhe como seu dono. Cabe ao casal manter-se corresponsável pelo bem-estar emocional e físico do pet, independentemente da continuidade da relação”.
Desde que se separou da ex-companheira, seis anos atrás, a administradora Barbara Boltje pega Theo de 14 em 14 dias para passar o fim de semana. Juntos, vão à praia, Lagoa e cachoeiras, e, quando há consulta no veterinário e oftalmologista, é ela quem leva (o buldogue francês nasceu com uma questão genética que poderia deixá-lo cego). “Conseguimos reverter o quadro com muito suor das mães, juntas. Continuamos parceiras em tudo em relação ao Theo. Ela arca com ração e banho e eu pago os médicos, remédios e exames”.
Quando conheceu seu atual marido (Renato Linhares, professor de Educação Física), a jornalista Beatriz Caillaux foi logo avisada por ele da existência da Mel, e da “mãe” da Mel. E mais: a vira-golden-lata de 1O anos já havia estranhado outras mulheres. Ficou claro que se não fosse aprovada pela cadela, a relação não iria para frente. “Me assustou um pouco a ideia, nunca convivi com cachorro e ainda mais nessa situação, como madrasta”, diverte-se: “Fiquei receosa, Renato precisava falar com a ex com bastante frequência para resolver questões práticas sobre a ‘filha’, mas já passaram quase dois anos e vem fluindo muito bem”.
A guarda compartilhada entre Renato e Stael Marci Monteiro Braga, cristal terapeuta, é meio a meio, uma semana com cada.
“Ela tem a mesma rotina na duas casas, já entende tudo. Há muito respeito envolvido”, diz Stael. “É que nem filho, mas o bom é que cachorro não fala. não conta nada sobre gente lá e vice-versa”, brinca a jornalista.
DIÁLOGO ENTRE GERAÇÕES REDUZ ATRITOS E AMPLIA APRENDIZADOS
Colegas são instigados a superar conflitos e tirar proveito das características das demais gerações que convivem no trabalho
A diferença de idade entre Maria Diva Garcia Comin e Gabriela Silva Martins é de 41 anos. As duas pertencem a gerações extremas: uma é baby boomer e a outra, Z. Elas trabalham no Santander e convivem com outras milhares de pessoas. Todos os dias, o desafio é o mesmo: sobressair e tentar aceitar o ”jeito” de trabalhar de cada colega. Ainda assim, os conflitos surgem.
Maria Diva faz parte dos 5% de baby boomers que trabalham no Santander e, como tal, gosta de estabilidade. Há 39 anos na empresa, ela acompanhou as mudanças nesta área e o vaivém dos funcionários. “No passado, as empresas eram mais rígidas e não tinham diversidade. Hoje épreciso pensar de forma mais aberta.” Ela diz que conflitos entre gerações sempre existem. A sabedoria é saber tirar proveito disso. “Os jovens são mais ansiosos e precisam treinar a habilidade de saber ouvir. Por outro lado, eles têm ferramentas para tudo”, diz Maria Diva, que procura tirar proveito da jovialidade de seus companheiros de trabalho para se atualizar. “Já nem uso mais relógio (os jovens achamcringe), mas não abro mão do meu caderninho para fazer anotações.”
Gabriela é da geração Z, tem 21 anos e entrou no Santander com 17 anos, como estagiária. Não se sente como os demais colegas de sua geração, mas tem a característica de persistir nas suas ideias até que alguém lhe ouça. ”Já houve situação em que não concordava com determinado processo. Sentei, demonstrei que era melhor simplificar e fui ouvida.”
Na avaliação dela, que adora pesquisar nas redes sociais as tendências do mercado, o mais importante é que a outra pessoa (mais velha e experiente) tenha paciência para ensinar. “Eu tenho disposição para aprender, mas preciso que alguém me ajude a entender como um processo funciona.”
LÍDER
Um pouco mais velho que Gabriela, Mateus Aoki tem 30 anos e é millennial. Sua missão no banco, que tem 40% dos funcionários dessa geração, é um pouco mais complexa. Como líder, precisa tirar o melhor dos profissionais maduros e também dos mais jovens. “O desafio é conciliar os vários mundos dentro da equipe. É conseguir uma certa rebeldia de forma adulta.”
A estratégia é ouvir as duas partes e tentar encontrar uma solução. “Mas, claramente, os seniores se estruturam melhor na argumentação.” Ele já fez mentoria reversa e afirma que gostou do processo. “Eu queria aprender a priorizar os temas no dia a dia, e ela, que tinha 47 anos, queria saber mais sobre mindset àgil (cultura ou mentalidade de se adaptar às mudanças).”
A representante da geração X é Simone Scrivani, de 54 anos. Na sua equipe, tem profissionais de 19 a 72 anos, sendo a maior concentração nos 35 anos. Como Aoki, ela tenta mirar na integração para evitar atritos. Segundo Simone, os jovens querem ver as coisas acontecendo mais rápido. E não se conformam com o “é assim mesmo”. Ela explica: “Podemos ter momentos de conflito, de ter de explicar mais de uma vez certos processos. Ou de alguém estar ocupado e não ter a solução na hora, mas conversamos e resolvemos.”
Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar esse grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.
Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que seja óbvio que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar esse amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.
A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Novos problemas ao dormir: apneia com insônia, respiração estreita e sexo sonâmbulo
As pesquisas clínicas recentes na área da medicina do sono têm encontrado novos padrões de sintomas que vão muito além de identificar que o paciente ronca ou tem insônia. Em um congresso de neurociência que deu espaço ao tema, um grupo de pesquisadores apresentou nesta semana quadros que variam de comportamento erótico noturno, uma nova síndrome de estreitamento das vias aéreas e a ocorrência simultânea de insônia crônica com apneia obstrutiva do sono.
Esses três tipos de quadro médico não são propriamente novos, mas ainda não são diagnósticos oficializados pela Classificação Internacional de Doenças. E apesar de não serem condições novas, têm aparecido cada vez mais em estudos e comunicações entre cientistas. Alguns desses distúrbios do sono já possuem nome e sigla consolidada.
PERFIL DIFERENTE
Um deles é a Síndrome da Resistência das Vias Aéreas Superiores (SRVAS), um diagnóstico que começou a ser adotado para enquadrar aqueles pacientes que têm problema respiratório para dormir mas não possuem um quadro típico de apneia obstrutiva, a condição que bloqueia totalmente a passagem do ar e desperta a pessoa.
Como em geral ela não provoca danos tão graves quanto a apneia típica, a comunidade ainda debate sobre se a SRVAS é uma condição real, mas a epidemiologia da doença sugere que ela é um transtorno com um perfil diferente.
“A síndrome da resistência das vias aéreas superiores não é como a apneia, em que a pessoa basicamente para de respirar durante a noite em alguns momentos, mas ela provoca uma limitação de fluxo do ar que também acorda a pessoa”, explica o neurorradiologista Sérgio Brasil Tufik, que tem doutorado pela Unifesp e se especializa em administração pela Universidade de Yale, nos EUA.
O pesquisador apresentou dados de pesquisa sobre a SRVAS no congresso Brain 2022, em Gramado (RS), dedicado a neurociência e comportamento. Essa síndrome tem frequência relativamente baixa no Brasil (3%), mas possui uma distribuição de casos diferente, sendo mais frequente em jovens e mulheres. Esse padrão de ocorrência é exatamente o oposto da apneia, que apesar de ter 30% ou mais de prevalência, é mais comum em homens e idosos.
“A literatura sobre a apneia obstrutiva do sono cada vez mais mostra que existe em muitos casos uma neuropatia associada, e isso não é algo que a gente vê no paciente de SRVAS”, explica Tuflk. “Existe de fato, porém, uma limitação de fluxo respiratório, e provavelmente é por um motivo anatômico e morfológico.”
É possível enxergar essa condição, ele afirma, como uma doença no “espectro” dos outros tipos de apneia, eo caso pode inclusive se agravar e passar para a apneia clássica.
MALES PARALELOS
Um outro tipo de quadro que tem ganhado uma visão diferente dentro da medicina do sono é a ocorrência simultânea de apneia obstrutiva e insônia crônica nas mesmas pessoas. Essa combinação é descrita na literatura pelo acrônimo COMISA (Comorbidade de Insônia e Sono com Apneia).
Apesar de, isoladamente, essas duas condições serem bem conhecidas, quando acometem ao mesmo tempo uma única pessoa o tratamento precisa ser mais cuidadoso, para que a solução para um dos males não agrave o outro. A atenção à COMISA se justifica pela sua prevalência.
“Os estudos mostram que de 39% a 58% daqueles com apneia obstrutiva do sono têm também insônia. Do outro lado, de 29% a 67% dos pacientes com insônia têm algum grau de apneia obstrutiva”, afirma Luciano Drager, professor do Departamento de Clínica Médica da USP.
Segundo o médico, tratara insônia antes da apneia em geral é a melhor estratégia, porque facilita o período de adaptação ao CPAP, aparelho usado para tratar a apneia.
Outros transtornos que têm atraído uma atenção particular na ciência do sono estão no campo das “parassonias”, que incluem sonambulismo e terror noturno. Muitas crianças que têm sono perturbado, por exemplo, não se enquadram dentro do quadro típico de “síndrome das pernas agitadas”, porque apresentam movimentação de todo o corpo durante a noite e o transtorno parece ter origem diferente, como deficiência de ferro.
Segundo Gustavo Moreira, pesquisador do Instituto do Sono da Unifesp, o diagnóstico adequado da condição requer uma videopolissonografia (monitoramento com filmagem), e o tratamento é diferente, podendo envolver suplementação de ferro.
SEXÔNIA
Uma parassonia rara tem atraído a atenção dos pesquisadores da área porque pode deixar os pacientes muito perturbados. A “sexônia”, que consiste em masturbação ou comportamento sexual durante o sono profundo, frequentemente resulta em ferimentos nos portadores ou em seus parceiros de cama, explica Monica Levy Andensen, professora da Unifesp que palestrou sobre o tema no congresso. Segundo Drager, da USP, a descrição de novas doenças na medicina do sono pode ajudar a direcionar pesquisa e tratamento, mas tem que ser criteriosa.
“É preciso mostrar que um conhecimento énovo e tem relevância. Não adianta ficar criando doenças, se elas não têm impacto”, diz o médico. “Eu não falo para um paciente “você tem COMISA”. Isso é jargão científico. É necessário explicar para o paciente que ele sofre de uma associação de doenças, usando termos adequados. A linguagem para o público precisa ser muito clara.”
Se a descrição de mais tipos de distúrbios do sono pode confundir o público e os médicos generalistas, por outro lado, uma descrição mais detalhada do problema que cada paciente enfrenta permite ajustar melhor o tratamento. Para os médicos, essa movimentação nas pesquisas da área faz parte da promessa geral da “medicina personalizada que nem sempre consegue se materializar.
“Se o indivíduo tem o problema, ele tem que saber que é vítima da doença”, diz Levy Andersen.
Segundo a pesquisadora, quando o mal é bem diagnosticado o médico tem uma condição melhor de tratar o paciente, seja com drogas especificas, que precisam ser administradas com cautela, ou com psicoterapia.
Entre os muitos impactos da pandemia há um inusitado: o aumento da procura por procedimentos no nariz. Na era de selfies e das infinitas reuniões pelo Zoom, as pessoas passaram a se “ver” mais e se incomodar com as imperfeições. A novidade é que o crescimento de demanda trouxe a reboque técnicas que possibilitam essas melhorias estéticas sem a necessidade do bisturi.
“Há um aumento crescente na procura por procedimentos não cirúrgicos para modificar a aparência a região do nariz. Os principais são a aplicação de ácido hialurônico e a colocação de fios de PDO”, diz o dermatologista Fabiano Leal, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro (SBDRJ).
A aplicação de ácido hialurônico na região é chamada de rinomodelação. As regiões mais frequentes para injeção são o dorso do nariz, a ponta e as laterais. A técnica é indicada para quem tem assimetrias e imperfeições leves no perfil, como aquele ossinho “saltado” que incomoda ou a ponta caída. A intervenção dá um aspecto mais empinado e sem ondulações.
A utilização de preenchedores para alterar o formato do nariz se popularizou com o surgimento do ácido hialurônico. Em seus primórdios, as injeções modeladoras eram realizadas com o polimetilmetacrilato (PMMA), substância definitiva que pode causar muitos problemas, enquanto o ácido é pouco alergênico e reabsorvível pelo organismo.
Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps), o preenchimento com ácido hialurônico está em segundo lugar no ranking de procedimentos não cirúrgicos no Brasil, atrás apenas do botox.
LIFTING COM FIOS
Outra opção minimamente invasiva é o lifting de nariz, que confere uma forma empinada por meio da colocação de fios de PDO (polidioxanona). Antigamente, eram utilizados fios permanentes, mas, segundo Leal, isso não acontece mais. O PDO é uma fibra sintética biocompatível e absorvível pelo organismo. Tanto a rinomodelação quanto lifting são realizados em consultório, em cerca de uma hora. É possível retomar as atividades em seguida. A duração do efeito varia de 12 a 18 meses. Após esse período, é preciso voltar ao consultório para retocar.
Apesar de reversíveis e temporários, esses procedimentos não são isentos de riscos. O maior perigo após a injeção de ácido hialurônico é a obstrução da circulação, que pode levar à necrose. No lifting, há a possibilidade de rejeição ao fio.
Por isso, o ideal, é que sejam feitos por um profissional bem capacitado, de preferência um médico cirurgião plástico ou dermatologista, que conheça a anatomia da região e também saiba lidar com possíveis complicações.
“As complicações estão aumentando muito em número e isso é preocupante. Vemos desde pacientes com danos cicatriciais até pessoas que perderam o nariz e tiveram que colocar prótese. Problemas podem acontecer com todo paciente e profissional, mas o médico, em especial dermatologista ou cirurgião plástico, é a pessoa mais habilitada a realizar o procedimento com menor risco e reverter possíveis complicações”, ressalta Leal.
Em muitos casos, os procedimentos minimamente invasivos funcionam como uma “ponte” para a cirurgia definitiva, a chamada rinoplastia. Isso ocorre tanto devido ao seu efeito temporário quanto por ser limitado. Por exemplo, quem deseja reduzir o tamanho do nariz, seja da base ou do próprio ossinho, ainda precisa recorrer à faca. Há também quem prefira um resultado definitivo, sem a necessidade de retoques periódicos.
“É muito comum atendermos pacientes que buscam a cirurgia porque fizeram a rinomodelação, mas não tiveram o resultado esperado ou porque querem uma solução definitiva”, diz o cirurgião plástico Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS).
Enquanto no Reino Unido, o número de rinoplastias despencou de 4.878 em 2013 para 1.330 em 2021, entre os brasileiros a procura só aumenta. Dados da última pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (Isaps) mostram que o Brasil é o segundo país que mais faz procedimentos estéticos, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo a Academia Brasileira de Cirurgia Plástica da Face (ABCPF), a cirurgia de nariz foi o procedimento cirúrgico facial mais executado em 2020.
Entre as mulheres, o pedido mais comum é por um nariz mais fino e delicado. Já os homens querem um desenho simétrico, mas sutil e natural, que não fique arrebitado nem deixe evidências da cirurgia. Todos hoje buscam fugir de um visual estigmatizado, que deixa nítida a realização da intervenção.
“A gente sempre fala que um bom resultado na cirurgia plástica no nariz não é um nariz perfeito, de anjo. É um nariz que seja natural, ou seja, que esteja em simetria junto com a face do paciente. Isso faz com que essa cirurgia seja uma das mais difíceis e trabalhosas”, diz o cirurgião plástico José Octávio Gonçalves de Freitas, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Regional de São Paulo.
Os riscos da rinoplastia incluem os mesmos de outras cirurgias, como necrose, infecção e comprometimento da respiração. Além da estética, os profissionais buscam melhora na parte funcional do nariz. Isso pode envolver a correção de desvio de septo, retirada de carne esponjosa, entre outras intervenções.
AFASTAMENTOS POR TRANSTORNOS MENTAIS CRESCEM 30% DESDE 2020
Segundo pesquisa, empresas devem gastar até o fim do ano R$ 5 bilhões com licenças médicas por saúde mental
Uma pesquisa realizada pela startup Closecare, focada em gestão de atestados médicos e saúde corporativa, mapeou a realidade da saúde mental nos ambientes de trabalho e identificou um crescimento de 30% em afastamentos motivados por transtornos desse tipo desde 2020, sobretudo em empresas de atividades administrativas. O levantamento analisou cerca de 480 mil atestados médicos cadastrados na plataforma entre janeiro de 2020 e abril deste ano, reunidos de 16 companhias que usam o serviço, de setores e portes variados. Na análise, foram avaliados quadros específicos – episódios depressivos, ansiedade e estresse -, a partir de pedidos de afastamento baseados na categoria P da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), referentes a transtornos mentais e comportamentais.
No primeiro ano da pandemia de covid-19, esse tipo de solicitação representava 3% do total, passando para 3,5% no ano seguinte e 3,9% já nos primeiros meses deste ano. A pesquisa observa que, “apesar da baixa incidência, os atestados deste grupo oferecem alto risco para as empresas e evidenciam a gravidade do problema para os funcionários”. De fato, as doenças psicoemocionais são a terceira maior causa de afastamento do trabalho no Brasil – que atingiu recorde de concessão de auxílio-doença em 2020 – e será a principal até 2030.
Embora a quantidade de justificativas seja menor do quede outras condições, o tempo médio de afastamento por saúde mental costuma ser de seis dias – período 28% superior à indicação padrão para outras doenças. No caso dos atestados de ansiedade, o distanciamento do trabalho passou de 3,3 dias, em 2020, para 4,7 dias, em 2022, um aumento de 42%.
“No geral, empresas com atividades intensivas, como serviços, varejo e call center, têm número de atestado superior ao de uma empresa administrativa ou de tecnologia. Mas o de saúde mental aparece mais em empresas de atividades menos intensas, como escritório de advocacia, tecnologia, multinacionais e empresas com salário médio mais alto”, diz André Camargo, CEO da Closecare.
IMPACTO NO ORÇAMENTO
Segundo cálculos da Closecare, cada afastamento custa, em média, R$1.293 para as empresas e o gasto com pedidos motivados por questões de saúde mental deve chegar a R$ 5 bilhões até o fim do ano. “Se o atestado estiver dentro de determinadas regras, a empresa tem de abonar essa falta”, diz Camargo.
Ele conta que o cálculo considerou a renda mensal média do brasileiro de R$2.449, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de outubro de 2021, e o acréscimo de encargos. Foi possível estimar a taxa média de absenteísmo e o custo ao longo do ano. Uma limitação da pesquisa é que 30% dos atestados não apresentam o código de classificação da doença por omissão do colaborador, reflexo da crença de que ele seria prejudicado pela condição de saúde.
Os dados revelam relatório do governo sobre a concessão de benefícios trabalhistas por transtornos mentais entre 2012 e 2016. No período, os trabalhadores ficaram, em média, 196 dias afastados, gerando um impacto de quase R$ 8 bilhões com auxílios-doença e aposentadorias, além de um custo médio de quase R$12mil por benefício.
ESTIGMA
“A saúde mental ainda é muito estigmatizada. É o momento de as empresas darem um passo atrás e ver qual é a maturidade para lidar com o assunto”, diz Ubaldo Fonseca Júnior, diretor médico de Saúde, Qualidade de Vida e Analytics da Aon Brasil e membro do comitê técnico da Aliança para a Saúde Populacional (ASAP). Ele diz que os afastamentos vão além da questão orçamentária e impactam as equipes. “Se não tem diretrizes para implantar, os que ficaram vão naturalmente assumir outras atividades e deixar de lado a vida pessoal.”
Quando isso ocorre, as estratégias para não sobrecarregar os profissionais são diversas. “Tem de entender onde tem maior ou menor intensidade de afastamento e readequar a força de trabalho”, sugere Eduardo Marques, conselheiro da ASAP e diretor-executivo de pessoas, suporte e operações do Grupo Fleury, que salienta a importância de repor as vagas, mesmo que com profissionais temporários, para não causar outro problema para quem está tentando compensar o trabalho. “A mudança de perfil da alta liderança é muito importante para conseguir, nos próximos anos, mitigar os impactos à saúde física e emocional.”
DADOS GUIAM DECISÕES
Se o lado subjetivo da saúde mental não convence, os números indicam a realidade e o caminho a ser trilhado. “Tem muito ‘produto de prateleira’, empresas vendendo soluções, mas não adianta comprar solução se não se sabe qual é o problema. A primeira parte é investir em bom diagnóstico, demografia, saber as condições de saúde da sua população para investir de modo mais inteligente”, diz Marques, destacando ferramentas que mensuram ausências e nível de saúde mental, por exemplo, para guiar decisões corporativas em prol do bem-estar.
“A companhia pode entender que a ansiedade é falta de exercício físico, má saúde financeira.” O médico da Aon Brasil completa que é preciso criar uma cultura empresarial em que se consegue estratificar os riscos das pessoas, entender as principais demandas e ter espaço aberto para escuta. “O mais importante é como a organização se posiciona no pilar de saúde mental, com dados, soluções, suporte”, diz. Ele aponta que o cuidado virtual, com uso da telepsicologia, também ajuda. No campo preventivo, ele tem visto companhias abrindo espaço de discussão e coaching executivo, além de plataforma de educação para sensibilizar sobre o tema.
Na Closecare, André Camargo observa que o fluxo de atestados é utilizado pelas empresas para convidar os colaboradores a participar de programas ou ações de saúde mental com psicólogos e psiquiatras, por exemplo. Há também grupo de acompanhamento como estratégia de ação dos RHs. “São dois fatores que incentivam a empresa a amadurecer: o gasto cada vez maior com plano de saúde e o aumento dos números de afastamento, que a empresa tem de ter time maior para suprir essa falta”, aponta.
Faz muito tempo. Um grupo de teatro local apresentava uma peça. Era um texto para paladares exigentes, só que a única coisa que a plateia queria era gargalhar e voltar cedo para casa, ou seja, não estava sendo atendida. A peça era dramática e com um texto infinito – e meio chato. Alguém na terceira fila tossiu porque precisou tossir. Alguém na quinta fila tossiu também, porque o primeiro tossiu: é contagioso. Alguém na última fila tossiu de sacanagem. E aconteceu. A plateia inteira começou a tossir. Era um novo tipo de vaia. Cerca de 40, 50, 60 pessoas tossindo de propósito e ao mesmo tempo. Ninguém mais conseguia escutar o que estava sendo dito no palco. Os atores foram linchados sem derramamento de sangue.
Estar em grupo é um conforto, mas também é um perigo. Podemos cantar juntos durante um show, rezar juntos durante uma missa, mas também podemos odiar juntos, ser vulgares juntos, fazer besteira juntos. Deixamos de ser um indivíduo responsável pelos próprios atos para nos transfigurar numa massa espessa sem identidade – “todos” e “nenhum” se confundem.
Quem é você em meio a tantos? A camuflagem autoriza o despertar da besta-fera.
Antes de se deixar levar pela horda, valeria a pena se perguntar: se eu estivesse sozinho, faria o mesmo?
Se você estivesse sozinho, teria praticado bullying contra a gordinha do colégio?
Se você estivesse sozinho, teria experimentado aquela droga pesada?
Se você estivesse sozinho, teria partido para cima do torcedor do time rival?
Se você estivesse sozinho, teria saqueado o caminhão tombado no meio da estrada?
Se você estivesse sozinho, teria tacado fogo no ônibus?
Se você estivesse sozinho, teria humilhado o calouro da universidade com aquele trote?
Se você estivesse sozinho, teria amarrado aquele cachorro no cano de descarga de um carro?
Diversão é um conceito muito elástico. Para arrancar algumas risadas, nos tornamos idiotas. Para ser aceito no grupo, somos capazes de infringir leis. Para demonstrar que não temos medo, desafiamos perigos e corremos riscos tolamente, misturando-nos a ogros sem consciência. Corajoso é quem interrompe a onda destrutiva, não faz quórum para as estupidezes alheias e continua agindo como agiria se estivesse sozinho, sem o respaldo da massa.
Ninguém é mais criança. Um adulto que se mete em encrenca para depois alegar “foi ele que começou” está apenas se escondendo atrás do slogan dos covardes.
CAMINHAR PODE PREVENIR DOR NO JOELHO DE QUEM TEM ARTROSE
Estudo aponta que praticantes do exercício tiveram menos desconforto, sendo uma solução mais fácil e barata que remédios
Um novo estudo promissor sugere que caminhar pode evitar a dor no joelho para pessoas com osteoartrite (artrose). Os pesquisadores entrevistaram mais de mil pessoas com 50 anos ou mais com esse problema no joelho, o tipo mais comum de artrite nos Estados Unidos. Alguns tiveram dor persistente no início, enquanto outros não.
Após quatro anos, aqueles que começaram sem dores frequentes no joelho e caminharam para se exercitar tiveram menos probabilidade de experimentar episódios regulares de rigidez ou dores ao redor dos joelhos e tiveram menos danos estruturais nessa articulação.
O estudo sugeriu que as pessoas com artrose no joelho que têm pernas tortas podem se beneficiar particularmente da caminhada.
A pesquisa demonstra o potencial de uma maneira fácil – e graru1ta – de combater um dos culpados mais comuns da dor no joelho entre adultos mais velhos.
As descobertas representam “uma mudança de paradigma”, disse Grace Hsiao Wei Lo, professor assistente do Baylor College of Medicine em Houston e principal autor do estudo.
“Todo mundo está sempre procurando algum tipo de droga. Isso destaca a importância e a probabilidade de que as intervenções para a osteoartrite possam ser algo diferente, incluindo o bom e velho exercício.
O exercício pode ajudar a controlar a osteoartrite em outras articulações, acrescentou ela, como nos quadris, mãos e pés.
A osteoartrite, às vezes chamada de artrite de “desgaste” afeta mais de 32,5 milhões de adultos nos EUA e ocorre quando a cartilagem da articulação se rompe e o osso subjacente começa a mudar, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. O risco de desenvolver a doença aumenta com a idade, e cerca de um terço das pessoas com mais de 60 anos têm o problema no joelho, disse Lo.
No Brasil, a osteoartrite é responsável por 7,5% de todos os afastamentos do trabalho; é a segunda doença entre as que justificam o auxílio-inicial, com 7,5% do total e éa segunda também em relação ao auxílio-doença (em prorrogação) com 10,5%; é a quarta a determinar aposentadoria (6,2%).
TRATAMENTO
Muitos pacientes tomam anti-inflamatórios como ibuprofeno ou naproxeno pata tratar a dor, acrescentou a professora, o que pode levar a problemas renais e úlceras em grandes doses. Em vez disso, elas podem recorrer ao exercício.
Durante décadas, os especialistas em saúde viram a caminhada, principalmente como uma forma de melhorar a saúde cardiovascular, afirma Elaine Husni, reumatologista da Cleveland Clinic, que não participou do estudo. Nos últimos anos, porém, os médicos procuraram exercidos de baixo impacto para tratar condições como depressão, comprometimento cognitivo e osteoartrite leve.
O novo estudo mostra que a caminhada também pode atuar como uma medida preventiva e sugere que as pessoas que correm maior risco de desenvolver a doença deveriam incorporar uma caminhada regular em sua rotina.
Por exemplo, a própria pesquisadora conta que, com base em suas descobertas, deveria andar mais, pois sua mãe tem osteoartrite.
O estudo começou em 2004 e documentou a dor no joelho dos participantes, usando radiografias para avaliar sua osteoartrite. Os pesquisadores então pediram aos pacientes que documentassem seus hábitos de exercício e revisassem seus sintomas em visitas regulares de acompanhamento, perguntando com que frequência seus joelhos doíam. Após quatro anos, 37% dos participantes do estudo que não caminharam para se exercitar (sem contar uma ida ocasional ao metrô ou ao supermercado) tiveram dores no joelho novas e frequentes, em comparação com 26% que caminharam.
É claro que os pesquisadores não podem dizer definitivamente que caminhar evitou a dor no joelho e não pareceu diminuir a dor existente. As autoavaliações podem ser menos precisas do que rastreadores de condicionamento físico ou contadores de passos. E os pesquisadores não rastrearam a distância ou a frequência com que as pessoas caminharam, nem recomendaram estratégias de como e quando as pessoas com osteoartrite devem incorporar a caminhada em suas rotinas de exercícios.
AÇÃO BENÉFICA
Ainda assim, os resultados reforçam o que os médicos já sabem sobre como gerenciar a osteoartrite. O movimento consistente pode ajudar a criar massa muscular, fortalecendo os ligamentos ao redor das articulações, explica Husni. Caminhar é um exercício de baixa intensidade e baixo impacto, permitindo que as pessoas mantenham a força e a flexibilidade que são essenciais para articulações saudáveis, acrescentou.
“É uma intervenção que qualquer um pode fazer. Você não tem desculpa. Pode andar em qualquer lugar que estiver”, diz Husni.
Aqueles que já estão com dor devem ter cuidado para não exagerar no exercício, alerta Justen Elbayar, especialista em medicina esportiva do Departamento de Cirurgia Ortopédica da NYU Langone Health. Caminhar longas distancias pode exacerbar as dores em alguns pacientes com artrite grave, disse ele – no entanto, para aqueles com quadros mais leves, “é um dos melhores exercícios que você pode fazer”.
Ele recomenda que as pessoas comecem com uma caminhada pequena e curta, aumentando gradualmente a distância ao longo do tempo. O objetivo do exercício é fornecer suporte muscular a um joelho artrítico, disse ele, e permitir que as articulações, tendões e tecidos se acostumem atividade.
Ele também sugeriu usar calçados adequados, beber bastante água durante uma caminhada e descansar frequentemente se estiver cansado. Depois de uma longa caminhada, colocar gelo no joelho também pode ajudar a aliviar o desconforto.
Enquanto um passeio pela rua não pode reparar a cartilagem ou remediar a dor existente, o exercício oferece uma opção atraente e acessível.
REMÉDIO PARA DIABETES REDUZ 21% DO PESO, MOSTRA ESTUDO
Medicamento, já aprovado nos EUA para diabéticos, é saudado como um divisor de águas na luta contra a obesidade
Um medicamento aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, para tratamento da diabetes tipo2 no último mês pode se tornar uma importante arma contra a obesidade e chegar em breve ao Brasil. Segundo a farmacêutica EIi Lilly, que desenvolveu a tirzepatida, o aval para uso da droga já foi solicitado a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e, se aprovado, pode estar disponível em meados de 2023.
Os resultados dos testes clínicos para avaliar a eficácia no emagrecimento comprovaram uma redução de até 21% do peso corporal de participantes com cerca de 104,8 kg. Procurada, a Eli Lilly afirmou que os resultados da tirzepatida para diabetes tipo 2 e obesidade são “sem precedentes”, e ressaltou que o medicamento é testado ainda para doença hepática não alcoólica e insuficiência cardíaca. O Brasil é um dos países que fazem parte dos estudos clínicos, com cerca de 1.800 participantes nas quatro frentes.
A constatação sobre os efeitos para a perda de pesofaz parte da fase 3 dos testes clínicos, conduzidos pela empresa para avaliar o tratamento especificamente contra a obesidade. Para isso, foram incluídos 2.539 participantes adultos não diabéticos com IMC de 30 para cima, ou a partir de 27 que tivessem também uma outra complicação de saúde relacionada ao peso.
Eles foram divididos em quatro grupos. Um recebeu placebo (para comparação) e os outros três dosagens diferentes do medicamento: de 5 mg, 10 mg e 15 mg. A intervenção durou 72 semanas – cerca de um ano e meio – período em que os participantes também realizaram dietas e atividade física.
No final, todos aqueles que receberam o medicamento apresentaram uma redução no peso consideravelmente maior que a do grupo placebo. Em média, a diminuição foi de 1% do peso corporal (16,1kg) no grupo de 5mg da tirzepatida; 19,5% (22,2 kg), no de 10mg; 20.9% (23,6 kg), no de 15mg, e apenas 3,1% (2.4 kg) no grupo de controle.
O estudo mostrou ainda que a proporção de pessoas que tiveram uma redução de ao menos 5% do peso corporal foi de 85% no grupo de 5mg da tirzepatida; 89%, no de 10mg; 91%, no de 15mg e somente 35%, no placebo. Além disso, metade dos participantes da dosagem média do remédio (10 mg) tiveram ao menos 20% de diminuição no peso – e apenas 3% no de controle.
COMO FUNCIONA
A tirzepatida atua no organismo imitando a ação de hormônios que estimulam a produção de insulina e promovem a sensação de saciedade. Ela é aplicada por meio de uma injeção subcutânea semanal.
Durante os testes que avaliaram a eficácia para a obesidade, os pesquisadores destacaram também melhorias em medidas cardiometabólicas. Já em relação aos efeitos colaterais, não houve relatos graves, sendo náusea, diarreia e constipação leve ou moderada, as reações mais comuns – especialmente observadas na dosagem mais alta.
O estudo foi publicado na revista cientifica The New England Journal of Medicine. Em comunicado, uma das pesquisadoras responsáveis pelos testes defendeu que os resultados são “um importante passo à frente na potencial expansão de opções terapêuticas eficazes para pessoas obesas”.
Estimativa do Atlas Mundial da Obesidade de 2022 indica que, no Brasil, 29.7% da população adulta viverá com a obesidade em 2030. Entre as crianças, a cifra é de 22,7% da população entre 5 a 9 anos, e 15,7% entre 10 a 19 anos.
ESTUDO DE PSICÓLOGOS DE HARVARD ASSOCIA DIVAGAÇÃO A TRISTEZA
Nossa mente vagueia entre passado e futuro, imaginando o que poderia ter sido, antecipando acontecimentos, que muito provavelmente, nunca ocorrerão, além de elaborar fantasiosas narrações. O padrão mental é criar pensamentos aleatórios, espontaneamente à parte do que fazemos e das circunstâncias.
Alguns exemplos são típicos em doenças mentais, como as ruminações melancólicas, características da depressão; as obsessões, identidade do transtorno obsessivo compulsivo; o sonhar acordado, comuns aos que têm transtorno de déficit de atenção. Em pessoas livres destas enfermidades, as consequências dos raciocínios intrusos podem ser mínimas, nem perturbam o propósito. Ou não…
Às vezes, flagramos nossa mente distante por um tempo surpreendentemente longo. Resignados ou inconformados, não evitaremos essa repetição. A procrastinação e a impulsividade, causas frequentes de frustração e desgosto, são consequências dessa falha cognitiva a incompetência em conectar o pensamento à ação contemporânea. Um fracasso do autocontrole.
Mesmo mais brandamente, a divergência entre o pensar e o agir gera tristeza. Algumas tradições filosóficas e religiosas ensinam que a felicidade reside no presente, desta forma seus adeptos são incentivados a reconhecer as divagações mentais e concentrarem-se no aqui e agora.
Essas práticas sugerem que uma mente errante é uma mente infeliz. Mas este princípio é verdadeiro e pode ser testado objetivamente?
Questões complicadas como estas são um convite à divagação. Felizmente, alguns curiosos e persistentes foram à obra, especificamente, em 2010, na Faculdade de Psicologia da Universidade Harvard.
Eles enviaram perguntas, várias vezes e ao acaso, aos celulares de 2.250 voluntários. O mote era descobrir o que faziam, se o que estavam pensando era pertinente ao momento e como se sentiam.
As conclusões obtidas deste clássico estudo: os participantes estavam menos felizes quando a mente vagueava, não importa se a atividade era agradável ou desagradável e se o pensamento transcorria sobre tópicos prazerosos ou não. A divagação da mente era a causa da tristeza, e não sua mera consequência.
Então, a chave do sucesso e da felicidade é o controle voluntario da mente, o fim dos devaneios? Desiludo o meu esperançoso leitor, não é possível alcançar esse objetivo.
Os pensamentos errantes ocupam muito do nosso tempo, por serem um aspecto normal da condição humana, um notável efeito da evolução que nos possibilita aprender, raciocinar, planejar e formatar a metacognição. A viagem mental de eventos passados às possibilidades futuras nos ajuda a integrar experiências e a antecipar consequências. Sem falar que essas divagações ajudam a enfrentar a chatice de tarefas monótonas, já que adicionam intervalos reparadores.
A experiência humana da consciência é fluída, raramente restringe-se a um único tópico por um período extenso, sem desvios. Sua natureza é dinâmica. Alguns raciocínios que surgemdurante o divagar tendem a orbitar algumas pendências pregressas e podem trazer momentos “Eureca”, que talvez não seriam alcançados durante a exaustiva busca por uma solução.
Impasses mentais acontecem e, por vezes a concentração humana se desvia do obstáculo. A razão, então, automaticamente se envolve com outra atividade, cuidando de temas aleatórios.
O problema fica incubado, submerso a nossa consciência. O que acontece durante o período de incubação é um mistério, não sabemos aquilo que se passa em subsolo cerebral. Mas em meio à diversidade de pensamentos erráticos, uma solução pode ser achada.
Imerso em pensamentos e sentimentos, alguém pode perder-se em devaneios. Porém, as simulações mentais podem revelar aspectos da realidade. A diversidade dos pensamentos fortuitos, e não o foco em uma ideia repetitiva, é um determinante da criatividade.
COMO USAR E LIMPAR DA FORMA CORRETA A PANELA ANTIADERENTE
Existem regras simples, mas fundamentais para não arranhar o Teflon e preservar o utensílio por até cinco anos
Tudo começou quando eu estava tentando ter uma boa ideia de presente para o meu filho. Como ele virou um verdadeiro chef das panquecas, resolvi optar pela compra de uma frigideira.
Meu filho recebeu o presente com mais entusiasmo do que eu esperava. Alguns dias depois, peguei a panela emprestada e fiz 89 panquecas de batata para uma reunião. Os convidados estavam felizes, mas a frigideira ficou totalmente queimada.
Molhei ela e esfreguei com escovinha de plástico, como sugerido, mas, ainda assim não deu certo. Antes de avisar meu filho, pesquisei na internet sobre como limpa-la Para minha surpresa, descobri que tenho usado panelas antiaderentes de maneira errada nas últimas três décadas – na verdade, desde que comecei a cozinhar. Então, vou compartilhar o que aprendi
O Teflon é o produto patenteado feito pela DuPont, mas a maioria das pessoa usa o termo geneticamente para se referir a todas as panelas antiaderentes.
“Muita gente compra panelas e não lê as instruções”, afirma Reed Winter, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Nordic Ware, fabricante de utensílios domésticos.
Eu deveria ter “pré-temperado” a panela, usando uma toalha de papel com um pouco de óleo para enxaguar e secar a superfície.
LUBRIFICAÇÃO
Apesar do nome, a maioria das panelas precisa de algum tipo de lubrificante. É bom esfregar cerca de uma colher de chá de óleo ou manteiga, na panela fria toda vez que for usá-la, disse Winter. Mas não despeje óleo ou manteiga na panela e depois jogue o alimento sobre ele ainda frio:
“Então o óleo não está aderindo à panela, mas sendo absorvido pela comida”, explica. Ou seja, não só você terá panquecas encharcadas, como depois elas começarão a grudar.
E os sprays de cozinha? Costumo colocar alguns esguichos nas minhas frigideiras antiaderentes. Mas me informaram que isso também não éuma grande ideia. Depois de um tempo, o acúmulo nas áreas onde o calor não queima o spray – como nas laterais da frigideira – torna-se pegajoso.
Winter disse que é a lecitina de soja no spray que causa essa viscosidade. Em vez disso, ele recomenda apenas usar óleo ou um spray que também contém farinha.
Para a devida checagem, entrei em contato com a DuPont, fabricante do Teflon, e uma porta-voz disse em um e-mail que, “é aceitável” usar sprays de cozinha antiaderentes, embora ‘não seja necessário”. E um porta-voz da ConAgra foods, empresa que fabrica o spray PAM, disse: “Você deve verificar com o fabricante das panelas” para ver se é seguro.
Outra coisa que eu não deveria ter feito é colocar a panela em fogo alto. Altas temperaturas fazem com que o revestimento rache e nem mesmo cozinhe a comida. A comida tende a ser parcialmente queimada.
“Usar um calor mais baixo significa que tudo ficará perfeito”, afirma Winter.
Além disso, não use objetos metálicos ou pontiagudos para mexer ou virar os alimentos, pois isso pode perfurar o revestimento.
LIMPEZA
Quanto à limpeza, esfregue com uma esponja de plástico comum – nunca lã de aço. Em seguida, recorra ao bicarbonato e água quente. Depois use vinagre e água. Fica melhor, mas não éperfeito.
Embora eu não costume colocar minhas panelas na máquina de lavar louça, fiz como um último esforço na tentativa de limpá-las – outra má ideia. A maioria dos especialistas com quem conversei disse para lavar as panelas antiaderentes à mão, porque o calor alto e os detergentes fortes podem destruir os revestimentos.
