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CRISE LEVA MÃES A DEIXAREM BEBÊS COM 2 MESES NA CRECHE

Matrículas nessa faixa etária são 22 vezes o número anterior à pandemia

Oito semanas depois de ter tido a quinta filha, Mikaelle Araújo, 34, deixou a menina em uma creche municipal de São Paulo para poder trabalhar. Ela é babá em casas na região do Morumbi.

Principal responsável pelo sustento dos cinco filhos, ela não pôde esperar a caçula, Eloá chegar aos quatro meses para voltar ao trabalho. Assim como Mikaelle, milhares de mães da capital paulista têm sido forçadas a se separar cada vez mais cedo de seus bebês devido à crise econômica no país.

O aumento do mercado de trabalho informal afasta essas mães do direito ao período legal de licença-maternidade no país, de 120 dias. Sem renda, e na maioria das vezes, sem o apoio financeiro dos pais das crianças, elas têm a creche como único apoio para continuar sustentando a família.

Na última semana de abril, havia 3.741 bebês com menos de quatro meses matriculados nas creches da rede municipal da cidade. Desses, 63 têm menos de 30 dias de vida e 539 menos de 60 dias, etapa que os especialistas descrevem como “gestação externa”, ainda na transição para o mundo fora do corpo da mãe.

O número de bebês de até dois meses nas creches neste ano é quase o dobro do registrado no mesmo mês do ano passado, quando havia 325 matrículas dessa faixa etária. É ainda 22 vezes o registrado em abril de 2019, antes da pandemia, quando havia 26 bebês dessa idade.

“De todos os meus filhos, ela é a que foi mais novinha para a creche. Fiquei com o coração na mão de deixa-la, parecia que estava deixando um pedacinho de mim ali. Mas não tem jeito, a situação está muito difícil com cinco crianças em casa”, conta a mãe. Ela recebe a pensão apenas do pai dos filhos mais velhos, mas não a do pai de Eloá,

“Está tudo cada vez mais caro, de mercado já cortei quase tudo, carne, frutas, legumes até o leite dos maiores. Meu leite do peito já nem estava dando conta para a Eloá. Na creche, é até bom porque lá eles dão a fórmula”, afirma.

As matrículas de bebês com menos de quatro meses já aumentavam na rede municipal antes da pandemia. Desde então, esse crescimento se intensificou.

Os dados da Secretaria Municipal da Educação mostram que nos anos anteriores, o número de bebês com menos de quatro meses matriculados na rede tinha um pico no início do ano letivo e, depois caía conforme as crianças iam ficando mais velhas.

Em 2020, por exemplo, 3.238 bebês nessa situação estavam matriculados em janeiro. Já em abril, eram apenas 435. O cenário é semelhante em todos os anos de 2018 a 2021.

 Agora em 2022, porém, a situação mudou e o número de bebês com menos de quatro meses matriculados em abril (3.741) é maior do que o registrado em janeiro (3.528). Ou seja, mais crianças nessa faixa etária entraram em creches de fevereiro a abril deste ano do que no mesmo período nos anos anteriores. Isso indica que a demanda por essas vagas está mais contínua do que antes.

Com apenas 19 dias, Helena é uma das mais novas matriculadas na rede. Ela passou a frequentar o CEI Carolina Maria de Jesus, no Parque Novo Mundo, zona norte, no último dia, porque a mãe dela, Pamela Alves de Sousa, 23, precisou voltar a trabalhar como diarista.

“Eu trabalho sem carteira, então sabia que não teria direito à licença-maternidade. Trabalhei até os oito meses da gravidez e depois não consegui mais. Agora preciso voltar porque a situação em casa está apertada”, diz.

Além da bebê, Pamela mora com o marido, que é lavador de carros, e o filho mais velho de 5 anos. “Está difícil só com o que o meu marido ganha, porque metade vai para o aluguel. Foi difícil paga mercado nesses últimos dois meses que fiquei sem trabalhar”.

“É difícil ter que deixar uma bebê tão pequena na creche, mas ela vai se adaptar e vai ser melhor para nós. É para poder dar uma condição melhor para ela também”, disse.

Para o secretário de Educação do município, Fernando Padula, o aumento de bebês pequenos matriculados nas creches é um reflexo da crise financeira do país. “É a realidade que enfrentamos, 53% dos alunos da educação infantil do município estão no CadÚnico, ou seja, vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza”, afirmou.

