Caso de aluna negra mostra que escolas ainda disseminam racismo
Ao ouvir de um colega de turma que deveria ‘voltar para a senzala”, Maria Júlia Quirino, de 15 anos, chorou. A tristeza da jovem negra, que desde os 5 anos é ofendida no ambiente escolar por sua cor de pele e seu cabelo crespo, tornou-se indignação ao saber que o preconceito sofrido foi visto pela diretora do colégio estadual como “mimimi”. Da educação infantil ao ensino médio, histórias como a de Maria Júlia se repetem diariamente e tornam as escolas espaço onde alunos negros têm a primeira experiência do racismo, segundo pesquisadores ouvidos.
As ofensas a Maria Júlia foram feitas por dois alunos da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza, em Rio Claro, no interior de São Paulo. Uma delas foi na quarta-feira, dia do aniversário da jovem. Enquanto relatava a uma amiga que estava desanimada, outro estudante disse que era por ela ser preta, e sugeriu que fosse trabalhar “na plantação de algodão”. No dia seguinte, uma aluna contou em mensagem a um amigo como ”fez uma menina negra chorar por racismo e agora as negrinhas da sala estavam revoltadas”.
“Quando a outra menina disse que não tolerava preto na sala, fiquei muito ofendida, comecei a chorar e fui falar com um professor, que me disse para fazer uma denúncia na diretoria”, conta Júlia.
A reclamação, porém. não resultou em punições. Por isso. estudantes protestaram no pátio do colégio. Em áudios gravados por alunos na sala de aula, é possível ouvir a vice-diretora dizer que não toleraria interferência na apuração do episódio, que chamou de “conversinha, mimimi e briguinha de meninas”.
“Desde quando o caso repercutiu na escola e me chamaram a diretoria, senti que fui tratada de forma muito rude, como se quisessem me culpar”, diz a aluna.
OFENSAS DESDE CEDO
Pesquisadora e professora de História da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Ana Cristina Juvenal da Cruz chama a atenção de que, ao mesmo tempo em que a escola é um instrumento de socialização, “muitas vezes, o primeiro” está dentro de uma sociedade marcada pela escravidão e é influenciada por isso.
“Os jovens, pais e funcionários que praticam o racismo, justificam como uma ”piada”, e, por não serem repreendidos, continuam com as ofensas. Tudo isso oprime alunos negros, causando consequências para toda a vida”, adverte.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo disse que repudia qualquer ato de racismo e “assim que soube do episódio, os estudantes foram convocados a comparecer à escola, acompanhado dos seus responsáveis, para conversas individuais de mediação e acolhimento”. Além disso, a Diretoria de ensino de Limeira, que cuida da rede de Rio Claro, vai apurar a atuação da vice-diretora.
“Pais racistas precisam ser responsabilizados pelo que eles ensinam aos seus filhos. A lei diz que você não pode diminuir alguém. No espaço da educação, isso é ainda mais incompreensível”, diz Debora Kayembe, primeira reitora negra da Universidade de Edimburgo e ativista da educação antirracista.
Pesquisas citadas por Ana Cristina apontam que as atitudes racistas geralmente se iniciam no ensino infantil, quando as crianças reproduzem falas e comportamentos aprendidos no meio familiar, ou ao serem vítimas de diferenciação no tratamento docente. Uma pesquisa em uma creche pública em Minas Gerais mostrou que bebês negros são vítimas dos próprios professores em atos simples como não terem direito a tomar banho.
Segundo Ana Cristina, as consequências do racismo nas escolas são drásticas: a prática aumenta a evasão e também destrói a autoestima de estudantes negros.
“Uma escola e um professor que não valorizam o pertencimento étnico-racial dos estudantes criam um desinteresse pela educação. A criança e o jovem passam a querer faltar, a não ligar para as tarefas, muitos ficam agressivos. A internalização de estereótipos também é um fator que leva à não aceitação de si mesmo, da sua origem”.
Há 12 anos, o estudante e zelador Antônio Bruno Ferreira ouvia da mãe que não poderia atender aos seus pedidos de faltar às aulas. Em prantos, ele dizia que não queria ouvir que era fedorento e tinha o “cabelo duro”. Mesmo com a ida da mãe à escola algumas vezes para reclamar do que sofria o menino de 7 anos, nenhuma medida era tomada pela escola e pelos pais dos alunos.
“O que me marcou foi uma menina que disse que, além de preto eu era pobre, porque estava com uma mochila de rodinha um pouco enferrujada. Eu rezava para ser branco, ficava pensando que teria amigos e seria mais bonito”, lembra Bruno, que só entendeu o que viveu quando passou a estudar o racismo estrutural.
Para o professor de história da rede estadual da Bahia Iago Gomes, a lei que obriga que as escolas de ensino fundamental e médio a abordar a história e cultura afro-brasileiras é falha ao continuar retratando a perspectiva eurocêntrica nas aulas. Segundo uma pesquisa de 2021 do Todos Pela Educação, de 2011 para 2019, houve uma queda de 15,5 pontos percentuais no número de escolas públicas que diziam possuir projetos referentes a questões étnico-raciais.
“Há reação nisso, que podemos enxergar na tentativa de censura desses assuntos e de professores, e de esvaziamento crítico da educação a partir de projetos como o Novo Ensino Médio. Acredito que uma reforma curricular pode ser um caminho, mas só será possível se pensarmos uma educação formulada e pensada a partir dos Movimentos Negros”, diz o professor.
Pois livraste da morte a minha alma, das lágrimas, os meus olhos, da queda, os meus pés (Salmos 116.8).
Alguns eruditos atribuem o Salmo 116 ao rei Ezequias. Esse monarca foi instruído por Deus a colocar sua casa em ordem porque certamente morreria. O rei clama a Deus por misericórdia e Deus lhe acrescenta mais quinze anos de vida. Para expressar sua gratidão, compõe esse belíssimo salmo, narrando sua dramática experiência. O rei foi encurralado por armadilhas mortais e atormentado por angústias tenebrosas. Capitulou à tristeza. Um peso esmagador que achatava sua alma o levou à lona. Do fundo do poço, olhou para cima e descobriu que Deus se importava com ele. Descobriu que Deus não é apenas justo e misericordioso, mas também libertador. Deus lhe deu três livramentos. Primeiro, livramento espiritual: “Livraste a minha alma da morte”. Segundo, livramento emocional, “Livraste os meus olhos das lágrimas”. Terceiro, livramento moral, “Livraste os meus pés da queda” (Salmos 116.8). Deus é poderoso para livrar você também. Talvez sua alma ainda esteja prisioneira do pecado e você precise desse livramento de Deus. Jesus agora mesmo pode ser seu Resgatador. Sua vida tem sido uma caminhada de dor e lágrimas e você precisa dessa cura emocional. Você tem resvalado os pés e caído na área moral e não sabe como se levantar. Pois Deus, agora mesmo, pode perdoar seus pecados e lhe dar uma nova vida.
Medidas buscam dar mais flexibilidade e segurança jurídica e estabelecem modelos de contratação por jornada ou produção
Alavancado na pandemia, o trabalho híbrido (a alternância entre o presencial e o remoto) ganhou novas regras com a edição de um pacote de medidas pelo presidente Jair Bolsonaro. O objetivo é ajustar a legislação a esse novo modelo de execução das tarefas, que ganhou força durante a pandemia, e garantir a segurança jurídica dos contratos.
Também ficou permitida a contratação com controle de jornada ou por produção. Neste modelo não será aplicado o capítulo da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que trata da duração da atividade e que prevê o controle de horas.
Para atividades em que cumprir um cronograma diário não é essencial, o trabalhador terá liberdade para exercer as tarefas na hora em que desejar.
Caso a contratação seja por jornada, a medida provisória (MP) permite o controle remoto pelo empregador – viabilizando o pagamento de horas extras, caso avançado o expediente. Além disso, o teletrabalho poderá ser aplicado a aprendizes e estagiários.
Pelo texto, a presença no ambiente da empresa para tarefas específicas, ainda que de forma habitual, não descaracteriza o trabalho remoto. Além disso, profissionais com deficiência ou com filhos de até quatro anos devem ter prioridade para as vagas em teletrabalho.
O secretário executivo do Ministério do Trabalho e Previdência, Bruno Dalcolmo, explicou que não havia flexibilidade formalizada entre trabalho remoto e presencial. A intenção do dispositivo, agora, é permitir que empresas e trabalhadores façam acordos específicos, a depender da necessidade, para conciliar os dois modelos. “Não existe nenhuma diferença em termos de pagamento de salário para quem trabalha de forma presencial ou remota”, observou o secretário.
Dalcolmo explicou como os dois modelos de contratação podem ser seguidos pelas empresas. “No caso da contratação por jornada, por exemplo, tem de respeitar a legislação trabalhista normal: hora de almoço, descanso à noite, hora extra. Agora, se é por produtividade, muitas vezes por entrega de produto, de TI, ou de design, aí o próprio trabalhador ganha total liberdade para decidir se vai trabalhar de manhã, de tarde ou de noite.”
MENOS INCERTEZA
Na avaliação do advogado Eduardo Mascarenhas, especialista em direito trabalhista do Souto Correa, faltava uma segurança jurídica aos empregadores que já adotaram o modelo híbrido. “A empresa terá, agora, a segurança de controlar a jornada remotamente, se o trabalho demandar controle de jornada, bem como de permitir idas à sede da empresa, fazendo reuniões presenciais, sem afastar a natureza do regime híbrido ou remoto”, disse.
Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV/ fbre, a medida dá segurança tanto às empresas quanto aos trabalhadores.
“Uma vez que as regras do jogo estejam bem estabelecidas, a redução da incerteza contribui para a geração de postos de trabalho”, afirmou.
AS NORMAS
Como fica o teletrabalho conforme as medidas
MODELO HÍBRIDO
Trabalho híbrido pelas empresas, por meio de acordo negociado com o trabalhador
CONTRATAÇÃO
A contratação pode ser por jornada ou por produção
JORNADA
No modelo por jornada, a nova legislação permite o controle de forma remota pelo empregador e viabiliza o pagamento de horas extras
PRODUÇÃO
No modelo por produção, o trabalhador terá a liberdade de exercer tarefas na hora em que desejar
REMUNERAÇÃO
Não há a possibilidade de redução salarial sem anuência do trabalhador
PRIORIDADE
Trabalhadores com deficiência ou com filhos de até quatro anos completos devem ter prioridade para as vagas em teletrabalho
TRANSPARÊNCIA
Novas regras para o auxílio-alimentação visam impedir fraudes e corrigir distorções
“Aquele ali tem outro por dentro.” Ela disse isso com tanta amargura na voz que o ambiente tornou-se gélido. Não era um comentário, era uma sentença. O cara tinha outro por dentro. Quem estaria escondido em seu corpo? Um alien? O demo? Sem dúvida, algum cafajeste.
Certas expressões nascem carregadas de preconceito, e só levamos em conta seu lado pejorativo. Se alguém diz que você tem outro por dentro, está dizendo que você é mascarado, desonesto, que representa um papel que não é totalmente verdadeiro. Porém, pra variar, acho que a questão merece ser encarada com mais flexibilidade. Você, eu e a população mundial – bilhões no planeta – também temos outros por dentro, e não somos mascarados nem desonestos: somos humanos.
Onde foi parar a nossa autenticidade? Segue exatamente onde está. Somos autênticos batalhadores, autênticos cidadãos do bem, porém essa é a versão oficial, é a propaganda que divulgamos para o mercado externo, o nosso melhor. Somos verdadeiramente pessoas maravilhosas -ou, ao menos, pessoas muito bem intencionadas. Pagamos os impostos em dia, somos cordiais, damos passagem no trânsito, não compactuamos com a brutalidade dos dias e telefonamos para nossas avós para lhes aliviar a solidão. Mas há outros em nós. Há vários. Há todos aqueles que foram abafados, que não servem aos nossos objetivos, todos aqueles com quem, muitas vezes, nem simpatizamos, mas que existem. Seguem sendo nós, ainda que não batizados e sem firma reconhecida em cartório.
Na cama de um hospital, há em nós alguém saudável. Ao vencermos um campeonato, há em nós um fracassado. Apaixonados, há em nós um cético. Ao saltar de para quedas, há em nós alguém que teme. No êxtase, há em nós um melancólico. Ao nos desresponsabilizarmos sobre nosso destino, outro lá dentro de nós assume a direção. Não estamos sós.
Há numa Maria uma Sheila, há num Celso um João, há numa Beatriz uma Sônia, e numa Verônica uma Verinha. Há em todas nós uma Leila Diniz, como já cantou Rita Lee. E sou capaz de apostar que há uma Rita Lee em várias beatas.
Por que isso seria falsificação? Há em mim um Woody Allen, uma Marília Gabriela, uma Lya Luft, um Nelson Motta, uma Madre Tereza e uma Rita Cadilac, e sou eu mesma, íntegra e inteira. Quantos rapazes cordiais não se transformam em homens das cavernas quando calçam uma chuteira e entram em campo? Quantas mulheres singelas não viram competitivas e agressivas numa mesa de canastra? Hitler tinha um músico sensível dentro dele. Pinochet traz um pai de família guardado no peito. Nenhum prejuízo Para a nossa avaliação: seguimos sabendo quem eles são. E quem somos.
NÃO CONSEGUE CONVERSAR EM MEIO AO BARULHO? PODE SER PERDA AUDITIVA OCULTA.
Exames tradicionais geralmente não identificam essa condição que só aparece em ambientes com ruído de fundo
Até alguns meses atrás, Lucie Gendreau, de 66 anos, nunca havia se preocupado muito com sua audição. Ela raramente se expunha aos tipos de intensidade de ruído conhecidos por causar perda auditiva. Quando jovem, ela havia ido ao show de Roberta Flack, mas nunca foi de ouvir heavy metal. Ela prefere passar horas na biblioteca do que em um jogo de futebol americano barulhento.
Definindo-se como uma introvertida que mora em Boston, Gendreau tem um zumbido leve, que começou quando tinha 30 anos, mas, até recentemente, nenhum outro problema de audição. Ela vive uma vida tranquila, ocasionalmente participando de testes clínicos em seu tempo livre.
Em outubro, ela se sentou em uma cabine à prova de som enquanto os pesquisadores executavam um estranho tipo de exame de audição. Em vez de pedir que ela levantasse a mão quando ouvisse um som, eles pediram que ela repetisse palavras que foram ditas contra diferentes volumes de ruído de fundo. Ela ficou chocada com o que ouviu – ou melhor, não ouviu. “Eu simplesmente não conseguia discernir as palavras”, disse. Era como se todos estivessem falando outra língua “Foi uma experiência frustrante.”
Gendreau tem o que os audiologistas chamam de perda auditiva oculta, uma condição na qual as pessoas podem detectar sons, mas lutam para entende-los em ambientes barulhentos. Uma pessoa com perda auditiva oculta pode passar por um audiograma tradicional, levantando a mão sempre que o técnico emite um bipe de volume e tom variados, e pode conversar com outra pessoa em uma sala silenciosa. Mas mude essa conversa para um bar lotado e parecerá que seu companheiro está falando coisas sem sentido.
É COMUM?
Não está claro quantas pessoas sofrem com a condição, descrita pela primeira vez em 2009. Os cientistas ainda estão desenvolvendo testes para diagnosticá-la. O que é difícil, pois muitas pessoas que a vivenciam podem nem percebê-las e não consultarem um audiologista.
Uma maneira pela qual os pesquisadores tentaram estimar a prevalência de perda auditiva oculta é calculando quantas pessoas vão ao audiologista reclamando de dificuldade para ouvir, mas acabam pontuando bem no audiograma. Essas dificuldades relatadas “provavelmente podem ser por causa da perda auditiva oculta”, explicou Yin Ren, otorrinolaringologista do Centro Médico Wexner da Ohio State University.
Um estudo de 2018 apontou que isso descreveu 15% dos pacientes. Outro levantamento de 2020 encontrou cerca de 10% dos pacientes que se queixavam de perda auditiva sem um diagnóstico claro.
Stéphane Maison, audiologista e pesquisador do hospital Mass Eycand Ear que administrou o estudo do qual Gendreau fez parte, afirmou que mesmo esses números podem subestimar a prevalência da perda auditiva oculta. “Isso só vai falar sobre as pessoas que decidiram marcar uma consulta”, contou. Sarah Sydlowski, presidente da Academia Americana de Audiologia e audiologista da Cleveland Clinic, concordou. Ela lembrou que pessoas com esse tipo de perda auditiva “nem sempre reconhecem a dificuldade” e não consultam um audiologista. Essas estimativas tampouco identificariam aqueles com perda auditiva tradicional e oculta combinadas. Embora o risco pareça aumentar com a idade, a perda auditiva oculta tende a ocorrer mais cedo do que a tradicional, aparecendo mesmo em universitários.
QUAIS AS CAUSAS?
Durante décadas, cientistas presumiram que as partes de nossos ouvidos mais suscetíveis à perda auditiva induzida por ruído eram os minúsculos pelos em nossa códea, no fundo de nossos ouvidos, que vibram quando as ondas sonoras encontram os lados de nossas cabeças. Quando estão danificados, é como se alguém tivesse baixado o volume do mundo e você não pudesse ouvir sons, até no silêncio de uma biblioteca.
Alguns pacientes podem ter reclamado que não conseguiram, digamos, ouvir o árbitro em um jogo entre crianças, mas desde que suas células ciliadas estivessem intactas e eles pudessem ouvir em uma sala de testes silenciosa, os médicos não encontravam nada de errado. Em 2009, armados com uma nova tecnologia de imagem, que pode ver além dessas células ciliadas, os pesquisadores expuseram camundongos a níveis sonoros de shows de rock e procuraram sinais de danos mais profundos no sistema auditivo.
Eles descobriram que as células cerebrais com as quais esses pelos se comunicam são mais frágeis do que as próprias células ciliadas, enquanto as células ciliadas nas orelhas dos animais permaneceram intactas após o “show”, suas células cerebrais correspondentes murcharam.
Essas células formam dois feixes principais de neurônios que traduzem as vibrações dos pelos em sinais químicos que nossos cérebros podem interpretar. Um feixe responde aos sons mais altos e outro responde a sons mais baixos. Maison explicou que aqueles sintonizados com ruídos altos são mais propensos a serem danificados primeiro, deixando aquele projetado para entradas mais suaves fazendo o trabalho restante.
Quando isso acontece, se você estiver em um local silencioso e seu amigo estiver sussurrando, você não terá problemas para entendê-lo. Em uma festa, no entanto, esse feixe de células sussurrantes ficará sobrecarregado pelo ruido de fundo e enviará ao cérebro uma mensagem indecifrável.
COMO DESCOBRIR?
Não há teste conclusivo para perda auditiva oculta, mas se você se esforçar para entender a conversa sempre que a mesa do lado tiver mais do que alguns convidados, pode ser que você a tenha. Nos últimos cinco anos, Maison observou que sua equipe tem trabalhado para desenvolver e validar uma série de testes como os que Gendreau fez, mas os critérios diagnósticos ainda não são definitivos e poucos audiologistas testam a perda auditiva oculta. Geadreau fez inúmeros exames de audição e até uma ressonância magnética antes da avaliação com Maison. Nenhum detectou sua perda auditiva oculta.
O QUE VOCÊ PODE FAZER?
Os pesquisadores estão testando terapias em animais que eles esperam que ajudem a regenerar as fibras nervosas danificadas, mas atualmente não há como reverter a perda auditiva oculta. Se você for diagnosticado, os audiologistas recomendam algumas estratégias.
Em vez de pedir a alguém para falar mais alto, peça-lhe para repetir mais devagar, ensinou Sydlowski. “Falar mais claramente é muito mais eficaz do que falar mais alto, que é o que todos nós tendemos a fazer.”
Outra estratégia recomendada pelo Maison é “certificar-se de que o ruído de fundo esteja atrás de você”. Se você estiver em um restaurante lotado com um amigo, faça com que ele se sente contra a parede, enquanto você fica de frente para ele.
Essa estratégia funciona bem se você tiver um microfone direcional, que amplifica os sons diretamente à sua frente, mas amortece os sons vindos dos lados e detrás, reforçou Rea. Basta conectar o microfone aos fones de ouvido ou aparelho auditivo e apontá-lo para a pessoa que está falando.
Diversos fatores contribuem para a queda do apetite sexual feminino, incluindo o acúmulo de funções domésticas
Em uma rápida pesquisa no Google, é possível identificar que questões relacionadas à baixa libido são de grande Interesse das mulheres. Em geral, elas buscam entender as causas para a falta de apetite sexual e como reverter o “problema”. Mas a ciência não é categórica em dizer que há tratamentos comprovados para isso. Mais seguro é falar que existem “evidencias muito fortes” de que intervenções psicológicas, como terapia cognitivo-comportamental e meditação de atenção plena, podem aumentar o desejo sexual. É o que afirma Lori Brotto, psicóloga e professora da Universidade de British Columbia, nos EUA, e uma renomada especialista em saúde sexual da mulher.
Nos últimos anos, dois novos medicamentos para mulheres com baixa libido foram aprovados pela Food and Drug Administrtation (FDA), a agência reguladora de saúde dos Estados Unidos. No entanto, a eficácia deles é pouco maior que a de um placebo, segundo Stacy Tessler Lindau, ginecologista da Universidade de Chicago e criadora do Woman Lab, um site sobre saúde sexual da mulher.
Esses medicamentos, flibanserina (uma pílula) e bremelanotide, uma injeção autoadministrada cerca de 40 minutos antes da atividade sexual), foram aprovados para o “pequeno subconjunto de mulheres” que estão na pré-menopausa, têm baixa libido e não apresentam nenhum sinal identificável de problemas físicos, mentais ou de relacionamento, disse Lindau.
“Eles podem oferecer um benefício modesto, mas também vêm com efeitos colaterais e custos”, acrescentou.
No fim das contas, a solução mais benéfica dependerá do motivo pelo qual você está com baixa libido porque a considera um problema. Conversar com um médico é importante para descartar quaisquer questões de saúde.
FATORES DE IMPACTO
Para as mulheres mais velhas, a perda de estrogênio durante a menopausa é igualmente associada a uma mudança na libido, porque pode causar secura e aperto vaginal que tornam a relação sexual dolorosa. Condições como depressão e ansiedade, além de certos procedimentos médicos, e amo remoção dos ovários, também podem influenciar.
“Quando possível, fazer reposição de estrogênio pode ser um complemento útil para tratar a baixa libido em algumas mulheres, assim como lubrificantes, exercícios e conversas com um terapeuta”, explica Lindau.
Muitas vezes, os problemas com a libido não são puramente físicos. Um artigo de jornal escrito no ano passado por Lori Brotto, Sarivan Anders, professora que estuda sexualidade e testosterona na Queen’s Universlty, no Canadá, e por outros pesquisadores, sugeriu que quatro fatores, cada um influenciado pelas expectativas sociais das mulheres, contribuem para o baixo desejo sexual experimentado por elas em relacionamentos heterossexuais.
São eles: as divisões desiguais do trabalho doméstico, a tendência de as mulheres assumirem um papel de mãe-cuidadora com seus parceiros masculinos, uma ênfase na aparência de uma mulher sobre seu próprio prazer sexual, as normas de gênero que influenciam qual parceiro injeta o sexo. O artigo também observou que o baixo desejo não é um problema em si, mas ele pode ser um resultado de outras questões que estão sendo enfrentadas. Por exemplo, algumas mulheres podem estar preocupadas não com sua própria falta de desejo, mas com uma incompatibilidade entre sua libido e a libido em alta de um parceiro.
“Se o desejo discrepante deles está criando um problema para o relacionamento, então uma abordagem de terapia sexual para casais se justifica”, aconselha Brotto. Se a terapia não for possível, outra sugestão é conversar com seu parceiro sobre a possibilidade de terem um planejamento de fazer sexo nos momentos em que a pessoa com menor desejo se sente mais pronta para isso, e ir aumentando a quantidade de atividades sexuais que não envolvem penetração, porque elas podem ser mais propensas a proporcionar prazer à pessoa que tem menos desejo.
E aqui está outra coisa a ter em mente: sentir que não está com vontade não significa necessariamente que você tenha menos desejo ou que seu nível de desejo seja insuficiente. Nem todos experimentam um desejo, depois excitação. Algumas pessoas precisam ser despertadas primeiro para experimentar o desejo.
“A libido tem sido historicamente equiparada ao desejo sexual espontâneo, aquela sensação de querer sexo que acontece do nada, e que é muito menos comum do que o desejo responsivo, o tipo de desejo que está presente após o início de um encontro sexual”, avalia Brotto.
Se você tende a sentir primeiro a excitação física e depois o desejo mental, não espere apenas o desejo repentino de fazer sexo. Converse com seu parceiro sobre os diferentes tipos de desejo (espontâneo e responsivo) e as coisas específicas que a ajudam a entrar no clima. Dessa forma, seu parceiro também pensará em como ajudá-la a sentir desejo, em vez de apenas pular direto para ele.
INTIMIDADE NÃO SEXUAL
Há muitas maneiras pelas quais mostramos nosso amor pelas pessoas que são importantes para nós, e todos precisamos (ou queremos) de diferentes quantidades de intimidade emocional e física. Embora casais com diferentes desejos sexuais enfrentem obstáculos, muitos deles também podem estar envolvidos em relacionamentos “interíntimos”, em que cada parceiro tem preferências diferentes quando se trata de dar e receber afeto não sexual. Esse foi o caso de Marsia Belle quando conheceu seu marido, Adam Brown, com quem está há quatro anos.
Sou uma mulher casada e tenho muito carinho para dar. Quando eu conheci meu marido, ele era diferente e não considerava o toque físico não sexual, uma necessidade”, couta Belle, Ph.D. de 27 anos, estudante da Regent’s University de Londres.
O problema atormentava o histórico de namoro de Belle, porque os seus relacionamentos passados também eram carentes de proximidade física e intimidade não sexual. Com isso, os rompimentos eram mais fáceis e contínuos.
O toque é uma forma de intimidade distinta do sexo, com seu próprio conjunto de regras que podem comprometer envolvimentos românticos.
“Necessidades incompatíveis de afeto e toque são comuns nos relacionamentos”, afirma Damon Jacobs, terapeuta de casamento e família em Nova York. “Se você refletir sobre isso, é muito raro que dois seres humanos estejam em completa sincronia o tempo todo durante um relacionamento de longo prazo.”
PAPEL BIOLÓGICO
Independentemente da quantidade, o afeto físico desempenha um papel biológico na felicidade de uma pessoa. A ocitocina – as vezes chamada de “hormônio do abraço” – é liberada em níveis mais altos em momentos de afeto físico, e pesquisas apontaram seus benefícios para a saúde, de acordo com Paula Barry, médica do programa de Medicina da Família e interna da Universidade da Pensilvânia, nos EUA.
“A comunicação adequada sobre desejos e necessidades de afeto deve ocorrer com frequência no relacionamento”, disse La ‘Tesha Sampson, assistente social clínica. “Os rituais devem ser claramente identificados para promover e manter o equilíbrio. Os casais podem querer dar um beijo de bom dia e boa noite, abraçar um ao outro ao se cumprimentar ou garantir que haja carinho antes ou depois da intimidade sexual. É importante encontrar um consenso e fazer ajustes constantemente para garantir que as necessidades do outro sejam atendidas.
Apesar da pandemia, internet segue como artigo raro nas escolas públicas
O fim do gás na casa de Maria Alejandra Ramirez Dias, de 15 anos, deixou a menina sem conexão à internet. Moradora de Cantá, a 32 quilômetros de Boa Vista, Roraima, a família da jovem precisou usar o dinheiro que seria para pagar o provedor da web para comprar um botijão novo. A internet foi cortada, e a adolescente, que cursa o 9º ano do ensino fundamental ficou fora do mundo digital, já que o colégio em que estuda, é um dos mais de 93 mil no país que não garantem acesso aos estudantes.
“Se o professor deixa a tarefa para casa, temos que pesquisar na biblioteca. Mas também não tem lugar para todo mundo. É um grande prejuízo para os alunos”, diz Alejandra.
Dados do Censo Escolar mostram que a pandemia e a necessidade do ensino remoto não tiram de vez a digitalização das escolas públicas do país. Atualmente, um em cada cinco colégios públicos brasileiros não tem internet. Além disso, dos que tem o conexão, nem metade a utiliza para fins pedagógicos. Em 2019, 38% utilizavam o recurso e, em 2021, já no segundo ano da pandemia, esse número cresceu apenas para 48%.
Também aumentaram, mas de forma muito tímida, as unidades municipais e estaduais com internet para alunos (de 25% para 32%), tablets (7% para 7,5%), computadores pessoais (de 21 % para 26 %) e redes sociais (33% para 42%).
“Não pode ser admissível , em 2022, esse nível de acesso. Só gera maior desigualdade. Acesso à internet é um direito que deveria ser considerado básico. Isso tudo num contexto de professores com mais vontade e preparados para usá-la e transformar a escola mais atraente. A gente não fez, na pandemia, o suficiente para reduzir o abismo digital”, analisa Cristieni Castilhos, gerente de conectividade da Fundação Lemann.
A Secretada de Educação Básica do Ministério da Educação não informou quanto destinou em 2020 e 2021 para a ampliação de conectividade das escolas. Considerando apenas o Programa de Inovação e Educação Conectada, foram cerca de R$60milhõs por ano, segundo levantamento do Todos Pela Educação no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento da União.
Enquanto isso, 87% dos professores de escolas públicas concordam que é imprescindível, nesse momento de volta às aulas ter escolas conectadas. Eles apontam que a internet é uma das prioridades para uma boa infraestrutura escolar (66%) e a conexão torna a escola mais atraente para os estudantes (77%), de acordo com a pesquisa “Percepção dos Professores sobre Educação”, realizada a pedido da Fundação Lemann, que ouviu quase mil docentes de escolas públicas do país.
“A pandemia mostrou aos professores o potencial da tecnologia como auxílio para a aprendizagem dos estudantes”, afirma Castilhos.
Já há consolidada na literatura internacional a ideia de que a compra e o uso de equipamentos digitais não garantem necessariamente melhorias nos índices educacionais. No entanto, é consenso que a escola não pode ignorar a cultura digital, que, na definição de Lúcia Dellagnello, doutora em Educação pela Universidade de Harvard e presidente do Centro de Inovação para Educação Brasileira (Cieb), é saber usar tecnologia para solução de problemas pessoais e coletivos.
“Na educação, a tecnologia tem papel duplo. É uma ferramenta de ensinar, mas também um conjunto de conhecimentos que todos os cidadãos precisam para viver de forma plena na sociedade e exercer sua cidadania, como participar de debates políticos de forma crítica e acessar informações importantes. O cidadão que não sabe usar a internet hoje, está vivendo à margem do seu tempo”, avalia Dellagnello.
FUTURO PROMISSOR
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento norteador do que toda criança e adolescente deve aprender na educação básica, determinou a cultura digital como uma das dez competências gerais prioritárias. De acordo com o texto do BNCC, é preciso “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”.
Na avaliação de Dellagnello, a educação digital nas escolas públicas tem horizontes mais promissores para os próximos anos, já que há previsão de R$ 6,6 bilhões em investimentos para a área.
Desses, R$3,5 bilhões são do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), que serão repassadas a estados e municípios para ações de conectividade com fins educacionais – incluindo a compra de planos de internet móvel e de tablets para professores e alunos.
Além disso, já está garantido o investimento de R$ 3,1 bilhões na implantação de internet nas escolas públicas como uma das exigências previstas no edital do leilão do 5G. Essa obrigação caberá às empresas que compraram autorização para operar o serviço de telefonia móvel na faixa de frequência de 26 gigahertz (GHz)
“Muitas redes já começaram a compra de equipamentos, o que leva muito tempo, e outros estão em planejamento para isso, mas eles ainda não chegaram. Vai melhorar esse cenário, mas por enquanto ainda estamos discutindo o investimento e a política nacional que devem existir para garantir essa infraestrutura”, afirma Dellagnello.
Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens (Salmos 115.4).
A idolatria é um grave pecado contra Deus. Isso porque Deus é espírito e não pode ser representado por nenhuma imagem de escultura. Por isso, o segundo mandamento da lei de Deus diz: Não farás para ti imagem de escultura (Êxodo 20.4). A palavra “idolatria” significa “prestar culto a um ídolo”. Tanto aqueles que fabricam o ídolo quanto os que o adoram são culpados desse pecado abominável aos olhos de Deus. A idolatria é um contrassenso, pois significa adorar aquilo que foi criado pelo próprio homem. Imagine um homem indo ao campo para cortar uma árvore. Ele usa metade da madeira para acender o fogo e fazer sua refeição. Com a outra metade, esculpe uma imagem e se prostra diante dela para adorá-la. Isso é um contrassenso, pois essa imagem tem olhos, mas não vê. Tem boca, mas não fala. Tem nariz, mas não cheira. Tem mãos, mas não apalpa. Tem pés, mas não anda. A pessoa que fez essa imagem ou aquela que a adora torna–se semelhante a ela, sem entendimento. O terrível engano da idolatria é substituir o criador pela criatura e adorar a criatura no lugar do criador. Por isso, os idólatras, ao desprezarem a Deus, provocam sua ira. A idolatria é obra da carne, e não fruto do Espírito. Os idólatras não entrarão no reino de Deus, a menos que se arrependam de seu pecado e se voltem para Deus.
Peças feitas para transgêneros e travestis têm tecido e modelagem especiais; marca criada em São Paulo atende clientes como a cantora Linn da Quebrada, do BBB
A exclusão de certos grupos na sociedade aparece até em coisas muito simples, como comprar roupa íntima. Se você é uma pessoa cisgênero (que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascimento), você vai a uma loja e compra calcinha ou cueca em poucos minutos. Mas, para travestis e mulheres e homens transgêneros, até uma atividade tão simples como essa é cheia de obstáculos. Essas dificuldades, aliadas ao potencial de mercado e à preocupação com a saúde, motivaram empreendedores a erguer negócios.
A estilista Sandy Mel criou uma empresa especializada em calcinhas e biquinis, em Itajaí (SC), após ter dificuldade de encontrar produtos que a atendessem como mulher trans. Os produtos, que variam entre R$25 e R$150, atendem principalmente pessoas que não fizeram a cirurgia de redesignação sexual. Assim, o tecido e a modelagem da calcinha precisam ser diferentes de uma convencional para acomodar o órgão genital masculino.
Na empresa de Sandy é ela que, com sua experiência pessoal, desenha os modelos produzidos por uma equipe de costureiras.
Na TGW, os sócios Victor Alves e Everton Torres não são transgênero, mas buscaram ajuda numa clínica voltada a mulheres trans e travestis em Blumenau (SC) para criar seus produtos de moda íntima.
“Blumenau se tornou uma referência para pessoas trans com uma clínica voltada para o público, reconhecida mundialmente. Então, percebemos a falta de oferta, porém grande demanda”, diz Everton, que vende 100 pedidos por mês.
No caso da Trucss, em São Paulo, a empreendedora Silvana Bento criou a empresa a partir de um problema detectado no trabalho como técnica em hemoterapia. Observando as pacientes trans e travestis que chegavam aos hospitais, percebeu que muitas eram internadas para fazer cirurgia nos rins. Isso porque, ao “colar” o órgão genital para escondê-lo na roupa íntima, técnica comum nesse grupo, as trans e travestis prendiam a urina por muito tempo. Silvana criou, assim, um modelo com um funil entre as pernas, protótipo que está em processo de patente desde 2016 no Instituto Nacional de Propriedade industrial. A partir do modelo da calcinha, que custa em média R$ 70, ela desenvolveu uma linha de moda praia. Uma de suas clientes é a cantora Linn da Quebrada, participante do Big Brother Brasil 22. A BBB, inclusive, levou os produtos para usar no confinamento.
As vendas da Trucss são feitas por um site que Silvana conseguiu colocar de pé após sua participação no programa Shark Tank.
Esta semana comecei um novo livro chamado “A radical imaginação política das mulheres negras brasileiras”. Asorganizadoras desta série de artigos são Ana Carolina Lourenço e Anielle Franco, e a obra me foi gentilmente oferecida pela Erica Malunguinho. Estou devorando.
Neste ano eleitoral, é necessário estudar a democracia e formas de incluir mais mulheres neste sistema para não cometermos os erros do passado. Precisamos fazer valer o direito das mulheres e suas intersecções em todos os dias do ano. Como já disse em colunas passadas, para além do 8 de março.
Para isso, precisamos desde já apoiar figuras conscientes e alinhadas a progressos coletivos. Tenho acompanhado diversos movimentos, como Mulheres Negras Decidem e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Não acredito em coincidências, o livro reapareceu na minha prateleira logo após terminar “Você pode fazer a diferença”, de Stacey Abrams, com um prefácio potente da querida Maju Coutinho. Entre 2011 e 2017, a democrata americana Stacey foi a líder da minoria na Assembleia legislativa da Geórgia e, em 2018, foi candidata do partido na eleição para governadora do mesmo estado.
Entendo o livro de Stacey como um guia, especialmente para outsiders (as famosas primeiras gerações de estudantes universitários, empreendedores ou políticos da família, só pra citar alguns casos), para lidar com suas ambições. Ela é tão didática e metódica, que elaborou planilhas e coloca vários cases e questionamentos ao longo do livro para apoiar leitores na sua jornada ambiciosa.
Destaco sete lições, que não são spoilers e tampouco substituem a leitura da obra.
A primeira está na frase de abertura, de Audre Lorde, que é bastante inspiradora:
“Quando me atrevo a ser poderosa, a usar minha força, o medo que sinto se torna cada vez menos importante”.
Segundo, muitos se questionam por que representatividade importa. E Stacey reforça o quanto após sua campanha notaram o aumento da participação de latinos e asiáticos americanos e de jovens no pleito. Quem sabe um remédio para a evasão das urnas seja uma maior participação de grupos sub- representados também aqui no Brasil?
Terceiro, também autoexplicativo: “Quando não nomeamos nossos obstáculos, fica difícil achar um caminho para superá-los. Ou ainda aceitamos sua inevitabilidade acreditando que recebemos o que merecemos”.
Quarto, raça e gênero moldam nossas, experiências e impressões sobre nós e sobre os outros. É importante ter consciência disso. Além disso, cotas são direitos de grupos vulnerabilizados que precisam ser atualizados para garantir um processo de inclusão permanente.
Quinto, não se é líder só por ser mulher, negra ou trans, mas porque estas identidades e vivências forjaram muitas de suas habilidades, olhares, ouvidos, modo de fazer e agir que vão de encontro às necessidades de todos, e a especial de públicos sub- representados.
Sexto, é possível pensar em mentorias situacionais em vez da mítica mentoria perfeita para a vida. A mentoria situacional seria voltada a uma situação especifica e muito menos desgastante e frustrante.
Sétimo, nós mulheres devemos falar a língua das finanças, até para nos planejarmos contra os históricos de endividamento e de dependência financeira que o sistema nos colocou.
Estes são alguns dos truques compartilhados por Stacey para sermos literalmente hackers do sistema, sabendo obter dele oportunidades. A leitura é inspiradora, leve, contundente e estimuladora. Stacey é braba. Duvido que você leia e não se sinta impulsionado a agir.
AGACHAMENTO É O MELHOR EXERCÍCIO PARA FORTALECER O CORPO
Apesar de simples, a prática éfundamental para reduzir o risco de lesões e melhorar o desempenho físico ao longo da vida
Qual é o melhor exercício de fortalecimento que muitos de nós poderíamos estar fazendo neste minuto, mas, provavelmente não estamos? Consulte cientistas diversos e as pesquisas mais recentes sobre o assunto, e a resposta provavelmente será a mesma: agachamentos.
“Para força e flexibilidade da parte inferior do corpo, provavelmente não há exercício melhor”, diz Bryan Christensen, professor de biomecânica da Universidade da Dakota do Norte, nos EUA, que estuda exercícios de resistência.
Os benefícios não se limitam à parte inferior do corpo.
“É realmente um exercício de corpo inteiro. Ele requer estabilidade do core e treina as costas”, explica Silvio Rene Lorenzetti, diretor de Performance Esportiva do Instituto Federal Suíço de Esporte, em Magglingen.
Algumas pessoas temem que o agachamento possa colocar em risco os joelhos e os quadris, mas o exercício pode realmente ajudar a proteger e melhorar o funcionamento dessas e de outras articulações.
“O movimento ajuda a manter a flexibilidade, estabilidade e função dos quadris, joelhos e tornozelos”, conta Sasa Duric, cientista do exercício na Universidade Americana do Oriente Médio, no Kuwait, que estudou agachamentos.
Em geral de acordo com estudos científicos de 2014, o agachamento é “um dos movimentos fundamentais mais primitivos e fundamentais para melhorar o desempenho esportivo, reduzir o risco de lesões e apoiar a atividade física ao longo da vida”.
O JEITO CERTO DE AGACHAR
O agachamento é simples, portátil e potente. Qualquer lugar com alguns metros de espaço aberto funcionará, seja uma sala de estar, escritório, escada, parque ou armário. E o único equipamento necessário é o seu peso corporal.
Segundo Duric, se você é novo no agachamento, uma das maneiras mais seguras e simples de começar é com o chamado “agachamento na caixa”, assim nomeado porque é geralmente feito com uma caixa de exercícios encontrada em academias. Mas você também pode fazer isso em casa. Nesse caso você usará uma cadeira, banco ou cabeceira.
Se você tiver deficiências na parte inferior do corpo ou lesões anteriores, converse com seu médico primeiro sobre se o agachamento é aconselhável para você.
“Seja paciente e preste atenção à técnica adequada. Não apresse o agachamento”, aconselha Duric.
PARA COMEÇAR
PASSO 1: Encontre uma cadeira ou caixa alta o suficiente para que, quando você se sentar, suas coxas fiquem paralelas ao chão. Mantenha o core tenso e o peito para cima, com as costas retas.
PASSO 2: Coloque-a a poucos metros de uma parede. As linhas retas da parede podem ajudar a alinhar seu corpo.
PASSO 3: Fique de frente para a parede com a cadeira atrás de você e os pés a cerca de dez centímetros da parede. Coloque as mãos nos quadris ou estique-as para os lados.
PASSO 4: Mantenha os calcanhares colados ao chão. Dobre os joelhos, e lentamente, contando até cinco, abaixe-se até que suas nádegas toquem suavemente a caixa. Tente não sentar de verdade. Levante-se da caixa e estique as pernas contando até cinco.
MANTENHA O FORMATO
Quando você sentir que dominou o agachamento na caixa, você pode abandoná-la e partir para um agachamento independente com o peso do seu corpo. Mas continue prestando atenção à sua postura.
“O agachamento é um exercício excelente, tanto para aumentar a capacidade funcional quanto para reduzir o risco de lesões, desde que o exercício seja realizado corretamente”, diz Brad Schoenfeld, professor de ciência do exercício no Lehmam College em Nova York e especialista em musculação.
As chaves de um agachamento seguro, eficaz e com peso corporal para iniciantes, para Schoenfeld, são:
PASSO 1: Posicione os pés na largura dos ombros e ligeiramente voltados para fora, que é a postura mais fácil e estável. Manter os pés consideravelmente mais afastados ou próximos, ou muito inclinados para dentro ou para fora, coloca cargas potencialmente preocupantes nos joelhos ou quadris.
PASSO 2: Sua cabeça e coluna devem estar alinhadas, peito para cima, olhando para frente. Não arredonde as costas curvando-as ou arqueando-as.
PASSO 3: Os joelhos devem se mover aproximadamente na linha dos dedos dos pés enquanto você se agacha – não estendidos para fora ou dobrados -, sem passarem muito das extremidades dos dedos dos pés.
PASSO 4: Agache-se o mais confortavelmente possível. Tente apontar os braços para frente para ter suas coxas paralelas ao chão. Mas a princípio, se você não conseguir chegar tão baixo, tudo bem. Ainda é um agachamento. Seguindo essas diretrizes, tente encontrar o movimento que parece certo para você.
“Não existe a melhor forma absoluta para todos. Existem certos princípios biomecânicos que precisam ser seguidos, mas a pessoa precisa determinar o que é mais confortável para ela”, explica Schoenfeld.
AUMENTE O DESAFIO
Quando agachar com o peso do corpo deixar de ser um desafio, use um haltere.
“Existem muitas variações de agachamento. O “agachamento de cálice” é um dos mais acessíveis”, diz Christensen.
Um agachamento com peso de nível básico envolve segurar um haltere ou outro peso perto do peito com as duas mãos, como se estivesse segurando uma taça, e agachar (enquanto mantém uma boa postura).
Em um estudo que Christensen supervisionou no ano passado, o “agachamento de cálice” efetivamente atingiu e fortaleceu os quadríceps, que são nossos músculos da frente das coxas. Os efeitos benéficos foram especialmente percebidos nas mulheres.
Mas eles não eram tão bons em trabalhar os isquiotibiais, os músculos na parte de trás da nossa coxa. Para isso, o estudo descobriu que você estaria melhor fazendo o “agachamento de minas terrestres”, que consiste em uma barra giratória colocada diagonalmente em um suporte no chão.
Na academia, você carrega o peso desejado na barra, segura a ponta com as duas mãos, mantendo-a perto do peito, levanta e depois agacha. Esse movimento envolve os músculos quadríceps e isquiotibiais, bem como outros músculos da parte inferior do corpo, de acordo com o estudo de Christensen.
Por fim, não se deixe intimidar. Você sabe agachar. Todos nós fazemos. O movimento é elementar e essencial.
“O agachamento imita muitas tarefas fisiológicas da nossa vida diária. Então, o maior erro que você pode cometer com agachamentos é não começar a fazê-los”, ressalta Lorenzetti.