No fim da história, a panela do meu filho parece, digamos, bem usada. Mostrei a ele e pedi desculpas. Ele aceitou com boa vontade.
Mais algumas dicas: armazene suas panelas e frigideiras adequadamente, disse Mariette Mifflin, que escreve sobre utensílios domésticos e eletrodomésticos. Se você as colocar uma em cima da outra, elas podem arranhar. Colocar um guardanapo entre as panelas evita esse atrito.
E perceba que você provavelmente terá que substituir panelas antiaderentes com mais frequência do que outros tipos. Uma vez que a panela descasca, você vai precisar se livrar dela.
Depende muito de quantas vezes e quão bem você as usa e limpa, mas as panelas antiaderentes raramente duram mais de cinco anos.
OUTROS UTENSÍLIOS
Mais algumas dicas sobre limpeza:
Usar a opção de autolimpeza do forno é uma boa opção, e é aconselhável fazê-lo pelo menos duas vezes por ano, conta Doug Burnett, gerente de pesquisa e desenvolvimento de produtos de cozinha da Electrolux. Caso contrário, o acúmulo de resíduos, quando incinerado, se transformará em fumaça. Nunca use produtos de limpeza químicos em um forno autolimpante. Basta um pouco de sabão e água, disse Chris Hall, presidente da Repair Clinic.com, um site que vende peças de eletrodomésticos e dá conselhos sobre reparos.
Ele compartilhou comigo seu próprio erro recente: limpar o tampo de vidro do fogão com o lado verde da esponja. “Arranhei tudo e me sinto péssimo”, conta.
Ele agora sabe que algumas esponjas são seguras para o vidro, mas isso precisa estar escrito no rótulo.
Bem, isso me fez sentir um pouco melhor sobre minha experiência com a frigideira. No entanto, acho que devo uma nova ao meu filho. Vou mostrar a ele como usá-la corretamente e ensinar outra lição de vida também – e se você der um presente, pedir emprestado e depois destrui-lo, você terá que dar um novo.
COM 4 GERAÇÕES JUNTAS, EMPRESAS BUSCAM SOLUÇÕES PARA LIDAR COM OS CONFLITOS
Inédito choque de idades no ambiente profissional desafia empresas a avançar com as diferenças ou perder produtividade
Pela primeira vez na história, quatro gerações dividem o mesmo ambiente de trabalho no mundo corporativo. E essa convivência nem sempre tem sido fácil. Ao mesmo tempo que traz diversidade de ideias, essencial para o crescimento dos negócios, o choque de idades exige que as empresas adotem estratégias e soluções para apaziguar o embate de culturas tão diferentes. De um lado, está o funcionário maduro, fiel e que prima pela estabilidade financeira e profissional. Do outro, jovens inquietos e empoderados, que buscam experiências nas relações pessoais e de trabalho, sem apego a compromissos.
Não conseguir o equilíbrio entre esses dois mundos pode resultar em prejuízos relevantes. Um estudo feito pelas consultorias ASTD Workforce Development e VitalSmarts (hoje Aspectum) mostra que, a cada 3 pessoas desperdiçam 5 horas ou mais por semana em conflitos entre colegas de diferentes gerações. Isso significa uma perda de 12% na produtividade do trabalho.
A maior parte dos conflitos surge devido a cultura de trabalho e prioridades distintas. A geração X, por exemplo, acredita na meritocracia e na hierarquia. Entrou no mercado de trabalho em busca do primeiro milhão e de reconhecimento. É motivada pela lealdade e por metas e prazos. Os millennials, ou Y, por outro lado, não gostam muito de hierarquia rígida, são mais informais e têm dificuldade de receber ordens. Já a geração Z, nativa digital, tem dificuldade com interação presencial e é resistente à escuta ativa. Acredita na ideia de experimentar várias profissões ao longo da vida. Apesar de algumas empresas estarem avançadas na adoção de medidas para absorver os benefícios dessa diversidade de pensamentos, a maioria ainda parece perdida e em busca de mecanismos para superar o desafio. Muitas acabam se concentrando tanto em formas de retenção das gerações Y e Z que terminam reféns, além de perder outros talentos.
PERDIDAS
“A maioria das empresas está perdida e não sabe como tratar esses conflitos. Os estímulos tradicionais não funcionam”, diz o presidente da Revvo (empresa de treinamento corporativo), Richard Uchoa. Segundo ele, o choque ocorre com gestores e líderes que, muitas vezes, não sabem lidar com os jovens. “A entrega de um trabalho até o fim do dia, para o mais maduro, pode ser 18 horas, mas para os mais novos pode ser 23 horas.”
Ele explica que esse tipo de conflito, por menor que possa parecer, pode ser motivo até de troca de emprego. A nova geração não tem apreço à posse e quer vivenciar experiências, o que se transforma num grande desafio para as empresas diminuírem a rotatividade. “Eles são ligados ao propósito, não têm muita tolerância e se desestimulam rapidamente.”
O diretor de Negócios Digitais da Weg ,Carlos Bastos Grillo, diz que uma das estratégias da empresa é usar o Centro de Formação de Jovens para atrair talentos e moldá-los conforme as necessidades. Mas ele destaca que sempre há um pouco de conflito. As organizações têm padrões a serem seguidos. E, para alguns, há uma certa dificuldade de se adaptar a regras. “Nessa hora é preciso ter habilidade para flexibilizar alguns padrões.”
Dos 26 mil funcionários da Weg, 74% são da geração Y e Z. Outros 25% são da geração X e 1%, baby boomers. Segundo o executivo, uma saída para amenizar o abismo entre as gerações tem sido incentivar o relacionamento entre elas. Uma forma encontrada pela empresa foi colocar profissionais seniores para trabalhar com startups, cuja visão de negócios é ágil e flexível. “A Weg cresce 20% ao ano e precisa sempre de gente nova. Então precisamos superar essa barreira.”
REJEIÇÃO
De acordo com o estudo das consultorias ASTD Workforce Development e VitalSmarts, os maiores conflitos ocorrem entre os baby boomers e millennials. E as maiores discussões estão relacionadas à rejeição de experiências passadas, falta de disciplina e foco, falta de respeito e resistência a mudanças ou falta de vontade de inovar. Mas também já se começa a perceber uma rixa entre a geração Y e Z. Não por acaso recentemente a geração mais nova apelidou a Y de “cringe”, que significa fora de moda, inadequado.
No Santander, essas duas gerações respondem por 65% dos 48 mil funcionários no País. O colaborador mais jovem tem 19 anos, e o mais velho, 74 anos. As características são muito diferentes e cabe às empresas saber contornar essa diversidade, diz a vice-presidente de pessoas da empresa, Elita Ariaz. Segundo ela, as pessoas têm vivido mais, estão produtivas por mais tempo e se aposentam mais tarde.
“Tentamos mostrar para os jovens que os mais velhos já passaram por várias crises e conseguiram encontrar caminhos para problemas complexos. As gerações Y e Z têm uma inquietude que traz um certo desconforto saudável. São questionadores, e isso é muito rico”, diz Elita. A executiva afirma que a instituição começou políticas para contornar esses conflitos. “Ainda não está pronto, mas estamos estudando programas de mentoria reversa, cursos e eventos sobre o assunto.”
SOFT SKILLS
Como dependem muito dessa nova geração, as empresas apostam em treinamentos para ensinar as chamadas soft skills. “O objetivo é abordar as novas habilidades e competências. As coisas foram tão disruptivas que forçaram todos a entender melhor isso”, diz o vice-presidente global de Gente e Cultura da Stefanini, Rodrigo Pádua.
Os 30 mil colaboradores da Stefanini podem usar uma plataforma de mentoria, como mentor ou mentorado. O objetivo é fazer uma integração de um modelo antigo, de comando e controle, que não funciona mais, para um novo, com mais autonomia e responsabilidade. Com as mudanças da tecnologia, sobretudo após a pandemia, as empresas também estão tendo de reaprender e reorganizar as estruturas. A área de tecnologia da informação, por exemplo, passou a ter métodos mais ágeis, o que exige colaboração e papéis menos rígidos. “São coisas que não tínhamos há cinco anos”, diz o diretor de Gente e Sustentabilidade da Riachuelo, Mauro Mariz. Segundo ele, a companhia tem trabalhado com squads, modelo que divide a equipe em grupos para desenvolver assuntos específicos. O executivo diz que os estranhamentos acabam sendo naturais. “Com duas gerações, era mais fácil controlar a situação, pois cada um cedia um pouco. Com quatro, o meio-termo não é uma solução. É preciso atender todos.”
Eu estava quieta, só ouvindo. Éramos eu e mais duas amigas numa mesa de restaurante e uma delas se queixando, pela trigésima vez, do seu namoro caótico, dizendo que não sabia por que ainda estava com aquele sequelado et cetera, et cetera. Estava planejando terminar com o cara de novo, e a gente sabia o quanto essa mulher sofria longe dele. Eu estava me divertindo diante desse relato mil vezes já escutado: adoro histórias de amor meio dramáticas. Foi então que a terceira componente da mesa, que é psicanalista, disse a frase definitiva: “Eu, se fosse você, não terminava. Às vezes ficamos mais presas a um amor quando ele termina do que quando nos mantemos na relação”.
Tacada de mestre.
A partir daí, começamos a debater essa inquestionável verdade: em determinadas relações, ficamos muito mais sufocadas pela ausência do homem que amamos do que pela presença dele. Creio que vale para ambos os sexos, aliás. Um namoro ou casamento pode ser questionado dia e noite: será que tem futuro? Será que vou segurar a barra de conviver com alguém tão diferente de mim? Será que passaremos a vida assim, às turras? Óbvio que não há respostas para essas perguntas, elas são feitas pelo simples hábito de querer adivinhar o dia de amanhã, mas a verdade é que, mesmo sem certificado de garantia, a relação prossegue, pois, além de dúvidas, existe amor e desejo. E isso ameniza tudo. Os dois estão unidos nesse céu e inferno. Até que um dia, durante uma discussão, um dos dois se altera e termina tudo. Alforria? Nem sempre. Aí é que pode começar a escravidão.
Nossa amiga queixosa, a da relação ioiô, perdia o rumo cada vez que terminava com o namorado. Aí mesmo é que não pensava em outra coisa. Só nele. Não conseguia se desvencilhar, mesmo quando tentava. Todas as suas atitudes ficavam atreladas a esse homem: que ria vingar-se dele, ou fugir dele, ou atazaná-lo – cada dia uma decisão, mas todas relacionadas a ele. Só quando reatavam (e sempre reatavam) é que ela descansava um pouco desse stress emocional e se reconciliava consigo mesma.
Eu nunca havia analisado o assunto por esse ângulo. Sempre achei que a sensação de asfixia era derivada de uma união claustrofóbica e a sensação de liberdade só era conquistada com o retorno à solteirice. Mas o amor, de fato, possui artimanhas complexas.
Minha amiga finalmente terminou sua relação tumultuada e hoje está vivendo um casamento mais maduro e sereno. Aquele nosso papo foi há alguns anos, mas nunca mais esqueci essa inversão de sentimentos que explica tanta angústia e tanta neura. Por que temos urgência de abandonar um amor pelo fato de ele não ser fácil? Quem garante que sem esse amor a vida não será infinitamente mais difícil? Às vezes é melhor uma rendição do que fugir de um amor que não foi vivido até o fim. Foi isso que nossa amiga psicanalista quis dizer durante o jantar: não antecipe o término do que ainda não acabou, espere a relação chegar até a rapa, e aí sim.
Nas competições esportivas, não ter agana de ser estar sempre entre os primeiros evita desgastes e impacta positivamente na resistência física, mas é preciso lidar com comparações e dúvidas sobre si mesmo
Muitos corredores são movidos pelo desejo de cruzar a linha de chegada o mais rápido possível. Sou movida pelo desejo de chegar ao final antes que os organizadores da corrida saiam.
Eu cheguei perto. Durante os últimos quilômetros da Maratona de Nova York de 2016, recebi o que parecia ser minha própria escolta policial, enquanto trabalhadores da cidade desmontavam a pista atrás de mim. A corrida foi o ponto alto da minha vida, mas estaria mentindo se dissesse que fiquei emocionado por cruzar a linha de chegada quase por último.
Em uma cultura que celebra velocidade e poder, há pouca glória em ser alguém que chega no fim. No entanto, depois de centenas de quilômetros de treinamento e dezenas de corridas de rua, estou aprendendo a conciliar meu ritmo de tartaruga com meu desejo de poder me chamar de atleta. Também estou descobrindo que pode existir uma mágica especial em deixar de lado a preocupação com os tempos. É o que a psicóloga da saúde da Universidade de Stanford Kelly Mc Gonigal chama de “alta persistência”- uma recompensa fisiológica por não desistir.
Funciona assim: quando nos movemos em um ritmo fácil a moderado por pelo menos 20 minutos, muitas veze experimentamos uma enxurrada de bioquímicos chamados endocanabinoides que são conhecidos como o “barato do corredor”. Curiosamente, alguns pesquisadores descobriram que não experimentamos esse efeito psicológico se corrermos com o máximo de esforço. Correr em um ritmo gerenciável é o que geralmente leva a essa sensação de que tudo está certo. E, no entanto, os que são mais lentos durante a corrida ainda precisam convencer os outros – e a nós mesmos – de que também somos atletas.
A cultura fitness nem sempre valoriza a persistência de corredores do último pelotão. Muitos de nós crescemos ouvindo professores de educação física que deveríamos correr o mais rápido que nossas pernas permitissem.
OBSTÁCULOS
Embora a modalidade de corridas de estrada tenha gradualmente recebido os corredores que não têm tanta velocidade, ainda enfrentamos preconceitos e obstáculos. Trocamos história de maratonas que anunciam um limite de tempo de sete horas, mas começam a retirar as mesas de água antes do que ficam sem medalhas de finalização. Corredores lentos que têm corpos maiores e3nfrentam desafios adicionais:
“Você está lá correndo, mas as pessoas ainda estão julgando que é muito lento, ou que não parece com o que eles acham que você deveria ser”, diz Kendra Dolton, maratonista.
Vários estudos sugerem que, quando as pessoas se sentem julgadas por seu peso, elas são menos propensas a se exercitar. Também sabemos que o estigma social pode causar estresse, o que pode desencadear uma enxurrada de hormônios ruins – basicamente o oposto do barato da corrida. Corredores lentos também questionam sua legitimidade. Alguns dizem que evitam compartilhar seus tempos em aplicativos de rastreamento, como o Strava, para que seus amigos não descubram seu ritmo.
“Sei que minha realização e o trabalho que fiz não são menos valiosos do que aqueles que estão correndo mais rápido. É apenas diferente”, disse Dolton. “Mas ainda penso comigo mesma, ‘será mesmo’?
BENEFÍCIOS
Costumo correr cerca de um quilômetro em 13 minutos e meio. Em corridas longas, muitas vezes corro muito mais devagar. Também corro usando o método Galloway, que incorpora estrategicamente intervalos para caminhada. Fundado pelo maratonista olímpico Jeff Galloway no início dos anos 1970, seu método de corrida-caminhada-corrida demonstrou em alguns estudos diminuir a fadiga e as dores musculares. Para mim, isso também torna a corrida uma alegria.
Ao longo dos anos, aprendi que, assim como a aceitação do corpo, a aceitação do ritmo pode vir junto da mudança do nosso foco em métricas externas e julgamentos para como realmente nos sentimos.
Justin Ross, psicólogo especializado em saúde mental e desempenho de atletas, diz que quando nos comparamos com os outros, nos colocamos em posição de sofrimento. Em vez disso, avalia que os verdadeiros benefícios psicológicos vêm de aproveitar o que seu corpo pode fazer.
Além disso, também aprendi que correr com a parte de trás do pelotão pode cultivar uma coragem mental e física que é valiosa por si só.
Há também benefícios físicos em correr em um ritmo que não parece punitivo, garante a treinadora Claire Bartholic:
“Correr com intensidade pode construir músculos, mas correr em um ritmo fácil, que é único para cada um, trabalha mais o condicionamento do coração e pulmões e o aumento da resistência”, diz.
“Quando corremos rápido, é mais provável que atinjamos nosso limite aeróbico: o momento em que nosso corpo fica sem oxigênio e começa converter fontes de energia dentro dos músculos em combustível, o que leva à fadiga mais rapidamente”;
Os cientistas do exercício sugerem correr em um ritmo de “conversação” – no qual você consegue correr e conversar. O outro benefício do teste de fala é o papo em si. Correr e conversar com outras pessoas forma a comunidade – e o vinculo social libera ainda maisendocanabinoides.
Hoje, faço a maioria das corridas com meu pai de 74 anos, que muitas vezes diminui a velocidade para mim.
ENTENDA COMO O HÁBITO DE CANTAR MLHORA A FUNÇÃO CEREBRAL
Equipe de especialistas identifica o impacto da atividade na prevenção de distúrbios como afasia ou outros associados à idade.
O professor Teppo Sãrkãmõ estuda como o envelhecimento afeta o processo cerebral do canto, que pode ter importantes aplicações terapêuticas Sãrkãmõ. explica que a ciência sabe muito sobre processamento de fala, mas não tanto sobre canto. Por isso, pesquisadores buscam entender o fato de certas funções relacionadas ao canto serem preservadas em pessoas com doenças neurológicas.
Expressar-se pode ser uma tarefa quase impossível para pessoas com afasia, doença geralmente causada por um derrame que afeta seriamente a capacidade de se comunicar, pois é muito difícil para essas pessoas articular as palavras corretas. No entanto, a aplicação de uma técnica conhecida como “terapia de entonação melódica que consiste em pedir à pessoa que cante uma frase habitual em vez de dizê-la, surpreendentemente consegue fazer as palavras saírem.
Sãrkãmõ é o coordenador do projeto PREMUS, desenvolvido em conjunto com uma associação de Helsinque, na Finlândia, dedicada à afasia. A equipe utiliza métodos semelhantes e criou um “coral de idosos”, especificamente dirigido a pacientes com afasia e seus familiares. Os cientistas também estão explorando o potencial do canto como uma importante ferramenta de reabilitação em casos de afasia e talvez para prevenir a queda cognitiva. Os resultados dos testes são promissores:
“O objetivo do nosso trabalho com pessoas com afasia é usar o canto como uma ferramenta para exercitar a produção da fala e eventualmente comunicar-se sem a necessidade de cantar. No entanto, nos coros estamos vendo o efeito que essa intervenção tem no dia a dia das pessoas como uma ferramenta essencial de comunicação”, diz Sãrkâmõ.
ALÉM DA AFASIA
Além dos corais de pessoas com afasia, a equipe fez um grande número de ressonâncias magnéticas funcionais (fMRi) do cérebro de jovens, de meia-idade e idosos que cantam em corais para descobrir porque essa atividade é tão importante em diferentes fases da vida. Os resultados indicam que, com a idade, as redes cerebrais envolvidas no canto sofrem menos alteração do que as responsáveis pela fala, o que parece indicar que o canto tem um efeito mais global sobre o cérebro e sofre menos deterioração com o tempo.
Seus estudos também mostram que é fundamental cantar ativamente e não apenas ouvir a música.
“Quando você canta, os sistemas frontal e parietal do cérebro, responsáveis por regular o comportamento são ativados, e mais recursos motores e cognitivos associados ao controle verbal e funções executivas são utilizados”, diz Sãrkãmô.
Resultados iniciais de um estudo longitudinal comparando a função neurocognitiva de membros seniores do coral e outros idosos saudáveis (que não cantavam) mostram os efeitos positivos do canto na função cognitiva e auditiva e a importância da interação social associada a essa atividade, o
que poderia retardar o início da demência.
Os membros do coral tiveram melhor desempenho em testes neuropsicológicos, relataram menos dificuldades cognitivas e desfrutaram de maior integração social. Eletroencefalogramas realizados nos mesmos grupos indicam que os membros do coral possuíam capacidades de processamento auditivo de alto nível mais avançadas que lhes permitiam, em particular, combinar informações sobre tom e localização nas regiões frontotemporais do cérebro, algo que Sãrkãmõ atribui à complexidade do complexidade do ambiente sonoro.
O próximo passo será reproduzir e estender este trabalho com corais de idosos diagnosticados com Alzheimer, bem como desenvolver um ensaio clínico em larga escala para testar os efeitos. No entanto, as dificuldades são provavelmente diferentes no caso da doença de Alzheimer: os pacientes podem se lembrar de músicas do passado, mas Sãrkãmõ não tem certeza de que eles possam aprender e lembrar novas letras.
Ele é otimista e realista sobre seu trabalho.
“Trata-se de tentar estimular as redes que permanecem ativas no cérebro. Acreditamos que o canto pode ajudar a restabelecer algumas dessas funções, embora, dada a devastadora deterioração progressiva que a doença de Alzheimer causa, a única coisa que se pode esperar é ganhar tempo e diminuir o ritmo de declínio que já estão correndo.
EXERCÍCIO PARA O CÉREBRO
Christian A. Drevon, professor de medicina da Universidade de Oslo, Noruega, éespecialista em biomarcadores e, dentro do projeto Lifebrain, está usando seu conhecimento para entender os diferentes fatores que afetam a função neurocognitiva.
“A maioria dos estudos sobre Alzheimer é transversal: você pega um grupo de pessoas, examina um momento específico e associa certas coisas com quem tem e quem não tem a doença”, explica. “No entanto, muitas vezes não há causalidade. Não se pode saber se é a causa da doença ou uma consequência dela”, ressalta o professor.
Para realmente entender como a doença de Alzheimer e a demência funcionam, você precisa de dados de pessoas antes e depois de ficarem doentes, para que possa identificar o que a desencadeou. Desvendar essa questão é o principal objetivo do projeto Lifebrain.
O professor Drevon espera que, com o tempo, essa informação personalizada possa ajudar a retardar, ou talvez erradicar, certos aspectos da demência. Enquanto isso, por que não cantar para prevenir o enfraquecimento cognitivo, como propõe Sãrkâmõ?
“O cérebro é como um músculo. Se você treina, você tonifica, como quando você usa para cantar: é uma tarefa complexa que envolve muitos processos e requer retenção. É claro que existem outras maneiras de treinar o cérebro, mas cantar é um ótimo exemplo de atividade que pode ajudar a melhorar a função cerebral”, aconselha Drevon.
SPRAY DE OCITOCINA É USADO PARA PROMOVER BEM-ESTAR E PRAZER SEXUAL
Substância é indicada para auxiliar a amamentação; não há evidências de que a versão sintética nasal funcione para o sexo
Já pensou se fosse possível instantaneamente melhorar o humor e ter uma sensação de bem-estar apenas injetando um medicamento em spray no nariz? Parece a sinopse de um filme de ficção cientifica, mas na verdade é o que algumas pessoas têm buscado ao utilizar a ocitocina, conhecida como “hormônio do amor” em spray.
Foi o que fez a nutricionista esportiva Larissa Coelho, 37. “Eu ficava irritada muito facilmente e qualquer coisa era um estopim pra mim. Então decidi usar o remédio por conta própria”, relata a paulista que atualmente mora no México. Coelho conta que, de fato, se sentia muito bem depois de usar o spray, mas acabou desistindo devido à rápida duração e um efeito colateral.
“Era muito bom, só que ardia a cavidade nasal. E piorava ainda mais porque tenho rinite”. Resolvi tentar manipular em uma dosagem maior para não ter que ficar usando toda hora. Imagina o quanto ardia? Parecia um maçarico no nariz.”
No entanto, diferente das histórias do cinema, não é recomendado buscar aumento do prazer sexual, promoção do bem-estar, ser mais sociável ou eliminar o estrese com o medicamento indicado para auxiliar na amamentação. Faltam evidências científicas que comprovem que o spray pode alterar o humor ou promover mais prazer.
A ocitocina produzida por uma região do cérebro chamada hipotálamo, afirma a ginecologista e obstetra Karla Giusti, do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or São Luiz.
“Ela é responsável por promover contrações uterinas atuando no trabalho de parto e no pós-parto, para diminuir o sangramento após o nascimento do bebê e aumentar a liberação de leite materno”, lista a especialista. Além disso, o hormônio também auxilia no metabolismo ósseo, participa do mecanismo do orgasmo, atua em relações sociais e diminui o medo.
É justamente por estar relacionada a essas situações e ser liberada quando estamos perto de alguém que a ocitocina foi apelidada de “hormônio do amor”. Junto com outros neurotransmissores relacionados à sensação de bem-estar, como serotonina, dopamina e endorfina, ela também diminui os níveis de cortisol, que éo causador de estresse e ansiedade.
Devido ao seu efeito no parto e aleitamento, cientistas desenvolveram uma versão sintética da ocitocina, para auxiliar mulheres nessas ocasiões. “Quando um trabalho de parto não progride, fazemos uma infusão de ocitocina intravenosa para induzir e ajudar a aumentar as contrações uterinas”, diz o endocrinologista Mauro Antônio Czepielewski, diretor do Departamento de Neuroendocrinologia da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
A versão em spray, por sua vez, é utilizada para auxiliar na amamentação. “Se o aleitamento não acontece do jeito ideal, seja por diminuição da sucção do bebê ou porque o mamilo é invertido, o spray de ocitocina ajuda porque gera pequenas contrações na região para eliminar o leite”, diz. Apesar de o hormônio estar associado ao bem-estar, relações sociais e ao sexo, Czepielewski alega que não há evidências suficientes para recomendar a ocitocina em spray para esses fins.
“Há uma série de questões que não são bem documentadas cientificamente e os benefícios são bastante discutíveis. Tanto que, se você for olhar a bula, nada disso está presente nela. Não existem laboratórios que tenham registrado o medicamento para esses objetivos”, afirma.
Um estudo feito por grupo de cientistas da Universidade de Viena, na Áustria, acompanhou 30 casais cujas parceiras sofriam de transtorno de desejo sexual hipoativo – uma síndrome marcada pela deficiência ou ausência de vontade de fazer sexo – por cinco meses.
Nesse período, 38 mulheres recebiam uma dose de spray nasal de ocitocina ou placebo 50 minutos antes de terem relações sexuais. Após analisar a percepção tanto delas como dos homens; os cientistas concluíram que o impacto do medicamento e do placebo na qualidade de vida e desempenho sexual foi exatamente o mesmo.
Um estudo de 2014 feito por universidades da Alemanha, China, Estados Unidos, investigou o efeito da ocitocina em spray no medo.
O experimento com 62 voluntários demonstrou que a droga teria o potencial de diminuir os estímulos de medo mais facilmente, mas que eram necessários mais estudos clínicos para bater o martelo sobre essa possibilidade. Essa é a conclusão da maioria das pesquisas feitas até hoje sobre o efeito da ocitocina sintética em spray no tratamento de transtornos psicológicos.
“Embora algumas pessoas possam usa-la para esse fim, não é recomendável pois já existe a ocitocina circulante endógena, gerada pelo próprio corpo”, arremata a ginecologista Karla Giusti.
Além de os benefícios ainda não estarem totalmente esclarecidos, ainda há o risco de sofrer com os efeitos colaterais.
“O uso indiscriminado ou excessivo pode levar a dores de cabeça, taquicardia, náusea, vômito, cólica uterina e eventualmente distúrbios gastrointestinais”, afirma a ginecologista.
“Claro que a quantidade aspirada precisa ser grande, mas temos casos descritos em que a medicação não causou o efeito que o paciente queria e, por isso, ele foi aumentando a dose até começar a sofrer os efeitos colaterais”, complementa o endocrinologista Czepielewski.
Discriminação reduz chance de alcançar alta liderança e relega profissionais a áreas de apoio
Para chegar à posição de vice-presidente da multinacional brasileira de tecnologia CJ &T e à de integrante dos conselhos de administração da Telefônica/Vivo e da Locamerica, Solange Sobral não só teve de atravessar barreiras extras por ser mulher e negra, mas também por ser mãe e atuar em uma área predominantemente masculina, a de tecnologia. A maternidade e o setor de atuação são dois dos grandes obstáculos que as mulheres enfrentam e, em muitos casos, estancam a trajetória das executivas, conforme especialistas.
“Quando você vai para alguns setores, como de tecnologia ou financeiro, e, dentro dessas áreas escolhe o ‘core business’ (atividade principal), vai rareando cada vez mais o número de mulheres. E vai ficando cada vez mais difícil você ascender nesse ambiente”, diz Solange.
A professora do Insper Ana Diniz explica que a participação reduzida das mulheres nas áreas consideradas mais estratégicas é consequência da divisão sexual do conhecimento. Se antes as mulheres ficavam em casa cuidando dos filhos e, após romper essa primeira barreira, tornaram-se professoras e enfermeiras agora é praticamente natural que a lógica do cuidado continue sendo reproduzida.
Diretora financeira e de relações com investidores da TIM Camille Loyo Faria é uma das poucas mulheres no País que quebraram essa lógica. Formada em Engenharia Química, ela fez carreira no setor financeiro. Quando jovem, sentia que sua visão diferente incomodava a maioria masculina das equipes. “Também cheguei a ouvir que havia alcançado certa posição porque estava tendo um caso com o chefe. Queriam dizer que não tinha competência.”
Hoje, Camille diz que se sente respeitada nos ambientes de trabalho, mas acredita que mulheres que cresceram em áreas tidas como mais femininas podem ter se sentido mais confortáveis com suas equipes. “Quando você está cercada de pessoas diferentes, pode haver menos empatia. Não acho que uma profissional de RH tenha menos dificuldade do que eu, mas é mais fácil lidar com as dificuldades quando se têm colegas que vivenciam as mesmas experiências.”
A executiva Vanessa Lobato, vice-presidente de varejo do Santander, diz não conhecer outra mulher que ocupe posição semelhante à sua no mercado bancário brasileiro. Vanessa começou sua trajetória na liderança como gerente de banco, foi superintendente e acabou migrando para a diretoria de recursos humanos – antes de se tornar vice-presidente de varejo.
“É como se fosse mais permitido a mulher se desenvolver nas áreas de suporte. É um viés inconsciente. É como se a mulher fosse menos capaz de lidar com números e entrega e mais capaz para lidar com contextos. Que grande bobagem”, diz a executiva, que lidera 30 mil pessoas.
Vanessa reconhece que, no comando do varejo, a maior parte da diretoria que responde a ela é formada por homens, diferentemente do que ocorria quando estava na área de RH. Na posição atual, tem trabalhado para suas equipes comprarem a pauta da diversidade de forma genuína e não tem perdido as oportunidades para mudar a cara da liderança.
“Quando uma cadeira (de diretoria) fica vazia, temos de procurar alguém com o olhar da diversidade. Não vou sair demitindo homens, mas temos de ter coragem para ter ações afirmativas”, acrescenta. “Oito anos atrás, se você me chamasse para uma reunião de diversidade, eu talvez não fosse. Mas tive o privilégio de estudar o tema, de olhar para minha vida e perceber o quanto de machismo já enfrentei. Já estive numa sala com homens que fingiram que eu não estava ali, mas, na época, eu nem percebia isso.”
Para Solange, conselheira da Telefônica e da Locamerica, projetos que estimulem mulheres a mergulhar na tecnologia e que mostrem as perspectivas que podem trazer para esses setores podem ajudar a elevar a presença feminina em áreas estratégicas. Dar espaço para as mulheres em eventos, contando suas histórias, também é importante, diz. “Tenho certeza de que, por trás de muita história das empresas de tecnologia, há mulheres fazendo a diferença. São poucas, e elas não aparecem. Mas essa é uma forma de outras mulheres verem que é possível.”
A diretora de relações governamentais do Mulheres do Brasil (grupo que trabalha na defesa dos interesses das mulheres e é liderado pela empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, Lígia Pinto, reconhece que, em algumas áreas, como as engenharias, há menos mulheres sendo formadas. Daí a necessidade de, ainda nas primeiras fases da escola, conscientizar as meninas de que elas podem estar onde quiserem.
“Homens e mulheres são diferentes e exercem a liderança de formas diferentes, mas é preciso saber, desde a infância, que é muito grave o discurso de que homem veste azul e mulher, rosa. A meninas precisam ser inseridas também nas aulas de robótica”, diz Ligia, também professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
ESTATÍSTICA INGRATA
A maternidade é apontada pelas executivas como uma das maiores barreiras para a ascensão. De acordo com Margareth Goldenberg, gestora executiva do Mulher 360 (movimento empresarial que trabalha por empoderamento feminino e equidade de gênero), é mais comum que mulheres cheguem à liderança quando não têm filhos. Isso significa que muitas precisam abrir mão das ambições pessoais para serem executivas. “Não é justo que elas tenham de optar. As barreiras da maternidade são imensas na jornada de desenvolvimento profissional. Portanto, as empresas precisam adotar práticas acolhedoras, como horário flexível.”
Ligia Pinto, do Grupo Mulheres do Brasil, conta que, em um trabalho para uma grande consultoria, observou que as mulheres da lista dos dez principais candidatos a se tornar sócios da empresa não tinham filhos. As candidatas com filhos apareciam nas últimas posições de um ranking com 40 profissionais. Isso acontecia porque a metodologia adotada para analisar os futuros sócios considerava o faturamento que os profissionais tinham conseguido gerar em 12 anos. Mulheres que haviam tirado licença-maternidade tinham faturamento zero por quatro ou oito meses; conforme o número de filhos que tinham tido.
“Eles não levavam em consideração o período de afastamento. Quando era desconsiderado o período de licença-maternidade, essas mulheres subiam no ranking e entravam de verdade na disputa pela vaga de sócia. Essa questão da maternidade é estrutural, mas esse exemplo mostra quanto até o padrão de avaliação pode ser machista”, diz Lígia.
Professora de gestão de pessoas na FGV, Vanessa Cepellos conta que muitas mulheres acabam sendo forçadas a deixar seus empregos quando têm filhos e, ao tentar retomar ao mercado, percebem que suas habilidades ficaram obsoletas. Para aquelas que conseguem permanecer no trabalho, é comum que passem a ser mal avaliadas pelos superiores por terem de dividir a atenção com as obrigações domésticas.
No caso de Solange Sobral, a ascensão profissional e a maternidade só foram possíveis porque ela teve a oportunidade de discutir com os chefes, antes da licença, como seria seu retorno. Solange conta também que o apoio da mãe e do marido foi fundamental. “Tive o privilégio de ter parceiros e filhos que entenderam que, em alguns momentos, não estaria presente porque, para me sentir completa, tinha também o lado profissional.”
A sinceridade deve sempre avaliar o tamanho do poder de reação do mentiroso que denunciamos
Muitas crianças urinam na cama, bem além do que seria razoável pela idade. Debatem-se os motivos da incontinência. Outros infantes falam o que não devem, curiosamente, porque dizem a verdade. Crianças e bêbados, já foi escrito, possuem estranho compromisso com o verídico.
Há muitos anos, uma amiga decidiu carregar um pouco na tradição familiar. Ela me disse que acabava de retornar “da fazenda” do pai. A filha que nos escutava (tinha algo como 10 anos) quase gritou “Fazenda, mãe? Aquilo não é nem sítio!”. Menina inconveniente, desagradável, pouco educada e, como descobri depois, mais exata na descrição da propriedade rural. Era mais uma casinha cercada de árvores singelas do que um latifúndio. Outro conhecido me descreveu que o filho pequeno anunciava em voz alta: o “tio chato” tinha chegado. Não sabia ainda o sincero garoto que os insultos ácidos só podem ocorrer na ausência do parente.
Em uma festa de encerramento do ano letivo, entre brindes e alivio o que nós professores temos em dezembro, um diretor exaltava todo o esforço da sua gestão. Um colega, apegado a caipirinhas frequentes, ouvia a autoridade e, tomado de boa pinga, levanta o indicador à parte inferior da mandíbula e solta o ar ruidoso, dizendo: “Tudo papo furado!”. Claro, o autor da pantomima não nos fez companhia no ano subsequente. Sim, como a criança que reduzia a fazenda ao seu tamanho matemático, o professor etílico tinha razão. Era “conversa mole” ou “diálogo para boi dormir”. Porém, as mentiras eram emitidas pelo ser no topo da pirâmide alimentar. A sinceridade deve sempre avaliar o tamanho do poder de reação do mentiroso que denunciamos. Chamamos isso de prudência, boa educação ou, no extremo, zelo pelo meu emprego.
A pessoa que abre a boca de forma inconveniente, revelando contradições e trazendo à luz inconsistências, pode ser um…boquirroto. Também se aplica o termo a quem não guarda segredo. Quando o objeto da indiscrição não somos nós, nada mais divertido do que este ser. Funciona como a criança do conto A Roupa Nova do Rei (de Hans Andersen): diz o que todos viam e tinham medo de trazer a público. O indiscreto libera demônios coletivos reprimidos pelo medo e pela inconveniência.
Platão falou do anel de Giges, o qual daria o poder de invisibilidade ao seu portador. E…se houvesse outro anel, aquele que nos obrigasse a sempre dizer o que pensamos de forma direta, sem medo de degradação moral, violência da reação ou rupturas afetivas? Seria possível a vida social ou um simples jantar entre amigos se não fizéssemos as concessões à conveniência? Uma epidemia de “boquirrotice” seria melhor ou pior do que coronavírus? Que casamento sobreviveria a uma torrente contínua de sinceridade?
Aprendi muito cedo que a liberdade de expressão, quando anunciada; é um risco. “Aqui nesta escola você pode dizer o que pensa.” “A sinceridade faz parte da nossa cultura empresarial”. “Somos íntimos, meu amigo, você pode ser sincero! “Aprendi que o cuidado deve ser redobrado diante do convite à sinceridade. Há barreiras intransponíveis, pontos cegos, muralhas impenetráveis no mundo humano. Identifico quatro entre centenas para ajudar a querida leitora e o abnegado leitor. Sinceridade sim, uma virtude, que deve ser pesada e ponderada muitas veres diante dos seguintes obstáculos : a) o objeto da sinceridade é filho da pessoa que demanda a verdade; b)quem pede para dizer tudo possui poder acima do meu, na hierarquia do estabelecimento; c)a pergunta envolve uma crença fundamental da pessoa (religião, por exemplo) e, por fim, d) o pedido de sinceridade é apresentado com sinais ambíguos e, sim, faz parte de um desejo mais profundo de não ouvir.
Na infância, diante de uma nova pomada, minha mãe tinha um procedimento intuitivo com algum respaldo científico. Ela passava um pouco em uma área pequena. Depois, vendo que não dava reação, colocava as quantidades generosas que eram demandadas. Talvez seja um bom guia diante do pedido de ser sincero total: vá revelando aos poucos a sinceridade e avaliando o efeito. Já conheci pessoas psicanalisadas e maduras que podem ou, quaisquer coisas. Na verdade, duas, em quase seis décadas de vida.
“Leandro”, acho horrível este conselho! Eu digo a verdade na hora em que ela for pedida. “Minha iluminada amiga e meu onisciente amigo: invejo-os. Se você diz o que quer, na hora que deseja, você tem uma ou todas as seguintes características: riqueza extrema, poder político enorme, tamanho físico intimidador, equipe de segurança numerosa, total estabilidade afetiva, autonomia diante do mundo, saúde plena e coragem épica. Sem nenhuma das oito características anteriores, eu, humilde mortal, prometo, lacaniamente, dizer-lhe a verdade a que você está preparado, preparada, para ouvir. Da mesma forma, direi a minha verdade: limitada, cheia de impurezas e concepções equivocadas, ou seja, a que eu estou preparado para enunciar. O demônio é o pai da mentira, porque ele não é onipotente. A verdade total pertence a Deus. Nós? Adeus e alguma esperança…
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA VIDA PARA VOCÊ SER FELIZ
Organizar e imaginar coisas boas à nossa frente nos faz sentir melhor no momento atual, dizem especialistas
Alie Pierce é uma pessoa que sabe planejar umas boas férias. Alguns meses antes, ela “entra em uma saga louca de buscas no Google”, construindo uma planilha de todas as coisas que ela quer fazer e ver. Ela pesquisa até os cardápios dos restaurantes que planeja visitar.
“O mais excitante em uma viagem são os planos que são feitos antes dela”, diz Pierce, fundadora de uma empresa de viagens, de luxo, que planeia excursões para mulheres.
Especialistas dizem que ela provavelmente está certa. Diversos estudos também sugerem que esperar por algo que se deseja muito melhora o humor e diminui o estresse.
“Imaginar coisas boasà nossa frente nos faz sentir melhor no momento atual”, explica Simon Rego, psicólogo-chefe do Centro Médico Montefiore e da Faculdade de Medicina Albert Einstein, que escreveu extensivamente sobre o efeito da antecipação no humor. “Pode aumentar a motivação, o otimismo, a paciência, e diminuir a irritabilidade.
Claro, não podemos simplesmente reservar um voo toda vez que precisamos de um pouco de animação. Mas existem maneiras de aproveitar o poder do planejamento em sua vida e rotina. Confira algumas opções.
