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Alta de alimentos estimula trocas e estratégias para manter teor de nutrientes

Não há quem tenha passado ileso pela alta de preços dos alimentos dos últimos meses no país. Muitos brasileiros têm sido obrigados a fazer malabarismos para manter o padrão à mesa sem estourar o orçamento. Mas a questão-está além de manter ou não a dieta que mais agrada ao paladar. A comida tem como função fornecer os nutrientes necessários para o bom funcionamento do corpo, e nesse aspecto é possível seguir um cardápio com substituições de ingredientes equivalentes sob o ponto de vista nutricional – e com gastos reduzidos.
Na horada troca, o ideal é manter os produtos na mesma categoria de alimentos, orienta a nutricionista Priscilla Primi. Substituir, por exemplo, uma fonte de proteína por outra, um carboidrato por um equivalente, legume por legume, e assim por diante. Isso garante que nutrientes não sejam deixados de lado, e ainda possibilita uma maior oferta deles.
Um prato considerado equilibrado por especialistas é composto por 25% de proteínas, 25% de carboidratos e 50% por alimentos que ofertem uma variedade de vitaminas e minerais, como legumes, hortaliças e frutas. No entanto, essa não é uma realidade na mesa da maioria dos brasileiros.
A pesquisa “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, feita em 2021 pelo grupo de pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia, mostrou que durante a crise sanitária causada pelo Corona vírus, a população reduziu o consumo de alimentos saudáveis, principalmente carne (44%), frutas (41,8%), queijos (40,4%), hortaliças e legumes (36,8%). O ovo foi o alimento que sofreu a menor redução (18%) e o maior aumento no consumo (17,8%) durante a pandemia. Entre os entrevistados em situação de insegurança alimentar, essa redução chegou a ser de mais de 85% dos alimentos saudáveis.
Primi afirma que, diante do aumento de preços de itens básicos da alimentação, a tendência é que a população migre para os alimentos ultra processados, que são mais baratos:
“Em vez de comprar um quilo de carne, as pessoas acabam optando pela salsicha. O suco de laranja natural é substituído pelo refresco em pó. O lanche deixa de ser uma fruta e passa a ser um biscoito recheado. Diante das dificuldades, a população opta por alimentos mais baratos e que dão uma maior sensação de saciedade. Mas eles normalmente são os que têm mais açúcar, gordura, corantes e conservantes. Se levarmos em consideração apenas o curto prazo, ser saudável está cada vez mais caro”, afirma a especialista.
Um trabalho da Universidade Federal de Minas Gerais estima que os alimentos ultra processados se tornariam mais baratos do que os in natura em 2026. No entanto, a inflação e os eventos climáticos frequentes – como geadas, secas e chuvas em excesso – dos últimos dois anos aceleraram o processo. A previsão é que a inversão ocorra já no segundo semestre de 2022.
Para driblar as dificuldades de manter uma alimentação saudável e barata, Primi dá algumas orientações.
Ir à feira próximo à hora da xepa, por exemplo, é uma estratégia bem conhecida dos brasileiros. Nessescasos, o indicado é comprar apenas o que será consumido nos próximos dias, para evitar o desperdício de deixar a comida estragar.
“Se você abriu a geladeira e já olhou um legume ou verdura por mais de dois dias seguidos, é a hora de fazer algo com ele. Faz um refogado, coloca no arroz ou faz o branqueamento e congela. Sempre que você muda o estado do legume, aumenta sua validade”, orienta.
TÉCNICA DE PRESERVAÇÃO
O branqueamento consiste em provocar um choque térmico no alimento: ele deve ser cozido por pouco tempo na água fervente e resfriado logo em seguida na água com gelo. Depois, ele pode ser congelado sem perder nutrientes.
Comprar legumes e verduras já congelados em supermercados pode ser uma alternativa valiosa, indica a nutricionista. Às vezes. esses produtos saem mais barato, pois quando foram preparados estavam com um preço mais em conta e não sofreram os reajustes recentes.
Para quem faz um esforço a mais para manter no cardápio os mesmos alimentos, apesar dos aumentos, a dica é não desperdiçar. Se na gaveta de legume sobrou uma cenoura ou se você não sabe o que fazer com o talo dos brócolis, a saída é picar e colocar tudo no arroz. O hábito ainda aumenta a oferta nutritiva, associando o carboidrato a vitaminas e minerais.

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