ENTENDA POR QUE ALGUNS HOMENS SÃO VICIADOS EM SEXO
Estudo revela que ocitocina, também chamada de ‘hormônio do amor’ pode causar o transtorno de hipersexualidade
A ocitocina pode explicar por que alguns homens são viciados em sexo, o chamado transtorno hipersexual. É o que revelam novo estudo dos cientistas suecos publicado no Jornal de Endocrinologia Clínica e Metabolismo, da Endocrine Society, uma comunidade internacional de endocrinologia.
Os pesquisadores associaram o distúrbio a níveis mais altos do “hormônio do amor”, no sangue em comparação com os níveis em homens sem o distúrbio, mas mostram que a terapia pode ser uma maneira eficaz de gerenciá-lo.
O comportamento hipersexual – às vezes referido como vício em sexo ou hipersexualidade – é definido como uma preocupação excessiva com fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais. Embora a sexualidade seja saudável, a hipersexualidade pode prejudicar a qualidade de vida de uma pessoa, pois os impulsos se tornam difíceis de resistir e podem causar angustia e atrapalhar o trabalho e os relacionamentos pessoais da pessoa.
O estudo analisou amostras de sangue de 64 homens com transtorno hipersexual em busca de ajuda, comparando-os com amostras de 38 homens sem o problema. Eles também realizaram questionários para ambos os grupos. Os resultados iniciais revelam que os homens com vicio em sexo tinham níveis mais altos de ocitocina em comparação com aqueles sem, e que níveis mais altos estavam associados a uma maior pontuação para comportamento hipersexual.
TRATAMENTOS
A ocitocina é um hormônio natural produzido pelo hipotálamo e liberado pela glândula pituitária. Em níveis normais ajudam no comportamento sexual saudável. Mas essa nova pesquisa destaca os possíveis efeitos de níveis elevados com homens e demonstra que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é um caminho válido para diminuir o hormônio, bem como controlar o vício em sexo e seus comportamentos associados. Também é possível que medicamentos direcionados à ocitocina possam ser uma abordagem alternativa.
O estudo também analisou 30 homens com transtorno hipersexual que passaram por TCC após o qual seus níveis de ocitocina foram estados novamente. As análises de sangue de acompanhamento mostraram que, após um curso de TCC, os homens hipersexuais rinham níveis reduzidos de ocitocina em comparação com suas concentrações iniciais.
Embora a pesquisa aponte para uma fonte biológica para comportamentos hipersexuais em homens, ela não afirma de forma alguma que pessoas com ocitocina elevada são impotentes para fazer qualquer coisa sobre seu distúrbio. Por meio de terapia apropriada, pelo menos no caso de hipersexualidade associada a ocitocina, parece que a função e o comportamento sexual normal podem ser alcançados.
Na pandemia, mais de 320 mil crianças ficaram só com o nome da mãe na certidão
Ao longo dos dois anos de pandemia de covid-19, mais de 320 mil crianças foram registradas somente com o nome da mãe na certidão de nascimento. O número de bebês sem o nome do pai no documento equivale a, em média, 6% do total de crianças nascidas no País, maior porcentual desde 2016. Os dados estão em dois novos módulos do Portal da Transparência do Registro Civil: “Pais Ausentes” e “Reconhecimento de Paternidade”.
Em números absolutos, 160.407 recém-nascidos foram registrados sem o nome do pai no primeiro ano da pandemia e 167.399 no segundo. Os recordes dos últimos cinco anos ocorreram justamente nos dois anos que têm os menores números totais de nascimentos desde o início da série histórica dos cartórios, em 2003.
Um outro índice registrado pelo portal confirma o problema: os reconhecimentos de paternidade – que podem ser feitos em qualquer momento da vida do indivíduo mediante o desejo do pai – também caíram muito durante o período de emergência sanitária, passando de 35.243 em 2019 para 23.921 em 2020 (uma queda de 32%) e para 24.682 em 2021 (uma redução de quase 30% em relação a 2019). “O que pode explicar essas diferenças são as dificuldades de deslocamento da população, o funcionamento restrito de cartórios e órgãos públicos, e a queda da renda da população”, enumerou Andreia Gagliardi, diretora da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) de São Paulo. “Outro problema, suponho, é o número de pais que morreram por conta da pandemia, sem poder registrar seus filhos.”
Coordenadora do Núcleo de DNA da Defensoria Pública do Rio, Andréia Cardoso concorda com a colega. “A questão financeira pesa muito nessas horas. A população empobreceu muito durante a pandemia”, disse. “A mãe sai da maternidade com a criança registrada. O pai, eventualmente, vai ter de se deslocar, vai ter de ir ao cartório e, embora o serviço não possa ser cobrado, sabemos que muitos cartórios cobram.”
PREMATURO
A Região Norte concentra o maior número de crianças com pais ausentes. Dos 253.667 nascidos em 2020, 21.838 foram registrados apenas com o nome da mãe. O número foi ainda maior no ano seguinte: 24.807 certidões de nascimento sem o nome do pai. E tudo indica que essa situação não tem prazo para terminar.
Um dos casos que podem ser citados é o da baiana Jussara Alves Soares dos Santos, de 39 anos, que ainda aposta na promessa dos avós paternos do filho, nascido prematuramente no dia 26 de fevereiro deste ano, para conseguir ver o menino registrado com o nome do pai.
Jussara, que sobrevive com outros dois filhos graças a um benefício distribuído pelo governo por incapacidade de trabalhar, viu seu relacionamento terminar ainda no meio da gestação. Depois disso, tem contado apenas com o apoio da própria família, apesar das insistentes idas à casa do ex parceiro, no bairro periférico de Paripe, na capital, Salvador, onde também reside, pedir ajuda financeira.
A gravidez de Jussara foi de risco e precisou ser interrompida aos 6 meses. A criança, que nasceu com 1,25 quilos, continua no hospital e somente será liberada quando atingir os 2 quilos. O pai nem sequer foi ver a criança.
Jussara conta que enfrentar esse processo todo sozinha tem sido difícil desde o início. Ela começou a sentir muitas dores no dia 18 de fevereiro, quando procurou um posto de saúde, onde recebeu do médico um encaminhamento para uma maternidade. Entretanto, sozinha, decidiu voltar para casa. Somente no dia seguinte, quando a bolsa rompeu e as dores aumentaram, se dirigiu a uma maternidade pública, acompanhada por uma irmã, e já ficou internada.
O parto, por cesariana, porém, só foi realizado uma semana depois. Passados dois dias, ela foi liberada, mas a criança ficou no hospital. Jussara diz que visita o filho diariamente e, ao mesmo tempo, continua procurando falar com o pai da criança, sem sucesso. “Eu acredito que, depois que o menino vier para casa, ele irá nos procurar. Ele sempre dizia que tinha vontade de ter um filho homem. Já tem uma filha de 10 anos, fruto de outro relacionamento”, conta Jussara. “Além disso, os pais dele me afirmaram que ele não irá fugir à responsabilidade e vai registrar e manter o filho. Espero que isso aconteça mesmo, pois não é fácil criar uma criança sozinha e com pouca grana!”
O benefício que recebe é de um salário mínimo. Os pais de Jussara sobrevivem com renda similar e ainda cuidam de uma filha especial. Questionada sobre o que fará caso o pai não registre o filho nem assuma as despesas com a criança, Jussara responde, conformada: “Fazer o quê?”
DIREITO E CAMPANHA
O Sudeste, por sua vez, lidera o ranking das regiões com maior queda nos atos de reconhecimento de paternidade durante a pandemia. Em 2019, 27.279 mil pais reconheceram seus filhos após o nascimento. No ano seguinte, foram 16.054 casos, redução de 41%. E, em 2021, o número de reconhecimentos somou 14.879, 45% abaixo do nível de 2019. Não por acaso, ontem, o Colégio Nacional de Defensoras e Defensores Públicos lançou a campanha “Meu Pai Tem Nome”, para oferecer serviços gratuitos de atendimento jurídico, educação em direto e exames de DNA para reconhecimento da paternidade.
Não se trata de uma iniciativa inédita. Fernanda Santos Meirelles, caixa de supermercado de 25 anos, é mãe da Ágata Helena Meirelles, nascida em agosto de 2021. Ela participou do Mutirão Direito a Ter Pai de 2021 da Defensoria Pública de Minas Gerais, quando o pai da Ágata solicitou o exame de DNA antes de aceitar colocar o nome no registro. ”Nosso relacionamento não deu certo, mas eu queria muito registrá-la e recorri ao mutirão. O resultado foi positivo, com reconhecimento da paternidade registrado em cartório. Tudo de forma amigável e em um tempo rápido, uma semana. Mas, infelizmente, ele só registrou. Crio ela sozinha”, lamenta.
Ela conta que a gravidez não foi planejada e que, após terminarem o relacionamento, decidiu seguir a gestação sozinha. “Ele sumiu e não quis saber dela quando nasceu. Por isso, registrei sozinha”, diz. Fernanda. “conversando com a minha família, chegamos à conclusão de que era importante eu registrar o nome do pai para ela ter o direito de saber quem é quando ela crescer e para que ela não se sentisse inferior em relação às outras crianças.”
Fernanda diz que, então, resolveu procurá-lo e fazer o DNA para comprovar a paternidade e registrar. “Depois, ele se afastou ainda mais. Ele não me ajuda com nada e vive a vida dele totalmente isolado da nossa. Independente de qualquer coisa, eu sempre aceitei minha gravidez. Ela sempre foi amada.”
A jovem mantém a filha com o apoio de sua família. “Concluindo, a responsabilidade é toda minha. A sociedade cria essa cultura de que a mãe cuida e a mãe faz tudo, e assim os homens ficam livres de cumprir seu papel. Os pais fogem da responsabilidade e criam situação da rejeição e nenhuma mãe quer que o filho se sinta rejeitado”, afirma Fernanda. “O programa da Defensoria Pública tem ajudado muito nesse sentido e até mesmo com o direito a pensão, pois eu não tinha condições de buscar um advogado.”
O número de crianças sem o nome do pai no registro já foi muito pior. Em 2010, por exemplo, o porcentual de crianças registradas no nascimento apenas com o nome da mãe era de 10 % . Em 2012, por decisão do Conselho Nacional de Justiça (CN.J), o procedimento de reconhecimento de paternidade passou a ser feito diretamente em qualquer cartório, sem a necessidade de interferência da Justiça, desde que todas as partes concordassem com a decisão. Outras medidas que visavam a facilitar o registro e seguidas campanhas de conscientização da população, como a da Defensoria, fizeram com que o número de crianças sem os nomes dos pais no registro começasse a cair consistentemente já a partir de 2015.
REVERSÃO
A pandemia reverteu a tendência. A comerciante Diocléia da Silva, de 42 anos, recorreu à Defensoria Pública do Rio para garantir o registro do filho Natan, de 4. Vizinhos de rua em um bairro da zona norte do Rio, ela e o pai da criança começaram a se relacionar apesar de o homem ser casado. Isso não o impediu de acompanhar a gravidez e até mesmo os aniversários da criança. Mas colocar o nome no registro de nascimento era outra história.
“Ele ficou me enrolando”, contou Diocléia. “Dizia que tinha de falar com a mulher. Para ficar comigo, não pediu permissão, mas para registrar o garoto tinha de falar com ela.”
A situação se estendeu por dois anos, até que Diocléia procurou a Defensoria. A despeito dos contratempos impostos pela pandemia, ela conseguiu colocar o nome do pai no registro de nascimento do filho. Agora, briga para que a pensão seja descontada no contracheque do pai da criança. O lado positivo, conta, é que o menino ganhou uma nova família, com avós e tios.
“Ter o nome do pai no registro é um quesito básico da cidadania”, sustenta Andréia Cardoso, da Defensoria Pública do Rio. “Saber sua origem é saber que você pertence a algum lugar, a uma família, não importa se rica ou pobre, boa ou ruim, se o pai é um médico ou um traficante. É cidadania, é direito, é justiça, é o que tem de ser feito”, afirma Andréia. “Ninguém é sozinho no mundo, todos têm uma história e o direito de conhecê-la.”
No Brasil, segundo ela, a tradição escravocrata forçava as mulheres a terem filhos sozinhas. “Este é um País que não cobra dos homens essa responsabilidade”, diz a representante da Defensoria do Rio. “E os homens se comportam como se o filho fosse só da mulher.”
Porque o Senhor Deus é sol e escudo; o Senhor dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente (Salmos 84.11).
Só podemos conhecer a Deus porque ele se revelou. Nosso conhecimento de Deus não advém d lucubração, mas da manifestação divina. Deus se revelou na obra da criação. Também revelou-se em sua Palavra e, sobretudo, em seu Filho. Temos vários nomes de Deus na Bíblia porque nenhum seria suficiente para esgotar todo o seu ser. No Salmo 84.11, Deus nos é apresentado como sol e escudo Essas duas figuras nos oferecem lições preciosas. Como sol, Deus é a fonte da vida. Assim como não há vida sem a luz do sol, também não há vida sem a ação de Deus. Ele é nosso criador. Não somo descendentes dos símios; viemos de Deus. Ele esculpiu em nós sua imagem e semelhança. Como sol Deus nos aquece. A vida seria marcada por um inverno eterno se Deus não aquecesse o nosso coração. Como sol, Deus nos ilumina. Nascemos num berço de trevas e caminhamos em trevas até o dia em que Deus nos tira do império das trevas para o reino da sua luz. Como sol, Deus é o centro d nossa vida. Porque Deus é sol, nossa vida deve gravitar ao seu redor. Mas Deus também deve ser conhecido como escudo. Como escudo, ele é nossa proteção e nosso refúgio. Somos vulneráveis. Não podemos enfrentar os inimigos nem apagar os dardos inflamados que o maligno lança contra nós. É Deus quem nos protege do maligno. É Deus quem nos livra do mal. É Deus quem estende sobre nó suas asas. É Deus quem desbarata nossos inimigos e nos dá a vitória.
MULHER NEGRA É APENAS 3% ENTRE LÍDERES NAS EMPRESAS
Propostas para elevar representação vão desde mapear o perfil interno das empresas até oferta de bolsas de estudo
No mês que relembrou a luta das mulheres por igualdade de gênero ao redor do mundo, uma pesquisa mostra que ainda há muito caminho a se percorrer no mercado, principalmente para mulheres negras e para aquelas em outros grupos de vulnerabilidade como lésbicas e mulheres com deficiência.
Levantamento feito pela consultoria de Gestão Kairós, especializada em diversidade, aponta que, entre 900 líderes entrevistados (nível de gerência para cima), apenas 25% são mulheres – e, entre elas, apenas 3% são negras.
”O estudo nos possibilita refletir sobre como a gente universaliza os direitos das mulheres pela mulher branca. Quando vemos que as mulheres negras são apenas 3%, vemos o abismo de direitos que temos”, diz Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós. O censo também foi aplicado entre mais de 23 mil profissionais que não ocupam cargos de liderança. Desse total, 32% são mulheres, e o número de mulheres negras aumenta para 9%, mas ainda são sub- representadas, uma vez que o Brasil é composto por 28% delas. Para mudar esse cenário, Liliane aconselha que as empresas façam um diagnóstico interno, em forma de censo, para mapear o perfil dos profissionais e depois atuar a partir das informações encontradas. Para Camila Oliveira, coordenadora de Operações na Tenda Atacado, um dos gargalos da inserção da mulher negra no mercado está no desenvolvimento dessas profissionais dentro das organizações e na falta de mecanismos que as impulsione a alcançar cargos de liderança. “Geralmente os homens acabam tendo mais experiências profissionais porque já são dadas mais oportunidades a eles desde o início da carreira. Enquanto isso, nós, mulheres negras, em muitos casos ficamos sem vantagem competitiva, porque até mesmo a nossa conquista ao ensino superior é atrasada”, diz.
A trajetória de Camila na empresa começou há 14 anos, corno auxiliar administrativa. Ao longo desse tempo, ela se inscreveu em processos seletivos internos para cargos maiores. Passou por analista e supervisora, até se tornar coordenadora. A sua trajetória mostrou, na prática, a predominância masculina em cargos de liderança no mercado.
Camila defende que uma forma de incluir mulheres negras é por meio de oferta de bolsas de estudo para funcionárias que estão na base da pirâmide empresarial.
ALÉM DE RAÇA
Outros grupos em vulnerabilidade, como mulheres transexuais, travestis, lésbicas e com deficiência, também estão sub- representados segundo a pesquisa da Gestão Kairós. Entre as líderes, as lésbicas são menos de 1%. Elas são seguidas pelas bissexuais, que são 1,1% do censo. As mulheres com deficiência também estão em patamar muito baixo tanto entre líderes quanto não líderes – 0,6% e 0,8%, respectivamente. Entre não líderes, ainda que em número reduzido, homens com deficiência estão mais representados – 1,9%.
Os porcentuais estão distantes do retrato da sociedade brasileira e mostram também estar aquém dos esforços da Lei de Cotas, que determina uma porcentagem de contratação de pessoas com deficiência pelas empresas: de 2% a 5% do total de funcionários, a depender do tamanho da organização. Segundo o IBGE, 8,4% da população brasileira acima de dois anos possui alguma deficiência.
Quando alguém diz, por exemplo, “João traiu Renata”, a primeira coisa que me vem à cabeça é que João espalhou um segredo cabeludo que Renata havia lhe confiado, ou então que João entregou Renata para a polícia, ou ainda que João fugiu com todo o dinheiro que Renata havia economizado, que crápula. Nunca penso que João transou com outra mulher.
Trair pressupõe que algo foi feito contra alguém. E sexo não é algo que seja feito contra uma terceira pessoa. Sexo é sempre a favor, sempre pró, e sempre egoísta – não diz respeito a quem ficou do lado de fora do quarto. Faz-se sexo para dar e receber prazer, e não para prejudicar quem quer que seja. Traição é uma palavra dura demais para ser usada como sinônimo de infidelidade e adultério.
A palavra adultério é até romântica, remete a encontros clandestinos, beijos roubados, vidas secretas, roteiros de cinema, letras de samba. O adúltero – apesar de ter que carregar esse palavrão nas costas – é na verdade um alegre.
Infidelidade já é uma palavra mais burocrática, boa para ser usada em tribunais, alegar quebra de contrato. É palavra comprida e possui um certo status, parece coisa de estelionatário graúdo, gente com conta em paraíso fiscal pensando bem, “conta em paraíso fiscal” é uma metáfora que se aplica perfeitamente a romances paralelos. Mas estelionato é crime, e infidelidade não é. O infiel é um inofen- sivo, vende fácil seus carros usados.
Os infiéis não metem medo, os adúlteros possuem um charme boêmio, então, na falta de uma palavra mais intimidante, apela-se para “traidores”, a fim de arrancarmos deles alguma culpa, remorso, vergonha. Mas que ninguém se engane: a palavra traição está combinando cada vez menos com a realidade sexual vigente. Ninguém está batendo palmas aqui para a poligamia. Estou apenas refletindo sobre a adequação e inadequação de certos vocábulos. Traição? Convém enfrentar os revezes amorosos sem mexicanizar demais a cena.
No início de todo romance, homens e mulheres se satisfazem plenamente um com o outro, mas com o passar do tempo a relação passa a satisfazer apenas parcialmente -e parcialmente pode ser mais que suficiente quando inclui amizade, cumplicidade, diversão, leveza. Porém, a parte que começa a faltar – a sedução – deixa o campo aberto para novas experiências, que podem acontecer ou não. Nada disso tem a ver com desamor. Pode-se amar alguém e sucumbir a uma aventura. Não estou dizendo nenhuma novidade, estou? Há algum inocente no recinto?
Traições pegam você desprevenido. A infidelidade, ao contrário, é sempre uma possibilidade a ser considerada, mesmo quando parece improvável. E não, não há nenhum inocente no recinto.
CAMINHADA É O MELHOR EXERCÍCIO PARA ATIVAR O CÉREBRO
Novas pesquisas revelam que há impactos positivos na qualidade da massa branca cerebral e na memória
Exercícios físicos podem revigorar e renovar a substância branca em nossos cérebros, potencialmente melhorando nossa capacidade de pensar e lembrar à medida que envelhecemos. Isso significa que a matéria branca, que conecta e sustenta as células em nossos cérebros se remodela quando as pessoas se tornam mais ativas fisicamente. Por outro lado, naqueles que permanecem sedentários, essa substância tende a se desgastar e encolher. É o que mostra um novo estudo sobre caminhada, dança e saúde do cérebro.
As descobertas ressaltam o dinamismo de nossos cérebros e como eles se transformam constantemente para melhor ou para pior – em resposta a forma como vivemos e nos movemos.
A ideia de que cérebros adultos podem ser maleáveis é uma descoberta bastante recente, em termos científicos. Até o fim da década de 1990, a maioria dos pesquisadores acreditava que os cérebros humanos eram fisicamente fixos e inflexíveis após os 6 anos de idade. O pensamento era de que nascemos com a maioria das células cerebrais que teríamos e não poderíamos produzir mais. Nesse cenário, a estrutura e a função de nossos cérebros só diminuiriam com a idade.
Mas a ciência avançou, felizmente, e revisou esses conceitos. Estudos complexos usando corantes especializados para identificar células recém-nascidas indicaram que algumas partes de nossos cérebros criam neurônios na idade adulta, um processo conhecido como neurogênese. Pesquisas de acompanhamento concluíram que o exercício amplifica a neurogênese. Quando os roedores correm, por exemplo, eles bombeiam três ou quatro vezes mais novas células cerebrais do que animais inativos, enquanto nas pessoas, iniciar um programa de exercícios regulares leva a um maior volume cerebral. Esta pesquisa mostra que nossos cérebros mantêm a plasticidade ao longo da vida, mudando à medida que nós mesmos mudamos, inclusive em resposta à forma como nos exercitamos.
Esses estudos anteriores sobre a plasticidade cerebral geralmente se concentravam na matéria cinzenta, responsável por criar nossos pensamentos e memórias. Menos pesquisas analisaram a matéria branca, essa “função” do cérebro. Composta principalmente de fibras nervosas envoltas em gordura conhecidas como axônios, a substância branca conecta os neurônios e é essencial para a saúde do cérebro. Entretanto ela pode ser frágil, afinando e desenvolvendo pequenas lesões à medida que envelhecemos, dilapidações que podem ser precursoras do declínio cognitivo humano.
SUBSTÃNCIA BRANCA
A massa branca também foi considerada relativamente estática, com pouca plasticidade ou capacidade de se adaptar à medida que nossas vidas mudam. Mas Agnienka Burynska, professora de neurociência e desenvolvimento humano da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos, suspeitava que a ciência tinha subestimado a matéria branca.
“A matéria branca era vista como a meia-irmã feia e negligenciada da massa cinzenta, ignorada e mal julgada”, diz Burynska.
Para ela, era provável que a matéria branca possuísse tanta plasticidade quanto sua contraparte cinzenta e pudesse se remodelar, especialmente se as pessoas começassem a se exercitar.
Então, para o novo estudo, que foi publicado online em junho de 2021 na Neuroimage, Burzynska, sua aluna de pós-graduação Andrea Mendez Colmemares e outros colegas se propuseram a recuperar a substância branca das pessoas.
Eles começaram reunindo quase 250 homens e mulheres mais velhos que eram sedentários, porém saudáveis. No laboratório os pesquisadores testaram a aptidão aeróbica e as habilidades cognitivas atuais desses voluntários e também mediram a saúde e a função de sua substância branca. utilizando uma forma sofisticada de ressonância magnética para a varredura do cérebro.
Em seguida, eles dividiram os voluntários em três grupos. Um deles iniciou um programa supervisionado de alongamento e treino de equilíbrio três vezes por semana, para servir de controle ativo. Outro passou a caminhar três vezes por semana, rapidamente, por cerca de 40 minutos. E o último grupo começou a dançar, reunindo-se três vezes por semana para aprender e praticar novos passos. Todos os grupos treinaram por seis meses e depois voltaram ao laboratório para repetir os testes do início do estudo.
RENOVAÇÃO
Os cientistas descobriram que, para muitos, seus corpos e cérebros mudaram. Os que caminharam e os que dançaram estavam em forma aeróbica, como esperado. Além disso, a substância branca deles parecia renovada. Nos novos exames as fibras nervosas em certas partes de seus cérebros pareciam maiores, e qualquer lesão tecidual havia diminuído. Essas alterações desejáveis foram mais prevalentes entre os que caminharam, que também tiveram melhor desempenho nos testes de memória. Os dançarinos, em geral, não.
Enquanto isso, os membros do grupo de controle que não haviam se exercitado aerobicamente, mostraram declínio na saúde da substância branca após os seis meses, com maior afinamento e desgaste de seus axônios, e déficit cognitivo.
“Para os praticantes de exercícios, essas descobertas são muito promissoras. Elas nos dizem que a matéria branca que permanece plástica e ativa, independentemente da nossa idade, e algumas caminhadas rápidas por semana podem ser suficientes para polir o tecido e retardar ou evitar o declínio da memória”, explica Burzynska.
Claro, as mudanças cerebrais foram sutis e um tanto inconsistentes. Butzynska e seus colegas esperavam, por exemplo, que dançar produzisse maior massa branca e melhorias cognitivas do que caminhar, já que dançar envolve mais aprendizado e prática. Mas a caminhada foi mais potente, sugerindo que o exercício aeróbico, por si só, é mais importante para a saúde da substância branca.
“Os dançarinos passavam algum tempo em cada sessão observando os instrutores e não se movendo muito. Isso provavelmente afetou os resultados”, afirma a neurocientista.
Os participantes do estudo também tinham mais de 60 anos, eram inativos e se exercitaram por apenas seis meses. Ainda não está claro se os cérebros de pessoas mais jovens e em forma também se beneficiariam ou se o exercício aeróbico de longo prazo poderia levar a melhorias maiores na memória e no pensamento. Mas, por enquanto, os resultados sugerem que é importante se levantar e se mexer para a melhora da nossa massa branca.
CONVERSAR COM ESTRANHOS FAZ BEM AO CORPO E À MENTE
Contatos casuais com pessoas que encontramos no cotidiano podem criar uma sensação de pertencimento
Ao longo da vida sempre busquei ser extrovertida, alguém que prontamente estabelece e aprecia contatos casuais com pessoas que encontro durante a vida cotidiana: enquanto passeio com meu cachorro, faço compras, me exercito na academia e até varro minha calçada. Essas conexões efêmeras adicionam variedade à minha vida, são uma fonte de informações úteis e muitas vezes fornecem o apoio emocional e físico necessário. Igualmente importante, elas quase sempre me deixam com um sorriso no rosto (embora às vezes escondida sob uma máscara!).
Nos últimos meses, por conta da pandemia da Covid, 19, muitas pessoas perderam esses encontros diários. Eu, por outro lado, fiz o meu melhor para manter o maior número possível deles enquanto me esforçava para permanecer segura. Como o tempo presencial com a família e amigos próximos foi limitado nos últimos dois anos para evitar a exposição ao coronavírus, os breves contatos socialmente distantes com pessoas do meu bairro – tanto aquelas que conheço há anos quanto outras que acabei de conhecer – foram cruciais para o meu bem-estar emocional e prático, e talvez até para a minha saúde.
Os benefícios que associei às minhas conexões casuais foram reforçados recentemente por uma descoberta inesperada. Durante uma faxina em casa me deparei com um livro em minha biblioteca chamado “Consequential strangers: The power of people who don’t sem to matter… But realy do” (“Contatos casuais: O poder das pessoas que parecem não importar. Mas importam, sem edição traduzida para o português). Publicado há 11 anos, este livro esclarecedor foi escrito por Melinda Blau, escritora científica, e Karen Fingerman, professora de psicologia na Universidade do Texas, que estuda a natureza e os efeitos dos chamados “laços fracos” que as pessoas têm com outras pessoas em suas vidas: o garçom que busca seu café, a pessoa que corta o seu cabelo, o dono do mercado local, a pessoa que você encontra com frequência na academia ou na estação de trem.
CONTATOS VITAIS
Em uma entrevista, Fingerman observou que conexões casuais com pessoas encontradas no decorrer da vida cotidiana podem dar a sensação de pertencimento a uma comunidade, que ela descreveu como “uma necessidade humana básica”.
Como ela e Blau escreveram em seu livro, contatos casuais “são tão vitais para nosso bem-estar, crescimento e existência cotidiana quanto a família e os amigos íntimos. Estranhos nos ancoram no mundo e nos dão a sensação de estarmos conectados a algo maior. Eles também aprimoram e enriquecem nossas vidas e nos oferecem oportunidades para novas experiências e informações que estão além do alcance de nossos círculos íntimos. Eles são conexões sociais vitais – pessoas que ajudam você a passar o dia e tornar a vida mais interessante”.
Minha tendência a “conversar” com estranhos resultou em uma série de conhecidos que preencheram meus dias com gentilezas, conselhos, informações, assistência necessária e, o mais importante de tudo, durante esse período de isolamento, um sentido valioso de conexões com pessoas que compartilham do mesmo ambiente que eu.
As restrições da Covid-19 lembraram muitos de nós da importância de nossos relacionamentos para uma boa qualidade de vida – não apenas relacionamentos com amigos e familiares que amamos e conhecemos bem e que nos conhecem bem, mas também de elos mais casuais que nos ajudam a manter uma perspectiva positiva durante tempos sombrios e angustiantes.
A pesquisa de Fingerman mostrou que as pessoas mais integradas socialmente também sio mais ativas fisicamente.
“Ser sedentário mata você. Você tem que se levantar, se mover para estar com as pessoas que você encontra ao se exercitar. Estranhos também ajudam seu cérebro, porque as conversas são mais estimulantes do que com as pessoas que você conhece bem”, diz Fingerman.
Uma colega pesquisadora da área, Katherine Fiori, presidente da graduação em psicologia da Universidade Adelphi, que estuda conexões sociais de idosos, descobriu que atividades que promovem “laços mais fracos” do que os formados com familiares e amigos íntimos promovem maior satisfação com a vida e melhor saúde emocional e física.
“Quanto maior o número de amizades casuais, mais forte a associação com sentimentos positivos e menos sentimentos deprimidos. Claramente significa que laços estreitos não são tudo o que os idosos precisam”, conta Fiori.
De acordo com Fingerman, isso não se aplica apenas aos mais velhos, mas a todos os adultos. A pesquisa mostrou que, em geral, as pessoas se saem melhor quando têm um grupo mais diversificado de pessoas em suas vidas.
“Infelizmente, a Covid restringiu severamente nossa capacidade de manter laços mais casuais. O esforço pode ser muito maior para se fazer isso online”, ressalta Fiori.
COMBATER A SOLIDÃO
Quando os casos de Covid-19 aumentaram em Nova York, muitas pessoas que eu conhecia que tinham segundas residências “escaparam” da cidade na esperança de evitar o vírus. Eu, por outro lado, optei por ficar no meu bairro do Brooklyn, onde todos os dias encontrava pessoas que conhecia casualmente, bem como outras em minha extensa rede de amigos e conhecidos que fiz na academia, nas lojas de bairro, ao caminhar e andar de bicicleta no parque.
Na minha casa de campo, especialmente durante os dias escuros e nos do início da primavera, eu teria ficado muito mais isolada. Sim, eu poderia passear com meu cachorro e andar de bicicleta sem ter que usar máscara, porque não teria encontrado quase ninguém no caminho. Mas eu também teria sido privada de conversas com os muitos “estranhos importantes” que encontrei diariamente durante minhas excursões ao ar livre no Brooklyn.
Para combater a solidão e manter suas muitas conexões casuais, uma das minhas amigas da academia iniciou uma troca de e-mails em grupo que não apenas preenchia as conversas diárias que ela estava perdendo, mas também lhe dava um sistema de apoio continuo quando enfrentava uma lesão e lutava com a melancolia do isolamento.
Em seu livro, Blau e Fingerman enfatizam a importância de criar e estar em ambientes que promovam relacionamentos com estranhos. Décadas atrás, quando o New York Times construiu cubículos para seus redatores e editores, destruiu um ambiente propicio ao compartilhamento de informações e à camaradagem, levando-me a trabalhar em casa na maioria dos dias e economizar o tempo e o esforço necessários para me vestir para o trabalho. Suspeito que, quando todas as limitações da Covid acabarem, muitos outros funcionários de escritório farão o mesmo e sacrificarão relacionamentos casuais.
Como as autoras escreveram: “Onde vivemos, trabalhamos, compramos e nos misturamos tem tudo a ver com os laços que cultivamos e, portanto, com nossa qualidade de vida”. Do modo como elas descreveram um tema central de seu livro, “contatos casuais” nos inspiram a nos aventurar além de nossas zonas de conforto. E até que o façamos, nunca saberemos o que podemos ganhar com relacionamentos com “pessoas que parecem não importar”.
Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos (Salmos 73.2,3).
Asafe enfrentou grande crise. Chegou quase a cair. Sentiu-se incomodado com a prosperidade do ímpio, enquanto ele, vivendo piedosa e honestamente, passava terríveis apuros financeiros. O ímpio tinha saúde, e sua casa era cercada de bajuladores. A boca do ímpio proferia blasfêmias contra Deus, e mesmo assim seu corpo era sadio e bronzeado. O ímpio arrotava uma arrogância condenável e ainda assim tudo parecia ir muito bem com ele. Asafe, porém, sendo homem temente a Deus, era castigado todos os dias. Aos olhos desatentos, a vida do ímpio era melhor do que a vida do justo. Sob uma análise superficial, não estava valendo a pena ser fiel a Deus. Essa crise torturou a mente de Asafe até o dia em que ele entrou na casa de Deus. As escamas caíram de seus olhos e ele viu a situação por outra perspectiva. O ímpio só tinha dinheiro e mais nada. O dinheiro apenas poderia dar-lhe conforto nesta vida e um rico funeral no fim da carreira, mas no dia do juízo ele estaria completamente desamparado. O justo, mesmo sendo castigado agora, tem Deus como sua herança, refúgio e recompensa. O dinheiro não pode oferecer alegria verdadeira nem segurança permanente. Mas Deus é a fonte da verdadeira alegria e o refúgio eterno. Vale a pena ser fiel a Deus. O justo florescerá como a palmeira, mas o ímpio será dissipado como palha levada pelo vento.
As angústias de quem é cobrado cotidianamente a falar sobre histórias de preconceito e discriminação
Lucy Ramos encarou, no começo do ano, uma maratona de entrevistas para divulgar o filme “O segundo homem”. O longa aborda o porte de armas, tema urgente no Brasil, e a atriz estava ansiosa para debatê-lo nas entrevistas. A expectativa, porém, foi frequentemente quebrada pela atuação de jornalistas que insistiam em fazer do racismo o tema central das conversas. “E isso não tinha nada a ver com o filme. Ficava brava e chateada. Pensava: ‘Poxa vida! Tenho tantas reflexões para fazer sobre esse trabalho. Por que tenho que falar disso agora?'”, lamenta.
O relato de Lucy revela uma angústia compartilhada por todos que, de alguma maneira, têm identidades diferentes dos que foram estabelecidos como padrão. As pautas sociais nunca foram tão discutidas, é verdade, e a importância disso é inegável. Mas, falar exclusivamente sobre determinados tetras tem um peso emocional muito grande para quem se sente, muitas vezes, aprisionado a uma única abordagem. Tenho tantas coisas para dizer e, às vezes, só querem saber de racismo”, desabafa Lucy.
“Ninguém pergunta sobre branquitude às atrizes brancas com essa mesma frequência. Com elas, falam sobre carreira, família. Gostaria de ser questionada sobre isso também. Certa vez, um veículo me mandou cinco perguntas sobre um ensaio fotográfico em que posei juntamente com outras atrizes negras. Todas eram sobre preconceito. Por que não querem saber das nossas conquistas?”
Toda essa redução temática incide diretamente sobre a saúde mental das pessoas, como destaca a doutora em Psicologia Social Jaqueline Gomes de Jesus, professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro e da Fiocruz. Ela participou de um estudo internacional sobre a população LGBTQIAP+ e afirma que, no Brasil, os integrantes desse grupo apresentam um quadro de ansiedade mais agudo, se comparado a outros países. “Quando falam dessa população ou dos negros aqui, sempre começam pela violência, sendo que essas pessoas estão vivas há séculos. Não é possível que haja apenas sofrimento nessa história”, pondera Jaqueline, que associa tal abordagem ao quadro identificado pela pesquisa “Acham que visibilidade é ficar falando das nossas dores. Mas isso encobre os nossos prazeres, as nossas belezas e corno estamos vivas.”
Ela própria, uma mulher negra e transexual, vivencia isso em diferentes aspectos da vida pessoal e profissional. Embora seja uma estudiosa de gênero, colegas da academia frequentemente esquecem que Jaqueline tem profundidade para participar de estudos e pesquisas que vão além da transexualidade.
Do mesmo jeito, costuma ser bombardeada em suas redes sociais com conteúdos que noticiam crimes de transfobia. “Sempre penso: ‘Gente, porque estão mandando isso para mim? Deviam enviar para o Ministério Público.”
Como se não bastasse o esgotamento de falar sobre um mesmo assunto reiteradamente, quem se posta como porta-voz de pautas sociais e identitárias enfrenta ainda a angústia de não ser compreendido. Essa é a principal reclamação da publicitária e produtora de conteúdo Maíra Medeiros. Com mais de dois milhões de inscritos em seu canal Nunca Te Pedi Nada, no YouTube, ela aborda temas variados por lá e dedica um bom espaço à aceitação corporal. “Você sofre a violência (dadiscriminação) e a revive, ao contar sobre o fato para alguém.
Depois, sofre uma nova violência quando o próprio interlocutor reproduz o preconceito numa conversa posterior.”
Ela ilustra a queixa com uma situação cotidiana: “Uma colega lhe pergunta sobre gordofobia, você desabafa, chora e diz que um dos problemas é encontrar roupas bonitas ou que foi chamada de gorda na rua. Três dias depois, essa mesma pessoa comenta com você: ‘Estou gorda e preciso emagrecer, ando me sentindo feia’. Isso é exaustivo!”.
Fenômeno incontestável das redes, a psicóloga e produtora de conteúdo Lorrane Silva, mais conhecida como Pequena Lo, arrebatou 4,4 milhões de seguidores no Instagram com vídeos que simulam situações embaraçosas e corriqueiras. São cenas como o flagra constrangedor durante as filmagens de uma festa de casamento e a amiga que enfia o pé na jaca depois de dizer que não vai beber. Tudo feito com um humor perspicaz, capaz de gerar identificação em qualquer pessoa, enquanto as muletas e a “motinha” que ela usa para se locomover aparecem como meros detalhes. Foi a fórmula encontrada para falar também sobre representatividade sem precisar verbalizar. A fama, porém, não a livra do preconceito e do capacitismo. “Quando querem me atacar, dizem que só alcancei todo esse sucesso por ser urna pessoa com deficiência, e não pelo meu talento”, relata.
Por sucesso, entenda-se uma penca de parcerias com grandes marcas, capas de revistas e convites para as festas mais badaladas do Brasil. “Ainda assim, muita gente, quando vem falar comigo, quer logo saber sobre a minha deficiência.
Sempre digo que isso não vai mudar nada. Não perguntamos sobre os detalhes íntimos de outras pessoas”, compara. “Também percebo uma insistência na ideia da superação, sendo que eu já nasci com essa condição. Então, não precisei superar nada. Não é um defeito.”
Nenhum dos entrevistados, vale ressaltar, desconsidera a importância de se debater as pautas sociais e identitárias, sobretudo aquelas que tangenciam suas próprias existências. O problema, como frisa a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus, é não permitir outras abordagens a esses indivíduos.
“Se falamos apenas da dor, reforçamos um estigma e criamos estereótipos.”
Enquanto vê suas telas correrem instituições como o Museu de Arte do Rio e a Pinacoteca de São Paulo, o artista Elian Almeida observa pontos semelhantes aos levantados por
Jaqueline. Segundo ele, pessoas negras sempre falam sobre racismo, de alguma maneira: “Falamos sem falar. A nossa existência é uma eterna fala que não é necessariamente oral”.
Ainda assim, tecer comentários sobre o tema não é algo considerado “ruim” por ele. “Não me atrapalha profissionalmente nem pessoalmente”, pondera
O artista salienta, porém, que tudo depende da abordagem e dos interesses. “Entendo que
O meu próprio trabalho evoca esse movimento. O incômodo parte do processo de repetição.
É como se eu não pudesse comentar sobre arte moderna ou arquitetura, e o recorte precisasse ser: arte moderna e a negritude, e por aí vai..”
O psicólogo Cláudio Paixão, pesquisador da comunicação humana da UFMG e doutor em Psicologia Social, acrescenta que essas situações trazem uma alta carga de estresse para a vida de quem é afetado. “Imagina ter que militar, discutir e falar o tempo todo sobre um assunto doloroso?”, reflete. Tal rotina, alerta, pode desencadear um quadro de depressão até em quem não tem predisposição para a doença.
“O estresse vem de estarmos o tempo todo preparados para lutar. Se alguém fica 24 horas por dia nessa situação, há um peso biológico. Afinal, é preciso estar com o coração e o cérebro sempre prontos. Mas ninguém pode lutar o tempo todo. Vive-se, desse modo, uma tensão permanente.”
É por isso que a influenciadora e escritora Rebeca Costa avisa logo em sua descrição no Instagram, onde tem 90 mil seguidores, que “o nanismo é um detalhe”. ”As pessoas não se dão ao trabalho de criar uma expectativa nova na cabeça delas. Acham que quem está fora de um determinado padrão deve ser vitimizado ou visto como incapaz”, reclama. “Ter que falar sobre isso causa um certo cansaço. Afinal, há muitas outras fontes de informação.” Rebeca chama atenção para a responsabilidade de quem sempre se viu beneficiado pelos privilégios de pertencer aos padrões sociais.
Afinal, sair da zona de conforto não só requer vontade como pode ser revelador. “Como escrevi no meu perfil, a diferença é um detalhe e cabe a você escolher o tamanho disso. A régua está nas suas mãos”, provoca.
Não é só excesso de trabalho: falta de reconhecimento, criatividade tolhida e mau relacionamento com os colegas também podem engatilhar uma síndrome de estresse crônico. Entenda de uma vez o que é o burnout – e saiba identificar suas causas.
Herbert J. Freudenberger nasceu em 1926, em Frankfurt, Alemanha. Quando os nazistas ascenderam ao poder, em 1933, sua família conseguiu enviá-lo aos Estados Unidos com um passaporte falso. Por um tempo, o garoto teve que se virar sozinho, nas ruas de Nova York, até encontrar abrigo na casa de um primo mais velho. Suas ótimas notas na escola lhe garantiram uma vaga na Faculdade do Brooklyn, onde cursou psicologia
A ascensão de Freudenberger foi rápida; depois de graduado, emendou um doutorado na Universidade de Nova York e logo começou a trabalhar na área. No final dos anos 1960, o psicólogo visitou a primeira free clinic (‘clínica grátis”) dos Estados Unidos, fundada em São Francisco, do outro lado do país. Esse tipo de consultório atende, gratuitamente, pessoas em situação de vulnerabilidade social, como moradores de rua e usuários de drogas pesadas.
Fascinado pelo conceito, e relembrando a época em que ele mesmo dormia na rua, o psicólogo abriu sua própria free clinic em Nova York, com foco em atender dependentes químicos. Freudenberger conciliava o trabalho voluntário com os atendimentos em seu consultório, que lhe tomavam 10 horas por dia. Mesmo assim, fazia a dupla-jornada todas as noites, de segunda a sexta.
Não demorou para ficar claro que essa rotina não era nada saudável. “Você se esforça muito no trabalho, você sente um total senso de compromisso … até que você finalmente se encontra como eu, em um estado de completa exaustão”, escreveu o psicólogo. Os outros voluntários da clínica apresentavam os mesmos problemas. Os próprios funcionários procuravam Freudenberger com quadros de “depressão, apatia e agitação”. Quem era cuidador acabava virando paciente.
Nos anos seguintes, Freudenberger se dedicou a estudar o fenômeno. Mas, antes de tudo, precisava de um nome para esse padrão de sintomas. A solução foi emprestar uma gíria que era usada por seus próprios pacientes para descrever a sensação devastadora que o abuso de drogas deixa: “burnout”, do verbo to burn, “queimar”. Em português, significa “esgotamento”.
Assim como um fósforo que queimou até o final, os dependentes químicos se sentiam exauridos, sem energia alguma, na ressaca dos narcóticos. Como era mais ou menos assim que os profissionais exaustos se descreviam, o psicólogo importou a gíria de rua para o meio acadêmico.
Freudenberger então começou a procurar pelo que chamava de “burnout ocupacional”. E onde olhava, encontrava. Médicos, enfermeiros, policiais, professores, bibliotecários – o burnout parecia absolutamente generalizado. “Por que é que nós, como nação, parecemos, tanto coletiva quanto individualmente, estar no meio de um fenômeno que se espalha rapidamente – o burnout?”, escreveu ele em 1980.
Só tem um detalhe. Há 46 anos, o termo ainda era acadêmico. E permaneceu assim por décadas. Falava-se o tempo todo em “estresse”, mas não em algo tão específico quanto o burnout, o esgotamento causado exclusivamente pelo trabalho. Hoje não, o termo cunhado por ele está na ponta da língua de todo mundo. Uma pesquisa da Deloitte descobriu que 77% dos trabalhadores americanos afirmam já ter passado por um quadro de burnout; considerando apenas o emprego atual. No começo do ano, a Organização Mundial da Saúde incluiu oficialmente a Síndrome de Burnout na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), chamando atenção global para o tema.
Se em 1980 o incêndio parecia “estar se espalhando”, hoje, pelo jeito, já tomou a floresta inteira. Mesmo assim, a pergunta que Freudenberger fez sobre o porquê do fenômeno segue sem respostas claras. Nas próximas páginas, vamos examinar as melhores hipóteses.
CONHECENDO O INIMIGO
A ideia de que trabalhar demais causa esgotamento não tem nada de nova. Muito antes de Freudenberger teorizar o burnout, a medicina já tinha o termo “neurastenia” para descrever quadros de exaustão emocional, muitas vezes ligados a jornadas de trabalho excessivas. Acontece que a neurastenia era um termo guarda-chuva, usado para diagnosticar qualquer quadro de cansaço ou tristeza, independentemente da origem do problema.
