VAI COMPRAR ALIMENTO CONGELADO? SAIBA COMO VER SE ESTÁ PRÓPRIO PARA CONSUMO
Produtos armazenados em temperatura inadequada perdem propriedade, duram menos e provocam risco à saúde

O peso dos alimentos no orçamento das famílias brasileiras não deixa espaço para erro ou desperdício: a inflação desse segmento já acumula alta de 16,12% em 12 meses fechados em abril. Um cuidado para evitar perdas é conferir os congelados na hora da compra. O acondicionamento inadequado de alimentos congelados e resfriados nos pontos de venda pode fazer o produto perder as propriedades informadas no rótulo, reduzir o tempo de validade e trazer risco à saúde, levando a necessidade do descarte do produto.
Apenas na capital do Rio de Janeiro, a Vigilância Sanitária municipal descartou mais de 6.3 toneladas de alimentos impróprios para consumo por acondicionamento em temperatura inadequada nos mercados de janeiro a abril deste ano. De 44 denúncias encaminhadas ao órgão nesse período, 42 eram procedentes. O problema não é o único a afetar a qualidade de produtos alimentícios nos pontos de venda, mas está entre os frequentemente encontrados pela fiscalização.
“A conservação em temperatura inadequada de alimentos traz risco à vida do consumidor. A oscilação de temperatura torna propícia a multiplicação de bactérias, microrganismos patogênicos que podem causar de alergia à morte”, alerta Aline Borges, presidente do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivlsa-Rio).
MAIS PERIGO EM CARNES
Produtos crus, como came e pescados, são os mais problemáticos. Nos processados, como iogurtes e queijos duros, o risco é menor, explica Aline.
A atenção frequente à aparência e à validade dos alimentos não evitou que a estudante universitária Marcella Chagas, de 25 anos, moradora de Niterói, levasse para casa uma peça de came imprópria para o consumo.
“Não é possível que tenha ficado ruim do caminho do mercado até minha casa. Com certeza já não estava em condições adequadas de armazenamento antes, apesar da coloração parecer normal”, queixa-se Marcella que, voltou ao mercado e conseguiu o ressarcimento do valor pago. A estudante diz ter dificuldade em avaliar produtos congelados. Elisa Freitas, diretora de Fiscalização do Procon-RJ, diz que uma das recomendações na hora de comprar produtos resfriados ou congelados é procurar na rotulagem a temperatura de conservação indicada pelo fabricante e verificar o que marca o termômetro do freezer ou geladeira onde está armazenado.
Se o produto não estiver conservado de acordo com as determinações do fabricante, a orientação é chamar o gerente do estabelecimento, denunciar e não colocá-lo no carrinho de compras.
“Além disso, a presença de cristais de gelo na embalagem, produtos que deveriam estar congelados em consistência mole são indícios de que há problema no freezer. Embalagens suadas, caixas úmidas também são indicativos. Esses produtos não devem ser consumidos”, ressalta Elisa.
A perda de alimentos por conservação inadequada é tão frequente que virou oportunidade de negócio para startups que oferecem o monitoramento online de geladeiras e freezers ao comércio para detectar variação de temperatura.
“Usando sensoressem fio e inteligência artificial é possível garantir a qualidade dos produtos com monitoramento em tempo real que alerta imediatamente diante de qualquer variação de temperatura que gere risco. Não existe alimento de qualidade e saudável sem conservação adequada”, explica Paulo Lerner, CEO da SYOS, startup que monitora mais de 300 pontos de venda e que espera chegar a mil no fim deste ano.
Um cuidado a mais que o consumidor deve ter para manter a temperatura écomeçar as compras no supermercado pelos produtos não perecíveis e secos, como enlatados, ensacados, seguindo para os frescos, deixando para o fim a compra dos alimentos congelados e refrigerados.
“Em dias quentes ou para viagens com mais de 30 minutos de duração, tente levar uma bolsa térmica para manter os alimentos congelados frios durante o transporte. Ao chegar em casa, coloque imediatamente os itens refrigerados e congelados na geladeira ou no freezer”, recomenda Jacqueline Navarro, mestre na Ciência de Alimentos e vice-presidente da ONG Food Safety Brazil.
Ela ainda alerta que de nada adianta todo esse cuidado, se na hora do preparo não se fazer o descongelamento correto. Para carnes, o certo é que seja feito na geladeira.
QUEIXA NO PROCON
Procurada, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) não comentou medidas adotadas, especificamente para solucionar problemas relacionados à refrigeração de alimentos nos supermercados, mas enviou um estudo de eficiência operacional adotada nos estabelecimentos do país.
Quem encontrar problemas nos pontos de venda pode acionar a vigilância sanitária e o Procon. Se só se der conta do problema quando chegar em casa, éimportante ter a nota fiscal, retornar ao local da compra e pedir a troca ou ressarcimento.

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