Segundo ele, as vagas para bebês em qualquer momento do ano só são possíveis porque a Prefeitura de São Paulo conseguiu zerar a fila de espera por vaga em creche.

No CEI (Centro de Educação Infantil) Bela Vista, na região central, Brenno, de três meses é o mais novo de uma sala com outros 11 bebês de até um ano. “As professoras chamam ele de pacotinho, porque é o menor da turma”, conta a mãe Tatiana da Conceição, 34.

Enquanto alguns bebês engatinham e outros ensaiam os primeiros passos, Brenno se reveza no colo das três professoras da sala ou fica deitado.

Antes de entrar para a creche, Brenno só recebia leite materno, mas agora está só com uma fórmula láctea. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a amamentação exclusiva até os seis meses.

“Eu até tentei continuar amamentando em casa, mas meu peito doía muito durante o dia quando estava longe dele. O leite ia acumulando, vazava e até empedrou. Como eu ia conseguir trabalhar desse jeito?”, questiona Tatiana.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, todas as creches da cidade são orientadas a incentivar o aleitamento materno e devem ter um ambiente preparado para que as mães possam amamentar os bebês.

A arquiteta Mônica Alves, 28, pôs a filha Clarice de três meses no CEI Benedito Bueno, no Jardim Paulistano, na zona norte para poder voltar ao trabalho. Como está em home office, ela consegue ir à unidade no meio da manhã para amamentar a menina.

“Ela não aceitou a mamadeira de jeito nenhum. As professoras me ligam no meio da manhã e eu vou até lá para amamenta-la. Tem sido melhor assim, porque consigo trabalhar e sei que ela está sendo bem cuidada”, diz.

Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, organização que atua por melhores políticas para a primeira infância, diz que é importante a garantia de vaga em creche para crianças tão pequenas diante do contexto em que as famílias vivem. Para ela, parte do trabalho precisa ser dar apoio e condições para que as mães continuem com o aleitamento materno mesmo depois de as crianças estarem na creche

GESTÃO E CARREIRA

A DIVERSIDADE ALÉM DO RH

Como a inclusão começa a se tornar um tema de negócios – que envolve de maneira estratégica as diversas áreas da companhia

O princípio básico da diversidade e inclusão nasce na gestão de pessoas. Por definição, sem profissionais com perfis diferentes não existe diversidade. Ponto. À medida que as empresas avançam nessa jornada, no entanto, torna-se claro que a construção de uma cultura verdadeiramente inclusiva permeia todo o negócio. Assim, itens como a inovação de produtos, vendas e marketing começam a se conectar de maneira mais intima com o tema.

Mesmo para as empresas que sequer iniciaram um esforço interno para ampliar a diversidade da porta para dentro, a pressão para que isso aconteça vem de fora. E direto dos consumidores, em especial os mais jovens. Segundo um estudo realizado globalmente pela consultoria Deloitte, no ano passado, quase metade dos integrantes da geração Z, que possuem entre 18 e 25 anos, afirmou levar em conta a diversidade da propaganda em suas decisões de compra – mais do que o dobro do que se observa em integrantes da geração anterior, os millennials.

A reportagem mergulhou em três frentes que mostram como a diversidade e inclusão avançam além da área de recursos humanos.

A correlação mais direta entre diversidade e inovação está no simples fato de que pessoas diferentes tendem a trazer perspectivas novas para o processo de criação e execução. Poucoslevantamentos evidenciam de maneira mais clara essa causalidade como o publicado em 2019 pela escola de negócios da Universidade Harvard. Coordenado pelo professor Rembrandt Koning, um grupo de pesquisadores levantou todas as patentes sobre tratamentos de saúde nos Estados Unidos nos últimos 30 anos. Asmulheres representam apenas 13% dos detentores de registros nessa área nos Estados Unidos – e a principal razão é a escassez delas nos laboratórios. A descoberta: uma consequência é a defasagem de novos tratamentos para problemas de saúde típicos das mulheres em contraposição aos que se referem ao universo masculino. Deacordo com o estudo, mulheres têm uma chance 35% maior do que os homens de inventar medicamentos para endometriose, câncer cervical e outras condições femininas. A ausência delas nos laboratórios. portanto, limita o potencial dessas inovações. “A demografia dos investidores importa não apenas para sabermos quem cria e sim para entendermos o que é criado, dizem os autores no documento.