Com Freuderiberger, o fenômeno do esgotamento laboral começou a ser esquematizado de forma mais lógica. Mas o que sabemos hoje sobre o assunto é em grande parte fruto do trabalho de outra profissional, a Psicóloga Christina Maslach, da Universidade da Califórnia. Ela produziu diversos estudos sopre a síndrome, da década de 1970 em diante. E até hoje é a maior autoridade no assunto, uma espécie de Buda do burnout. Sua definição foi usada pela OMS nas novas diretrizes. que entraram em vigor neste ano. Vamos entendê-la.
“Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”, define a CID-11. A descrição é curta e grossa, mas só dela já dá para tirar conclusões importantes.
A primeira: burnout não é uma doença ou condição médica. É diferente, por exemplo, de um quadro de depressão, que pode ser tratado via medicação e terapia. Trata-se de uma “síndrome”, ou seja, de um conjunto de sintomas.
A segunda: o burnout é um “fenômeno ocupacional”. Significa que o termo só se aplica a cenários ligados ao trabalho. Não existe burnout, ao menos com essa denominação, em outras áreas da vida. Ele está sempre ligado ao ambiente de trabalho. É uma condição ambiental. Para solucioná-la, não basta terapia e medicação, como veremos mais para frente.
A terceira: o burnout nada mais é do que um quadro de estresse, que, sem resolução por um longo período de tempo, tornou-se crônico. Para entender o que é burnout, então, é preciso compreender primeiro o que é estresse. “O estresse é qualquer situação que requer uma adaptação, seja ela positiva ou negativa. Uma promoção no trabalho ou no nascimento de um filho são situações que causam estresse, mas, em geral, são positivas. Uma demissão requer adaptação, e é negativa”, explica Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR). Ou seja: o estresse requer esforço para nos adaptarmos a novas condições do ambiente, sejam elas boas ou ruins.
Por isso o burnout não pôde ser considerado uma doença. Trata-se de um quadro de estresse permanente. Se o ambiente sempre exige que tenhamos que abrir mião de algo ou gastar energia para resolver algum impasse, ficamos inevitavelmente esgotados. Repita isso diariamente por seis meses, mais ou menos, e você terá um quadro crônico – o burnout. A confusão sobre burnout ser ou não uma doença acontece porque sabemos que há toa uma sorte de problemas de saúde causados pelo estresse: fadiga, dores no corpo, doenças cardiovasculares, depressão. Por isso, o burnout não costuma vir sozinho. E a confusão continua quando os tratamentos para o estresse crônico focam em mitigar os sintomas, não as causas (mais sobre isso já já).
AS TRÊS FACES DO BURNOUT
“Estresse crônico”, cá entrenós, é um termo amplo demais. Felizmente, a definição não para por aí. O burnout, segundo a professora Maslach e a OMS, sempreapresenta três dimensões: a exaustão, o cinismo e a redução da eficácia profissional. Vamos entender cada uma delas.
A exaustão é, sem dúvida, a característica mais marcante do burnout, a ponto de os dois terem virado quase sinônimos na linguagem coloquial. Aqui, é importante frisar que o cansaço não é necessariamente físico, mas também pode ser mental (ou ambos, o que é mais comum).
O cinismo é a segunda dimensão do burnout, menos lembrada. A expressão descreve a indiferença, o descaso, que o estressado crônico passa a sentir pelo trabalho. Com o tempo, o problema pode evoluir para um quadro de desprezo completo, até de ódio. O trabalho perde o sentido. E pode gerar repulsa.
Dentro dessa categoria também entra a característica da despersonalização – o trabalhador passa a tratar os colegas e clientes como objetos, não como pessoas. Essa faceta foi observada por Freudenberger nas primeiras descrições de burnout em sua equipe da clínica. Os profissionais de saúde começavam a tratar seus pacientes com desdém.
Não à toa, as primeiras pesquisas sobre o fenômeno focaram em pessoas que têm ocupações “relacionais” (enfermeiros, professores). É mais simples, afinal, detectar a “despersonalização” nesses casos, em que a essência do dia a dia é lidar com gente.
A terceira e última face do burnout é a redução da eficácia no trabalho. Isso significa que necessariamente um trabalhador com burnout tem sua produtividade afetada: É diferente de um profissional que trabalha até a exaustão, mas é capaz de cumprir tudo de forma satisfatória. E deixa claro que as empresas não têm como fechar os olhos: o burnout é, por definição, ruim para elas também. Na definição científica, um diagnóstico de Síndrome de Burnout só vai existir se forem detectadas as três características.
Dados que se baseiam na autoidentificação do problema – como os 77% citados no começo desta reportagem – provavelmente estão inflados. O próprio termo “burnout”, no sentido de “esgotamento”, remete a cansaço puro. Mas, como a gente viu, é bem pior do que isso.
As pesquisas mais recentes estimam que cerca de 15% da força de trabalho se encaixa na definição de burnout atualmente. Mas tem um porém. As mesmas pesquisas apontam que apenas 30% das pessoas estão na categoria “engajado” – o perfil ideal de trabalho, que não apresenta nem exaustão, nem cinismo e nem eficácia reduzida.
Isso deixa 55% num limbo. São os profissionais que não estão passando por um burnout, porque não cumprem os três quesitos.
Mas tampouco estão bem: apresentam pelo menos uma das facetas da síndrome.
Mais recentemente, a ciência propôs uma nova classificação para incluir toda essa gente. Quem apresentar uma alta exaustão, mas não cinismo ou ineficácia, se encaixa na categoria “sobrecarregado”. Alto cinismo caracteriza um perfil “desengajado”, enquanto o sujeito “ineficaz”, como o nome deixa claro, é o de baixa produtividade (seja pela razão que for). A psicologia ainda não tem um nome para quem apresenta duas das três facetas do fenômeno ao mesmo tempo, embora dê para chamar um quadro assim de “pré-burnout”. Afinal, é difícil permanecer exausto e desprezando o trabalho, por exemplo, sem que isso eventualmente não se traduza numa eficácia diminuída.
INIMIGO À VISTA
Identificou-se com as três características do burnout? Calma: nada de sair se autodiagnosticando. Para identificar se há mesmo um caso de burnout, é preciso medir a intensidade dos sintomas. E não é simples quantificar algo abstrato, como a parte do cinismo. Mesmo o grau de exaustão não é algo facilmente calculável. Christina Maslach pensou nisso quando descreveu a síndrome. Ela criou um protocolo para a mensuração do burnout, o Maslach Burnout lnventary (MBI). Trata-se de um questionário cujo objetivo é identificar as três dimensões da síndrome. Você responde a cada pergunta indicando a intensidade deste ou daquele sentimento. No final, calcula-se uma pontuação. Se ela passar de um certo limite, indica um quadro de burnout. O primeiro MBI foi desenvolvido no fim da década de 1970. Desde então devem sendo atualizado e adaptado para profissões específicas.
Mas vale lembrar que ele não é uma ferramenta diagnóstica; o MBI foi desenvolvido mais para ser uma ferramenta de pesquisa de psicologia do que para uso em consultório. O protocolo pode até indicar que algo está errado, mas, do ponto de vista do indivíduo, a análise mesmo só pode ser feita por um profissional de saúde mental. Isso porque só dá para bater o martelo quando se identifica a fonte do problema – nosso próximo assunto.
OS SEIS VILÕES
Até agora, só vimos o que é o estresse crônico de trabalho – e não o que causaa síndrome. É verdade que isso varia de caso a caso. Mas a ciência já encontrou alguns padrões entre casos de burnout. A própria Maslach elencou o que chama de “seis fatores de risco” que elevam a chance de um quadro do tipo. Vamos a eles.
A primeira grande causa do burnout é a mais óbvia: o excesso de trabalho. Não é mimimi. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que jornadas exaustivas de trabalho contribuem para a morte de 2,8 milhões de pessoas por ano no mundo.
Exatamente por ser a vilã mais clássica, a carga de trabalho excessiva acaba levando a culpa quase sempre. Nisso, as soluções que empresas procuram contra o burnout costumam se concentrar nessa seara: dias de folga após um período de muita demanda, pausas para mindfulness no meio do expediente, flexibilidade no horário.
Nenhuma dessas medidas é ruim – pelo contrário. Mas não vão resolver todos os problemas. O trabalho em demasia é só uma das possíveis causas de um quadro de burnout; há outras, menos triviais, o burnout também pode estar ligado à falta de conexão entre o profissional e o ambiente de trabalho.
Se as relações no escritório são quase inexistentes – ou pior, tóxicas – , a síndrome pode aparecer mesmo sem longas horas de trabalho. Nesse quesito, entram questões como assédio, bullying e exclusão, que elevam o estresse e tornam a permanência no trabalho insustentável.
O sintoma que dá as caras primeiro nesses casos é o cinismo. O trabalho em si pode até não ser negativo, mas a distância social estraga a experiência. Logo a despersonalização começa a dar as caras – os colegas deixam de ser indivíduos, e se tornam “o chefe tirânico”, “o puxa-saco”, “a chata do RH”.
O terceiro fator de risco para engatilhar o burnout é a chamada “falta de recompensa”. Nesse caso, não é preciso ter horas e horas de trabalho acumuladas; basta a sensação de que o seu trabalho não vale nada para a empresa.
Quando falamos de recompensa, não falamos só em incentivos financeiros, mas também de formas mais subjetivas de reconhecimento, como elogios por parte de um gestor. Estudos sugerem que meros feedbacks positivos aumentam a eficiência de profissionais por dar um empurrãozinho na autoconfiança.
A quarta causa do burnout é parecida: o senso de injustiça. Aqui, um trabalhador pode ser prejudicado caso sinta não só que não está sendo reconhecido, mas que os incentivos estão indo para as pessoas erradas por conta do favoritismo dos gestores. É aquela história: ver um incompetente sendo promovido dói mais do que não ganhar uma promoção.
O quinto fator de risco para o burnout é a falta de controle sobre o próprio trabalho. Isto é: você não ter liberdade para fazer suas escolhas ou exercer sua criatividade. Sua função, nesses casos, é meramente reproduzir ordens de cima, sem chance de questioná-las. O gestor, em geral, mantém uma mão de ferro sobre os trabalhadores – algo às vezes chamado de microgerenciamento. Nesses casos, o trabalho se torna algo mecânico, repetitivo.
A sexta e última causa é o que Maslach chama de “incompatibilidade de valores” entre o colaborador e a empresa. Em outras palavras, é como se a pessoa sentisse que o trabalho não combina com ela. Pode ser por questões éticas quanto ao modelo de negócios da empresa, por exemplo, que causa um mal-estar na prática de trabalho. Ou porque o trabalhador se considera qualificado demais para a função que exerce. De uma forma ou de outra, você não sente prazer algum no que faz. Um convite para o burnout se instalar.
NOS DETALHES
Desde que Maslach publicou sobre as causas do burnout, outros estudos vêm desvendando o fenômeno. Análises feitas em equipes de enfermeiros e professores sugerem que o burnout é contagioso. Isso significa que o problema pode começar isoladamente, em um setor da empresa ou um grupo especifico de pessoas, e ele próprio ser o gatilho de um cenário de estresse para outras pessoas. Afinal, se a eficácia de alguém ou outra pessoa provavelmente vai ficar sobrecarregada para a conta fechar, gerando uma espécie de efeito dominó do estresse.
Outras pesquisas indicam que até o fator da exaustão pode ser mais complexo. Mesmo trabalhadores com uma jornada padrão e com uma carga considerada ok estão sob risco de desenvolver a síndrome caso não consigam se desconectar do trabalho. Não dá para realmente descansar se é preciso ficar atento ao WhatsApp às dez da noite ou se, nos fins de semana, você pode receber uma ligação do chefe a qualquer momento. Seu motor não desliga – aí uma hora a gasolina acaba.
A ciência também começa a desvendar se alguns perfis psicológicos são mais suscetíveis a ceder às pressões ambientais e desenvolver um quadro de burnout. Até agora, a introversão se mostrou um fator de risco. Uma hipótese é que introvertidos tendem a esconder mais as críticas e reclamações e acabam internalizando o estresse, até ele se tornar crônico. Condições precárias também podem transformar uma rotina de trabalho equilibrada em um inferno interminável. Não precisa de muito: um computador que trava a toda hora, um escritório sem ventilação ou uma internet lenta bastam.
Esse problema ficou evidente na pandemia, quando, de repente, quase todo mundo foi forçado a se adaptar para um home office improvisado. Nem todas empresas se empenharam em fornecer as condições necessárias para a transição – computadores, internet, cadeira etc.
A pandemia, aliás, foi um ponto de virada sem precedentes para a saúde mental. Especialistas já consideram que as consequências da pandemia no bem-estar serão “a próxima pandemia”. Motivo: todo mundo começou a trabalhar mais. Dados da NordVPN, que fornece redes privadas para home office para empresas de diversos países, mostram que o tempo de conexão com o trabalho aumentou em duas horas por dia.
Mas a verdade é que mesmo antes da pandemia parecia que todo mundo estava queimando aos poucos. Será que estamos vivendo uma ”era do burnout”?
A GERAÇÃO DO BURNOUT
Em 2021, uma média de quatro milhões de americanos pediu demissão voluntariamente todos os meses nos EUA. O fenômeno foi tão atípico que ganhou nome: Great Resignation, ou A Grande Resignação. Está acontecendo no Brasil também. Meio milhão de brasileiros pedem demissão a cada mês – um ritmo nunca antes visto. Numa pesquisa feita nos EUA com gente que pediu demissão recentemente, o burnout aparece como o principal motivo para a decisão, citado por 40%. Sim, autodiagnósticos não servem para grande coisa. Mas, se quase metade citou a síndrome, feliz é que não estava.
Também não significa que pedir as contas seja um passaporte para a alegria, claro. Ao trocar um trabalho fixo por uma vida de autônomo você deixa de ter um chefe, e passa a ter vários, os seus clientes. Problemas que antes dava para dividir com a equipe passam a ser exclusivamente seus. Férias? Esquece, Ou seja: em muitos casos, troca-se uma situação estressante por outra ainda pior. Seis por uma dúzia, não por meia.
Tem um detalhe. O fenômeno do burnout parece ter um componente geracional. Segundo uma pesquisa da Gallup, que ouviu quase 7,5 mil trabalhadores americanos, 28% dos Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) relatam sentir burnout frequentemente, contra 21% das gerações mais velhas. Um outro estudo, da empresa americana de seguros Metlife, descobriu que 42% dos Millenníals que ocupam o cargo de gerência relatam cansaço e estresse ligados ao trabalho, enquanto o mesmo só acontece com 27% dos gerentes da Geração X (1965-1980) e 21% dos gerentes Baby Boomers (1946-1964).
A ideia de que os Millennials são a “geração do burnout” não é um consenso. Afinal, os fatores estressantes sempre existiriam. Talvez o que explique a diferença é o fato de que os jovens falem mais sobre o assunto e busquem ajuda com mais frequência, em vez de enterrar os problemas do dia sob um six pack de cerveja no final do expediente. Isso não é uma ilação vazia. O Instituto Nacional de Abuso de Drogas, dos EUA, detectou o seguinte: em 1980, a taxa de jovens de 18 anos que tinham bebido pelo menos uma vez nos últimos 30 dias era de 72%. Em 2019, 29%. Um mundo mais abstêmio é um mundo no qual mais gente busca resolver seus problemas no trabalho de forma efetiva. E o primeiro passo para isso é reconhecer que eles existem.
Mas há, no mínimo, bons argumentos para defender que de fato os Millennials simplesmente enfrentam uma onda de burnout mais intensa do que as gerações anteriores. Quem popularizou a ideia foi a jornalista Anne Helen Petersen, autora do livro Não aguento mais não aguentar mais: Como os Millennials se tornaram a geração do burnout. Petersen entrevistou especialistas e procurou explicações para o fenômeno.
Um ponto é a mudança das condições de trabalho. E não dá para falar nisso sem citar a grande crise de 2008, que deixou suas cicatrizes na história justamente quando os Millennials entravam com tudo no mercado de trabalho. Companhias passaram a operar com estruturas mais enxutas – ou seja, menos gente para fazer mais coisas ganhando salários menores. E a cultura dos cortes de custos se manteve. Millennials ganham 20% menos por mês do que os Baby Boomers ganhavam quando tinham a mesma idade, de acordo com um estudo do think tank New America. E dados do Fed, o banco central americano, mostram que os Millennials são a geração com menores níveis de poupança na história.
O cenário pós-2008 também é mais afeito à precarização das relações de trabalho. Como parte das políticas de cortes de custos, companhias passaram a trabalhar mais com freelancers – e estes acabam sujeitos a expedientes ainda mais exaustivos, já que muitas vezes contam com mais de um “emprego” para fechar as contas. No Google, em 2019, o número de funcionários terceirizados ou com contrato temporário (121 mil) superava o de colaboradores efetivos (102 mil).
Outra tese no livro de Petersen, mais abstrata, discorre sobre uma mudança no próprio conceito de “trabalho” entre uma geração e outra. Os pais dos Millennials chegavam ao mercado de trabalho com a missão de construir uma vida financeira estável e progredir na carreira. Já os mais jovens, foram catequizados a “seguir seus sonhos” até o fim, a buscar no trabalho um significado maior para suas vidas. “A única maneira de fazer um grande trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou o que é isso, continue procurando. Não aceite nada menos”, resumiu Steve Jobs, um desses catequizadores, num célebre discurso na Universidade Stanford, em 2005.
Lindo. O problema é que isso pode ser uma armadilha. Um trabalho ideal, como vimos, exige uma rotina suportável, recompensas constantes e justas, relações saudáveis com os colegas… Quando a linha entre o que é trabalho e o que é paixão se cruzam, o Millennial pode começar a aceitar condições questionáveis para seguir fazendo aquilo. E há empresas que fazem uso desse artífice para prender profissionais enquanto fecha os olhos para os problemas. Afinal, como você ousa questionar a carga de trabalho ou o salário se é isso que você ama fazer? Cadê sua devoção?
Por outro lado, a posição oficial da OMS deixou claro para o mundo que o burnout é um problema agudo. E a Grande Resignação veio para mostrar às empresas que quiserem contar com os melhores talentos vão ter de oferecer condições melhores. Mas, se de fato estamos vivendo uma pandemia de burnout, livrar-se dela será uma tarefa complexa. Pandemias sanitárias duram alguns anos. Pandemias culturais atravessam gerações.
Estava saindo para ir ao teatro quando entrou um WhatsApp da minha filha que mora na França. “Mãe, está circulando nas redes um vídeo com imagens de Paris sendo bombardeada. Bem realista, mas fake, não te estressa”. Assisti ao vídeo, uma obra-prima da montagem. No final, revelava ser uma peça de propaganda pró-Ucrânia, mas, antes de chegar aos créditos, quem tivesse filhos morando em Paris já teria enfartado.
Ainda sobre a guerra, há quem tenha acusado a modelo ucraniana Mariana Podgurskaya, grávida, de posar sobre uma maca, fingindo ter sido atingida pelo bombardeio russo em uma maternidade (prédio que teria sido convertido em uma base militar). E há quem diga que não houve encenação nenhuma, que ela se feriu realmente, mas está tudo bem, deu à luz uma garotinha saudável dias atrás.
São dois exemplos bobos se comparados aos estragos gigantescos que a desinformação provoca. É ela que nos governa nesses tempos em que tuítes funcionam como mísseis virtuais, alcançando qualquer ponto do planeta. Nunca foi tão fácil viralizar uma mentira, nem tão rápido, nem tão devastador. De filtros fotográficos que alteram a aparência, até a indústria internacional das fake news, ressignificamos.
McLuhan: o meio é a mensagem, porém desvinculada da verdade, descomprometida com a realidade, e vadia e livre para destruir reputações, eleger canalhas e enganar os trouxas.
Quem ganha com isso? Os criminosos organizados e ocultos que automatizam o boato a fim de manipular a opinião pública. Antes que sejam punidos, eles já se valeram da ingenuidade de uns, da ignorância de outros e da preguiça da maioria: quem tem disposição para checar uma notícia, buscar outras fontes, conversar com pessoas que dominam melhor o assunto? É tarefa que consome um tempo que não está sobrando pra ninguém, e assim o comodismo se torna um aliado do mal. Acreditar em tudo ou acreditar em nada nos desorienta da mesma maneira.
Ao eliminarmos a fronteira entre verdade e mentira, liberamos o tráfego para o desvario. Textos circulam com autoria trocada, notícias de sete anos atrás são veiculada como se fossem atuais, bizarrices ganham status de fato importante e edita-se qualquer declaração, bastando, para isso, um celular. Continuamos brincando de telefone sem fio, quando sussurrávamos no ouvido do coleguinha: “Vou almoçar na casa do Alberto porque é dia de lasanha”, para descobrirmos, às gargalhadas, que a frase original havia se transformado em “A moça tem um casamento aberto com sua tia baranga”.
Hoje vale o que foi mal compreendido e quem não aprova casamento aberto ou se ofende coma palavra baranga abraça uma causa que não existe e assim justifica seu voto. Desvario é pouco.
Ervas e especiarias provam que diversidade é palavra-chave para montar o cardápio e testar novos preparas e sabores. Quem mais ganha com isso? Seu paladar e sua saúde
Já houve um tempo em que era preciso embarcar em caravelas e encarar oceanos para apimentar a comida. Hoje, basta esticar as mãos, alcançar a prateleira, girar o moedor e dar aquele toque picante ao prato. Uma das principais razões a impulsionar as grandes navegações no início da era moderna, as especiarias atravessaram séculos como tesouros gastronômicos e, ao lado das ervas aromáticas, ganharam a fama mais recente de proteger nosso organismo. Agregar perfumes, cores, texturas e sabores a qualquer receita. “Os temperos abrem a cozinha para o mundo”, afirma a chef Heloisa Bacellar, de São Paulo. Com um pouco de cúrcuma, dá para passear pela culinária indiana, o manjericão nos transporta até a Itália e a hortelã remete às Arábias.
A exemplo dos ingredientes em si, a lista de destinos e conexões é imensa. O coentro nos conduz a preparos típicos da Tailândia e de Portugal e, de volta para o Brasil, nos leva às panelas do Nordeste e do Norte. Nessas bandas, marca presença em tudo quanto é canto e entra na composição do cheiro-verde, mistura das mais brasileiras. A variedade da cozinha nacional, aliás, se reflete nesse tempero. “Em outras regiões do país, o cheiro-verde conta apenas com salsinha e cebolinha”, esclarece Tatiana Saldanha, professora do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Tatiana vem esmiuçando em laboratório essa dupla tão onipresente por aqui. “Apesar da popularidade, ainda não há muitos estudos sobre o uso do cheiro-verde na culinária”, contextualiza. Em um dos trabalhos recém-publicados pelo seu grupo, a professora e os colegas avaliaram os efeitos desse mix no preparo da sardinha. Quando o peixe passa pelo calor, sofre alterações químicas por trás da oxidação da sua fração gordurosa. Esse processo também ocorre em outros tipos de carne e gera substâncias envolvidas no aumento do risco de inflamação e outros danos nas células e nas artérias – um fenômeno ligado, por exemplo, a problemas cardiovasculares.
Dentro da UFRRJ, uma das etapas da pesquisa reproduziu o que se passa no cotidiano de qualquer cozinha brasileira. Após ser temperado com salsinha e cebolinha, o peixe foi para a grelha. “Observamos que as ervas minimizaram significativamente a degradação do colesterol da sardinha”, relata Tatiana. O resultado vem dos compostos antioxidantes do cheiro-verde, caso dos ácidos fenólicos e dos carotenoides. São os mesmos que conferem algumas das características sensoriais tão apreciadas nesses vegetais abundantes em hortas, feiras e supermercados.
Além de ser ótima pedida para temperar pescados, a mistura pode ser adicionada às mais variadas preparações, incluindo o arroz com feijão. Claro que o mundo da comida não gira só em torno do cheiro-verde. Então, se a culinária da sua casa ainda não se abriu a novas experiências e combinações, que tal imitar os antigos desbravadores? Não faltam opções e culturas a descobrir – de dentro e de fora do Brasil.
Com um quê de sagrado, ervas e especiarias desfilam pela história envolvidas em lendas e celebrações. Entre os antigos, havia quem acreditasse que elas vinham diretamente do Jardim do Éden. Descendo para o mundo real, hoje se sabe que os temperos reúnem uma coleção de moléculas responsáveis pelo gosto e aroma peculiares – e ainda são capazes de resguardar o corpo humano. “Algumas dessas substâncias são produzidas para preservar a própria espécie vegetal”, explica a nutricionista Camile Zanchett, da Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Isso significa que protegem a planta das mudanças do clima, do sol, de insetos e outras pragas. É o caso dos terpenos e dos fenólicos: muitos deles são voláteis e alcançam facilmente nosso nariz, arrebatando o cérebro e dando água na boca.
No prato em si, esses compostos realçam o sabor da comida. Por isso, são os melhores concorrentes e substitutos do sal, cujo abuso contribui para a hipertensão. Um experimento recente com um grupo de idosos reforça esse papel: a conclusão é que apostar em temperos naturais é um jeito de estimular as papilas gustativas e, aos poucos, deixar o saleiro de lado. “Com o avançar dos anos, nossa percepção de sabor se altera”, pontua a nutricionista Lara Natacci. Daí a sacada de recorrer a ervas e especiarias nas refeições dos mais velhos. Não só dessa turma, diga-se. “Muitos brasileiros consomem quase o dobro de sal do que é recomendado”, lamenta Camile. Pois saiba que os temperos vão além na defesa das artérias, como registra uma pesquisa da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Durante quatro semanas, 71 voluntários receberam um menu que incluía coentro, salsinha, pimenta, canela, alecrim e alho. Passando por um check-up depois, constatou-se uma redução significativa na pressão deles. “As espécies usadas nesse estudo são ricas em fitoquímicos que diminuem o risco cardiovascular”, comenta a nutricionista e fitoterapeuta Vanderlí Marchiori, de São Paulo. No caldeirão dos compostos bioativos, destacam-se os de ação antioxidante e anti-inflamatória, que ajudam a poupar os vasos sanguíneos de lesões, acúmulo de colesterol e placas de gordura. Esse mesmo efeito teria a ver, segundo algumas evidências, com outra capacidade festejada desse grupo de vegetais, a de blindar o cérebro. Parece que os antigos gregos já intuíam esse atributo: eles usavam o alecrim ao pé da orelha para melhorar a concentração.
A chef Heloisa Bacellar costuma dizer que os temperos transformam o básico. “O pepino ganha mais frescor quando acrescentamos umas folhinhas de hortelã misturadas ao iogurte”, exemplifica. E que tal perfumar a salada de tomate com um pouco de manjericão? “São infinitas as possibilidades,” crava Helô. E muita gente já tem ampliado os horizontes dentro de casa. O engenheiro químico Nelusko Linguanotto Neto, da Bombay Food Service Alimentos, observa o crescente interesse do brasileiro por ervas e especiarias: “As pessoas estão cozinhando mais em casa, sobretudo após a pandemia”.
Uma das alegações para não se arriscar na alquimia dos temperos é o medo de errar a mão. Para quem desconhece esse potencial universo em expansão, a nutricionista Ana Paula Gines Geraldo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aconselha buscar primeiro informação sobre os ingredientes e os modos de usar. Não faltam boas fontes, até mesmo em redes sociais.” Lembrando que a variedade é sempre bem-vinda na alimentação”, ressalta Ana Paula. O recado é sair da mesmice e inovar até no arroz. Com uma pitada de cúrcuma, ele ganha um tom dourado e um gostinho especial.
Lara sugere não sair abarrotando a despensa ou a geladeira – os temperos frescos estragam fácil – e incrementar as receitas aos poucos. “No começo, o ideal é não misturar muito, porque cada um desses ingredientes já tem características marcantes”, justifica a nutricionista e culinarista. Prove uma erva por vez, depois vá conjugando e transforme sua cozinha em um laboratório de testes.
Helô aconselha comprar em poucas quantidades e não estocar por muito tempo os temperos: “Assim se garante toda a potência deles e não há risco de deterioração”. Uma unanimidade entre os experts é jamais cair na tentação do exagero na hora do preparo. Não se deixe seduzir com “um bocadinho mais”, como ditou Caymmi na canção Vatapá. O bom senso evita que a receita desande ou desagrade os convidados.
O coentro, aliás, é um caso emblemático nesse sentido. “Se há exagero, a tendência é que seu gosto se sobreponha e apague os outros elementos do prato”, conta a chef, que traz na pele o amor pela planta e há alguns anos tatuou uma folhinha no braço. Então façamos justiça: a culpa não é do coentro, mas do cozinheiro que errou a dose. Como temperos têm personalidade, os abusos fazem a gente enjoar e até sentir ojeriza. Além de respeitar as quantidades descritas nas receitas, o mestre-cuca que se preze deve ir experimentando e adequando ao paladar.
Cada etapa do preparo da comida desencadeia uma porção de reações químicas que liberam moléculas e anunciam os talentos dos temperos. Veja a dupla perfeita do refogado, o alho e a cebola. Ambos concentram compostos sulfurosos, estudados por um efeito anticâncer. Essas substâncias ficam guardadas dentro dos vegetais, mas, quando eles são picados, a ruptura solta as frações microscópicas responsáveis pelo sabor picante. “Rica em carboidrato e água, a cebola tende a ficar mais adocicada”, repara Ana Paula. É pela alta concentração de líquidos que não se indica temperar o feijão com essa hortaliça – o preparo tende a deteriorar mais rápido. Como as vovós ensinam, melhor botar só alho e uma folha de louro.
Embora grande parte das ervas e especiarias tenha o poder de conservar os alimentos, se elas não forem bem tratadas na cozinha também podem se estragar. “É importante tampar os vidros rapidamente após o uso para impedir que vapores invadam o recipiente e os temperos embolorem”, indica Linguanotto. E guardar depois em um local longe da luz. Vanderlí recomenda, ainda, conhecer a procedência do ingrediente e averiguar as condições da embalagem no momento da compra.
Zelo é tão ou mais imprescindível para quem cultiva ervas em casa. “Cuide para que elas recebam sol ao menos três horas diariamente”, orienta a herborista Sabrina Jeha, do viveiro Sabor de Fazenda, na capital paulista. Tem que prestar atenção no tipo de vaso, na adubação, na irrigação… “Quando houver dúvida sobre a necessidade de regar, enfie um palito de madeira comprido na terra”, dá a dica Sabrina. Se sair seco, tem que colocar água. Hortelã, cebolinha, salsa e manjericão crescem até em varanda de apartamento – e é sempre bom ter temperos frescos à mão.
Seguindo a onda da praticidade e da saudabilidade, as indústrias têm investido nos chamados ingredientes botânicos. “Eles têm tudo a ver com ervas, especiarias e frutos, entre outros, que são inseridos em produtos diferenciados”, descreve a química Fernanda Matta, da Tradal Brazil. Para garantir que as qualidades dos compostos não se percam pelo caminho, novas tecnologias entram em ação, caso do microencapsulamento. “Ele permite que a substância fique protegida e seja liberada de modo programado”, traduz. “É assim que o perfume do cravo se revela no momento certo”. Como lembra Fernanda, sabores e aromas resgatam memórias e despertam sensações. Então porque não conviver com o tradicional sem deixar de experimentar o novo? Explorar o mar de ervas e especiarias é um roteiro de primeira para enriquecer o cardápio e a sua saúde.
Seja espontâneo ou propositado, dentro ou fora das limitações legais, não podemos desconsiderar as dimensões psicológicas do aborto, bem como suas consequências subjetivas.
O aborto é considerado um tema polêmico e estigmatizado, sendo abordado sob diversas óticas, tais como: bioética, jurídica, religiosa, moral, política, etc. Apesar de ser um fenômeno antigo, ainda é visto como um tabu na maioria das sociedades, principalmente quando é voluntariamente provocado.
O aborto é uma prática conhecida em todas as épocas e culturas, embora possua significados e sentidos diferentes para cada uma delas. No início do século XX, por motivos sociais, econômicos e políticos, alguns países passaram a criminalizar o aborto, o que aumentou o estigma sobre o tema. Somente nas décadas de 1960 e 1970, com o avanço do movimento feminista, é que a criminalização do aborto passou a ser questionada, levando alguns países a mudarem a legislação proibitiva sobre o aborto.
Segundo o Allan Guttmacher Institute, estima-se que no mundo 15 % das gestações terminam em aborto espontâneo e, em 22% delas, são provocados. O aborto provocado ou inseguro possui uma incidência de 20 milhões ao ano e 97% desses abortos acontecem em países em desenvolvimento onde é considerado ilegal. Em razão da ilegalidade do aborto, a mortalidade materna é estimada em 13% no mundo. Diante dessa realidade mundial, o aborto passou a ser tratado como um problema de saúde pública principalmente nos países em desenvolvimento, cuja ilegalidade não diminuiu a sua incidência, fazendo com que as mulheres se submetam a realizá-lo em condições inseguras. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de abortos clandestinos no Brasil chega a mais de 1 milhão ao ano, sendo a quarta causa de morte materna no país. Segundo a legislação brasileira, no artigo 128 do Decreto-Lei 2.848/40, o aborto somente é permitido em casos de estupro, risco de morte materna e, aprovado mais recentemente, em casos de malformações fetais incompatíveis com a vida, tais como a anencefalia. Apesar da criminalização, o aborto no Brasil é responsável por 11,4% das mortes maternas, o que fez o Ministério da Saúde reconhecê-lo como um problema de saúde pública e revelar o despreparo dos profissionais de saúde ao lidar com a temática, lançando em 2005 uma Norma Técnica de Atenção ao Abortamento:
A Norma Técnica é o reconhecimento do Governo brasileiro à realidade de que o aborto realizado em condições inseguras é importante causa de morte materna; que as mulheres em processo de abortamento, espontâneo ou induzido, que procuram os serviços de saúde, devem ser acolhidas, atendidas e tratadas com dignidade; e que a atenção tardia ao abortamento inseguro e às suas complicações pode ameaçar a vida, a saúde física e mental das mulheres. (Ministério da Saúde, 2005).
CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS
Diante disso, a Norma Técnica considera que o aborto em qualquer situação tem grandes repercussões na vida da mulher, principalmente das jovens em idade produtiva e reprodutiva revelando a importância de uma atenção humanizada de modo a prevenir possíveis sequelas físicas e psicológicas. Do ponto de vista psicológico, a vivência do aborto traz um grande sofrimento para a mulher, considerando que este em qualquer situação é considerado um rompimento das expectativas pessoais e sociais do exercício da maternidade.
No aborto espontâneo as mulheres estão sofrendo o luto pela perda de um filho e muitas vezes a sensação de fracasso por não ter exercido o seu “papel de mulher” diante da sociedade. O aborto provocado em virtude do tabu e da criminalização faz com que as mulheres passem por todo o processo sozinhas e desamparadas, sem o apoio do parceiro ou da família e, muitas vezes, sendo vítimas do preconceito. Desse modo, é vivenciado pela mulher de forma bastante conflituosa, contribuindo para o aparecimento dos sentimentos de culpa, angústia e tristeza, como também de quadros de ansiedade e depressão.
Estudos realizados com mulheres após o abortamento revelaram que a depressão é uma das consequências mais frequentes do aborto, podendo durar de seis meses a um ano no caso do abortamento espontâneo ou até cinco anos no abortamento provocado. Os fatores frequentemente associados ao aparecimento da depressão após o aborto são o sentimento de culpa e o luto não elaborado. Podemos pensar que o aparecimento desses fatores está ligado ao horizonte histórico em que a mulher está inserida, qual seja o ser mulher confunde-se com o ser mãe.
Segundo Badinter a conciliação entre os deveres maternos e o desenvolvimento da vida pessoal ainda é um problema. As mulheres vivenciam um conflito entre as exigências culturais enraizadas (esposa e mãe) e novas exigências (mulher, profissional, esposa e mãe). Atualmente é socialmente aceitável que a mulher não exerça somente a função de mãe, mas ainda espera-se que esta concilie a vida profissional com a maternidade. Entretanto, para algumas mulheres nem sempre isso é possível, acarretando um sentimento de culpa por não conseguir corresponder as suas próprias exigências e as exigências sociais.
Alguns especialistas afirmam que a culpa presente na vivência do aborto é sentida pelas mulheres como uma dívida em relação aos valores morais e religiosos. Elas sentem que estão agindo contra sua própria natureza e contra o que é valorizado socialmente, e quando o aborto é provocado acreditam que serão castigadas pelo que fizeram. Diante de tantos conflitos que perpassam a vivência do aborto e pela incompreensão deste por parte da sociedade, a mulher acaba sofrendo silenciosamente, permeada pela culpa e pela solidão. Desse modo, acaba não elaborando ou muitas vezes nem vivenciando o luto pela perda dessa gestação.
O aborto não é uma perda reconhecida socialmente pelo fato de o nascimento não ter acontecido, ou seja, não é considerada uma morte concreta. No caso do aborto espontâneo, familiares e profissionais muitas vezes “consolam” as mulheres afirmando que elas poderão ter outros filhos, não permitindo, portanto, que estas sofram por essa perda. No caso do aborto provocado acredita-se social e culturalmente que não há um sofrimento por parte da mulher já que foi a mesma que decidiu interromper a gravidez, embora estudos mostrem que essa decisão não é tomada de forma simples e sem conflitos. Assim, o luto não elaborado acaba tendo graves repercussões para a mulher, na medida em que intensifica os sentimentos de culpa, raiva e tristeza, podendo levar a um quadro de depressão.
DEPRESSÃO
Segundo a Organização Mundial de Saúde – a depressão é considerada um transtorno mental comum que atinge grande parte da população, principalmente as mulheres. Estima-se que 350 milhões de pessoas são afetadas pela depressão no mundo inteiro, sendo considerada a principal causa de incapacidade no mundo. Os sintomas mais comuns são sensação de vazio, fadiga, alterações do humor, baixa autoestima, insônia, culpa, sentimento de inutilidade, falta de interesse e ideação suicida.
A depressão assim como o aborto possui um grande estigma social e por isso também é considerado um fenômeno silencioso. É comum as pessoas com depressão serem taxadas de loucas, frágeis e incapazes e some-se a isto o não reconhecimento da sociedade de que exista um sofrimento real sendo frequentes frases do tipo: “Isso é coisa da sua cabeça”, “Esqueça essa tristeza”, “Isso não é nada, vai passar”. Tal fato acaba por aumentar o isolamento social da pessoa deprimida e a sua busca por ajuda.
A depressão é considerada o “mal” do século XXI, o que nos faz pensar que este fenômeno está associado às exigências do mundo contemporâneo, tais como produtividade, competição, independência e sucesso em todas as áreas da vida. E a conquista desses valores é atribuída única e exclusivamente ao indivíduo, cabe a ele se esforçar para obter o tão almejado sucesso. A cultura contemporânea valoriza o consumo, a imagem, a aparência. Estes são vistos como ideias de felicidade que, aliás, comprada nos dias atuais, pelo menos no ponto de vista da mídia. Dessa forma, é dada a largada na busca desenfreada pela felicidade: “preciso ser o melhor”, “preciso ganhar dinheiro”, “preciso ter o corpo perfeito”, “preciso casar”, “preciso ter filhos”, etc. E assim a felicidade passa, e continuamos a procurar por ela, e parece que, quanto mais corremos, mais distante ela fica.
Para muitas pessoas, é difícil se manter nessa corrida, é difícil corresponder a tantas exigências e, ao “perder” a corrida, o indivíduo se vê frustrado, incapaz, incompetente e a sociedade ainda o culpa por isso. Tal contexto, portanto, propicia um grande mal-estar nas pessoas na medida em que as responsabiliza pelo seu fracasso não levando em consideração o seu contexto de vida, suas reais motivações e a própria condição da existência (incertezas, vulnerabilidade, sofrimento e morte).
Do mesmo modo acontece na vivência do aborto, a mulher ao não corresponder à solicitação imposta culturalmente de ser mãe sente que fracassou como mulher, que não conseguiu cumprir o seu “principal” papel social. Essa naturalização e supervalorização da maternidade torna difícil a experiência do aborto em qualquer situação restringindo as possibilidades do “ser mulher” ao exercício da maternidade. Ainda acredita-se que a mulher só se realizará plenamente se for mãe e que os seus cuidados para com os filhos ainda são vistos como insubstituíveis. O ideal de boa mãe, aquela que está sempre feliz, dedicada e disposta a amar e se sacrificar pelos filhos torna muitas vezes a maternidade um fardo. Na prática ainda é muito difícil para a mulher dar conta de tantos papéis, e se levarmos em consideração que atualmente as instruções e orientações sobre a criação e educação dos filhos são tantas, a pressão sobre a maternidade é ainda maior. Sobre isto Badinter afirma: “É preciso, pois, uma vontade a toda a prova e um caráter flexível para não ligar para todas essas pressões, e até mesmo para certa estigmatização.”
A gravidez por si só é responsável por inúmeras mudanças na mulher sejam elas físicas, sejam psicológicas ou sociais, no entanto a sua vivência é singular, e a despeito do que a maioria das pessoas acha nem sempre esta é sentida com alegria. A gravidez, quando indesejada, passa a ser opressiva na medida em que aumenta a insegurança e a ambivalência emocional já presentes numa gestação. Em muitos casos, as mulheres não se sentem preparadas para ser mãe ou não pensavam em ser. Algumas vezes, a gravidez veio num momento inoportuno e incompatível com os atuais projetos de vida; algumas mulheres estão solteiras ou em relacionamento instáveis e não querem arcar com a responsabilidade de cuidar de uma criança sozinhas. Enfim, são inúmeras as razões que uma mulher pode ter para não desejar um filho e recorrer ao aborto, no entanto, o que acontece é uma imposição social, moral e religiosa de que se a mulher está grávida, precisa levar adiante o seu fruto não importando o contexto de vida dessa mulher e os significados e sentidos envoltos nessa gestação. Todavia, é preciso considerar que, na decisão de interromper uma gestação, sempre estão envolvidos a qualidade da relação afetiva com o parceiro, seus projetos de vida e as pressões sociais e familiares, ou seja, uma mulher não faz essa escolha de forma independente, e sim movida pelas solicitações do seu contexto existencial.
Quando a gravidez é desejada ela está envolvida de muitas expectativas, há sempre uma idealização do bebê que está por vir, muitos são os planos para essa criança. Normalmente a notícia da gravidez é recebida com muita alegria e a mulher é de imediato, bombardeada de muitas informações, recomendações e dicas sobre a gestação e o parto. Diante disso, nunca se espera que algo de errado possa acontecer, poucas são as mulheres que sabem dos riscos de um aborto espontâneo ou de uma malformação durante a gestação, salientando que são situações de grande frequência. Estima-se que entre 17% e 22% das gestações no mundo terminam em aborto espontâneo, no entanto, as mulheres nem sempre são orientadas durante o pré-natal a respeito dessas possibilidades. Nesse sentido, o aborto nunca é esperado, é sempre negado, silenciado.
Todo esse horizonte histórico no qual a maternidade é vista como destino da mulher torna difícil a elaboração da vivência do aborto espontâneo, do aborto provocado, da infertilidade e inclusive da própria criação dos filhos. Desta feita, para que a mulher não venha a desenvolver uma depressão em virtude do aborto ou até uma depressão pós-parto, faz-se necessário, por parte da sociedade, flexibilizar as exigências em torno da maternidade, como também abrir espaços de escuta na qual a mulher possa falar livremente sobre os seus sentimentos em relação ao aborto.
ACOLHIMENTO
Após o abortamento, é o momento em que as mulheres mais precisam de apoio e orientação, e os profissionais de saúde precisam estar preparados para acolher essa mulher de forma digna, sem julgamentos e preconceito, caso contrário, estes poderão intensificar o seu sofrimento. É muito comum que os profissionais de saúde coloquem suas crenças pessoais acima dos seus deveres éticos, o que se deve, em grande parte, a uma formação iminentemente técnica e dividida do ser humano, no qual se busca a restauração da saúde e da qualidade de vida somente tratando a doença, não considerando a pessoa do paciente, sua singularidade e seu contexto social e cultural. Diante disso, considera-se de extrema importância a implantação de programas de amparo a essas mulheres, por meio de uma equipe especializada, que possa minimamente diminuir os impactos que a experiência do aborto provoca. Como podemos perceber, a questão do aborto não pode ser tratada de forma simples e polarizada, discutir sobre o aborto implica em problematizar a construção histórico-cultural do papel feminino e suas repercussões na vida da mulher. A maternidade não pode ser passada como um modelo universal, mas precisa ser reconhecida em sua complexidade e contradição e como um fenômeno em constante desconstrução e reinvenção. Badinter afirma que existem duas grandes razões para a diminuição da natalidade, uma é o ideal de boa mãe, cada vez mais exigente nos dias atuais e a ausência de uma política familiar que realmente coopere com as mulheres. Diante desse contexto, faz-se necessária uma reflexão por parte da sociedade, das famílias e das instituições sobre as formas de minimizar o sofrimento e o conflito da conciliação entre a maternidade, a vida doméstica e o trabalho de modo que a decisão de exercê-la ou não seja tomada de forma mais consciente e saudável.
Propagado por preparador físico americano, carnivorismo sem cozimento promete facilitar digestão e fornecer mais nutrientes. Nutricionista explica, porém, que hábito pode levar à ingestão de microrgansimos nocivos
Uma dieta um tanto inusitada tem atraído milhões de pessoas para assistir aos vídeos publicados pelo preparador físico Weam Brélche, de 31 anos, no Tik Tok. O morador de Los Angeles, nos Estados Unidos, compartilha a sua rotina alimentar baseada em muita carne, mas com um detalhe: todas elas são cruas.