PEQUENAS CONQUISTAS
Planejar pequenas coisas pode ser tão agradável quanto esperar por um grande evento, disse Carrie Wyland, psicóloga social da Universidade Tulane.
“No final de cada dia, anote uma coisa que você está animado para fazer amanhã. Talvez seja começar a ler um livro ou comer algo que deseje”, declara.
O acúmulo dessas minissatisfações significa que você ainda colherá os benefícios de esperar por algo, mesmo que não seja uma grande recompensa, afirma Christian Waugh, professor de psicologia da Universidade Wake Forest que estuda sobre antecipação e planejamento.
À medida que as coisas se aproximam, a sensação de que vão realmente acontecer aumenta”, explica.
INVISTA NO SEU FUTURO
Já visitou uma casa à venda e imediatamente se imaginou recebendo amigos no terraço para um churrasco ou para uma noite de vinhos? Quando Torrie Lloyd-Masters prepara uma casa para venda, ela diz que está mostrando às pessoas como suas vidas poderiam ser se morassem naquele espaço.
“Estamos essencialmente dizendo: “Este pode ser o seu futuro”, comenta a cofundadora da Home AI Last, uma empresa do ramo imobiliário. Funciona porque é atraente imaginar-se como o tipo de pessoa que sempre tem um buquê de tulipas na mesa da cozinha. Pesquisas mostraram que sentir-se como se você estivesse no caminho para o seu “eu futuro” pode ter um efeito positivo no seu bem-estar, tirando você do pensamento de curto prazo. Pensar no futuro pode ajudá-lo a priorizar sua saúde e talvez até agir de forma mais ética.
MOTIVAÇÕES DIÁRIAS
Qualquer um que tenha levado uma criança para se vacinar e depois tomar um sorvete sabe o poder de criar expectativa para uma coisa que você não quer fazer combinando-a com uma coisa que você quer muito.
Em um estudo publicado em 2013 sobre “amarração de hábitos”, os participantes que receberam um iPod carregado com audiolivros que só podiam ouvir na academia trabalharam 51% a mais do que aqueles que não o fizeram. Foi tão incentivador que, quando o estudo terminou, 61% dos participantes disseram que pagariam para ter acesso aos audiolivros apenas na academia.
FOCO NA EXPERIÊNCIA
Vários estudos também sugerem que obtemos mais felicidade planejando compras experienciais do que bens materiais. Aumentar a expectativa é um truque importante para Lydia Fenet, uma leiloeira de caridade que levantou mais de meio bilhão de dólares em sua carreira.
Se o que está sendo leiloado for um jantar com uma celebridade, por exemplo, ela desenhará para o público todos os cenários possíveis para o jantar. Talvez você e a celebridade se tornem amigos. Talvez eles se tornem padrinhos do seu filho. Talvez vocês passem as próximas décadas fazendo coisas extravagantes de celebridades juntos, como tirando selfies em jatos particulares.
ANSIEDADE POSITIVA
O outro lado da antecipação positiva é a ansiedade antecipatória. E o mais fascinante, diz Waugh, é que elas geralmente andam juntas.
“Ansiedade e excitação são emoções irmãs. Pense em quando você vai se ar ou ter seu primeiro filho. É uma mistura de ambas”, explica.
A chave é reconhecer o aspecto feliz e positivo do que você está fazendo junto com os sentimentos que trazem um certo nervosismo.
TENHA INICIATIVA
Se festejar é algo que você gosta, não espere uma data especial para comemorar, apenas invente uma. Faça uma festa de aniversário para o cachorro ou um café da manhã para todas as crianças da sua rua.
“Pense em maneiras de promover ocasiões especiais mesmo quando não houver nenhuma”, diz ela.
‘MAGRO DE RUIM’ PODE TER O SEGREDO PARA A CURA DA OBESIDADE
Entender por que algumas pessoas resistem ao nosso ambiente de engorda é chave para revolucionar tratamento
Enquanto a maioria luta contra as modernidades feitas para nos engordar, circula, incólume, aquele sujeito esbelto, avesso ao exercício e glutão com exultação. O famigerado “magro de ruim”.
Nossa cisma com o dito-cujo tem seus fundamentos. Se nosso corpo foi feito para armazenar gordura e vivemos sob um implacável ambiente de engorda, porque alguns afortunados escapam do ameaça da obesidade?
O biólogo britânico John Speakman (Universidade Abeerden, Reino Unido) oferece uma interessante explicação evolutiva para o paradoxo. É importante dizer que o cientista não compartilha da visão adaptativa da obesidade.
Essa hipótese considera que a nossa eficiente capacidade de acumular gordura teria representado uma vantagem aos nossos antepassados hominídeos, protegendo-os da escassez de alimentos.
Desse cenário teria sido selecionado um genoma poupador, que, exposto à abundância de comida e à insuficiência de movimento, nos predispôs à obesidade.
Já Speakman defende que a insegurança alimentar não teria se firmado como um fator vital a evolução da espécie.
Para ilustrar o ponto, cita o caso do Homo erectus, que tinha em seu cardápio carnudos herbívoros africanos, entre os quais os elefantes. E lembra que o Homosapiens, em seus primórdios, tinha o hábito de caçar mais do que conseguia comer – hipótese que explica a extinção de varias de suas presas e que não combina com o ambiente de carência de alimento.
Segundo o cientista, fosse falta de alimento uma pressão decisiva no sucesso evolutivo, o excesso de peso seria um traço onipresente da nossa espécie. Certamente não é o caso. Mesmo nos Estados Unidos – o país mais assolado pela obesidade – cerca de 65% das pessoas não são obesas.
Speakman prefere uma visão não adaptativa da obesidade, que pressupõe presença de um sistema de controle de dois pontos, entre os quais seriam represados a gordura o peso do indivíduo.
O ponto inferior teria como função evitar que os estoques de gordura extrapolassem níveis críticos, a ponto de causar inanição e prejudicar a reprodução e a resposta imune. O superior operaria contra outra ameaça a sobrevivência: o excesso de peso.
Cem efeito, indivíduos mais pesados de várias espécies tiveram menor sucesso ao longo da evolução, pois (1) precisavam de mais alimentos para suprir suas demandas energéticas e (2) eram pessoas mais fáceis pela falta de mobilidade.
Se esse cenário evolutivo persistisse, poderíamos apostar que a obesidade seria rara hoje em dia. Porém, há cerca de 2 milhões de anos, mudanças sociais profundas introduziram novas adaptações.
Nossos antepassados passaram a viver em grupos para se proteger de ataques de predadores. Além disso, a descoberta do fogo e das armas trouxe substantiva vantagem aos hominídeos contra seus algozes.
Em bando e armados, indivíduos mais pesados e menos ágeis aumentam consideravelmente suas chances de se livrar da predação.
Assim, o ponto de controle superior do peso corporal tornou-se indispensável à sobrevivência. E os genes responsáveis por tal regulação sofreriam mutações imprevisíveis. Consequentemente, alguns indivíduos estariam mais suscetíveis a obesidade e outros praticamente imunes a ela – estes, os sortudos na loteria da evolução.
Uma tese evolutiva coteja evidências genéticas, ecológicas, clinicas, demográficas, antropológicas, comportamentais, arqueológicas, etc. Diversas premissas são tomadas como verdadeiras, mas a testagem delas em laboratório nem sempre é possível, é um intrincado quebra-cabeça que precisa ser remontado sempre que uma peça não encontra seu encaixe”.
E as peças têm se encaixado bem para a hipótese não adaptativa da obesidade. Ela explica por que aquele meio quilo inconveniente que acumulamos durante as férias situado numa “zona neutra” entre os dois pontos de regulação do peso – não estimula uma resposta fisiológica intensa com vistas a eliminá-lo, infelizmente! E explica também por que alguns pés-quentes expostos rotineiramente à má alimentação e ao sedentarismo não se tornam obesos.
Resta desvendar todo o conjunto de atributos moleculares, fisiológicos, comportamentais que permite ao “magro de ruim” resistir ao ambiente obesogênico. Seria o prenuncio de uma revolução no tratamento da obesidade?
Com a pandemia, a rotina de dedicação exaustiva à empresa deu lugar à busca por mais flexibilidade, desenvolvimento e propósito. Saiba como atender a esses anseios
Por muitos anos, o trabalho foi visto como parte central e mais importante da vida. Horas ininterruptas de dedicação eram glamourizadas; e mantras corporativos do tipo “trabalhe enquanto eles dormem”, vistos como a fórmula para ter sucesso. Com a chegada das novas gerações e o advento da tecnologia, esse cenário começou a ganhar novos contornos e a alterar práticas de gestão de pessoas até das empresas mais tradicionais. Com a pandemia de covid-19, essa mudança se intensificou. Apesar de a emergência sanitária ter provocado uma grande crise econômica e insegurança sobre o futuro, deu aos profissionais a oportunidade de refletir mais sobre seus objetivos de vida e o lugar que o trabalho ocupa em sua jornada. Existe um movimento de pessoas – e companhias – que estão desacelerando, procurando um estilo de vida mais simples, com mais qualidade e equilíbrio.
Na prática, há uma mudança de valores em curso, na qual a maioria das pessoas não quer mais viver apenas para trabalhar e crescer na hierarquia tradicional com o único objetivo de ganhar cada vez mais. A busca, atualmente; está focada em flexibilidade, desenvolvimento e propósito. “Antes, a identidade de alguém era o sobrenome da empresa. Hoje, o trabalho perdeu essa centralidade e as pessoas querem mais do que isso; querem viver outras experiências”, diz Anderson Sant’Anna, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Não à toa, uma pesquisa da Gartner mostra que 91% dos líderes de recursos humanos estão preocupados com o turnover de funcionários num futuro bem próximo. Outro estudo da consultoria aponta que apenas 23% dos gestores de recursos humanos acreditam que a maioria dos funcionários continuará trabalhando em sua organização no curto prazo, e só 31% acham que seus atuais funcionários estão satisfeitos com a proposta de valor oferecida pela empresa, o Employee Value Proposition (EVP).
Segundo o levantamento, 65% dos candidatos já interromperam um processo de contratação por causa de um EVP pouco atraente, e 85% deles ressaltam que é importante a companhia observar a pessoa por trás do empregado. Essa mudança na forma de ver o trabalho está muito ligada aos reflexos que a pandemia vem deixando. “Fases de grande impacto na vida das pessoas costumam provocar reflexões profundas sobre propósito e prioridades. São momentos históricos, em que movimentos em escala determinam novas tendências”, explica Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira. Por isso, com a retomada gradual das atividades presenciais, ouvimos tanto falar sobre “a grande renúncia”, fenômeno descrito em 2020 pelo pesquisador americano Anthony Klotz. Em abril de 2021, o Bureau of Labor Statistics (“Escritório de Estatísticas de Trabalho”) contabilizou 4 milhões de americanos que haviam deixado o emprego voluntariamente, por exemplo. No acumulado até outubro, esse número subiu para 20 milhões. Os índices de turnover no Brasil também estão mais altos e, em alguns setores, já se observa um apagão de talentos. “Além da reavaliação e da rejeição de retorno aos modelos tradicionais, muitas pessoas estão pedindo demissão porque não aceitam mais trabalhos que levam ao esgotamento mental”, diz Rafael.
NOVAS DEMANDAS EXIGEM NOVOS MODELOS
Segundo Vitorio Bretas, diretor de pesquisa e assessoria da Gartner, isso se deve à mudança da lógica do trabalho. Antes, o objetivo tradicional do EVP era apenas o profissional e o que oferecer para uma boa experiência. “Agora o foco deve ser outro. A grande mudança é que os funcionários não são apenas trabalhadores, e sim pessoas com interesses além do trabalho e que fazem parte de famílias e comunidades. Precisamos falar em harmonia e integração do trabalho com a vida pessoal e em como a proposta da empresa apoia isso”, afirma. Isso quer dizer focar não apenas os benefícios, como salário atrativo ou um escritório multicolorido, e sim os sentimentos que a empresa quer proporcionar às pessoas. “Trata-se de um EVP mais humano e com o indivíduo no centro da estratégia”, diz Vitorio. Segundo a neurocientista Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa na área de neurociência organizacional, as companhias – e parte das pessoas – tinham um desenho muito racional do trabalho, com um ambiente mais pragmático e de entrega. As questões emocionais não eram bem vistas. “As necessidades mudaram e já não é possível separar os dois mundos: trabalho e sentimentos. As companhias e os líderes de RH precisam colocar o comportamento humano na mesa e conectá-lo às ações”, diz. Ela explica que, atualmente, a retenção passa por três pilares: propósito claro e genuíno, possibilidade de desenvolvimento e de gerir a própria carreira, e autonomia e flexibilidade de onde e como trabalhar.
OUVIR PARA HUMANIZAR
O primeiro passo é a empresa entender, de fato, sua identidade e seu propósito. Nesse sentido, é importante que o RH se atenha a garantir que todas as ações e práticas estejam alinhadas a esses valores, para que os funcionários se sintam pertencentes a uma comunidade. Para isso, é importante ouvir genuinamente as pessoas, como explica o consultor canadense Roger L. Martin em seu livro A New Way To Think (“Uma nova maneira de pensar”, ainda sem tradução em português). “A área deve parar de dividir os empregados em classes: o operacional e os diretores, por exemplo. Deve ver cada funcionário como um indivíduo único que quer ser tratado dessa forma”, afirma Roger. Em outras palavras, não importa se estão perto da base da organização ou no topo.
Na ClearSale, empresa de tecnologia especializada em soluções antifraudes que, em 2021, recebeu 200 mil candidaturas e contratou 2.210 pessoas, isso é parte da estratégia. Por lá, é comum que a primeira pergunta de um gestor na entrevista de contratação seja quais são os hobbies do candidato, e não quais são suas competências. A ideia é, desde o começo, promover conversas mais livres e autênticas, alinhadas a uma cultura de humanização. Segundo Leonardo Ferraz, diretor de RH da ClearSale, cada um é incentivado a expor suas vulnerabilidades para gerar conexão.
Um dos programas da empresa para motivar essa abertura é o Roda, desenvolvido com a ajuda de uma psicopedagoga. São encontros da liderança com suas equipes para falar de trabalho e de questões pessoais e que acontecem pelo menos uma vez a cada bimestre. Leonardo se lembra de uma Roda, em meio à pandemia, com o CEO. Todo o board foi convidado para a conversa. O presidente queria entender o que estava indo bem para cada um, em termos profissionais e pessoais, e quais eram as aflições nesses dois aspectos, “Todos colocaram seus dramas e fomos descobrindo formas de nos ajudarmos como time”, afirma Leonardo. Há também as “Ts”, encontros realizados semanalmente e organizados de forma voluntária, sem o líder, que trazem temas apresentados por funcionários. Desde a música eletrônica e como ela ajuda a se conectar com as pessoas, como é o caso de Leonardo, até um tema específico de trabalho. “Todo mundo tem pelo menos uma hora por semana para focar seu desenvolvimento pessoal ou profissional, e isso é um critério, inclusive, para avançar na carreira”, diz o executivo.
LIVRE MOVIMENTAÇÃO DE CARREIRA
Por falar em desenvolvimento, a falta de incentivo ao crescimento profissional é um dos principais motivos de demissão voluntária. Mas o RH deve fugir de modelos engessados e ir além na progressão tradicional, como explica Rafael. “No modelo antigo era a empresa que determinava o desenvolvimento do profissional, seu plano de carreira. Hoje, isso precisa ser construído em colaboração com o funcionário, que deve ser protagonista de sua jornada”, diz. Segundo ele, ter uma marca empregadora forte depende também do estabelecimento de uma cultura de protagonismo, diálogo e livre movimentação de carreira. “Não é um processo fácil. Por muitos anos, as companhias acreditaram que, ao contratar alguém, a pessoa se tornava um recurso da empresa; portanto, podiam determinar seus passos. Esse sistema está colapsando”, diz. Para ele, cabe à organização fornecer ferramentas, oportunidades e treinamentos para que o funcionário estabeleça seu crescimento, de acordo com suas demandas e vontades. É a chamada carreira em nuvem. Isso significa menos hierarquia e mais fluidez nas atividades, além de oportunidades para que as pessoas contribuam em atividades que não estão no seu escopo de trabalho.
A Nestlé vem trabalhando nesse sentido. “Muita coisa mudou nos últimos dois anos. Tendências foram aceleradas, como a digitalização e a flexibilidade, o que fez as pessoas repensarem a vida e o trabalho”, afirma Enrique Rueda, vice-presidente de recursos humanos e compliance da Nestlé Brasil. Segundo ele, é crucial o RH saber conectar essas mudanças às expectativas dos profissionais para atrair e reter os melhores talentos. Por lá, a aposta é contribuir para que os funcionários cresçam profissionalmente e no lado pessoal, reconhecendo-os como indivíduos com diferentes perfis e necessidades. “Não sou o RH; sou o Enrique, que gosta de gastronomia, de ler e de estudar. E é assim que vemos todo o time”, diz. Para ele, a grande mudança é trabalhar para individualizar e personalizar as práticas.
Duas ações da companhia colaboram para isso. A primeira é o Talent Hub, que teve início em março deste ano. Trata-se de uma plataforma online que permite que os funcionários personalizem seu desenvolvimento, considerando o momento em que estão na carreira e o que desejam aprender. Os 670 selecionados na primeira etapa têm acesso a treinamentos, mentorias e livros com desconto até 31 de dezembro de 2022 – depois desse tempo, uma nova turma é selecionada. Para participar, o funcionário precisa ter sido identificado com alta performance na avaliação de desempenho. São mais de 1,5 mil cursos com certificado, inclusive MBAs, de diversas instituições, como USP, FGV e Saint Paul. O projeto tem o intuito de permitir que o profissional explore seu potencial da forma que quiser, considerando seu momento na carreira e o que deseja aprender. E as aulas vão além dos temas básicos de carreira e negócios, como negociação e liderança. Há a possibilidade de aprender sobre culinária e universo pet, por exemplo. “O negócio se beneficia muito com essa diversidade de assuntos, pois assim são nossos clientes: gostam de cachorro, de games, de culinária. Dessa forma, conseguimos nos aproximar do consumidor e deixar os colaboradores mais satisfeitos e engajados”, afirma Enrique.
Outra iniciativa é o People Match, plataforma que conecta pessoas a projetos de acordo com habilidades e interesses pessoais. Para participar, os funcionários criam um perfil no aplicativo e contam quais são suas competências e os assuntos de que gostam – como games, voluntariado, psicologia -, além dos idiomas que dominam, porque o programa é global. Já os gestores cadastram os projetos em andamento e detalham as atividades realizadas e as habilidades requeridas. E então a ferramenta faz o cruzamento das informações. Desde agosto de 2021, quando foi lançada, a plataforma já recebeu mais de 800 cadastros de perfis e ultrapassou a marca de 40 projetos.
GESTÃO INDIVIDUALIZADA
O desafio hoje é ir além da motivação, aquela que fornece estímulos, muitas vezes materiais e iguais para todos, afirma Anderson Sant’Anna, da FGV. É preciso trabalhar o engajamento, que está intrinsecamente ligado a ter um propósito claro: o senso de pertencimento e percepção de que a companhia vê cada profissional de forma integral. “Em um mundo no qual tudo muda muito rápido, é importante apostar no que não muda, que são os valores”, diz Anderson. Isso inclui manter o diálogo aberto e interessar-se pelas demandas e pelos sonhos do funcionário.
A Diageo, fabricante de bebidas alcoólicas, vem trabalhando para atender a individualidade dos talentos. Uma das frentes é olhar para a parentalidade. Em 2019, a companhia lançou sua política de licença familiar, com a oferta de seis meses de afastamento para pais e mães. Com dois anos de programa, mais de 90% dos pais usufruíram do benefício, encontrando mais significado e promovendo igualdade de gênero no trabalho e em casa. Como extensão dessa política, a empresa anunciou em maio de 2021 uma assistência financeira para adoção, que apoiará os funcionários com 13.500 reais para cobrir taxas legais e pagamentos suplementares relacionados ao processo. “A adoção sempre foi um tema complexo, com burocracias e cercado de medos e receios. Nossa ideia é t irar essas barreiras da frente de pais e mães, facilitando o acesso a esse momento tão potente e que gera muito propósito”, diz Maria Gabriela Herrera, diretora de recursos humanos para Paraguai, Uruguai e Brasil da Diageo. ”Nosso recado é: existe uma vida maravilhosa, cheia de surpresas e afeto com sua família fora do trabalho.”
FLEXIBILIDADE NÃO ESTIPULA REGRAS
Trabalhar de onde e como quiser também passou a ser um pilar importante de retenção. Saem de cena a exigência da presença física e os modelos rígidos de horário – com a empresa determinando os momentos de entrada, saída e almoço -, e ganha força a flexibilidade. “As pessoas querem trabalhar com autonomia para organizar seu desenho de vida”, afirma Rafael Souto, da Produtive. Mas ele faz um alerta: muitas empresas estão criando modelos aparentemente flexíveis, mas determinando os dias e períodos em que o funcionário precisa estar no escritório.
“Trata-se de uma flexibilização com cara de inflexibilidade. Às vezes, aquele é um dia em que o profissional tem um problema na logística com o filho, por exemplo. Oferecer flexibilidade é dar escolha, permitindo que o indivíduo defina os melhores dias para ir à empresa e combine com seu gestor o modelo ideal”, diz Rafael. Para se adequar às diferentes demandas dos funcionários, a Meta, que até há pouco tempo era conhecida como Facebook, criou um programa de flexibilidade que dá liberdade de definição de dias e horários para a presença no escritório e inclui iniciativas que ajudam o funcionário a harmonizar as demandas de casa e do trabalho. Como o Family Leave, que contempla até seis semanas de licença remunerada para permitir o cuidado de familiares que estejam doentes; e o FB Choice Days, com dois dias remunerados de folga por ano, para um descanso adicional em datas escolhidas pelo funcionário. Além disso, há mais “feriados” na empresa, acompanhando dias próximos às datas estabelecidas globalmente, para criar pontes.
Um exemplo é o Memorial Day, comemorado em 30 de maio, uma segunda-feira, nos Estados Unidos. Na sexta, dia 27 de maio, funcionários de todas as localidades puderam descansar. Em 2020 e 2021, foram mais três dias de folga e, em 2022, a prática foi aumentada para cinco dias. “As necessidades mudam ao longo do tempo. Hoje, uma pessoa pode precisar de mais horas para se dedicar aos filhos; a manhã, para fazer uma pós-graduação”, diz Thais Mingardo, gerente sênior de remuneração e benefícios da Meta para a América Latina. A empresa também oferece dez dias para tirar no primeiro ano de contratação, para que o funcionário não precise esperar 12 meses por um período de folga, e ainda dá, a cada cinco anos, mais 30 dias de férias além do período regular. “Nosso objetivo é que o time sinta que pode falar o que quiser, como ‘hoje não estou bem e preciso me desconectar’, ou ‘estou com um problema de saúde na família e preciso de alguns dias”, afirma Thais. A ideia é quebrar o estigma de que é preciso ficar doente para tirar urna licença. “Acreditamos que os momentos de pausa são fundamentais. As pessoas precisam dedicar tempo a si mesmas, à família e às prioridades para que possam trabalhar de forma mais equilibrada, produtiva e saudável”, diz.
Diante de cada vez mais profissionais repensando o sentido do trabalho em sua vida, práticas a favor da flexibilidade viraram estratégicas. “Ainda há muita mudança por vir, mas o futuro certamente será escrito a partir de grupos capazes de conciliar, de maneira harmônica, razão e emoção, vida pessoal e trabalho, olhando para as pessoas de forma integrada e criando ambientes adequados, prósperos e sustentáveis em todos os sentidos”, afirma a neurocientista Ana Carolina.
Fica claro que o mundo atual pede que as empresas prestem mais atenção ao que as pessoas querem e sentem, estimulando que sejam elas mesmas, sem dividi-las entre um ser que trabalha e outro que vive em casa. E, sobretudo, que ouçam atentamente os anseios, sonhos e preocupações desses indivíduos para melhor atendê-los.
ERROS EVITÁVEIS
Profissionais estão cada vez menos dispostos a ficar em empresas com líderes que não sabem – ou não se interessam por – desenvolver pessoas
DESCARTAR IDEIAS
Pessoas talentosas investem muita energia no desenvolvimento de habilidades e em novas ideias para ter sucesso e se destacar. Geralmente, elas acreditam que estão trazendo perspectivas diferentes e querem, pelo menos, sentir que estão sendo ouvidas por seus gestores. Não é preciso aproveitar todas as sugestões, mas considerá-las é algo importante para o engajamento e a retenção.
BLOQUEAR O DESENVOLVIMENTO
É essencial que os líderes estimulem o aperfeiçoamento de toda a equipe, respeitando a vontade e as diferenças de cada um. Se um profissional perceber que seu gestor não leva isso a sério, certamente vai pensar em trabalhar para alguém que dê importância ao desenvolvimento. Isso exige, em muitas empresas, que o RH deixe de tratar as pessoas de forma homogênea e não limite as oportunidades de carreira.
NÃO ELOGIAR
Ainda é comum os líderes esquecerem de elogiar os funcionários por trabalhos e projetos bem-sucedidos, como se os acertos fossem apenas uma obrigação de cada um. Elogiar e celebrar vitórias ajuda no senso de pertencimento e união.
Fonte: ROGER L. MARTIN, consultor canadense e autor do Livro A New Way To Think
GUIA DO ENGAJAMENTO
Quatro práticas que geram conexão e ajudam a reter talentos
ANÁLISE A CULTURA
Antes de começar qualquer alteração na política para atrair e reter talentos, é importante que o RH reavalie a cultura e o propósito da empresa. Que organização queremos ser? A empresa permite que o funcionário estabeleça seu Life design da maneira que quiser? Qual é o impacto dos negócios na sociedade e no meio ambiente? Como os líderes olham e tratam seu time? “As pessoas não querem mais estar numa empresa apenas para ganhar dinheiro; elas desejam ver significado no que fazem. A agenda ESG entrou na vida de todos”, diz Rafael Souto, presidente da consultoria Produtive. E o RH deveser o embaixador dessas reflexões, levando às lideranças conscientização sobre a importância do tema e informações que direcionem as ações, como dados sobre os motivos que têm levado à rotatividade. Os colaboradores com maior probabilidade de permanecer em uma companhia são aqueles que encontram significado e prazer no trabalho.
REVISE AS POLÍTICAS
Com o mapeamento da cultura em mãos, é hora de rever as ações e os programas para checar se estão aderentes aos valores da empresa e aos principais pilares de engajamento hoje, como flexibilidade, propósito e desenvolvimento. “O RH deve analisar se ainda conta com políticas antiquadas. Há empresas, por exemplo, em que o indivíduo ainda precisa pedir autorização ao líder para se candidatar a uma Vaga. Isso acaba com a Livre movimentação e o protagonismo”, diz Rafael. Outra prática a ser evitada é o líder determinar, no Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) do liderado, quais pontos devem ser melhorados. É verdade que muitas empresas pedem ao funcionário que ele se autoavalie. Mas, na prática, o gestor desconsidera as observações do avaliado e chega a um veredito sozinho. Mas é fundamental que o profissional faça essa reflexão de forma aprofundada, assertiva e conectada com seu propósito, e que seja ouvido e respeitado na conversa.
CONSCIENTIZE A LIDERANÇA
Nenhuma prática vai fazer sentido sem o preparo e a conscientização dos líderes, pois são eles que estão no dia a dia da equipe. ”Já não é mais possível contar com gestores que queiram um subordinado para chamar de seu e determinar tarefas e passos profissionais”, diz Anderson Sant’Anna, professor da FGV. Segundo ele, é preciso apostar numa gestão colaborativa, inclusiva e sem punição, com gestores e equipes que atuem em parceria, e não no modelo de comando e controle. Para Rafael, o líder deveser um conselheiro, não alguém interessado apenas em resolver suas questões usando a equipe como um recurso para isso. “Ajuda muito nesse sentido um líder que sabe fazer um bom storytelling, ou seja, alguém que compartilha experiência, mostra os caminhos que seguiu e como tomou decisões importantes na carreira”, afirma.
CRIE UM AMBIENTE SEGURO E AGRADÁVEL
“Muitas vezes, observamos que o RH dá muita atenção a temas que não necessariamente motivam a permanência dos colaboradores,” diz Fernanda Mayot, sócia da consultoria McKinsey. Checar se a remuneração e os benefícios estão em linha com o mercado é importante, mas não são os principais fatores de retenção. “De acordo com uma pesquisa da consultoria, 70% dos colaboradores que não estavam inclinados a deixar o emprego responderam que têm um ambiente de trabalho seguro e confortável; 69% afirmaram não pensar em trocar de emprego porque conseguem equilibrar vida profissional pessoal; 62% disseram que têm uma carga gerenciável de trabalho todos os dias; e 58% se sentem valorizados por seus gestores.
A sexualidade na maturidade vira campanha de grife, tema de livro e levanta a bandeira contra o etarismo
Os números são vitoriosos: 55 anos de casamento, duas filhas, quatro netos, milhares de amigos. A pedagoga e modelo Solange Nakad, de 77 anos, e o economista Lélio Nakad, de 79, compartilham a vida desde bem jovens. São complementares. Ela carrega dentro de si a chama da rebeldia, tem gestos largos e a palavra na ponta da língua. Ele preserva a discrição, sem deixar de abordar lodos os assuntos.
O casal é o protagonista de uma campanha de Dia dos Namorados na qual veste uma linha de underwear especial para a data. As fotos, em que os dois transbordam sensualidade e intimidade são uma bandeira contra o etarismo e um manifesto em prol do amor – e do tesão- na maturidade.
Me casei virgem, tinha medo e reservas. Na minha geração, as mulheres tinham que levar o homem ao prazer e não o contrário, carregávamos esse peso, lembra Solange. “Separamos cinco vezes. Em uma delas, tive outro relacionamento. Fomos nos desconstruindo com o passar dos anos. Hoje não fazemos mais sexo com os hormônios, porque temos falta deles, fazemos como resultado de um dia bacana que termina numa cama gostosa. Ele preparou o cenário? Trouxe flores? Eu o seduzi com um cabelo novo? Com um perfume novo? Sempre fui uma baixinha sensual.” O amadurecimento para Lélio também é uma constante evolução. “Nós fazemos questão de manter o romance. Com a idade, estamos mais seletivos. A frequência diminui, mas sem tesão não há solução.”
Os dois estão felizes em representar a geração prateada com uma mensagem vigorosa. O etarismo, para eles, deve ser combatido de frente. “Não podemos dar brecha a nenhum tipo de preconceito”, diz Solange. “Por que pessoas com mais idade não podem se tocar? O sexo é o final de uma energia do corpo”, acredita. “As pessoas acham que o idoso tem de ficar em casa sentado na poltrona e esperar a morte. Não é isso, tem de ir para cima, para o mundo. Achei que a gente seria pichado por causa da campanha. Sabe o que eu falaria? Está me pichando, f:az um pix”, emenda Lélio, soltando uma gargalhada. Solange, que é modelo desde 2015, foi quem convenceu o marido a posar profissionalmente pela primeira vez. “Cai de para quedas. No primeiro momento, neguei. Mas depois de 24 horas, ela me convenceu.”
Para Rony Meisler, cofundador da Reserva e CEO da Ar&Co, que idealizou a campanha, ela é uma ode à vida. “Queria comprovar a tese de que para o amor e o sexo não tem ou não pode ter idade”, diz. “E fiéis à tese de que uma boa imagem vale mais do que mil palavras, convidamos o casal que nos deu a honra de uma imagem tão simples quanto poderosa.” A antropóloga Mirian Goldenberg, pesquisadora da maturidade há três décadas, comemora que o tema, finalmente, tenha saído do armário.
“Campanhas assim têm total importância. Me alegro em ver que o assunto que foi por tanto tempo invisibilizado e estigmatizado tenha virado moda”, diz. “Caíram as fichas das empresas, das marcas, da indústria da beleza. É uma preocupação de todos e, mais uma vez, são as mulheres as protagonistas”, afirma. Mirian lembra que na década de 1970 Leila Diniz simbolizou a mudança de comportamento sexual. “A revolução do tesão na maturidade é comandada pela geração de mulheres da qual Leila fez parte.”
A consultora de moda Lu Catoira, de 72 anos, e o jornalista Edgard Catoira, de 78, também comemoram a mudança de mindset. “Me sinto prestigiada ao me reconhecer nas campanhas. A gente tem um respeito hoje. No passado, na época da minha mãe, havia uma verdadeira rejeição”, compara Lu.
Casados há 52 anos, dois filhos e quatro netos, eles desfrutam uma nova fase da vida, com mais tempo para viverem a dois. “Edgard me diz sempre: “Lu, o que acontece é que o toque da pele não muda e ele me enlouquece”, conta a consultora. “O toque é realmente maravilhoso”, admite Lu. Para Edgard, pequenos gestos deixam o clima de romance no ar. “É fundamental cativar o parceiro para manter o lado feminino e masculino. Eu, por exemplo, sempre sirvo o café da manhã da Lu na cama”, entrega.
Normalizar a sexualidade de pessoas mais velhas foi o mote da campanha da ONG britânica Relate, no ano passado. As fotos em preto e branco, assinadas pelo badalado fotógrafo de moda Rankin, mostram casais reais em momentos íntimos. Ao lado, frases como “você nunca será velha demais para usar brinquedos” ou ”as coisas podem durar mais quando você é mais velho”. Geriatra, psiquiatra e membro da Comissão de Direito da Pessoa Idosa (OAB/RJ), Roberta França destaca os benefícios da vida sexual nessa fase. “Aumenta a autoestima, alivia o estresse ao liberar endorfina e fortalece a região pélvica, no caso das mulheres”, explica. A médica frisa que o sexo não se resume à penetração. “É o carinho, o olhar de desejo, o beijo. Atendo um casal de mais de 90 anos. Sugeri a eles que passassem hidratante um no outro depois do banho. Esse ato virou um ritual sexual”, conta. Roberta chama ainda a atenção para atitudes que, apesar do movimento contra o etarismo, perduram. “O pensar estereotipado, o sentir preconceituoso e o agir discriminatório. Muitas vezes, quando pergunto sobre a vida sexual dos meus pacientes, os próprios filhos ou até os netos dizem que ‘fulano não tem mais idade para isso’.
Diante de tantas questões, a antropóloga Mirian Goldenberg lembra que o novo modelo de liberdade não deve representar mais uma prisão. Estamos vivendo um momento paradoxal. Há os caretas que acham que depois de certa idade não existe mais desejo e aqueles que acreditam que têm de ter para continuar vivo”, pondera. “Não deve haver patrulha. O tesão se refina com a idade, vai para uma coisa saborosa que pode ou não se traduzir em sexo. Para algumas mulheres, está associado a outros prazeres, não exclusivamente ao sexo”, afirma a pesquisadora, que abordará esse assunto no seu próximo livro, “Amor, sexo & tesão – A revolução da maturidade”. A antropóloga cita ainda os sex toys como uma novidade nesse contexto. “Assim como o mundo virtual, que se tornou um universo a ser desbravado por homens e mulheres com mais de 60 anos”, conclui.
Do alto de sua experiência e bom humor, Solange Nakad defende que o sexo precisa ser uma coisa natural”. “Eu e Lélio, muitas vezes, ficamos na cama só de conchinha. Temos cumplicidade, carinho e amizade um pelo outro. A pele nos une. “E o amor também.
Ao anunciar para uma amiga o fim de um namoro, a primeira pergunta que ela me fez (a única, aliás) foi: “Quanto tempo vocês ficaram juntos?”. Percebi que, dependendo da minha resposta, ela decidiria se eu merecia um abraço apertado ou um simples “ah, amanhã você nem lembra mais” e pularia para outro assunto.
“Seis meses”, respondi.
Adivinhe. Ela disse “ah” e nem perdeu tempo com a sequência da frase, começou logo a falar de si mesma, seu tema favorito. Não mereci nem um “que pena, miga”.
Meu histórico romântico é modesto em quantidade. Vivi um longo amor na adolescência, depois um casamento que durou vinte e um anos e então um turbulento affair que durou oito. Não se pode dizer que é o perfil de uma aventureira. Ao término dessa tripla jornada, eu
já havia chegado aos 50, não era mais uma garotinha. Mas foi justamente depois disso que alguns romances começaram a ser realmente passageiros se comparados à minha média anterior. Seis meses pode, de fato, parecer um rolo sem consequências que, quando chega ao fim, não estimula sua turma a alcançar um lenço.
Mas, como diz meu amigo Fabrício Carpinejar, relações curtas nem por isso são pequenas. São curtas porque a maturidade nos dá outra dimensão do tempo: já não fazemos investimento a fundo perdido. Conhecemos nossas capacidades e limitações, sabemos o que podemos suportar e o que não, e até desenvolvemos a proeza de prever o futuro: isso funcionará, isso nem com a benção do santo. Mas tentamos. E de tentativa em tentativa a gente vai escrevendo capítulos curtos tão significativos quanto relações longevas consideradas “sérias”.
Sério, sério mesmo, nada é, já que morreremos amanhã ou logo ali. Mas vale dar alguma gravidade aos amores, não grave no sentido de sisudo, mas no sentido de importante. Sendo assim, relações que duraram cem dias, ou que duraram 72 horas, ou que nem chegaram às vias de fato, habitando apenas o universo da fantasia, podem ser tão impactantes quanto uma história arrastada com alguém que, como diz a piada, você chama de “meu amor” porque esqueceu o nome da pessoa.
Relacionamentos iniciados na juventude e que se estenderam por décadas nem sempre são tão dignos: às vezes, é só a preguiça e o comodismo unidos contra a vontade de cair fora. Já os amores da fase madura não dão ibope à farsa. Quem ainda tem 20 anos está desculpado por se iludir, mas quem já tem alguma quilometragem não estica a discussão.
Isso não é desamor, não é frieza. Ao contrário, é a crença entusiasmada de que é possível encontrar alguém que equalize e que torne a vida mais completa e prazerosa – oxalá, para sempre. Mas sem condescendências insanas. Quem chegou aos 50 aceita a solidão que lhe cabe e só abre mão dela se valer muito a pena. Se valer, amará com entrega e verdade, mesmo sem a chancela da eternidade.
Livro ‘Mente Afiada’, do neurocirurgião Sanjay Gupta, explica o funcionamento do cérebro e dá dicas para mantê-lo afiado ao longo dos anos
Um prédio histórico pode entrar em decadência pela ação do tempo. Ou então passar constantemente por um processo de manutenção e revitalização que lhe permitirá lidar melhor com o envelhecimento inevitável. É com essa imagem que o neurocirurgião Sanjay Gupta abre seu novo livro, Mente Afiada, que está sendo lançado no Brasil (Editora Sextante). O médico já ganhou prêmios como o Peabody e o Emmy por sua atuação na TV: ele é correspondente médico do canal de notícias norte-americano CNN.
O objetivo do livro é mostrar que é possível manter, em qualquer idade, um cérebro ativo: basta apenas reforçar constantemente seus alicerces. Como? Ele sugere, ao longo da obra, alguns caminhos possíveis, desfazendo mitos sobre o envelhecimento.
NUNCA É TARDE
A certa altura, o cérebro já não dá conta de aprender coisas novas? Bobagem, diz Gupta. ”A combinação da memória com a possibilidade de gerar novos neurônios significa que continuamos a mudar as informações, a capacidade e a potência de aprendizagem do cérebro.”
MOVIMENTE-SE!
Gupta afirma que “o exercício é a única atividade comportamental cientificamente comprovada que provoca efeitos biológicos benéficos para o cérebro”. Isso quer dizer na prática que realizar exercícios ajuda a preservar as funções do cérebro. E, além disso, pode ajudar a evitar pressão alta ou diabete, que aumentam a probabilidade de problemas como a demência.
CONTRA O ESTRESSE
A prática de exercícios físicos também ajuda, diz o autor, a lidar com o estresse. E isso éimportante por uma questão química. Quando identifica situações de estresse, o corpo libera o hormônio cortisol – e pesquisas têm mostrado que o nível elevado de cortisol afeta negativamente a memória e a aprendizagem.
PALAVRAIS CRUZADAS
A ideia de que fazer palavras cruzadas ou atividades semelhantes mantém o cérebro jovem é, infelizmente, um dos mitos sobre o envelhecimento. “Elas só exercitam uma parte do cérebro, em geral a capacidade de encontrar palavras”, diz Gupta. Tudo bem, por manter a mente trabalhando, palavras cruzadas podem reduzir o declínio da capacidade de pensar. Mas não é uma receita que sirva para todas as pessoas.
Manter a mente ativa é fundamental. Isso não significa jamais se aposentar ou seguir trabalhando para ocupar a cabeça. Mas é preciso “mexer o cérebro e exercitá-lo de forma a mantê-lo saudável”. Para Gupta, é preciso encontrar um propósito. Qual? Ele sugere um exercício: tente se lembrar da última vez que se sentiu tomado por uma sensação de energia intensa, bastante estimulado. A resposta pode lhe oferecer pistas.