A americana Sonsoles Gonzales conta que sentiu na própria pele, literalmente, o efeito da ausência de mulheres maduras no mercado de beleza. E ela só se deu conta disso ao se tornar uma delas. Em 2018, Sonsoles já somava mais de 25 anos de trabalho como diretora executiva em empresas como Procter & Gamble e L’Oréal. quando entrou na Peri menopausa – um período que varia entre poucos meses e até 14 anos antes do fim do período menstrual para as mulheres. Os primeiros efeitos das variações hormonais, segundo ela, foram sentidos no cabelo. Foi aí que ela percebeu algo que nunca tinha chamado sua atenção: não havia produtos específicos para aquele momento particular da vida das mulheres, evitado como um tabu. Sua resposta foi pedir demissão e criar a marca de produtos de beleza para mulheres maduras Better Not Younger, uma das startups com crescimento mais acelerado nesse segmento, e perspectiva de faturar US$ 20 milhões por ano. A empresa possui produtos para cabelos, pele e nutrição, muitos dos quais com o termo menopausa na embalagem.

Mais de 6 mil mulheres entram nessa fase por dia no mundo. Em 2021, mais de 50 milhões de mulheres possuíam 51 anos, idade média da menopausa, somente nos Estados Unidos, de acordo com o New England Journal of Medicine. O mesmo órgão informa que 13 milhões de mulheres estão peri ou pós-menopáusicas no Reino Unido hoje. Trata-se de um crescente grupo de consumidoras que gasta mais de US$ 22 bilhões por ano em produtos de beleza, mesmo diante de tantas evidências do tamanho e da relevância do mercado, segundo ela, há uma série de razões simples pelas quais não existem muitos produtos para mulheres com mais de 40 anos. ”Todos sabemos que a maioria das empresas que comercializam produtos de beleza emprega mulheres e homens na faixa dos 20 e 30 anos e, em geral. eles têm dificuldade em se relacionar com uma faixa etária com o dobro de sua idade e com quem não compartilham muito, afirmou Sonsoles.

Um estudo da agência de mídia e publicidade Universal McCann realizado no Reino Unido mostra que as mulheres estão ansiosas para ver mudança nessa conversa. Nessa pesquisa, 74% das mulheres dizem que os anúncios não as retratam na menopausa com sensibilidade. Outra descoberta: 61% das mulheres na menopausa concordaram que existe uma expectativa social velada de que elas desapareçam da vida pública à medida que envelhecem. Na esteira de empreendedores como Sonsoles, grandes empresas despertaram para esse nicho. A americana Procter & Gamble lançou a Kindra, uma marca voltada para mulheres na menopausa que ganhou mercado em 2019. Os produtos incluem loções sem estrogênio feitas para diferentes partes do corpo e suplementos alimentares à base de plantas destinados a aliviar sintomas como suores noturnos e baixa libido. A marca, que optou por falar sem rodeios com a consumidora sobre menopausa, é a primeira a surgir da parceria formada pelo estúdio de startups P&GVentures e Ml3, uma empresa de desenvolvimento e investimento de marca em Los Angeles. Os produtos são vendidos online pelo OurKindra.com, onde uma comunidade de mulheres 45+ foi criada e estimulada a interagir e conversar com outras na mesma fase.

Victoria Buchanan, pesquisadora estratégica sênior do The Future Laboratory, de Londres, afirma que “esta sub categoria tem longevidade porque não é uma moda passageira”. “É parte de um movimento mais amplo, em que as marcas de cuidados com a pele estão realmente se preocupando em entender as necessidades específicas das mulheres em diferentes estágios, em vez de apenas adotar uma abordagem de tamanho único”, afirmou.