Para o café da manhã, por exemplo, Weam costuma preparar uma refeição com cérebro de bezerro e seis ovos, ambos crus, como mostra em um vídeo que já foi visto por oito milhões de usuários. A prática, no entanto, pode ser perigosa, destacam os especialistas.
“Tem gosto de sushi. Como você come sashimi de salmão e acha que está tudo bem só porque é legal? Tem o mesmo gosto”, defende o preparador físico em uma de suas postagens.
Weam conta que hoje sua alimentação é de cerca de 4.500 calorias por dia, 90% composta por carnes cruas.
Entre elas, partes incomuns, como fígados, rins, cérebros, tutano e até testículos. A aparência e os hábitos considerados selvagens renderam a ele o apelido de “Wolverine da vida real”, e seus vídeos são recebidos com espanto pelos usuários. Em uma das publicações, Weam fala sobre uma suposta facilidade na digestão de carne crua. “Com uma refeição assim, você pode comer quase 1.200 calorias e cinco minutos, depois treinar sem ficar arrotando e sentindo que você não consegue se mover. Com came crua, você pode fazer isso toda vez”, escreveu.
PRÁTICA INDIGESTA
A lógica, porém, é justamente o inverso, explica a nutricionista Priscilla, colunista de culinária e mestre pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP):
“O cozimento é uma técnica utilizada justamente para facilitar a digestão. Isso porque o corpo digere a proteína em partículas menores, os aminoácidos, e o cozimento atua num processo chamado desnaturação proteica, que já começa a quebrar essas cadeias de proteína antes da ingestão, para ficar mais fácil depois.
A especialista destaca ainda que uma dieta como a de Weam pode trazer sérios riscos à saúde e, ao contrário do que defende o preparador físico, não oferece nenhum real benefício para o organismo humano.
“É muito perigoso. Quando você come algo cru, principalmente carne, que é um produto muito perecível, há um risco alto de proliferação de microrganismos. Quando você cozinha, muitos desses microrganismos morrem. Com a carne crua, isso não ocorre, o que pode provocar uma infecção grave”, ressalta a nutricionista que acrescenta:
“Comer algo cru também não oferece mais valor proteico ou nutrientes. A única diferença mesmo é o sabor.”
Sobre o risco de ingerir microrganismos danosos para o corpo, como bactérias consideradas ruins, Weam alega que “um intestino saudável é totalmente capaz de destruir bactérias nocivas”. No entanto, Primi afirma que não há microbiota (a população microscópica intestinal), por mais saudável que seja, que consiga matar certos tipos de bactérias de alimentos crus.
CORTES ESTRANHOS
A nutricionista destaca também que os perigos dos hábitos de Weam são todos associados apenas aos alimentos não passarem por um processo de cozimento, e que o fato de muitas carnes que aparecem nos vídeos do preparador físico não serem consideradas tradicionais, como cérebro e rins, não trazem riscos à saúde.
“Todos os órgãos são uma boa fonte proteica, então tem o lado de desmistificar a ingestão daqueles que não são comuns na alimentação, como testículos, rins e cérebro”, diz Priscilla
Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei… (Salmos 32.5).
A cama do adultério é sedutora, mas depois que alguém se levanta dela torna-se um fantasma. Davi era homem de Deus. Sua carreira foi vitoriosa. Foi pastor de ovelhas, músico consagrado, guerreiro destemido, líder catalisador, rei aprovado e servo do Altíssimo. Deus lhe deu vitórias extraordinárias. Fez dele um homem forte e temido. Porém, Davi pecou contra Deus. Venceu exércitos no campo de batalha, mas perdeu a batalha em cima da cama. Venceu gigantes, mas não sua paixão. Prevaleceu sobre um leão, mas não dominou sua volúpia. Davi tornou-se adúltero e assassino. Depois, escondeu seu pecado. Deus o confrontou, e ele se arrependeu. Chorou diante de Deus e confessou seu pecado. Espremeu todo o pus da ferida e recebeu cura da parte de Deus. A confissão é a assepsia da alma, a faxina da mente, a alforria do coração. Aqueles que encobrem suas transgressões ficam emperrados na vida espiritual, mas aqueles que as confessam e deixam alcançam misericórdia. Ainda sofrendo as consequências inevitáveis de seu erro, Davi foi restaurado por Deus. O mesmo pode acontecer em sua vida. Talvez você tenha caído. Talvez tenha envergonhado sua família. Talvez se tenha tornado motivo de zombaria das pessoas. Volte-se para Deus. Confesse seu pecado e receba seu bendito perdão. Deus é rico em perdoar e tem prazer na misericórdia.
Brasileiros ainda pretendem continuar fazendo compras de alimentos de forma on-line, e empresários estão de olho nessa fatia de mercado
Informações da pesquisa “Supermercado e Hábitos de Compras” realizada pela unidade de pesquisa da área de publicidade do UOL apontam que os gatos com compras de supermercados pela internet aumentaram 57% na pandemia e 59% dos consumidores brasileiros têm a intenção de continuar fazendo compras de mercado on-line depois que a pandemia chegar ao fim. O levantamento também mostrou que os principais diferenciais do varejo digital, atualmente, estão mais ligados às questões de entrega e ao tempo que o cliente recebe o produto do que como ele efetivamente compra.
Fato é que, mesmo antes da pandemia de covid-19, a compra de alimentos de forma on-line já se mostrava consolidada, principalmente pelos clubes de assinatura. Com o cenário de distanciamento social, o mercado “explodiu” forçosamente devido à menor disposição das pessoas em sair de casa (seja por receio da doença, limitações de horários dos mercados, entre outros motivos) aliada à conveniência e à qualidade que alguns fornecedores conseguiram atingir.
Apesar de o produto entregue em casa ter o maior preço, a conveniência para alguns de não precisar ir ao mercado é grande, valendo o excedente no preço. “Como não é possível saber a qualidade e a variedade do que se encontrar no mercado presencial, o delivery oferece essa opção. Outra possível motivação é o estímulo à economia circular (comprar direto do produtor). Também não se pode esquecer que o comércio digital vem crescendo continuamente como um todo. E os alimentos não iriam ficar de fora”, diz o membro do Comitê de Economia e Tendências Empresariais do ISAE Escola de Negócios, Christian Bundt.
GARANTINDO QUALIDADE
Um estudo do site Reclame Aqui, realizado em março de 2021, mostrou que 51,2% dos consumidores não se importariam em pagar mais caro por um produto, desde que tivessem uma experiência de compra melhor com a marca. “Os consumidores não querem mais apenas comprar produtos ou serviços, mas desejam uma nova forma de se relacionar com as marcas e isso independe do valor cobrado. E seja como for: falar a língua dele, ser mais assertivo a respeito dos seus gostos e preferências, oferecer um produto ou serviço totalmente customizado aos seus interesses reais, receber uma entrega ultrarrápida e assim por diante fará a diferença”, pontua o presidente da Associação Brasileira Online no Ofline (ABO2O), Vitor Magnani.
A diferenciação pode vir de várias maneiras. Na Haizs, rede de produtos orgânicos com atuais 43 mil consumidores cadastrados na base, por exemplo, os preços podem ser até 25% mais baixos que em supermercados, e os alimentos oferecidos são frescos e muitas vezes há uma variedade maior e até mesmo não oferecida pelo varejista tradicional, como cavolo nero, couve kale, beterraba amarela, acelga colorida, cenouras roxas. Além disso, a rede oferece um portfólio completo de itens orgânicos, saudáveis, artesanais e de clean label.
Para a diretora de marketing da Raizs, Bianca Reame, o e-commerce foi fundamental durante a pandemia. “A tecnologia nos permite ser mais eficientes que uma loja física. Sabemos exatamente quanto vendemos no dia, o que possibilita retirarmos do solo só a quantidade vendida, evitando desperdício de alimentos, por exemplo. Para o cliente final, a principal vantagem é poder fazer as compras no conforto do lar, sem filas e aglomerações e receber tudo na porta de casa”.
O aumento da demanda tem levado ao desenvolvimento de inovações e ferramentas para tornar esse comércio e as experiências de compra ainda melhores e isso é muito importante para os diferentes elos da cadeia. Para seguir esse exemplo e obter destaque nas vendas on-line, o empreendedor não deve apenas implementar tecnologias robustas, mas potencializar a capacidade dos colaboradores ao oferecer treinamentos e processos atualizados para se reinventarem e se ajustarem às novas demandas dos consumidores por um atendimento mais customizado, ágil, humano e seguro, assim como desenvolver modelos de negócios totalmente disruptivos, levando a uma experiência totalmente inovadora para o mercado.
Afinal, praticidade, conveniência, rapidez na entrega, possibilidade de compra a qualquer hora são fatores que contribuíram, de fato, para o aumento do segmento de vendas on-line. “Já não basta ter um e-commerce ativo, é preciso que o produto ofertado esteja disponível e chegue o mais rápido possível até o comprador ou consumidor”, ressalta o diretor comercial do Grupo Katayama, Gilson Katayama.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Rodrigo Bandeira, acredita que ainda há espaço e oportunidades para venda de bebidas on-line, que, para ele, há chance de escalar mais rápido e com boom ticket médio. “Uma boa forma de se destacar é através da rapidez e agilidade nas entregas. além do tamanho do catálogo de produtos”, diz ele e completa: “Ao montar um mercado virtual de alimentos, o empreendedor deve se preocupar com infraestrutura e capacitação das pessoas”.
SAINDO DO QUADRADO
Para quem deseja começar ou ampliar o negócio no ambiente digital, o primeiro passo é pensar e definir a rede de fornecedores, desde os produtos até a entrega. Se a entrega for própria, o planejamento dos detalhes do delivery é fundamental para garantir a assiduidade e a qualidade. Com um bom plano de trabalho, os fornecedores apostarão na sua empresa. Vale lembrar que idealmente, o negócio deve ser formalizado logo no seu nascimento. Geralmente os clientes de compras online exigem algum comprovante. Se isso for intermediado por apps como iFood ou Rappi, necessariamente alguma formalização será cobrada.
Sobre qual caminho seguir, é preciso avaliar três pontos: tempo, preço e operação, tendo em mente que não adianta fazer parte de uma plataforma digital (marketplaces), por exemplo, se isso vai impor um custo adicional que desvitaliza o seu público-alvo. Em outros aspectos, as plataformas digitais oferecem o sistema de logística, mas se o empreendedor já tem o seu próprio sistema, não é necessário fazer parte de uma plataforma neste caso.
Já para a montagem do site, por exemplo, o (futuro) empreendedor deve se preocupar com as paletas de cores, fotos boas, investimento no tráfego etc. As plataformas digitais já investem em marketing digital para atrair consumidores. “Além disso, é a melhor opção para o empreendedor que deseja digitalizar o seu negócio de forma rápida. Não há necessidade de tantos cuidados nas formas de comunicação do seu produto como em um site próprio, por exemplo. Portanto, o empreendedor não precisa de tanto para começar a operação on-line. No mercado existem formas que ajudam no processo. As plataformas digitais, por exemplo, já encaminham os consumidores para o empreendedor”, indica o presidente da ABO2O
Na hora de direcionar energia, indica-se demonstrar a cadeia de fornecimento, pois muitos compradores preferem este ou aquele fornecedor quando essa informação aparece, gerando apelo mercadológico, como a expressão “da roça para a mesa” (from to fork on farm to table, em inglês).
OLHOS ABERTOS
A manutenção da qualidade dos produtos é fundamental na venda on-line de alimentos, pois a facilidade de troca de fornecedor por parte do consumidor é razoável, não só pela oferta da concorrência on-line, mas também há facilidade de ir ao mercado ou locais assemelhados para muitas pessoas. “Acredito que não haja impedimento para a comercialização de qualquer categoria de alimentos, desde que corretamente armazenados e com um eficiente planejamento logístico para a manutenção da integridade e qualidade dos produtos, principalmente as que exigem condições especiais”, opina o representante da Katayama.
Outro ponto é a comunicação. Em caso de produtos sazonais, por exemplo, se houver uma quebra de safra por motivos variados (chuva, frio…), a substituição por outro de maneira consentida pelo consumidor evitará insatisfação. Na parte visual da comunicação, fotos e vídeos bem produzidos dos alimentos são fundamentais. Em alguns casos, há a disponibilização de imagens em tempo real da produção. “Essa abordagem é, verdadeiramente, uma nova plataforma de negócios para o food servisse, que, inclusive, tem ao menos quatro grandes formatos: o já conhecido delivery (com plataforma própria de vendas/ entregas ou via terceiros), o take out (retirada no salão ou via drive-thru de com0idas preparadas), o grab and o (retirada de comidas prontas) e o catering (serviço de buffet in loco para mais de dez pessoas). Se colocarmos uma lupa apenas nos negócios 100% delivery e para levar, temos oito formatos diferentes com destaque para as dark e cloud kitchens, estabelecimentos sem salão e com foco em vendas digitais, lembra a fundadora e CEO da Galunion Consultoria, Simone Galante.
SEGMENTAÇÃO COMO APOSTA
Espaço para novos entrantes sempre há, até porque o mercado pode ser criado a partir de diferentes perspectivas. No geral, especialistas indicam apostar em mercados/segmentos e públicos específicos, a exemplo da classe média-alta e classe alta, que tendem a ser os mercados mais atendidos por esse tipo de negócio, pois têm disponibilidade financeira para pagar mais.
Na Raízs, especialmente na pandemia, Bianca Reame diz que viram uma alta nas vendas equivalente a 217% (inclui assinaturas e pedidos avulsos), com a base crescendo também a números semelhantes, sendo atendidos por mais de 800 pequenos produtores. “Diante desse cenário, enxergo que a busca de uma boa alimentação seja um caminho sem volta no pós-pandemia. A projeção é que a mudança de hábitos que ganharam espaço nesse período perdure e que cada vez mais as pessoas tenham consciência do alimento que estão ingerindo”, diz a representante da marca.
Isso porque o delivery veio para ficar. Cabe, portanto, aos empresários do setor analisar muito bem como irão aproveitar as oportunidades e minimizar os riscos. “Já pela ótica do consumidor, sabemos que os hábitos ligados à conveniência do delivery se solidificam. Resta saber se evoluiremos na geração de experiências memoráveis neste formato de negócios na velocidade necessária. Afinal, grande parte dos clientes sente falta da experiência de comer e socializar fora de casa”, considera a especialista da Galunion Consultoria.
“PONTOS DE ATENÇÃO”
Para montar um site, o empreendedor precisa investir em tráfego para ser pesquisado e o consumidor encontrá-lo.
O caminho mais curto para gerar faturamento são as plataformas digitais. No mais, são necessários alguns pontos importantes e que devem ser levados em consideração desde o primeiro dia
ATENDIMENTO PRECÁRIO:
Quem pede on-line quer ser bem tratado como se estivesse num ambiente físico É fundamental que o site ou aplicativo ofereça todas as informações necessárias e esteja funcionando adequadamente, de maneira fácil, rápida e segura. Ofereça uma boa variedade de canais de comunicação e certifique que todos estejam preparados para atender bem os seus clientes
ESTOQUE DESATUALIZADO:
Má gestão significa estoque mal administrado e isso pode resultar em perda de um cliente ou prejuízo financeiro para o empreendedor. A falta de itens pode levar o consumidor ao concorrente. A dica é invista em um sistema de gestão de estoque, mantenha-o atualizado e tenha controle de tudo que entra e sai
INEFICIÊNCIA NO MARKETING:
O negócio depende da divulgação que você faz, é isso que vão atrair novos clientes. Mas se investir nas ferramentas e estratégias erradas dificilmente o público chegará até a loja.
Primeiramente, defina quem é o seu público-alvo e saiba onde ele está. A partir disso, faça campanhas bem segmentadas considerando as características de cada canal, como linguagem, melhores horários para publicação, localização etc.
NÃO TER UM SISTEMA QUE FUNCIONE:
Parte desses erros pode ser evitada com uma plataforma que auxilie na gestão do seu negócio. Por meio dele, o empreendedor pode gerenciar campanhas de marketing, controlar estoque, coordenar os pedidos e ter plena visibilidade de toda a logística. É uma ferramenta importante que vai ajudar no dia a dia da empresa e mantê-la com tudo funcionando
A notícia foi transmitida através de um site: uma norueguesa de 23 anos foi condenada a nove meses de prisão por ter violentado sexualmente um homem. Como é que é? Vamos aos detalhes: o homem estava deitado num sofá, no meio de uma festa. Totalmente apagado. Horas depois, acordou com uma mulher desconhecida fazendo sexo oral nele.
Quando li a notícia, dezenas de frases acorreram à minha mente de forma automática: ah, o cara não é chegado, o juiz foi severo demais, a maioria dos homens que eu conheço agradeceriam esse final de noite inesperado.
O machismo tomou conta do meu cérebro e só depois, aos poucos, consegui avaliar a situação mais sensatamente. Por que um homem tem que achar sempre maravilhoso que uma mulher lhe preste homenagens desse tipo, mesmo quando não houve consentimento? E se o cara é casado e a esposa estava na festa? E se a situação o constrangeu? E se simplesmente não estivesse a fim, por acaso não teria o direito? Agora, a pergunta mais importante de todas: e se fosse ela quem estivesse desacordada no sofá e ele prestasse a mesma “homenagem” sem pedir licença? Aí mudaria totalmente de figura, é o que argumentaríamos.
Pois o juiz norueguês resolveu, numa atitude inédita naquele país – e creio que no mundo todo -, que não muda de figura coisíssima nenhuma. Se um homem praticasse sexo oral numa mulher desacordada, isso seria considerado um ato de violência. Por que o contrário não deve ser também? A Escandinávia é a região do planeta onde a igualdade de direitos entre os sexos está mais desenvolvida. Em países como a Suécia, Dinamarca e na própria Noruega, os homens têm direito a uma longa licença- paternidade e mulheres têm uma vida sexual livre e sem patrulha, pra citar apenas dois exemplos desse igualitarismo, que ainda não é total, porém bastante avançado. O que o juiz fez foi levar essa igualdade ao pé da letra, rompendo com algumas “tradições culturais”, como a que sustenta que mulheres podem se negar a praticar sexo, mas homens devem estar sempre a postos. Ousado esse juiz. Deu um passo importante para refletirmos sobre o assunto, ainda que essa sentença fosse totalmente impensada no Brasil. Aqui, o violado que levasse o caso à Justiça seria apedrejado em praça pública aos gritos de boiola, boiola. Ela? Capa da Playboy no dia seguinte.
Descoberta contrapõe estudos anteriores que destacavam o benefício do hábito para a saúde mental
Tirar cochilos ao longo do dia, principalmente por longos períodos, pode ser um indício da presença de Alzheimer em estágio inicial. Segundo um estudo publicado pelo periódico Alzheimer’s and Dementia, a descoberta contrapõe trabalhos anteriores que destacavam o benefício do hábito à saúde, como melhora no humor, estado de alerta e desempenho em tarefas mentais.
“Pode ser um sinal de envelhecimento acelerado. A principal vantagem é que, se você não costumava tirar sonecas e percebe que está começando a ficar mais sonolento durante o dia, pode ser um sinal de declínio da saúde cognitiva”, afirmou Yue Leng, professora de psiquiatria da Universidade da Califórnia, ao jornal britânico The Guardian.
O estudo utilizou informações colhidas ao longo de 14 anos pelo Rush Memory and Aging Project, analisando dados relativos ao sono de mais de 1.400 pessoas, entre 74 e 88 anos de idade. Cada período prolongado de inatividade entre 9h e 19h foi interpretado no estudo como um cochilo.
CAPACIDADE COGNITIVA
Os voluntários foram submetidos a avaliações da sua capacidade cognitiva a cada ano. No início do estudo, 76% dos entrevistados não tinham qualquer tipo de comprometimento cognitivo, 20% deles tinham comprometimento cognitivo leve e 4% tinham doença de Alzheimer.
Para os participantes que não desenvolveram comprometimento cognitivo, o cochilo diurno diário aumentou em média 11 minutos por ano. A taxa de aumento dobrou após um diagnóstico de comprometimento cognitivo leve para um total de 24 minutos e quase triplicou para um total de 68 minutos após o diagnóstico de doença de Alzheimer.
A pesquisadora já havia feito um estudo similar anteriormente, que apontava para este mesmo fenómeno.
Padrões de sono incomuns, insônia e sono noturno de baixa qualidade são normais em pessoas com demência. No entanto, o trabalho mais recente mostrou que a ligação com o cochilo permaneceu, mesmo quando o sono noturno foi levado em consideração.
“Não acredito que temos evidências suficientes para tirar conclusões sobre uma relação causal, de que é o próprio cochilo que causou envelhecimento cognitivo, mas cochilos diurnos excessivos podem ser um sinal de envelhecimento acelerado ou em progresso”, disse Leng.
COMO VOCÊ LIDA COM O DESEJO POR PETISCOS E OUTRAS COMIDAS
Restringir alimentos tentadores pode estimular a compulsão por eles; substituir ou diminuir a ingestão são opções melhores
Os desejos por comida são uma parte normal da experiência humana; estudos mostram que mais de 90% das pessoas os têm. (Quem são aqueles unicórnios que nunca tiveram esses desejos?) Mas a forma como lidamos com eles varia muito. Algumas pessoas comem o que querem e não se preocupam com isso; outras se sentem controladas pelos desejos e acabam comendo compulsivamente seus alimentos favoritos.
Quando as pessoas se rendem a um desejo por comida, muitas vezes culpam a falta de autocontrole. Mas os desejos são causados por uma interação complexa de neurônios no centro de recompensa do cérebro, hormônios do apetite, condicionamento comportamental e fácil acesso a alimentos saborosos e prazerosos que reforçam o ciclo do desejo.
O poder dos desejos pode ser alimentado pelos sentidos, como o cheiro de pão fresco quando passamos por uma padaria, além de situações e emoções. Depois de um dia estressante no trabalho podemos buscar conforto com fast-food. Os bons momentos também podem desencadear desejos, como querer pipoca ou doces no cinema. E estudos mostram que os chamados alimentos “hiperpalatáveis”, que oferecem uma combinação tentadora de gordura, açúcar, sal e carboidratos, podem interferir nos sinais cerebrais para que continuemos a desejá-los.
Então, qual é a solução para lutar contra esses desejos? O que acontece e que muitas pessoas estão lidando com esses desejos por comida da maneira errada, tentando restringir, evitar e se afastar de alimentos tentadores. Mas, cada vez mais, os estudos mostram que a restrição constante e as tentativas de se afastar podem sair pela culatra para quem luta contra desejos e compulsão alimentar.
Os cientistas estão estudando novas estratégias surpreendentes para lidar com esses desejos com base na ciência do cérebro. Isso inclui aceitar que os desejos por comida são normais e usar técnicas de mindfulness para reconhecer e se tornar mais consciente de suas vontades e esperar que diminuam, em vez de ignorá-la.
“Trata-se de entender que esses desejos são uma parte natural de cada um de nós, somos projetados dessa maneira”, disse Evan Forman, professor de psicologia da Universidade Drexel, na Filadélfia, e diretor do Centro de Ciências do Peso, Alimentação e Estilo de Vida da universidade. “Você não precisa fazer com que os desejos desapareçam, mas também não precisa comer por causa deles. É aceitar em vez de afastá-los.”
DIETA PODE AUMENTAR A VONTADE
Um dos primeiros estudos a mostrarem uma ligação entre restrição alimentar e desejos foi realizado na década de 1940 pelo pesquisador Ancel Keys. No que é frequentemente chamado de “estudo de fome”, Keys pediu a 36 homens, que comiam cerca de 3.500 calorias diárias, que reduzissem a ingestão de alimentos para cerca de 1.600 calorias por dia. (Pelos padrões de hoje, essa contagem de calorias é apenas mais uma dieta). A restrição desencadeou uma notável mudança psicológica nos homens, que ficaram preocupados com comida.
“Eles pararam de fazer tudo, exceto deitar na cama, falar e pensar em comida”, contou Tracy Mann, que dirige o laboratório de saúde e alimentação da Universidade de Minnesota. Ela observa que os homens até planejaram carreiras relacionadas à alimentação, como abrir uma mercearia ou restaurante, e ficaram preocupados com comida muito tempo depois que o estudo terminou. “São homens da década de 1940 que, provavelmente, nunca cozinharam uma refeição em toda a vida”, observou Mann. “E eles começaram a recortar receitas do jornal.”
Mann e seus colegas usaram uma caixa de chocolates para estudar o efeito da restrição alimentar. A pesquisa incluiu 142 amantes de chocolate, metade dos quais foi instruída a comer sua dieta regular, enquanto a outra metade seguiu uma dieta restrita. Em uma reviravolta cruel, todos no estudo receberam uma caixa de chocolates e foram instruídos a não comer até que se passassem 10 dias do estudo. Mas para garantir que todos os participantes fossem tentados pelo chocolate, eles tinham que abrir a caixa diariamente para encontrar instruções específicas. Após 10 dias, todos deveriam enviar uma foto da caixa. Os que estavam em dieta roubaram mais chocolates do que os que não estavam.
ACEITAÇÃO X DISTRAÇÃO
Na Universidade Drexel, Forman realizou um estudo semelhante, mas desta vez com caixas transparentes de chocolates que os participantes eram obrigados a carregar por dois dias. Os pesquisadores aconselharam alguns participantes a ignorar seus desejos, enquanto instruíram outro grupo a perceber e aceitar seus desejos como algo normal. Um grupo de controle não recebeu aconselhamento. No fim do estudo, cerca de 30% dos participantes do grupo de controle haviam comido o doce em comparação com 9% das pessoas do grupo instruída a ignorar os desejos. Mas entre os participantes ensinados a reconhecer e aceitar desejos, ninguém comeu o chocolate.
Em 2019, Forman publicou os resultados de acompanhamento de um estudo controlado randomizado com mais de 190 pessoas que descobriu que os participantes que praticavam estratégias de aceitação e mindfulness tinham duas vezes mais chances de manter uma perda de peso de 10 % após três anos em comparação com aqueles que se concentraram em resistir a tentações de comida.
QUÃO POUCO É SUFICIENTE?
Não há nada de errado em comer um alimento que você deseja, a menos que se come um problema para você. Judson Brewer, professor associado da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown, criou um aplicativo de mindfulness chamado Eat Right Now, e contou a história de uma paciente que rotineiramente comia um saco de batatinhas. Em vez de desencorajá-la, Brewer aconselhou-a a prestar atenção a cada uma que comia e a observar quantas eram necessárias para ela se sentir satisfeita. Apenas algumas semanas depois, a mulher relatou que havia reduzido lentamente seu hábito de comer as batatinhas, e agora seu desejo era saciado após a segunda batatinha.
UMA OFERTA MAIOR E MELHOR
Outra estratégia é se concentrar no gosto de um alimento e como ele faz você se sentir e substituir um alimento problemático por outro de melhor qualidade. “Não queremos viver essa vida austera de não desfrutar de comidas saborosas”, acrescentou Brewer.
‘SURFE NA ONDA’ DAS VONTADES
Os desejos são efêmeros, e algumas pesquisas sugerem que eles atingem o pico em torno de cinco minutos. “Urge surfing” significa “surfar na onda” de seus pensamentos, sentimentos e desejos, em vez de agir sobre eles, e é uma estratégia bem-sucedida, frequentemente usada para tratar o uso de substâncias. Siga estes passos.
IDENTIFIQUE SEU DESEJO.
Use a frase “Estou com vontade de comer…” e preencha o espaço em branco.
OBSERVE-O.
Observe como você se sente ao desejar a comida. Você sente isso no estômago? Você está distraído? Ansioso? Você sente a necessidade de se mudar ou continuar visitando a cozinha?
ESTEJA ABERTO.
Não tente suprimir ou se livrar do seu desejo. Aceite a experiência.
PRESTE ATENÇÃO NO QUE ACONTECE A SEGUIR.
Observe o desejo à medida que ele sobe, cresce, desce e diminui. Observe a intensidade do desejo. “Estou com vontade de comer batatinhas. Começou com 5, mas agora são 7.”
A nova-iorquina Phyllis Raphael, de 86 anos, conheceu Stan Leff, de 89, quando ambos tinham ficado viúvos, após dois casamentos. Desde então, o encontro casual virou rotina e o romance renovou as vidas dos dois
Em 2015, Phyllis Raphael, agora com 86 anos, encontrou Stan Leff, 89 anos ao sair da Citarella, uma mercearia no Upper West Side de Manhattan, em Nova York, Estados Unidos.
“Stan me lembrou que estávamos na mesma festa em Fire lsland, em 1974. Ele disse que eu estava em um deque servindo aperitivos, mas eu não me lembrava dele. Nós nos conhecemos casualmente e nos víamos em festas, mas nunca conversamos até aquele dia”, conta Phyllis, uma escritora nascida no Brooklyn.
Até então, cada um havia se casado duas vezes, mas ambos ficaram viúvos. A segunda esposa de Stan havia morrido uma década antes, e o segundo marido de Phyllis, com quem ela foi casada durante 24 anos, havia morrido de amiloidose, uma doença rara.
“Começamos a conversar. Algumas noites depois, ele me ligou e me convidou para sair. Ele conseguiu meu número através de um amigo em comum que achou que nosso encontro era uma boa ideia e o encorajou a telefonar”, explica Phyllis.
Essa ligação se transformou em um primeiro encontro. Depois vieram o segundo e o terceiro. Assim surgiu um relacionamento. Por fim, um caso de amor.
Seis anos depois, o casal ainda está totalmente comprometido um com o outro. Phyllis conta que eles passam algumas noites da semana juntos e também os fins de semana. Livreiro aposentado, Stan mora a quatro quarteirões de distância. No momento, eles não têm planos de se casar.
COMO ERA A VIDA DEPOIS QUE SEU MARIDO FALECEU?
Eu frequentava um grupo de apoio no Hospital de Nova York que estava repleto de tristeza, mas era o que me convinha na época. Eu ia a jantares, porém sempre havia cinco mulheres solteiras e dois homens. Achei que nunca iria encontrar alguém. Eu ia ficar à mercê de meus três filhos e de meus amigos, mas Stan chegou e mudou tudo.
COMO COMEÇOU RELACIONAMENTO?
Em nosso primeiro encontro, vimos o filme “Descompensada”, de Amy Schumer. Achei ele muito atraente e gostei de estar sentada ao lado dele no cinema. Depois fomos jantar em um restaurante. Me ofereci para pagar minha parte, mas ele se ofereceu para pagar a conta inteira. Começamos a nos ver direto logo após isso. Assistimos a peças de teatro, filmes, fomos a jantares e passeamos no parque. Eu não conseguia entender o que estávamos fazendo. Naquele mês de novembro, estávamos assistindo a um filme em minha casa e achei que tinha chegado a hora. Coloquei em minha cabeça em seu ombro e isso deu um sinal a ele. Stan me disse: “o inverno está chegando. Está ficando frio. Eu não vou querer ir para casa à noite. Eu entendi o que isso significava e nós nos tornamos amantes naquela noite.
COMO ESSE RELACIONAMENTO SE DIFERENCIA DO QUE VOCÊ TEVE COM SEU SEGUNDO MARIDO?
É um tipo diferente de amor. Eu amava meu marido, tivemos um casamento muito bom. Comecei a entende-lo melhor com o passar do tempo, mas não acredito que éramos almas gêmeas. Quando Stan se aproxima, há sexo, afeto e desejo um pelo outro. Meus filhos o amam e isso significa muito. Ele é dedicado a eles e eu não poderia amar alguém que não fosse. Essa relação funciona para nós dois, sou louca por ele. Não do jeito que eu costumava ser com meu marido, mas de forma diferente. Quando ele passa pela porta e entra, fico muito feliz em vê-lo. Não é eufórico, mas sofreríamos um sem o outro.
O QUE FAZ A RELAÇÃO FUNCIONAR?
Somos duas pessoas que se diferem muito juntas. Crescemos na mesma época, então rimos das mesmas piadas. Nós dois adoramos as mesmas músicas e lembramos das mesmas coisas. Ele é meu companheiro, mas muito mais que isso. Sem está no topo da minha lista de emergência. Eu confio nele. Ele me faz sentir segurança. É gentil, confiável. Estamos bem fisicamente. Eu ainda não descobri o que realmente é o amor, mas isso chega bem perto.
QUAIS SÃO OS PLANOS FUTUROS DE VOCÊS DOIS?
Stan se encaixa neste momento da minha vida. Ele me chama de namorada. Eu o chamo de meu namorado. Somos mais que amigos; somos mais que amantes. Eu não quero me casar. Não quero mexer com o que temos, porque o que temos é muito bom.
QUE SUGESTÕES VOCÊ DARIA ÀS PESSOAS QUE SE SENTEM ESTAGNADAS NA VIDA?
Faça algo novo, que você normalmente não faria, ou algo pelo qual você seja apaixonado. Faça uma aula de teatro, de culinária ou vá a um museu. Essas coisas permitem que você se conecte a outras pessoas que talvez não conhecesse normalmente. Podem tornar sua vida mais animada. Atenda o telefone. Envie um e-mail. Pense em algo que você quer fazer e depois pergunte as pessoas que conhece se elas querem fazer aquilo com você. Não tenha medo de deixar as coisas acontecerem.
ALGUMA PALAVRA DE SABEDORIA PARA COMPARTILHAR?
Não esperar. Eu não imaginava que isso acontecesse ou que eu ficaria com alguém por seis anos. Achei que ele tinha outras mulheres, mas não tinha. Quando eu era casada, eu tinha expectativas. Não tenho nada disso agora. Você nunca sabe o que está por vir ao virar a esquina. Esse pensamento me deixou mais feliz. A vida é um presente, mas ele expira. Quando você chega à minha idade, começa a olhar o passado. Sinto que perdi algumas oportunidades, mas também experimentei muita coisa. Todos temos um prazo de validade. É melhor usar o presente enquanto você o tem.
Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto (Salmos 32.1).
O rei Davi pecou contra Deus, adulterando com Bate-Seba. Depois mandou matar seu marido. Esse crime foi horrendo aos olhos de Deus, embora encoberto dos olhos humanos. Davi tentou esconder seu pecado, mas a mão de Deus pesou sobre ele dia e noite. Seu vigor tornou-se sequidão de estio. Suas lágrimas eram seu único alimento. Seu corpo latejava e seus ossos ardiam. Seu espírito murchou e a luz apagou-se em seus olhos. Tomado de profunda convicção, correu para os braços de Deus e confessou seu pecado. Deus fez uma assepsia em sua alma, limpou seu coração e perdoou seu pecado. Agora, Davi expressa com vívido entusiasmo: Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. O homem não pode se livrar de seus próprios pecados. Não pode purificar seu próprio coração. O pecado é como uma nódoa que suja, um veneno que mata. O pecado é o pior de todos os males. É pior do que a doença. É mais grave do que o mais atroz sofrimento. O pecado é mais terrível do que a própria morte. Estes males todos não nos podem afastar de Deus, mas o pecado faz separação entre nós e Deus, agora e sempre. Por isso, não há maior alegria do que o perdão divino. O perdão, porém, é recebido por meio do arrependimento sincero, da confissão honesta e da confiança plena na graça de Deus.
A inteligência social se faz necessária para o convívio com pessoas diferentes na mesma empresa. Ninguém gosta de trabalhar com gente falsa e esquisita. Ser verdadeiro e honesto é essencial para ser agradável.
Ser uma pessoa agradável no trabalho e na vida social, além de garantir uma vasta rede de contatos, irá refletir em seu desempenho e na conquista de objetivos profissionais.
Já que é tão importante para os objetivos profissionais, cuidar dessa sutileza de ser agradável no trabalho demonstra maturidade profissional. “Quão agradável é você no trabalho?
A tendência do ser humano é reclamar dos outros. Sempre o problema está no outro, o chefe é o campeão de reclamação, outra hora é o colega que é ruim de conviver, aquela pessoa da outra área que julga ser “abominável” nas relações, e por aí vai.
O objetivo deste artigo é para que faça uma autorreflexão de como tem tratado as pessoas ao seu redor, como tem se comportado no trabalho e assim verificar a sua parcela de responsabilidade referente ao problema de convívio com pessoas que trabalham com você. Algumas perguntas que vão ajudar nesta reflexão: Você é o tipo de pessoa que as outras querem estar perto? As pessoas gostam de compor um projeto de trabalho com você? Você é requisitado para fazer partede uma equipe? Você demonstra interesse genuíno pelas outras pessoas?
Para ser agradável, não basta ouvir o que as pessoas dizem. É necessário fazer perguntas que demonstrem interesse no que elas estão dizendo. Fazer uma pergunta sobre algo que interessa à pessoa ou sobre o que tenha acabado de falar mostra que. além estar escutando, você está realmente interessado As pessoas apreciam alguém que não é instável. Quando alguém o procurar, é importante que saiba o que esperar de você. Independentemente de problemas ou mudanças de humor, seja consistente ao lidar com amigos e colegas de trabalho.
Tenha a mente aberta. Isso o tornará mais acessível aos outros. Elimine todos os preconceitos e, dessa forma. poderá ver o mundo com empatia, respeitando todos os pontos de vista. Ninguém quer conversar com alguém que já possui uma ideia preestabelecida e fixa em sua mente.
Esteja atento ao seu tom de voz, sua postura, seus gestos e expressões. Certifique-se de que seu modo de agir seja positivo. Porte-se de uma maneira que atraia as pessoas. A forma como você diz algo pode ser mais importante do que o conteúdo do seu discurso.
As pessoas naturalmente espelham o comportamento dos que estão ao seu redor. Sorria enquanto estiver conversando com o grupo, para que as pessoas sorriam também e se sintam bem ao fazê-lo.
Já é comprovado que pessoas gentis têm relacionamentos interpessoais de ótima qualidade. Então faça da gentileza sua aliada no trabalho. Apesar de todos terem o direito a ter sua própria personalidade e autoexpressão, seguindo essas dicas básicas, você pode melhorar imediatamente as relações com aqueles que o rodeiam. Sendo bem direta. É impossível fazer todos gostarem de você – personalidades diferentes inevitavelmente
resultam em confronto em algum momento de sua vida. Cuide desses detalhes e tenha uma vida profissional mais fluida. Seja você a pessoa mais agradável no trabalho.
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DANIELA DO LAGO – É especialista em comportamento no tra8alhq, mestra em administração, coach de carreira, palestrante e professora na área de liderança e gestão de pessoas.www.danieladolago.com.br
Uma vez eu estava no velório de uma amiga da minha mãe, que havia falecido cedo, aos 60 e poucos anos. Eu gostava muito dela, era uma mulher bonita, divertida, vibrante. Foi uma morte anunciada, ela vinha doente há meses, portanto, estava tudo dentro da previsibilidade. Ainda assim, quando entrei na capela onde estava o corpo, senti um aperto no peito, minha garganta fechou, parecia que eu iria sufocar, e então, sem que eu conseguisse me controlar, caí em prantos. Chorei como se fosse da família, chorei o choro reservado apenas àqueles muito próximos, chorei de dar vexame, deixando a todos comovidos com a minha dor. Mal sabiam eles que minha tristeza por aquela amiga de minha mãe era bem menor do que a tristeza por mim mesma. Eu chorava por algo que havia morrido em mim, chorava um pedaço da minha vida que havia deixado de existir, chorava uma perda que nada tinha a ver com aquela situação. O velório foi apenas um álibi providencial.
Desde então, comecei a ficar mais atenta às verdadeiras razões dos meus choros, que, aliás, costumam ser raros. Já aconteceu de eu quase chorar por ter tropeçado na rua, por uma coisa à-toa. É que, dependendo da dor que você traz dentro, dá mesmo vontade de aproveitar a ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma fratura exposta.
Qualquer coisa pode servir de motivo. Chorar porque fomos multados, porque a empregada não veio, porque o zíper arrebentou bem na hora de sairmos pra festa. Que festa, cara-pálida? Por dentro, estamos em pleno velório de nós mesmos, chorando nossa miséria existencial, isso sim.
Não pretendo soar melodramática, mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muita coisa deu certo, e outras não. Resolve pesar na balança o que foi privilegiado e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou. Normal, normalíssimo. São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo. Então a gente se pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida? Vá que tudo isso passe pela sua cabeça enquanto você está trabalhando no computador. De repente, a conexão cai, e, em vez de desabafar com um simples palavrão, você faz o quê? Cai no berreiro. Evidente.
Eu sorrio muito mais do que choro, razões não me faltam para ser alegre, mas chorar faz bem, dizem. Eu não gosto. Meu rosto fica inchado e o alívio prometido não vem. Em público, então, sinto a maior vergonha, é como se estivesse sendo pega em flagrante delito. O delito de estar emocionada. Mas se emocionar não é uma felicidade? Neste admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de chorar, mas se trata apenas da nossa humanidade se manifestando: a conexão do computador, às vezes, cai; por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes, se dá.
Sendo assim, sou obrigada a reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi. É sempre a dor do crescimento.
A prisão de ventre é uma das principais queixas no dia a dia de mulheres e homens. Saiba por que o problema pode ir muito além da falta de fibras na dieta e quando é preciso procurar ajuda
Você já viu alguém enfezado? Quando uma pessoa está irritada, sem paciência e descontente com o mundo sem motivo nenhum? Olha, nem dá para julgar: é exatamente assim que se sente alguém cheio de fezes – e é justamente daí que vem o termo. Na verdade, o significado soa até brando, porque a constipação pode gerar mais que irritabilidade: pode prejudicar o sono e o apetite, causar dores abdominais e provocar um estresse generalizado – físico e mental.
Para a maioria das pessoas, fazer cocô é algo absolutamente trivial. Afinal, mesmo nosso organismo sendo bem eficiente na absorção de nutrientes, ele não consegue aproveitar tudo o que ingerimos. Sempre sobra aquele resto, misturado a um monte de micro-organismos, que acaba indo parar na privada. Mas, para cerca de 30% dos brasileiros, evacuar é uma verdadeira batalha que envolve imprevisibilidade, força, desconforto e paciência.
“Muita gente fica com receio de ir ao médico porque acha que intestino preso é coisa simples, não é nada sério. Mas só quem passa por isso constantemente sabe o grande comprometimento na qualidade de vida”, comenta o clínico e cirurgião do aparelho digestivo Samuel Okazaki, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Apesar de o acúmulo de fezes não gerar problemas imediatos ao organismo – não, cocô preso não vai intoxicar seu corpo – , a prisão de ventre não deve ser subestimada, mas, sim, tratada, para não acabar gerando condições bem mais penosas.
O primeiro passo para reconhecer e combater a constipação intestinal é entender propriamente o que caracteriza esse enrosco. Hoje, para definir e identificar o problema, os médicos utilizam as normas do Consenso de Roma, uma reunião de especialistas que estabeleceu critérios a fim de auxiliar no diagnóstico de transtornos gastrointestinais. A prisão de ventre envolve múltiplos fatores, e oito em cada dez cidadãos experimentam um episódio pelo menos uma vez na vida. Mas nem sempre é uma doença crônica: pode acontecer de forma pontual e esporádica, em viagens, por traumas emocionais ou pelo uso de remédios.
Um dos critérios que o profissional de saúde usa para detectar a condição é a frequência com que se faz cocô. No entanto, seu intestino não precisa ser um “reloginho”: ninguém é obrigado a evacuar todo dia. “Muito paciente chega dizendo que está preocupado porque vai ao banheiro a cada dois ou três dias e aquilo não seria normal. Não é assim. Outros fatores importam mais que a frequência de evacuações”, afirma o coloproctologista Alexandre Bertoncini, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD). “É fato que 80% da população evacua entre uma vez a cada três dias e três vezes por dia, só que isso não é uma regra. Se uma pessoa defeca a cada três dias sem fazer força e tem fezes macias, aquele é o normal para ela. Assim como um indivíduo que evacua três vezes por dia e passa a fazer aquilo uma vez só pode estar com algum problema, mesmo indo ao banheiro todos os dias. É tudo relativo”, explica o médico.
Fazer cocô poucas vezes por semana só vira um problema mesmo caso venha acompanhado de incômodos como distensão abdominal, cólica, sensação de entupimento… Até porque o que cada um come pode alterar a necessidade e a frequência das idas ao banheiro. “Uma pessoa que tem uma dieta rica em carboidratos, alimentos de alta absorção, muitas vezes não produz tantos resíduos para serem evacuados. Assim como alguém que come pouca quantidade de comida geralmente produz menos bolo fecal. Isso tudo influencia a rotina de evacuações”, esclarece Bertoncini.
Outro fator determinante na identificação da prisão de ventre é o aspecto das fezes. As aparências importam. E são tão importantes que existe até uma tabela de classificação, a escala de Bristol. Ela vai do tipo 1 (fezes em bolinha, bem endurecidas e ressecadas) até o 7 (evacuação completamente líquida). As fezes rotuladas como 4, que são longas, macias, lisas e de fácil expulsão, são consideradas as ideais. Já as do tipo 1 ou 2, longas, mas compactas, podem indicar constipação.
Além da frequência e da aparência, fazer muito esforço para defecar, sentir que não saiu tudo ou que o ânus está obstruído também são características pontuadas pelo Consenso de Roma para o diagnóstico da prisão de ventre. Tudo isso é avaliado pelo médico na primeira via de detecção do problema: a conversa com o paciente. Por isso é muito importante observar esses detalhes na própria rotina intestinal, e informar tudo detalhadamente ao especialista durante a consulta.
A boa notícia é que, em 80% das ocorrências, a constipação é do tipo funcional. Traduzindo: não há nada de errado no organismo. Nesses casos, a dificuldade está associada a velhos fatores conhecidos do estilo de vida. “O movimento normal do intestino depende de líquidos, de fibras e de motilidade. Por isso, o primeiro passo é aconselharmos uma melhor ingestão de fibras e de água e a prática de atividade física”, diz a gastroenterologista Vanessa Prado, da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Aparelho Digestivo (SBCD). Dentro dessa orientação, vale a pena saber de antemão alguns detalhes. ”As fibras são essenciais porque, como não somos capazes de digeri-las, elas acabam formando o esqueleto do nosso bolo fecal. Mas é preciso saber que nem todos os alimentos de origem vegetal têm fibras e que métodos de preparo, como refogar, assar, cozinhar ou grelhar verduras e legumes, podem quebrar essas substâncias antes de as aproveitarmos”, alerta.