A IMPORTÂNCIA DO SONO
Muita coisa acontece – e precisa acontecer – durante o sono. O corpo se reabastece de várias maneiras que afetam todo o funcionamento do cérebro, do coração, do sistema imunológico e todo o metabolismo. O sono muda com a idade, mas isso não significa que ele deva ter pior qualidade.
COMO IMPEDIR QUE ISSO ACONTEÇA?
Gupta traz algumas sugestões. Tente dormir e despertar sempre no mesmo horário; acorde de preferência nos primeiros sinais de luz do sol; tome cuidado com o que bebe e come (café depois de certo horário, nem pensar); tome cuidado ao tomar remédios para dormir; elimine aparelhos eletrônicos do quarto; crie uma rotina que faça com que seu corpo se lembre diariamente de que é hora de dormir e vá se preparando para isso.
SABER RELAXAR
Sempre que possível, todos queremos relaxar. Mas é preciso aprender como fazer isso. E a principal lição é encontrar tempo e espaço para que isso aconteça. Mesmo durante um dia cheio de trabalho, passar alguns poucos minutos que sejam fora do computador, sem checar e-mails ou mensagens. já pode ajudar. E, se a mente começar a viajar, não apenas deixe: embarque com ela.
MANTENHA-SE CONECTADO, EM ESPECIAL FORA DAS REDES
Uma pesquisa de 2016 mostrou que o isolamento aumenta em 29% o risco de doença cardíaca e em 32%o de AVC. A solidão acelera o declínio cognitivo em adultos mais velhos. Aqui, a sugestão é dupla: procure fazer parte de grupos, conecte-se a outras pessoas, e proponha-se, com elas, a realizar atividades desafiadoras.
O PODER DO TOQUE
Estar com outras pessoas e compartilhar com elas um sorriso pode ser libertador, lembra Gupta. Assim como o toque: mãos dadas, abraços, um simples tapinha nas costas. Parece pouco. Mas o autor garante que não é. Tocar o outro, ele explica, éum modo de se conectar que evoca o desejo ancestral do ser humano de se proteger. E de se sentir parte de um grupo.
Embora haja um fator cultural na maneira como vivenciamos nossas emoções – aprendemos a amar sendo amados – , existem raízes químicas na paixão, ligadas ao cérebro e à produção de hormônios
O tema principal das canções, em diferentes línguas, sempre foi o amor: aquela ardente paixão, o idealizado, o platônico, o pleno. Todo casal tem sua lista – ou playlist – de músicas para tocar em ocasiões especiais ou lembrar do parceiro. Porém, nenhuma das canções românticas é tão contundente e explicita de maneira tão direta o que a ciência tem mostrado quanto The Love Is The Drug, lançada pela banda britânica Roxy Music, um grande sucesso em 1975.
Como indica o título, seus autores, Bryan Ferry e Andy Mackay, equiparam o amor a uma substância capaz de alterar o estado de consciência – e que eles têm uma imensa vontade de obtê-la. É exatamente isso que acontece quando alguém está apaixonado. Isso também explica a necessidade de o ser humano se ligar a alguém.
É claro: a ligação romântica é cultural – o jeito como nos apaixonamos está associado à maneira social de vivenciar emoções, mas existem raízes químicas, explica Gregor Osipoff, psicanalista e especialista em neurociência. “Há uma questão física e cultural, uma coisa envolve a outra. Cada um traz a sua forma de amar. Aprendemos a amar sendo amados.”
A parte orgânica do sentimento está ligada ao cérebro e à produção de hormônios. Acontece que o amor é a segunda fase desse caminho de cortejo. Antes de experimentar esse “amor químico”, o corpo se apaixona. Intensa e temporária, a paixão surge já na troca de olhares. “Tudo começa com a beta-feniletilamina, neurotransmissor responsável pelo amor à primeira vista”, indica o endocrinologista José Marcelo Natividade. Neurotransmissores são substâncias que facilitam a troca de informações entre as células, inclusive neurônios. A partir daí, o que se sucede é uma tempestade de substâncias e sensações.
Para Cláudio Patrocínio, de 26 anos, e Sofia Martins, de 24, o primeiro encontro foi decisivo. Os dois se conheceram por meio de amigos, mas só se aproximaram após um “match”, em um aplicativo de relacionamento – a combinação virtual veio um dia antes da pandemia. O encontro físico do casal em uma praia, cercado por instrumentos musicais, trouxe o alinhamento. ”Quando a vi cantando pela primeira vez, eu sabia. Me ‘quebrou’ todinho”, conta Cláudio.
Durante o isolamento, os dois trocaram mensagem e compartilharam preferências, como a paixão pela música e guitarra. “A gente tinha a sensação de que o tempo junto passava rápido. Quando via, já tinha passado o dia e no dia seguinte a gente queria ficar mais tempo junto”, diz Cláudio.
É nesta fase do apaixonar-se que entram em campo a adrenalina, noradrenalina, dopamina e a serotonina. Os termos técnicos podem parecer distantes, mas a influência é conhecida à flor da pele. Esse é o time, de acordo com o endocrinologista Natividade, responsável pela pupila dilatada, perda de sono e sensação de estômago enjoado. Cada um tem uma função nessa sintomatologia da paixão: dopamina traz prazer e mexe nos níveis do humor; adrenalina acelera a corrente sanguínea e traz a vermelhidão na pele, característica no enrubescimento; e noradrenalina nos deixa mais eufóricos.
O turbilhão de sensações é passageiro. Essa fase da paixão dura em média 18 meses – é depois desse período que se encaixa o amor íntimo. Aos poucos, os níveis hormonais vão baixando e o corpo volta ao estado anterior à agitação. A diferença está em uma substância, a ocitocina, que aumenta. “Chamo a ocitocina de ‘hormônio do carinho’. Ela está envolvida não só no amor romântico”, diz Natividade. Há ainda a vasopressina, que alguns autores acreditam ser responsáveis pela união do casal e da atração sexual, e as endorfinas, que geram tranquilidade e intimidade. “É a fase da estabilidade, do amor pleno.”
PAIXÃO, AMOR
Há, no senso comum, a ideia de que paixão é diferente do amor. O primeiro sentimento seria aquele do impulso, que carrega o desejo de se aproximar de alguém, quase sempre associado a algo mais inquietante. O segundo seria um passo além, quando essa sensação se torna uma espécie de vínculo e o anseio de estar junto já navega por águas mais calmas.
A explicação não é tão simples e os estudiosos têm visões diferentes. A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, autora de inúmeros livros sobre o tema, entre eles Novas Formas de Amar (2017), divide esse caminho em três formas de amar: a paixão, o amor romântico e o amor puro e simples. “A paixão atormenta a mente e o corpo. Leva às pessoas ao escândalo e, muitas vezes, a uma tragédia. As decisões são radicais. A pessoa não raciocina direito.”
O amor romântico, por sua vez, é o mais comum na sociedade. ”Ele é calcado na idealização. Você conhece uma pessoa, atribui a ela aspectos de personalidade que ela não possui, prega a ideia dos dois se transformarem em um só. “Regina afirma ser crítica dessa forma de amar, que, explica, surgiu a partir do século 12, com histórias como Tristão e Isolda, Abelardo e Heloisa e Romeu e Julieta. Depois, ganhou fôlego com a Revolução Industrial, quando as pessoas deixaram o campo em direção às cidades e, a partir de 1940, redobrou a força com os filmes de Hollywood, momento em que os indivíduos passaram a se casar por amor.
“O mais grave com o amor romântico – que nada tem a ver com mandar flores ou jantar à luz de velas – é que ele anula totalmente as individualidades. E mais: ele prega que quem ama não se interessaria ou transaria com mais ninguém. Isso gera sofrimento e, quando se descobre a traição, se tem a sensação de que não se é amado”, conta.
Regina diz que esse tipo de amor está saindo de cena, pois atualmente os anseios da humanidade são pela individualidade. Isso, segundo a especialista, abre caminho para novas formas de amar, como o amor livre ou o poliamor. Essa mudança se aproxima do que se define como amor em si, que é quando o outro enxerga o ser amado sem divinizá-lo. “Nele, aceitam-se as características de cada um sem recorrer ao fingimento. Ele gera prazer na convivência, mas, fundamentalmente, respeita a individualidade do outro”, observa Regina.
Para o astrólogo Ricardo Hida, de 46 anos, casado com o relações públicas Cássio Vilela, de 40, o tempo para si é fundamental para o bem-estar da vida compartilhada. Juntos desde 2009, eles eram amigos antes de se envolverem. “Temos atividades espirituais juntos, temos empresa juntos, mas respeitamos o momento de cada um”, revela Ricardo. A convivência diária é entrecortada por rotinas privadas. “São momentos em que podemos sair, ir ao cinema. Até em casa temos dois escritórios.”
A professora do departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina e autora do livro Amor (2004), Maria de Lourdes Alves Borges, diz que a filosofia trabalha, a partir da Idade Moderna, com o termo “a paixão do amor” – que leva o indivíduo a desejar sempre estar perto do ser amado. Ela explica que esse sentimento pode ou não dar origem a uma relação, comumente chamada de amor.
“Essa paixão já é o amor. Nós podemos ter outras paixões, como a da ambição, da tristeza, do ódio. É importante dizer que as paixões não são necessariamente duradouras. Elas são emoções. Podem surgir, até se demoram por um tempo, mas, depois, se dissipam.”
PLATÔNICOS
O conceito – ou mito – da alma gêmea está na filosofia, no livro O Banquete, de Platão. Em seu discurso Aristófanes diz que no início dos tempos os seres eram completos, com duas cabeças, quatro pernas e braços. Hermafroditas, como explica a professora. Como castigo por desejarem o Olimpo, o deus Zeus os cortou ao meio. Cada um então, para sobreviver, saiu em busca de sua outra metade.
A história de Elisa, de 36 anos, e Daniel Moreno, de 41, envolve uma procura por companheirismo, mas com roupagem atual. Após terem passado, individualmente, por experiências negativas de relacionamento, os dois recorreram aos apps de paquera. “Estava cansada de procurar nesses aplicativos. O Daniel foi a segunda ou terceira pessoa com quem conversei e já estava exausta”, admite Elisa. Juntos há oito anos e casados há um mês, os dois defendem que a vontade de ficar juntos foi o que os uniu.
”Sabe quando você encontra uma pessoa que tem a ver com você? É tudo muito visual nesses aplicativos, na conversa virou outra coisa, mais interessante”, conta Daniel. Eles moram juntos há quatro anos e encontraram afinidade nas decisões diárias. “Os sonhos se tornaram coletivos”, completa Elisa.
E a paixão platônica? “É a não realizada fisicamente. É um sentimento do período romântico, do romantismo alemão. O curioso é que para Platão e gregos ela não existia ainda, pois em O Banquete a paixão está ligada a Eros, que é o desejo físico”, explica Maria de Lourdes.
O psicólogo Ailton Amélio da Silva, professor aposentado da USP que trabalha com terapia de casais, tem a teoria de que a paixão surgiu a partir das civilizações nômades. Nelas, havia muitos casamentos dentro dos grupos, algo arriscado geneticamente. “O que fazia um indivíduo pular de um grupo para o outro era a paixão. Era algo forte e fulminante que o fazia abandonar a família e os amigos. Isso existe até hoje. É maravilhoso.”
CONEXÕES VIRTUAIS
Não há como falar de paixão ou de relações nos dias atuais sem considerar as redes sociais e os aplicativos de namoro. Em poucos cliques, o indivíduo pode eleger um novo ser amado, sem ao menos conhecê-lo pessoalmente. Para a professora Maria de Lourdes, um dos pontos de discussão desse novo método de estabelecer relações é a rapidez com que tudo pode acontecer. Ela cita um termo cada vez mais em pauta: o “ghosting”, que é desaparecer, sem justificar o término para o outro. “Acho isso absolutamente selvagem. Nada civilizado. Claro, isso é uma expressão de que o outro não está mais a fim e, talvez, deveria ser entendido assim. Há esse dever de dizer adeus? Existe uma ética das relações amorosas e sexuais?” Para Silva, essa paixão, chamada de à primeira vista, pode ser baseada em fantasias – e sempre existiu. “Écomo em uma balada se encantar com alguém sem conversar. A paixão pode ser um graveto, mas o indivíduo a enxerga como uma joia cravejada de brilhantes. O amor é míope e a convivência é um bom par de óculos.”
Idosos fazem sucesso nas redes, combatendo perda cognitiva, depressão, ócio e ageísmo
“É sair da cristaleira, tirar o mofo, não ficar para trás”, diz Sonia Bonetti, 84, a um internauta no YouTube. É um dos seus lemas citado ao lado das amigas Gilda, 80 anos, e Helena, 93, com quem, ao longo de 50 anos, se encontrou em mesas de bar para debater a “filosofia de boteco”. Hoje, qualquer pessoa pode se sentar com elas para ouvir suas histórias, dicas culturais, orientações sobre saúde reflexões sobre vida, juventude e velhice, basta seguir @avosdarazão. Elas já contam com mais de 193 mil seguidores no Instagram, além de 86 mil inscritos no canal do YouTube, onde respondem a perguntas.
As Avós da Razão fazem parte de um grupo de idosos, e sobretudo idosas que vêm fazendo sucesso na internet. Cada uma no seu estilo, seja para fazer piadas com os netos, ensinar receitas com a irmã, mostrar os looks mais arrojados, dublar músicas, ou tocar piano para uma plateia virtual
“O velho está vivendo muito e ele precisa encontrar um caminho para essa velhice longa para que não se sinta à parte da sociedade, não se sinta menosprezado. Dos 65 aos 90, são muitos anos que a pessoa precisa preencher de alguma maneira”, afirma Sonia, que não gosta de ser chamada de “dona”.
Para especialistas, esse tipo de atividade só traz benefícios para os idosos. A geriatra Maísa Kairalla, coordenadora do ambulatório de transição de cuidados da Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera que as redes podem criar um mundo novo para eles:
“Tem vários aspectos superpositivos. O que aconteceu com o cérebro de muitos idosos na pandemia é estarrecedor, com muito prejuízo cognitivo. Então, hoje temos que ser mais inteligentes e usar a tecnologia para isso. O cérebro tem capacidade plástica, tudo que traz estímulo melhora. E, com esses vídeos, a pessoa estimula o cérebro, reforça o vínculo social, com quem grava (o neto, um filho, um amigo), com os seguidores, e se sente útil. É um novo motivo para viver”, diz a médica.
Sonia Bonetti concorda que, especialmente na pandemia, o idoso que não conseguiu lidar com a tecnologia ficou muito isolado. Mesmo ela, que foi a primeira da família a ter um celular, diz que correu atrás e se aprimorou nesse período.
“O velho parece que tem vergonha de ser velho. Então ele tira o corpo, diz ‘isso não é mais para mim, na minha idade não aprendo’. É um comodismo muito grande e que faz com que o velho fique à margem. Por isso quando a pessoa comenta com a gente que mudou a maneira de pensar, mudou de vida, remoçou, buscou novos interesses, éo mais bacana. Isso é o principal.
Diminuir o ócio, criar novas relações, interagir e se manter ativo são também formas de combater a depressão na velhice que, de acordo com Kairalla, afeta até 13% da população nessa faixa etária.
Nalva Nobrega, que tem 94 anos, toca piano desde criança e agora posta vídeos tocando boleros e músicas antigas no Instagram. Em ocasiões especiais, faz lives com a ajuda de uma filha. Para ela, compartilhar a sua música foi uma forma de se manter plena e ativa.
“É uma expansão da arte e dos sentimentos. Isso me alimenta e me dá mais vontade de viver. Os comentários agradam meu espirito, não por vaidade, mas traz ânimo quando alguém me ouve, me elogia”, conta.
CONTRA O AGEÍSMO
Se a participação ativa nas redes sociais faz bem aos idosos influenciadores, também tem potencial para fazer o mesmo pela sociedade toda. Em primeiro lugar, combatendo o preconceito contra os mais velhos, como explica a antropóloga e professora da UFRJ Mirian Goldenberg.
“A velhice pode ser, e é, um momento de conquistas, de alegria, de descobertas, de humor. As pessoas enxergam essa fase da vida só por um lado, da perda, da falta, da doença, da feiura, e esses influenciadores mostram que não é só isso, tem também muitas outras coisas”, afirma ela. “Não importa se eles estão ganhando dinheiro, se têm 500 ou 3 milhões de seguidores, mas essas pessoas saíram da invisibilidade, da inutilidade, da falta de escuta, como é a experiência para a maioria dos velhos [como preferem ser chamados, segundo ela].
Para Goldenberg, esses vídeos, quando assistidos por pessoas mais jovens, são também uma oportunidade para que abram os olhos para quem está ao lado deles – os idosos das suas próprias famílias, vizinhos ou amigos.
“Se você está interessado, pode enxergar o que a velhice é e não o que temos medo que seja; Talvez esses influenciadores consigam fazer com que as pessoas vejam e escutem quem está em suas casas, em vez de dar ordens, tirar autonomia ou esquecer deles. Eles mostraram que sabem fazer e como podem ser úteis, como aquela que sabe cozinhar ou a que toca piano lindamente. O segredo é transformar isso numa prática dentro das próprias casas. E os velhos se sentirem ouvidos, reconhecidos, respeitados, e não abandonados”.
AUTENTICIDADE
Os idosos influenciadores encantam porque trazem algo não tão comum nas redes sociais, sempre tão fartas de mulheres com corpos perfeitos de biquini ou dancinhas esquisitas: a autenticidade. Como diz a antropóloga, são espaços em que não existe a frequente “angústia da comparação e do fracasso” para quem os assiste.
Assim como as alegrias e talentos, eles relatam suas dores e dificuldades, e não temem usar algum palavrão para reclamar de um ou outro obstáculo da velhice – mas que não os impede de sair da cristaleira para as telas.
Cresce o número de vagas afirmativas voltadas para pessoas pretas e pardas – mas é preciso ir além. Saiba quais ações têm levado as companhias a avançar na questão
Em 2020, ainda em confinamento, o mundo assistia à morte de George Floyd, um afro-americano vítima do racismo e da violência de um policial branco. A série de protestos que se seguiu, com o movimento Black Lives Matter (“vidas negras importam”), fez com que a pauta antirracista ganhasse força no mundo todo. “Esse foi o chacoalhão das empresas no Brasil”, diz Patrícia Santos, CEO e fundadora da Empregue Afro, consultoria de RH e diversidade étnico-racial.
“As manifestações, a pressão das redes sociais e o medo do cancelamento fizeram o tema crescer”, afirma. Até 2019, a média de empresas que procuravam a consultoria para implementar ações corporativas era de cerca de 60 por ano. Em2020, o número passou de 300 e, em 2021, ultrapassou 700.
Mas o cenário ainda é difícil. Mais da metade da população brasileira é negra, embora ocupe apenas 4,7% da liderança nas grandes empresas – considerando apenas mulheres negras, o percentual é de 0,4%. Os dados são do último censo do Instituto Ethos, feito com 500 grandes empresas no Brasil em 2016, mas seguem atuais.
Um censo da Gestão Kairós, consultoria de diversidade, feito com 26 mil respondentes e divulgado em 2021, mostrou que o percentual de negros em cargos de gerente ou acima não melhorou em relação a 2016. Tampouco o percentual de negros no quadro funcional teve mudanças significativas, ficando em 33% para homens negros e 8,9% para mulheres negras. Se existe o interesse em mudar esse cenário, a dificuldade é convencer as empresas a abraçar projetos ambiciosos. “Muitas decidem fazer algo mais básico, como uma palestra ou divulgação de algumas vagas afirmativas”, diz Patrícia. Mas os desafios iriam muito além: se normalmente se fala na necessidade de uma transformação cultural nas organizações, nesse caso trata-se de uma mudança que envolve a própria cultura brasileira.
BARREIRA FUNDAMENTAL
Segundo Alessandra Benedito, coordenadora da área de equidade do Núcleo de Justiça Racial e Direito da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e consultora de diversidade, o racismo é estrutural, ou seja, algo sistêmico e que envolve questões de ordem econômica, cultural e da organização social. Assim, há uma naturalização da discriminação em todas as
esferas. “É preciso entender que as organizações são parte da sociedade, e os problemas de fora são também os de dentro”, diz.
Fazer isso implicaria o envolvimento e a responsabilização de todos na empresa – do conselho aos funcionários. Mas, por muitos anos, vivemos o mito da democracia racial, isto é, a ideia de que no Brasil não existe preconceito, e sim uma convivência harmoniosa. “Nossa sociedade é racista, mas tem dificuldade ele se ver corno tal”, diz Alessandra.
Muitas empresas esbarram também nas diferenças de acesso à educação, “A população negra levou séculos para ter o direito de estudar, e o impacto disso existe até hoje”, dizAna Minuto, cofundadora do evento de inclusão Potências Negras e especialista em diversidade. “O jovem negro tem que continuar estudando, dar conta da casa, ajudar a família no aluguel.” Para ela, tanto o governo quanto as empresas têm responsabilidade em ajudar a garantir equidade.
Essa é a percepção também de Gustavo Galá, presidente da Johnson & Johnson Med Tech e líder da área de diversidade, equidade e inclusão da empresa. Um dos projetos da J&J é o Soul Afro Axé, iniciativa de desenvolvimento pessoal e profissional lançada neste ano que vai contemplar 90 pessoas negras: 30 estudantes do ensino médio, 30 da universidade e 30 funcionários da J&.J. O objetivo é oferecer, durante pelo menos três anos, apoio de infraestrutura, como alimentação, internet, equipamentos e mobiliários necessários para estudar além de mentorias e treinamentos. ”A ideia é que esses jovens possam ser contratados por nós ou por outra companhia e tenham oportunidades de carreira”, diz Gustavo.
A companhia vem também passando por uma alfabetização racial, com aulas mensais com educadores sobre questões étnico-raciais. Em 2020, foram cerca de 200 pessoas por encontro, e as aulas seguem disponíveis online. O programa teve continuidade em 2021. Agora, funcionários que fazem parte de minorias também têm a oportunidade de fazer mentoria com a liderança da J&J. Além disso, exigências como o inglês para processos seletivos de estagiários foram eliminadas – a empresa oferece cursos para os que ingressarem sem o idioma.
DA TEORIA À PRÁTICA
Para os especialistas, apenas focar em trazer pessoas pretas dificilmente trará resultados para as organizações. “Você até pode contratar, mas há o risco de elas não ficarem porque a cultura não foi revista e o ambiente não é inclusivo”, diz Ana Minuto, do Potências Negras. Embora importantes, as vagas afirmativas não devem vir de forma isolada. “É preciso que a pessoa negra possa ser reconhecida como alguém que sabe fazer e entregar.”
Mas, com frequência, profissionais negros são vistos como menos capazes. Essa percepção é, muitas vezes, inconsciente, o que acaba gerando resistências ainda maiores para a mudança, sobretudo na média gestão. “A alta liderança participa dos treinamentos, pede orientação de como falar ou se comportar”, diz Patrícia, da Empregue Afro. Por outro lado, quem faz as contratações no dia a dia acaba sendo a maior barreira. “Muitos boicotam as ações do RH e trazem recusas para a admissão de profissionais diferentes deles”, afirma. Para ela, a saída passa por impor as mudanças de cima para baixo. Ter metas de diversidade atreladas a bônus ou a critérios de promoção seria uma forma de demonstrar a importância do tema. Além disso, é preciso insistir em treinamentos
CONTEXTO IMPORTA
Segundo Ana, outro problema é usar a mesma régua para avaliar as pessoas na organização. Espera-se, ela diz, que uma pessoa negra aja como uma branca, sem considerar as diferentes vivências de cada um. Muitos, por exemplo, começam a faculdade mais tarde e raramente estão nas universidades mais visadas pelas empresas. Eles também têm menos oportunidade de aprender inglês e muitos moram longe dos centros, em comunidades ou na periferia. Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da consultoria de diversidade ‘Tree, comenta que a história de boa parte dos profissionais negros não é valorizada no processo seletivo e acaba nem sendo vista pelas empresas. “Eles aprendem habilidades de outra forma, como ao começar a trabalhar desde cedo e ao passar por outros tipos de desafios, coisas que ficam de fora dos critérios.” Fazer com que essas questões sejam levadas em conta pelos gestores é, muitas vezes, o maior entrave para a inclusão.
Na PwC, empresa de consultoria e auditoria, esse tem sido um dos maiores desafios. Desde 2018, a empresa tem estipulado metas de contratação de pessoas negras, o que gerou uma série de campanhas de conscientização. Segundo Eduardo Alves, sócio da PwC, é mais fácil para a alta liderança ter uma visão de longo prazo. Já o gerente não necessariamente verá o sentido da diversidade para a carreira dele. “Precisamos que ele entenda que essa é a postura da empresa e que ele deve abraçar isso”, diz Eduardo.
Por isso, nos primeiros anos, as entrevistas eram acompanhadas por um voluntário de diversidade da PwC, em uma espécie de auditoria para ver se a decisão do gerente havia sido justa, e não motivada por vieses inconscientes relacionados às pessoas negras. Agora, afirma Eduardo, isso não é mais necessário. No último ano, a PwC atingiu 40% de contratações de pessoas negras nos programas de trainee. Em 2018, esse índice era de 8%. “Para nós, colocar metas é uma maneira objetiva e eficaz de trabalhar a questão”, diz. Outra ambição de Eduardo, único sócio negro da PwC no Brasil, é aumentar a presença de pessoas negras na liderança. Para isso, um programa de aceleração para profissionais negros foi lançado em 2021. Já na segunda edição, a iniciativa seleciona cerca de 50 analistas negros com potencial para a gestão. Eles passam por mentoria e treinamentos e têm acesso a cursos de inglês. Além disso, eles têm letramento racial, assim como os sócios da empresa. Para Eduardo, o letramento é importante para o profissional negro ter mais ferramentas para se posicionar diante de discussões sobre o tema.
Outra ação da PwC é criar eventos para reunir os profissionais negros da companhia, convidando uma personalidade negra de destaque no mercado para conversar com os participantes. “Isso aumenta o senso de pertencimento e representatividade”, diz Eduardo. “Precisamos de profissionais articulados, que falem em reuniões e exponham suais ideias, e isso só vai acontecer se eles se sentirem pertencentes.”
CONHECER PARA AGIR
Programas para alavancar a carreira de pessoas negras ajudam a atacar outro problema: a distribuição delas nos cargos. “Muitas vezes mostramos para a empresa que já há pessoas pretas no quadro, mas alocadas na base”, diz Letícia , da Tree. Segundo ela, é necessário entender em quais posições e áreas elas estão e mapear onde a presença delas seria mais estratégica. “Precisamos colocar essas pessoas em posições em que elas consigam influenciar e trazer sua opinião”, afirma Letícia.
O diagnóstico interno também é necessário para entender como esse público se sente. ”Vemos uma alta liderança descolada da realidade, com pessoas que se deparam com um ambiente mais duro e hostil do que imaginavam”, diz Leizer Pereira, fundador da Empodera, startup de inclusão. Não é que os líderes desconheçam os problemas; a experiência deles é que é muito distante. “Vivemos em uma sociedade desigual e é natural que nos falte o entendimento do que é um ambiente de equidade”, afirma Leizer.
Muito do preconceito que ocorre nas organizações é no dia a dia. É comum, por exemplo, as pessoas terem presenciado ou sofrido piadinhas ou comentários jocosos e preconceituosos em uma interação informal. São micro agressões, como diz Alessandra, da FGV. ”Elas são naturalizadas pelos vieses inconscientes e geram um senso de que a pessoa não pertence ao ambiente”, diz.
Na medida em que não têm acesso às mesmas oportunidades e sofrem com avaliações enviesadas, as vítimas de preconceito podem ter problemas de autoconfiança. Como resultado, a entrega e o engajamento são comprometidos, assim como a saúde mental. “Muitos jovens pretos chegam ao mercado desacreditados da possibilidade de pertencerem àquele espaço”, diz Alessandra.
INCLUSÃO DA MULHER NEGRA
Na desigualdade, as camadas se sobrepõem: pessoas pretas com deficiência, LGBTQIA+ e mulheres são ainda mais vulneráveis ao preconceito e à discriminação.
Isso foi o que despertou a atenção da BRK, empresa privada de saneamento ambiental. Em 2019, a companhia fez uma pesquisa para levantar o impacto da falta de saneamento básico.
Segundo o IBGE, 44% das pessoas pretas ou pardas não têm acesso a saneamento básico, número que fica em 26,7% entre os brancos. Na pesquisa da BRK, os resultados mostram quanto as mulheres negras são afetadas. “Elas são as principais prejudicadas e as que mais perdem oportunidades de estudo, passando mais tempo no cuidado de casa e entrando num círculo vicioso”, diz Juliana Calsa, diretora e líder do GT Raça da BRK. Em média, o salário da mulher preta é menos da metade do salário de um homem branco, de acordo com o IBGE.
Os resultados levaram a BRK a avaliar os dados internos, que indicavam mais de 50% de funcionários negros, mas menos de 30% em posições de liderança, com mulheres em desvantagem. Até 2025, a meta é ter ao menos 40% de pessoas negras na liderança. Hoje são 34%.
Uma das iniciativas na BRK, é um programa de aceleração de carreira para mulheres negras da companhia, já na segunda edição. Por enquanto, ele contemplou 37 profissionais de cargos a partir de supervisão até gerência, que passaram por treinamentos e oficinas de autoconhecimento, ancestralidade e autoestima. Da primeira turma, 30% foram promovidas. “Nesse programa elas passam a ter visibilidade e a ser reconhecidas”, diz Juliana.
A BRK também deixou de exigir o inglês de estagiários, e passou a treinar a liderança e as equipes de RH sobre o tema. Isso permitiu alcançar outras metas, como ultrapassar a marca de 56% de contratação de pessoas negras nos programas de estágio, que são acompanhadas mensalmente pela área de recursos humanos e convidadas a relatar como está sendo a experiência.
Para que esses programa possam ser bem-sucedidos, o engajamento da liderança é fundamental. “Ter pessoas aliadas internamente, que se comprometem com o assunto e entendem seu privilégio, é um grande diferencial”, diz Juliana. “Não dá para falar de desenvolvimento social do Brasil sem falar de raça.”
6 PASSOS A FRENTE
Como melhorar a diversidade e a inclusão racial nas empresas
1 – MUDE A FORMA DE CONTRATAR
Para serem mais diversas, as empresas precisam mudar os critérios de seleção e de promoção das pessoas. Exemplos são deixar de exigir inglês, ampliar o leque de faculdades e não excluir pessoas por causa do lugar onde moram.
2 – PROMOVA UM AMBIENTE SEGURO
Para que pessoas pretas possam crescer na carreira, é preciso que elas se sintam pertencentes e em um ambiente seguro. Isso envolve desde ter um código de conduta com medidas especificas para casos de racismo até a promoção de espaços de diálogo.
3 – ACELERE O DESENVOLVIMENTO
Programas de desenvolvimento focados em minorias ajudam a minimizar as diferenças históricas de acesso à educação. Além de hard skills, é importante trabalhar soft skills para que essas pessoas ganhem mais confiança e autonomia.
4 – ACOMPANHE
É preciso avaliar o relacionamento das pessoas negras com os pares e a liderança, o senso de pertencimento, a integração em projetos e reuniões e os resultados. Se a pessoa sofre boicotes ou não se sente segura, a missão não foi cumprida.
5 – TENHA METAS CLARAS
É fundamental ter indicadores-chave de desempenho e objetivos estratégicos definidos para a organização, para a liderança e para quem faz a gestão do programa de diversidade. Sem isso, as ações da empresa podem se perder e não ter continuidade.
6 – AMPLIE O OLHAR
”Muitas vezes, a marca empregadora não conversa com pessoas negras”, diz Leizer, da Empodera. A estratégia de comunicação e atração da empresa precisa ser inclusiva e deixar claro que todas as pessoas são bem-vindas e desejadas na organização.
“Te desejo toda a felicidade que puder aguentar.” Foi com essa frase que uma leitora encerrou seu e-mail, e fiquei petrificada diante do computador, um pouco pela explosão de gentileza de alguém que nem conheço, e outro tanto pela contundência que me fez pensar: quanta felicidade eu aguento?
Desde que lancei um livro com a palavra “feliz” no título (a coletânea de crônicas Feliz por nada, de 2011) que respondo até hoje a uma infinidade de entrevistas com esse mote: o que é, afinal, ser feliz?
Bom, quando estou triste, estou feliz. Não sei se isso responde.
Felicidade não tem a ver com oba-oba, riso frouxo, vida ganha. Isso é alegria, que também é ótima, mas não tem a profundidade de uma felicidade genuína que engloba não só a alegria como a tristeza também. Felicidade é ter consciência de que estar apto para o sentimento é um privilégio, e que quando estou melancólica, nostálgica, introvertida, decepcionada, isso também é uma conexão com o mundo, isso também traz evolução, aprendizado.
Feliz de quem cresce, mesmo aos trancos.
Infelicidade, ao contrário, é inércia. A pessoa pode passar a vida inteira sem ter sofrido nada de relevante, nenhuma dor aguda, mas atravessa os dias sem entusiasmo, anestesiada pelo lugar-comum, paralisada por seu próprio olhar crítico, que julga os outros sem nenhuma condescendência. Para ela, todos são fracos, desajustados ou incompetentes, e não sobra afetividade nem para si mesma: se está sozinha ou acompanhada, tanto faz. Se lá fora o sol brilha ou se chove, tanto faz. Se há a expectativa de uma festa ou a iminência de um velório, tanto faz. Essa indiferença em relação ao que os dias oferecem é uma morte que respira, mas ainda assim, uma morte.
Eu reajo, eu me movo, eu procuro, eu arrisco – essa perseguição a algo que nem sei se existe é uma homenagem que presto à minha biografia. Nada me amortece, tudo me liga, tanto aquilo que dá certo como também o que dá errado. Felicidade é uma palavrinha enjoada, que remete só ao bom, mas dou a ela outro significado: é uma inclinação corajosa para a vida, que nunca é só boa.
Já a infelicidade é uma blindagem contra o encantamento, é negar se a extrair das miudezas o mesmo feitiço que as grandezas proporcionam.
Eu celebro o suco de laranja matinal, o telefonema de uma amiga, a saudade que eu sinto de algumas pessoas, a luz que entra pela janela do quarto ao amanhecer, a música que escuto solitária e que me remete a uma inocência que já tive – e pelo visto ainda tenho. Celebro o já vivido e o que está por vir, as risadas compartilhadas e o choro silencioso, e todas as perguntas que um dia talvez sejam respondidas. Como esta: quanta felicidade eu aguento? Vá saber. Acho que até a exaustão.
ALOPECIA SE MANTÉM SOB OS HOLOFOTES DEPOIS DO OSCAR
Episódio com Will Smith e Chris Rock resultou numa maior conscientização sobre a condição, que afeta 2% das pessoas
Milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pela alopecia arcata, uma doença autoimune que causa queda de cabelo e foi colocada no centro das atenções depois que o ator Will Smith deu um tapa no comediante Chris Rock no Oscar. Isso veio depois que Rock fez uma piada insensível com Jada Pinkett Smith sobre sua perda de cabelo.
Defensores disseram na época que o aumento da conscientização sobre essa condição, que é bastante comum, mas pouco discutida, poderia ser uma consequência positiva do episódio. Na quarta-feira, 1º de junho, Jada Pinkett Smith dedicou um episódio de seu talk-show, Red Table Talk, ao transtorno. Entenda mais sobre a condição e como o cabelo se relaciona a beleza, raça, cultura e identidade.
O QUE CAUSA ALOPECIA?
A alopecia arcata pode fazer o cabelo cair e também afetar outras partes do corpo, como sobrancelhas e pelos do nariz. A alopecia pode surgir rapidamente, é imprevisível e pode ser difícil lidar mentalmente com ela, revela Brett King, especialista em perda de cabelo da Yale Medicine. “Imagine se você acordasse hoje sem metade de uma sobrancelha”, comentou. Essa imprevisibilidade é uma das coisas que são mentalmente traiçoeiras e temíveis porque você não tem controle sobre isso. É uma doença que tira as pessoas de sua identidade.”
Embora raramente discutida, a alopecia é bastante comum: a segunda maior causa de perda de cabelo, após calvície de padrão masculino ou feminino. Cerca de 2% das pessoas têm. Há casos em que ela pode ser tratada.
COMO ELA AFETA MULHERES? E AS CRIANÇAS?
Embora não esteja claro se Rock estava ciente do diagnóstico de Pinkett Smith, o cabelo é uma grande parte da aparência de qualquer pessoa e, para as mulheres, está ligado a conceitos culturais sobre o que as faz parecer femininas. “Espera-se que a maioria dasmulheres tenha um bom cabelo”, lembrou William Yates, cirurgião certificado para queda de cabelo de Chicago. “Os homens perdem o cabelo e ficam ‘calvos graciosamente’, por assim dizer, mas uma mulher perder o cabelo é devastador.”
A maioria é diagnosticada antes dos 40 anos, e cerca de metade dos casos é de crianças quando o distúrbio aparece pela primeira vez, contou o dermatologista Christopher English. Ter a condição é especialmente difícil para adolescentes, para quem a ansiedade pela aparência e a pressão dos colegas geralmente já estão em alta, observou Gay Sherwood, diretor de comunicação da Fundação Nacional de Alopecia Arcata.
COMO É TER ALOPECIA?
A piada de Rock foi difícil de ouvir para a designer de interiores Sheila Bridges. Ela falou com Rock para seu documentário de 2009 Good Hair sobre a importância do cabelo na cultura negra. Para muitos negros americanos, as escolhas de aparência e estilo estão entrelaçadas com o desejo de resistir ao que é considerado normal ou aceitável pela sociedade. De afros e trancinhas perucas e extensões, cabelo é mais do que estilo.
Bridges falou sobre a vergonha e a humilhação de perder o cabelo para a doença, como seu penteado está entrelaçado com sua identidade racial e como a perda de cabelo afetou seu senso de feminilidade e moeda social. “Não é fácil para uma mulher navegar pela vida sem qualquer cabelo e em uma sociedade que é obcecada por cabelo.” Ela não usa perucas porque não quer, e também espero normalizar e desestigmatizar a aparência das mulheres carecas.
Mas, mesmo uma década depois que decidiu ficar careca em público, Bridges admitiu que ainda é difícil para alguns aceitarem “Raramente consigo passar a semana sem alguém dizer algo que é muito, muito insensível”.
Um cenário tenso para as mulheres negras, das quais se espera, há gerações, que alterem a textura natural do cabelo para se adequar a um padrão de beleza branco. As mulheres negras são 80% mais propensas a mudar seu cabelo natural para atender às normas sociais no trabalho, de acordo com um escudo de 2019 da divisão de cuidados pessoais Dove da Unilever SA. Estudantes negros também são muito mais propensos do que outros a serem suspensos por códigos de vestimenta ou violações de cabelo, de acordo com a pesquisa que ajudou a convencer a Câmara dos EUA a votar para proibir a discriminação baseada em penteados naturais em março. “A única coisa boa que pode sair de tudo isso é que a alopecia está na frente e no centro”, acrescentou Bridges sobre o episódio.
NÃO DEIXE QUE A TIMIDEZ ATRAPALHE SEU DIA A DIA. VEJA COMO
A sensação aparece de formas e intensidades diferentes para cada pessoa, mas existem técnicas que ajudam a superar esse sentimento
Imagine seu primeiro dia de trabalho em um novo escritório. Você olha em volta e a maioria, que já se conhece ,está conversando ou tomando café durante o tempo livre. Seu primeiro instinto é sentar-se logo em sua mesa e não olhar para os outros ou tentar se apresentar aos novos colegas? Se você optou pela primeira opção, há grandes chances de você ser uma pessoa tímida.
“A timidez é um desconforto que a pessoa acaba sentindo na hora de socializar ou na hora de se expor. Cada um apresenta essa sensação de uma maneira diferente na vida e em uma intensidade diferente também. Então, há pessoas que sentem esse desconforto na hora de fazer uma apresentação, na hora de falar em público e outras que têm dificuldades para fazer amigos, paquerar”, exemplifica a psicóloga Karina Orso.
De acordo com ela, ser tímido não é sinônimo de ser quieto e muito menos tem a ver com não se posicionar. Diz respeito ao incômodo que a pessoa sente ao fazer isso. “Quando essa esquiva é muito forte, a pessoa vai ter dificuldade de desenvolver as próprias habilidades de comunicação. E depois de um tempo em que evita muito a situação, ela pode até desenvolver um tipo de transtorno de ansiedade social. Que é muito parecido com a timidez, mas numa intensidade muito maior”, alerta.