Não é apenas a indústria de bens de consumo que tem se empenhado em olhar para os clientes buscando atender a necessidades de grupos específicos. Na mesma linha, a seguradora MetLife passou a oferecer opções de seguros pessoais desenvolvidos especialmente para as mulheres. Nos últimos anos, a companhia lançou produtos novos, com apólices que permitem indenização em caso de diagnóstico de câncer de mama, ovário e útero, além de serviços adicionais como assistência nutricional. “Esse direcionamento só foi possível porque o tema de diversidade não está subordinado à área de recursos humanos, globalmente”, afirma Daniela Da Ll’acqua, diretora de recursos humanos da Metlife no Brasil. “Existe um cargo de vice-presidência exclusivamente dedicado ao tema com reporte direto ao CEO da companhia.” No Brasil, o presidente também acompanha os esforços de ampliar a diversidade e inclusão entre os funcionários.

No ltaú, para atender online os clientes com deficiência, foi criada unia equipe para, por exemplo, adaptar funções nos aplicativos do banco e também no site, a pessoas com deficiência. Do trabalho desse time com mais de cem pessoas. algumas delas com deficiência visual, um dos resultados é um cartão que, além de impressão em braile, possui um detalhe perceptível pelo tato que indica onde está o lado certo para inserir nas maquininhas que processam as transações. “Elas atuam na criação e também nos testes para essas funções de acessibilidade”, afirma Maria Julia Kurth de Azambuja, superintendente do ltaú Unibanco e responsável pelas áreas de aquisição de talentos e diversidade e inclusão.

EU ACHO …

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi à consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango assado, se ela tem assistido às aulas de inglês, se ele aprendeu a lidar com tecnologia, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua te amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama e, ainda assim, doer.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

CÓLICA MENSTRUAL EM EXCESSO PODE INDICAR ENDOMETRIOSE

Pouco estudada, doença leva até dez anos para ser diagnosticada nas mulheres

A cólica menstrual que as mulheres tanto naturalizam como algo que faz parte da vida não deveria ser vista assim, sobretudo se for intensa e frequente.

A menstruação é uma função fisiológica da mulher, assim como urinar ou respirar. Quando qualquer uma dessas últimas situações gera algum incômodo sério logo se desconfia de algo, e um tratamento é baseado. O mesmo comportamento teria que ocorrer ao menstruar e sentir muita dor.

Mas a normalização da dor da mulher faz com que doenças como a endometriose fossem negligenciadas pela ciência, pela medicina e por várias pacientes por muitos anos.

“Ter algum tipo de cólica é comum: durante a menstruação há uma diminuição de sangue na parede do útero, e isso em geral causa alguma dor, que tende a melhorar com medidas de conforto ou analgésicos. Mas aquelas dores que pioram progressivamente a cada ciclo e às vezes chegam a ser incapacitantes não podem ser naturalizadas. É justamente essa banalização que faz com que muitas mulheres e pessoas com útero levem até dez anos, conforme estudo científicos internacionais, para diagnosticar a endometriose e iniciar um tratamento adequado.

O endométrio é o nome que damos ao músculo que cobre a parede interna do útero. Ele é expelido na menstruação em forma de sangramento, mas, se parte desse tecido cai nos ovários ou no abdómen, causa uma inflamação, a tal da endometriose.

É uma doença complexa sobre a qual a ciência começa a entender um pouco melhor só agora, com mais pesquisas sendo desenvolvidas. Ou seja, uma doença que afasta as mulheres do trabalho e as meninas da escola não foi, por muito tempo, uma questão de saúde pública importante.

Além das pesquisas, somente na última década também os exames de imagem começaram a ser capazes de detectar os focos da endometriose. Antes, era preciso fazer uma biópsia, através de videolaparoscopia, que é uma cirurgia menos invasiva, mas ainda assim uma cirurgia.

Com a maior visibilidade da doença e mais disponibilidade de exames, o número de diagnósticos naturalmente cresceu. A doença afeta cerca de 10% da população feminina brasileira, segundo a Anvisa (Agência Nocional de Vigilância Sanitária), e é mais frequente entre pessoas de 15 a 35 anos de idade.

Mas também não é assim tão mais fácil hoje. Mesmo se os exames específicos de ultrassom e ressonância estão disponíveis precisam ser realizados por profissionais treinados, porque a maioria das lesões de endometriose se apresenta de forma sutil, de difícil visualização.

Além de haver poucos radiologistas especializados, nem sempre os exames estão disponíveis na rede pública de saúde, o SIJS (Sistema Único de Saúde).