Além disso, essa constipação mais comum é diretamente afetada pelo estado de espírito. “Há bastante influência de razões psicológicas e emocionais, que devem ser investigadas e tratadas juntamente com as medidas comportamentais e a ajuda de laxativos, se necessário”, afirma a gastroenterologista Cristiane Nagasako, professora do Departamento de Clínica Médica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Mudar hábitos e cuidar da saúde mental já dão uma mão para o intestino funcionar. Só que tem outro fator decisivo nessa história: não prender ou postergar a vontade de se aliviar. “Todos temos um reflexo evacuatório quando as fezes chegam à parte final do intestino. Os famosos ‘movimentos peristálticos’ nada mais são que contrações coordenadas e sucessivas do intestino, estimuladas pelo bolo alimentar ou pelo bolo fecal, dependendo de onde ele estiver”, explica a docente da Unicamp. “Se esse estímulo é ignorado repetidamente, a inibição pode levar a uma perda do reflexo. E, aí, a pessoa acaba não sentindo mais vontade de evacuar e ficando com constipação”, conclui a médica.
No entanto, sintomas como não sentir vontade de ir ao banheiro ou demorar muito para conseguir expulsar o cocô podem ter uma razão mais complexa do que o normal. “Em alguns casos, pode haver um problema nos músculos do períneo. Se eles não estiverem coordenados corretamente, o intestino não consegue ter forças para eliminar as fezes. É o caso de pessoas que ficam sentadas na privada horas tentando evacuar e o cocô tá lá, preso na saída”, descreve Vanessa. “Mulheres que têm parto normal, por exemplo, podem ter problemas na musculatura pélvica, e isso levar à constipação. Mas fortalecer esses músculos já melhora a força e a capacidade de eliminação das fezes”, completa a gastro.
Esse é um exemplo do que os especialistas chamam de constipação secundária, ou orgânica. “Mesmo sendo saudável, tendo uma alimentação boa e fazendo exercícios, o indivíduo pode sofrer de prisão de ventre. Então é preciso fazer uma investigação mais profunda da causa”, diz Okazaki. “O intestino é influenciado pôr vários fatores ou problemas metabólicos, fisiológicos e até neurológicos. E tudo isso tem de ser averiguado”, acrescenta o especialista. O que respinga lá dentro da barriga? Doenças tão diversas como hipotireoidismo, Parkinson, diabetes e câncer de intestino podem acarretar constipação. Outra causa não incomum é a síndrome do intestino irritável. “Cerca de 60% das pessoas com a condição manifestam a doença mais em forma de diarreia, mas 30% apresentam uma forma mais constipante”, relata Bertoncini.
Mulheres jovens, que evacuam até uma vez por semana, estão entre as principais candidatas à constipação crônica. E a situação pode ser resolvida com uma intervenção dietética ou, em casos mais complicados, a mesa de cirurgia. ”É um problema motorintestinal. Diversos medicamentos já ajudam a melhorar a motilidade, mas, em casos extremos, temos que recorrer a um procedimento para retirar a região do intestino em que o trânsito é mais lento”, detalha Okazaki. Uma ocorrência mais grave, por exemplo, é uma doença conhecida como inércia colônica – nela, a velocidade do trânsito local é bem reduzida porque a inervação intestinal está praticamente ausente. Resultado: os portadores sofrem com uma ou duas evacuações por mês, náuseas, distensão e fortes dores abdominais. Não é raro ter que recorrer a uma cirurgia.
No Brasil, uma causa que também deve ser considerada é a doença de Chagas, ainda endêmica no país. Sim, o mal provocado por um parasita frequente em regiões com baixa infraestrutura não afeta só o coração. “Ele pode acometer o intestino, e o sujeito experimenta uma constipação progressiva que, com os anos, piora com a perda da inervação intestinal”, diz Bertoncini. Outra consequência séria é a formação do megacólon chagásico, dilatação e alongamento anormais do intestino grosso, que geralmente só se resolve com o bisturi.
Falamos bastante das possíveis origens da constipação, mas não podemos esquecer o que o intestino preso pode desencadear. A condição aumenta o risco de aparecerem divertículos, hemorroidas, fissuras anais…”Esses problemas nem sempre surgem devido à constipação, mas ela com certeza predispõe seu desenvolvimento e as complicações que podem vir com ele”, explica Cristiane.
DA INFÂNCIA PARA A VIDA
Muito adulto constipado foi uma criança com dificuldade para ir ao banheiro. Por isso, é essencial dar atenção a momentos marcantes como desfralde, rejeição a usar o banheiro e episódios dolorosos de evacuação. “Segurar o cocô é importante para o desenvolvimento porque a criança está ganhando autonomia. Aos poucos, ela vai percebendo que o controle das fezes dá algum controle sobre a própria vida, e isso pode fazer com que ela aja diferente” analisa Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da infância e adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “Existe também a fantasia infantil de que o cocô é algo que sai de dentro, que ela está perdendo alguma coisa, que pode se esvaziar, e isso tudo pode tornar o processo um pouco mais difícil”, completa.
Essa é, portanto, uma fase que exige a compreensão, a paciência e o acolhimento dos pais. “Não adianta querer controlar local ou ocasião para os mais novos evacuarem. Quem faz isso pode despejar uma ansiedade sobre a criança, que acaba ou fazendo cocô em todo lugar ou se segurando sempre”, avisa Polanczyk. O comportamento de retenção é bem comum na infância: além da vergonha, pode estar ligado ao medo da dor após uma evacuação mais sofrida. Mas dá para notar alguns sinais de que a criança está vivendo sob contenção. “Sabe aquela que vai pro canto e se abaixa, se espreme e fica bem encolhidinha, enquanto a mãe diz ‘Olha, ela tá tentando fazer cocô’? É justamente o contrário: um exemplo comum de quando a criança está se concentrando para a vontade passar”, esclarece Mariana Deboni, gastroenterologista pediátrica do Instituto da Criança da USP.
Outra chateação entrelaçada com esse comportamento é a incontinência fecal. Calma! Incontinência não é o oposto de prender o cocô? Sim, Mariana explica que o reto, ampola que fica após o intestino grosso, é considerado uma cavidade “virtual,” ou seja, foi feita para ficar vazia e distender apenas na hora que as fezes chegarem. Quando isso acontece, sentimos vontade de evacuar e o ideal é atender o chamado. Só que a criança, ao associar a evacuação a algo ruim, opta por prender, transformando o reto numa cavidade “real” e cheia de fezes. “Assim, o músculo que forma o reto acaba aumentando de tamanho, e as fezes lá dentro irritam a mucosa. Daí o pequeno começa a ter retenção e perdas involuntárias de um cocô líquido, malcheiroso e socialmente inaceitável,” descreve a médica. Não adianta brigar com a criança: ela perdeu o controle sobre o processo e precisa de ajuda especializada.
Para resolver situações afins e não levar a constipação anos à frente, nada melhor do que habituar o intestino e ir conversando com o pediatra. “Existe uma técnica chamada treinamento de toalete. A família estabelece um horário fixo para levar a criança ao banheiro e deixar que ela se concentre naquilo todos os dias. Ali pode não acontecer uma evacuação, mas é importante ela criar o hábito de ir ao banheiro, usar o redutor de assento no vaso sanitário, não levar celular ou nada que a distraia e usar um banquinho para apoiar os pés, simulando a posição de cócoras”, ilustra a gastropediatra Maria Tereza Guiotti, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Não importa a idade: ninguém merece (nem precisa) viver refém da constipação.
A busca incessante por uma solução rápida e eficaz para o sofrimento leva as pessoas a comportamentos e situações de risco, como o uso de substâncias psicoativas, álcool e drogas, uso inadequado de medicações ou comportamentos de risco
A depressão é uma doença, que pode levar à morte. Normalmente, a pessoa sofre de humor deprimido, seguido da perda de interesse e prazer, há também um aumento do cansaço físico e diminuição nas atividades que antes dava prazer.
Precisamos começar a reformular o nosso modo de pensar e encarar uma situação que desde o início começa rodeada de preconceitos e falta de informação. Ninguém se torna preguiçoso de um dia pro outro. Atualmente, independente da idade, sexo ou classe social, podemos encontrar pessoas afetadas pela doença.
É como se todos nós não pudéssemos passar por problemas ou dificuldades na vida, sem ter uma solução saudável para aquele momento. Observamos que o humor deprimido varia um pouco no dia a dia. Por que algumas pessoas ficam tristes e outras ficam deprimidas? A diferença é que quando estamos tristes temos uma situação concreta para relatar, para justificar algo que fez com que seu estado de espírito se alterasse. Por exemplo, planejamos um evento familiar com toda pompa e circunstância, escolhemos o local, a decoração e o buffet. Tudo bem organizado, com todos os detalhes, desde os convites até a mesa do café e por ocasião de um fenômeno natural, a chuva, o encanto se perde pela metade, por que a situação saiu do seu controle.
Quando deprimidos não sabemos dizer a causa que nos leva a perder gradativamente a força e a vontade de viver, não se consegue mais fazer planos para a vida. Tudo passa a ficar difícil. Isso produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa. Esses sentimentos devem ter duração de pelo menos duas semanas para se chegar ao diagnóstico de depressão.
ENTENDENDO A DEPRESSÃO
Para entender melhor a depressão podemos citar algumas alterações que são facilmente identificadas nas pessoas com as quais convivemos, amigos, familiares e também colegas de trabalho como a diminuição na atenção e na concentração durante a realização de atividades, interferindo negativamente na produtividade e a diminuição lenta e gradativa da autoestima e da autoconfiança.
Numa situação do dia a dia começam a surgir ideias de culpa e inutilidade que são expressadas verbalmente, dificultando a realização da rotina já pré organizada. A pessoa começa a ficar presa emocionalmente apenas a situações ruins. Com a falta de perspectiva do futuro, a pessoa passa à não fazer mais planos para a sua vida; tem perturbações durante o sono, o que gera um dia seguinte muito improdutivo, faltas constantes no trabalho e o não cumprimento de eventos sociais que antes eram muito prazerosos também começam a acontecer. Torna-se nítida, também, uma diminuição do apetite, como se não houvesse mais a necessidade de alimentar a máquina.
Podemos citar alguns fatores psicológicos ou sociais que levam uma pessoa a depressão, como perda de amigos, de companheiros de longa data, sentimentos de tédio, solidão, falta de perspectiva e perda do trabalho.
Considerando também fatores físicos, como dor física e persistente, resistentes a tratamentos com analgésicos; aumento ou diminuição do peso corpóreo, sem orientação médica; doenças clínicas que precisam de acompanhamento constante ou geram limitações; frequentes dores no peito, sem causa orgânica; alguns sentimentos tomam uma dimensão maior e podem levar a pessoa ao suicídio.
O ATO
Em geral, as mulheres realizam mais tentativas de suicídios do que os homens, mas estes são mais efetivos porque usam métodos mais radicais (como armas de fogo) do que elas, que abusam de remédios.
O suicídio é um fenômeno complexo que envolve vários aspectos da vida familiar, social, profissional e de ordem filosófica, antropológica e psicológica.
É um problema complexo para o qual não existe uma única causa ou uma única razão. É difícil explicar porque algumas pessoas decidem cometer suicídio, enquanto outras em situação similar ou pior não o fazem. Contudo a maioria dos suicídios pode ser prevenida. Quando o sofrimento representa algo que não pode mais ser controlado e o desejo de escapar dessa situação torna-se algo mais forte então a pessoa decide tirar a própria vida.
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada caso consumado de suicídio há 20 tentativas. Observamos que o suicídio não pode ser previsto. Mas há alguns indicadores que precisam ser considerados: quando a pessoa começa a se colocar em situações de risco, corno dirigir em alta velocidade, sob efeito de álcool e/ou drogas; ao sofrer alguma limitação física (acidente) e ter que passar a depender de alguém para executar seus cuidados de higiene e alimentação; no indivíduo doente, a doença interfere diretamente nos projetos exigindo urna nova ressignificação da vida. Casos de suicídio na família e histórico de transtorno de humor e depressão que não seguem um tratamento adequado também são importantes.
Nunca desconsidere um pedido de ajuda, urna fala suicida, esse pode ser o primeiro indício de que algo mais sério está sendo planejado. Precisamos estar atentos às mudanças de comportamento e estar dispostos a conversar sobre o assunto, porque um pedido de socorro pode vir de várias maneiras, corno com a perda do interesse sobre os objetos pessoais e a vontade de começar a doá-los; vontade urgente de sair de um lugar, sem uma explicação clara; mudanças repentinas de comportamento; sair de uma longa crise de ansiedade e permanecer em calmaria pode ser um sinal de alerta; começar a ter comportamentos autodestrutivos como abuso de bebida alcoólica e drogas, automutilação e isolamento social e familiar também podem ser sinais importantes para o suicídio.
RETORNO DA ALEGRIA DE VIVER
A depressão é uma doença e necessita de acompanhamento médico adequado. Pois há um desequilíbrio químico que precisa ser ‘corrigido’, por isso que a medicação se faz necessária, pois lenta e gradativamente vai diminuindo os sintomas físicos, que impedem que pessoa possa seguir sua vida.
Há uma necessidade muito grande, um apelo ao significado da vida que pode ser reforçado com a inclusão dessas pessoas em um ambiente que estimule e incentive o convívio social, como os movimentos religiosos que proporcionem um aumento dos laços afetivos, desenvolvendo uma percepção mais otimista.
Num processo psicoterapêutico, podemos trabalhar as frustrações, ajudar a identificar as situações disfuncionais que levam as pessoas a desistir, pois com a depressão, a pessoa tende a se fechar cada vez mais em seu mundo, recluso em seu quarto, escuro e vazio.
É preciso estar atento para esse regate urgente dos sentimentos, acolhendo, identificando e incentivando o valor da vida. Com uma boa autoestima é possível mudar a forma de lidar com as pessoas, com os problemas, com a vida em si. Uma vez mais confiante, ela saberá se colocar, não terá medo de falar sobre qualquer assunto que precisar.
Reencontrar o significado da vida e reescrever a história oferece ao indivíduo um poder maior sobre si. E o principal: pedir ajuda é sempre o primeiro passo para mudar a vida!
Estudos verificaram que o luto por suicídio difere de outros tipos de luto pela sua duração, intensidade, temática expressa pelos sobreviventes, processos sociais que os circundam, impacto que tem no sistema familiar, aumento de sintomas depressivos e possui elevados sentimentos de responsabilidade e rejeição, maior dificuldade em dar sentido à morte, reações de luto mais elevadas e um aumento do risco de automutilação, ideação e tentativas de suicídio.
DOENÇAS ASSOCIADAS
Cada vez mais a Ciência mostra que a doença está relacionada a problemas como baixa imunidade, alterações dos batimentos cardíacos e acúmulo de placas de gordura no sangue. Ou seja, a depressão é também um fator de risco a doenças como as cardíacas, incluindo infarto e aterosclerose
SINAIS DA DEPRESSÃO
Um sentimento de tristeza profunda que persiste por mais de duas semanas fazendo com que a pessoa comece a apresentar uma maior necessidade de esforço para realizar uma tarefa que antes era fácil.
Atividades que antes eram prazerosas passam a ter menos valor ou significado. Surgem sentimentos de medo, insegurança, um vazio emocional que não se consegue explicar e o sentido de preservar a vida começa a diminuir.
Muitas pessoas evitam falar sobre seus sentimentos, suas dores como se isso as tornasse mais fracas e impotentes diante da vida. Vivem se justificando para não tomar contato com a dor emocional.
Não aceitam que elas também podem estar passando por dificuldades e que perderam o controle sobre seus sentimentos e sobre seus pensamentos. Começam então a sucumbir, física e emocionalmente como se tudo que a cercou por toda a vida perdesse o brilho e, a confiança antes inesgotável, agora se perde como poeira ao vento.
Depois de celebridades desbravarem a trilha para a adoção na África, cada vez mais brasileiros partem para lá em busca de um processo mais rápido e menos burocrático
Apaixonados pela África, os gaúchos Deisi e Fernando Scherer embarcaram em 2016 para sua segunda viagem ao continente. A intenção era passar um mês trabalhando em um projeto social no sul da Guiné-Bissau, ela usando sua experiência de professora e ele, funcionário de uma fábrica, ajudando no que fosse preciso. Acampado em aldeias paupérrimas, sem energia elétrica nem saneamento, o casal sentiu sua vida mudar quando deparou com Abel, 5 anos e carinha fechada. Os missionários locais disseram que o menino, com sintomas de malária, estava sempre amuado e falava muito pouco. Com os Scherer, ele se abriu. “Em poucos dias, estava todo à vontade no colo da gente. De repente, soltou para o Fernando, em kriol, o dialeto local: ‘Queria que você fosse meu pai'”, lembra Deisi, emocionada. Há um ano na fila de adoção no Brasil e com planos de engravidar logo, eles ficaram sabendo que a família estava disposta a abrir mão do garoto e resolveram adotá-lo. Hoje, Deisi e Fernando, ambos de 36 anos, são pais de Abel e da irmã dele, Dja, 7, de quem obtiveram a guarda em 2019.
Os Scherer engrossam as estatísticas de um fenômeno recente no país: a adoção de crianças nascidas na África. De praticamente zero, o número de africanos adotados no Brasil alcançou 51 desde 2016, e a procura só sobe. São dois os motivos principais que levam as pessoas a cruzar o oceano para aumentar a prole no continente onde se localizam 26 dos trinta países mais pobres do mundo.
Além da especial afeição de muitos brasileiros pela África, o processo lá é rápido e, com pouca burocracia, leva em média entre quatro e oito meses – aqui, quem busca um bebê branco pode ficar na fila por seis, sete, oito anos. “A maioria dessas adoções é um plano B. Poderiam ter acontecido no Brasil, se a dificuldade fosse menor”, diz o advogado Rafael Lima, especializado em adoções internacionais. Os primeiros a espalhar a novidade por aqui foram o ator Bruno Gagliasso e a apresentadora Giovanna Ewbank, ao aparecer, em 2016, com a filhinha Cbissomo, a Títi, então com 3 anos, nascida no Malaui. Três anos depois, adotaram Bless, 4, no mesmo país, e agora aumentaram a família com o primeiro filho biológico, Zyan, 1.
Fora do Brasil não faltam anônimos e famosos que, na hora de expandir a prole, procuram a África. Dos seis filhos de Angelina Jolie, Zahara, 17 anos, nasceu na Etiópia (e a atriz escolheu a Namíbia para ter a filha biológica Shiloh, 15). Madonna adotou quatro crianças no Malaui – um dos destinos mais frequentados por potenciais pais brasileiros, ao lado de Guiné-Bissau, Moçambique e Serra Leoa. Embora facilitado, o processo não é barato: entre documentação, advogados, passagens e hospedagem, estima-se gasto de 50.000 a 100.000 reais.
No caso de Deisi e Fernando Scherer, a família ajudou financeiramente quando assumiram Abel e, para trazer Dja, fizeram uma vaquinha virtual. A adoção de Betha, 4 anos, também raspou as economias do biomédico Carlos Ranniere, 45 anos, e da farmacêutica Lara Godoi, 44, de Belo Horizonte. “Foi um choque quando pisamos na África”, lembra Ranniere, que viajou duas vezes a Lilongwe, capital do Malaui, em 2019. “Ao mesmo tempo em que há uma pobreza extrema, a diária de um hotel pode custar 1.000 dólares. Ficamos em uma pensão. “O casal, que tem um filho biológico de 9 anos, optou pela via internacional após Lara sofrer três abortos e temer que o processo aqui se arrastasse indefinidamente. Existem no Brasil em torno de 32.000 pessoas habilitadas e cerca de 3. 000 menores aptos para adoção. “O problema é que a maioria das crianças está fora da idade preferencial, falta pessoal para agilizar os processos e alguns menores acabam crescendo nos abrigos”, diz o presidente da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção, Paulo Sérgio dos Santos.
Na África, os candidatos a pais, casados ou solteiros, costumam interagir com as crianças nos abrigos até encontrar aquela com quem mais se identificam. A audiência de adoção acontece alguns meses depois, com a família interessada presente, e, se aprovada, os novos pais já saem de lá com a guarda definitiva. No entanto, como alguns países africanos não são signatários da Convenção de Haia, que assegura vários direitos dos menores, a criança viaja como turista e a adoção só é definitivamente válida depois de homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. Os laços com a terra natal em geral não são rompidos, até porque os pais adotivos são incentivados a conhecer e manter contato com a família africana. “Prometi ao pai da Lara que ela se formaria e ele respondeu: ‘Se ela tiver três refeições por dia já estou feliz”, lembra o psicólogo Daniel Simões, que junto da mulher, a instrutora de educação física Aline, ambos de 48 anos, adotou a menina na Guiné Bissau, em 2018. Além de Lara, hoje com 5 anos, o casal, morador do interior de São Paulo, tem Elisa, de 7, adotada bebê no Brasil após oito anos na fila. A cor de Lara, explica o pai, jamais foi levada em conta pelo casal, mas ele admite certa preocupação com a reação dos outros. “Vivemos em um país de brancos onde ainda há muito preconceito”, diz.
As diferenças culturais e, em alguns casos, o idioma são, de fato, barreiras que precisam ser vencidas. “Ficamos grudadas desde que nos vimos e nos comunicávamos por gestos, olhares e sorrisos”, lembra a engenheira Luciana de Paiva Paula, 33 anos, que conheceu Olga, então com 4, em uma expedição humanitária a Moçambique, em 2018. Embora lá se fale português, a menina, órfã de mãe e criada pela bisavó, só conhecia a língua macua. Como boa parte das pessoas que adotam na África, Luciana, mãe-solo no Espírito Santo, ouviu críticas pela opção, havendo tantos menores abandonados no Brasil. Sua resposta é irrefutável: “Não importa onde a Olga nasceu. O amor não tem fronteiras”. Não será um oceano que impedirá o encontro de pais sem filhos com filhos que querem pais.
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará (Salmos 23.1).
Jesus é chamado no Novo Testamento de o bom pastor, o grande pastor e o supremo pastor. Como bom pastor, ele deu a vida pelas ovelhas; como grande pastor, ele vive para as ovelhas; e, como supremo pastor, ele voltará para suas ovelhas. Providencialmente três salmos retratam essas três ênfases. No Salmo 22, Jesus é apresentado como o bom pastor que deu sua vida pelas ovelhas. No Salmo 23, Jesus é descrito como o grande pastor que vive para as ovelhas. Já no Salmo 24, Jesus é o grande pastor que voltará para suas ovelhas. Pela sua morte, Jesus nos salvou. Pela sua vida, Jesus nos fortalece. Pela sua segunda vinda, ele nos glorificará. Em Jesus temos provisão completa nesta vida e na vindoura. Ele foi ao mesmo tempo o Cordeiro que tira o pecado do mundo e o pastor que dá a vida pelas ovelhas. Ele é ao mesmo tempo o Deus transcendente que nem o céu dos céus pode conter e o Deus Emanuel que encarnou e está conosco todos os dias. Ele é ao mesmo tempo o servo que se humilhou até a morte, e morte de cruz, e o Rei dos reis, exaltado acima de todo nome, tanto neste século como no vindouro. Em Jesus, temos descanso e paz, proteção e vitória, companhia nesta vida e bem-aventurança eterna na vida por vir.
À medida que as pautas de Diversidade vão avançando dentro das organizações, é necessário adotar a liderança inclusiva. E como está a sua?
De acordo com a revista Forbes, neste momento de mudanças rápidas e inesperadas é importante adotar um estilo de liderança inclusivo que promova o sucesso da equipe. Neste modelo, todos os integrantes se sentem valorizados e trazem o pertencimento, além de perceberem que são tratados de forma justa, respeitosa, e se sentem confiantes, inspirados e apoiados.
Além disso, equipes com líderes inclusivos são colaborativas, tomam decisões assertivas e têm melhor desempenho que equipes que não contam com esse perfil de líder. E quais são as características e comportamentos que devemos adotar para já colocar em prática este estilo de liderança?
Antes de tudo, se você é líder, é necessário tirar uma fotografia do seu time atual e analisar como está a diversidade na sua equipe. Feito isso, como está o seu estilo de liderança? A mudança é uma jornada de conscientização e transformação.
O primeiro passo para a mudança é que os líderes sejam empáticos, flexíveis e abertos, que são as principais chaves para a conquista desse estilo de liderança. De acordo com a publicação The Six Signature Traits of lnclusive Leadership, da Deloitte, é necessário adotar algumas estratégias. São elas:
COMPROMISSO COM A DIVERSIDADE: líderes comprometidos trazem isso como prioridade pessoal e acreditam que há conexão do tema com o negócio no qual estão inseridos
RESILIÊNCIA: é a capacidade de adaptar-se às mudanças. Bons líderes desafiam-se constantemente, sendo abertos para falar de suas forças e fraquezas
COMPREENSÃO DOS VIESSES INCONSCIENTES: todo ser humano possui vieses inconscientes e é importante estar atento para que façamos a correção sempre que eles aparecerem
PERMITE-SE CONHECER: é necessário ter a curiosidade de entender, ver e experimentar o mundo sob outras perspectivas
AMPLIAÇÃO CULTURAL: ter confiança nas interações interculturais e globais, permitindo uma abertura no conhecimento e adaptação em relação ao que é diferente do seu “meio”.
COLABORAÇÃO: equipes colaborativas, alavancam o pensamento diverso, capacitam pessoas e promovem senso de pertencimento.
E com relação a nós mesmos, como adotar a prática diária da liderança inclusiva?
I – AUTOCONHECIMENTO: é fundamental neste processo, pois, antes de acolher os outros, é necessário acolher a nós mesmos
II – AUTENTICIDADE: o líder precisa trazer verdade na sua mensagem. Com isso, equipes sentem segurança e tranquilidade.
III – RESPEITO: cada ser humano reage às condições da vida de forma diferente. Respeite o tempo deles, pois todos estão em processo de adaptação.
IV – EMPATIA É A CHAVE: em cenário de pandemia, que ainda estamos vivendo, é importante entender que cada ser humano é único e possui necessidades e situações diferentes para administrar.
Caso sinta-se desconfortável ou até mesmo sem saber como seguir essa linha de liderança, faça benchmarking com outras empresas que já tenham essa prática ou, ainda, um resultado que possa ser compartilhado para desenvolver dentro da sua empresa.
E se precisar de um profissional que o oriente nesta jornada, pode me procurar nas redes sociais.
E vamos juntos buscar esta transformação!
DANIELA AVELINO – é especialista em diversidade e inclusão, LinkedIn top voice e mentora de marca pessoal e estrategista digital in: www.linkedin.com/in/danieleavelino
Pesquei sem querer um diálogo entre minha filha e uma amiga dela, ambas com 13 anos. “Eu quero casar quando tiver uns 23.” “Ah, muito cedo, antes quero viajar pelo mundo. Vou casar com 28.”
Não me admiro, porque quando eu tinha a idade delas também havia este tipo de papo, quero-casar-com-tantos-anos. E a faixa não variou muito, apenas se estendeu um pouco. Até hoje, entre os 25 e 35, toda mulher quer estar bem encaminhada no amor. Se até os 35 não rolou nada de sério, salve-se quem puder, porque tem o tal do relógio biológico e seu tic-tac macabro.
Estou falando, naturalmente, das mulheres de Neanderthal, como eu. Mulheres modernas nem pensam nisso, casam uma vez por ano, tatuam o nome de todos os namorados pelo corpo, tudo é pra sempre, tudo já foi, passado e futuro são agora. Um, dois e já, marido novo, é enlaçar e correr pra capa da Caras.
Mas voltemos à idade das cavernas (o mundo de hoje comporta todos os períodos), em que algumas mulheres ainda planejam ter um marido pra vida inteira, filhos, um lar estável, essas coisas consideradas pré-históricas. Pois bem. Ela quer casar. E não está a fim de esperar pelo grande amor, pois ele sempre chega adiantado ou atrasado demais. Vá que ele apareça quando ela tiver 18. Nem pensar, ela recém entrou na faculdade e ainda quer beijar todas as bocas que cruzarem a sua frente. E se o grande amor resolver pintar quando ela estiver beirando os 50? Nem pensar também, ela vai ficar se distraindo com o que até lá? Ele tem que chegar na hora combinada: entre os 25 e 35 anos. Ei, grande amor, agende-se! Senão o pequeno amor vai ficar com o prêmio.
E lá vai o casal para o altar: a neanderthal adestrada pra casar e o pequeno amor promovido a grande amor porque chegou pontualmente. Como é que acaba essa história? Na maioria das vezes, acabando.
Não é uma visão muito romântica dos casamentos, mas, infelizmente, realista. Mulheres que foram educadas pra casar não lidam bem com esta história de “se tiver que acontecer, acontecerá”. Nada disso, é imprudência entregar assunto tão sério pro destino. Então, ao entrar numa idade em que acreditam estar aptas a formar família, passam a ser mais condescendentes com o namorado em vigência, e ele pode ser alçado a marido apenas por estar no lugar certo, na hora certa.
Melhor seria se não fôssemos educadas para casar, e sim para ser feliz. Melhor seria se a gente não se preocupasse em seguir scripts preestabelecidos, melhor seria dar uma banana para as convenções e obedecer apenas aos sentimentos. Mas o que fazer com a vontade de ter filhos? O que fazer com toda a experiência adquirida na infância, quando brincávamos de casinha?
VENDIDO COMO ‘SUPERALIMENTO’, ÓLEO DE COCO FAZ MAL PARA O CORAÇÃO
Ingrediente eleva níveis do colesterol “ruim” que danifica as artérias e deve ser ingerido com moderação, afirmam cientistas
O óleo de coco é amplamente divulgado como um alimento milagroso. Os defensores, incluindo uma série de celebridades, afirmam que ele promove a perda de peso, reduz a pressão arterial e a glicose no sangue, protege contra doenças cardíacas, aumenta a energia, diminui as rugas e até combate a doença de Alzheimer. Além disso, o gosto é ótimo, então o que poderia dar errado?
“Quando vejo um produto com uma longa lista de benefícios, sei que não pode ser verdade. O óleo de coco adquiriu uma fama de superalimento saudável e muitas pessoas acreditam que é real. Elas são culpadas por esse pensamento de que é um produto mágico, mas precisam parar e pensar: “Eles estão tentando me vender alguma coisa”. Uma pesquisa realizada em 2016 descobriu que 72% dos americanos viam o óleo de coco como um alimento saudável”, diz Marion Nestle, especialista em nutrição e política alimentar da Universidade de Nova York.
É preciso abolir o óleo de coco de uma categoria que ele não merece estar, segundo as evidências científicas, e dar aos consumidores a chance de usar o dinheiro que gastam nesse produto para investir em alimentos que podem realmente melhorar a saúde. Espero que os indicadores abaixo o convençam de colocar o óleo de coco no mesmo grupo que o sorvete – um deleite ocasional ingerido em quantidades modestas porque você gosta de seu sabor e textura. Primeiramente, vamos examinar o óleo de coco. Ele não é realmente um óleo, pelo menos não em temperatura ambiente para a maioria das pessoas que vivem no Hemisfério Norte. É mais como uma manteiga ou gordura de carne sólida quando está fria. Essa é a primeira pista para o fato de que, ao contrário da maioria dos outros óleos derivados de plantas, que contêm principalmente ácidos graxos insaturados, o óleo de coco é uma gordura altamente saturada, com 87% de saturação, muito maior que a da manteiga (63%) ou a gordura da carne (40%}.
Vale ressaltar que a maioria dos especialistas recomendam limitar as gorduras saturadas, porque elas podem aumentar os níveis de colesterol no sangue e levar ao entupimento das artérias.
O óleo de coco também não é um alimento dietético. Como outros óleos vegetais, uma colher de sopa de óleo de coco fornece 117 calorias, 15 a mais do que uma colher de manteiga.
DOENÇAS CARDÍACAS
Talvez você já tenha ouvido que o ácido graxo primário do óleo de coco, chamado ácido láurico, não age como uma gordura saturada no corpo, mas isso não é verdade. Sua ação imita a do sebo bovino e da manteiga, os quais podem promover doenças cardíacas como a arteriosclerose, a principal causa de morte nos EUA.
Para entender melhor como o óleo de coco se comporta quando ingerido, consultei Frank Sacks, especialista em nutrição e doenças cardiovasculares da Escola T. H. Chan de Saúde Pública da Universidade de Harvard, e Phillip Greenland, professor de cardiologia na Escola de Medicina Feinberg da Universidade de Northwestern, em Chicago.
“Já se sabe há muito tempo que o óleo de coco aumenta os níveis sanguíneos de colesterol LDL, que danifica as artérias, mas as pesquisas mais recentes ressaltaram essas evidências. Ao preparar um editorial publicado na revista Circulation, não encontrei nada na literatura científica para apoiar as alegações publicitárias de que o óleo de coco tem efeitos benéficos”, afirma Sacks.
Ainda de acordo com o especialista, embora o ácido láurico seja geralmente referido como um ácido graxo de cadeia média, esse rótulo é equivocado.
“Em vez do número de átomos de carbono em uma gordura, o que conta é como a gordura é metabolizada no corpo. O ácido láurico se comporta como um ácido graxo de cadeia longa, o tipo que promove a arteriosclerose. Além disso, o óleo de coco tem dois outros ácidos graxos de cadeia longa (mirístico e palmítico) e todos os três têm um efeito prejudicial às artérias nos níveis de colesterol no sangue”, descreve Sacks.
Uma informação do óleo de coco é indiscutível: ele pode aumentar os níveis sanguíneos de colesterol MDL, que há muito tempo acreditam que protege contra doenças cardíacas. No entanto, nenhum benefício claro do colesterol HDL para a saúde foi comprovado.
“Estudos genéticos e drogas que aumentam o HDL ainda não apontaram uma relação causal entre ele e as doenças cardiovasculares. O HDL é composto por uma enorme variedade de subpartículas que podem ter ações adversas ou benéficas, se ,houver, não se sabe quais alimentos ou nutrientes que aumentam o colesterol HDL e o fazem de maneira a reduzir a arteriosclerose”, explica Sacks.
POVOS INDÍGENAS
As pessoas que acreditam nos benefícios do óleo de coco também gostam de citar o fato de que várias populações indígenas – incluindo polinésios, melanésios, cingaleses e indianos – consomem grandes quantidades de produtos de coco sem sofrer altas taxas de doenças cardiovasculares. No entanto, a maioria dessas pessoas tradicionalmente comem a polpa de coco ou creme de coco espremido como parte de uma dieta pobre em alimentos processados e rica em frutas e vegetais, tendo o peixe como principal fonte de proteína. Eles também são muito mais ativos fisicamente do que os ocidentais típicos.
Mesmo que isso esteja mudando agora, uma equipe de pesquisa da Nova Zelândia relatou que com as importações de alimentos, não saudáveis, como carne enlatada, fast food e ingredientes processados, houve um aumento nos casos de obesidade e de pessoas com problemas de saúde.
A equipe revisou 21 estudos sobre o consumo de óleo de coco e chegou à conclusão de que consumir produtos derivados da fruta que contém fibras, como polpa e farinha, em uma dieta rica em gorduras poli insaturadas e ausente em calorias excessivas de carboidratos refinados, não representaria um risco de problemas cardíacos. Mas os pesquisadores não encontraram evidências que pudessem justificar a substituição do óleo de coco por outros óleos vegetais insaturados.
“Se você gosta do sabor, em quantidades limitadas, tudo bem, mas não é de forma alguma um superalimento. No entanto, se você quiser usar óleo de coco no cabelo ou na pele, não há problema”, aconselha Nestle.
Apesar de ser um evento motivado por uma complexa rede de fatores, elas precisam saber a verdade, sob pena de inventar sua própria história sobre o que ocorreu, o que pode desencadear isolamento e medo.
O suicídio é o evento final de uma complexa rede de fatores, sendo então um fenômeno multifatorial, em que fatores biológicos, psiquiátricos, psicológicos, sociais, econômicos e culturais têm influência nesse comportamento. A depressão é um dos maiores fatores associados ao suicídio: estima-se que 90% das pessoas que morrem pelo suicídio estavam com depressão, muitas vezes não diagnosticada. O desespero, desamparo, desesperança são sentimentos comumente encontrados em quem comete o suicídio, de acordo com a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde). Não necessariamente a pessoa com comportamento suicida quer morrer, na maioria das vezes ela vê o suicídio como solução para um problema que, em seu entendimento é intolerável, inescapável e interminável.
Estima-se que pelo menos 5 a 10 pessoas são extremamente impactadas pelo suicídio de alguém, ou seja, por ano no Brasil temos em média 70 mil pessoas sofrendo pelo suicídio, sendo muitas delas crianças.
O IMPACTO
Chamamos de “sobrevivente” qualquer pessoa que tenha sido impactada por essa morte e que é deixada para trás para lidar e dar sentido ao que aconteceu. Os sobreviventes podem ser os familiares, amigos, colegas de trabalho e até o policial que achou o corpo.
Estudos verificaram que o luto por suicídio difere de outros tipos de luto pela sua duração, intensidade, temática expressa pelos sobreviventes, processos sociais que os circundam, impacto que tem no sistema familiar, aumento de sintomas depressivos e possui elevados sentimentos de responsabilidade e rejeição, vergonha, estigma, maior dificuldade em dar sentido à morte, reações de luto mais elevadas e um aumento do risco de automutilação, ideação e tentativas de suicídio.
Os impactos psicológicos mais comuns do luto por suicídio incluem um risco aumentado para transtornos de ansiedade, de humor, especialmente a depressão, luto traumático, problemas de sono, transtorno do estresse pós-traumático, anedonia, sentimento de profunda fragilidade, confusão, desespero, raiva, perda do sentido de vida e sensação de abandono. As crianças tendem a lidar com os mesmos impactos psicológicos dos adultos, porém podem demonstrar e experienciar de forma diferente devido a diferença de maturidade e desenvolvimento. Também podem ter sentimentos de menos-valia, como se elas não tivessem sido importantes o suficiente para a pessoa não se matar juntamente com o medo de perder outra pessoa.
Mesmo o suicídio sendo um ato individual e solitário, pode ser considerado como o tipo de morte mais dolorida para as famílias lidarem.
Para isso, atividades de pósvenção são necessárias. A pósvenção foi criada por Schneidman em 1973 e se refere a qualquer intervenção feita após o suicídio de alguém, com o objetivo de ajudar os sobreviventes a viverem mais e melhor do que se não tivessem esse auxílio. Neste caso, a pósvenção é também prevenção do suicídio para futuras gerações.
Os fatores que podem influenciar o luto são a relação com a pessoa que morreu, dinâmica familiar antes do suicídio, o suporte pessoal, social e o tipo de morte, além de estratégias de enfrentamento destrutivas, esconder a dor, negar os sentimentos trazidos pela morte, culpar membros da família pelo suicídio, desenvolver comportamentos de vício (álcool/ drogas), ter segredos / esconder os meios da morte (OMS) .
Cada enlutado reage de uma forma, cada um tem o seu jeito de lidar com o luto. Tem pessoas que choram mais, tem pessoas que sentem muita raiva, e cada um precisa aprender a entender, respeitar e lidar com o seu jeito e o do outro de enlutar.
E AGORA?
Os adultos, além de lidarem com a perda, ainda precisam encontrar forças para conversar com a criança, explicar para ela o que aconteceu e dar suporte e acolhimento nesse processo. Para muitos, esse foi o momento mais difícil após saber do suicídio.
Uma reação muito comum é dos pais quererem proteger a criança, e para não deixá-la ainda mais triste e confusa, não falarem que a morte foi por suicídio. A questão é que as crianças precisam saber a verdade. Assim podem lidar com a realidade, pois caso isso não aconteça, criança tende a inventar a sua própria história para o que aconteceu e isso pode levar a um isolamento, confusão e medo.
Depoimentos de crianças e adultos mostram que os que não sabiam, percebiam que havia algo de estranho no ar, os que descobriam sozinhos, por outras pessoas ou depois de muito tempo, se sentiram sozinhos e enganados, pois além de lidarem com a morte, precisam lidar com a mentira e o impacto do suicídio depois.
Dar um tempo ou não falar sobre o assunto não resolve a questão, pois o luto pode ser atravessado quando se dá sentido a ele, dando significado ao que está sendo e ao que foi vivido. Ao gerar um segredo ou tabu familiar, a criança aprende que não se pode falar sobre a morte e muito menos sobre o suicídio, a família acaba – mesmo que com a intenção de proteger – aumentando o tabu em torno desse assunto. Se nem em casa o assunto for permitido, ela vai buscar informações em outras fontes menos confiáveis e o preconceito só aumenta.
O QUE FAZER?
Essa pseudoproteção pode gera insegurança e até uma sensação de enlouquecimento, pois a criança é muito sensível ao ambiente e muitas vezes percebe que há algo diferente e estranho, que ela não consegue entender ou nomear, mas que não é confirmado pela família, através do segredo que foi estabelecido. Elas também podem achar que o suicídio é algo que se deve ter vergonha, por isso teve que ser escondido, traz um juízo de valor sobre alguém que era amado pela criança e pode gerar confusão, desconfiança e culpa. Ao invés de ajudar, pode afastar.
Poder falar sobre o suicídio em casa ajuda muito a criança e leva a família, os amigos e a sociedade a quebrar tabus e lidar com o problema abertamente.
É importante que cada família encontre o seu jeito, a sua forma de lidar com a questão, levando em consideração a personalidade e idade de cada membro. Não há certo ou errado, há o jeito de cada um.
A primeira coisa é se preparar, levá-la em um lugar calmo e tranquilo, com tempo e paciência, para poder fazer o acolhimento e ter privacidade. Você pode pedir para alguém significativo acompanhar a conversa. No caso da criança ter achado e/ou visto o corpo, essa conversa é mais urgente.
Você pode dizer para ela que vocês vão falar de algo triste e que tudo bem se ela quiser chorar. Muitas vezes é preciso explicar primeiro o que é a morte, já que muitas crianças não passaram pela morte de alguém querido, pode ser que um avô ou um pet tenha morrido e, nesses casos, pode ser que seja mais fácil de ela entender. Dizer que a pessoa foi viajar, foi descansar, está dormindo etc. pode confundir e deixar a criança ainda mais ansiosa. Não tenha medo de usar a palavra morte, isso explica o acontecido e não deixa margem para interpretações.
Ao gerar um segredo familiar, a criança aprende que não se pode falar sobre a morte e muito menos sobre o suicídio, a família acaba – mesmo que com a intenção de proteger – aumentando o tabu em torno desse assunto.
Caso já tenha sido falado para a criança sobre outra causa de morte, nunca é tarde para rever essa questão. Acolha e espere as perguntas que a criança pode ter. Responda todas as perguntas e seja franco nas respostas, mesmo as mais difíceis. Caso você não saiba o que falar, diga simplesmente, não sei.
Ao mostrar a realidade para a criança, ela tem a oportunidade de lidar com a verdade, de confiar e contar genuinamente com os outros, mesmo com as dificuldades que possam surgir, de ter suporte para viver esse luto e receber acolhimento aos seus medos e fantasias. Pode ajudar no seu desenvolvimento e amadurecimento ao incluí-la, ao poder conversar abertamente sobre o que aconteceu, como ela está se sentindo e como serão as coisas dali para frente.
RITUAIS DE PASSAGEM
Respeite a decisão da criança de ir ou não ao velório, porém explique para ela para que serve. Caso ela vá, é importante que alguém conte para ela o que vai acontecer, onde, o que vai ver, como estarão as pessoas, o que terá na sala, como estará a pessoa que morreu.
Assegure-se de que terá alguém com ela o tempo todo. Caso ela prefira não participar, eleja uma pessoa de confiança para ficar com ela e tente preparar uma cerimônia de despedida, para marcar essa passagem, pode ser em casa mesmo, com cada um falando algo que mais gostava de quem morreu, pode ser plantando uma árvore, acendendo uma vela.
Caso a criança queira fazer algo de especial nos rituais, ela deve ser incluída e auxiliada.
Muitas vezes no velório tem muitas pessoas que a criança não conhece, não a obrigue a receber abraços de quem ela não queira. Durante as cerimônias, confirme que haja uma mensagem de conforto e acolhimento e não de julgamento e preconceito. A criança precisa saber quais sentimentos ela tem, e entender que é normal sentir tristeza, ansiedade, medo, de ter vontade de chorar, sentir raiva, mas que depois de um tempo ela vai começar a se sentir melhor e que não será assim para sempre.
Você pode até falar o que ela PODE sentir, no sentido de possibilidades, mas não deve falar como ela DEVE se sentir, no sentido de obrigação. Outras possibilidades são: que a criança regrida ou então haja uma hipermaturidade; altere o humor; tenha dificuldade de dormir e tenha pesadelos; queira dormir com um adulto; mude seus hábitos alimentares; tenha desinteresse na escola ou não queira ir para a escola; queria ficar um pouco quieta e sozinha; não queira conversar muito sobre a morte; expresse raiva ou medo; expresse agressividade com os seus brinquedos; tenha medo que o outro adulto ou outras pessoas vão morrer; questione “Deus”; que a criança “imite”, encene a morte com os seus brinquedos. Esse é um jeito saudável de dar significado à experiência.
A diferença entre o que é “esperado” no luto e quando é hora de buscar ajuda, tem a ver com a intensidade e duração dessas mudanças de comportamento. Vale lembrar que, caso o adulto esteja preocupado e percebendo que um auxílio extra é necessário, ele não precisa esperar esses comportamentos para procurar um psicólogo, psicopedagogo ou alguém de confiança. Se possível envolver a criança nessa decisão.