No entanto, existem algumas técnicas que podem ajudar os tímidos a não sentirem tanta ansiedade e não terem assim, sua vida profissional é pessoal tao afetada. Confira.
CONHEÇA A ORIGEM
Há pessoas que admitem serem tímidas desde sempre e outras que se descobrem assim por causa de uma crítica ou de uma sensação ruim após algum tipo de exposição – seja apresentar um projeto na faculdade ou participar de um evento de trabalho. Saber de onde vem o problema pode ajudar a pessoa a não fazer comparações com o passado.
“A timidez faz com que a pessoa fique relembrando de situações que não foram tão legais e que ela interpretara como verdade”, explica Karina. Segundo ela, muitas vezes a pessoa pode ter falado bem e passado a mensagem desejada em um discurso ou exposição, mas ela sofre pensando que deveria ter feito diferente ou que, na próxima vez, ela não vai dar conta.
Mas pode ser também que as situações originárias não estejam relacionadas à timidez, mas sim com o receio de desagradar aos outros. Dizer “não”, por exemplo, é uma habilidade social, relacionada à assertividade. Quem é tímido não tem muito bem desenvolvida essa atitude porque sempre quer passar uma boa impressão – mas isso também pode ter a ver com dificuldade de se impor e de estabelecer limites ou por ter medo das consequências.
METAS
O primeiro passo é reconhecer o problema. É muito importante perceber como a timidez está atrapalhando a sua vida, seja profissional ou pessoal, e então se comprometer com o processo de mudança que será seguido.
A partir disso, estabeleça algumas metas. “É uma questão de você dar passos pequenos que a tirem da zona de conforto do medo desse estado em que você está paralisado. Mas que não a assustem tanto ao ponto de você travar”, explica Karina. Pense em qual área da sua vida a mudança é mais urgente: no trabalho? Na relação amorosa? Na busca por novas amizades? Reflita e escolha apenas uma para investir.
É um grande erro quando a pessoa quer trabalhar a timidez mudando de repente, porque ela dificilmente vai atingir essas expectativas de um dia para o outro. Cada etapa que ela ultrapassar sera um reforço positivo na sua autoestima e confiança.
BUSQUE O EQUILÍBRIO
Certamente, quem é tímido sabe que precisa se comunicar para se destacar no trabalho, para aproveitar as oportunidades e para fazer amigos. Mas se de um lado existe uma autocobrança muito grande, de outro há a fuga de momentos que causam a timidez. Por isso, o ideal é achar o equilíbrio.
Comece apresentando algo importante para os seus amigos de confiança ou sua família. Talvez organizar a viagem em família em versão power point e expor alguns planos possam ser uma brincadeira interessante para começar a trabalhar o medo da apresentação. Ou que tal gravar vídeos sobre assuntos variados e treinar. Você pode até enviar para um colega de confiança e pedir um feedback honesto.
ORATÓRIA
Nossa comunicação não é só baseada em palavras. “O corpo não fala, ele grita”, brinca Luís Fernando Câmara, CEO e fundador da Voxi.you, rede de escolas de oratória. Para ter mais confiança é interessante usar algumas técnicas básicas que podem servir como muleta para dar confiança em uma eventual apresentação. “Algo que ajuda é praticar a habilidade de usar pausas. Ela faz com que você tenha uma fala mais coloquial, mais impactante, em que você evita os vícios de linguagem. A naturalidade é muito importante em qualquer comunicação para a clareza e o entendimento”, ensina Luis Fernando.
Também é interessante lembrar de contar uma história durante uma reunião ou uma palestra. Para isso, faça um roteiro da sua apresentação para ganhar mais confiança, no qual não podem faltar: uma introdução, um assunto principal e uma conclusão para impactar as pessoas.
DIVIDA O MEDO COM OS OUTROS
Em vez de ver o outro como alguém que vai te julgar, que tal vê-lo como aliado? Não que seja fácil, mas uma estratégia que pode facilitar as interações é assumir os seus sentimentos e dividi-los. Isso diminui a ansiedade, garante que, caso tudo dê errado, você já deixou as expectativas baixas e ainda pode criar um vínculo de empatia como outro.
A conversa vale ainda para o depois. Ou seja, caso você tenha se sentido envergonhado e tímido com alguma situação, converse com alguém de sua confiança sobre o que você sentiu e como aquilo o afetou. Isso pode fazer você perceber que aquilo que lhe dava medo não causou uni impacto tão grande nos outros. E isso pode ajudar, aos poucos, a mudar a sua mentalidade para as próximas situações.
NÃO SE COMPARE
Como para os tímidos o medo do julgamento do outro é muito forte, a comparação é algo sempre presente. “Atinge muito a autoestima, a autoconfiança da pessoa. Ela não acredita que consegue chegar lá, fazer dar certo, e ainda se compara muito com os outros, especialmente com os mais extrovertidos”, conta a psicóloga.
Lembre-se de que cada um lida de uma forma com as situações e que capacidades e dons não são iguais. Conhecer os seus diferenciais e investir neles pode ajudar a controlar a inibição.
Uma jovem turma de fumantes reaviva o modo artesanal de produzir cigarro, embalando o tabaco na seda. Parece mais natural e menos nocivo, mas não
O tabaco ingressou na história da humanidade há pelo menos cinco séculos, consumido com distintos propósitos por variados povos ao longo dos tempos. Para os indígenas, que comiam, bebiam, mascavam e aspiravam a essência das folhas, vista como sagrada, havia um caráter ritualístico. Mas foram os europeus, ao travar contato com a planta quando desembarcaram nas Américas, os primeiros a cultivar o fumo por prazer, hábito que se irradiou alimentando uma indústria movida a glamour. No século XIX, o cigarro, que era então enrolado a mão, acabou ganhando, por uma necessidade de escala, o formato atual – pequeno e cilíndrico. Pois justamente agora, era em que uma enxurrada de pesquisas científicas já demonstrou os malefícios de fumar, sepultando a aura de elegância que envolvia o gesto e felizmente baixando o número de adeptos mundo afora, uma turma cresce e aparece resgatando o antigo processo de enrolar o tabaco de modo caseiro, envolto em um papel de seda, rito conhecido globalmente, em inglês, como roll your own, ou enrole você mesmo.
A tribo que adere à crescente tendência do cigarro artesanal, antes encontrado majoritariamente nas áreas rurais do planeta, rejeita a versão industrial pelo excesso de aditivos e por achar – enganosamente, advertem os especialistas – estar diante de uma opção mais natural e menos nociva. São jovens, entre eles muitos universitários, que identificam no passo a passo da produção caseira um modo de vida mais cool e vagaroso, em contraste com o frenesi moderno. “É um hábito com um certo viés pós hippie, de contracultura, bem diferente dos cigarros eletrônicos, que também se disseminam”, diz o antropólogo Bernardo Conde, da PUC-Rio. Desavisados que assistem à seda sendo cuidadosamente esticada para alojar o tabaco não raro pensam estar diante de outra erva, a maconha. Nesse nicho, aliás, misturas no conteúdo embalado são comuns.
A estudante de cinema Gabriela Bagrichevsky, 22 anos, gosta de adicionar kumbaya – um blend de ervas como camomila, artemísia e jasmim. ” O ritual de pegar a seda e picar as ervas me acalma”, diz.
A onda teve impulso nos últimos dois anos, quando as pessoas, no silêncio do isolamento pandêmico, fumaram mais – um ponto de retrocesso em meio a uma curva que cai ano a ano. Nos Estados Unidos, a venda de cigarros em geral subiu pela primeira vez em duas décadas, segundo a Comissão Federal de Comércio. No Brasil, pesquisa da Fiocruz revelou que 34% dos que ainda se mantêm fiéis ao hábito aumentaram o número de unidades consumidas diariamente. Foi nesse contexto que o cigarro para enrolar recebeu um empurrão como nunca antes, fazendo florescer um mercado de tabacarias (ou head shops, como são chamadas).
Somando Rio de Janeiro e São Paulo, foram abertas 1.255 dessas lojas desde 2020. Gigantes da indústria, como British American Tobacco (BAT), exploram o nicho, mas são as empresas especializadas as que mais se beneficiam. A maior delas é a brasileira Handimade Brazilian Tobacco (HBT), responsável pelas três grandes marcas nacionais de tabaco in natura, que embute na estratégia de marketing embalagens biodegradáveis e produção orgânica. “Em dois anos, as vendas cresceram 20%, e não param, atingindo em cheio um novo público”, relata o CEO Giorgio Volonghi.
Mas que ninguém se engane: a versão natureba não oferece nenhuma vantagem à saúde em relação à tradicional e pode ser tão ou mais prejudicial que ela. É verdade que contém menos aditivos, mas em compensação leva três vezes mais nicotina do que a unidade industrializada. E, como a maioria das pessoas não acrescenta filtro, a emissão de fumaça ocorre em níveis mais altos, elevando a inalação daquele vapor repleto de substâncias tóxicas. “Ser natural não significa que não faz mal”, alerta Maria Enedina, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia. Estudos enfatizam, inclusive, que as doenças ligadas ao tabagismo aparecem com os dois tipos de cigarro, assim como entre os adeptos da modalidade eletrônica, outra que se vende como menos lesiva, embora sem comprovação, e tomou contornos de epidemia nos Estados Unidos. A legião que abraça tal versão, semelhante a um pen drive e proibida no Brasil, se situa em uma faixa etária um pouco mais jovem e mais ligada à tecnologia. “Em todos os casos, a nicotina provoca dependência, uma vez que atua no sistema de recompensa do cérebro, causando prazer imediato”, explica Liz Almeida, do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Um dos mitos que ronda os fumantes da ala “enrole você mesmo” é que, sendo mais concentrado, o cigarro artesanal acaba sendo consumido em menos quantidade. “Achei que a mudança do industrializado para o enrolado me faria moderar o vício, já que a erva pura é mais forte, mas acabei me acostumando e não diminuí nada”, reconhece a estudante de direito Isabelle Souza, 28 anos. A turma do roll your own também aprecia o programa coletivo, cada qual com sua seda e seu tabaco, unidos pelo mesmo rito. Eles vão na contramão das estatísticas, que mostram, só no Brasil, um declínio de 50% no número de fumantes nas últimas três décadas, um feito louvável que resultou de muita campanha contra. Não custa lembrar que os tempos daquele glamour que se estendia das baforadas do bad boy James Dean ao requinte da cigarrilha de Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo são coisa do passado.
A jornada reduzida ganha força no mundo e, apesar de ainda distante da realidade brasileira, tem inspirado discussões – e práticas – fundamentais para o futuro das empresas
Entre junho e dezembro de 2022, 3 mil trabalhadores de 60 empresas na Grã-Bretanha vão testar a semana de quatro dias sem redução de salário. O projeto-piloto, que reúne companhias e instituições de vários segmentos, incluindo uma cervejaria e urna fabricante de produtos médicos, é coordenado por pesquisadores das universidades britânicas de Cambridge e Oxford e do Boston College, nos Estados Unidos.
Entre 2015 e 2019, a Islândia fez um experimento parecido, com a redução da jornada semanal de 40 para 35 ou 36 horas em quatro dias úteis. A pesquisa envolveu 2.500 trabalhadores. Os resultados – funcionários igualmente produtivos, mas menos estressados e muito mais motivados e engajados – inspiraram outros países a investigar melhor essa relação entre menos dias no escritório e maior produtividade. A Bélgica anunciou recentemente uma experiência, mas com compensação de horas. Os trabalhadores no país podem escolher como vão cumprir a carga de 38 horas semanais, dividindo-a em quatro ou cinco dias. A opção pode ser mudada a cada seis meses.
E essa disposição para discutir mais seriamente o modelo também tem partido de empresas, incluindo multinacionais. A Unilever anunciou em 2021 um estudo com os 81 funcionários da companhia na Nova Zelândia, e a Microsoft fez uma ação em 2019, no Japão, em que 2.300 profissionais deixaram de trabalhar às sextas-feiras durante o mês de agosto. Os dados divulgados pela companhia de tecnologia se mostram favoráveis à prática: a produtividade aumentou 40%, os custos com energia elétrica diminuíram 23% e a satisfação com a ação foi de 92%. No Brasil, as iniciativas ainda são tímidas, mas já começam a aparecer.
APRENDIZADO CONSTANTE
Em 2021, a Winnin, empresa de softwares para criação de conteúdo, decidiu testar a jornada reduzida. “Com um ano e meio de pandemia em curso, a gente identificou que o time estava sentindo o estresse e o cansaço do modelo de trabalho tradicional”, afirma Gian Martinez, CEO e cofundador da Winnin. “E também começamos a procurar mais formas de reter nossos talentos frente a outras empresas de tecnologia”, diz.
A ideia era experimentar a prática por um mês, mantendo a produtividade sem a necessidade de compensar as horas trabalhadas nos dias úteis. Para orientar os 75 funcionários, a companhia enviou informativos detalhando a experiência ocorrida em outros países. Diante dos bons resultados – a companhia ainda não sistematizou números -, o projeto foi estendido por mais três meses. “Depois de um semestre, ficamos seguros de que a jornada reduzida iria continuar, e mantemos o formato até hoje”, diz Gian. Na Winnin, a maioria das áreas não trabalha às sextas-feiras, e setores como o de vendas e atendimento ao cliente, que precisam manter profissionais disponíveis, seguem o regime de escala.
Para o executivo, a adoção do modelo requer mobilizar os profissionais para que atuem com mais foco, reorganizar o trabalho para que seja distribuído nos quatro dias, identificar de que forma cada área pode mensurar a produtividade da equipe e rever processos pouco eficientes. Entender que a novidade envolve também ajustes de percurso é fundamental “As áreas buscaram criar indicadores para suas próprias realidades. Mas isso funcionou no começo – depois, esse acompanhamento se perdeu nas nossas rotinas”, afirma Gian. “Ainda estamos entendendo a melhor forma de retomar essa medição.”
O modelo adotado pela Winnin, em que não há compensação de horas, não precisa ser negociado previamente com os sindicatos, segundo Lucas Camargo, associado sênior da Pinheiro Neto Advogados. “Os colaboradores só não podem trabalhar mais do que está previsto, ultrapassando 44 horas semanais e oito horas diárias sem horas extras”, diz. “Mas a empresa pode, de maneira independente, estabelecer essas mudanças de diminuição.”
PERSONALIZAÇÃO
Uma das questões a serem avaliadas para quem pretende estudar o modelo é que a jornada reduzida pode não funcionar- para todos os segmentos, áreas e níveis hierárquicos. Na Islândia, os gestores tiveram mais dificuldade para entregar resultados com a diminuição do tempo. Além disso, alguns setores, como o de tecnologia e as startups, são mais propensos a ter sucesso com a medida. Outros, como o industrial, encontram grandes desafios. ”Não se pode pensar na mesma solução para todos os tipos de empresa”, afirma Ricardo Triana, diretor-geral do Project Management Institute (PMI), associação de profissionais de gestão de projetos. “É preciso avaliar qual é a prática mais adequada de acordo com as necessidades do negócio e entender como ela se alinha à estratégia corporativa.”
Independentemente das dificuldades, as experiências já realizadas até aqui são importantes para inspirar práticas que atendam a uma demanda crescente dos profissionais por mais qualidade de vida – e das empresas também, que precisam repensar os modelos de trabalho e encontrar novas formas de engajar e reter talentos. Para isso, as lideranças estão cada vez mais orientadas a buscar qualidade nos resultados em vez de presença física. E o RH passou a incluir entre as práticas orientações para que as pessoas façam bom uso do tempo, seja ele qual for.
Na Microsoft, por exemplo, o projeto não se resumiu ao encurtamento da jornada em 20%. A empresa estabeleceu um conjunto de medidas, como orientar a duração das reuniões para no máximo 30 minutos, com um limite de cinco participantes. Na Winnin, entre as ações que já se mostraram bem-sucedidas está a diminuição dos encontros, presenciais ou online, que juntavam toda a equipe sem necessidade, já que apenas alguns precisavam participar da maioria desses eventos. Agora o conteúdo discutido nessas reuniões é repassado aos demais, muitas vezes resumido em um breve e-mail. Portanto, discutir a redução da jornada é levar a sério a máxima de que a produtividade não deve ser medida pelas horas trabalhadas. Esse não é um conceito novo, mas nunca foi tão necessário e urgente trazê-lo para as conversas corporativas.
DEIXAR PARA DEPOIS
Em 1955, o historiador britânico Cyril North cote Parkinson formulou uma premissa que diz o seguinte: o trabalho se expande de modo a preencher o tempo disponível para sua realização. Significa, para os íntimos, que se uma tarefa pode ser feita em duas horas, mas o prazo é de dois dias, então ela será feita em dois dias. Mas procrastinar de vez em quando faz parte. O problema é quando a atitude vira regra, prejudicando a rotina, o que pode acontecer com pessoas que enfrentam quadros de depressão, ansiedade, estresse crônico e outras condições que afetam diretamente a motivação e o potencial de realização. Afina l, procrastinar pode não ser um problema de gestão do tempo, e sim de gestão das emoções. É por isso que a capacidade produtiva envolve também o bem-estar dos funcionários.
A febre de Intervenções estéticas cria pessoas irreconhecíveis
Certa vez, um cantor bonitão foi convidado para participar de uma novela. Quando apareceu em cena, estava irreconhecível. Motivo: uma harmonização facial que não deu certo, como ele próprio reconheceu publicamente. O procedimento entrou em moda. Há quem acredite que é a grande salvação de belezas perdidas ou que nunca existiram. Afinal, do que se trata? É um conjunto de procedimentos estéticos em prol da harmonia do rosto. O início do envelhecimento é o sinal de alerta para quem ainda não pensou nisso. Como quase todo mundo vive preocupado em envelhecer, o bip bip da harmonização toca o tempo todo. Declara-se guerra às rugas, olheiras, sulcos faciais, linhas de expressão. Em alguns casos, aumenta-se o queixo. Desenha-se a mandíbula com um gel preenchedor. Os lábios ganham contornos cada vez mais carnudos. Muitas vezes pigmentados com a “cor da boca”. Às vezes, assemelham-se a uma boca de peixe, dependendo da mão do profissional. O excesso de Botox também pode impedir a expressão de qualquer sentimento. Que importa, se o rosto vai ter uma aparência roais jovem, suavizada, como se tivesse passado por um filtro do Instagram? (Eu suponho que os filtros do Instagram são a grande inspiração para a harmonização facial.) Os radicais chegam a fazer a bichectomia – procedimento de remoção do corpo adiposo da bochecha. É para melhorar o formato facial. Tudo isso parece radical? Sem dúvida. Mas todo inundo fica mais parecido entre si. As pessoas perdem linhas e traços que as identificam com elas mesmas e sua família.
É possível reconhecer um rosto harmonizado à primeira vista. Não tem como esconder. A não ser com as máscaras anti-Covid. Existem profissionais sérios e melhores na realização. Mas diariamente deparo com pessoas cuja aparência não deve ter sido escolhida conscientemente. Uma modelo que conheço está com a boca cada vez maior, desde a primeira vez em que a vi. Outro ator que todos consideram bonito refez o rosto inteiro e postou nas redes sociais. Se ele precisava, ai de mim!
Recebo várias propostas querendo harmonizar meu rosto para eu postar também. Mas, por enquanto, fico com minhas rugas. São sinais deque estou envelhecendo, mas, de qualquer maneira, não envelhecer seria pior.
Não sou contrário às técnicas em si. Muitas fazem bem à aparência e, melhor ainda, à autoestima. Mas a linha entre o procedimento bem-sucedido e um rosto de Frankenstein é tênue. Sem falar nas loucuras de imaginação dos clientes – com que nem todos os profissionais compactuam. Há um rapaz que fez cirurgias para ficar igual ao Luan Santana. Impossível, Luan é Luan.
Além do mais, existem lentes dentárias que deixam um sorriso de piano! No neon, os dentes brilham. Como as técnicas são as mesmas, os resultados são semelhantes. As pessoas vão perdendo sua individualidade.
Isso tudo, somado a meu grau de miopia, me dá um medo! Sou capaz de não distinguir quem é quem no próximo evento social.
COMO LIDAR COM A FOME EMOCIONAL QUANDO AS TEMPERATURAS CAEM?
Sentimentos como tristeza e ansiedade podem aumentar nos dias frios e se refletir num descontrole alimentar
Você já reparou que sentimos mais fome no frio? Não, isso não é coisa da sua cabeça. Existe uma explicação: biologicamente, os seres humanos se sentem ameaçados pelas baixas temperaturas e essa percepção faz com que haja uma busca por calor, que pode ser suprida também através dos alimentos.
”Com certeza as pessoas sentem mais fome no frio por uma questão de sobrevivência. Ele baixa a nossa capacidade de esquentar o corpo, portanto, precisamos de mais calorias. Na parte psicológica, tem a ver com essa informação que o corpo recebe que vem em dissonância com o que sabemos. Por exemplo, sabemos que não estamos no inverno e, teoricamente, não deveríamos estar sentindo frio, mas estamos. Então, isso gera um conflito. É uma quebra da lógica orgânica”, explica a neuropsicóloga Gisele Calia.
A endocrinologista Lívia Marcela acrescenta que, nessa época, é comum optarmos por alimentos mais quentes e, com isso, mais calóricos, mais gordurosos. “Isso porque eles demoram mais para serem digeridos, produzindo, assim, maiores quantidades de calor”, afirma, “Um estudo da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, rastreou o quanto as pessoas comiam em cada estação do ano e com que rapidez. Os entrevistados consumiram cerca de 200 calorias a mais por dia a partir do outono, principalmente quando os dias ficaram mais escuros.”
Outro dado importante é que, nesse período, ocorre uma diminuição na produção de serotonina, um neurotransmissor que promove a sensação de bem-estar. Para suprir essa sensação de tristeza e desânimo, a maioria das pessoas acaba compensando com os alimentos.
Gisele ressalta que comidas gordurosas fornecem mais calorias, sem necessitar de uma quantidade tão grande. “E aí é uma escolha lógica e saborosa, porque o nosso paladar também foi moldado há anos para que gostássemos de coisas gordurosas, de energia rápida como o açúcar. E isso de fato aquece o corpo.”
Outro fato importante é que, no frio, nós gastamos mais energia para exercer as mesmas funções. “Isso porque nosso corpo tem de manter a temperatura estável e isso requer um gasto calórico maior, de em média 200 calorias”, explica Lívia. No entanto, é comum haver um exagero nessa reposição, o que pode resultar em quilos a mais.
MAIS PELOS
Essa sensação de frio pode variar entre os gêneros. “Algumas pesquisas revelaram que as mulheres sentem mais frio do que os homens.
Uma das explicações fisiológicas é a quantidade e distribuição de pelos pelo corpo, também pela constituição física e pelos hormônios”, diz. Segundo a endocrinologista, os pelos estão ligados a nervos que os contraem no frio e ajudam a elevar a temperatura corporal. Como as mulheres estilo sempre depiladas e constitucionalmente têm menos pelos que os homens, tendem a ter menos contrações acontecendo abaixo da pele.
O “comer emocional” é um termo usado para pessoas que, mesmo sem fome, têm uma vontade irresistível de comer e normalmente, de forma voraz. Essa situação fica mais evidente na compulsão alimentar. Porém, outras questões de saúde mental, como ansiedade ou depressão, podem ter os sintomas exacerbados.
“Qualquer reação física de falta, como falta de cobertor, de alimento, ou necessidades como matar a sede e vontade de ir ao banheiro, gera ansiedade. O corpo interpreta que está faltando isso e, se não suprir essas necessidades, vai ter alguma consequência. E a ansiedade está muito relacionada ao perigo, seja real ou psicológico. Então, comer mais por ansiedade acontece quando está mais frio também”, avalia Gisele. Segundo a neuropsicóloga, a ansiedade é disparada por questões fisiológicas, como a queda de temperatura e a fome: “Quando a pessoa tem algum tipo de desequilíbrio emocional, sentir mais fome agrava os sintomas.”
Nosso organismo tenta adaptar-se às mudanças do ambiente, mas, para pacientes com qualquer tipo de transtorno mental, de leve a grave, a situação é mais desafiadora. “Uma revisão publicada em 2013 na revista Frontier in Neuroscience, que analisou dados tanto em pessoas quanto em animais, descobriu que mudanças sazonais afetam muitos hormônios relacionados à fome e ao apetite, incluindo glicocorticoides, grelina e leptina”, aponta Lívia.
EFEITOS DA LUZ
Além das alterações nos hormônios, os dias de inverno são, em geral, mais escuros, e somos menos expostos à luz solar. O que também aumenta a ansiedade e pode despertar tristeza. “Esses são sentimentos que estão diretamente relacionados com a procura de alimentos mais palatáveis e geralmente também existe um aumento da quantidade de alimentos”, diz Lívia. Além disso, nesta época ocorre uma diminuição na produção de serotonina, um neurotransmissor que promove a sensação de bem-estar. ”Para suprir essa sensação de tristeza e desânimo, a maioria acaba compensando com os alimentos.”
A endocrinologista cita um estudo realizado em Campinas que acompanhou 227 mil indivíduos, entre 2008 e 2010. Os pesquisadores verificaram que os níveis de colesterol ruim” (LDL) aumentaram significativamente no inverno e diminuíram no verão.
SEM EXAGEROS
Se você percebe que sente mais fome quando fica ansioso, triste, com raiva ou com qualquer outro sentimento; é preciso redobrar a atenção no inverno. “Uma dica importante para driblar o ‘comer emocional’, quando realmente não é uma necessidade orgânica, é fazer uma leitura antes de colocar o alimento na boca. Uma vez que o alimento está na boca, deflagra todo o processo de dificuldade de interromper ou compulsão”, enfatiza Gisele.
A vontade de comer doce, batatinha frita ou macarronada pode estar escondendo outros sentimentos como aceitar um conflito, um sentimento negativo ou a ansiedade por ter de tomar alguma decisão, por exemplo. A dica é tentar inicialmente, refletir sobre o comer e não deixar que a tentação do impulso venha a imperar.
O Brasil está entre as nações mais digitalizadas do mundo, revela ampla pesquisa da FGV. O imenso desafio agora é levar a tecnologia para todos os segmentos da sociedade
Brasil, não há dúvida, é palco de imensas e inaceitáveis contradições. Mesmo com renda média mensal per capita de escassos 1.376 reais e 11,3 milhões de pessoas desempregadas, é também um dos países mais digitais do mundo. O contraste ficou evidente em uma pesquisa realizada pelo Centro de Tecnologia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV cia), que traz um retrato abrangente do mercado de tecnologia de informação no país. Apurado entre 2.650 médias e grandes empresas que atuam em território brasileiro, o levantamento traz números impressionantes. A fotografia mostra que estamos muito bem no atacado, acima da média mundial em alguns recortes. No varejo, contudo, é preciso preencher lacunas, melhorar políticas públicas e levar o acesso à internet para todas as camadas da população.
A pesquisa mostra que há hoje 447 milhões de dispositivos digitais em uso doméstico ou corporativo no país. A categoria engloba computadores de mesa, notebooks, laptops, tablets e smartphones. Em uma conta simples, são mais de dois equipamentos por habitante, incidência semelhante à de nações ricas. No entanto, o resultado ainda está distante do país mais tecnológico do mundo, os Estados Unidos. Segundo um levantamento realizado em 2020, o americano médio tem acesso a pelo menos dez aparelhos desse tipo – misto de obsolescência acelerada e exagero de consumo. Nos rankings de digitalização, uma boa surpresa vem da Estônia, o pequeno país do Leste Europeu. Atualmente, 99% dos serviços públicos locais são acessados de maneira on-line e estudos revelaram que a alta conectividade acelerou o PIB.
Unia análise apressada pode sugerir que os números brasileiros são turbinados pela presença maciça de smartphones. De fato, eles são onipresentes no país. Há 242 milhões de celulares inteligentes em funcionamento, mais do que os 212,2 milhões de habitantes. O Brasil já é o quinto maior mercado do mundo, posição notável considerando que é atualmente apenas a 13ª economia do planeta. Tudo isso é verdade, mas uma espiada em outro indicador mostra que há muitos avanços em diversas áreas. Um exemplo marcante é o total de computadores ativos, subcategoria que inclui apenas os desktops, notebooks e laptops, além dos tablets. São 205 milhões em operação neste exato momento, mas a projeção da FGV estima que o número deverá pular para espetaculares 216 milhões no início do próximo ano, atingindo assim a marca simbólica de um aparelho por habitante. Isso, claro, se não houver nenhuma grande turbulência econômica até o fim do ano, o que não é de se duvidar em se tratando de Brasil – e convém sempre estar atento a freadas bruscas.
A pandemia – sempre ela – teve papel determinante no aumento das vendas de computadores em 2021, muito em decorrência da necessidade de manter o trabalho e o ensino remotos enquanto as regras sanitárias de distanciamento social estavam em vigência. O resultado foi um crescimento de 27%, com 14 milhões de unidades vendidas. Com a manutenção do modelo híbrido nos escritórios e escolas, a tendência é que em 2022 o mercado cresça perto de1 0%. “Comparado com o mundo, nós estamos muito bem, obrigado”, afirma Fernando Meirelles, professor de TI da FGV, coordenador do levantamento.
Um computador e um celular por habitante são índices notáveis para uma nação que está muito longe de ser considerada desenvolvida (basta dar uma olhada nos indicadores de saneamento para se assombrar com os gargalos brasileiros). A questão é que o Brasil tem uma base digital relevante, mas ela não está bem distribuída. As classes mais baixas usam modelos muito limitados em termos de recursos. Isso traz sérios problemas, como o enfrentado pela Caixa Econômica Federal, que precisou refazer várias vezes seu aplicativo para o pagamento do programa Auxílio Brasil.
O mundo corporativo tem papel determinante na digitalização do país. Os investimentos em TI das empresas já equivalem a 8,7% de suas receitas, número que se aproxima dos índices da China, que tem sede por inovação. Outro indicador relevante apontado pela pesquisa é o gasto médio anual das empresas com tecnologia por funcionário, que está em torno de 50.000 reais. O comportamento varia conforme o tamanho da companhia e o ramo de atuação: em serviços, a média de gastos é de 58.000 reais. A indústria bancária é campeã absoluta nesse quesito, com 125.000 reais desembolsados para cada empregado. Os bancos passam por digitalização sem precedentes. Os aplicativos de pagamento, as carteiras virtuais e o uso da inteligência de dados para conhecer os clientes revolucionaram o setor e tornaram os bancos nacionais competitivos no cenário internacional.
Pode até parecer exagero, mas o Brasil é hoje uma das nações mais abertas para a inovação. Uma maneira de comprovar tal afirmação é o universo das startups. Nos últimos anos, o país virou um dos celeiros mundiais para empresas iniciantes que trazem em seu DNA propostas transformadoras. De acordo com a Associação Brasileira de Startups, em 2021 foram abertas mais de 1.400 firmas desse tipo. No ano passado, as startups receberam o recorde de 10 bilhões de dólares em investimentos, quase o triplo do valor movimentado em 2020. Na comparação com pares internacionais, o Brasil faz bonito. Atualmente, aparece em nono lugar entre as nações com mais unicórnios, como são chamadas as novas empresas avaliadas em pelo menos 1 bilhão de dólares.
O Brasil digitalizado é uma realidade inescapável. A explosão de investimentos em tecnologia da informação e das vendas de aparelhos digitais durante a pandemia, no entanto, não explica sozinha como esse caminho está sendo percorrido. Segundo Felipe Mendes, diretor-geral da empresa de pesquisas GFK, o que vem crescendo mesmo é o acesso – em 2020, 83% dos lares brasileiros tinham banda larga, contra 71% no ano anterior. “O poder da disponibilidade da internet associada à penetração do celular é de fato o grande elemento de digitalização sobre qualquer outro produto que a gente possa pensar ou discutir”, afirma Mendes. Deve-se celebrar o Brasil digitalizado, atalho para o aumento de produtividade. Insista-se, contudo: há avanços extraordinários, mas precariedades também. Equilibrar o jogo é um desafio monumental, que não pode jamais ser negligenciado – a sorte é que a tecnologia pode ajudar a diminuir o fosso.
A grande maioria dos profissionais bem sucedidos sabe controlar as próprias emoções. Na outra ponta, o desempenho é o oposto. Entenda de uma vez o que é inteligência emocional, e veja como desenvolvê-la na sua vida
William Foster viveem Los Angeles. Depois de perder o emprego e o casamento, tem um surto no dia do aniversário da filha. Abandona o carro no meio do trânsito, destrói uma mercearia porque não consegue troco e saí atirando em uma lanchonete por causa do atendimento ruim. Reconhece essa sequência de eventos? Sim: é de Um Dia de Fúria, aquele filme com o Michael Douglas. A obra de 1993 tornou-se um clássico instantâneo justamente por refletir (de forma exagerada, claro) o que todo mundo gostaria de fazer quando se sente contrariado: dar vazão ao instinto de “não levar desaforo para casa”. À arte de lidar com esses instintos de forma civilizada dá-se o nome “inteligência emocional”.
Trata-se da capacidade de reconhecer e controlar emoções profundas antes de sair agindo por impulso. Fazer isso ajuda a reduzir a ansiedade, a ter relacionamentos mais saudáveis, a tomar decisões melhores, a receber e dar feedbacks mais eficientes. Uma longa lista de vantagens.
Os estudos sobre a habilidade de gerenciar os sentimentos se aprofundaram nos anos 1990, com as pesquisas dos psicólogos Peter Salovey e John D. Mayer. E o termo ficou popular após o livro Inteligência Emocional, publicado em 1995 por Daniel Goleman, psicólogo de Harvard.
Goleman lista cinco pilares essenciais para determinar se uma pessoa é inteligente emocionalmente ou não. Os dois primeiros envolvem autoconhecimento: 1) saber como você reage em situações de estresse e identificar padrões de comportamento; e 2) controlar essas emoções.
Por exemplo: você tem medo de falar em público, mas não dá para fugir de apresentações para o resto da vida. Em algum momento vai ter de falar diante de um grupo. Então, como você já identificou a situação que te deixa com medo, dá para desenvolver técnicas para fazer com que esse sentimento não te domine, como montar um roteiro com começo, meio e fim; e ensaiar.
O terceiro pilar é a automotivação. A cada dia da vida, passamos por vários altos e baixos. Um resultado positivo no trabalho pode ser imediatamente seguido por um momento de frustração. A capacidade de manter-se motivado diante de dificuldades é o que o difere as pessoas que têm boa inteligência emocional das que não têm.
Os dois últimos envolvem a capacidade de socialização. Um é a empatia. Pessoas inteligentes emocionalmente são as mais capazes de se colocar no lugar do outro. E isso já forma a essência do quinto pilar: o de relacionamentos interpessoais. Quando você entende as motivações de alguém, o porquê de o outro ter tomado tal decisão, fica mais fácil conviver em harmonia – e, numa discussão, negociar para chegar a algo mais próximo de um consenso.
Mas existem outros atributos ligados à inteligência emocional, claro. “Um deles é o foco, que está ligado ao pilar da motivação para finalizar determinadas tarefas. Tem também a assertividade: sentir-se seguro o bastante para assumir um posicionamento”, diz a psicóloga Denize Dutra, coach e CEO da Denize Outra Gestão e Desenvolvimento.
NO CURRÍCULO
Uma ideia equivocada persistiu por muito tempo: a de que emoções e ambiente de trabalho não combinavam. Profissionais deveriam deixar os sentimentos de lado assim que batessem o ponto. Hoje, ainda bem, entende-se que isso não faz sentido. “As emoções são reflexos. É igual quando você vai ao médico e ele bate um martelinho no seu joelho. Sua perna vai levantar, não tem como controlar. Com as emoções é a mesma coisa: não há como evitar que elas aconteçam”, diz Ana Paula Tognotti, psicóloga da Zenklub.
E o ambiente de trabalho é cheio de situações que deixam as emoções à flor da-pele, claro. Caso das temidas reuniões de feedback. Durante uma avaliação negativa, é bem provável que uma pessoa com baixa inteligência emocional simplesmente fique com raiva e passe a discutir – sem levar em conta que feedbacks servem justamente para repensarmos certos pontos, corrigir atitudes que a chefia interpreta como falhas antes que seja tarde. Aí não tem jeito: a reação ruim ao feedback vai colocar outro problema na sua conta. Tem outra. Trabalho é igual família: você não escolhe as pessoas com quem vai conviver. Parentes tendem a relevar momentos de descontrole. Colegas não. Logo, não há trabalho em equipe bem feito sem boas doses de equilíbrio emocional.
E isso impacta na produtividade, obviamente. Estudos da consultoria TalentSmart concluíram que 90% dos trabalhadores com melhor desempenho possuem boa inteligência emocional. Na outra ponta, a estatística praticamente se inverte: 80% mostram pouca habilidade em dominar as próprias emoções. Pelo que a gente viu até aqui, o assunto parece simples. Mas não é. A começar pelo fato de que é difícil identificar exatamente o que você está sentindo. “Uma criança pequena muito apegada aos avós, que está sem vê-los há duas semanas, vai ter algumas sensações, como tristeza, desânimo, apatia. Ela não sabe o que esse conjunto de sensações significa. Alguém que está próximo a ela precisa falar que tudo isso se chama ‘saudades’. Esse vocabulário emocional também precisa ser expandido ao longo da vida [adulta].E isso também é treino”, diz Ana Paula, da Zenklub.
Entender que você sentiu inveja; e não algomais genérico, como “raiva”; é importante. Mas não menos do que isso é compreender que, putz, a Terra não gira em torno de você. Todos nós, todos mesmo, temos um lado egocêntrico. Tendemos a achar que a fonte dos nossos problemas está nos outros. No mundo real, porém, não é assim que funciona. “É preciso passar por um processo de autorresponsabilização. Quem não é emocionalmente inteligente costuma colocar a culpa dos seus comportamentos nos outros, na família, no chefe”, afirma Tatiana Pimenta, CEO da Virtude. Em suma: boa parte dos problemas que você vive é fruto do seu comportamento. Em vez de vitimizar-se no modo automático, tente entender quando a culpa por um entrevero foi sua, e peça desculpas quando perceber.
HORA DO TREINO
Sabemos desde o jardim de infância que há quem lide melhor e quem lide pior com os próprios sentimentos. Inteligência emocional é uma habilidade como qualquer outra – você pode nascer com ela, ou sem ela. A boa notícia é que, justamente por ser uma habilidade como qualquer outra, há como melhorá-la. Uma pesquisa americana, inclusive, mostra que profissionais que recebem treinamentos em soft skills, como técnicas para entender melhor os problemas dos colegas, tornam-se 12% mais produtivos do que aqueles que não recebem.
Terapia pura e simples já ajuda. As sessões, afinal, aprimoram o autoconhecimento, sem o qual não há inteligência emocional. Mas também existem atividades mais práticas, focadas no trabalho. Uma delas éa de observação: todos os dias, assim que encerrar o expediente, separe dez minutos para relembrar como foi a sua rotina e listar os sentimentos que teve (principalmente os negativos.) Ficou estressado durante uma reunião porque foi contrariado? Ficou acuado por tentar expor uma opinião diferente? Anote todas as emoções e quais foram as circunstâncias que levaram a elas.
Essa tarefa trabalha o conceito da previsibilidade. A ideia é que você saiba em qual situação determinado sentimento pode se manifestar no futuro, e se prepare com antecedência. Assim fica mais fácil de controlar qual vai sera sua reação. E evite definições simples como ”lidei bem” ou ”lidei mal”. Aproveite o momento para melhorar sua percepção sobre como você realmente se sentiu. Amplie seu vocabulário emocional – ajuda a fatiar os problemas.
Você pode perceber que reagiu de forma intempestiva só porque estava de mau humor. Então busque atalhos para evitar esses momentos. Um gatilho certo para ficar de cabeça quente é acumular tarefas chatas para depois. Pode ser lavar a louça, para quem está em home office, ou ter que limpar a caixa de e-mail. A dica é tirar esse tipo de coisa da frente logo no começo do dia, para não ter mais de lidar com a ansiedade de pensar nelas.
Claro que, se você for uma pessoa esquentada, vai acabar sendo impulsivo mais hora menos hora. Aí o jeito é segurar a bronca mesmo. Tente reagir menos quando algo estiver incomodando, assim você evita tirar conclusões precipitadas. Veja, não é fingir que não está sentindo nada e nem deixar passar situações abusivas. O objetivo é reduzir a transparência emocional, que é quando “está na cara” o que você está pensando, e dar tempo para que você reflita antes de tomar uma decisão. Em suma: é o velho “conte até dez”. Em boa parte das vezes, lá pelo oito já dá para ver que o caso que engatilhou o estresse talvez não tenha sido tão estressante assim.