O profissional precisa de uma boa experiência, ser obsessivo e meticuloso na busca de lesões, explica o médico Marcelo Pedrossani, especialista em gineco-obstetrícia e

diagnóstico por imagem. E é fundamental ter um equipamento mais avançado, que forneça uma excelente resolução de imagem.

“Muitas vezes as pacientes apresentam somente lesões entre 0,5 cm e 1 cm”, destacou. Mas esse tamanho não tem relação direta com a gravidade dos sintomas.

A empresária Flávia Tonani, 43, descobriu que tinha endometriose em 2000, pouco antes de completar 21 anos. Ela já menstruava havia dez anos, com muito sangue, cólicas intensas, muita fraqueza. “Algumas vezes precisava até ir ao hospital para ser medicada.” O diagnóstico final se deu com a videolaparoscopia. O cisto que ela tinha no ovário esquerdo estava grande (do tamanho de uma laranja), comprimindo o intestino e causando fortes dores.

O tratamento recomendado no caso dela foi tomar anticoncepcional direto, sem intervalo, para não menstruar e reduzir as dores. E assim Flávia fez por muitos anos.

Depois dos 30 anos de idade, já cansada, procurou uma ginecologista, pois queria engravidar. Retomou o ciclo menstrual sem hormônios e, com isso, voltou o sofrimento.

“Não saía da cama de tanta dor”, conta. Em 2020, fez a segunda videolaparoscopia, e o cisto agora era no ovário esquerdo. Interromper a menstruação não estacionou a doença dela, apenas mascarou um avanço comprometedor. Dessa vez, Flávia precisou retirar o ovário esquerdo. “Ele estava todo comprometido e, se eu não tivesse descoberto esse cisto, ele podia se romper e a cirurgia seria mais complicada”, lembra.

Flávia ficou grata pela descoberta, mas também triste e frustrada por não conseguir realizar o sonho de gerar uma vida, afirma.

No ano passado, os exames de acompanhamento indicaram que a endometriose tinha atingido o intestino. Foi então que ela começou um tratamento diferente com uma nutróloga. “Eu vi a doença por um ângulo nunca visto antes: a alimentação saudável, a atividade física, o autoconhecimento, cuidar de mim e fazer algo que me desse prazer, tudo isso faz parte do tratamento”.

Entender o que tinha e o que se passava no próprio corpo foi uma virada de chave na vida de Flávia, que hoje não tem mais a maternidade nos planos. “É uma dor superada”, nas palavras dela.

Hoje já se sabe que o tratamento deve ser individualizado, pois cada mulher é uma, e isso traz questionamentos à máxima que se vendeu por décadas: de que “viver sem menstruação é o melhor dos mundos, ou de que o sangramento menstrual é algo inútil. Afinal, para isso, a pessoa precisa usar hormônios artificiais durante a vida inteira.

“Se existissem mais mulheres cientista pesquisando ou até se a gente estivesse ouvindo mais o que as pessoas com útero têm a dizer sobre essa situação, não estávamos utilizando a pílula anticoncepcional, mas uma panaceia”, destacou a ginecologista Halana Faria, do perfil Ginecologia Feminista.

Hoje, estudos já apontam que cortar o ciclo menstrual pode gerar outros problemas e doenças além de não resolver a endometriose.

Ainda nos dias atuais, quando uma mulher fala que está tendo muita acne, sentindo dores no período menstrual e até quando recebe o diagnóstico de endometriose, é provável que ela escute da maioria dos ginecologistas que o anticoncepcional ou o bloqueio do ciclo resolverá a situação.

“Esta afirmação nem sequer tem respaldo científico e parte de uma ideia de que a menstruação é um problema que um grande favor que você faz é ajudar a mulher a se livrar daquilo”, afirmou a ginecologista Bel Saide, do perfil Ginecologia Natural, reforçando que os remédios hormonais não tratam a doença em si.

Outro mito que a médica combate é o de que a menstruação alimenta a endometriose e, por isso, teria que ser totalmente suprimida.

De fato, não existe um consenso na literatura médica em relação ao benefício de parar de menstruar. Para a ginecologista Faria, isso pode ser algo justificável se a pessoa sente tanta cólica a ponto de prejudicar sua qualidade de vida, mas nem sempre esse vai ser o tratamento proposto.

“O que as pacientes me dizem é que se sentem bem quando menstruam, pois parece natural, fisiológico, por mais que tenham efeitos”.