A psicoterapia pode facilitar o diálogo, o contato; ajudar a criança descobrir seu jeito único de lidar com a frustração, a tristeza, a saudade; proporciona um lugar neutro onde ela possa reconhecer e expressar sentimentos difíceis de lidar, como a raiva e a culpa; observa se a criança está com algum transtorno de humor que necessite de mais atenção e cuidados psiquiátricos; ajuda a criança e a família a dar sentido a experiência que está sendo vivida e a passar por ela.
O suicídio traz consigo um trauma emocional inevitável, porém muitas crianças podem lidar bem com o luto, principalmente se acompanhadas e cuidadas. Elas podem enlutar por períodos mais curtos e voltar as atividades mais rapidamente. Muitas vezes os impactos vão aparecer depois de um longo tempo, por isso um acompanhamento a longo termo pode ser necessário.
O luto não é uma doença que precisa de tratamento, ele é um percurso, um caminho importante e necessário, que se torna mais suportável de percorrer e sobreviver se acompanhado e respeitado.
PROCESSO DO LUTO
Como cada criança é única e especial, é fundamental conversar com ela sobre o que ela acha que poderia ajudá-la. Além de falar a verdade, se mostrar disposto e aberto para conversar várias vezes sobre o mesmo assunto, partilhar sentimentos e oferecer conforto, incentivá-los a pedir ajuda, cuidar de si mesmo e dar um tempo para si, mesmo que precise pedir ajuda a outras pessoas para que isso aconteça, não esconder o seu luto, é normal chorar e ficar triste, avisar sempre que você vai sair e quando você vai voltar, é normal que as crianças fiquem com medo que o outro adulto também vá abandoná-las, conversar e planejar eventos futuros, inclui-la em decisões da família, dar um tempo do luto, com espaço para ela brincar e se divertir, ouvir sem julgamento, respeitar o jeito da criança enlutar, conversar na escola, avisar aos professores e desenvolver um plano de ajuda, oferecer conforto físico, segurança e tranquilidade, deixá-la brincar, divertir-se e fazer atividades físicas, guardar uma lembrança material da pessoa que morreu, encontrar crianças que passaram ou estão passando pelo luto por suicídio e se possível levá-la a grupos de suporte. O suicídio não é uma questão de certo ou errado, de coragem, fraqueza ou de falta de amor. Ele tem relação com o sofrimento e a falta de esperança. O suicídio não é uma punição ou castigo. É fundamental que seja ressaltado que “a culpa não foi da criança e não havia nada que ela pudesse ter feito que mudaria isso”. O suicídio NUNCA é culpa de alguém.
Sentir saudade também pode doer, porque queríamos que a pessoa estivesse conosco de novo.
O suicídio é parte da história, não é a história toda.
Um novo entendimento das alergias alimentares recomenda que, para evitar crises, as crianças sejam expostas a todos os alimentos entre 6 meses e 1 ano de idade
Alergias alimentares estão na lista dos pesadelos de qualquer pai ou mãe. Como em geral é muito difícil saber se os filhos têm predisposição para apresentar reações exacerbadas a algum nutriente, sempre houve o temor de que essas respostas aparecessem ao primeiro contato dos bebês com os alimentos. Por isso, durante muito tempo prevaleceu na medicina a orientação de que ingredientes sabidamente alérgenos deveriam ser incluídos na dieta infantil apenas depois da introdução de refeições sólidas e de forma bem espaçada. Uma safra recente de pesquisas mostra que a história é bem diferente: quanto mais cedo os alimentos forem oferecidos aos pequenos, menor o risco de eles apresentarem alergias, especialmente as severas.
Tradicionalmente, os ingredientes que mais causam reações em crianças e em adultos são leite de vaca, ovo, frutos do mar, peixes, amendoim, castanha, soja e trigo. A alergia acontece como resposta do corpo a compostos presentes nos alimentos que são classificados pelo sistema imunológico como prejudiciais ao organismo. O ataque das células de defesa faz disparar a produção de uma cascata de substâncias, entre elas a histamina, associada à inflamação. Em tese, tudo isso ocorre para proteger o corpo. Mas a resposta exagerada das defesas leva à progressão de um processo inflamatório extremamente danoso. Há graus na manifestação dos sintomas – de coceiras e erupções passageiras na pele à parada respiratória. As reações podem simplesmente passar com o tempo ou se prolongar pela vida adulta. Isso é bastante comum na alergia ao amendoim. Em geral, estima-se que cerca de 8% das crianças e 3% dos adultos apresentem crises alérgicas.
No tempo em que o processo alérgico era razoavelmente desconhecido pela ciência, havia uma regra de ouro: precaução. Ela ditava o afastamento das comidas que mais provocam reações indesejadas dos pratos das crianças até os 2, 3 anos. No entanto, descobriu-se que muitos dos sintomas interpretados como sendo de hipersensibilidade alimentar eram reflexos da imaturidade dos sistemas imunológico, nervoso e gastrintestinal dos bebês.
As recentes revelações são atalho para uma mudança comportamental no cotidiano das famílias. Prevenir a alergia continua sendo muito difícil, porém a exposição aos alimentos mais alérgenos entre 6 meses e 1 ano de vida baixa consideravelmente a possibilidade de sua ocorrência. “Descobrimos que não havia sustentação científica para a orientação anterior”, diz a médica Jackeline Motta Franco, coordenadora do Departamento de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). “Já não se deve retardar a apresentação dos alimentos para um ano depois do nascimento do bebê.” É, de fato, uma revolução.
Os resultados da mudança nas recomendações pelas sociedades científicas mundiais começam a surgir. Uma recente pesquisa feita por duas das mais reputadas instituições australianas de ciência para a nutrição demonstrou que a alteração nas diretrizes teve impacto decisivo na queda de casos de reações alérgicas alimentares graves em crianças. Segundo o estudo, publicado no periódico The Journal of Allergy and Clinical Immunology, na faixa de 1 a 4 anos, a taxa anual de aumento de internações por anafilaxia alimentar caiu de 17,6% ao ano entre 1999 e 2007 para 6,2% ao ano entre 2008 e 2015 e depois 3,9% ao ano desde 2016, quando se estabilizou. Entre 1999 e 2007, a orientação era evitar alimentos alergênicos na faixa de 1 a 3 anos. A partir de 2008, a indicação foi para não atrasar a introdução desses alimentos. Desde 2016, a orientação é oferecê-los com frequência e desde cedo para os bebês – e os resultados dessa nova postura começam a despontar.
No Brasil, ainda não há dados confiáveis sobre o impacto das transformações. Existe, no entanto, preocupação dos especialistas com diagnósticos excessivamente cuidadosos. As alergias são um problema, não há dúvida. Contudo, tratar como processo alérgico algo que não é representa risco à saúde. ”A restrição desnecessária leva a estigmas nutricionais, psicológicos e sociais”, diz a médica Renata Cocco, integrante do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai. O segredo, mais uma vez, está em acertar o diagnóstico para não incluir alimentos que provocam reações e tampouco tirar do prato a comida certa. Mas há um ponto em torno do qual parece não haver mais hesitação: os bebês não são tão frágeis assim. Eles podem comer mais do que imaginamos.
Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente (Salmos 16.11).
O homem é um ser sedento de alegria. Busca a felicidade a todo custo. Rios de dinheiro são gastos no sentido de proporcionar ao homem a felicidade. Alguns buscam a felicidade no dinheiro; outros a procuram na bebida; há aqueles que pensam que a felicidade está nos banquetes do mundo e nos prazeres da vida. Outros acreditam que a felicidade está no poder e na fama. A felicidade é um anseio legítimo. Fomos criados para a felicidade. O problema humano não é a busca da felicidade, mas o contentamento com uma felicidade pequena demais, terrena demais, passageira demais. Deus nos criou para a maior de todas as felicidades. A felicidade de conhecê-lo, fruí-lo e glorificá-lo. O rei Davi disse que é na presença de Deus que existe plenitude de alegria e à destra de Deus que há delícias perpetuamente. Os banquetes do mundo e os prazeres desta vida são como fontes rotas. São apenas miragens. Podem até oferecer uma noite de prazer, mas depois vem o desgosto. Podem até mostrar as taças transbordantes da aventura, mas depois trazem a culpa e o pesar. Podem até anestesiar a alma com o glamour do pecado, mas depois isso se torna um pesadelo nesta vida e um tormento na eternidade. Na presença de Deus, a alegria é pura e santa. Na presença de Deus, a alegria é plena e as delícias são perpétuas. Alegria maiúscula e superlativa você só encontra no banquete de Deus.
SEMANA DE QUATRO DIAS DE TRABALHO GANHA ESPAÇO EM PROL DO BEM-ESTAR
Empresas brasileiras alteram jornada sem mexer no salário e mantêm produtividade, mas transição requer planejamento
Você já teve a sensação de que precisava de mais horas no seu dia para dar conta de tudo? Afinal, além das responsabilidades do trabalho, precisa ir ao médico, fazer compras, estudar, ter uma vida social e ainda descansar. Trabalhar menos é uma coisa que todo mundo parece querer. E se você pudesse otimizar seu trabalho e como recompensa tivesse um dia a mais de descanso para se concentrar na sua vida pessoal?
A semana de trabalho de quatro dias é vista como uma tendência recente na Europa e está ganhando reflexos no Brasil. Empresas como ‘Winnin, AM lnovação e Crawly entenderam que, a partir da demanda dos funcionários, poderiam tentar adaptar a rotina de modo que não se perdesse produtividade, mas houvesse um ganho de bem-estar e satisfação entre os talentos.
Para isso, as startups otimizaram a comunicação, eliminaram reuniões improdutivas ou extensas demais e mantiveram as oito horas de trabalho diárias, sem redução de salário. O benefício transformou positivamente o dia a dia dos colaboradores e provou na prática que funcionários felizes produzem mais.
No primeiro semestre de 2021, por meio de uma pesquisa interna, os sócios da Winnin, uma marrech (startup de marketing) que utiliza a ciência de dados para compreender o mercado de influência digital, descobriram que o alto índice de estresse estava causando uma queda na felicidade dos seus colaboradores.
Eles estudaram diversas possibilidades para reverter o problema e chegaram à teoria dos quatro dias de trabalho por semana. Osdados analisados eram otimistas e eles decidiram arriscar.
EXPERIMENTO
“Juntamos a empresa toda e contamos que iríamos fazer um experimento social, mas era um segredo por que podia não dar certo”, conta Gian Martinez, cofundador e CEO da Winnin. O sucesso da iniciativa dependia de duas variáveis: o aumento da qualidade de vida e a manutenção ou a melhoria na produtividade dos colaboradores.
Planejar cada passo foi essencial para o sucesso do experimento. Gian conta que a ideia não era simplesmente tirar um dia útil da semana, mas pensar em como a equipe poderia trabalhar de forma mais inteligente e eficiente. “Se a gente simplesmente tivesse tirado o dia sem ter pensado nessas questões, com toda a certeza isso teria dado errado.”
O teste foi estendido para três meses e, depois, para seis meses. Os resultados foram animadores: 40% dos colaboradores perceberam um aumento na atenção dada às suas saúdes mental e física em relação ao período anterior ao experimento. “Tivemos de pensar em como podíamos treinar a empresa a trabalhar de forma mais produtiva e, como consequência, ganhamos um dia a mais de descanso, sem culpa”, conta Gian.
WHATSAPP COMEDIDO
Em janeiro deste ano, a AAA Inovação – consultoria com foco em tecnologia e inovação – também decidiu reduzir os dias da semana na jornada de trabalho. Sua versão da semana de quatro dias incluiu a sexta-feira como o ”AAA Reser Day”, dia específico para os funcionários fazerem cursos, participarem de eventos ou simplesmente descansarem.
Com mais tempo para relaxar a mente, os gestores viram uma melhora no equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos colaboradores e um aumento na criatividade das equipes. “A gente se tornou muito mais eficiente, muito mais criativa e também conseguiu melhorar a qualidade da entrega”, afirma Juan Pablo Boeira, CEO da startup.
Horas e mais horas gastas em reuniões desnecessárias e comunicações constantes via WhatsApp, em que o funcionário é “encontrado” mesmo fora do horário de trabalho, também foram abolidas. Para diminuir os dias de trabalho e ainda conseguir manter a produtividade em dia, foi necessário transformar todos os setores da empresa e torná-los mais ágeis. Como resultado, os colaboradores ficaram mais felizes e conseguiram se dedicar ao trabalho sem tantas distrações, explica Juan.
No caso da empresa Crawly, o funcionário Pedro Maximino folga às sextas-feiras desde que entrou na empresa, há seis meses. A startup trabalha com o final de semana de três dias desde 2018 e é uma das precursoras da jornada no País.
Para o analista de marketing, apesar do estranhamento inicial, a adaptação a esse novo modelo foi rápida. ”Com quatro dias de trabalho, a gente tem de ter uma proatividade muito maior. É aprender a fazer mais em menos tempo.”
NEUROCIÊNCIA
A ideia de diminuir os dias trabalhados pode parecer radical para algumas pessoas ou um verdadeiro “sonho” para outras, mas o fato é que, segundo especialistas, longos dias e horas de trabalho não nos tornam mais produtivos. A produtividade é um fenômeno complexo, explica Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da consultoria Nêmesis. Ela envolve, conta Gameiro, diversos fatores como motivação, instinto de sobrevivência, engajamento, hidratação, boa alimentação e descanso. Nosso cérebro cansa e a sobrecarga de trabalho, em vez de aumentar nossa capacidade produtiva, nos esgota.
“É só a gente pensar como é que a gente se sente no dia em que trabalha muito. Parece que a gente realmente correu uma maratona, mas a gente só ficou sentado olhando para o computador”, explica a neurocientista.
Ao diminuir os dias de trabalho, diz ela, os colaboradores também conseguem aumentar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. “Existe ali um ganho de bem-estar e saúde. As pessoas conseguem usufruir melhor do seu tempo livre, e isso faz com que elas estejam melhores para trabalhar e fiquem muito mais engajadas”, comenta.
Ela passa parte da semana em uma pequena casa no litoral norte de São Paulo. São seis anos de idas e vindas entre a cidade grande, viagens de trabalho pelo mundo e este pequenino espaço que a recebe e a abriga. Passou meses durante a pandemia morando ali, se sentindo acolhida sem entender exatamente o por quê de tal sensação. A casa é de pequeníssimas dimensões e muitas vezes lhe parece estranho se sentir tão livre nesse local que à primeira vista é visivelmente restrito. Depois de uma semana vivendo em São Paulo com sua superabundante demanda e oferta, ela se sente em fuga ao pegar a estrada deixando para trás a grandeza para se instalar em um lugar pequenino.
Assim, na última semana, sem se ater a nenhuma dessas reflexões, ela chegou de mais uma semana de moda em Paris. Se São Paulo é grande em dimensões, Paris é enorme em conexões mundiais.
Nessas ocasiões, ela é invadida por um volume de novas informações: são imagens, textos, espaços, cheiros, sabores, cores e novas interações pessoais. Tudo isso a faz inflar física e emocionalmente. Mesmo quando não lhe cabe mais nada, ela se agarra a cada momento sem conseguir deixar passar qualquer potencial oportunidade.
No dia em que chegou da última viagem, sua alma e corpo pediam com insistência pela “fuga para a casinha”, já naquele mesmo dia. Foi. E sentiu de imediato a liberdade dentro do pequeno quarto, do pequeno box onde a água caía no volume certo para enxaguar seu pequeno corpo. Olhou detalhadamente em volta com sua mente analítica, comparando pé-direito, porta, azulejos, pia… Foi invadida pela tal liberdade que não precisava vir das grandes cidades, casas, hotéis, amplos banheiros, informações e viagens. A liberdade maior quanto mais conectada ela está com as dimensões humanas. Em dois dias condensou e redimensionou o amontoado de novos conhecimentos, experiências e esvaziou certas caixinhas internas lotadas de inutilidades. Estava novamente pronta para ir para o mundo, absorver e atuar sabendo que teria também de voltar, restringir e resumir para sentir a tal liberdade.
Pesquisas recentes sugerem que a dieta pode afetar a qualidade do seu descanso, e os padrões noturnos também influenciam suas escolhas alimentares. Quem dorme menos tende a comer mais besteira
Os últimos dois anos não foram muito bons para dormir. Com a pandemia do coronavírus e, consequentemente, as interrupções na escola e no trabalho, os especialistas em sono incentivaram a adoção de uma variedade de medidas para superar a insônia relacionada ao estresse. Algumas delas são: faça exercícios regulares, estabeleça uma rotina noturna e reduza o tempo navegando nas redes sociais. Entretanto, muitas pessoas podem estar ignorando outro fator importante: a dieta
Pesquisas recentes sugerem que os alimentos que você come podem afetar o quão bem você dorme, e seus padrões de sono podem afetar suas escolhas alimentares. Uma dieta rica em açúcar, gordura saturada e carboidratos processados, por exemplo, atrapalham o sono, enquanto comer mais plantas, fibras, alimentos ricos em gordura insaturada – como nozes, azeite, peixe e abacate – parece ter o efeito oposto, ajudando a promover um sono profundo.
Muito do que sabemos sobre sono e dieta vem de grandes estudos epidemiológicos que, ao longo dos anos, descobriram que pessoas que sofrem de insônia tendem a ter dietas de pior qualidade, com menos proteínas, menos frutas e vegetais e uma maior ingestão de bebidas açucaradas, sobremesas e alimentos ultra- processados. Mas, por sua natureza, os estudos epidemiológicos podem mostrar apenas correlações, não causa e efeito. Eles não explicam, por exemplo, se a má alimentação precede e leva a um sono ruim, ou o contrário.
MUDANÇAS NO SONO
Para entender melhor a relação entre dieta e sono, alguns pesquisadores recorreram a ensaios controlados randomizados, nos quais diziam aos participantes o que comer e, em seguida, procuram mudanças no sono de cada um. Vários estudos analisaram o impacto de uma gama diversificada de alimentos individuais, de leite morno a suco de frutas. Mas esses estudos muitas vezes foram pequenos e não muito rigorosos.
Alguns desses ensaios também foram financiados pela indústria de alimentos, o que pode ter influenciado os resultados. Um estudo financiado pela Zespri Internatoonal, o maior comerciante mundial de kiwis, por exemplo, descobriu que pessoas designadas a comer dois kiwis uma hora antes de dormir todas as noites durante quatro semanas tiveram melhorias no início, duração e eficiência do sono. Os autores do estudo atribuíram suas descobertas, em parte, aos antioxidantes presentes na fruta. Mas o detalhe mais importante é que o estudo não tinha um grupo de controle, então é possível que quaisquer benefícios possam ter resultado do efeito placebo. Outros estudos financiados pela indústria do cereja descobriram que beber suco concentrado da fruta pode melhorar de maneira singela a insônia, supostamente promovendo o triptofano, precursor do hormônio melatonina, responsável pela regulagem do sono. O triptofano é um aminoácido encontrado em muitos alimentos, incluindo laticínios e peru, que é uma das razões geralmente dadas para que muitos de nós sintam tanto sono após as festas de Natal. Mas o triptofano precisa atravessar a barreira hematoencefálica para ter algum efeito que provoque o sono e, na presença de outros aminoácidos encontrados nos alimentos, acaba competindo, em grande parte sem sucesso, pela absorção. Estudos mostram que comer alimentos ricos em proteínas, como leite e peru, diminui a capacidade do triptofano de atravessar a barreira hematoencefálica.
Uma maneira de aumentar a absorção de triptofano é combinar alimentos que o contenham com outros que possuam carboidratos. Segundo Marie-Pierre St-Onge, professora associada de medicina nutricional do Centro Médico da Universidade Columbia, essa combinação estimula a liberação de insulina, que faz com que os aminoácidos concorrentes sejam absorvidos pelos músculos, facilitando a passagem do triptofano para o cérebro.
DIETA AMPLA
St-Onge passou anos estudando a relação entre dieta e sono. Seu trabalho sugere que, em vez de enfatizar um ou dois alimentos específicos com propriedades supostamente indutoras do sono, é melhor se concentrar na qualidade geral de sua dieta. Em um ensaio clinico randomizado, ela e seus colegas recrutaram 26 adultos saudáveis e controlaram o que eles comiam por quatro dias, fornecendo refeições regulares preparadas por nutricionistas e monitorando como dormiam à noite. No quinto dia, eles foram autorizados a comer o que quisessem.
Os pesquisadores descobriram que comer mais gordura saturada e menos fibra de alimentos como vegetais, frutas e grãos integrais levou a reduções no sono de ondas lentas, que é o tipo profundo e restaurador. Em geral, os ensaios clínicos também descobriram que os carboidratos têm um impacto significativo no sono: as pessoas tendem a adormecer muito mais rápido à noite quando consomem uma dieta rica em carboidratos em comparação com quando consomem uma dieta rica em gordura ou proteína. Isso pode ter algo a ver com os carboidratos ajudando o triptofano a entrar no cérebro mais facilmente.
“Carboidratos complexos fornecem um nível de açúcar no sangue mais estável. Então, se os níveis de açúcar no sangue são mais estáveis à noite, essa pode ser a razão pela qual os carboidratos complexos estão associados a um sono melhor”, diz St-Onge.
Um exemplo de padrão alimentar que pode ser ideal para dormir melhor é a dieta mediterrânea, que enfatiza alimentos como vegetais, frutas, nozes, sementes, legumes, grãos integrais, frutos do mar, aves, iogurte, ervas e azeite. Grandes estudos observacionais descobriram que as pessoas que seguem esse tipo de padrão alimentar são menos propensas a sofrer de insônia e sono curto, embora sejam necessárias mais pesquisas para confirmar a correlação.
VIA DE MÃO DUPLA
MAS a relação entre dieta e sono ruim é uma via de mão dupla: os cientistas descobriram que, à medida que as pessoas perdem o sono, elas experimentam mudanças fisiológicas que podem leva-las a consumirem besteiras. Em ensaios clínicos, adultos saudáveis que tinham permissão para dormir apenas quatro ou cinco horas por noite acabaram consumindo mais caloria, e fazendo lanches com mais frequência ao longo do dia. Eles experimentaram significativamente mais fome e sua preferência por alimentos doces aumentou.
“Dieta e sono estão entrelaçados. Melhorar um pode ajudá-lo a melhorar o outro e vice-versa”, afirma Susan Redline, professora de medicina do sono em Harvard.
Os avanços neurocientíficos e tecnológicos das últimas décadas determinam novas possibilidades na saúde e qualidade de vida
O córtex cerebral é a fascinante estrutura do sistema nervoso que exerce as funções chamadas superiores, tais como memória, atenção, linguagem, pensamento, planejamento voluntário de movimentos etc. O sistema nervoso é uma rede complexa que permite a comunicação com o ambiente e inclui componentes sensoriais e motores, secreções glandulares e componentes interativos, que recebem, armazenam e processam as informações sensoriais e, em seguida, executam respostas motoras apropriadas. Esses processos determinam a relação do indivíduo com o ambiente e, dessa forma, ocorre a aprendizagem. A aprendizagem se refere à capacidade ou possibilidade do indivíduo de selecionar e perceber, conhecer, experimentar, compreender, interpretar, associar, armazenar e utilizar informações. Esses processos mentais são as bases neurológicas da aprendizagem que envolvem o funcionamento coordenado de diversas zonas cerebrais, que ocorrem ao mesmo tempo, conforme recebem os estímulos de diferentes receptores sensoriais, comparam essas experiências, formulam hipóteses e codificam ou sintetizam e fixam a informação na memória.
“O aprendizado resulta de uma mudança no comportamento por meio da experiência e exige, como pré-requisitos, a aquisição de conhecimentos e a capacidade de armazená-los na memória”. Quando alguém, por acaso, der uma resposta certa, não significa que o aprendizado ocorreu; se em seguida não se lembra da resposta, pode até estar no caminho certo, mas não aprendeu. O acesso a estímulos incentiva a formação de redes neurais e a aprendizagem se refere a todas as mudanças no organismo, que podem ser repetidas… E são ilimitadas.
ÚLTIMOS AVANÇOS
Aparelhos sofisticados que podem avaliar e compreender as funções do cérebro, desde o desenvolvimento de neurônios diante de sua estimulação, que resulta em conhecimentos e respostas, na adaptação às mudanças. Na maioria das vezes, as pesquisas apontam que os resultados dependem de aprendizagem e até de mudança de hábitos. O ambiente que se redesenha traz uma reviravolta nos conceitos, nas expectativas e, consequentemente, no comportamento humano, que precisa absorver a realidade atual. Afinal, as novas descobertas diminuem ou aumentam a necessidade de conhecer e lidar melhor com os próprios recursos pessoais de aprendizagem e adaptação comandados pelo cérebro?
As possibilidades que se fazem presentes em ritmo acelerado não acontecem para quem não acompanha o tempo que passa ou o progresso que ganha espaço, sem pedir permissão. O cérebro tem imensa capacidade de adaptação, que supera expectativas pensadas para qualquer máquina, porque pode criá-las, aperfeiçoá-las, mas o indivíduo precisa, antes de tudo, saber aproveitar suas próprias capacidades.
Algumas lacunas ficam abertas nesse desenvolvimento, que muda o tempo real, sobrecarregado por inúmeras atividades que se acumulam, causando estresse e vulnerabilidade a doenças e a sofrimentos. A capacidade de concentração ou de fazer exercícios mentais parece cair em desuso, enquanto as características pessoais de pensamento solto e autoconfiança se afundam, e os relacionamentos próximos se distanciam… E a memória parece se perder, cada dia mais, em caminho sem volta.
A aprendizagem é o caminho do desenvolvimento pessoal e depende de um trabalho sistêmico que se centraliza no cérebro, a poderosa “máquina” disponibilizada a cada pessoa, desde a fase uterina.
COMO SE APRENDE?
A “construção” do sistema nervoso envolve ações coordenadas de inúmeros neurônios. Simplificando: durante os estágios iniciais de vida, as células precursoras neuronais devem ser formadas em regiões e quantidades predeterminadas e apropriadas que irão migrar, num determinado momento do desenvolvimento, para suas posições finais, onde se diferenciam em suas formas definitivas, desenvolvendo suas estruturas dendríticas e axonais. Os neurônios devem refinar suas conexões sinápticas a um alto nível de precisão, mantendo ou achando as conexões corretas e abandonando as desnecessárias.
Após esse processo de “construção”, o sistema nervoso deve ser capaz de se alterar, para se acomodar ao crescimento do organismo e a novas capacidades intelectuais e comportamentais do indivíduo. Grande parte desse processo de desenvolvimento ocorre através de sinalizadores químicos chamados de substâncias neurotróficas. Conhecer as bases neuropsicológicas do processo de aprendizagem é importante para entender como o indivíduo modifica seu comportamento, ao longo do desenvolvimento, influenciado por fatores internos e externos ao organismo. Assim, são delineados os processos diagnósticos, terapêuticos e educacionais mais apropriados. Além disso, os processos de aprendizagem também são regidos pelo ambiente, as características de sua cultura e organização.
Para aqueles que estão privados de alguma habilidade por acidente ou herança genética, as pesquisas comemoram as descobertas sobre plasticidade cerebral, que abriram esperanças infinitas na prevenção de danos e reabilitação. Para os que vão envelhecendo, se por um lado os saberes não se acumulam em estoque agregado à mente, por outro lado ocorre uma transformação das relações estabelecidas e da coordenação entre esquemas neurais, que se acrescem de novos vínculos, sinapses e relações a cada nova aprendizagem conquistada.
Em busca de contato com a Mãe Terra, um subproduto da pandemia, ricos e famosos estão trocando a piscina por lagos onde se pode mergulhar e nadar com os peixes
Até outro dia, palacete digno desse nome tinha de ter uma bela piscina no jardim. Mas, diante da competição e das dimensões cada vez mais extravagantes das mansões dos milionários, o espaço para se refrescar também deu um salto qualitativo: chique mesmo é poder exibir seu próprio lago, com peixinhos, plantas aquáticas e água onde se pode mergulhar e nadar. Ter um lago para chamar de seu não é novidade e várias empresas, no Brasil e no exterior, se especializaram em construir do nada uma extensão de água tranquila e cristalina. A maioria delas se enquadra na categoria ornamental, destinadas apenas a enfeitar, mas o know-how para tornar a água própria para banho também é conhecido e utilizado há tempos. No último ano, no entanto, as encomendas se multiplicaram, mais um efeito colateral da – sempre ela – pandemia. “Muitas pessoas viram que seus apartamentos não as representavam e mudaram de vida, buscando mais contato com a natureza”, teoriza Carlos Oliveira, coordenador de projetos da Ecosys, que constrói lagos artificiais.
No Reino Unido, os paisagistas registraram um aumento de 150% nos pedidos de projetos de lagos para nadar durante e após os meses de isolamento. Ajuda a turbinar a demanda o fato de estarem presentes nas casas de campo de celebridades como o cantor Ed Sheeran e David e Victoria Beckham. O casal inclusive demorou meses para convencer os vizinhos de que seu gigante de mais de 4.000 metros quadrados não causaria danos ao meio ambiente. No Brasil, o ator Bruno Gagliasso postou recentemente fotos do lago particular que construiu em seu sítio em Membeca, no estado do Rio, onde nadam – ele, a mulher, Giovanna Ewbank, e os filhos – na companhia de carpas e ciclídeos, esse um peixe de água doce natural do Malaui, na África, onde nasceram os dois adotivos. “Participei de todo o processo de construção com a equipe. Quando ficou pronto eu pirei. Não tinha ideia do amor que ia sentir pelos peixes”, derrama-se Gagliasso.
Ter um lago no quintal de casa requer um caixa reforçado. Para manter a água cristalina, sem lama nem resíduos e imune a algas, são utilizados seis tipos de filtro em operação 24 horas por dia, além de bombas de recirculação e oxigenação da água – um maquinário complexo que costuma ficar escondido sob um deque. O metro quadrado da obra varia entre 3.000 e 6.000 reais, dependendo da profundidade e das características do terreno. Nada que desanime os entusiastas: Ricardo Caporossi, dono da Geneses Ecossistemas, de São Paulo, que tem entre seus clientes os apresentadores Xuxa e Serginho Groisman, diz que vendeu trinta projetos no último ano. Do portfólio de Oliveira, da Ecosys, que atende Rodrigo Faro e Isabella Fiorentina, consta um lago monumental em uma mansão em Bragança Paulista, interior de São Paulo, com 4 metros de profundidade, 2 milhões de litros de água, mais de 60.000 peixes e 100.000 mudas de plantas aquáticas. “Demorou dez meses para ficar pronto e a casa de máquinas precisou ser disfarçada sob um morro suave coberto de vegetação”, descreve.
Os cuidados para manter a água sempre cristalina distanciam os lagos para nadar dos ornamentais, que, embora bem cuidados, têm certa liberdade para exibir algas e resíduos comuns em represas naturais. “Eventualmente vão aparecer minhocas, insetos, outros peixes. É a natureza seguindo seu curso”, diz o biólogo Abílio Soares Gomes, da UFF. Por mais que os donos evitem o termo, o lago para se banhar não deixa de ser uma piscina estilizada. ”A água não tem cloro, mas exige tratamento contínuo”, ressalta Gomes. Curiosamente, a maioria dos pedidos parte dos homens. “As mulheres têm receio de que vá se tornar um espaço sujo, cheio de lama. Mas depois de pronto elas também se encantam”, afirma Caporossi. Em Uberaba, Minas Gerais, o administrador de empresas Alceu Vieira, de 52 anos, trocou há um ano a piscina por um lago e está feliz da vida. “Fico em paz só de olhar para ele”, diz. Que dirá nadando entre peixinhos e plantas coloridas.
… que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites? (Salmos 8.4).
Alex Carrell escreveu um famoso livro intitulado O homem, esse desconhecido. O rei Davi escreveu este belíssimo salmo que fala sobre a dignidade do homem. Destacamos três fatos acerca do homem. Primeiro, ele é a imagem de Deus criada. O homem não é produto da evolução nem descendente dos símios. O homem veio de Deus. Foi criado por Deus, à imagem e semelhança de Deus. O homem é o pináculo da criação divina. Segundo, o homem é a imagem deformada de Deus. Com o pecado original, toda a raça humana foi precipitada na queda. O pecado atingiu todas as áreas da nossa vida: razão, emoção e vontade. O pecado afetou nosso corpo e também nossa alma. Não há parte sã em nossa vida. Fomos concebidos em pecado. Nascemos em pecado. Aquele que disser que não tem pecado engana-se a si mesmo e ainda chama Deus de mentiroso. Embora a imagem de Deus tenha sido desfigurada com o pecado, não foi de todo perdida. Terceiro, o homem é a imagem de Deus restaurada. Todo aquele que crê no Filho de Deus recebe uma nova mente, um novo coração, uma nova vida. O homem, então, nasce de novo, nasce do alto, nasce do Espírito, e torna-se nova criatura. Essa transformação vai num crescendo, pois somos transformados de glória em glória na imagem de Cristo pelo Espírito Santo.
EMPRESA PODE MANTER EXIGÊNCIA DE MÁSCARA PARA OS FUNCIONÁRIOS
Para especialistas, lei e portaria indicam que empregador pode definir restrições; a clientes, orientação é pelo uso facultativo
Empresas de diferentes segmentos têm decidido manter a exigência de máscara para funcionários. Professores de Direito ouvidos apontam que a decisão é legal, mas para clientes ainda há questionamentos. “São duas situações distintas”, aponta Guilherme Feliciano, professor da Faculdade de Direito da USP e juiz no TRT-15. “Em relação aos empregados, essa possibilidade é mais clara. Por quê? Na relação de emprego, a empresa detém aquilo que no jargão técnico a gente chama de poder hierárquico. A empresa pode estabelecer regras, e cabe ao empregado cumpri-las. A (demissão por)justa causa, na lei, vale quando essas regras não são observadas.”
Nesse sentido, o professor reforça que, principalmente em casos de empresas em que não é possível fazer distanciamento e onde há muitos funcionários em grupo de risco pode-se estabelecer normas internas. “Até porque o decreto libera a população de usar máscara, mas não proíbe.”
Em relação ao consumidor. Feliciano diz que essa é uma discussão um tanto mais complexa. Isso porque, explica, não há poder hierárquico do comerciante em relação ao consumidor. “O ideal seria que esse empregador, empresário, estabelecesse um plano de contenção para que os funcionários de risco não tivessem contato com os clientes.” Segundo o professor, as empresas podem, em contato com as autoridades municipais, tentar obter uma autorização para restringir a entrada de clientes que estão sem máscara. “É uma maneira de se prevenir contra eventuais demandas ou eventuais insurgências (da pandemia)”, explica. “Mas, para um comércio aberto ao público, isso pode ser problemático, já que o consumidor pode alegar discriminação.”
Coordenador da especialização em Direito e Processo do Trabalho da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Túlio Afonso aponta que, apesar do decreto, o uso de máscaras em empresas pode ser interpretado como obrigatório por parte dos funcionários. Isso porque a portaria interministerial 14/2022 ainda está em vigor. “Ela determina que os trabalhadores se utilizem das máscaras em seus locais de trabalho. Faz inclusive uma pequena equiparação com EPIs, equipamentos de proteção individual”, diz. “Por esse ponto de vista, eventualmente, as empresas podem sofrer até uma fiscalização.” O professor avalia, além disso, que muitos vão inclusive preferir manter a obrigatoriedade de máscara. “Muitas empresas tiveram grandes ausências nesse último pico (acarretado pela variante Ômicron)”, relembra.
FACULTATIVO
Para clientes, algumas empresas já fazem apenas a recomendação do uso, o que evitaria a judicialização por parte dos consumidores. O Banco Bradesco informou que segue a portaria interministerial 14/2022. “Assim sendo, o uso da máscara pelos funcionários e colaboradores continua obrigatório no ambiente de trabalho”, explicou. Para os clientes, não há exigência.
A C&A informou que, alinhada ao decreto assinado pelo governo do Estado, liberou imediatamente o uso de máscaras em locais fechados. Já a utilização do acessório no escritório central da empresa e nos centros de distribuição na região metropolitana passa a ser opcional. Nas farmácias da Rede Raia Drogasil, o uso de máscaras segue obrigatório para os funcionários – para os clientes, é voluntário.
Adversidade rima com criatividade, inclusive na alimentação
Cada vez me convenço mais de que as dificuldades podem se tornar motores decisivos para invenções e novas oportunidades – inclusive no que diz respeito à gastronomia. Sem saber, quase todos os dias saboreamos ou utilizamos algo que surgiu da necessidade de superar uma situação adversa, de descobrir coisas por mero acidente.
Pessoalmente, adoro conhecer os “casos do acaso”. Foi assim que cheguei à história de um novo queijo, o LaConfiné, produzido na França. Em 2020, durante o confinamento provocado pela pandemia, a família Vaxelaire, que fabrica o queijo munster, viu as vendas caírem e estocou “Durante parte de sua produção numa adega. Lá ele absorveu a umidade do ambiente e se transformou em uma espécie de camembert mais floral e láctico, bem diferente do munster, um clássico da região. É claro que ninguém vai bendizer o SARS-CoV-2 por ter acendido uma possível joia no universo queijeiro da França, mas é improvável que ele tivesse surgido se não fossem os impactos econômicos impostos pelo distanciamento social. O La Confiné aumentou, assim, a vastíssima lista de alimentos que foram criados ou se consolidaram a partir de infortúnios.
Durante a II Guerra, o conceito de barra de cereais foi inventado para servir como um tipo de “refeição de emergência” para as tropas. O refrigerante Fanta surgiu em 1941, na Alemanha – com problemas para produzir Coca Cola no país, devido à falta de alguns ingredientes. Um caso curioso é o do festejado espaguete a carbonara. Há muitas versões sobre o seu surgimento, contudo uma das mais difundidas fazem ligação do prato com o conflito mundial. A certa altura do enfrentamento, a Itália se viu mergulhada na escassez de alimentos. Privilegiados, os soldados americanos que ocuparam o país contavam com rações que incluíam ovos em pó e bacon. Um cozinheiro teria misturado os ingredientes das rações à pasta e… lá estava um novo prato italiano!
A propósito, quando a II Guerra terminou, o cacau andava escasso. Diante disso, a Pasticceria Ferrero, do Piemonte, resolveu misturar creme de amêndoas, açúcar e um pouquinho da então rara maravilha do cacaueiro. A novidade resultaria no hoje popular Nutella. E, voltando no tempo, o leite condensado industrializado, patenteado nos EUA em 1856, ficou famoso na Guerra Civil Americana ao ser transportado pelos combatentes.
Saindo dos alimentos em si, porém não da cozinha, temos um capítulo célebre: o do micro-ondas. No início da Guerra Fria, o engenheiro americano Percy Spencer se dedicava à construção de peças que gerassem ondas eletromagnéticas para fins militares. Um dia, depois de horas de trabalho, ele percebeu que o chocolate que estava em seu bolso havia derretido. Daí para o utilíssimo forno que se espalharia por todo o globo foi um pulo.
Chama a atenção, ainda, os esforços no front específico da saúde – com os quais compartilho – para a difusão de receitas e produtos com poucas calorias, a fim de vencer outra guerra ameaçadora: a da elevação dos porcentuais de pessoas obesas mundo afora. Os exemplos poderiam continuar, inumeráveis. Quando a dificuldade surge, a criatividade a enfrenta – e o resultado não é só uma rima, é uma solução.
CONHEÇA OS BENEFÍCIOS DE INCORPORAR CHÁS NA ROTINA
Bebidas feitas com infusão podem ajudar no processo digestivo, com a retenção de líquidos e no alivio da cólica menstrual
Muito mais do que suas propostas de curas medicinais para o corpo, o ritual de tomar chá pede por um momento de introspecção. Diferentemente do café, que costuma ser tomado de maneira rápida e com muitas repetições ao longo do dia, o chá parece ter um envolvimento maior com o tempo – seja pela sua maneira de preparar, seu tempo de degustação ou pelo simples ritual de bebê-lo.
Aliás, foi assim que as infusões surgiram, 5 mil anos atrás, na China. De lá para cá, os rituais continuam no Marrocos, no Japão, na Coreia, na Inglaterra, e até mesmo no Brasil, com o chimarrão. “A gente não pode esquecer que somos o maior produtor de erva-mate do mundo e se fizermos uma relação da roda de chimarrão, em que as pessoas sentam e compartilham, é muito parecida com o ritual do chá japonês”, conta a especialista em chá Carla Sauerressig.
Vale ressaltar, no entanto, que, tecnicamente, o chá é a infusão apenas da planta de origem asiática Camellia sinensis. Quando for feita com ervas, especiarias, cascas, flores e frutas, a bebida deve ser chamada de infusão ou tisana. São diversos os motivos para degusta-la e várias as maneiras de extrair seu sabor.
Fazer uma infusão antes de dormir, quando se está com cólica, ou pelo puro prazer.
Saiba como escolher a melhor infusão, de acordo com o seu momento:
O PREPARO
“Para preparar uma xícara perfeita. você deve se preocupar com três fatores: ingredientes de boa procedência, acessórios corretos e cuidadoso modo de preparo. Para esse último, pense nos três T’s: tipo de chá, temperatura da água (de 60° C a recém fervida) e tempo de infusão (que vai de 1 a 5 minutos)”, explica a sommelier de chás Raquel Magalhães.
Outro fator importante é a qualidade da água, responsável por mais da metade da composição do chá. O ideal é filtrar a água ou usar marcas mais leves, ou seja, com menos teor de sal.
TIPO DE CHÁ
Nos dias quentes, eles são opções saudáveis para se refrescar, e ainda aceleram o metabolismo, uma vez que o organismo precisa trabalhar mais para metabolizar o líquido. Já nos dias mais frios, a bebida quente traz sensação de aconchego e conforto.
Para o chá gelado, o método mais comum adorado é pela infusão com água quente, seguida de algumas horas no congelador. Mas também é possível fazer a bebida com resfriamento rápido, no qual você usa metade da água para a infusão e termina com outra metade equivalente em cubos de gelo.
BENEFÍCIOS PARA O CORPO
Além do bem-estar, os chás e infusões também são muito procurados para a saúde. O hibisco, por exemplo, auxilia na diminuição da retenção de líquido, além de ter capacidade antioxidante. Já a cavalinha em infusão alivia o inchaço e ajuda na eliminação de líquidos retidos pelos rins.
Para ajudar na digestão, é recomendado o dente-de-leão, que estimula o fígado a produzir a bile, ou a erva-doce, que auxilia no fluxo digestivo. O gengibre também é ótimo para intestino e estômago, além de ser conhecido por acelerar o metabolismo. Além, claro, do bom e velho boldo, que auxilia na digestão da gordura e melhora os problemas digestivos e hepáticos.
No entanto, Carla lembra que cada um vai reagir de um jeito para os componentes. “O organismo humano é uma máquina individual e tem coisas que podem fazer bem para mim e outras que não. Tem um monte de especiarias que são anti-inflamatórias, mas temos que dissociar um pouco dessa coisa de remédio. É o ritual que traz uma certa magia”, diz.
HUMOR E MENTE
A ideia de parar para tomar um chá nos leva a um estado de calmaria – que nem sempre é real. Mas alguns componentes, de fato, ajudam a melhorar o estresse.
A camomila, por exemplo, além de diminuir a ansiedade e ser um ótimo relaxante muscular, também pode ajudar no alívio das cólicas menstruais. O mesmo ocorre com a lavanda, que também ajuda no combate à insônia. A erva-cidreira possui efeito calmante e sedativo; o maracujá, com o componente passiflora, é um dos calmantes mais conhecidos; além da hortelã, que tem propriedades analgésicas e calmantes.
O VERDADEIRO CHÁ
A verdadeira planta para chá, a Camellia sinensis, pode ser transformada nos chás branco, verde, amarelo, oolong, preto e escuro. Por ter cafeína, eles são boas alternativas para quem quer cortar o consumo do café. Além disso, têm nutrientes como o tanino, que ajuda nos processos de cicatrização do corpo; os flavonoides, que auxiliam na absorção de vitamina C e têm ações antialérgicas; e vitamina K, que ajuda na saúde óssea.
Apesar disso, atente-se ao excesso do consumo. Ansiedade, dor de cabeça, insônia e aceleração dos batimentos cardíacos são algumas das possíveis consequências.
RITUAL
Crie o seu próprio momento para degustar a bebida. É legal associar a hora do chá com um momento do dia, uma atividade que antecede ou sucede à bebida e até, por que não, as louças utilizadas.
Desde o preparo da infusão até a escolha do acompanhamento, há muitas etapas que fazem parte do ritual. É, possível ainda criar novos sabores, com mistura de especiaria ou relembrar gostos nostálgicos com receitas de família. “O chá é lúdico, místico, cultural, artístico e histórico”, conta Raquel. “Ele nos convida a desfrutar de um tempo de qualidade, a redescobrir a arte da conversa descontraída, criando um novo mundo de aromas e sabores.”
A aprendizagem ocorre durante a vida toda e as descobertas científicas sobre o cérebro podem ser utilizadas para otimizar esse processo, em qualquer fase da vida, não apenas com crianças
Um conjunto de habilidades mediadas por diferentes módulos do sistema nervoso. Essa é a memória, que funciona de forma independente, mas cooperativa, garantindo que grande número de informações se distribua em diversas unidades e estas se processam concomitantemente. Ela é a capacidade de armazenar de forma seletiva as informações que possam ser recuperadas e utilizadas posteriormente, de forma consciente ou não, indica que “há duas maneiras pelas quais o cérebro adquire e armazena informações: memória de procedimento e memória declarativa. Essas duas formas divergem tanto no que diz respeito aos mecanismos cerebrais envolvidos como nas estruturas anatômicas”. A memória de procedimento, que também é chamada de memória implícita, armazena dados mediante a repetição de uma atividade e segue sempre o mesmo padrão de habilidade, que inclui as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais, bem como as formas de condicionamento. A capacidade assim adquirida não depende da consciência, por isso é possível executar tarefas, mesmo complexas, com o pensamento voltado para algo completamente diferente. Assim, depois de dominar a atividade, é possível dirigir um carro com o pensamento longe dos movimentos que estão sendo executados, por exemplo.