Também crie o hábito de buscar feedback. Na maioria das vezes, não enxergamos as nossas atitudes da mesma maneira que os outros enxergam. É importante, então, entender como você é visto pelas outras pessoas. O feedback não deve ser encarado apenas como crítica, mas como uma ferramenta para descobrir os seus pontos fortes, aqueles que precisam ser melhorados, e aumentar o seu grau de consciência a respeito de si próprio. Vale pedir a amigos e familiares que avaliem a sua reação em momentos de estresse, e perguntar o que eles fariam de diferente. São pessoas da sua confiança, afinal. Você provavelmente ouvirá o diagnóstico delas com mais atenção do que o feedback de um chefe. E o processo pode ajudar você a receber feedbacks melhores do chefe lá na frente.
Por fim, para melhorar a empatia e a relação com outras pessoas, a dica é ser curioso sobre quem convive com você. Importar-se. Caso perceba que alguém está mais quieto ou mais agitado que o normal, pergunte se ele está com algum problema, se você tem como ajudar. Aproveite para treinar a escuta ativa: preste atenção de verdade no que a pessoa está dizendo antes de sair expondo a sua opinião.
O processo de aprimorar a inteligência emocional não é simples. Para boa parte das pessoas, envolve mudar (maus) hábitos arraigados. Mas vai na fé. Só o ato de tentar vai deixar claro para você que pouquíssimos dias da sua vida merecem mesmo ser um dia de fúria.
É uma das gírias do momento: “Morri” (mas dizem que já começa a cair em desuso, fenecendo ela própria).
“Morremos” quando ficamos impactados por algo, quando um acontecimento nos tira o ar, quando não acreditamos no que estamos vendo, ou seja, quando parece que fomos para o céu. Sem fatalismo. É apenas uma gracinha.
Tenho simpatia pelo uso corriqueiro e desestressado de tudo que invoque a palavra morte. Na mesma proporção, sinto certo desprezo pela reverência aterrorizante que prestam a ela. Qual o problema, morrer?
Não tenho medo da morte porque já morri muito.
Não apenas em momentos quando cabia o uso da gíria (durante minha música preferida num show, quando me deparei com uma praia de cartão-postal, quando ouvi algo que eu esperava escutar havia tempo), mas, muitas vezes, no sentido fúnebre mesmo: morri todas as vezes em que me frustrei, morri quando deixei a infância, morri quando deixei a puberdade, morri quando passei por finais de amor, morri quando passei adiante apartamentos em que vivi, morri por todas as minhas desistências, morri diante de cada tarefa terminada, morri quando machuquei algumas pessoas sem querer, morri nas inúmeras vezes em que fui machucada, morri tanto por ferimentos leves quanto por balaços à queima-roupa.
E morri em solidariedade à morte dos outros, morri diante de tragédias que não aconteceram comigo, morri pelas estatísticas, morri de vergonha alheia, morri pelo que passou raspando. Tudo o que acontece de triste, a qualquer outro ser humano, passa rente a nós.
Morri por excesso de sensibilidade e às vezes por um rigor desmedido, mesmo que, em termos genéricos, eu procure ver alguma graça em tudo.
Agorinha mesmo, dez minutos atrás, morri um pouquinho. Coisa de nada. Já voltei.
Sem morte, não há vida. Quem não morre, não renasce, não volta mais atento, não volta mais amoroso, não volta mais experiente, não volta. Vira cadáver já na primeira morte, que pode ter acontecido aos 5 anos, aos r2, aos r6: quando você morreu pela primeira vez?
Minha relação amistosa com a morte vem justamente do exagero de amor que tenho pela vida, pela profunda capacidade de regeneração que me trouxe até aqui, habilitada para extrair alegria das mínimas coisas e êxtase das maiores. É por já ter morrido muito que vibro quando o telefone toca, quando o dia amanhece com sol, quando vejo os amigos, quando pratico exercícios, quando aprendo uma atividade nova, quando acerto, quando venço, quando comemoro. Não é só a iminência de uma morte definitiva que nos faz valorizar cada dia respirado, mas também as sucessivas mortes pontuais, aquelas que nos dão o passe para finalizar a próxima jogada com mais êxito.
Uma extensa pesquisa aponta quais alimentos se devem comer para viver por mais tempo e com saúde. E ainda mostra qual a hora certa de ingeri-los
Para viver cheia de saúde até 100 anos, ou mais, a garotinha da foto ao lado deve manter a preferência pelas frutas, especialmente as vermelhas, repletas de compostos que protegem contra danos celulares, encher o prato de legumes e folhas, saborear um bom chocolate amargo, riscar do cardápio as carnes vermelhas e reduzir muito a ingestão de proteína animal, inclusive a oriunda de peixes. Essa é a essência da dieta da longevidade proposta pelos americanos Valter Longo, da Universidade do Sul da Califórnia, e Rozalyn Anderson, da Universidade de Wisconsin, reconhecidos estudiosos do impacto da alimentação na longevidade. O regime está descrito em um artigo publicado na revista científica Cell e foi formulado depois da análise de centenas de pesquisas a respeito do tema. Os cientistas queriam fazer uma varredura na literatura e extrair dados para delinear um regime que ajude as pessoas a viver saudáveis e por mais tempo. Eles trouxeram à luz os alimentos recomendados e indicaram o período ideal para consumi-los. Essa combinação – o que e quando comer – é o que diferencia o trabalho dos americanos dos demais e o configura como a última palavra sobre o assunto.
Até hoje, a maioria das investigações associando alimentação e longevidade atinha-se às propriedades nutritivas de alimentos que poderiam ajudar na prevenção de doenças, especialmente as crônicas, as que mais matam no inundo. Assim, soube-se que das frutas vermelhas obtêm-se vitamina E e compostos protetores do coração, que do azeite de oliva ganha-se o melhor tipo de gordura, que as proteínas vegetais são sempre melhores do que as fornecidas por carnes e que os alimentos integrais superam de goleada os refinados. Também concluiu-se que reduzir em média 30% a ingestão de calorias é uma boa medida. Mas ninguém tinha ideia de que organizar o consumo disso tudo de acordo com o relógio biológico é tão importante quanto a escolha dos alimentos. A pesquisa deixou isso evidente. A revisão mostrou que as refeições devem ser feitas em um período concentrado de onze a doze horas. Depois disso, mais nada. “A prática beneficia o metabolismo do que foi ingerido e o sono”, disse Valter Longo, autor principal do estudo.
Isso quer dizer que funções importantes como a regulação da concentração do açúcar no sangue, da pressão arterial e de processos inflamatórios – tríade que está por trás das doenças cardiovasculares – ficam mais eficientes quando a alimentação está sincronizada com o relógio biológico. Além disso, diminuir a ingestão de calorias também de acordo com os ponteiros do ritmo circadiano parece reduzir a atividade de genes associados à inflamação, que tendem a ficar mais ativos ao longo do envelhecimento, e aumentar a daqueles ligados ao metabolismo, menos atuantes com o passar do tempo. O fenômeno está demonstrado em um trabalho que acaba de sair na revista científica Science, de autoria de Joseph Takahashi, do Howard Hughes Medical Institute, dos Estados Unidos. O cientista comparou a resposta de cobaias a dietas restritivas usando como diferencial a maneira como a ração era consumida, se de forma livre, ao longo do dia e da noite, ou se apenas em um período determinado. O esquema usando rações pouco calóricas fornecidas livremente estendeu a vida média dos camundongos em cerca de 10%. Porém, nos animais alimentados somente à noite, quando são mais ativos, o índice foi de 35%.
Em seu trabalho, Valter Longo e Rozalyn Anderson foram mais longe na abordagem. Eles propuseram que a cada dois ou três meses as pessoas tirem cinco dias para fazer um jejum, entendendo-se por isso uma ingestão focada em legumes e verduras e bastante líquido. Na explicação de Longo, a ação promove uma espécie de liga-desliga nos processos metabólicos, permitindo a melhora das funções do organismo e a redução de fatores de risco para enfermidades crônicas. “Desde que o cérebro esteja protegido, a medida pode trazer benefícios”, considera, no Brasil, o cardiologista Heno Lopes, do Instituto do Coração, em São Paulo.
Outro aspecto interessante colocado pelos estudiosos americanos é a necessidade de adequar as recomendações de acordo com o gênero, estado de saúde, idade e genética dos indivíduos. Pessoas com mais de 65 anos, por exemplo, devem aumentar o consumo de proteínas – de origem vegetal -, peças fundamentais para a saúde muscular. Também é importante atender às preferências de paladar e referências culturais de cada população para que a aceitação da dieta seja maior. No Brasil, por exemplo, a empreitada pode não ser fácil. Primeiro, pela difícil situação econômica do país. “Neste momento em que estamos vivendo, o brasileiro está comendo o que dá para comer. Isso restringe qualquer possibilidade de a pessoa consumir alimentos associados à longevidade, geralmente mais caros”, diz Jorgemar Felix, professor de economia e finanças em gerontologia da Universidade de São Paulo. No Hospital do Coração, em São Paulo, existe uma iniciativa para criar um regime coerente com o bolso e o cardápio nacionais. “Pensamos nas regiões e damos as receitas que podem ser consumidas”, explica o nutricionista Luís Gustavo de Souza Mota. Mas o foco é a proteção do coração, não o aumento da longevidade. Na análise que conduziram, Longo e Anderson estudaram bastante os cardápios das comunidades onde vivem habitantes longevos, os centenários. Muito da dieta que criaram está baseado nos ensinamentos dessas pessoas, entre eles o apreço por alimentos frescos e naturais. Contudo, o regime diverge em alguns pontos, como o consumo acentuado de peixe preconizado na dieta mediterrânea, seguida em países como Grécia e Itália. No menu para uma vida mais extensa, a carne até é permitida, mas em quantidade reduzida. E sempre saboreada na hora certa.
A mistura de genética com a vida moderna, repleta de sedentarismo e aparelhos eletrônicos, aumenta os casos de puberdade precoce. O problema é sério e precisa ser tratado
Nas anotações da adolescente judia Anne Frank, vítima do Holocausto aos 15 anos e autora do famoso diário escrito durante os dois anos em que ficou escondida com a família em um sótão de Amsterdã, na Holanda, estava a ebulição de pensamentos, dúvidas e descobertas típica da puberdade. Em duas páginas escondidas com papel pardo, reveladas apenas em 2018, a garota escreveu, aos 13 anos, sobre menstruação e outros temas pertinentes a uma jovem que descobria o próprio corpo. A revelação de trechos inéditos dos escritos de Anne provocou barulho e autorizou uma metáfora possível. O mundo lá fora era hostil, gerido pelas barbaridades do nazismo da Alemanha de Hitler. Mas Anne também vivia uma batalha íntima, possivelmente alimentada pela puberdade.
O período faz a passagem da infância para a vida adulta. Há alterações psicológicas para sustentar a maturidade emocional que precisa vir dali em diante e as físicas, que têm como finalidade o estabelecimento da capacidade reprodutiva dos indivíduos. Por isso, há o aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Nos meninos, despontam pelos no corpo e no rosto, o testículo cresce e a voz engrossa. Nas meninas, acontece o desenvolvimento dos seios, surgem pelos nas axilas e virilha e ocorre a primeira menstruação. É uma travessia difícil em que quase sempre a criança não entende o que acontece no seu corpo ou na sua cabeça. Quando começa antes da hora, então, dá-se uma confusão que pode deixar marcas.
A puberdade precoce, como o fenômeno é chamado, é um distúrbio até muito recentemente desdenhado e que agora chama atenção de pediatras, dado o crescimento do número de casos. Em geral, o início do período não é esperado antes dos 8 anos nas meninas e dos 9 nos meninos. Contudo investigações científicas demonstram redução nas idades especialmente entre as meninas. De acordo com um levantamento da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, desde 1977 há uma queda de três meses por década para o início do período entre elas. Estima-se, aliás, que a puberdade antes da hora seja vinte vezes mais prevalente no gênero feminino. O problema é que 95% dos episódios têm causa desconhecida. Sabe-se que existe predisposição genética, como demonstra o trabalho do grupo da endocrinologista Ana Claudia Latronico, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ela pesquisa a associação do distúrbio com mutações em um gene, hipótese reforçada depois que a análise do DNA de 716 crianças de diferentes nacionalidades também apontou a relação.
Variáveis no estilo de vida, no cotidiano e nas relações sociais, no entanto, também podem acelerar o processo. O combo envolve obesidade, sedentarismo, excesso de exposição às telas e até o consumo de conteúdo sexual ou erótico inadequado para a faixa etária. Não surpreende, portanto, que o excesso de horas passadas em frente ao celular ou computador na pandemia tenha contribuído para elevar o aparecimento.de ocorrências. É o que mostra um estudo italiano com 490 crianças. Os cientistas analisaram o total identificado entre março e setembro de 2020, primeiro ano da crise sanitária, e o comparou ao mesmo período de 2019. O crescimento de diagnósticos foi de 122%,
principalmente entre as meninas. “Uma das causas é que as crianças ficaram expostas às telas nas aulas on-line, nos joguinhos”, explica Durval Damiani, do Instituto da Criança e do Adolescente da FMUSP. Aluminosidade inibe a liberação da melatonina, hormônio cuja deficiência estimula a entrada na puberdade. Entre os meninos, tudo isso conta, mas cerca de 60% dos casos têm relação com tumores no sistema nervoso central.
É fundamental tratar as crianças e o acompanhamento psicológico é sempre recomendável. A disfunção pode ter impacto nas interações em sociedade, bem como na relação dos pequenos com o próprio corpo. Outro problema é o crescimento. Primeiro, a criança cresce demais, mas, depois, a evolução para e a estatura fica abaixo da esperada. Isso pode significar uma perda de altura entre 10 e 20 centímetros em relação ao potencial genético do indivíduo. É possível interromper a antecipação por meio de terapia hormonal. Mas é preciso que pais e pediatras sejam rápidos na identificação de que algo está errado, indo mais depressa do que manda a natureza.
A nova obsessão das americanas é esculpir nádegas grandes, chamadas de bumbum à brasileira, apelido que escancara o preconceito contra as latinas
Parte das mulheres americanas fazia qualquer coisa para diminuir o tamanho do bumbum. A preferência era por seios fartos. Mas foi só a atriz e cantora Jennifer Lopez aparecer ostentando um traseiro curvilíneo e volumoso no videoclipe de Booty, em 2014, com seu apelo de “se esforcem, balancem, trabalhem e mexam sua bunda grande”, que o jogo mudou. Ter um derriere avantajado se tornou uma obsessão em certas camadas dos Estados Unidos, e convém nunca generalizar. A partir dali, iniciou-se uma corrida aos consultórios de cirurgia plástica atrás da lipo enxeriat glútea, nome técnico para o procedimento ridiculamente conhecido como brazilian butt lift (lifting de bumbum à brasileira). Ele consiste na aspiração da gordura de áreas do corpo onde é excedente e sua injeção nas nádegas com o objetivo de deixá-las mais arredondadas.
JLo nunca assumiu publicamente ter feito a cirurgia. Outros nomões, como Kim Kardashian, Beyoncé e Nicki Minaj, admitiram, sim, e com orgulho, ter recorrido ao procedimento. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, somente em 2020 houve mais de 40.000 operações do tipo. Em 2021, foram 61.000.
Nas contas da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, os Estados Unidos registraram um aumento de 98% na remodelação das nádegas desde o ano passado. A cidade campeã de procedimentos é Miami. Por lá, pode-se dizer que o médico Michael Salzhauer é o rei dos bumbuns avantajados por ser o mais procurado para a realização da cirurgia. Salzhauer atribui o interesse à fascinação pelo estereótipo da beleza ao sul do Equador. “A operação é chamada de lifting de bumbum à brasileira porque, quando se pensa em mulher brasileira, vêm à mente nádegas maiores e empinadas”, já chegou a dizer, sem nem mesmo perceber o tamanho da bobagem preconceituosa e bocó que disparou.
Virou mania entre os americanos acrescentar o apodo “brasileiro” a recursos de correção estética feminina. É reprovável, também, a menção a um desenho de depilação que ficou conhecido nos EUA como brazilian wax (os pelos pubianos e do ânus são retirados com cera quente). Tanto o brazilian butt quanto o brazilian wax reforçam a maneira sexista como a brasileira e as latinas em geral ainda são vistas mundo afora. “Essa ideologia sexualizada pela cultura da ‘mulata exportação’ vem de muito tempo e é uma forma misógina de rotular a brasileira’, diz Marina Costin Fuser, doutora em estudos de gênero pela Universidade de Sussex, na Inglaterra. “Vender esses códigos, mesmo como forma de empoderamento, fortalece o rótulo, ainda mais nos EUA, onde tudo é sexista.”
É impressionante, mas até hoje existem por Já a Hooters, rede de lanchonetes onde as atendentes usam shortinhos apertados, e espaço para fotos como a de Kardashian equilibrando uma taça de champanhe no bumbum, foto de capa da revista Paper.
Não se discute a liberdade de mudar o corpo. Os procedimentos médicos estão aí e, desde que feitos com segurança e por profissionais habilitados, podem devolver a autoestima a quem está precisando. A questão é lutar para acabar com a cristalização de preconceitos e a venda às mulheres de um conceito de beleza que as submeta à antiga ideia de agradar aos homens. Está mais do que na hora de enterrar essa bobageira sem pé nem cabeça.
Um ou dois dias por semana. Essa é a quantidade ideal de vezes que os profissionais que trabalham no modelo híbrido deveriam ir ao escritório. De acordo com um estudo de Harvard, esse tempo oferece o equilíbrio entre a flexibilidade, tão sonhada pelos trabalhadores, e a produtividade que as empresas necessitam.
A pesquisa dividiu 130 funcionários do setor administrativo em três grupos. O primeiro passou a maior parte do tempo em casa – só 25% do expediente era no escritório. Já o segundo grupo foi para a empresa mais vezes, em 40% do tempo. O terceiro era o intermediário. Exatamente os que iam entre um e dois dias presencialmente.
Durante nove semanas, os pesquisadores avaliaram 30 mil e-mails corporativos que os funcionários enviaram e receberam. O resultado é que os participantes do grupo intermediário receberam avaliações melhores da liderança, quando comparado com quem passava mais tempo em casa ou no escritório.
Além disso, os profissionais que davam um ou dois expedientes presenciais por semana na empresa sentiram que estavam bem orientados e não estavam perdendo nada – sensação que os trabalhadores do teletrabalho costumam ter.
Sempre que saio da minha consulta no analista, há uma senhora na sala de espera aguardando sua vez. Antes, eu cruzava por ela e fazia um aceno educado com a cabeça. Com o tempo, passei a sorrir e dizer “Tudo bem?”. Em breve, me sentirei tão à vontade que perguntarei: “E aí, qual é a sua encrenca? Dificuldade de desapegar, síndrome do pânico, bipolaridade?”.
E tudo terminará num bistrô, entre boas risadas.
Obviamente, meu comportamento demonstra um desajuste. Não é por acaso que preciso frequentar um profissional que aperte meus parafusos frouxos.
Já quando sou eu que estou na sala de espera aguardando, a situ ação se inverte. O paciente anterior sai e nem olha para os lados. Cruza por mim como se eu fosse uma cadeira vazia. Nem uma espichada de olhos, nem um esgar, nem um grunhido. Não existo. Ele passa reto. Sou uma cadeira.
Eu poderia ficar com a autoestima abalada, ele não sabe o risco que está causando. Ou talvez saiba, mas não se importa com o que sinto. Será que ele não se importa com o que sinto? Acho que estou desenvolvendo um complexo de inferioridade. Mais essa agora. Desse jeito, minha alta não virá nunca.
Sempre que entro em uma pequena sala de espera, qualquer que seja, cumprimento quem ali está. Não saio distribuindo beijinhos, mas demonstro educadamente que percebi a presença de outros no recinto. Logo, é natural que eu faça o mesmo numa sala de espera que frequento toda semana à mesma hora, e onde eventualmente vejo as mesmas pessoas saindo ou entrando. Compartilhamos uma rotina, ora.
Só que não é simples assim. Ninguém fica com vergonha de ir ao dermatologista, ao oftalmo ou ao otorrino, mas consultar um analista ainda é algo extremamente íntimo. Os pacientes sentem-se constrangidos ao serem vistos num ambiente onde costumam confessar seus traumas e fraquezas. Talvez não acreditem na eficiência do revestimento acústico das paredes, desconfiam de que aquela criatura aguardando na sala de espera escutou os detalhes de suas compulsões sexuais e de suas neuroses cabeludas. Era para ter ficado tudo em segredo, era para ter sido um momento privado, inviolável, confidencial – e é! -, porém, em poucos minutos, aquele estranho sentará na mesma poltrona (ou deitará no mesmo divã) e privará dos cuidados do mesmo profissional, imediatamente depois de termos estado ali, e a sensação é de promiscuidade.
Queremos acreditar que o terapeuta é só nosso.
Mas não é: o paciente sentado na sala de espera confirma que somos apenas mais um, que nossos problemas não são o centro da atenção de quem nos analisa e de que é provável que as paranoias daquele outro sejam mais interessantes do que nossos questionamentos banais. Intolerável. Melhor mesmo fazer de conta que ali fora está apenas mais uma cadeira vazia.
Novos estudos descobrem que a dopamina é mais relevante do que se imaginava para a alegria e prazer depois do treino físico. E atalho para tratar doenças como o Parkinson
Há tempos os estudiosos tentam decifrar o que está por trás da deliciosa sensação que toma o corpo depois de alguns minutos de atividade física. Fazem isso não somente por curiosidade científica – o que já seria válido -, mas porque as informações podem servir para atrair mais gente aos treinos ou ser base para os tratamentos de doenças cujos sintomas sejam atenuados a partir do conhecimento apurado.
O mais recente achado nesse campo de investigação adiciona uma peça capital ao arcabouço de dados levantados até agora. A partir de investigações recentes, ficou constatado que a dopamina, um dos hormônios que fazem a comunicação entre os neurônios, é mais relevante do que se imaginava na cascata bioquímica desencadeada pelos exercícios. Ela desempenha funções estratégicas que aumentam o prazer e a alegria pós-treino, gerando o famoso barato do exercício, e contribuem para atrasar a progressão do Parkinson, enfermidade cuja origem está exatamente na escassez do hormônio.
Toda a atividade cerebral é mediada por hormônios que levam a informação de uma célula nervosa à outra. Por isso, são chamados de neurotransmissores. A produção de cada um deles é acionada por diversos gatilhos, disparados de acordo com as funções das áreas nas quais atuam. A serotonina, por exemplo, está envolvida no processamento de emoções. Quando há desequilíbrio na sua concentração, uma das consequências pode ser a depressão. A dopamina atua em três campos. O primeiro é o que controla os movimentos motores. Dar um passo, levar o lápis ao ponto certo da página ou o garfo à boca são ações que necessitam dela para ser executadas. Ela também é a principal substância a intermediar as conversas entre as células nervosas que integram o sistema de recompensa, no qual são processadas as sensações de felicidade e satisfação quando recebemos algo que nos agrade. Além disso, está presente nos mecanismos que permitem a identificação dos sentimentos alheios, habilidade vital para a convivência social. “Qualquer desequilíbrio de dopamina prejudica essa capacidade”, explica Bianca Schuster, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra. O problema é que o hormônio está sujeito a sofrer alterações ou por doenças, como o Parkinson – nesse caso, há morte dos neurônios que o produzem -, ou como consequência do envelhecimento. A cada década da idade adulta, o cérebro sofre redução de 13% dos receptores (as portas de entrada das células) de dopamina. O fenômeno ocasiona a perda da alegria em realizar atividades antes prazerosas, prejudica a socialização e impede a correta realização dos movimentos mesmo que o indivíduo não tenha Parkinson.
O antídoto aos danos pode ser encontrado nos remédios que tentam reequilibrar a disponibilidade de dopamina ou, como se está descobrindo, é achado na realização de exercícios físicos rotineiramente. A prática tem efeito surpreendente. Na semana passada, um estudo da NYU Grossman School of Medicine, dos Estados Unidos, revelou que os treinos elevam substancialmente a produção de uma proteína responsável pela manutenção e estímulo da produção de determinados neurônios, entre eles os fabricantes de dopamina. O trabalho foi feito em cobaias, que durante trinta dias se exercitaram em esteiras. A concentração da proteína subiu 60% e a do hormônio da felicidade, como a dopamina é chamada, 40%. “A liberação continuou durante uma semana, o que explica os benefícios prolongados para o humor e a coordenação motora”, disse Margaret Rice, autora principal da pesquisa. O barato do exercício é duradouro e protetor. Vale a pena começar ou manter os treinos em dia. Pode até viciar.
As crianças não estão isentas da desmedida transformação do mundo contemporâneo e com o saber epistemofílico que a elas pertence. Conseguem surpreender o adulto em sua intimidade tecnológica. Quem nunca disse ou ouviu algo do tipo ·nem eu sei mexer e ela com dois anos já sabe. domina meu aparelho eletrônico e fuça em tudo.
As crianças estão enlaçadas na tecnologia. já estão pedindo tablets de presente, exigindo a marca as mais atuais configurações. Porém. junto da tecnologia, apresenta-se às crianças novas formas de comunicação. Redes sociais diversas, formas de ligação e variações em envio de palavras.
Se por um lado as crianças têm aprendido novas formas de comunicação. na outra face elas têm abandonado cada vez mais as velhas formas de linguagem.
Abandonam a escrita em lápis e papel. onde o sujeito é que faz o signo da letra e constrói ali seu registro. Perdem o espaço do ‘boca a boca·. ‘do olho a olho’ do ·ser a ser’. Perdem o contato humano e as trocas de vozes. não mais se ecoa. como antes. a presença humana sem interferência de uma máquina.
Substitui- se a fala por caracteres. perdendo na sonorização e no enfrentamento ao outro. É mais fácil se manifestar pelo virtual. fazer amigos. alimentar o ego. driblar o supereu e conectar o sintoma. desfazer amizades etc. A felicidade ganha contornos com a suposta concretude.
A substituição dos laços sociais pelos laços virtuais é que preocupam. pois torna precária a relação entre as crianças e o mundo a sua volta. O uso exagerado da tecnologia é marcante. pois o abuso está presente nos tempos modernos.
Tudo atualmente é sempre muito exagerado. Talvez para a infância, um pouco menos de uso tecnológico ajude ou permita a um posicionamento mais livre deste sujeito promovendo a saúde da criança. diálogos e a ‘política da língua’.
CRIANÇA ADOTADA PODE DESISTIR E VOLTAR PARA A FAMÍLIA BIOLÓGICA?
Depoimento de Carol Nakamura sobre volta de menino para casa da mãe abre debate nas redes, mas atriz não tinha guarda legal
Uma situação familiar exposta pela atriz e ex- bailarina do Programa do Faustão Carol Nakamura retoma nas redes sociais o debate sobre o tema da adoção. A atriz conta que um menino, de 12 anos, de quem eia cuidava e chamava de filho, decidiu voltar a viver com a família biológica. No relato, Carol diz que a criança estava “safada” e “sem vergonha”, e cresceu sem regras, o que motivou críticas. O caso relatado abre o debate sobre se, afinal, crianças adotadas podem voltar para a família biológica.
O menino foi levado para a casa de Carol Nakamura e o marido, Guilherme Leonel, em 2019. Ela conta que conheceu o garoto durante trabalho social na região do lixão do Jardim Gramacho, região metropolitana do Rio. Apesar de a atriz chamá-lo de filho, não se trata de uma adoção concluída. Carol não tinha a guarda da criança ou outra documentação relativa ao menino, conforme ela mesma afirma nas redes sociais. “Ele (o garoto) começou a entender que eu só tinha uma guarda provisória, que foi vencida, e só tinha a promessa de uma guarda de fato efetiva, a guarda que eu deveria ter desde o inicio. Eu pedi e foi prometido várias vezes e nunca foi concluído de fato.”
Especialistas em adoção afirmam que o caso parece com “apadrinhamento”: quando uma família quer proporcionar oportunidades a uma criança que ela não teria em seu lugar de origem. Tentamos contato com Carol pelas redes sociais e por e-mail, mas não obtivemos resposta.
Os processos legais de adoção, no entanto, são muito mais complexos do que isso, justamente para evitar que as crianças sejam expostas a novas situações de violência e desamparo. “Defendemos que as adoções devem ser legais, seguras e para sempre”, diz Sandra Sobral, presidente do Instituto Geração Amanhã, organização voltada à garantia do direito de convivência familiar de crianças e adolescentes.
Desde a Constituição de 1988, a adoção passou por mudanças no Brasil. Antes disso, era comum que crianças fossem inseridas em famílias adotivas por intermédio de hospitais, a chamada “adoção à brasileira”. Ou que fossem tratadas como “filhos de criação”, geralmente crianças já conhecidas e com as quais as famílias adotivas estabeleciam algum vínculo afetivo, como filhos de empregados domésticos. Hoje, a adoção à brasileira é considerada crime. Já a conclusão da adoção de “filhos de criação”, sem passar pelo procedimento legal mais comum, é complexa e envolve riscos e inseguranças jurídicas, como a desistência da família biológica. Sandra explica que o procedimento legal para a adoção começa com um cadastro dos pretendentes no Sistema Nacional de Adoção (SNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Quem quer adotar deve passar por curso de capacitação e avaliações socioemocionais. Isso demora de seis meses a um ano.
A vinculação entre o pretendente e a criança é outra etapa sensível. Nem toda criança que vive em abrigos está apta para ser adotada: é preciso, antes, que ela esteja desvinculada da família de origem. Viver em situação de pobreza, por si só, não indica que uma criança precisa ser adotada. “Para a colocação em família substituta, o Judiciário já exauriu as tentativas de reinserção na família natural e de inserção na família extensa”, explica Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão de Adoção do Instituto Brasileiro de Direito de Família (lbdfam). Casos de devoluções de adoções concluídas pelas vias legais, seguindo todos esses trâmites, são bastante raros, diz ela, justamente porque foram tomados cuidados prévios para verificar se as crianças estavam aptas à adoção e os pretendentes, preparados.
Essas situações de devolução podem levar, inclusive, a sanções para os pais adotivos, já que a adoção é um processo irrevogável. Também ocorrem, com baixa frequência nas adoções legais, as chamadas desistências: quando a criança já está morando com a família que pretende adotar, mas a sentença de adoção ainda não saiu. Dados do Conselho Nacional de Justiça mostram 521 desistências no ano passado, número 29% superior ao registrado em 2020. Neste ano, o CNJ já relata 113 desistências.
Em qualquer tipo de desistência ou devolução, a criança fica sujeita à instabilidade emocional, mas no caso de adoções informais o problema pode ser mais grave, já que falta acompanhamento profissional. “É uma grande frustração, porque ele experimentou uma vivência totalmente diferente em uma casa com todos os recursos”, diz Jadete Calixto, psicóloga especializada no tema.
Outro problema é a sensação de culpa. “A criança sofre e se culpa”, aponta Sandra Sobral. O caso de Carol provocou reações de grupos de defesa da adoção legal. “Induz que adoção é crueldade, que não é necessária a inscrição no SNA”, diz a advogada Cecília de Albuquerque Coimbra, vice-presidente do grupo de apoio à adoção Acolher, de Mairiporã.
Mais da metade da jornada acaba consumida por tarefas pouco nobres
Quantas horas você trabalha por dia? E quantas horas você realmente passa trabalhando por dia, cumprindo as funções do seu cargo?
É provável que as respostas para as duas perguntas sejam diferentes. Estar no trabalho não é sinônimo de produzir o tempo todo, claro. E nem estamos falando de procrastinação, mas sim de tarefas “secundárias” que precisam ser feitas no dia a dia mesmo que não tenham relação direta com os resultados que precisam ser entregues: deixar o e-mail limpo, organizar papelada, participar de reuniões intermináveis e pouco uteis…
Segundo um novo estudo da empresa Asana, uma plataforma de gestão do trabalho remoto, todo esse “trabalho extra” ocupa 58%do tempo dos funcionários pelo mundo, 33% dessa jornada vai para funções específicas, pelas quais o trabalhador foi contratado. E os 9% que sobram vão para o que a pesquisa chama de “estratégia”: o ato de planejar de forma objetiva as tarefas a serem feitas mais adiante.
O padrão é visto no mundo todo, com algumas poucas diferenças regionais. Os alemães são os que menos perdem tempo com tarefas secundárias- passam 40% da rotina atuando diretamente na sua função. A pesquisa consultou mais de 10.600 trabalhadores mundo afora. Outra conclusão do estudo foi de que a quantidade de tempo gasto na parte de estratégia/planejamento caiu, de 13% em 2019 para os 9% de agora. Pode ser um reflexo dos impactos do home office, que faz focar mais no aqui e agora do que no futuro.
Então entramos juntos no bar e viste tua ex-namorada na mesa ao lado da porta, acompanhada de uma amiga, o que me deixou insegura. Então a garçonete anotou nossos pedidos, um cálice de vinho pra mim e água sem gás pra ti, porque estavas dirigindo, e fiquei feliz de não precisares de um trago naquele momento tenso. Então uma jovem artista subiu no mini palco e ali começou a cantar lindamente as canções mais românticas de Chico, Vinicius, Tom, e eu fiquei enciumada de teus pensamentos, imaginando que cada letra trazia uma lembrança do que você e sua ex, ambos dentro daquele bar, teriam vivido juntos. Então eu pedi o segundo cálice e fiquei mais calada do que o habitual e você pousou seu braço sobre meu ombro. Então, com a mão, você delicadamente virou meu rosto a fim de que ele ficasse de frente para o seu. E com essa mesma mão você separou uma mecha de cabelo que caía sobre os meus olhos, e nos encaramos demoradamente como se estivéssemos apenas nós dois naquele ambiente escuro, e foram esses dois minutos de ontem à noite que eu trouxe de volta pra casa e que me ajudaram a dormir em paz com a cabeça sobre o teu peito e com a minha perna entre as suas.
Então levantei antes de você no domingo de manhã, enquanto seu corpo nu permanecia de bruços sobre a minha cama. Então passei pelo seu celular que estava sobre a mesa do quarto e percebi que havia várias mensagens não lidas no seu WhatsApp. Então peguei água na cozinha e, de pés descalços, com o copo na mão, fui até o jardim, pisei sobre a grama úmida e olhei para o céu. Então recuei, sentei num banco da varanda e chorei enquanto lembrava todos os momentos em que não confiei no que estava vivendo e lamentei minha insistência em ser uma mulher premeditada, que antecipa o fim trágico de um amor recém-iniciado como forma de evitar ser surpreendida pela dor. Então esse pensamento foi interrompido pelas suas mãos quentes nas minhas costas e eu voltei para o quarto com você.
Então a semana começou e vieram todos os outros dias do ano. Então eu estive alternadamente com você e sem você em compromissos repetitivos, situações cotidianas, deslocamentos pela cidade, checagens de extratos, preocupações mundanas de quem tem uma existência bem administrada. Então você era aquele homem que eu via nos intervalos das minhas atribuições, aquele que interrompia o ritmo alucinante da minha trajetória executiva, aquele que me telefonava no meio da tarde para dizer qualquer bobagem a fim de escutar minha voz. A dor nunca veio. O fim nunca chegou. Pela primeira vez eu vivia a continuidade de um desejo tranquilo e eterno, que soube acalmar as palpitações endiabradas do meu cérebro, bastando para isso dois minutos, não mais que dois minutos de um olhar, de uma mão afastando a mecha do cabelo sobre o meu rosto, dois minutos de um beijo prolongado, os dois minutos que residem para sempre naquele ontem à noite.
Alimentos que parecem reconfortantes, como carboidratos e açúcar, não são tão efetivos para a melhora do humor
É hora de começar a alimentar seu cérebro. Durante anos, a pesquisa sobre alimentação saudável se concentrou na saúde física e na ligação entre dieta, peso e doenças crônicas.
Mas o novo campo da psiquiatria nutricional estuda como os alimentos podem nos fazer sentir:
“Muitas pessoas pensam em comida em termos de cintura, mas ela também afeta nossa saúde mental”, disse Uma Naidoo, psiquiatra de Harvard e diretora de psiquiatria nutricional e de estilo de vida do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos. “É uma parte que não entra na conversa”.
A conexão entre o estômago e o cérebro é forte, e começa no útero. O intestino e o cérebro se originam das mesmas células do embrião, disse Naidoo. Uma das principais maneiras pelas quais o cérebro e o intestino permanecem conectados é através do nervo vago, um sistema de mensagens químicas de duas vias que explica porque o estresse pode desencadear sentimentos de ansiedade em sua mente e frio em seu estômago.
Muitas vezes as pessoas tentam modificar seu estado de espírito comendo alimentos reconfortantes. O problema, segundo especialistas, é que, embora esses alimentos normalmente oferecem uma combinação tentadora de gordura, açúcar, sal e carboidratos que os tornam hiper palatáveis , eles podem realmente nos fazer sentir pior.
Traci Mann, que dirige o Laboratório de saúde e alimentação da Universidade de Minnesota, realizou uma série de estudos para determinar se uma comida reconfortante melhora o humor. Os participantes responderam a seguinte pergunta: “Quais alimentos fariam você se sentir melhor se estivesse de mau humor?
Antes de cada teste, os participantes assistiram cenas de filmes conhecidos por provocar raiva, hostilidade, medo, ansiedade e tristeza. Após o filme, os espectadores preencheram um questionário de “humor negativo” para indicar como estavam se sentindo.
Em seguida, receberam uma grande porção de sua comida favorita; uma comida que eles gostavam, mas não consideravam uma comida reconfortante; uma comida “neutra” (uma barra de granola de aveia e mel); ou nenhuma comida. Todos tinham três minutos sozinhos para comer ou ficar sentados em silêncio. Após o intervalo, eles preencheram novamente o questionário de humor.
Se um participante tivesse comido um prato reconfortante, qualquer comida, ou nenhuma comida não fez diferença no humor. O fator que parece importar mais era a passagem do tempo.
Um estudo realizado durante quatro anos com mais de 10 mil estudantes universitários na Espanha, concluiu que as pessoas que seguiam estritamente uma dieta mediterrânea tinham menor risco de depressão.
Pesquisadores australianos examinaram diários alimentares de 12.385 adultos escolhidos aleatoriamente de uma pesquisa governamental que ainda está em andamento.
Eles descobriram que uma maior ingestão de frutas e vegetais levava a maior felicidade, satisfação com a vida e bem-estar.
Ainda temos muito a aprender sobre quais alimentos e em que quantidade podem melhorar a saúde mental.
“Nossos cérebros evoluíram para comermos quase qualquer coisa para sobreviver, mas cada vez mais sabemos que há uma maneira de alimentá-lo que melhora a saúde mental em geral”, disse Drew Ramsey, psiquiatra e professor clinico assistente na faculdade de Médicos e Cirurgiões Vagelos da Universidade Columbia, em Nova York, eautor do livro “Eat to Beat Depression and Anxiety” (Comer para superar a depressão e ansiedade).
A seguir, algumas combinações sugeridas pelos psiquiatras Naidoo e Ramsey para inserir na alimentação.
VERDURAS FOLHOSAS
Ramsey chama as folhas verdes de “a base de uma dieta saudável do cérebro” porque são baratas e versáteis e têm alta proporção de nutrientes para calorias. A couve é a favorita dele, mas espinafre, rúcula, folhas de beterraba e acelga também são ótimas fontes de fibra, folato e vitaminas C e A.
FRUTAS E LEGUMES COLORIDOS
Quanto mais colorido for o seu prato, melhor será o alimento para o seu cérebro. Estudos sugerem que os compostos em frutas e vegetais de cores vivas, como pimentão vermelho, mirtilo, brócolis e berinjela, podem afetar a inflamação, a memória, o sono e o humor. Alimentos avermelhados-arroxeados são “jogadores poderosos” nesta categoria. E não se esqueça dos abacates, que são ricos em gorduras saudáveis que melhoram a absorção de fito nutrientes de outros vegetais.
FRUTOS DO MAR
Sardinhas, ostras, mexilhões, salmão selvagem e bacalhau são fontes de ácidos graxos ômega-3 de cadeia longa, que são essenciais para a saúde do cérebro. Os frutos do mar também são uma boa fonte de vitamina B12, selênio, ferro, zinco e proteínas. Se você não come peixe, pode achar fontes de ômega 3 em sementes de chia e de linhaça e verduras marinhas.
NOZES, FEIJÃO E SEMENTES
Tente comer entre meia xícara e uma xícara cheia de feijão, nozes e sementes por dia, disse Ramsey. Nozes e sementes, incluindo castanha de caju, amêndoas, sementes de abóbora, são um ótimo lanche, mas também podem ser adicionados a pratos refogados e saladas. Feijão preto e vermelho, lentilhas, e legumes também podem ser adicionados a sopas, saladas ou apreciados como acompanhamento.
ESPECIARIAS E ERVAS
Cozinhar com especiarias não apenas melhora o sabor da comida, como certas especiarias podem levar a um melhor equilíbrio dos micróbios intestinais, reduzir a inflamação e até melhorar a memória, sugerem estudos.