Todos os dias mulheres me procuram ou porque não desejam fazer uso de hormônios ou já fizeram e perceberam que não resolveram o problema”, afirma Bel Saide.

Por ser uma doença que envolve muitos fatores, além de estilo de vida, uma visão integral da mulher e multidisciplinar é importante. Alguns especialistas defendem, por exemplo, um olhar especial para a alimentação, restringindo alimentos que geram uma inflamação.

Há pacientes muito sintomáticas que fazem os exames e quase não têm foco de endometriose. Outras tem cavidades abdominais tomadas de focos de endometriose, sem apresentar nenhum sintoma. Algumas mulheres podem ter o diagnóstico e ficar sem medicação, acompanhando a endometriose com terapias complementares possíveis – só um terço delas, segundo Faria, vai ter uma exacerbação dos sintomas.

A preocupação ocorre se a doença progredir e atingir outros órgãos adjacentes ao útero: trompas, ovários, bexiga, ureter e intestino. “Mas em 70% dos casos ela vai estacionar ou regredir espontaneamente”, ressalta.

O mais urgente é ter bons profissionais da saúde, médicos da família, clínicos gerais que investiguem e entendam a doença. Que ginecologistas em geral façam a escuta verdadeira, adequada das mulheres e pessoas com útero, das queixas de pacientes.

Faria alerta que a identificação das dores menstruais pode ter dois extremos ruins: nunca investigar o que há por trás das dores ou chegar a um diagnóstico tardio; ou começar a  fazer muitos exames, suspeitar demais e descobrir focos que, na verdade, vão regredir ou estacionar e não se tomarão problemas.

Também é preciso estar atenta à medicalização fantasiada de naturopatia, pondera a médica, com cursos e conceitos religiosos.

O tratamento muitas vezes dispensado a pessoas com endometriose reflete um aspecto da oferta da saúde – o fato de que, como frisa Halana Faria, os padrões de base são heteronormativos, excluindo a existência de mulheres trans e de relações homossexuais, vendo o corpo feminino como voltado apenas para a reprodução.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PODERES ESPECIAIS

Adultos autistas usam diferenças como aliadas para uma vida plena

A americana Zhara Astra, mãe de dois filhos, é roteirista, produtora e professora na Universidade do Arizona. Já Scott Steindorff é um premiado produtor americano de cinema e televisão responsável por filmes como “O amor nos tempos do cólera” e pela série “Station Eleven”. Ele tem três filhos.

Por trás dos currículos impressionantes, há coisas que ninguém vê. Ela tem uma tenda no quarto, onde busca refúgio para seu meltdown ou seja, as crises explosivas que enfrenta eventualmente. Ela sofreu bullying na escola, chorava todas as noites e tinha dificuldade em fazer contato visual. Quando ela termina uma refeição ou conversa, levanta e vai embora subitamente. Às veze ele fala num tom que parece que está bravo. Ambos, pessoas realizadas profissional e pessoalmente, estão no espectro autista.

O casal veio ao Brasil para dar palestras no evento Rio2 C, que realizou centenas de encontros de criatividade no fim de abril. Astra e Steindorff são exemplos, assim como muitos brasileiros, de que grande parte das pessoas autistas pode te uma vida plena, bem-sucedida em todos os aspectos.

Ambos só foram diagnosticados com autismo já adultos. Antes firam identificados com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e pessoas altamente sensíveis (PAS).

“A parte mais difícil do autismo foi ser uma criança socialmente estranha e sofrer bullying. Aos 10 anos fui levado à diretoria da escola porque achavam que eu tinha usado drogas. Até os anos 1980 não havia o diagnóstico de autismo”, conta Steindorff. “O lado positivo é que tive uma imaginação vivida e criatividade. Acho conforto lendo ou aprendendo, por isso, leio três livros por semana.

PONTOS FORTES

O produtor criou ferramentas para lidar com o autismo. Mantém um diário em que processa e expressa seus sentimentos e conta que a meditação tem sido fundamental em sua vida. A voracidade com que lê e guarda as informações foi, certamente, um talento a mais na sua profissão:

“Tive que aprender a me tornar mais sociável, fazer contato visual, focar e identificar eexpressar os sentimentos. Mas você nunca vai transformar um pato num ganso. Então, entendo minhas forças e aceito minhas fraquezas. Posso lembrar o que diz tal página de tal livro. E é por isso que eu tenho sucesso nesse ramo. Achei meus pontos fortes. Mas por muito tempo fiquei isolado porque não queria interagir. A roteirista e professora Zhara Astra explica que o autismo se manifesta de forma bem diferente nas mulheres.