Levada ao nível consciente, a memória declarativa ou explícita retém e evoca os dados através de processos internos do cérebro, como associação de dados, dedução e criação de ideias. Esse tipo de memória inclui a memória de fatos vivenciados pela pessoa (memória episódica) e de lembranças de situações vividas, de filmes assistidos ou histórias ouvidas (memória semântica) que podem ser trazidas à memória, quando desejado.
A memória também pode ser analisada quanto ao tempo de armazenamento das informações. Pode ser classificada em memória de curto prazo e memória de longo prazo. A memória de trabalho pode ser parte da memória de curto prazo, porque atua no momento em que a informação está sendo adquirida e retém esses dados por alguns segundos, depois os descarta ou não. Por exemplo, quando alguém toma um número de telefone para ser discado, essa informação pode ser guardada na memória, apenas naquele instante. Se houver interesse futuro nesse contato, os recursos de memória poderão ser acionados por mais tempo.
Não é possível guardar todas as informações que chegam à memória, sob risco de bloqueio. Ela pode ser evocada armazenando do que interessa e associando convenientemente os dados estocados, em constante aprendizado.
A memória de longo prazo retém de forma duradoura ou definitiva a informação) permitindo sua recuperação. Nela estão contidos os dados autobiográficos e conhecimento pessoal. Tem uma capacidade praticamente ilimitada.
Assim,a memória é a aquisição (ou codificação), conservação e evocação de informações. As investigações apoiadas em dados neuropsicológicos e de neuroimagem permitem evidenciar que a memória compreende um conjunto de habilidades mediadas por diferentes regiões do sistema nervoso, que funcionam de forma independente, porém cooperativa.
MÁQUINA DO CÉREBRO
O cérebro é uma estrutura flexível, que se desenvolve conforme o nível de solicitação. Entretanto, a solicitação do ambiente encontra limites no próprio indivíduo, que acuará conforme seus interesses e/ou necessidades e possibilidades que estão dispostas ao seu redor. É preciso integrar informações e experiências para interferir na capacidade do sistema nervoso central de modificar algumas propriedades morfológicas e funcionais em resposta aos estímulos. Esse fenômeno define a plasticidade cerebral. É quando se aprende.
A aprendizagem ocorre durante a vida toda e as descobertas científicas sobre o cérebro podem ser utilizadas para otimizar esse processo, em qualquer fase da vida, não apenas com crianças, ou seja, não somente na fase em que está constatada uma habilidade natural para mudanças. Por mais que esse momento precise ser bem aproveitado: no período da infância, além da facilidade de alteração de um sistema em formação, é importante salientar a interferência dos registros da memória sobre a forma de perceber o mundo de identidade e autoestima.
Para os adultos, a aprendizagem é indispensável ao bom desempenho no trabalho, que deve ser sempre melhorado. Com relação aos idosos, o Programa Senai / DN para a Maturidade (2007) aponta que a eficiência no trabalho depende de muitos fatores além da idade, como a capacidade intelectual, a educação, a destreza, a força, a velocidade, a resistência, a saúde, a ansiedade ou a paz de espírito e o temperamento.
APRENDER É DIVERTIDO
Talvez se pense que divertir e aprender são elementos separados e até alternativas excludentes entre si, especialmente se a aprendizagem for relacionada a um esforço sofrido, com o apelido de “estuda r”. Talvez a compreensão do cérebro possa parecer uma atribuição de interesse único para o especialista, que deveria ter um remédio de memória, ou para um especialista em informática, que deveria criar um aplicativo que evitasse exercícios, ansiedade e, claro, frustrações.
Felizmente, cérebro e aprendizagem não são nem opcionais nem desagradáveis, mas essa segunda parte depende de uma nova forma de pensar sobre esse funcionamento e o quanto isso tudo diz respeito a cada um, o tempo inteiro, sempre. Brincar de aprender pode parecer um interesse infantil, mas existe uma criança, em qualquer idade, dentro do brilho no olhar de quem tem curiosidade e sempre quer melhorar o desempenho, não por falta de tolerância a erros ou por achar que será rejeitado, mas pela experiência inigualável de aprender, sempre disponível, sempre ousada, sempre interessante, quando é uma determinação pessoal.
A proposta é não deixar a memória num castelo abandonado de algum espaço do cérebro, quando a própria vida é uma interação de sistemas complexos e organizados, naturalmente. Fazer “amizade” com a memória e deliberar os caminhos desejados para frequentar com ela ou entrar em sintonia com o cérebro, em vez de deixar o destino correr à vontade, são soluções simples e razoáveis. E como fazer isso? Saiba mais no quadro Funções cognitivas. Como em qualquer amizade, quanto mais intimidade melhores são os resultados. E se juntarmos todos os amigos para estabelecer um relacionamento firme com a memória, de uma vez? Reparando-se bem e juntando a primeira letra de cada um desses amigos, consegue-se a palavra CARETA. Fazer careta pode ser parte da fantasia que você quiser criar, quando quiser se lembrar desses amigos ou reagir ao susto de achar que não vai aprender. Por trás da máscara, estão os amigos, todos no cérebro, à disposição.
LINGUAGEM E COGNIÇÃO
Parece simples? A vida é simples… Mas as possibilidades são infinitas! Outros personagens podem estar na vizinhança da memória, até com especificação de hemisférios de localização, e vale a pena se dedicar a eles. Leitura e escrita são parceiras nessa participação social, porque vivemos em equipe. Leitura e escrita podem ser consideradas gêmeas, com a mesma base simbólica de formação que a cultura nos empresta nesses tempos desenvolvidos.
Nenhum conhecimento humano está pré-formado nas estruturas mentais. É a partir da construção de uma progressão de etapas, que seguem determinada ordem, que se dá a aquisição intelectual para chegar ao “conhecimento”. Essas “construções” acontecem em um mecanismo de assimilação a partir das estruturas existentes biologicamente, formando as condutas de adaptação cognitiva, como verificava Piaget, antes mesmo da possibilidade de utilização de recursos tecnológicos para mapear o funcionamento do cérebro.
As primeiras manifestações de atividade mental consistem em incorporar, ou dito de outra maneira, em assimilar, elementos novos às estruturas programadas hereditariamente.
EXPERIÊNCIA ACUMULADA
São reconhecidas algumas vantagens do envelhecimento, que se situam na experiência acumulada. Embora o idoso seja um trabalhador mais lento, ele comete menos erros. O fato de ele sofrer menos acidentes e de provocar menos rotatividade compensa a perda de tempo decorrente de outros fatores. Sua capacidade superior de julgamento, devido à experiência e ao treinamento, associada à sua habilidade aprimorada e ao esmero no trabalho são fatores que o classificam como um bom trabalhador. Dessa forma, comparando-se as vantagens e as desvantagens, parece que as vantagens se sobressaem.
Estudos mostram que há uma discriminação dos indivíduos em razão da idade no local de trabalho. Essa realidade social, demonstra que há necessidade de mudanças de atitude em relação à forma de pensar no desempenho mental do idoso, que pode melhorar sua performance com exercícios, em vez de, necessariamente, ser considerado incapaz.
FUNÇÕES COGNITIVAS
A análise das funções cognitivas nos aponta algumas formas práticas de alcançar progressos com a memória. Identificando essas funções por nomes comuns, de acordo com as habilidades esperadas, destacam-se seis habilidades a desenvolver num primeiro tempo, tratando-as como alguém que se deixa à vontade:
COMPREENSÃO: uma amiga da memória que faz muitas perguntas, porque quer entender tudo e sempre consegue bons resultados. Exercitar a compreensão é examinar mais profundamente uma experiência, em vez de acumular as decepções de atuar no “escuro”.
ATENÇÃO: essa é uma amiga complicada da memória. porque é instável, se distrai facilmente. Ela recebe constantes convites nos ambientes e desaparece sem que se perceba, mas a memória a acompanha. É possível desenvolver os laços (ou sinapses) que promovem atenção, mas é preciso ter em mente seus objetivos e… O melhor de tudo é que ela gosta de ser o foco de tudo. então, quando se acendem os holofotes para ela, é possível garantir um aprendizado rápido. Sem desmerecer ninguém, a atenção é poderosa!.
REPETIÇÃO: nem todos têm a mesma simpatia… Mas a simplicidade da repetição chega a ser divertida! É só repetir, repetir, repetir, repetir, repetir… Alguém pode dizer que não funciona?
ENVOLVIMENTO: esse é um amigo cativante! Não há nada mais agradável do que mergulhar com entusiasmo e surfar nesse mar. Estar apaixonado por alguém ou por uma meta pode exigir superações. dependendo da crista da onda que se quer alcançar, mas já é uma vitória ter sonhos. porque dá um sentido ao que se deseja.
TEATRO: literalmente. é pôr a “mão na massa”. Enquanto uma pessoa pode ter alguns sentidos mais desenvolvidos que outros, ou seja, aprende melhor pela visão ou pela audição, alguns aprendem fazendo. Teatralizar, tentar viver as experiências com a convicção de bom artista, fazer mapas, criar recursos… Vale toda criatividade e riscos para fazer amizade com a memória!
ASSOCIAÇÃO: a capacidade de associação faz comparar e ir mais longe… Diz um ditado que “quem faz um cesto, faz um cento”. Tudo que se aprende pode ser associado para potencializar novos aprendizados (novas conexões neurais): quem sabe fazer um cesto, pode fazer quantos quiser, cada um diferente do outro, e pode fazer tudo mais que quiser… A associação é uma amiga sem limites!
O implante de órgãos inteiros feitos em laboratório ou de próteses produzidas em impressoras 3D mostra que é possível repor com segurança as peças que o organismo perdeu
Recriar o corpo faz parte do imaginário humano. Do coração recebido pelo Homem de Lata, em O Mágico de Oz, à mão decepada de Luke Sky Walker, da saga Star Wars, substituída por um modelo biônico, há vários exemplos na ficção que refletem o anseio da civilização de repor, ao menos parcialmente, partes perdidas.
O capítulo mais recente dessa aventura foi protagonizado pelo americano David Bennett, de 57 anos, e seus cirurgiões no Centro Médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Portador de cardiopatia grave e terminal, Bennett aceitou receber um coração de porco, geneticamente modificado, tornando-se o primeiro ser humano vivo a ser submetido a um xenotransplante (transplante, infusão ou implantação de órgãos de diferentes espécies).
No ano passado, um time da Universidade de Nova York havia feito o transplante de um rim suíno com material genético alterado em um paciente com funções mantidas por aparelhos enquanto se desenrolou a cirurgia. Bennett, o homem com um coração de porco, viveu mais dois meses depois do procedimento. Ele morreu no dia 8 de março, mas deixou à ciência a certeza de que está mais próximo o dia em que os humanos viverão por muito tempo com órgãos extraídos de outros animais. “Isso não é mais um sonho de um futuro distante, mas algo cada vez mais viável pela medicina moderna”, comemorou David Kaczorowski, professor associado de cirurgia cardiotorácica da Universidade de Pittsburgh, integrante da equipe que conduziu o experimento.
O feito dos médicos americanos abre mais uma avenida rumo à construção da vida por meios artificiais. O desafio é urgente. A escassez de órgãos para doação, agravada pela pandemia de Covid-19, e a longevidade da população, que amplifica as doenças ligadas ao envelhecimento, apertam a demanda por soluções que reparem pedaços do organismo, sejam eles vitais ou não. Felizmente, há novidades espetaculares, como resultado do progresso fantástico nos campos tecnológico e científico, especialmente na genética. Para que o xenotransplante em David Bennett se concretizasse, por exemplo, foi preciso avançar no conhecimento do DNA de homens e de animais de forma que os procedimentos sejam eficazes e seguros. Ou seja: devem salvar ou prolongar vidas ao mesmo tempo que apresentem riscos reduzidos de provocar episódios de rejeição aguda.
Na Universidade de São Paulo (USP), há um experimento exemplar nesse caminho. Coordenado pela professora Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da instituição e referência nacional no tema, o projeto pretende criar rins de porco geneticamente viáveis para implantação em humanos. A fase mais difícil, de edição de genes, foi finalizada. Agora, o grupo aguarda a implantação de um biotério de máxima segurança, um ambiente dotado de filtros de ar, estéril e com água e alimentos livres de qualquer tipo de patógenos. A previsão é de que ele fique pronto até o fim do próximo ano. O passo seguinte será a criação das fêmeas que receberão embriões geneticamente modificados e gerarão os filhotes dos quais os órgãos serão tirados.
Uma das ideias, de modo a evitar a rejeição, é implantá-los sob a pele dos doentes. A proposta foi do professor emérito da Faculdade de Medicina da USP Silvano Raia, pioneiro dos transplantes de fígado no país, responsável, em 1988, pelo primeiro transplante intervivos no mundo. Aos 91 anos, o cirurgião está entusiasmado com o que a medicina alcançou até agora. “Em cinco anos, o xenotransplante será uma alternativa”, diz Raia. “O progresso previsto é geométrico. Posso prever milagres.” O olhar otimista é compartilhado com Anthony Atala, diretor do Wake Forest lnstitute for Regenerative Medicine, instituição americana que, em 1999, inaugurou a era dos órgãos cultivados em laboratório fazendo o implante em um paciente de um tecido de bexiga. “Estamos progredindo demais em direção ao objetivo de melhorar a vida dos pacientes”, disse. A instituição está na vanguarda da área. Há experiências voltadas para a criação de tecidos e órgãos para mais de quarenta partes diferentes do corpo. A impulsionar o trabalho frenético estão as bioimpressoras 3D, máquinas que sintetizam à perfeição o salto tecnológico dos últimos anos.
Elas revolucionaram o campo da regeneração de tecidos ao permitir a produção das peças mais precisas de que se tem notícia. No Wake Forest lnstitute, por exemplo, são utilizadas na fabricação de quinze estruturas, entre elas músculos, cartilagens e pele. São de dois tipos a matéria-prima usada. O primeiro é composto de células progenitoras do órgão a ser reparado. Elas são assim chamadas porque dão origem àquele tipo específico de tecido. “A vantagem de extrair células do próprio paciente é que não haverá rejeição”, explica Anthony Atala. Quando isso não é possível, recorre-se às células-tronco, capazes de se transformar em diversos tipos de estrutura e encontradas em compostos como a gordura corporal, placenta ou líquido amniótico.
Os avanços da área empolgam pelo que oferecem e fascinam pela criatividade. A pele de tilápia, em uso desde 2015 por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará no tratamento de queimaduras e feridas graves, agora serve também para a construção do canal vaginal de mulheres transgênero ou reconstrução no caso de pacientes que apresentam distúrbios genitais raros ou que ficaram com deformações causadas por câncer ginecológico. Além disso, em setembro do ano passado, o enxerto entrou como alternativa na recuperação da pele de crianças submetidas à cirurgia para separação dos dedos, malformação causada por uma síndrome rara.
Um observador menos atento poderia vislumbrar nesse novo campo da medicina um atalho para a transformação do corpo humano em quimeras ou ciborgues. Nada disso. Basta ver a mais recente versão do Aeson, o coração artificial mais sofisticado do mundo. Seu formato lembra bastante o do órgão ao qual ele imita as funções. O Aeson foi implantado no ano passado em um paciente com insuficiência cardíaca terminal por cirurgiões do hospital da Universidade Duke, nos Estados Unidos, dentro de um protocolo de estudo aprovado pela Food and Drug Administration, agência reguladora do país. O objetivo é verificar se a bioprótese mantém a vida de pacientes graves até que recebam um coração por meio de transplante. O estudo transcorre, assim como centenas de outros em condução neste momento, apontando para uma nova era. Nela, parte vital do organismo será reconstruída sem que os seres humanos percam a identidade corporal que a evolução talhou.
Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores (Salmos 1.1).
Davi abre o saltério mostrando-nos o mapa da felicidade. Faz um profundo contraste entre o justo e o ímpio. O justo floresce como uma árvore plantada junto à fonte; o ímpio seca como uma palha. O justo tem raízes profundas; o ímpio é levado pelo vento. O justo deleita-se na lei de Deus; o ímpio busca prazer na roda da zombaria. A felicidade do justo é permanente; a aparente felicidade do ímpio entrará em colapso. Qual é o mapa da felicidade do justo? O justo é feliz por aquilo que evita: ele não anda no conselho do ímpio, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. O justo é feliz por aquilo que faz. Ele medita na lei de Deus de dia e de noite. Tem seu prazer na Palavra de Deus. Sua vida é governada pelos princípios de Deus. A Palavra de Deus é mais preciosa do que ouro e mais saborosa do que mel. Mas o justo é feliz também por quem ele é: uma árvore plantada junto às correntes das águas. Isso significa que tem verdor constante e frutos abundantes. O sol inclemente que faz secar a palha não tira o verdor da árvore. A mesma crise que abate o ímpio não atinge o justo. Finalmente, o justo é feliz porque permanecerá na congregação dos justos, mesmo quando cruzar as fronteiras da eternidade.
Oito em cada dez vagas de emprego são preenchidas por indicação. Veja como transformar contatos em pessoas estratégicas para a soa carreira de forma mais eficiente.
Em 1967, o psicólogo americano Stanley Milgram criou a teoria dos seis graus de separação. Ele selecionou 300 pessoas aleatórias da cidade americana de Omaha, em Nebraska, e deu-lhes uma missão; entregar uma carta a um certo corretor da Bolsa de Valores de Boston {hoje desativada).
Mas tinha uma pegadinha. Milgram não passou o endereço do sujeito. Só deu o nome, a profissão e a cidade. Cada um dos voluntários deveria mandar a carta para algum conhecido que eles achassem que, porventura, poderia conhecer o tal corretor.
Quem recebia a correspondência tinha a missão renovada. Caso não conhecesse o cara, deveria ele mesmo enviar para outra pessoa. E assim por diante.
O senso comum dizia (e ainda diz) que, se alguma das 300 cartas chegassem, teria de passar por centenas de pessoas. Mas não. Boa parte delas chegou. Em alguns casos, depois de cinco reenvios. Em outros, depois de sete. Os números variavam, mas a média de intermediários dos casos que deram certo ficou em seis.
Daí surgiu o conceito dos “seis graus de separação” – a distância média entre “contatos” que separaria duas pessoas completamente aleatórias, O experimento foi refeito diversas vezes nas últimas décadas. Os resultados variam entre três e sete conexões, mas a conclusão é a mesma: o mundo é menor do que parece.
E isso é obviamente importante na hora de conseguir um emprego ou expandir os negócios. Uma pesquisa da consultoria The Adler Group identificou que 85% das vagas de emprego são preenchidas por meio de indicações.
Só existe um problema. Estabelecer uma boa rede de contatos (um network, no jargão corporativo) não é tão simples. No estudo de Milgram, somente 100 das cartas chegaram ao destinatário final. Outras pesquisas também não atingiram números melhores. Em 2001, um estudo feito na Universidade de Columbia conseguiu que apenas 3.241 mensagens chegassem ao destinatário final, sendo que foram selecionados 48 mil participantes.
A questão é: se alguém no meio da rede não estiver realmente disposto a ajudar, de nada adianta haver poucos graus de separação. Logo, não basta conhecer bastante gente. É preciso fazer o chamado networking, ou seja, o ato de cultivar a rede de contatos.
Nos próximos tópicos, vamos ver como.
DAR E RECEBER
O maior segredo do networking é a reciprocidade. Pensar só no benefício próprio e nunca ajudar ninguém não funciona. Sem troca de favores não há vínculo.
Coloque-se à disposição dos outros, seja para dar conselhos profissionais, ajudar em alguma tarefa ou servir de ponte com outro contato. Também nunca procure alguém apenas quando estiver precisando de uma mãozinha. Mandar mensagem para uma pessoa com quem você não fala há anos só para pedir emprego dificilmente vai funcionar.
Na hora de pedir favores, tenha cuidado. Não tente um atestado com aquele seu amigo médico (ele não conhece apenas médicos, afinal, e provavelmente não servirá mais de ponte para você depois de uma dessa). Nem mande um contrato para aquele advogado conhecido “dar uma olhadinha”. Você pode tirar dúvidas ou pedir indicação de alguém que possa te ajudar, claro, mas jamais desvalorize o trabalho dos outros.
Por falar em valorizar o trabalho, interaja com pessoas de vários níveis hierárquicos. Construir relações com gerentes e diretores obviamente facilita em momentos de recolocação. Mas auxiliar profissionais em cargos mais baixos também permite que você assuma uma posição de referência, o que ajuda a construir sua credibilidade. Além do mais, quem está embaixo hoje pode ser o chefe de amanhã.
E não insista. Se perceber que a outra pessoa não está tão interessada em fazer parte da sua rede, parta para outra. E aqui vale uma reflexão: será que você não está sendo chato na sua abordagem? Evite encher a pessoa de perguntas como se estivesse em uma entrevista, insistir demais em um assunto ou ficar falando só de você mesmo.
Quem é introvertido costuma ter mais dificuldade na hora de conhecer pessoas novas e aprofundar as relações. Infelizmente, não há muito o que fazer: o jeito é sair da zona de conforto da introspecção e se expor.
Comece com quem você já tenha alguma intimidade. Mande mensagem, pergunte como ela está, o que anda fazendo e se você pode ajudar em alguma coisa. Com o tempo, você terá interação com a rede de contatos dos seus amigos mais extrovertidos e, aos poucos, irá aumentando a sua. Além disso, se você tiver um contato em comum com quem gostaria de conversar, peça para ele apresentar vocês.
Tem quem não goste muito de eventos sociais, mas evite recusar convites para almoços de equipe ou happy hour. Esses momentos de descontração entre colegas de trabalho são ideais para estreitar os laços, e descobrir quem entre as pessoas mais próximas tem boas ligações.
E quanto mais você circular pela companhia onde trabalha, melhor. “Algumas empresas permitem o intercâmbio de áreas ou então incentivam projetos de colaboração entre equipes. Essa é uma forma de interagir além do seu setor e também ganhar mais visibilidade profissional”, afirma Juliana Ribeiro, gerente executiva da Page Personnel.
Para ampliar a rede para fora da sua empresa, o básico é participar de eventos, palestras e cursos. A dica aqui é não ficar isolado em um canto olhando para o celular. Ative o modo “miss simpatia” e vá puxar assunto com algumas pessoas. Também evite conversar só com quem você já conhece.
Na hora de se envolver com atividades desse tipo, esteja atualizado sobre o mercado em que você atua. Assim, terá assunto para manter urna conversa e ainda mostrará que é um profissional antenado. E seja proativo. Promova encontros sobre temas que sejam do seu interesse.
Em eventos maiores, tente chegar mais cedo. É menos intimidador abordar alguém quando não há tanta gente por perto. E planeje os seus passos. “Para-se sentir mais seguro, estude os movimentos que vai fazer. Por exemplo, se vai falar com alguém pela primeira vez, pode dar “uma olhada nas redes sociais dele pra ver se vocês têm algum interesse em comum que vai ajudar a quebrar o gelo no início da conversa”, indica Rafael Almeida, gerente de parcerias estratégicas da Robert Half.
REDE VIRTUAL
0 networking é mais eficaz quando feito pessoalmente, mas o home office veio para ficar para boa parte dos profissionais. Então as redes de contato também precisaram se adaptar ao mundo virtual.
Existem cursos à distância e workshops online que permitem a interação entre os participantes. Se a plataforma não tiver essa possibilidade, pegue os contatos das pessoas e mande uma mensagem propondo um grupo de discussão.
Quem investe no networking online também precisa tomar cuidado para não manchar a sua imagem. Em primeiro lugar, não seja invasivo. Vai mandar uma mensagem no LinkedIn? Dê preferência para o horário comercial – e, por favor, não fique cobrando uma resposta da outra pessoa. No WhatsApp, mais cuidado ainda. Nada é mais aterrador do que estar no meio de um trabalho complexo e ficar vendo pedidos bobos de retorno pipocando na tela.
Também tenha cuidado com assuntos polêmicos, críticas a ex-colegas e a lugares onde trabalhou. Quem cospe no prato passa recibo de não ser uma pessoa confiável.
Também aproveite as redes para comemorar as suas vitórias corporativas – como a finalização de um projeto bacana, ou um curso para o qual você foi selecionado. E não se esqueça de citar as pessoas que te ajudaram. Se o projeto que você desenvolveu era em grupo, agradeça à equipe. Isso motiva as pessoas, a fazerem o mesmo por você.
E lembre-se: não fique apenas na internet. Como a pandemia mostrou, nada substitui o contato pessoal. Chame para um café ou para um almoço sempre que possível.
CULTIVANDO A SUA REDE
Por fim, não adianta nada ir aos ventos, pegar o cartão de visitas de todo mundo e não manter a conexão depois. O objetivo do networking não é aumentar a quantidade de contatos, é aprimorar a qualidade das relações, torná-las mais próximas.
Crie uma rotina para falar com as pessoas com certa frequência. Para aqueles que são mais próximos, você nem precisa ter um motivo específico para isso – só perguntar como anda a vida já vale.
Se for alguém do trabalho, tente interagir fora do ambiente corporativo. O mais comum é na horado almoço e no happy hour; mas você também, pode fazer isso nas redes sociais, além de marcar algo para o fim de semana. E evite falar só de trabalho.
Agora, com aqueles com quem você talou poucas vezes e só em contatos profissionais, a estratégia é diferente: compartilhe posts que sejam de interesse comum ou peça conselhos sobre um projeto.
Veja: quando se fala em manter uma frequência nos contatos, não significa coletar toda segunda-feira na agenda “falar com fulano”. Não existe um período mínimo ou máximo. “As pessoas ficam lisonjeadas quando a gente se lembra delas por motivos específicos. Você pode entrar em contato porque assistiu uma palestra de um assunto sobreo qual vocês já tinham conversado antes, por exemplo”, diz Juliana Ribeiro, da Page Personnel
O importante é que sua rede esteja atualizada sobre o que acontece com você. Assim, as pessoas poderão te oferecer oportunidades mesmo que você não tenha pedido.
Outra boa abordagem é pedir informações. Se o objetivo é se recolocar no mercado, não vá entregar o currículo para alguém só porque é seu amigo. Primeiro, pergunte para a pessoa como trabalhar na empresa onde ela está, os pontos positivos e negativos, e só depois pergunte como você poderia se candidatar para uma vaga.
Quem quiser pode até criar formas de organizar todos os contatos. Dá para, por exemplo, montar uma planilha com os dados de todo mundo: redes sociais, de colegas, e-mails e telefones de quem você conheceu e até informações como o lugar onde trabalha e interesses em comum. Ajuda a organizar sua rede.
Mas isso também não é regra. Para Rafael Almeida, da Robert Half, a catalogação dos contatos é interessante para profissionais que trabalham, por exemplo, na área comercial e precisam ter essas informações mais à mão para fechar negócios. “Mas se você está gerando network no dia a dia, acho que não faz sentido ter uma planilha. O networking deve ser natural. O que importa é estar atento às oportunidades.”
QUEM INDICA
Existem três níveis de network, definidos pela proximidade entre você e o seu contato.
1 – REDE PRIMÁIRA
Ela é composta por pessoas próximas com quem você possui contato direto ou algum envolvimento emocional. São amigos e familiares. Com eles, é mais fácil conversar, conseguir informações e pedir favores.
2 – REDE SECUNDÁRIA
Esse é o grupo dos colegas de trabalho e do ambiente acadêmico. A relação é mais formal, mas nem por isso deve ser fria. São essas pessoas que abrem as portas do mundo profissional e também podem acabar “promovidos” para a sua rede primária.
3 – REDE DE REFERÊNCIA
É composta por chefes e professores. São pessoas com quem você tem menos intimidade, mas servem como modelo para a carreira e exemplo de comportamento. Para eles, você não vai pedir emprego, mas vai buscar orientação e dicas profissionais.
Quando alguém diz que você é muito lúcido, seu ego fica massageado, não fica? Lucidez, num mundo insano como este, é ouro em pó. Outro dia me disseram que eu era muito lúcida e foi como se tivessem dito que eu era uma joia rara. Enfiei o elogio no bolso e voltei pra casa me sentindo a tal. Depois do jantar, abri um livro de poemas do meu amigo Celso Gutfreind, que além de poeta é psiquiatra, mas não atentei para o perigo da combinação. No meio da leitura, encontrei lá um verso que dizia: “Nada neste mundo é mais falso do que um lúcido”. Meu castelo de cartas ruiu.
Lúcidos, nós?? Certo está o Celso: não há a mínima chance. Podemos, quando muito, disfarçar, tentar, arriscar uma lucidez rapidinha para ajudar um filho a decidir um caminho, ou para escolher o nosso, mas com que garantias? Somos todos franco-atiradores diante dos medos, dos riscos, dos erros.
Acordo de manhã desejando fazer a mala, colocá-la no meu carro e pegar uma estrada que me leve para longe de mim, mas ao meio-dia estou sentadinha na sala de jantar comendo arroz, feijão, bife e batatas fritas com um sorriso no rosto e cronometrando as horas para não me atrasar para a mamografia: uma mulher lúcida, extremamente.
Tem noites em que o sono não vem, me reviro na cama deixando que me invadam os piores prognósticos: não sobreviverei ao dia de amanhã, não terei como pagar as contas, quem me cuidará quando eu for velha, o que faço com aquela camiseta tenebrosa que comprei, não posso esquecer de telefonar, de dizer, de avisar, e o escuro do quarto pesa sobre minha insensatez, até que o dia amanheça e me traga de volta a lucidez.
Enquanto trabalho com ar de moça séria e ajuizada, minha cabeça parece uma metralhadora giratória, os pensamentos sendo disparados a esmo: digo ou não digo; fico ou não fico; tento ou não tento – quem de mim é a sã e quem é a louca, por que ontem eu não estava a fim e hoje estou tão apaixonada, como estarei raciocinando daqui a duas horas, em linha reta ou por vias tortas? Alguém bate na porta interrompendo meus devaneios, é o zelador entregando a correspondência, eu agradeço e sorrio, gentil, demonstrando minha perfeita sanidade.
Que controle tenho eu sobre o que ainda não me aconteceu? E sobre o já acontecido, que segurança posso ter de que minha memória seja justa, de que minhas lembranças não tenham sido corrompidas? Quero e não quero a mesma coisa tantas vezes ao dia, alterno o sim e o não intimamente, tenho dúvidas impublicáveis, e ainda assim me visto com sobriedade, respondo meus e-mails e não cometo infrações de trânsito, sou confiável, sou uma doida.
E essa constatação da demência que os dias nos impingem não seria lucidez das mais requintadas? É de pirar.
Menor uso de máscaras, vírus com alta transmissibilidade e baixa cobertura vacinação do sarampo preocupam médicos
A chegada do outono no próximo dia 20 abre a temporada de maior incidência de vírus respiratórios no Brasil e coincide, neste ano, com o fim do isolamento social e a flexibilização do uso de máscaras. Após a baixa exposição da população aos vírus em 2020 e 2021, justamente por conta do confinamento e das medidas protetivas, a mudança de estação deixa o setor de saúde em alerta.
Segundo especialistas, representam risco para crianças, idosos e imunossuprimidos o vírus da gripe e o vírus sincicial respiratório (VSR), que não possui vacina. Fora isso, o que mais preocupa é a baixa cobertura vacinal do sarampo.
A infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, defende que a campanha de vacinação de gripe, prevista para abril, inclua também a vacina do sarampo para crianças de até 5 anos de idade.
Para ela, nesta faixa etária a doença ê mais perigosa do que a própria Covid-19:
“A realidade é que não tivemos campanha de vacinação no Brasil nos últimos dois anos, e é urgente vacinar contra o sarampo. que pode causar doenças como encefalite e meningite e levar crianças à morte”, diz.
Foram as baixas taxas de imunização que permitiram o ressurgimento do sarampo no país em 2018 e o surto ocorrido em 2019, com mais de 20 mil casos.
Um levantamento feito pela pesquisadora de políticas públicas Marina Bozzeto, da Universidade de São Paulo (USP), com dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), mostra que em 2021 a primeira dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) teve cobertura de 71,5%, abaixo da meta de 95% necessária para imunidade coletiva. A segunda dose e a dose única da tetraviral, que inclui ainda a varicela (catapora), atingiram somente 56%.
Em 2020, a cobertura da primeira dose ficou em 79%,segundo dados do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde.
MISTURA PERIGOSA
O infectologista Júlio Croda alerta que a queda da cobertura vacinal contra várias doenças, aliada à alta de transmissão de vírus respiratórios e à redução de medidas protetivas, pode ser uma combinação explosiva.
“Com o aumento sazonal dos vírus respiratórios, junto com a volta às escolas e atividades sem o uso de máscaras, a tendência é que essas doenças voltem a circular na mesma ou maior intensidade do passado, seja por conta da baixa cobertura ou pelo fato de que o vírus não circula há muito tempo e a população, de certa forma, perde a proteção. Pode haver surtos”, diz Croda.
Os adultos também estarão mais expostos. Tanto influenza quanto VSR, um dos principais causadores de infecção aguda nas vias respiratórias, podem provocar inflamação nos brônquios e pneumonia. Em crianças, o VSR pode deixar sequelas respiratórias, como asma.
Calcula-se que 90% das crianças de até 2 anos, nascidas durante a pandemia, terão agora o primeiro contato com o VSR.
A gripe terá vacina este ano com duas novas linhagens de vírus, o H3N2 (Influenza A), responsável por surtos entre o fim de 2021 e janeiro, e a Victoria (Influenza B). Até agora, o Instituto Butantan entregou dois milhões das 80 milhões de doses previstas no acordo com o governo federal. Ainda não há data prevista para o início da campanha, que costuma começar em abril para os grupos de risco (idosos, gestantes e crianças).
Para Alberto Chebabo, infectologista da Dasa e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), há outro complicador. Embora não se saiba se a Ômicron continuará a circular, parte da população chegará ao inverno com menos anticorpos contra a Covid:
“Há uma queda de anticorpos a partir do quarto ao sexto mês após a última dose da vacina. Pode ser que a gente chegue nos meses de maio a julho com um aumento no número de casos de pessoas suscetíveis.
Ekaterini Gondouris, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, diz que alérgicos também são mais vulneráveis a infecções virais, já que as mucosas das vias respiratórias mantêm um patamar mínimo de inflamação que expõe receptores aos vírus.
“Se sai todo mundo do casulo com a baixa cobertura vacinal, pode aumentar a incidência de qualquer tipo de vírus”, diz ela, que defende a manutenção de máscaras em ambientes fechados e a não aglomeração.
Entre os vírus comuns nesta época do ano estão ainda o rinovírus e o adenovírus, por exemplo. Em geral, inicialmente todos produzem quadros respiratórios semelhantes, o que ajuda a lotar hospitais. Os sintomas são também parecidos com os da Ômicron.
TESTAGEM COMPLETA
Com a popularização da testagem, é possível submeter o paciente a um painel viral, para identificar o que causa a infecção. Maria Amparo Martinez, coordenadora da Pediatria do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, acredita que o número de casos de problemas respiratórios deve aumentar neste ano. Além da sazonalidade, ela lembra que têm ocorrido surtos mais frequentes, como o de bronquiolite, que aumentou a internação de crianças entre outubro e dezembro de 2021.
“Além disso cada vez mais percebemos que as crianças estão infectadas por mais de um vírus ao mesmo tempo”, diz ela.
Na primeira infância explica, 80% das doenças infecciosas são virais. Para os especialistas, vacinar contra a gripe e manter o calendário dos demais imunizantes em dia é essencial. Embora viroses sejam comuns, elas podem levar a infecções secundárias, caso da pneumonia. Estudos mostram ainda que, para os adultos, depois da contaminação pela influenza, crescem os infartos e arritmias cardíacas.
“Está provado que o vírus influenza está relacionado a complicações cardiovasculares. Na semana que sucede uma gripe, aumenta o risco”, diz Rosana Richtmann, do Emílio Ribas.
Segundo a infectologista, é preciso atenção em anos pós-pandêmicos:
“É preciso estar muito alerta. Devemos ter um número maior de casos de influenza, e isso reforça a importância da vacinação”.
Com resultados terapêuticos comprovados, primeiros cachorros já conquistaram a licença para acompanhar seus tutores em ambientes públicos e privados de uso coletivo, nos transportes e em estabelecimentos comerciais no Estado do Rio
Se para alguns os cachorros são os melhores amigos dos humanos, para outros eles podem ser o melhor remédio. Com resultados terapêuticos comprovados, os cães de suporte emocional são uma das alternativas de tratamento para quem tem diagnóstico de ansiedade, pânico e depressão. Eles andam tão bem na fita que agora têm o direito de ir e vir ao lado de seus tutores garantido pela lei e até crachá de identificação, com foto e tudo. As primeiras carteirinhas foram entregues a cinco cachorros, no início do mês.
Uma das primeiras a receber a licença foi a bióloga Danielle Cristo, tutora do Rudá, seu segundo cão de suporte emocional, que a acompanha até no trabalho para onde vai de metrô e VLT.
“O cão de suporte emocional me acompanha em tudo que é lugar. Um pet, não”, diz Danielle, que se sente mais segura com seu companheiro por perto. “É a mesma coisa que um cão guia é para um cego. Ele facilita a minha locomoção e a minha interação com as pessoas. Quando não estou com ele, é tudo mais tenso. Com a morte da mãe, em 2010, ela conta que as coisas ficaram tumultuadas dentro de casa. Danielle desenvolveu um transtorno de ansiedade, que começou a ser tratado com terapia. Depois de algumas sessões, veio o Prince, um golden retriever, seu primeiro cão de suporte emocional.
A história de Danielle ajudou a autora do decreto. Marina Rocha, ex-deputada estadual e atual prefeita de Guapimirim, a desenhar a Lei Estadual 9.317/2021 que, não à toa, foi batizada como Lei Prince.
Mais do que um pet para fazer carinho, pegar bolinha e ganhar likes no Instagram, eles são companhia essencial no dia a dia de seus tutores. Justamente por ultrapassar a fronteira do pet friendly, a lei traz algumas garantias, como o livre trânsito em locais públicos ou privados de uso coletivo, qualquer meio de transporte público e em estabelecimentos comerciais no estado. A única restrição é em relação a locais em que seja obrigatória a esterilização individual. Até agora, pelo menos 20 tutores já entraram em contato com a Secretaria Estadual de Agricultura, responsável pelo controle das licenças.
“Já há o reconhecimento de que os animais de estimação melhoram, e muito, a vida das pessoas, e essa lei reforça ainda mais isso”, destaca o secretário, Marcelo Queiroz.
A multa para quem descumprir a lei chega a RS 4 mil – valor destinado ao Fundo Especial de Apoio a Programas de Proteção e Defesa do Consumidor.
A lei já apresenta resultados práticos. Aos 8 anos, Ayla foi ao cinema pela primeira vez na última quarta-feira, uma semana após receber o seu crachá de cão de suporte emocional. O filme nem foi o mais importante, mas, sim, a experiência de poder circular pelo shopping e pelo escurinho da sala sem preocupações – e com algumas pipocas.
“É uma vitória. Essa licença me dá uma tranquilidade incrível, vou poder até trabalhar com ela”, comemora Patrícia Rocha. “É muito difícil me separar dela. Eu me sinto perdida”.
RAÇAS DÓCEIS
Tutora de outros dois cachorros, Patrícia sabia que Ayla era diferente, mais companheira que os outros. Mas teve a confirmação quando soube da notícia da morte de sua mãe, por Covid-19, no fim de 2021.
“Estava sozinha em casa quando recebi a ligação. Na hora, ela pulou na minha cama e ficou me lambendo devagarinho até eu me acalmar”, conta Patrícia, relembrando da importância daquele momento. “Ela me salvou. É a minha vida”.
Segundo Elaine Chagas, psicóloga e sócia diretora do Instituto de Ensino, Pesquisa e Atendimento em Saúde Mental (lnTCCRio), os benefícios da Intervenção Assistida por Animais (IAA) estão sendo mais embasados cientificamente e, por isso, cada vez mais utilizados como apoio terapêutico para aliviar a solidão, reduzir estresse, promover e ampliar interação social e até mesmo como um fator de proteção para suicídio.
“Cachorros podem auxiliar psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatras e fisioterapeutas. É uma modalidade de tratamento comprovada cientificamente e que traz benefícios biopsicossociais”, afirma Elaine. “Conhecida hoje como IAA, a prática é recomendada para amenizar dores emocionais, dificuldades de aprendizagem ou deficiência físico-motora.
Mas, como nascem os cães de suporte emocional? Qualquer cachorro pode exercer a função, mas é preciso ter treinamento e vocação.
“Sigo a regra da focinheira. Não vou treinar um pitbull, um doberman. Essas raças não têm condições e frequentar o metrô ou outro transporte público, já que podem deixar outras pessoas desconfortáveis”, diz a adestradora Daniela Liguori, que prefere trabalhar com raças consideradas mais fofas, como Golden retriever, beagle, labrador e vira-latas.
“Mais importante do que treinar um cão, é modular o comportamento dele como um cachorro calmo para equilibrar o tutor”, explica Daniela.
ELE NÃO É UM MASCOTE
Para que a fórmula funcione, é importante seguir algumas recomendações. Por mais irresistível que seja, o cão de suporte emocional não deve ser tratado como um mascote.
“Não pode ficar dando tanto carinho, ficar falando com voz de bebê, nem ficar namorando o animal”, explica Daniela, reforçando que o comportamento do tutor tem impacto direto no resultado final. “É um dever de casa. Quanto mais isso for feito, mais o cachorro cresce e acaba dominando a situação.
Antes que alguém pense que só há espaço para trabalho duro na vida de um cão de suporte emocional, vale ressaltar que eles também têm seus momentos de lazer total. Quando estão à paisana, sem o colete e o crachá de identificação, os carinhos e brincadeiras estão liberados.
“Quando estou com o Rudá na rua, tenho que segurar a onda porque, como ele é muito dócil, todo mundo quer fazer carinho, mas pode tirar o foco dele”, explica Danielle. “Na hora da recreação, quando ele está sem o colete, é momento de brincadeira, que ele pode se empolgar, brincar e até latir, o que não faz normalmente.
O QUE É PRECISO PARA TER UM CÃO COM FINS DE INTERVENÇÃO ASSISTIDA
Responsável pelas licenças, a Secretaria estadual de Agricultura recebe a documentação dos tutores e animais. As informações devem ser enviadas para o endereço de e-mail rjpetsuporteemocional@agricultura.rj.gov.br e, precisam ser atualizadas a cada seis meses.
DOCUMENTOS DO TUTOR:
RG, CPF, laudo médico especificando a CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), telefone e e-mail.
DOCUMENTOS DO CACHORRO:
Foto atual do animal, carteira de vacinação (múltipla e anti rábica) atualizada, foto do colete na cor vermelha com a identificação do cão de suporte emocional, certificado de adestramento assinado por escola de adestramento ou profissional autônomo, com CPF e RG do mesmo.
Levantamento aponta que estudos favoráveis à prática tiveram falhas
A homeopatia perdeu status de medicina baseada em evidência em boa parte da comunidade médica por não ter demonstrado eficácia em testes clínicos. Defensores dessa prática, no entanto, ainda se escoram em uma pequena parcela de estudos que vem mostrando resultados positivos. Mas uma nova investigação revela que boa parte desses trabalhos têm problemas éticos e metodológicos.
A conclusão é de um levantamento coordenado pela Universidade Danúbio de Krems, na Áustria, que analisou um conjunto de estudos desenhados para avaliar a eficácia da homeopatia para diferentes problemas de saúde. Os cientistas analisaram os ensaios clínicos realizados entre 2000 e 2013, e constataram que 38% daqueles que foram registrados antes da execução não publicaram resultados depois, uma exigência ética. Entre os testes cujo resultado foi publicado, 53% não haviam sido registrados, outra omissão questionável.
Ao analisar os testes que foram tanto registrados quanto publicados, os pesquisadores notaram que um quarto deles alterou regras e critérios de avaliação dos pacientes ao longo do trabalho, os chamados “desfechos primários”. Essa outra violação do padrão ouro da pesquisa clínica, afirmam os cientistas, tem como objetivo prevenir a manipulação da apresentação de resultados.
Ao separar os estudos com boa metodologia daqueles com condutas questionáveis, por fim, os cientistas de Krems viram que os problemas se concentravam no lado dos estudos favoráveis à homeopatia.
“O registro de testes publicados foi infrequente, muitos testes registrados não foram publicados, os resultados primários foram com frequência trocados ou alteados”, diz o estudo, liderado pelo epidemiologista Gerald Gartlehner. “Isso provavelmente afeta a validade do corpo de evidência da literatura cientifica sobre homeopatia e deve superestimar o efeito real de tratamentos com remédios homeopáticos”.
O estudo do cientista com o resultado da investigação foi publicado na revista BMJ Evidence-based Medicine, do grupo British Medical Journal. No jargão dos cientistas, o fenômeno ilustrado no estudo foi o do “viés de publicação”, ou seja, o favorecimento à divulgação de pesquisas que tiveram resultado positivo, com a ocultação dos resultados negativos. A lacuna entre a coleta dos dados para o estudo de Gartlehner encontrada em 2013, e sua divulgação agora, ocorreu justamente para que testes clínicos encerrados há dez anos já tivessem sido publicados.
DILUIÇÃO INFINITA
A homeopatia caiu em desuso entre círculos médicos na maior parte do mundo não por se mostrar ineficaz, mas porque sua base cientifica carece de coerência, explicam Gartlehner e colegas. Essa prática se baseia por exemplo, em uma crença chamada “princípio da similaridade”, segundo a qual a mesma coisa que causa uma doença é capaz de curá-la. Outro conceito no receituário homeopata é o da diluição infinita, segundo o qual essas substâncias ganham poder curativo quando são diluídas a frações ínfimas até sumirem do remédio preparado, deixando propriedades curativas na ”memória da água”.