Naidoo gosta especialmente de açafrão-da-terra ou cúrcuma. Segundo estudos, seu ingrediente ativo, a cúrcuma pode beneficiar a atenção e a cognição em geral.
“A cúrcuma pode ser muito poderosa, ao longo do tempo, disse ela. “Tente incorporá-la em seu molho de salada ou legumes assados, ou adicioná-la a marinadas, curry, molhos, ensopados ou shakes”. “Adicionar uma pitada de pimenta preta torna a curcumina 100% mais biodisponivel para o nosso cérebro e corpo”, disse ela.
ALIMENTOS FERMENTADOS
Os alimentos fermentados são feitos combinando leite, vegetais ou outros ingredientes crus com micro-organismos, como leveduras e bactérias.
Um estudo recente descobriu que seis porções diárias de alimentos fermentados podem diminuir a inflamação e melhorar a diversidade do microbioma intestinal.
Alimentos fermentados incluem iogurte, chucrute, kefir, kombucha e kimchi, um acompanhamento tradicional coreano de repolho fermentado e rabanete.
CHOCOLATE AMARGO
As pessoas que comem regularmente chocolate amargo têm um risco 70% menor de sintomas de depressão, de acordo com uma grande pesquisa do governo americano com quase 14 mil adultos. O mesmo efeito não foi observado em quem comeu muito chocolate ao leite.
O chocolate escuro é cheio de flavonoides, incluindo epicatequina, mas o chocolate ao leite e as barras de chocolate populares, são tão processados que não contem muita epicatequina.
O medicamento compreendido como remédio nos remete ao duplo do signi1i cante, sendo ele o de· dar remédio’ e o de ‘dar a solução’, ambos sinônimos de remediar. Quando o endereçam à criança, essa é uma tentativa de controlar as amarras infantis
Nesta vida cotidiana ditada pelo mestre capitalista, onde o mais gozar é o alvo, e a ilusão de felicidade, seu derivado, esquece-se daquilo que é humano e tenta-se aniquilar a essência humana que se pauta em infelicidades, inquietudes, faltas e deslizes. Em uma era onde o gozo é o sucesso, o que incomoda deve ser tamponado, porém, essa, além de ser uma higienista posição, é uma regra válida para uma formação civilizatória que desconsidera o laço social, as relações de afetos e as apostas nas palavras.
Desde os primórdios temos relatos de medicalizações ao mal-estar psíquico. Drogam-se de eras em eras, oscilando entre o gozo e o abandono do desejo. Algo, nesta contemporânea civilização tem nos convocado a refletirmos sobre uma posição de aquietações ao mal-estar. Lá onde dopavam-se a si mesmos – coisa que hoje ainda se faz – o advir é o dopar o Outro. Nesse caso, o Outro infante, a criança e seu ‘criançar-se’.
O medicamento compreendido como remédio nos remete ao duplo do significante, sendo ele o de ‘dar remédio’ e o de ‘dar a solução’, ambos sinônimos de remediar. Quando endereçam a demanda de medicamentos à criança, o adulto, aquietado pelo seu próprio mal-estar, tenta controlar as amarras infantis, oferencendo-lhe a pílula para a inquietude – a solução química – fazendo com que o remédio silencie o sujeito infantil e limite o seu ego, limite seu mundo, limite sua infância.
A lei psíquica deve demarcar a posição do limite do corpo, do real e do ir e vir da criança. A criança vacilará diante dessa lei, pois ela está em processo de desenvolvimento. Há um processo árduo a ser enfrentado, tanto pela criança, quanto pelo adulto. Espera-se que o adulto não desista entregando seu filho ao mundo das ‘tarjas pretas’. O músico e poeta Arnaldo Antunes adverte:
“é tarja preta
pode fazer mal pra você
ela é uma princesa Cinderela bela encantada
dando bola para todo mundo mas ninguém faz nada (…)
é tarja preta
pode fazer mal pra você.”
Por isso, os pais devem ficar atentos às crianças, pois são eles, a priori, os tentáculos que protegem as crianças quanto aos perigos da vida. Os pais devem se responsabilizar por suas crianças, que são sujeitos de direitos, até que a criança tenha desenvolvido em si o discernimento de limites, de perigos sobre elaborações da existência de uma pulsão de mor te e que saiba que não só de prazer vive o homem. A criança também é responsável pelas suas eleições , um responsável em construção. Aos medicamentos elas respondem, inventam, porém existem crianças que aceitam a imposição, ou seria melhor uma ‘imposição’?
A criança espera algo do grande Outro. Invoca, convoca e provoca o Nome-do-Pai, que muitas das vezes aparece no real da figura paterna, no imaginário em deslocamentos e no simbólico de uma pílula. Na ausência de uma crítica advinda do Supereu, a pílula torna-se o limite para a criança, o que faz com que ela fique entre a química desbussolada e as palavras ausentes ; não ditas pelo seu grande Outro. Assim, a infância fica perdida, dopada, sem lugar e nomeação, ocupando um não lugar nomeado pelo outro. Aliás, lugar há, ela fica no lugar de objeto receptor e não de sujeito dinâmico. Nessa perspectiva medicamentosa, ela não é banhada de palavra e manca quanto aos elementos constituintes do desejo.
Luiz Mena postula que “o fenômeno da medicalização destitui o sujeito de sua condição de partícipe e se posiciona. Em sua dinâmica e existência, é extravagantemente in quieto, pulsante e infantil. Tendo o inconsciente sua atemporalidade e a pulsão o tempo da tensão, o medicamento tem o tempo do Outro, o tempo de tentar fazer o impossível, o de silenciar e cessar o que não cessa de insistir.
O sujeito infantil com sua estranheza, uma vez acossado, transparecerá em emaranhados inventados psiquicamente para lidar com a nova situação. O tempo do medicamento, além de encaixar-se ao tempo capitalista – o do relógio – é falho, de seu próprio processo de subjetivação, fixando-o em uma posição de objeto” (Mena, 2013). E o que um objeto faz é ficar quieto, calado, inerte em concretude, passivo e pode ser colocado na posição que o Outro ordenar. A criança é corresponsável pelo seu processo de vida, porém, na lógica da medicalização, fica anulada, entregue, à mercê do discurso contemporâneo que de criança pouco sabe. A criança não produz sob a lógica capitalista, então produzem e ofertam algo aos pais para darem a elas. Jogando-as no estatuto de um fantoche que sofrerá à guisa de imaginários perversos, químicos do ‘cloridrato de metilfenidato’.
Dissemos de objeto, mas lá também há imprescindivelmente a presença de um sujeito. Um sujeito, diferente de um objeto, é ativo, fala, pois busca ir de encontro ao tempo da tensão pulsional. Desta forma, o medicamento visa cessar à tensão ou seria à “atenção”?
Nas crianças , o medicamento que tem sido devastadoramente uti lizado é a ‘Ritalina’, conhecida como ‘droga da obediência’, que busca calar, aquietar e cessar o hiperativo, controlando-o e consertando-o . Mas quem é o hiperativo que recebe uma desmedida quota da ‘química do mal-estar’?
SUJEITO HIPERATIVO
Essa discussão “tem ocupado os holofotes da cidade, e amplificou-se com o lançamento do DSMV, que aumenta o olhar medicalizante sobre a sociedade, incidindo de maneira especialmente dramática sobre a infância” (Mena, 2013). Diríamos que antes de qualquer coisa o hiperativo é um sujeito, uma criança, um moleque – que seja – mas que é digno de fala, desejante e, por conseguinte, demandante.
A política psicanalítica para a fórmula capitalista é inversa no tocante da demanda. A Psicanálise está ali, para que o sujeito sobre a sua demanda construa uma estratégia de vida. Na Psicanálise, o produto psíquico será construído por ele. Para a Psicanálise, a criança produz, se produz, inventa, cria, e faz um novo mundo acontecer . O produto na Psicanálise trata-se do capital da libido, do trabalho psíquico e do real pulsional. Já no capitalismo, a fórmula é diferente. No capitalismo, a criança não produz, pois não trabalha nem gera capital no real em notas de papéis. Então, eles ofertam o produto para construir a demanda. Assim, o prejuízo que a criança dá por não produzir é revertido para um lucro de consumismo.
Estando o medicamento ofertado a todo vapor, com promessas de soluções aos pais, muitos aderem, recorrem à Medicina e buscam dopar suas crianças, silenciando seu universo infantil, cristalizando seu desenvolvimento psíquico e apagando construções de vida, sem nem mesmo orientar-se se há o que ser medicado. O semblante prometido pelos labora tórios psicofarmacológicos é o de sanar as travessuras típicas da criança, emergindo o sossego ao adulto. Isto faz com que eles, até mesmo sem saber, iludem-se e retirem as crianças lá onde elas deveriam imperar, ou seja, da própria infância.
“Nesse impasse, os educado res não possuem uma concepção de criança ativa, produtora de seus desejos, autônoma e com direitos de expressar seus pensamentos. Assim, muitos dos comportamentos manifestos pelas crianças são vistos como indisciplinados e agitados, fazendo com que elas sejam consideradas “hiperativas”.
O hiperativo – com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) – possui um quadro clínico que, devido à oferta do produto ‘cloridrato de metilfenidato’, mais conhecido por ‘Ritalina’, tem tido um assombroso aumento de prescrições em receitas. As em presas psicofarmacológicas fazem jogos perversos com os significantes de seus produtos, além da Ritalina, temos ofertado por outro laboratório o “Concerta”. Concerta o que? A infância? Manifestações da vida? A pulsão? ‘Com certeza’ há algo não explicado por aqui.
Estamos vivendo uma “violência química”, para usar o termo cunhado por Luci Pfeiffer, pediatra e psicanalista. Estas substâncias estão sendo cada vez mais cedo usadas nos infantos quando seu tratamento cronificado com consequências psíquicas drásticas à constituição de sujeito.
Para uma precisão do diagnóstico de TDAH é necessário ouvir a criança, escutá-la em sua história de vida sobre o saber inconsciente, buscando a causa do desejo fixada na inquietude do corpo e tecer redes de saber com avaliações neurológicas, pois há algo de neurobiológico e psíquico aqui.
É preciso distinguir o hiperativo do TDAH. Muitas vezes, o prejuízo da inquietude e ‘ desatenção’ da criança volta-se às dificuldades dos pais, professores e educadores. Professores são diferentes de educadores, eles ensinam, não apenas educam, e parece-me que na contemporaneidade estão confundindo esses papéis. O lugar de educador está sendo ocupado ora pelos pais, ora pelos professores e ora por medicamentos . São esses os grandes Outros da criança. São esses quem nomeiam o insuportável, apontam que algo não vai bem e jogam na criança os sintomas. Mas, já nos alertava Tom Zé; “se persistirem os médicos, os sintomas deverão ser consultados”. Logo, a criança deverá ser ouvida ela fala!
O TDAH diz tanto da hiperatividade quanto do déficit de atenção . Elementos não mensuráveis, que não sendo escutado o ser que os faz acontecer, não há possibilidade de saber o que se passa. Uma criança desatenta, ‘com certeza’ está desatenta a algo que não lhe dá prazer. O aparelho psíquico é atraído pelo prazeroso, fazendo com que a criança centre sua atenção a outro polo não visto pelos olhos do outro. Por detrás de um olho há um sujeito. Já o hiperativo é inquieto ao desejo dos pais. O prejuízo deve ser dito e só a criança poderá dizê-lo.
Obviamente não devemos negar a existência de diagnósticos cuidadosos sobre a hiperatividade. Muitos são os casos que necessitam de um acompanhamento criterioso, e que podem incluir o uso de medicamentos. Nos interessamos, sobretudo, destacar a preferência por um diagnóstico, ante o trabalho inexorável de criar e educar.
É necessário educar a criança e ouvi-la e não atordoá-la à química com riscos para a vida. Nas palavras escapam essências humanas que medicamento nenhum será capaz de colocá-las em cápsulas. Nas palavras há amor, vínculos, ódios, histórias, remendos, e até mesmo o impronunciável. Sai na sonorização, o duplo momento. Há um encontro psíquico com o Outro ouvinte. A química deve ser válida para fazer valer a palavra, caso contrário, se está a anulá-la, será uma violência. Um crime. Há o direito de falar. E quem tem o direito de emudecer o sujeito? Essa química, além do mal-estar na palavra toca no mal-estar do corpo, que:
“segundo a Anvisa, tem como efeitos adversos dores gastrointestinais, dor de cabeça, supressão do crescimento, aumento da pressão sanguínea, desordens psiquiátricas, redução de apetite, depressão, crise de mania, eventos cardiovasculares graves, excessiva sonolência e morte súbita.
O hiperativo visto pelo social é aquela criança que é ‘muito’ ativa, esperta e questionadora. Esse tipo de criança – que é a maioria – coloca em xeque o saber do adulto, testa sua sexualidade , e demarca o impossível da pulsão nas tentativas do adulto em regulamentá-la, seja educando-a e ou governando-a. Escapa e sempre escapará um plus pulsional que exige atenção única.
A dificuldade se desloca, caminha com o lugar de quem ocupa o Supereu, o de responsável sobre o infante. Das famílias vão às escolas, das escolas retornam às famílias.
“No âmbito escolar, o TDAH surge como justificativa para a repetência e o fracasso. Crianças cujos comportamentos não correspondem ao esperado ou desejado pelos professores são vistas como portadores de tal transtorno. Os pais, influenciados pelas queixas dos educadores, passam a procurar ajuda médica e psicológica, com o intuito de sanar tais comportamentos considerados anormais, o que acarreta na medicalização, que surge como principal meio de ‘solucionar’ o problema”.
Os números que já nos assustam devido às suas trágicas aplicações ampliam-se nas férias escolares, o que reforça a tendência da utilização da’ droga da obediência’.
“Os números mais recentes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) da Anvisa indicam que o consumo anual de metilfenidato industrializa do no Brasil entre 2009 e 2011 mais que dobrou no período, saltando de 557.588 caixas para 1,2 milhão, sendo os indivíduos entre 6 e 16 anos os principais consumidores. Nesta faixa etária, o aumento do uso foi de 74%, contra 27,4% no grupo entre 6 e 59 anos.”
É necessário ao psicanalista e especialistas da área se questionarem, questionarem o Outro e fazerem políticas em prol da infância e seus dizeres, seja com o corpo, com a fala e suas inquietudes, na perspectiva de evitar uma prescrição generalizada da obediência.
A criança fala e ao ser perguntada o motivo de estar na clínica psicanalítica ela lança seu carretel de saber e diz: “sou imperativo”. Este relato dito em uma conferência , ecoa o saber da criança e suas invenções. As crianças sabem fazer de suas pulsões e sintomas, trilhas de vida, uma forma de “conserta”, porém, sem química, mas com palavras. As crianças elegem as palavras. Até quando os adultos elegerão a mudez química?
Cientistas colhem pistas sobre pessoas que driblam infecção pelo coronavírus
Todos nós conhecemos alguém que, de alguma forma, conseguiu evitar a Covid-19. Após o tsunami da Ómicron, a quantidade de pessoas que conseguiu essa façanha diminuiu, mas o fato é que elas ainda existem. Há alguma razão pela qual uma pessoa pode ser resistente à infecção? É justamente isso o que a ciência está tentando descobrir.
Inicialmente, as pesquisas focaram em entender quais fatores genéticos contribuíam para o agravamento da doença mesmo em pessoas sem fatores de risco. Eles descobriram que 20% delas apresentavam mutações nos genes que produzem interferon, sustância usada pelo organismo como primeira linha de defesa contra o vírus.
Assim como a genética pode ser um fator determinante da gravidade da doença, ela também pede ser a chave para a resistência à infecção pelo Sars-CoV-2. E é nisso que os estudos se concentram agora: encontrar pessoas superimunes e identificar os genes que conferem essa proteção. A expectativa é que esse conhecimento leve ao desenvolvimento de tratamentos e vacinas que impeçam não só o agravamento da Covid-19, mas o desenvolvimento da doença em si.
“Identificar as variantes no material genético que ajudam a proteger essas pessoas também ajuda a entender o mecanismo de ação por trás dessa proteção e isso pode servir a um grande número de pessoas”, diz o geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genétika, em Curitiba.
Alguns estudos já apontam para as principais características dessas pessoas que variam de ausência de receptor que permite a entrada do vírus na célula até uma poderosa resposta imunológica ao ataque.
RESPOSTA IMUNOLÓGICA
Um estudo publicado na revista Nature mostrou que profissionais de saúde que foram altamente expostos ao coronavírus, mas que não foram infectados apresentavam células T que reconhecem e matam as célula infectadas mesmo sem nunca ter tido contato com o vírus. Na prática, essas pessoas nunca foram de fato infectadas porque o vírus foi prontamente eliminado assim que entrou no corpo.
A descoberta é particularmente significativa. Essas células T tendem a gerar uma imunidade que dura anos. O desenvolvimento de uma vacina que treina o sistema imunológico a produzir essas células de defesa, em vez de anticorpos, pode ajudar a proteger não só contra as cepas existentes, mas contra variantes futuras e até mesmo contra patógenos novos.
Outra pesquisa, feita pela Universidade de São Pulo, descobriu que as pessoas que não adoeceram têm uma ativação mais eficiente de células de defesa conhecidas como exterminadoras naturais ou NK (do inglês ‘natural killers”), que servem como primeira barreira de defesa do nosso organismo contra uma infecção.
Há ainda pessoas que podem ter mutações que aumentam os genes que impedem o vírus de se replicar ou que decompõem o RNA viral na célula, especialmente nas células que revestem o interior do nariz, que é a porta de entrada da infecção.
TIPO SANGUÍNEO
Um estudo realizado na China, no primeiro ano da pandemia, descobriu que o tipo sanguíneo A parece estar associado a um maior risco de contrair o vírus, enquanto pessoas com tipo O teriam uma pequena redução do risco. Entretanto, ainda não se sabe o que confere esse efeito protetor.
MUTAÇÃO NO RECEPTOR
É possível que algumas pessoas carreguem uma mutação rara no receptor ACE2, que impede que a proteína spike do coronavírus invada as células.
Um mecanismo similar já foi identificado no HIV. A descoberta levou ao desenvolvimento de uma classe de medicamentos contra a doença, que bloqueiam o vírus. Na década de 1990, pesquisadores identificaram que algumas pessoas não desenvolviam Aids, embora fossem altamente expostas ao HIV. Eles descobriram que elas tinham uma mutação rara que desativa o receptor CCR5, impedindo a entrada do vírus na célula.
O infectologista Celso Granato, diretor clinico do Grupo Fleury, acredita que a explicação para pessoas com uma superimunidade contra a Covid-19 esteja justamente na ausência do receptor, que impede que a infecção se instale, ou em uma resposta imune muito robusta.
Esse fenômeno não é exclusivo da Covid-19 ou da Aids. Ele está presente em outras infecções virais. Todo mundo conhece alguém que dormiu na mesma cama com uma pessoa gripada e não teve sintomas.
Como ainda existem mais perguntas do que respostas, essas análises continuam em andamento. Uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo uma brasileira, está conduzindo um estudo para identificar os genes que protegem esses indivíduos resistentes.
A principal dificuldade é selecionar os voluntários. Acredita-se que a resistência genética ao Sars-CoV-2 seja rara na população. A resistência à infecção pelo HIV, por exemplo, está presente em 1% das pessoas. Por isso, é preciso garantir que os voluntários são pessoas que realmente foram altamente expostas ao vírus sem proteção e não contraíram a doença.
A expectativa está em casais discordantes ou em profissionais de saúde que não se infectaram no começo da pandemia. Já são cerca de 700 voluntários inscritos e mais de 5 mil em análise. Uma vez identificados os possíveis candidatos, os pesquisadores vão comparar os genomas desses indivíduos com os de pessoas que foram infectadas, em busca de genes associados à resistência.
O escritório sexagenário de advocacia incorporou o tema da diversidade inclusão há dez anos e se tornou referência na área
O caminho para idealizar, desenvolver e atingir metas relacionadas a diversidade e Inclusão pode ser longo – e o escritório de advocacia Trench Rossi Watanabe está nessa jornada há mais de dez anos. O resultado de uma década de consciência sobre a importância de valorizar todos os grupos sociais dentro de um ambiente corporativo tem reflexos concretos no dia a dia da empresa.
A igualdade de gênero, ainda debatida em locais predominantemente masculinos, é uma questão superada.
Atualmente, as mulheres representam mais de 50% do quadro de 407 colaboradores e também da chefia. A liderança do Comitê de Diversidade e Inclusão está sob responsabilidade de Anna Mello, uma das sócias majoritárias do escritório, e outros membros da administração fazem parte do grupo.
A experiência mostrou a necessidade de criar grupos de afinidades, com temáticas como LGBTI+, diversidade de gênero. etnias e raça, pessoas com deficiência e religiões. e entender a forma de atender às demandas específicas de cada recorte. Ainda em 2016, foi criado o grupo de afinidade LGBTrench, que trabalha as questões dos públicos que representam as letras da sigla. Com relação à igualdade racial, o objetivo é alcançar 30% de colaboradores não brancos. Dentro do grupo PCD, o Trench Rossi Watanabe almeja manter o índice acima de 5% e com pelo menos 8%, bem acima da cota exigida por lei
No caso de PCDs especificamente, a legislação faz com que esses profissionais sejam bastante assediados pelo mercado. Neste sentido, Mello destaca como as pessoas contratadas pelo escritório costumam entrar no radar da concorrência. “Somos um berçário, uma incubadora de excelentes profissionais”, diz.
“Somos conhecidos no mercado por sermos bons treinadores de talento. Isso é ótimo, mas também somos alvo de contratações. Queremos que as pessoas possam evoluir e ficamos felizes por elas·, afirma.
Ao mesmo tempo, a consolidação da cultura inclusiva depende da relação entre as pessoas. Cada contratação passa pelo treinamento sobre diversidade e pela explicação sobre as regras existentes no escritório. Caso o novo colaborador não se adapte, a empresa é clara: a tolerância com discriminação e preconceito é zero.
Os casos que chegaram a ser denunciados foram trabalhados com confidencialidade para proteger as partes envolvidas. Na tomada de decisão sobre como conduzir a situação, há episódios que podem ser solucionados com uma advertência séria para que a pessoa se recupere, e há aqueles que demandam o desligamento imediato. “A política existe e é aplicada, não é só algo escrito. As pessoas do escritório sabem que as regras são levadas a sério”, diz Mello.
O mesmo se aplica à prática de assédio. Pela compreensão sobre as implicações diversas que são causadas pela falta de representatividade, o escritório reconhece que um caso de abuso no ambiente corporativo normalmente é sobre mais de uma questão. “Muitas vezes. o assédio tem como pano de fundo algum tipo de constrangimento a uma parte vulnerável. Quando a vítima é uma mulher e negra, por exemplo, fica evidente que a situação aconteceu por causa das características de quem foi alvo , afirma Mello.
Poucas pessoas gostam de viajar sozinhas. O que é compreensível: a melhor modalidade é a dois, também acho. Mas na ausência momentânea de parceria, por que desconsiderar uma lua de mel consigo mesmo?
Uma amiga psicanalista me disse que não é por medo que as pessoas não viajam sozinhas, e sim por vergonha. Faz sentido: numa sociedade que condena a solidão como se fosse uma doença, é natural que as pessoas se sintam desconfortáveis ao circularem desacompanhadas, dando a impressão de serem portadoras de algum vírus contagioso. Pena. Tão preocupadas com sua autoimagem, perdem de se conhecer mais profundamente e de se divertir com elas próprias.
Vivi recentemente essa experiência. Tirei dez dias de férias, e não diga que não reparou ou morrerei de desgosto. Estive em lugares que já conhecia para não me sentir obrigada a conferir as atrações turísticas – o “aproveitar” não precisa necessariamente ser dinâmico, podemos aproveitar o sossego também. Minha intenção era apenas !fanar, ler, rever amigos que moram longe e observar a vida acontecendo ao redor, sem pressa, sem mapas, sem guias. Dormir até mais tarde e almoçar na hora em que batesse a fome, se batesse. Estar disponível para conversar com estranhos, perceber o entorno de forma mais aguçada, circular de bicicleta por cidades estrangeiras. Ave, bicicleta! Di ante do incremento de turistas no mundo, não raro impossibilitando a contemplação de certos pontos, alugar uma bike às 7h30 da manhã foi a solução para curtir ruas vazias e silenciosas.
Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um de feito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está afim de negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igual mente comprometido?
Numa praça em Roma, um casal de brasileiros se aproximou. Começamos a conversar. Lá pelas tantas perguntei de onde eles eram. “De São Paulo, e você?”. Respondi: “Nós, de Porto Alegre”. Nós!!! Quanta risada rendeu esse ato falho. Eu e eu. Dupla imbatível, amor eterno, afinidade total.
Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia. Mas se está tudo bem entre “vocês”, saiam por aí e descubram como é bom sentar num café num dia de sol, pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora pra voltar, pedalar ao longo de um rio ouvindo suas músicas preferidas, em conexão com seus pensamentos e senti mentos, nada mais.
Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só.
VITAMINAS REALMENTE FUNCIONAM CONTRA UNHAS QUEBRADIÇAS?
Médicos dizem que aspecto frágil pode estar relacionado a vários problemas de saúde
Nos mercados, farmácias e lojas de cosméticos é possível encontrar diversas opções de vitaminas e minerais que prometem ajudar no tratamento das unhas quebradiças e danificadas. Mas, afinal, será que essas vitaminas e suplementos são realmente eficazes na prevenção ou cura desses problemas?
Os fabricantes de suplementos geralmente comercializam a biotina, uma vitamina B, para a saúde das unhas, com base em dois pequenos estudos publicados na década de 1990 que constataram que a maioria dos pacientes mantinham unhas mais fortes e grossas durante vários meses após o início de um suplemento de biotina. No entanto, nenhum estudo incluiu um grupo de controle que tenha ficado em observação especificamente para comprovar que a vitamina é a única responsável. Portanto, quaisquer melhorias podem ter sido resultado de mudanças na dieta ou no cuidado com as unhas.
A biotina ajuda o corpo a usar carboidratos, gorduras e proteínas e é encontrada naturalmente em muitos alimentos, incluindo nozes, ovos, abacates, carnes, peixes e vegetais.
O Instituto de Medicina dos EUA diz que os adultos precisam de cerca de 30 microgramas de vitamina B por dia, uma quantidade facilmente obtida com uma alimentação equilibrada. Em contraste, os estudos voltados para a saúde das unhas usaram doses de 2.500 a 3.000 microgramas, cem vezes mais que a quantidade recomendada.
“Nesses níveis, você está dando a uma pessoa doses que não poderiam ser obtidas a partir de alimentos sem um esforço extraordinário ou seleção especial, então isso é meio que usá-lo como uma droga, um medicamento”, disse o médico Paul Thomas, nutricionista e consultor científico do Escritório de Suplementos Dietéticos dos Institutos Nacionais de Saúde nos EUA.
Como a Food and Drug Admnistration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, registra os suplementos como alimentos, não como produtos farmacêuticos, eles não são revisados quanto à segurança ou eficácia antes de chegar às prateleiras das lojas, embora os dados de segurança limitados sobre a biotina sejam tranquilizadores. Como uma vitamina solúvel em água, o excesso dela parece ser facilmente eliminado por meio da urina.
A médica Monica Lawry, dermatologista do Sutter Medical Group em Davis, Califórnia, é pessimista em relação às doses de vitaminas minerais e misturas de ingredientes à base de plantas frequentemente comercializadas para a saúde das unhas.
“Não há evidências de que funcionem”, diz Lawry, acrescentando que esses produtos normalmente são muito caros.
CAUSAS POSSÍVEIS
De acordo com a dermatologista, pessoas com unhas quebradiças, finas, fracas e rachadas muitas vezes têm a síndrome de Raynaud, que consiste em um fluxo sanguíneo ruim para os dedos das mãos e dos pés, que pode ser provocado por uma condição médica subjacente mais grave.
Outras causas possíveis incluem ainda doenças da tireoide e anemia por deficiência de ferro.
“Problemas nas unhas podem ser sinal de alguma condição que deve ser tratada por um médico, então, vale a pena ter um dermatologista para avaliar o caso”, reforça Monica Lawry.
A médica diz que a maioria das unhas quebradiças é causada pela secura. Para manter as mãos hidratadas, ela recomenda aplicar um hidratante simples contendo alfa-hidroxiácido nas próprias unhas. Mergulhá-las em um banho de cera de parafina por 10 a 20 minutos também pode ajudá-las a absorver umidade extra.
Limite visitas a manicures e, se a Covid-19 permitir, evite a lavagem frequente das mãos e o uso de desinfetantes à base de álcool, que podem ressecar ainda mais as unhas.
Pesquisa inédita detalha crise de saúde mental entre jovens brasileiros
A diminuição da intensidade da pandemia de Covid-19 no país não se refletiu na redução de casos de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes. É o que indica tanto o monitoramento nacional feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com quase seis mil jovens país afora, quanto a percepção de especialistas que alertam para uma crise de saúde mental de pessoas nesta faixa etária.
Entre as razões apontadas por médicos e famílias estão as tensões geradas pelo retorno híbrido e presencial às aulas após até um ano e meio letivo de ensino remoto, as sequelas do longo período de isolamento social, a retenção de casos não tratados nos últimos dois anos e uma imersão ainda maior no mundo digital com o tribalismo acentuado por redes sociais e jogos online.
Coordenado pelo psiquiatra Guilherme Polanczyk, o monitoramento acaba de ser publicado na European Child and Adolescent Psychiatry. Os 5.795 jovens foram monitorados on-line desde junho de 2020.
No segundo semestre daquele ano, 36% apresentaram sintomas de depressão e ansiedade, que flutuaram desde então, mas vem se mantendo nos mesmos níveis. Os “problemas emocionais”, por exemplo, diminuíram entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, mas tornaram a aumentar em maio do ano passado, se comparados com o mesmo período do ano anterior.
A CRISE É GRAVE
Dentre os fatores associados ao aumento de ansiedade e depressão estão a chegada da puberdade durante a pandemia, a sensação de solidão, a rotina de sono inferior a oito horas diárias, a queda de renda familiar e o desenvolvimento de doenças associadas à Covid-19 por pessoas próximas. O universo da pesquisa incluiu jovens com acesso digital, portanto, há subnotificação, ampliando a dimensão da crise.
Polanczyk destaca que não há como se comparar dados atuais com os de períodos anteriores à pandemia, por conta da escassez de pesquisas no Brasil. Ao mesmo tempo, o número insuficiente de consultórios e ambulatórios dificulta a comparação empírica básica: eles estiveram e seguem lotados.
“Com os novos dados e o relato de clínicos, sabemos que há aumento expressivo de crianças e adolescentes com questões sérias nos consultórios. E não houve diminuição com a distensão da pandemia”, atesta.
O DESAFIO DA VOLTA
Durante a crise sanitária, jovens em tratamento de depressão e ansiedade relataram nos consultórios não só o aumento da sensação – não mais subjetiva – de isolamento, como também sintomas similares apresentados pelos pais e os reflexos da transformação radical da vida escolar. A relação com amigos, estímulos acadêmicos, a maneira como são testados seus conhecimentos e o bullying são fatores centrais na saúde mental dos mais jovens.
São significativos os casos de violência entre alunos e com professores relatados após o retorno presencial às aulas, de dificuldade de concentração e de bloqueio nas provas.
“Vivemos um momento de reaprendizado. Crianças são dinâmicas e flexíveis, com enorme capacidade de adaptação a novas realidades, mesmo as que nasceram na pandemia e as que estavam sendo alfabetizadas à época. É possível sair deste momento crítico”, diz.
O CLAMOR DE LORENZO
Lorenzo Deus, 18 anos, procurou por conta própria o consultório de um psiquiatra. Carismático, ele fazia da escola, na zona oeste de São Paulo, uma “segunda casa”, com amigos próximos e confidentes. A pandemia varou sua vida de cabeça pra baixo: os amigos foram para trás das telas, a mãe e a irmã se mudaram da capital paulista para uma casa em Santa Catarina a fim de cuidarem da avó, e ele ficou na cidade, sem ir ao colégio, com o pai, que terminara uma relação duradoura. A mãe, a empresária Cinthia Sperandio, viu, por sua vez, seu relacionamento com o companheiro, neozelandês, se tornar, em tempos pandêmicos, uma relação l00% à distância.
“O mundo digital nunca me bastou e a ausência do olho no olho foi barra pesada pra mim. Senti que havia algo errado comigo, quase não saia do quarto, mas não quis dividir isso inicialmente com meus pais, pois eles também estavam passando por momentos difíceis”, conta o jovem, que tentará este ano passar no Enem para Direito.
Lorenzo é direto: por mais que o colégio privado e dos mais conceituados em São Paulo buscasse maneiras de incrementar o ensino à distância, na prática, diz, “não aprendi nada”. Além do tratamento médico, central para combater depressão e ansiedade, ele clama por maneiras outras de avaliação escolar que não sejam focadas apenas em provas escritas, mas também na formação de “seres humanos melhores, mais solidários”, necessidade, argumenta, escancarada durante a pandemia.
Nos consultórios, a proximidade do exame é fonte recorrente de estresse para a população jovem.
“Eles contam que muitas vezes colavam nas provas e as escolas estão sendo muito cobradas pelos pais. A pressão, especialmente nos que irão fazer o Enem, é enorme”, diz Polanczyk.
‘THE AMERICAN WAY’
Especialistas em terapia cognitivo-comportamental e neuropsicologia da infância e adolescência, Ângela AIfano, catedrática da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que hoje clinica nos Estados Unidos, também não mede palavras: há sim, lá e cá, uma crise de saúde mental entre crianças e adolescentes, potencializada pela pandemia. E que não dá sinais de arrefecer.
“Durante a pandemia houve um momento em que os psicólogos não davam mais conta da demanda, especialmente nos casos de depressão e ansiedade. E a vida voltada para a realidade digital tem efeito comum neste aumento persiste, diz a especialista.
Nos Estados Unidos a multiplicação de casos, detectada desde a segunda metade da década passada se acentuou durante a pandemia. Há seis meses, a principal autoridade médica do país pediu atenção para “uma devastadora crise de saúde mental entre os jovens. E diretores de hospitais americanos alertam para a escassez de profissionais e de pesquisa. Situação, apontam os especialistas ouvidos, similar à do Brasil.
“Na realidade digital jovens e crianças que ainda estão formando suas identidades se comparam o tempo todo, mas com o palco dos outros, sem ver os bastidores. Os filtros da imagem ditam um ideal de perfeição dissociado da realidade. A pandemia mexeu com um tabuleiro já bem complicado”, descreve Ângela Alfeno.
O UNIVERSO ON-LINE
A literatura sobre o tema e vasta, mas não há conclusões definitivas sobre de que modo a onipresença digital afeta a saúde mental dos mais novos. Alfeno não nega, por exemplo, a importância positiva que as relações digitais tiveram durante a pandemia. E Polanczy destaca as meta-análise que cravaram impacto negativo pequeno do tempo, de tela sobre a saúde mental dos jovens, quando detectado. A crise, afinal, atingiu também quem não via o universo digital um refúgio tentador, como Lorenzo. Aumenta, no entanto, o debate na academia sobre qualidade deste conteúdo cada vez mais popular.
Alguns pacientes potencializaram suas habilidades com as telas durante a pandemia, até empreenderam. Mas outros buscaram nas redes pessoas que também estão deprimidas, e com o tribalismo, há uma potencialização muito danosa. E há os que abdicaram de vez da vida real, passando dia jogando videogame interagindo socialmente apenas com os parceiros virtuais de game”, diz o catedrático da USP.
Mas a pandemia, por outro lado, aponta Polanczy também fez com que a depressão fosse “normalizada”. Perdeu boa parte do estigma que carregava.
O aumento não foi apenas nos números, que assustam, mas também há o interesse da sociedade em mergulhar em algo que precisa ser discutido urgentemente. Abriu-se uma janela importante para que famílias e escolas observem mais os jovens, investindo no tratamento e na saúde mental dos brasileiros do futuro”, defende Polanczy.
Humanos encontraram em creches cheias de mimos um oásis para apaziguar o estresse de seus cães em lockdown. Pois eles seguem matriculados e muito bem, obrigado
O elo entre humanos e caninos vem se sedimentando ao longo de milênios e fazendo germinar inabaláveis amizades planeta afora. Não tem mais nada a ver com o princípio de tudo, lá se vão uns 40.000 anos, quando os animais se aninhavam junto ao homem para faturar uns restos de alimento, enquanto lhe serviam de proteção em um mundo repleto de armadilhas. A passagem do tempo trouxe qualidade a essa troca. Cachorros de toda a espécie foram sendo domesticados e ganhando regalias sob o teto onde eram abrigados, numa escalada de mimos em que a cada dia novas fronteiras são rompidas. Atualmente, as atenções estão voltadas para creches pensadas nos mínimos detalhes para uma parcela da matilha que pode pagar por dias repletos de atividades e estímulos. Elas existem no país desde os anos 2000, derivadas de um negócio bem mais simples e caseiro – o dos cuidadores de pets. A novidade reside no crescente leque de serviços à disposição, que se assemelham ora com os de uma escolinha infantil, ora com os de um spa de dar inveja a qualquer Homosapiens.
Há anos esse mercado já avançava na casa dos dois dígitos. Aí vieram, em sequência, a pandemia, o isolamento humano e cãezinhos estressados – e estava semeado o terreno para que as creches caninas se proliferassem. “Os animais começaram a ficar agitados, apresentar quadros de ansiedade, e nesses espaços de socialização puderam extravasar a energia acumulada no lockdown”, explica a veterinária Kellen Oliveira, presidente da Comissão de Bem-Estar Animal. Não à toa, registrou-se no último ano um crescimento estimado em 200% na procura por esses oásis para cachorros, cujo preço mensal chega a 3.000 reais, a depender do turno (pode ser de doze horas) e da seleção das regalias (infinitas). Agora que a vida retorna à normalidade, com as pessoas voltando ao escritório e viajando, quem recém descobriu tais creches não larga mais delas “Surgiu inclusive um nicho de empreendedores que alugam casarões em áreas nobres do Rio e de São Paulo para convertê-los em versões ultrassofisticadas”, conta o especialista em comportamento animal Cleber Santos, dono da Comport Pet, que é também hotel, centro de adestramento e escola para preparar investidores no ramo.
Imagine um tratamento vip em que o dia mal raiou e o animal já se encontra sob os olhos atentos de uma equipe treinada não apenas para dividir as turmas por porte, mas também pelo nível de energia de cada representante da espécie e pela afinidade que demonstram entre si. Para os que não fizeram o desjejum, muitas vezes lhes é oferecido o brunch – enunciado assim mesmo -, refeição frequentemente livre da ração de sempre, que cede a vez no prato a uma mescla de vegetais e carne fresca selecionados por um nutricionista. A partir daí, o céu pode ser o limite para cães com distintas necessidades. Tutora de Fiona, uma buldogue, e Geleia, uma golden retriever, a empresária Danielle Mesquita, 28 anos, percebeu nas duas alguma agitação e achou na creche que frequentam sessões de musicoterapia e cromoterapia. Se antes a dupla latia em sinal de protesto quando ela saia à rua, hoje revela os efeitos benéficos dos agrados relaxantes que recebem. “Estão muito mais equilibradas”, afirma Danielle.
O vigor do mercado canino se ampara no contingente de cachorros das mais variadas raças no Brasil – são 54,2 milhões deles, número superior ao de crianças. Contabilizada toda a cadeia produtiva em torno dessa multidão peluda, o faturamento em 2021 cravou 51,7 bilhões de reais, 27% a mais em relação à movimentação do ano anterior, que por sua vez havia crescido 15%. Sensível aos números, Danielle Magagna, proprietária da Dog’s Ville, decidiu lançar, com o perdão do trocadilho, filhotes de sua creche paulistana por meio de franquias, que logo chegarão a Salvador e Belo Horizonte. “Não para de aparecer gente interessada em abrir sua própria unidade”, diz.
Para os donos dos cães, deixá-los queimando energia fora de casa impacta positivamente na rotina doméstica. Assim como ocorre com os humanos, o permanente com convívio outros da espécie impõe um aprendizado vital aos animais, que lapidam as habilidades da socialização . A vira-lata Madalena mudou de dois anos para cá, quando foi matriculada em uma creche pelo empresário Matheus Curcio, 27anos. “Ela nunca mais brigou com outros cachorros nem arranjou confusão com as pessoas”, relata o aliviado dono, que gosta da possibilidade de observar on-line e em tempo real a vida boa de Madalena. Ela pode estar dando um mergulhinho na piscina ou até mesmo levando espetadelas em meio a uma sessão de acupuntura. E assim retorna para casa, como tantos de sua geração, perfeitamente em paz para exercer o papel milenar de um cão: ser o melhor amigo do homem.