“Com as garotas é mais interno, está dentro de nós, então sofremos em silêncio. Eu não tinha esses traços visíveis de autismo, não sofri bullying, mas tinha TOC severo e conflitos causados por ver o mundo de forma totalmente diferente das meninas da minha idade. Estava interessada em filosofia, no sentido da vida e as garotas queriam saber de bonecas e bandas. Essas diferenças eram fonte de sofrimento. Passei a vida sentindo que havia algo errado comigo, me sentindo um alienígena neste planeta, e ter o diagnóstico aos 30 anos foi uma grande mudança para mim.

Da mesma forma que ocorreu com Steindorff, Astra acredita que as pessoas no espectro autista podem usar suas diferenças a seu favor:

“No curso, eu ensino os superpoderes que vem junto com o autismo. É ver quais as forças que acompanham as suas discrepâncias.

Eu, por exemplo, tenho filmes passando na minha cabeça o tempo todo. É exaustivo e fiquei chocada quando descobri que isso não acontece com todo mundo. Então, como roteirista eu leio o roteiro e vejo o filme inteiro na minha cabeça, ouço os diálogos, percebo o que funciona. Descobri que esse é meu poder e posso usar isso a meu favor.

O professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Faculdade de Medicina da USP Guilherme V. Polanczyk explica que é exatamente essa a estratégia que adota com os pacientes para sua inserção na sociedade: trabalhar os interesses e habilidades que, no autista, costumam ser mais pronunciados e não mudam muito ao longo da vida.

“A ideia não é que os autistas se tornem como os não autistas, não é esse o objetivo, mas que, conhecendo suas capacidades e suas habilidades, possam encontrar o lugar em que contribuem e se tornem pessoas plenas”, afirma Polanczyk.

Assim, o garoto com interesse fixo por dinossauros, cresce e estuda paleontologia. A menina de ouvido absoluto, tão sensível os sons, pode se tornar música.

SOCIEDADE INCLUSIVA

É preciso dizer, porém, que nem todas as pessoas no espectro autista têm as mesmas potencialidades.

“Há, sim, uma parcela significativa que não vai desenvolver linguagem, não vai ter uma vida funcional, independente. Tem a ver com a gravidade do quadro. Algumas crianças recebem tratamento muito cedo, mas ainda assim não vão ser autônomas.

Outra parcela vai depender muito do tratamento. E outras que independentemente do tratamento vão conseguir se desenvolver e ter uma vida funcional e feliz”, afirma o psiquiatra.

A prevalência de autismo em crianças e adolescentes é de 1%; de maneira global ­ não existem dados específicos do Brasil. Também não há estudos consistentes em adultos e idosos, mas o médico imagina que a prevalência seja semelhante.

Assim, um dos primeiros passos para uma sociedade mais inclusiva é a melhora no diagnóstico, que ainda está no começo, em adultos. Nem mesmo os psiquiatras na residência têm esse treinamento especifico.

Zhara Astra faz outro alerta: todos os dados e pesquisas são baseados em homens brancos, com pouca informação sobre mulheres ou outras etnias. Segundo ela, por exemplo, um dos grupos menos diagnosticados no mundo são as mulheres latinas.

“O conhecimento é o primeiro passo, fundamental para que a gente entenda que existem diferenças com que precisamos lidar, e que essas mesmas diferenças podem levar as pessoas a contribuir muito para a sociedade. É uma mudança de cultura, de perspectiva, em que as diferenças agregam e não são ameaças”, reforça Guilherme V. Polanckzyk.

Scott Steindorff se diz muito “grato pelas oportunidades que teve e que muitas pessoas não têm” e, por isso, hoje tenta trazer mais conhecimento para a sociedade e ferramentas para os autistas.

“Eu não mudaria nada na minha percepção da realidade com o autismo, sou muito feliz, que vejo e sinto as coisas do meu jeito, sou muito grato. É só questão de entender como levar a pessoa ao seu mais alto nível”, afirma Steindorff.

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