SHERYL SANDBERG ANUNCIA SAÍDA DA DONA DO FACEBOOK APÓS 14 ANOS
Executiva comunicou decisão ao fundador, Mark Zuckerberg; ela vai para o conselho de administração da gigante da internet
Sheryl Sandberg, principal nome do Facebook depois do fundador Mark Zuckerberg, anunciou que está deixando a empresa após 14 anos. Segundo a diretora de operações, a saída vai acontecer ainda neste mês – embora ela continue ocupando uma cadeira no conselho da companhia.
“Quando aceitei esse trabalho, em 2008, eu esperava que fosse ficar nesse cargo por uns cinco anos. Quatorze anos depois, é hora de escrever o próximo capítulo da minha vida”, escreveu a executiva em uma postagem no Facebook.
Sheryl trabalhou como uma peça chave ao lado de Zuckerberg, depois de construir a área de negócios no Google. Frequentemente citada como sendo a “adulta na sala” durante os primeiros anos de Facebook, a executiva tinha a tarefa de transformar uma startup em crescimento em uma empresa lucrativa.
Esse aspecto ecoou nas palavras de Zuckerberg em sua despedida. “Quando a Sheryl entrou no Facebook em 2008, eu tinha 23 anos e mal sabia como administrar uma empresa. Construímos um ótimo produto, mas não tínhamos um negócio lucrativo e estávamos lutando para fazer a transição de uma pequena startup para uma organização real. A Sheryl arquitetou nosso negócio publicitário, contratou ótimas pessoas, criou nossa cultura administrativa e me ensinou como administrar uma empresa”, escreveu ele.
Em 2008, quando chegou à companhia, o Facebook tinha cerca de 100 milhões de usuários – hoje são 1,91 bilhão, incluindo também o Instagram e o WhatsApp. Na época, a plataforma havia acabado de alcançar O My Space como a principal rede social dos EUA. Após o anúncio de ontem, as ações da Meta caíram 3%.
O diretor de crescimento Javier Olivan irá substituir Sandberg, comunicou Zuckerberg em uma postagem na rede social. Espanhol, Javier trabalha na Meta há mais de 14 anos e liderou equipes que lidam com Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger.
O executivo tem MBA em Administração de Empresas pela Universidade Stanford e é graduado em engenharia elétrica pela Universidade de Navarra. Ele passou por Siemens, Mercado Livre e Endeavor até se juntar ao Facebook.
MUDANÇAS
A saída da executiva ocorre após escândalos, perda de usuários e uma mudança de rota da companhia.
Sheryl foi um dos rostos públicos a lidar com o declínio de imagem do Facebook, que teve início nas eleições presidenciais dos EUA de 2016 e atingiu seu ápice no escândalo da Cambridge Analytica, firma de marketing político que usou indevidamente os dados de 87 milhões de usuários. A rede social ficou sob intenso escrutínio por servir como arma de desinformação.
A saída também ocorre apenas oito meses após Zuckerberg anunciar que renomeou a empresa de Facebook para Meta, o que sinalizou também o novo direcionamento da companhia, focado no metaverso conceito que mistura a realidade virtual ao mundo real.
Desde então, alguns dos principais executivos deixaram 1o barco. Em fevereiro, por exemplo, o bilionário Peter Thiel, primeiro grande investidor da empresa, anunciou que ia se retirar do conselho.
No momento, há muitas incertezas sobre o futuro da companhia. A rede social apresentou resultados decepcionantes no último balanço financeiro. Depois de crescer ininterruptamente por 18 anos, a empresa de Zuckerberg deu sinais de estagnação: segundo o documento, o Facebook perdeu cerca de 500 mil usuários diários globalmente nos últimos três meses do ano passado.
“Existe o certo, o errado e todo o resto.” Esta é uma frase dita pelo ator Daniel Oliveira representando o cantor Cazuza, em conversa com o pai, numa cena que, a meu ver, resume o espírito do filme. Aliás, resume a vida.
Certo e errado são convenções que se confirmam com meia dúzia de atitudes. Certo é ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar os aniversários, trabalhar, estudar, casar e ter filhos, certo é morrer bem velho e com o dever cumprido. Errado é dar calote, repetir o ano, beber demais, fumar, se drogar, não programar um futuro decente, dar saltos sem rede. Todo mundo de acordo?
Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de teorias. E o resto? E tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar, de tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emoções. Ora, meia dúzia de normas preestabelecidas não dão conta do recado. Impossível enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós.
Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um desespero infernal. Possuímos uma criatividade insuspeita: inventamos músicas, amores e problemas, e somos curiosos, queremos espiar pelo buraco da fechadura do mundo para descobrir o que não nos contaram. Todo o resto.
O amor é certo, o ódio é errado e o resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se adaptam às regras do bom comportamento. Há bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra versão da nossa história, caso viessem a público.
Todo o resto é o que nos assombra: as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não tomadas, os mandamentos a que não obedecemos, ou a que obedecemos bem demais – a troco de que fomos tão bonzinhos?
Há o certo, o errado e aquilo que nos dá medo, que nos atrai, que nos sufoca, que nos entorpece. O certo é ser magro, bonito, rico e educado, o errado é ser gordo, feio, pobre e analfabeto, e o resto nada tem a ver com esses reducionismos: é nossa fome por ideias novas, é nosso rosto que se transforma com o tempo, são nossas cicatrizes de estimação, nossos erros e desilusões.
Todo o resto é muito mais vasto. É nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e a inocência que se mantêm vivas dentro de nós, mas que ninguém percebe, só porque crescemos. A maturidade é um álibi frágil. Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto é tudo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê.
NATAÇÃO PODE OFERECER MESMOS BENEFÍCIOS QUE A CORRIDA
Com apenas 30 minutos e alguns truques, o treino na piscina pode se tornar um ótimo exercício para a saúde cardiovascular
Seja qual for o seu motivo para entrar na água, a natação éum dos melhores exercícios que você pode fazer pela sua saúde. É um treino de corpo inteiro, que trabalha bastante braços e pernas, assim como o sistema cardiovascular, colocando menos tensão nas articulações do que a maioria dos outros exercícios.
De acordo com Hirofumi Tanaka, professor de cinesiologia da Universidade do Texas em Austin, a natação oferece benefícios cardiovasculares semelhantes à corrida ou outros esportes de resistência. Pesquisas em laboratório também sugerem que um programa regular de natação pode reduzir a pressão arterial e suavizaras artérias rígidas em adultos mais velhos.
“A natação é realmente uma boa forma de exercício que muitas vezes é subestimada”, disse Tanaka. “O exercício precisa envolver grandes grupos musculares, ser rítmico por natureza e deve forçar o sistema cardiovascular. A natação se encaixa perfeitamente.
Mas por onde começar? Enfrentar uma piscina grande pode intimidar um iniciante. Abaixo estão dicas de treinadores sobre como transformar 30 minutos na piscina em um treino eficaz.
COMECE DEVAGAR
Compre um bom par de óculos de proteção e comece nadando uma ida e volta sem parar. Normalmente, as pessoas nadam crawl quando se exercitam porque é a braçada mais eficiente, mas você pode mudar se tiver outra preferência ou se quiser mais variedade.
A maioria das piscinas americanas tem 25 metros de comprimento, então uma volta completa (ida e volta) tem 50 metros, duas voltas são 100 metros, e assim por diante. As piscinas olímpicas são duas vezes mais longas, enquanto as versões domésticas variam. Se uma volta parecer fácil, faça duas, com uma pequena pausa de 10 a 20 segundos entre elas. Aumente gradualmente, ampliando o número de voltas e diminuindo a frequência de pausas, mas não exagere no primeiro dia – não faça mais de 2 voltas no total.
“Quando se trata de natação, trata-se de consistência, então comece do seu nível”, disse Cullen Jones, quatro vezes medalhista olímpico que treina natação juvenil – Certifique-se de que o que você está fazendo égerenciável. Tenha em mente fazer tudo de novo no dia seguinte ou após dois dias.
Se sua última aula de natação foi na escola primária aqui estão algumas dicas a serem lembradas, primeiro, vocêquer que seu corpo fique o máximo possível na superfície. A maneira mais fácil de fazer isso é manter a cabeça baixa e olhar para o fundo da piscina.
Bater as pernas é mais importante para a posição do corpo do que para a própria impulsão. Bata apenas o suficiente para manter seus quadris e pernas na superfície.
“O maior erro que os nadadores iniciantes cometem é chutar demais. As pernas usam mais sangue, então se você chutar muito,\ vai se cansar mais rapidamente”, diz Fares Ksebati, fundador e executivo-chefe de um aplicativo de natação.
Outro erro que iniciantes cometem é ficar muito plano na água. Em vez disso, balance sutilmente de um lado para o outro. À medida que as pontas dos dedos tocam na superfície, estenda o braço o máximo que puder enquanto gira levemente os quadris e os ombros.
Outra maneira de aumentar sua eficiência é criar mais força a cada golpe. Ao puxar o braço para baixo pela água, tente deixar o antebraço perpendicular ao fundo da piscina. As pontas dos dedos devem estar ligeiramente separadas (menos de um centímetro) para obter o máximo de potência.
Não se preocupe em respirar alternadamente se sentir que de um lado émais confortável que o outro.
“Toda vez que seu rosto está na água, você está expirando”, diz a treinadora Cokie Lepinski. “Toda vez que você sobe, você está inspirando agradavelmente.
AVANÇOS
Uma vez que você conseguir completar oito voltas facilmente, tente sessões intercaladas. Para nadadores profissionais, os treinos são estruturados como a musculação, com séries em vez de 30 minutos seguidos.
Para fazer isso, você precisa entender uma fórmula de intervalo usada em quase todos os treinos de natação. Os intervalos são geralmente descritos por dois números: 1) o número de repetições e 2) a distância em metros de cada repetição. Por exemplo, um 2×50 significa nadar 50 metros, fazer uma pausa de 10 segundos e depois nadar outra volta.
Adapte seus intervalos aos objetivos. Se você quiser um treino de maior intensidade, nade intervalos mais curtos em um ritmo mais rápido. Se você quiser trabalhar a resistência, nade longas distâncias em um ritmo mais lento com menos pausas.
“Se você nadar no mesmo ritmo todos os dias não terá tantos benefícios”, afirma Lepinski.
Um bom treino para iniciantes ou intermediários é de 1.000 a 1.500 metros, ou 20 a 30 voltas, o que deve levar cerca de meia hora.
Você pode misturar diferentes modalidades, fazendo peito ou costas em vez de crawl para um pouco de variedade. Comece com um aquecimento curto – um 4×50 em ritmo fácil -para aumentar a frequência cardíaca. Em seguida, vem o conjunto principal, ou a maior parte do seu treino. Se você estiver trabalhando em velocidade, faça 8×50 em ritmo acelerado. Por último vem o desaquecimento, um 4xt50 de natação em ritmo descontraído.
Você pode fazer uma pausa mais longa (um ou dois minutos) entre as etapas. Mas, acima de tudo, aproveite bem o processo.
POSIÇÃO DO CORPO AO DORMIR PODE PROTEGER CÉREBRO, AFIRMA ESTUDO
Mecanismo tem relação com sistema que promove ‘faxina’ do organismo
Um estudo feito por pesquisadores americanos da Universidade de Rochester, Stony Brook e Langone Medical Center de Nova York demonstrou que a posição que costumamos dormir pode proteger o cérebro de doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla.
O fenômeno está relacionado a uma verdadeira faxina que ocorre no cérebro durante o descanso, com a eliminação de toxinas e proteínas residuais que, quando acumuladas, dão início a um processo progressivo de neurodegeneração.
Essa limpeza é realizada pelo sistema glinfático – um canal que drena resíduos tóxicos do sistema nervoso central. Os pesquisadores observaram no estudo que a depuração é mais eficiente quando o sono ocorre na posição lateral (ou de lado), em comparação com as posições supinada (deitada de costas) ou pronada (de bruços).
As razões para esta diferença no funcionamento do sistema glinfático durante o sono ainda não são totalmente compreendidas, relataram os cientistas. Mas os resultados estão possivelmente relacionados aos efeitos da gravidade no corpo, assim como a compressão e alongamento do tecido nesse período.
Além de ajudar na limpeza de toxinas cerebrais, dormir de lado também alivia a pressão feita na coluna. Mas, para isso, e preciso manter o pescoço alinhado. O travesseiro deve ter o tamanho ideal para que a cabeça fique reta, sem inclinar para cima nem para baixo. Especialistas recomendam ainda colocar um travesseiro fino entre as pernas para ajustar a posição da coluna.
Outros estudos mostram também que dormir do lado esquerdo pode ser ainda melhor para a saúde. Isso porque esta posição promove uma melhor circulação sanguínea para o corpo. Deitar sobre o lado do coração facilita também a passagem dos alimentos pelo intestino, cenário que favorece a digestão.
Deitar de bruços não deve ser uma rotina. A posição só é recomendada para os dias em que não se consegue dormir de lado, quando há dores no quadril, por exemplo.
Pós-graduada em poses sexy e atitudes polêmicas, Rihanna, agora grávida, inaugura um novo estilo de roupas para gestante, no qual barriga de fora é obrigatório
Estrela do mundo pop, Rihanna sempre foi do tipo que faz o que quer, fuma o que bem entende e veste o que tem vontade – aí incluídas peças variadas de sua bem-sucedida marca de lingerie, a Savage X Fenty, avaliada em 3 bilhões de dólares. Em janeiro, a cantora, nascida em Barbados, fez mais uma das suas travessuras de quebrar a internet: em um “flagrante” evidentemente combinado com os paparazzi, foi fotografada na rua em Nova York, ao lado do namorado, o rapper ASAP Rocky, com um casaco rosa Chanel aberto, deixando à mostra a barriga de grávida (de quantas semanas, ninguém sabe, embora as dimensões indiquem estar agora no último trimestre). Desde então, não parou mais de exibir o barrigão em toda e qualquer oportunidade, da farmácia ao tapete vermelho, fazendo dele, muito rihannaniente, um símbolo de poder. “Eu não vou comprar calça de gestante, vestido de gestante, nada do que a sociedade me manda fazer’, proclamou.
E tome calça e minissaia com a cintura baixíssima, blusinhas de um palmo de altura, transparências à vontade e, invariavelmente, salto agulha bem alto. Na Semana de Moda de Paris, circulou de sutiã, calcinha e franjas no desfile da Dior e de calça e microtop no da Gucci. Na Vogue, fotografada pela celebrada Annie Leibovitz, apareceu na capa de macacão vermelho transparente Alaia e, no recheio, de saia e casaco assinados por Rick Owens que deixavam os relevos frontais expostos. “Meu corpo está passando por coisas incríveis e não vou ter vergonha disso. O momento é de celebração. Por que haveria de esconder minha gravidez?”, pergunta Rihanna, 34 anos, ciente deque está, sozinha e com muita atitude, revolucionando a moda para grávidas. “Todo o seu figurino é pensado para valorizar a barriga. Ela está influenciando uma geração de mulheres que vão engravidar e saberão que podem vestir o que quiserem”, prevê a consultora de moda Regina Martelli.
O corpo das grávidas passou muito tempo disfarçado por roupas largas, quando não escondido dentro de casa, como se fosse uma visão impura resultante de atos indecorosos. A situação começou a mudar com o advento da pílula anticoncepcional, nos anos 1960, que permitiu à mulher optar por se e quando engravidar e, consequentemente, retomar o domínio de seu corpo. “A maternidade deixou de ser uma obrigação e virou escolha. E tudo que vem de uma escolha dá mais orgulho de ser mostrado”, explica Denise Bernuzzi, historiadora da PUC-SP. Aos poucos, o closet de grávida foi se modernizando até chegar aos dias atuais, em que muitas atravessam os nove meses usando as roupas de sempre. “Adaptei o que eu já tinha no armário e consegui continuar usando basicamente todos os meus vestidos até o final da gravidez”, conta a consultora de varejo carioca Joana Nolasco, 39 anos, na terceira gestação.
Ativista convicta, Rihanna da opinião sobre feminismo, racismo, política e temas polêmicos em geral. Também está à frente de uma fundação que distribui recursos para a educação infantil e a recuperação de regiões afetadas por desastres climáticos. Assídua frequentadora do Instagram, causou incidentes internacionais ao apoiar lavradores em greve contra o governo na India e ao publicar fotos proibidas de uma mesquita em Abu Dhabi (da qual foi convidada a sair). Seus vídeos mostram nudez, drogas e cenas de tortura. Após uma apresentação sua no popular programa X Factor, quase 3000 telespectadores reclamaram da coreografia “sexy demais para famílias”. Indagada sobre como qualifica seu estilo atual, responde: “Rebelde, talvez”?
A dela não é a primeira barriga de grávida a deixar o público de queixo caído. No Rio de Janeiro, nos longínquos anos 1970, Leila Diniz estremeceu as barracas da Praia de Ipanema com um biquíni mínimo, aos sete meses de gravidez – ousadia que ecoou como um grito de libertação (ou de sem-vergonhice, para os mais conservadores) em toda parte. Vinte anos depois, a atriz Demi Moore apareceria nua e gravidíssima na capa da Vanity Fair, inaugurando uma pose que seria repetida por Cindy Crawford, Britney Spears, Serena Williams, Beyoncé e muitas outras famosas. A diferença é que elas marcaram seu tento e pronto. Já Rihanna faz questão de escandalizar em tempo integral. Fazendo compras em Beverly Hills recentemente, usava meias Miu Miu, sandália Saint Lament, bolsa Balenciaga, shorts e camisa listrada Alexander Wang. Aberta, naturalmente.
OPORTUNIDADES PARA MÃES ATÉ CRESCEM, MAS BÁSICO AINDA FALHA
Pesquisa da FGV indica que brasileiras são demitidas até dois anos após o término da licença-maternidade
Ser contratada gravida ou promovida durante a licença-maternidade parecem alvos inatingíveis para mulheres. Ainda mais se pensarmos que metade das mães que trabalham no Brasil, são demitidas até dois anos após o término da licença, ou que ano passado 7,5 milhões delas estavam fora do mercado de trabalho (dados da FGV), esses “benefícios” ficam ainda mais distantes.
Natália, Arico, 33, sabe que é exceção. Foi contratada pela Endered há um ano, quando estava grávida de seis meses de Giovanna. “Foi unânime a surpresa das pessoas ao saberem meu início em uma nova empresa, ainda mais com uma gravidez avançada”, conta.
Ela foi convidada para participar de um processo seletivo por meio de sua rede social. “Confesso que me deu um receio na época, mas depois me senti empoderada e desafiada”, conta. Em 2021, esse foi o segundo caso de contratação de grávida na empresa.
Natália, que hoje é business partner – profissional que liga o RH aos demais setores da empresa, teve direito a seis meses de licença-maternidade, o tempo mínimo recomendado pela OMS para que o bebe seja amamentado exclusivamente no peito, então, retornar ao trabalho.
A arquiteta Amanda Caribé, 35, também vivenciou a contramão no mercado de trabalho para as mães. Foi promovida na Gafisa durante a licença-maternidade de Rafael. “Não conheço nenhuma mulher que tenha sido promovida, no entanto, conheço mulheres que foram demitidas poucos meses após o retorno”, observa
O receio de virar estatística também influenciou a decisão de se tornar mãe. São poucas empresas que encaram a maternidade de forma natural e empática: diz. Ela retornou à empresa no último dia 3 de março, quando o filho completou cinco meses após emendar férias à licença de apenas quatro meses.
Mariana de Marchi, 32, também experimentou uma contratação grávida. Ela descobriu a gestação perto das seis semanas e logo em seguida recebeu a proposta de emprego. Ao abrir a informação para a empresa, conta que recebeu acolhimento e segurança. Com 10 semanas de gestação mudou de emprego.
“Senti que eles usaram isso como uma oportunidade para se reinventar, para gerar pautas positivas e mudar a forma de contratar ou, de se posicionar como uma empresa inclusiva”, lembra.
“Eu me cobrei muito desde o início. Cheguei a trabalhar 22, 23 horas em alguns dias, como se devesse essa sobrecarga para a empresa, pois iria sair de licença brevemente”, diz. Vestiu a camisa da empresa e até saiu em fotos da campanha do Dia das Mães como exemplo de contratação de grávidas. Por causa da pandemia, trabalhou toda a gestação e o pós-parto de forma remota, o que foi ótimo para a amamentação de João Pedro. Porém, pouco tempo após seu retomo, viu todos os homens do departamento serem promovidos automaticamente, enquanto ela precisou passar por um processo realizado por uma consultoria externa para subir de cargo.
Mariana conta que não participou de debates, que resultaram em profundas mudanças estruturais em sua equipe.
Ouvia que não tinha experiencia, apesar de estar desde 2005 no mercado de trabalho e ter diversas certificações. “Meu chefe falava pausadamente e dizia que estava falando devagar para ver se eu entendia. Fui descredibilizada na frente de colegas e em diversos momentos fui humilhada”, lembra.
A carga emocional desse período somado a descoberta de um câncer de mama em sua mãe, mais a introdução alimentar, a sobrecarga invisível da casa e a privação de sono a levaram a ter constantes crises de ansiedade, insônia, variações na produção de leite, ganho de peso e muito estresse. Foi demitida oito meses após retornar da licença. Ela lamenta a empresa dizer que apoia as mães, mas ignora as demandas invisíveis que estão por trás dessa profissional.
Essas demandas ganharam mais espaço durante a pandemia, quando muitas casas viraram ambiente de trabalho. Antes tabu, a flexibilidade na jornada passou a ser realidade em muitas empresas, que passaram a adotar o modelo híbrido de trabalho, permitindo ao profissional atuar de casa em alguns dias de semana.
Essa flexibilização é tão importante para as trabalhadores com filhos, que aparece em primeiro lugar na pesquisa “Mapeando um ambiente pró-família nas organizações realizada pela Filhos no Currículo, consultoria focada em criar espaços corporativos cada vez mais acolhedores para pais e mães.
A possibilidade de um trabalho mais flexível superou inclusive os desejos pela licença maternidade e paternidade ampliada, o auxílio-creche, e o plano de saúde estendido aos dependentes.
No levantamento, quatro em cada 10 entrevistados afirmam que contar sobre a gestação gera algum grau de insegurança e metade das mães ouvidas disseram que sustentar a amamentação após o retorno da licença é a maior preocupação. Especialistas em aleitamento materno dizem que o tempo da licença-maternidade está diretamente ligado a manutenção da alimentação exclusiva ao peito.
Um quarto dos profissionais apresentou alguma parentalidade desafiadora, que inclui experiências como aborto, luto gestacional, parentalidade de filhos atípicos, adoção ou parentalidade solo. Para esses, a percepção de acolhimento dentro das organizações é ainda menor:
“A pessoa que volta de uma licença depois de uma perda gestacional tem um trauma físico e emocional muito grande que precisam ser cuidados nesse retorno. De que forma essa liderança está preparada para acolher?”, questionou Michelle Terni, cofundadora da Filhos no Currículo e idealizadora da pesquisa.
Além de ter entrado para a estatística das demitidas pós-licença, Mariana de Marchi lembra que também não teve apoio quando perdeu um bebê na empresa anterior: “Ouvi do RH: ‘ah, isso é supernatural’. Foi desumano, devastador e eu tive que seguir em frente como se absolutamente nada tivesse acontecido, mesmo tendo me tornado mãe, sem a parte que mais me importava: o meu bebê, lamenta.
Todas as mudanças necessárias para que as empresas sejam justas com as mães só vão ocorrer quando o debate for feito com isonomia. “Não é uma pauta só da mulher: As mães carregam a carga mental, histórica e estrutural, mas a solução passa por entendermos essa pauta como uma pauta da família, uma pauta de todas as pessoas”, diz Michelle.
Na opinião da CEO, o conceito de licença parental, que traz ao pai a corresponsabilidade na criação dos filhos, fará com que um recrutador não pense duas vezes antes de contratar uma mulher. “Ele não vai mais ficar pensando que ela ficará fora quatro ou seis meses. Esse pai também vai precisar se ausentar, e quando o ônus é dos dois, o bônus também será dos dois”, frisa. Na pesquisa da Filhos no Currículo, as mães apareceram mais criteriosas do que pais e lideres quando o assunto é satisfação no ambiente de trabalho.
Enquanto 90% dos homens dizem acreditar que a empresa na qual trabalham é um bom lugar para as mães, apenas 68% delas responderam ter essa percepção. A discrepância também aparece entre líderes (83%) e colegas de profissionais com filhos (80%).
Entre as ações apontadas como desejáveis, a liderança acolhedora e empática aparece como requisito principal (72%). Vem seguida da recepção no retorno da licença, a preparação para a licença e mentoria de carreira após a chegada dos filhos, apoio psicológico e, por fim, programas de acompanhamento para gestantes e parceiros.
Ao serem perguntados se sentiam alguma insegurança ao comunicar suas necessidades para o gestor, 45% responderam ainda ficar inseguros, e 35% dos colaboradores, em geral, afirmaram ter nenhuma ou pouca clareza sobre as políticas de parentalidade da empresa onde trabalham.
A pesquisa “Mapeando um ambiente pró-família nas Organizações” ouviu 1.568 profissionais de empresas de todas as regiões do país. entre novembro de 2021 e janeiro de 2022. O levantamento teve o apoio da Talenses Group e do Movimento Mulher 360.
Foi só ela ouvir essa frase e virou o rosto como se estivesse sendo agredida. “Não repita isso de novo. Não sei o que há de feliz em ficar mais velha.”
Respondi: “Você diz isso porque está fazendo 34 anos. Quando fizer 52, vai sentir vontade de pendurar balões pela casa”.
Ela desvirou o rosto e voltou a me encarar como se eu estivesse tendo algum surto de insanidade. “ÃHN?”
Só quem atravessa ao menos cinco décadas de vida pode entender a benção que é entrar na segunda juventude.
Claro que antes é preciso passar pelo purgatório. Poucos chegam aos 50 anos sem fazer uma profunda reflexão sobre a finitude, e dá um frio na barriga, claro. Amedronta principalmente quem ainda não fez nem metade do que gostaria de já ter feito a essa altura. Será que vai dar tempo’
Passado o susto, a resposta: vai. E se não der, não é o fim do mundo. Você não precisa morrer colecionando vontades não realizadas. Troque de vontades e siga em frente sem ruminar arrependimentos. Você finalmente atingiu o apogeu da sua juventude: é livre como nunca foi antes.
Então, não passe mais nem um dia ao lado de alguém que te esnoba, te provoca, que não se importa com seus sentimentos. Pare de inventar razões para manter seus infortúnios, você já fez sacrifícios suficientes, agora se permita um caminho mais fácil. Se ainda dá trela a fantasmas, se ainda pensa em vingancinhas ordinárias, se ainda não perdoou seus pais e seu passado, se ainda perde tempo com vaidades e ambições desmedidas, se ainda se preocupa com o que outros pensam sobre você, está pedindo: logo, logo estará um caco.
Para alcançar e merecer a segunda juventude, é preciso se desapegar de todas aquelas preocupações que havia na primeira. Quando essa Juventude Parte 2 terminar, não virá a Juventude Parte 3, mas o fim. Ou seja, esta é a última e deliciosa oportunidade de abandonar os rancores, não perder mais tempo com besteiras e dar adeus à arrogância, à petulância, à agressividade, ou seja, adeus às armas, aquelas que você usava para se defender contra inimigos imaginários. Agora ninguém mais te ataca, só o tempo – em vez de brigar contra ele, alie se a ele, tome o tempo todo para si.
Eu sei que você teve problemas, e talvez ainda tenha – muitos. Eu também tive, talvez não tão graves, depende da perspectiva que se olha. Mas isso não pode nos impedir a graça de sermos joviais como nunca fomos antes. Lembra quando você dizia que só gostaria de voltar à adolescência se pudesse ter a cabeça que tem hoje> Praticamente está acontecendo.
Essa é a diferença que tem que ser comemorada. Na primeira juventude, tudo vai acontecer. Na segunda, está acontecendo.
É POSSIVEL SE TRANSFORMAR EM UMA PESSOA MAIS MATINAL?
Embora a genética exerça influência sobre os hábitos de sono, algumas ferramentas podem ajudar a ‘reprogramar’ seu cérebro
Então você é uma pessoa de hábitos noturnos, mas precisa acordar todos os dias cedo para trabalhar. O que fazer? Se suas tendências noturnas estão arruinando seu sono, algumas atitudes podem ajudar a torná-lo uma pessoa mais matinal.
A primeira coisa a ter em mente é que sua hora de dormir, até certo ponto, é influenciada por sua genética. Todo mundo tem um ritmo biológico pessoal, ou cronotipo, que determina o momento ideal para adormecer e acordar. Estudos mostram que existem muitos genes que levam alguns de nós a ser pessoas matinais, notívagas ou a ficar na coluna do meio.
Um estudo publicado na revista Nature Communications analisou os hábitos de sono de quase 700 mil pessoas e identificou um grande número de genes que ajudam a definir se alguém é uma pessoa matinal ou não. Em média, os que carregavam o maior número de variantes genéticas para “manhã” tendiam a adormecer e acordar meia hora mais cedo do que quem levava o menor número. “Suas tendências de ritmo circadiano são genéticas e não podem ser alteradas”, adverte a dra. Ilene M. Rosen, especialista em medicina do sono, referindo-se aos ciclos corporais que definem quando acordamos e adormecemos. “Mas a boa notícia é que podemos dar aos nossos relógios biológicos algumas dicas para influenciá-los.”
DISTRAÇÕES
É possível que você fique acordado além da hora ideal de dormir por causa de distrações. Muitas pessoas que podem adormecer naturalmente por volta das 22.h, por exemplo, acabam ficando acordadas até a meia-noite para trabalhar, navegar na web ou assistir à Netflix. Isso torna mais difícil acordar pela manhã.
Mas você pode mudar isso. Primeiro, decida a que horas gostaria de acordar. Então, saia da cama exatamente nesse horário todos os dias – independentemente de quão cansado você esteja – e se exponha ao sol. A luz solar diz ao seu cérebro que é hora de acordar. Estudos descobriram que a luz da manhã pode avançar seu ritmo circadiano, o que ajudará seu corpo a se ajustar a uma programação anterior.
À medida que seu corpo se acostuma a começar o dia mais cedo, você naturalmente vai adormecer mais cedo. Idealmente, você deve sair de manhã e se exercitar ou fazer alguma atividade que o deixe alerta. “Uma caminhada rápida ao ar livre pela manhã é uma boa maneira de começar a dizer ao seu relógio interno que é hora de fazer isso”, admite Rosen.
LUZ BRILHANTE
Se estiver escuro quando você pretende acordar, tente a terapia de luz brilhante, que envolve acender uma lâmpada especial por cerca de 30 minutos pela manhã enquanto você se prepara para o dia. Neste cenário, um abajur ou uma luz de teto não funcionarão. Você também deve tentar obter bastante luz solar durante o dia.
À noite, tente minimizar sua exposição à luz artificial e evitar a exposição à luz azul – computadores, TVs, smartphones – duas a três horas antes do horário em que você quer dormir. Estudos mostraram que a exposição à luz azul à noite pode atrapalhar o sono e suprimir a melatonina, que ajuda a regular o sono. Pesquisadores descobriram que a luz azul pode atrapalhar seu relógio circadiano, tornando mais difícil para você tornar-se uma pessoa matinal.
Outra coisa que pode ajudar é tomar uma dose muito baixa de melatonina, observa Sabra Abbott, professora de neurologia em medicina do sono em Chicago. Ela recomenda não tomar mais do que meio miligrama uma hora antes de dormir. É importante manter a dose baixa para que ela limpe seu sistema rapidamente. “Estamos tentando apenas fornecer um pequeno sinal de que é o início da noite”, conclui Abbott.
Brasil é o país com mais casos do problema no mundo, segundo OMS. Médicos alertam que quadros prolongados exigem avaliação
Coração acelerado durante uma prova, nervosismo antes de uma apresentação importante -, sentir-se ansioso é uma resposta natural e temporária do corpo humano a situações de estresse que fogem da rotina. Porém, nem sempre esses sintomas são passageiros e em níveis proporcionais aos fatores que motivam a preocupação.
Nesses casos, especialistas alertam que pode não se tratar de um desconforto ocasional, e sim de um transtorno de ansiedade, doença que demanda acompanhamento médico e tratamento específico.
Segundo os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, 18,6 milhões de brasileiros, quase 10% da população, conviviam com o transtorno o transtorno, o maior número de pessoas com a doença em um país no mundo.
O coordenador do Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Alexandre Valença, esclarece quando os sintomas deixam de apontar para algo comum e acendem o alerta.
“A diferençada da ansiedade normal para a ansiedade patológica é que a primeira todos podemos apresentar no dia a dia. Já o transtorno de ansiedade se caracteriza como sendo uma ansiedade que traz limitações ao cotidiano da pessoa. Ela pode não conseguir trabalhar ou estudar, tem o sofrimento físico e psíquico mais intenso, e os sintomas não são necessariamente relacionados a um problema específico”, explica o psiquiatra.
Os sintomas do transtorno de ansiedade variam de pessoa para pessoa, mas podem ser bem semelhantes ao de uma ansiedade rotineira. Porém, no ocaso da ansiedade patológica, a tendência é que os sinais durem por mais tempo e sejam mais intensos. Entre os sinais mais frequentes, estão: preocupações, tensões ou medos exagerados; sensação continua de desastre iminente; falta de controle, sobre pensamentos, imagens ou atitude; insônia; taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos); sudorese; tremores; ondas de calor ou de frio; falta de ar.
Há também as chamadas crises de ansiedade, ou ataques de pânico. São episódios em que a pessoa pode experienciar um conjunto de sintomas ao mesmo tempo, em intensidade maior. Eles podem ser desencadeados por um evento estressante ou ocorrer de forma súbita, com duração de 5 a 20 minutos.
A terapia pode envolver medicamentos (como antidepressivos e ansiolíticos), psicoterapia ou ambos. O psiquiatra Jairo Werner ressalta a importância de evitar o consumo de álcool, cigarro ou outras substâncias psicoativas, manter uma alimentação equilibrada e cuidar da qualidade do sono.
Mulheres relatam aumento da sensibilidade na área da vagina com o produto
Vibradores para sucção do clitóris, dildos de variados tamanhos e bullets discretos. No sexo, uma infinidade de acessórios têm o único objetivo de aumentar o prazer. Até mesmo um lubrificante feito à base de maconha.
A cannabis está sendo pesquisada para uso medicinal há alguns anos, como para o tratamento de epilepsia, e até mesmo da Covid-i9. Uma utilização que vem ganhando espaço é no sexo, mas ainda sem contar com evidências cientificas de eficácia e segurança nem com regulamentação para esse fim no Brasil.
Nos Estados Unidos, por exemplo, existea Foria, empresa que já conta com diversos produtos derivados da cannabis em seu portfólio. A cliente pode comprar lubrificantes, óleos de massagens e até supositórios.
No Brasil, a maconha ainda é proibida para uso recreativo. As brasileiras, no entanto, têm algumas opções. Uma delas é a Xapa Xana, um lubrificante a base da planta que procura facilitar o orgasmo e pode ser comprado pela internet.
Fundadora da iniciativa, Débora Melo, 45, afirma que os padrões impostos pela sociedade contribuem para que mulheres tenham recorrentes problemas com sua sexualidade. “Elas acabam se esquecendo de si mesmas, de buscarem o prazer próprio.”
De fato, uma vida sexuais prazerosa depende de vários fatores, explica Silvana Chedid, ginecologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. A libido, por exemplo, é influenciada por hormônios como estrogênio e testosterona, e o ciclo menstrual também tem seu papel no desejo sexual, já que “depois da ovulação ocorre a produção da progesterona, que tem um efeito negativo na libido”.
Além do desejo sexual, o orgasmo é essencial para um sexo prazeroso. No caso das mulheres, atingir ápice do prazer envolve principalmente, estimulação do clitóris. Chedid afirma que é muito difícil uma mulher atingir o orgasmo somente por meio da penetração vaginal.
É por isso que existe a visão equivocada de que o orgasmo em mulheres demora mais, já que a ereção do pênis pode ser mais rápida. Mas Chedid ressalta que isso não é uma regra.
“Tem mulheres que conseguem atingir o orgasmo de maneira mais rápida e há homens que têm maior dificuldade em manter uma ereção e por isso acabam demorando para ter o orgasmo “, afirma.
Por sua importância para o sexo nas mulheres, é no clitóris que normalmente são aplicados lubrificantes à base de cannabis, como é o caso da Xapa Xana. Antes de inventa-lo, no entanto, Débora não estava muito animada com a ideia.
Tudo começou quando ela conheceu um lubrificante caseiro de maconha em São Paulo. Mas a atenção não foi tanta. Débora trabalhava com arte e pensou que a ideia de enveredar para a produção de um lubrificante sexual não fazia sentido.
Foi só quando ela se mudou para o Uruguai, onde o uso recreativo da planta já é liberado, que as coisas mudaram. Sua nova estadia coincidiu com a época de colheita e na casa de uma pessoa que ela visitou tinha um pé muito grande de maconha.
A partir de então, Débora estudou os produtos comercializados pela Foria, uma inspiração para ela, e entendeu com mais detalhes como a cannabis podia ser usada no seu lubrificante. O produto surgiu basicamente com tentativas que ela fazia com amigas: elas utilizavam e passavam feedbacks. Ou seja, o produto não passou por testes científicos que comprovem sua segurança e eficácia.
Entre idas e vindas, o lubrificante final foi preparado e Débora se preocupou em fazer um conceito visual. Com cores vibrantes e ilustrações que evocam a sexualidade feminina, a Xapa Xana tem uma identidade visual, como em fanzines que acompanham cada lubrificante.
Com as vendas aumentando, histórias de mulheres que tiveram benefícios chegaram. Um exemplo foi de uma jovem norte-americana, que tinha 25 anos, mas nunca tinha tido um orgasmo na vida. Débora a conheceu durante uma viagem a California e deu para ela um exemplar do Xapa Xana.
“Ela usou com uma pessoa (…] e teve o primeiro orgasmo dela. Ela ficou muito deslumbrada”, afirma.
Outros relatos que marcaram a fundadora do lubrificante nesses anos foram de mulheres mais velhas que utilizaram o produto na menopausa – o momento pode ser marcado por uma diminuição da libido. “Essas mulheres vêm me agradecer”, completa Débora.
Outro caso foi o de Thais Carol Sfeir, 30. Foi por curiosidade e por ser a favor da descriminalização da maconha que ela se interessou em testar um lubrificante composto pela planta. Segundo ela, o assunto também estava em alta em meados de 2019, época que experimentou.
Antes de usar, Thais pesquisou algumas opções de lubrificantes e optou por um que dizia ser 100% natural. “Eu não tive medo por ser uma coisa natural. Eu fui bem segura disso”, afirma.
O produto escolhido por ela não é o mesmo da Xapa Xana e foi comprado pelo Instagram. Thais não quis revelar a marca, uma vez que o uso recreativo ainda não é regularizado no Brasil.
No fim, a experiencia para Thais foi positiva. Segundo ela, a sensibilidade ao toque aumentou com o produto. Na penetração, ela também sentiu uma maior sensibilidade. “Você consegue chegar ao orgasmo muito mais rápido”, diz. Embora existam relatos de mulheres que tiveram melhoras em suas vidas sexuais, o uso da cannabis para fins sexuais é incerto.
Um dos compostos da maconha mais pesquisados e o CBD (canabidiol). Chedid, ginecologista do Sírio Libanês, explica que os estudos feitos da substância para uso sexual são muito recentes e por isso ainda não existem certezas da eficácia e segurança. A ginecologista, mesmo assim, tem uma visão otimista.
“‘Eu vejo de maneira muito positiva esses trabalhos e acredito que com mais experiências vamos conseguir mostrar o efeito do CBD para disfunções sexuais”, afirma.
Mesmo assim, ainda é importante ter ressalvas. Chedid explica que é sempre necessário ter acompanhamento médico e também não utilizar produtos sem uma origem confiável.
“O segredo da medicina canábica é que a dose de CBD seja individualizada para cada paciente e só o acompanhamento médico pode chegar a isso”, diz. No caso dos lubrificantes vendidos ilegalmente no Brasil, a dose éa mesma para todos.
Além disso, recorrer a produtos para ter una vida sexual melhor, sejam eles derivados de qualquer substancia, nem sempre é o caminho. O sexo é um ato que depende de diversos fatores, em que, se as mulheres estão chateadas com o parceiro, podem se fechar; não havendo nada de errado do ponto de vista clinico. Elas podem ficar menos receptiva ao ato sexual e terem mais dificuldade de se excitarem”, exemplifica Chedid.
Nesses casos, talvez você só precise de um tempo. Ou talvez fazer a outra parte da sua relação, e dedicar mais durante o sexo. No fim, está tudo bem – e, quem sabe, logo, logo o orgasmo chegará.
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b