Em muitos países, inclusive no Brasil, parte da comunidade científica pede que a homeopatia deixe de ser reconhecida como prática médica. A microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, afirma que o cenário de pesquisa em homeopatia é uma “conta de chegada”.
“Eles já sabem o resultado que querem, que é mostrar que a homeopatia pode ter relevância, e forçam a barra para conseguir qualquer resultado que pareça positivo. E quando nem isso funciona, simplesmente escondem os inúmeros estudos com resultados negativos”, afirma a cientista.
Entramos em contato com a Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB) para perguntar se a entidade teme que o trabalho dos cientistas austríacos possa prejudicar o reconhecimento dessa prática terapêutica no Brasil, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta reportagem.
Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado (Jó 42.2).
A vida cristã não é uma jornada sobre tapetes aveludados. Não caminhamos por estradas juncadas de pétalas. Não vivemos numa colônia de férias ou num parque de diversões. Não somos blindados nem vivemos numa estufa espiritual. Nossa vida se desenrola num campo de batalha. Aqui ainda não é o paraíso. Quando Jó estava no fundo do poço, doente, pobre, acusado, abandonado, Deus o levou a responder aos ataques dos amigos intercedendo por eles. Em vez de revidar com farpas envenenadas, Jó ergueu a Deus súplicas em favor dos seus amigos. Nesse momento, então, Deus restaura a sorte de Jó e dá em dobro tudo quanto ele tinha. Deus restaura a saúde de Jó, que ainda vive mais 140 anos. Deus restaura o casamento de Jó, que gera mais dez filhos. Jó tem agora dez filhos no céu e dez filhos na terra. Jó vê ainda os filhos de seus filhos até a quarta geração. Deus restaurou sua sorte. É bem verdade que ninguém compreendeu a saga de Jó. Satanás estava errado porque pensou que um homem não poderia amar a Deus mais do que ao dinheiro, à família e à própria vida. A mulher de Jó estava errada porque pensou que Deus não deve ser adorado no sofrimento. Os amigos de Jó estavam errados porque pensaram que Jó estava sofrendo por algum pecado cometido. Jó estava errado porque pensou que Deus o afligira sem causa. Deus restaurou Jó, mas não lhe deu nenhuma explicação. Hoje mesmo, Deus pode restaurar a sua sorte também!
Conheça o mundo dos pentesters, os especialistas em invadir sistemas de empresas para aprimorá-los contra ataques cibernéticos.
Aos 11 anos, Cristian Souza descobriu que podia colocar computadores para fazer o que ele quisesse. Ficou encantado e nunca mais parou. Aos 12, identificou uma brecha de segurança num código que ele mesmo desenvolveu. Logo após fazer os devidos reparos, começou a criar diferentes tipos de vírus, que mandava para as máquinas de amigos – era só pela brincadeira, mas funcionava. “Na época, era muito mais fácil invadir computadores do que hoje”, relembra.
Aos 14, Cristian decidiu cursar ensino médio com curso técnico em informática. Queria entender também o hardware, então fez um curso de eletrônica. Com 16, já prestava consultoria em cibersegurança. Ao chegar aos 18 anos, enquanto muitos jovens estão pensando em vestibular, já tinha publicado artigos em que documentava as soluções que havia desenvolvido.
Hoje, aos 22, é consultor e instrutor de treinamentos na área em uma grande empresa do ramo, a Daryus Consultoria, de São Paulo (SP). Mora em Natal (RN) e trabalha de forma remota. Ele é um “hacker ético”, ou “hacker do bem”. A atividade desse profissional consiste basicamente em hackear empresas – de forma autorizada, claro, com o procedimento estabelecido por contrato. Os ataques acontecem em horários combinados previamente – há clientes que preferem que a ação aconteça em horários de pico de uso dos computadores, outros temem que o teste prejudique a rotina das equipes e oferecem horários alternativos.
Finalizado o trabalho, que pode durar de 40 a 160 horas não contínuas, geralmente distribuídas em turnos de 8 horas diárias, cinco dias por semana, o profissional entrega um relatório detalhado, com instruções e orientações.
Geralmente, o executor do teste transforma esse relatório em uma apresentação corporativa tradicional, com slides sintetizando as eventuais brechas nos sistemas. “Tudo precisa ser documentado, em cada etapa do processo”, afirma Cristian Souza, que, diga-se, nunca pegou um cliente que estivesse 100% imune a ataques. “Alguma falha sempre aparece, é inevitável.”
EMPREGO FIXO OU DESAFIOS
Grandes empresas rodam testes de vulnerabilidade com frequência. São verificações rápidas, que identificam falhas primárias, como algum erro na configuração do servidor ou a concessão de autorizações inadequadas quando uma pessoa que não precisa acessar determinadas informações sensíveis vai parar na lista de logins permitidos.
O ideal é que, antes do lançamento de algum novo aplicativo, ou logo após grandes mudanças na TI, como atualizações de software, as organizações chamem um hacker ético, que realiza um procedimento conhecido como pentest (acrônimo de penetracion test). Essa expressão também denomina o nome oficial da profissão: pentester.
O primeiro passo da ação de um pentester é justamente executar o teste de vulnerabilidade tradicional à procura de brechas. Geralmente as encontra, e então começa a explorá-las para verificar quão graves são as falhas. Em algumas modalidades de teste, um time de atacantes forma um “red group” e atua contra uma equipe de defesa, um “bluegroup”, que tenta barrar suas ações.
Gênios precoces, como Cristian Souza, são muito disputados no mercado – que, como acontece com frequência na área de TI, conta com mais demanda do que profissionais qualificados e vê os melhores profissionais serem procurados por empresas de outros países, que permitem trabalho de home office e pagam em moeda forte.
A formação acadêmica não tem muito peso. “O profissional deve provar que consegue invadir uni sistema. É o que importa”, relata André Silva, COO da HackerSec e especialista em cibersegurança. “Ele precisa pensar como os criminosos, conhecer quais são as estratégias deles, e saber operar não apenas em computadores, mas também com sistemas de outros equipamentos, como aparelhos de TV.”
Os empregadores mais comuns são as empresas especializadas em segurança digital, além de companhias de grande porte, que mantém pentesters em seus departamentos internos de TI. Os salários partem de RS 2 mil para os iniciantes, chegam a R$ 7 mil para os profissionais de nível pleno, ultrapassam R$ 10 mil no nível sênior e vão além dos RS 20 mil para os cargos gerenciais. Além do mercado de trabalho formal, há também os concursos de hackers: companhias pagam prêmios para aquele que conseguir hackear seus sistemas, e explicar como fez isso. Os prêmios partem de USS 150, e podem chegar a USS 100 mil nos casos mais extremos. Existem empresas especializadas em divulgar esses concursos de hackers, como a HackerRank e a brasileira BugHunt.
Recentemente, começaram a surgir cursos de curta duração que colocam os pentesters para aprender na prática – a Daryus e a HackerSec oferecem os seus, com laboratórios que simulam sistemas corporativos, de modo que os alunos tentem romper as defesas. Ubiratan Cascales, coordenador de inteligência contra ameaças cibernéticas da Apura, outra consultoria da área, reforça que o mais importante é se manter atualizado. “É fundamental uma rotina de leitura de veículos especializados em segurança digital”, afirma.
Em outras palavras, este é um trabalho dinâmico, sem rotina, para pessoas que suportam bem situações de pressão. Além disso, vale desenvolver um jogo de cintura, já que os relatórios trarão informações necessariamente negativas aos clientes.
A luta entre hackers do bem e do mal é eterna, já que o progresso de um leva ao aprimoramento do outro. A ascensão das criptomoedas também ajudou o lado sombrio da força. Hoje são cada vez mais comuns os crimes de ransonware. Ranson é “resgate” em inglês: um grupo de hackers toma o controle do sistema de uma companhia e pede um resgate para “libertá-lo”. As criptos facilitam a vida do sequestrador – já que eles podem pedir o depósito do resgate em carteiras digitais anônimas e irrastreáveis. Por essas, o número de ataques tem sido mais do que expressivo. De acordo com a empresa de segurança digital Forcinet, só no primeiro semestre de 2021 aconteceram no Brasil mais de 16,2 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos (ou seja, um único time de sequestradores digitais pode fazer milhões de tentativas com a ajuda de robôs). “Esses grupos de criminosos organizados atuam globalmente, adotando as melhores tecnologias disponíveis e buscando, inclusive, informações fornecidas por colaboradores das empresas”, afirma Cascales.
Ou seja: estamos diante de uma área em que jamais faltará demanda por mão de obra.
UM DIA NA VIDA
ATIVIDADES-CHAVE
Utilizar todas as ferramentas de um “hacker do mal” para tentar Invadir os sistemas da empresa.
PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS
Conhecer tanto de programação quanto de arquitetura de hardware. Atualizar–se diariamente sobre as técnicas dos grupos criminosos.
O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA
Basta ser um bom hacker, o que não demanda conhecimentos acadêmicos específicos. Para avançar na carreira, é recomendável graduação em alguma área de TI, mas as certificações específicas em segurança são mais importantes.
QUEM CONTRATA
Multinacionais, em especial, porque a matriz exige que as filiais entreguem relatórios constantes sobre a segurança de dados sensíveis. E empresas de cibersegurança que vendem serviços de pentesting no mercado
O casamento é permanente, o namoro é provisório. O amor é permanente, a paixão é provisória. Uma profissão é permanente, um emprego é provisório. Um endereço é permanente, uma estada é provisória. A arte é permanente, a tendência é provisória. De acordo? Nem eu.
Um casamento que dura 20 anos é provisório. Não somos repetições de nós mesmos, a cada instante somos surpreendidos por novos pensamentos que nos chegam através da leitura, do cinema, da meditação. O que eu fui ontem e anteontem já é memória. Escada vencida degrau por degrau, mas o que eu sou neste momento é o que conta, minhas decisões valem para agora, hoje é o meu dia, nenhum outro.
Amor permanente… Como a gente se agarra nessa ilusão. Pois se nem o amor por nós mesmos resiste tanto tempo sem umas reavaliações. Por isso nos transformamos, temos sede de aprender, de nos melhorar, de deixar pra trás nossos imensuráveis erros, nossos achaques, nossos preconceitos, tudo o que fizemos achando que era certo e hoje condenamos. O amor se infiltra dentro de nós, mas seguem todos em movimento: você, o amor da sua vida e o que vocês sentem. Tudo pulsando independentemente, e passíveis de se desgarrar um do outro.
Um endereço não é pra sempre, uma profissão pode ser jogada pela janela, a amizade é fortíssima até encontrar uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos, e se tudo isso é soberano e tem valor supremo, é porque hoje acreditamos nisso, hoje somos superiores ao passado e ao futuro, agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe – até que o tempo vire.
Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós.
Para os problemas na parte inferior da coluna, esqueça a barriga tanquinho e foque em caminhadas, atividades variadas que trabalhem o ‘core’ e aprenda a fazer movimentos que desenvolvam controle muscular e da coluna
Os últimos anos não foram gentis com a parte inferior das minhas costas. Entre os custos físicos da gravidez, maternidade e trabalho remoto, tenho uma sensação constante de rigidez e dor na parte inferior da coluna. Não estou sozinha: estima-se que até 80% dos americanos desenvolvem a dor lombar durante a vida, com 15% a 20% dos adultos relatando o problema por ano.
O exercício poderia prevenir parte dessa dor? A resposta curta é: talvez. Uma mistura consistente de cardio e trabalho localizado pode ajudar. No entanto, o exercício por si só não é garantia de alívio da dor, pois há uma série de erros que muitos de nós, mesmo atletas experientes, podemos cometer.
A coluna é suscetível à dor quando o core (construído por músculos do abdômen, da lombar, da pelve e do quadril) está fraco.
“A parte inferior das costas é o ponto central de todo o nosso corpo”, explica Krishna Shah, especialista em dor crônica da Universidade de Medicina de Baylor. A coluna tem que ser móvel, capaz de dobrar e torcer em várias direções, ao mesmo tempo que suporta o peso do nosso corpo. Ao redor dela estão os músculos do core.
Os músculos do core funcionam de forma semelhante a um colete nas costas, mantendo a barriga estável e ereta. É por isso que usar uma órtese fornece alívio da dor a curto prazo, mas confiar demais em uma pode enfraquecer essa musculatura. Em vez disso, o objetivo deve ser fortalecer a região o suficiente para fazer o trabalho da órtese.
“Se você pode desenvolver sua própria órtese interna, isso é mais eficaz”, afirma Sean Barber, neurocirurgião do Hospital Metodista de Houston, Texas.
A dor aguda nas costas muitas vezes é o resultado de puxar ou esticar um músculo que se tornou fraco ou rígido. Se esse músculo não pode fornecer a força necessária, a pressão se desloca para a coluna de forma que leva à dor. Desenvolver a força do core, a flexibilidade e o controle muscular podem ajudá-lo.
O EXERCÍCIO FORTALECE A COLUNA
A maneira mais simples de fortalecer sua coluna é se mover regularmente ao longo do dia, em qualquer ritmo, seja com uma andadinha durante o trabalho ou numa caminhada mais longa pela manhã ou à noite.
Pessoas que são fisicamente ativas tendem a ter menos dor nas costas, e uma recente metanálise de 25 estudos descobriu que a maneira mais eficaz de prevenir a recorrência da dor lombar era o exercício regular.
“O exercício não cura todo mundo, mas é uma ótima opção. Não existe um único tipo de exercício que tenha se mostrado eficaz. Se você está fazendo uma variedade de exercícios, provavelmente está recebendo todas as coisas de que precisa. É como sua dieta”, diz Mark Hancock, professor de fisioterapia e um dos autores do estudo.
Segundo Shah, a atividade física também fortalece os ossos e a cartilagem da coluna, protegendo contra a degeneração relacionada à idade e aumenta o fluxo sanguíneo para os discos da região que não recebem muito suprimento de sangue.
Se você tiver tempo tente caminhar ou correr rápido. Vários estudos sugerem que os corredores têm discos de cartilagem mais espessos e saudáveis na coluna do que as pessoas que não são ativas.
TRABALHE OS MÚSCULOS NEGLIGENCIADOS DO CORE
Trabalhar o core é crucial para evitar futuras dores nas costas. Mas exercícios populares, como flexões ou abdominais, trabalham principalmente os músculos externos maiores, negligenciando os músculos mais profundos.
“Não é preciso muito esforço para ativar esses músculos profundos, mas eles são negligenciados porque você não pode vê-los. Pessoas com barriga tanquinho ainda
Podem ter dor lombar se estiverem trabalhando apenas os músculos externos mais fortes”, explica Femi Betiku, fisioterapeuta do Centro de Fisioterapia de Nova Jersey.
Os músculos profundos são exigidos durante movimentos que demandam mais controle do que força bruta. Uma maneira de aliviá-los é fazer pranchas, seja regular, lateral ou outras variações. Agachamentos e pontes são opções. Para construir e manter a força do core, deve ser feito de duas a três vezes por semana.
Há também esportes e atividades físicas que exigem contração leve do core, como caiaque, ciclismo, dança, boxe, escalada e natação. Qualquer atividade que exija um certo nível de controle sobre o abdómen ajudará.
TRABALHE NO CONTROLE DA COLUNA
Além de exercícios de fortalecimento, pesquisas sugerem que é importante desenvolver a coordenação muscular e o controle da coluna.
Em um estudo de 2018, os pesquisadores compararam atletas de elite com uma população de pessoas moderadamente ativas. Metade de cada grupo tinha dor lombar. Para a surpresa dos pesquisadores, tanto os atletas quanto as pessoas comuns apresentaram rigidez semelhante e falta de controle sobre a coluna.
Para combater isso, a dica é apostar no pilates porque, em vários exercícios, a coluna permanece estável ou se move muito lentamente, o que desenvolve o controle muscular ao longo da coluna quando ela está em posições diferentes.
INCORPORE UM ELEMENTO DE INSTABILIDADE AO TREINO
Em outro estudo, pesquisadores descobriram que adicionar instabilidade aos exercícios – como se equilibrar em uma superfície irregular – era eficaz no alívio da dor lombar. Se trata menos da quantidade de força muscular e mais da capacidade de controlar com precisão a ativação e desativação de todos os músculos que estabilizam a coluna.
Escolher esportes que incluam um elemento de reatividade, seja caminhar em uma superfície rochosa ou jogar vôlei, podem resultar em um nível semelhante de desenvolvimento e controle muscular. Exercícios com peso corporal, como flexões, barra fixa e agachamentos, também ajuda m, pois exigem coordenação de corpo inteiro, em vez do movimento isolado de levantar pesos.
Estudos mostram que momentos de ruptura abrem uma oportunidade única para definir e alcançar novos objetivos
Se alguma vez houve um momento perfeito para fazer uma mudança de vida, este momento é agora.
Os cientistas comportamentais afirmam que tempos de ruptura e transição também criam novas oportunidades de crescimento e mudança. A interrupção pode vir de muitas formas, e acontece quando a vida nos tira de nossas rotinas normais. Pode ser mudar-se para uma nova cidade, começar um novo emprego, casar-se ou divorciar-se, e até mesmo ter um filho. E, para muitos de nós, nunca houve uma ruptura maior na vida do que a pandemia, que mudo a maneira como trabalhamos, comemos, dormimos, exercitamos, e como nos conectamos com amigos e familiares.
“Acho que esse novo começo é realmente uma grande oportunidade. Não sei quando teremos outro igual. Temos esse quadro em branco para trabalhar. Está tudo na mesa para começar de novo”, diz Katy Milkman, professora da Wharton School e autora do livro “Como mudar: a ciência de ir de onde você está para onde você quer estar”.
Grande parte dos trabalhos de pesquisa de Milkman se concentram na ciência dos novos começos, que ela chama de “o efeito do recomeço”. Ela e seus colegas descobriram que estamos mais inclinados a fazer mudanças significativas em torno de “marcos temporais” – aquelas datas do ano que naturalmente associamos a um novo começo.
O Dia de Ano Novo é o marco temporal mais óbvio em nossas vidas, mas aniversários, o início da primavera, o começo de um novo ano letivo, até mesmo o princípio da semana ou o primeiro dia do mês são marcos temporais que criam oportunidades psicológicas de mudança.
Um estudo descobriu que, quando as pessoas foram aconselhadas a começar a economizar dinheiro em meses avulsos, elas eram menos propensa a fazê-lo do que um grupo de pessoas instruídas a começar a economizar em torno de seu aniversário, que também estava a alguns meses de distância. O grupo de aniversário conseguiu juntar de 20 a 30% mais dinheiro.
De acordo com Milkman, embora a pandemia esteja longe de terminar, para muitas pessoas, o afrouxamento das restrições – e a vacinação significam planejar férias e retornar às rotinas de trabalho e escola. É exatamente esse tipo de novo começo psicológico que pode desencadear o efeito do recomeço.
“Temos a oportunidade para mudar nossos hábitos de saúde e sermos conscientes sobre o nosso dia a dia. Como vai ser a nossa rotina de almoço? Quais são nossos hábitos de exercícios? Há uma oportunidade de repensar. Como queremos que seja um dia de trabalho?”, questiona Milkman.
NÃO É TARDE DEMAIS
À medida que a pandemia recua, algumas pessoas estão tão preocupadas que as restrições e tempo em casa tenha sido um tempo de oportunidades perdidas. A organizadora de eventos americana Leslie Scott diz que sente que acabou de passar por um ano estressante, mas sem fazer mudanças significativas na vida.
“Às vezes me pergunto se desperdicei esse tempo. Tenho toda essa ansiedade de que vamos voltar ao que as pessoas pensam como normal. À medida que saímos de nossos casulos, estou emergindo de algo e me movendo em direção a coisas novas ou estou apenas presa?”, indaga Scott.
Embora algumas pessoas tenham desenvolvido novos hábitos saudáveis durante a pandemia, não é tarde demais se você passou seus dias nos últimos dois anos apenas sobrevivendo. A boa notícia é que o fim da pandemia é provavelmente um momento mais oportuno para mudanças significativas do que quando você estava enfrentando a ansiedade das restrições.
“A pandemia da Covid-19 foi um momento terrível para muitos de nós. Há muitas evidências do que é chamado de crescimento pós-traumático – que podemos sair mais fortes e com um pouco mais de significado em nossas vidas depois de passar por eventos negativos. Acho que todos podemos aproveitar essa terrível fase para obter algum crescimento pós-traumático em nossas próprias vidas”, reflete Laurie Santos, professora de psicologia em Yale.
PRÓXIMO CAPÍTULO
Um dos maiores obstáculos à mudança sempre foi o fato de que tendemos a estabelecer rotinas difíceis de quebrar. Mas, segundo Santos, a pandemia destruiu o planejamento de muitas pessoas, preparando-nos para uma redefinição.
“Todos nós mudamos muito nossas rotinas. Acho que muitos percebemos que algumas das coisas que fazíamos antes da Covid-19 não eram o tipo de coisa que estava levando ao crescimento em nossas vidas. Estamos percebendo que aspectos de nosso trabalho e vida familiar, e até nossos relacionamentos, provavelmente precisam mudar se quisermos ser mais felizes”, afirma Santos.
Para Milkman, uma razão pela qual novos começos podem ser tão eficazes é que os humanos tendem a pensar na passagem do tempo em capitulo; ou episódios, em vez de em um continum. Como resultado, pensamos no passado em termos de períodos, como nossos anos de ensino médio, os anos de faculdade, os anos em que vivemos em uma determinada cidade ou trabalhamos em um determinado emprego. No futuro, provavelmente olharemos para ano da pandemia como um capítulo igualmente único de nossas vidas.
“Temos intervalos de capítulos, como se a vida fosse um romance: é assim que marcamos o tempo. Isso tem implicações para a psicologia dos novos começos, porque esses momentos que abrem um novo capítulo nos dão a sensação de um novo começo. É mais fácil atribuir qualquer falha ao ”velho eu”. Você sente que pode alcançar mais agora, porque está em um novo capítulo”, explica Milkman.
Embora o início de um novo capítulo seja um ótimo momento para mudanças, as páginas se transformarão rapidamente. Agora que estamos emergindo das restrições da vida pandêmica, os cientistas sociais dizem que é o momento ideal para começar a pensar no que você aprendeu no ano passado. Quais são os novos hábitos que você deseja manter e quais partes de sua vida pré-pandemia você deseja que fique para trás?
“É hora de repensar suas prioridades. Temos que nos perguntar: “Como vou administrar meu tempo?”. Temos um período limitado para deliberar sobre uso, porque rapidamente teremos um novo padrão estabelecido e provavelmente não o repensaremos novamente por um tempo”, conta Milkman.
“Minha esperança é que saiamos dessa pandemia com um pouco mais de apreço pelas pequenas coisas da vida”, completa Santos.
Depois de dois anos dentro de moletons e pijamas, na clausura da pandemia, as mulheres começam a exibir as formas. Eis o recado dos recentes desfiles de alta-costura
A chegada da cantora Rihanna na manhã da terça-feira 1º de março à Paris Fashion Week – semana de moda mais badalada do mundo – deu a temperatura do que aconteceria dali a pouco, no desfile da coleção de inverno 2023 da Dior. Linda aos seis, sete meses de gestação (poucos sabem o tempo exato), a artista surgiu com as formas exuberantes à mostra, a bordo de um modelo criado para ela pela grife francesa. O que Rihanna vestia (ou revelava) é a essência de uma das marcas mais fortes da temporada. As transparências se tornaram onipresentes nas peças recentes das casas de alta-costura, aparecendo em detalhes vazados, rendas e tecidos fluidos. A ideia é dar à beleza do corpo a evidência que merece.
A tendência começou a ganhar força com os naked dresses, os vestidos transparentes que apareceram no ano passado em resposta aos moletons, pijamas e camisetas que as pessoas estavam usando havia mais de um ano, entre quatro paredes, por causa da pandemia. De lá para cá, o desejo de expor a pele se intensificou, refletindo no que se vê agora nas passarelas. ”As pessoas querem se mostrar, tomar vento, pegar sol”, diz a estilista e consultora de moda Manu Carvalho. “Foi muito tempo com o corpo escondido por roupas e pelo isolamento social.”
O anseio tem seu ápice agora, momento em que a distância entre o recato doméstico e a euforia social diminui. Pouco a pouco, a vida retoma seus trilhos graças à vacinação e à suspensão das medidas restritivas adotadas em vários países. Como depois da tempestade vem a bonança, a resposta brotou com estardalhaço e arrojo. Não à toa, portanto, os vestidos diáfanos foram um show à parte nas passarelas. ”Antes, as transparências apareciam de maneira básica”, diz Manu Carvalho. ”Agora, são ousadas e elaboradas”. Exemplos nítidos do que descreve a especialista foram apresentados pela Chanel na capital francesa, e com um gostinho especial de fetiche, mostrando o que antes era tabu mostrar.
Some-se ao grito de rebeldia – sim, a roupa é uma forma poderosa de expressão feminina e de autoestima – um interessante movimento de uso de tecidos que ajudam a ampliar a sensação de transparência. No desfile de Jean-Paul Gaultier, estampas em 3D emolduravam lindos e longos vestidos see-through (em tradução livre do inglês, ver através). Há quem diga que os excessos das semanas de moda delas não saem, de tão ousados. Não é verdade. As minissaias e corsets de Alexandre Vauthier, em Paris, e o repertório da Prada para o inverno de 2023, mostrado em Milão, comprovam que as peças translúcidas podem, sim, ser transportadas das passarelas para a vida real. Vesti-las talvez exija algum atrevimento. Se faltar, e houver dúvida em torno do que deixar visível no corpo, convém lembrar do que disse a estilista Coco Chanel (1883-1971): ”A moda é arquitetura: é uma questão de proporções”. Se a guerra na Europa não nos embrutecer, triste e melancolicamente, justo agora que começávamos a sair da Covid-19, é possível vislumbrar um 2022 translúcido, límpido como havia tempos não vivíamos.
Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra (Jó 19.25).
Quando os nossos recursos acabam na terra, precisamos saber que o nosso Senhor vive no céu. Quando as nossas forças se esgotam, precisamos saber que o nosso Deus é onipotente. Quando os nossos pés vacilam, precisamos saber que o nosso Deus nos carrega no colo. Quando Jó estava encurralado pela dor, curtindo suas perdas e sendo acusado por seus amigos, olhou para o céu e, num rasgo de fé, disse: eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. […] os meus olhos o verão (Jó 19.25,27). Nossa esperança está no Senhor. Nosso consolo é saber que o Senhor venceu a morte. Nossa esperança está no fato de que a morte não tem a última palavra. Nós triunfaremos sobre a doença. Nós venceremos o túmulo gelado. Nós veremos o Senhor. Nosso corpo de fraqueza será transformado num corpo de poder. Nosso corpo corruptível será transformado num corpo de glória. Nosso corpo mortal será revestido da imortalidade. A vitória do Senhor sobre a morte é o estandarte da nossa fé. Não nutrimos uma vaga esperança. Não nos alimentamos de um mito. Não estamos pisando em terreno movediço. Estamos firmados numa rocha inabalável. Teremos um corpo semelhante ao corpo da glória do Senhor. Veremos o Senhor face a face. Nós o serviremos e com ele reinaremos pelos séculos eternos. Isso não é sugestionamento barato; é uma verdade insofismável!
Com o crescimento do home office, o conceito de autogestão começa a ganhar mais força nas empresas. Entenda como aplicá-lo
Em 1936, Charles Chaplin levou às telas dos cinemas a síntese da modernidade no longa Tempos Modernos: um operário que madrugava para chegar ao trabalho, tinha seu tempo contado pelo sino da fábrica e, por 16 horas de seu dia, repetia o mesmo movimento de apertar parafusos que rodavam numa linha de produção. Em um dos momentos mais icônicos da história do cinema, Carlitos é engolido pela engrenagem, simbolizando a desumanização dos trabalhadores fabris.
Passados mais de 80 anos, teóricos discutem um novo tipo de relação de trabalho, que quebra os paradigmas da liderança autoritária e dá aos profissionais mais liberdade para realizar suas tarefas – algo acelerado pela pandemia de covid-19, que tornou o home office fundamental para a saúde das pessoas e o funcionamento das companhias. “Estamos saindo de uma era industrial, que prega as filas e o bater de sino das fábricas, para um mundo exponencial”, afirma Fabrício Matias, líder de desenvolvimento de negócios na Macfor, agência de marketing digital.
Por isso, as empresas têm apostado em estruturas organizacionais que prezam menos pela lógica do controle e colocam no centro a autonomia. Assim ganha espaço um conceito que tem se espalhado pelo mundo corporativo: a autogestão, que basicamente combina práticas e estruturas com foco na autonomia e na distribuição de poder entre os membros de uma equipe.
OUTRA PIRÂMIDE
Ao contrário do que possa parecer, autogestão não é deixar o funcionário à deriva. Para funcionar, a política precisa seguir processos estruturados – é isso o que representa a nova hierarquia, que não está mais centrada nas pessoas, mas nas tarefas. “Deixamos de ter uma pirâmide hierárquica em que o poder está nas mãos dos chefes. Na autogestão, esse poder é do processo”, diz Kellie Crosara, consultora de design organizacional que ajuda a implementar a autogestão nas companhias. Por processo entende-se as regras e acordos criados dentro da organização, visando a distribuição de poder.
Além disso, os acordos firmados entre organização e funcionários, líderes e equipes e entre pares também têm um peso importantíssimo para regular as estruturas autogeridas. Os acordos vão desde o momento em que um empregado aceita trabalhar pelos valores e propósitos macro da companhia, passando pela compreensão de como o seu trabalho ajuda a engrenagem da empresa, chegando até a entrega das metas do dia a dia cumprindo os prazos estabelecidos e usando os preceitos comporta mentais e técnicos necessários para a realização daquela atividade. “A autogestão traz as responsabilidades de forma explícita”, diz Kellie. Ou seja, os profissionais precisam compreender o que devem fazer, até onde têm autonomia para executar suas atividades sozinhos e quando precisam de validações de outras áreas, colegas ou líderes.
Foi apostando nos processos e nos acordos que a Aché começou a trilhar seu caminho para a autogestão – e o impulso veio da crise da covid-19, que fez com que a companhia adotasse o home office formalmente. ”A pandemia acelerou tudo o que queríamos fazer, abrindo uma oportunidade para que pudéssemos acelerar e trabalhar uma cultura de autonomia, autogestão e transparência. O objetivo é fazer com que as pessoas entendam do que o negócio precisa e estimulá-las a participar das decisões”, diz Tatiana Sereno, diretora de pessoas, cultura e sustentabilidade da Aché.
Para isso, a farmacêutica de 5.000 funcionários passou a selar acordos entre os funcionários – algo que não existia e que foi implementado em 2020. Semanalmente as equipes discutem as atividades da quinzena com os líderes, e cada um tem autonomia para realizar o trabalho da forma como preferir, tendo sempre em mente o objetivo alinhado e o propósito por trás dele. O acompanhamento é feito por meio de checkpoints, momentos rápidos de feedback e follow up que buscam ajudar nos desafios das entregas. “É uma evolução enorme na companhia. Damos ferramentas para o desenvolvimento dos profissionais e queremos que eles venham mesmo a ser protagonistas”, diz Tatiana.
O protagonismo, aliás, é o que embasa esse estilo de gestão e algo que deve ser bem trabalhado por empresas que queiram migrar para esse modelo. A Hotmart, companhia de produtos digitais com 1.000 empregados, pode inspirar, pois é assim desde a fundação, em 2011. “Dentro da responsabilidade inerente à posição, as pessoas têm total autonomia para tomar as decisões sobre o tema, definir como querem executar o trabalho no dia a dia, resolver os problemas e implementar as ideias. Mas ninguém trabalha sozinho”, diz César Barboza, diretor de talentos da organização, salientando que a autonomia não pode significar, em nenhuma hipótese, distanciamento do objetivo comum.
O QUE FAZEM OS LÍDERES
Embora a autogestão reinterprete a hierarquia corporativa, isso não significa que os líderes se tornam desnecessários. Cabe aos gestores uma tarefa importantíssima: manter o alinhamento constante e disseminar o propósito, que se desdobra em vários níveis, desde o macro (o valor da empresa) até o micro (o que o funcionário deve fazer e por quê). A questão é que, em empresas maduramente autogeridas, os cargos passam a ter cada vez menos importância, e a responsabilidade de liderar é compartilhada por todos.
Rodrigo Bastos, sócio da Target Teal, consultoria de desenvolvimento organizacional, traz uma imagem que exemplifica bem o conceito: “A autogestão acontece quando a pessoa mais bem paga de uma reunião propõe algo, um participante se opõe trazendo uma objeção importante e impede que o acordo seja aprovado”. Isso mostra um novo papel da liderança, mais baseado em construção conjunta e orientação do que em puro comando.
Na Macfor, que tem 60 funcionários, os gestores são orientados a manter, sempre, o alinhamento com os times – algo crucial para um dos pilar es da empresa, o da liberdade. Por lá, as equipes têm autonomia para realizar as tarefas. “Liberdade exige muita responsabilidade e, para que funcione, é preciso haver um alinhamento bem conciso e acessível entre o líder e o liderado sobre aonde se quer chegar”, afirma Fabrício Macias, líder de desenvolvimento de negócios na Macfor. Para isso, os gesto res são orientados a explicar detalhadamente qual é o papel de cada profissional – algo essencial para esse estilo de trabalho.
SEM PINICO
Quando chega a hora de implementar a autogestão nas companhias, o temor é um dos fatores que mais paralisam as organizações. “O maior desafio é o medo. Medo de mudar, de perder o controle, de não conseguir executar”, diz Heloísa Capelas, CEO do Centro Hoffman, empresa de treinamento e coaching.
Mas é possível superar esse obstáculo. Urna maneira é aplicar a autogestão em um projeto piloto em um time específico. Escolhida a equipe, vale seguir as orientações da consultora Kellie Crosara.
Primeiro, é preciso mapear os papéis de cada profissional, escrevendo as responsabilidades de todos e deixando os cargos de lado. Depois, verificar se há responsabilidades que caminham juntas, mas que estão sendo atribuídas separadamente, para agrupá-las em um papel único que possa ser executado por apenas uma pessoa. Então, notar se há atividades importantes que não estão unidas e que podem ser usadas para criar um novo papel. Com essa revisão dos papéis, as funções deixam de ser apenas um nome, a estrutura ganha transparência e os funcionários se tornam protagonistas de suas responsabilidades.
Implantar a autogestão sem tocar na cultura é impossível. E esse pode ser outro ponto desafiador na caminhada de mudança organizacional. Isso porque, embora o RH tenha a função de ser o guardião e estimular a nova cultura, as transformações são lentas e acontecem no dia a dia, com exemplos das lideranças e símbolos transmitidos pela companhia. “Não podemos atribuir uma mudança a uma área apenas”, diz Mário Custódio, diretor na empresa de recrutamento Robert Half. O consultor Rodrigo Bastos complementa: “Um erro fatal é achar que fazer um treinamento é estar pronto. O comportamento do gestor vai mudar quando várias coisas mudarem ao redor dele. Não simplesmente porque ele passou por um treinamento”.
COMPETÊNCIA DO FUTURO
Pensando do ponto de vista do profissional, a autogestão é urna grande competência a ser desenvolvida para o futuro do trabalho. Afinal, atuar nesse estilo de gestão demanda habilidades em alta para os próximos anos, como inteligência emocional (para selar acordos e deixar o ego dos cargos de lado) e autoconhecimento (um recurso poderoso para refletir sobre a responsabilidade, tão necessária nesse modelo). “Entender que toda luz tem uma sombra e que toda sombra tem uma luz vai facilitar nossa autogestão”, diz Heloísa Capelas.
Outro ponto que vem à tona na autogestão é o conceito de accountability, que muitas empresas estão buscando estimular em seus times. “Que possamos assumir a responsabilidade por nossas escolhas. Se eu propus algo e o resultado não foi o esperado, que eu assuma em vez de ficar buscando culpados”, afirma Kellie Crosara.
Se a autogestão será a mudança definitiva de paradigma do futuro do trabalho é difícil afirmar, mas o modelo traz uma discussão importante: a necessidade de colocar a humanização no centro das companhias, e não mais, como no filme de Carlitos, os humanos dentro das máquinas.
OS MANDAMENTOS DA AUTOGESTÃO
Conheça cinco pontos cruciais para implementar esse estilo de trabalho
1 – DESENHAR PAPÉIS
Mais do que cargos, a autogestão pede um olhar atento para as posições de uma companhia e uma descrição sincera das tarefas e do poder de atuação de cada um dos funcionários. Na pratica, os papéis fazem as vezes dos cargos.
2 – ENCONTRAR PROPÓSITOS
Quando se desenha um papel, também é importante definir um propósito maior que norteará as ações. Além disso, deve-se criar propósitos para os diferentes papéis, o que deixa as expectativas quanto ao trabalho mais claras.
3 – MANTER O COMBINADO
Na autogestão , não pode haver microgerenciamento. Por isso, vale a pena estruturar uma lista de combinados que serão executados por cada funcionário e checar o andamento do trabalho periodicamente para ver se está tudo bem ou se alguém precisa de ajuda.
4 – DISTRIBUIR O PODER
O poder, na autogestão, não fica restrito à liderança: é distribuído em todos os níveis. Para isso funcionar, cada profissional precisa se sentir confortável em propor e barrar ideias.
5 – LIBERTAR
A liberdade é um dos pontos mais importantes. Para conquistá-la, a empresa tem que criar um ambiente em que funcionários tenham autonomia para executar, usar a criatividade e trilhar um caminho próprio para a resolução dos problemas.
A maioria dos nossos tormentos não vêm de fora, estão alojados na nossa mente, cravados na nossa memória. Nossa sanidade (ou insanidade) se deve basicamente à maneira como nossas lembranças são assimiladas. “As pessoas procuram tratamento psicanalítico porque o modo como estão lembrando não as libera para esquecer.” Frase do psicanalista Adam Phillips, publicada no livro O flerte.
Como é que não pensamos nisso antes? O que nos impede de ir em frente é uma lembrança mal lembrada que nos acorrenta ao passado, estanca o tempo, não permite avanço. A gente implora a Deus para que nos ajude a esquecer um amor, uma experiência ruim, uma frase que nos feriu, quando na verdade não é esquecer que precisamos: é lembrar corretamente. Aí, sim: lembrando como se deve, a ânsia por esquecimento poderá até ser dispensada, não precisaremos esquecer de mais nada. E, não precisando, vai ver até esqueceremos.
Ah, se tudo fosse assim tão simples. De qualquer maneira, já é um alento entender as razões que nos deixam tão obcecados, tristes, inquietos. São as tais lembranças mal lembradas.
Você fez cinco anos, sonhava em ganhar a primeira bicicleta, seu pai foi viajar e esqueceu. Uma amiga íntima, que conhecia todos os seus segredos, roubou seu namorado. Sua mãe é fria, distante, e percebe- se que ela prefere disparado sua irmã mais nova. E aquele amor? Quanta mágoa, quanta decepção, quanto tempo investido à toa, e você não esquece – passaram-se anos e você, droga, não esquece.
Essas situações viram lembranças, e essas lembranças vão se infiltrando e ganhando forma, força e tamanho, e daqui a pouco nem sabemos mais se elas seguem condizentes com o fato ocorrido ou se evoluíram para algo completamente alheio à realidade. Nossa percepção nunca é 100% confiável.
O menino de cinco anos superdimensionou uma ausência que foi emergencial, não proposital.
Você nem gostava tanto assim daquele namorado que sua amiga surrupiou (aliás, eles estão casados até hoje, não foi um capricho dela).
Sua mãe tratava as filhas de modo diferenciado porque cada filho é de um modo, cada um exige uma demanda de carinho e atenção diferente, o dia que você tiver filhos vai entender que isso não é desamor.
E aquele cara perturba seu sono até hoje porque você segue idealizando o sujeito, se recusa a acreditar que o amor vem e passa. Tudo parecia tão perfeito, ele era o tal príncipe do cavalo branco sem tirar nem pôr. Ajuste o foco: o coitado foi apenas o ser humano que cruzou a sua vida quando você estava num momento de carência extrema. Libere-o dessa fatura.
São exemplos simplistas e inventados, não sou do ramo. Mas Adam Philips é, e me parece que ele tem razão. Nossas lembranças do passado precisam de eixo, correção de rota, dimensão exata, avaliação fria – pena que nada disso seja fácil. Costumamos lembrar com fúria, saudade, vergonha, lembramos com gosto pelo épico e pelo exagero. Sorte de quem lembra direito.
POR QUE NÃO SE DEVE PRATICAR EXERCÍCIOS PERTO DO TRÂNSITO
Ritmo acelerado da respiração durante a atividade física facilita a absorção de toxinas, impactando até no declínio mental
Fazer exercícios físicos em lugares poluídos pode resultar na perda de alguns dos benefícios que essa atividade proporciona, de acordo com dois novos estudos sobre exercício, qualidade do ar e saúde do cérebro.
As pesquisas descobriram que, na maioria das vezes, as pessoas que correm e pedalam vigorosamente têm volumes cerebrais maiores e menores riscos de demência do que seus colegas menos ativos. Mas se as pessoas se exercitavam em áreas com níveis moderados de poluição, as melhorias esperadas quase desapareciam.
Um grande conjunto de evidências demonstra que, em geral, o exercício deixa nosso cérebro mais forte. Nos estudos, pessoas ativas geralmente exibem mais massa cinzenta, composta pelos neurônios essenciais e funcionais do cérebro, do que pessoas sedentárias. Pessoas em boa forma também tendem a ter mais saudável a matéria branca – as células que suportam e conectam os neurônios. A substância branca geralmente se desgasta com a idade, encolhendo e desenvolvendo lesões semelhantes aos buracos encontrados no queijo suíço, mesmo em adultos saudáveis. Mas pessoas ativas têm lesões cada vez menores.
Como consequência dessas alterações cerebrais, o exercício está fortemente associado a menores riscos de demência e outros problemas de memória quando uma pessoa envelhece.
Mas a poluição do ar tem efeito oposto no cérebro. Um estudo de 2013 revela que americanos mais velhos que vivem em áreas com altos níveis de poluição mostraram distúrbios na massa branca e tendiam a desenvolver taxas mais altas de declínio mental.
Poucos estudos, no entanto, exploraram como o exercício e a poluição do ar podem interagir, e se fazer exercícios em um ar poluído protegeria nossos cérebros de gases nocivos ou prejudicaria o bem que ganhamos.
Assim, no primeiro dos novos estudos, publicado em janeiro pela revista científica Neurology, usaram registros de 8,6 mil adultos de meia-idade britânicos cujos dados constam do UK Biobank (um grande repositório de informações sobre saúde e estilo de vida). Os pesquisadores concentraram sua atenção nas pessoas que se exercitavam vigorosamente com frequência. Quanto mais pesada a respiração, mais poluentes uma pessoa aspira. Os pesquisadores também incluíram, para comparação, dados de algumas pessoas que nunca se exercitavam vigorosamente.
Em seguida estimaram os níveis de poluição nos lugares em que as pessoas viviam, e por fim compararam as tomografias cerebrais de todos os envolvidos. As associações positivas praticamente desaparecem nas pessoas que se exercitam com frequência, mas viviam em áreas poluídas, ainda que moderadamente.
A massa cinzenta delas era menor e as lesões na massa branca mais numerosas do que as das pessoas que vivem e se exercitam longe da poluição, mesmo que praticassem a mesma quantidade de exercício.
Agora, um estudo publicado este mês pela revista científica Sports & Exercise reforça essas constatações, ao analisar 35.562 participantes mais velhos. Os dados demonstraram que quanto mais as pessoas se exercitassem, menor a probabilidade de que desenvolvessem demência – desde que o ar dos locais em que vivem seja limpo. Em lugares onde o ar era moderadamente poluído, no entanto, existia risco ampliado de demência em longo prazo, quer a pessoa se exercitasse, quer não.
“A constatação de que a poluição do ar nega os benefícios bem estabelecidos do exercício físico para a saúde cerebral é alarmante e torna mais urgente o desenvolvimento de políticas regulatórias mais efetivas”, disse Pamela Lein, professora da Universidade da Califórnia. Diversas medidas podem ajudar a fortificar os benefícios do exercício físico para o cérebro, segundo David Raichlen, um dos autores do estudo. Ele recomenda, se possível, se manter afastado de vias de tráfego pesado. Também é importante checar a qualidade do ar (lembrando que ela muda ao longo do dia). Fazer exercícios em ambientes fechados não traz vantagens, mas o uso de máscaras – cirúrgicas ou PFF2 – filtram alguns particulados insalubres, como fuligem e outros materiais.
Em um mundo assombrado por uma guerra e uma pandemia, a resiliência torna-se a habilidade emocional indispensável para impedir que corpo e mente desmoronem
Em determinado trecho de Guerra e Paz, o clássico do escritor russo Liev Tolstói, Pierre Bezúkhov – o personagem principal da monumental história passada em meio à invasão da Rússia em 1812 pelas tropas francesas de Napoleão – faz uma reflexão pungente. Bezúkhov, filho ilegítimo de um conde e apresentado como um jovem idealista imerso numa jornada em busca da essência do espírito, é obrigado a amadurecer em meio à realidade bruta da guerra e das relações humanas descritas magistralmente por Tolstói. Depois de ter sido preso pelos franceses e testemunhado as atrocidades cometidas pelas tropas napoleônicas, o personagem resume o que leva da experiência. “Eles dizem: sofrimentos são infortúnios. Mas se neste minuto eu fosse perguntado se eu permaneceria como era antes de ter sido pego como prisioneiro, ou se passaria por tudo novamente, eu diria, pelo amor de Deus, deixem-me ser um prisioneiro e comer carne de cavalo novamente. Nós imaginamos que assim que somos arrancados de nosso caminho habitual tudo acaba, mas é apenas o começo de algo novo e bom. Enquanto houver vida, haverá felicidade. Há muito, muito diante de nós.”
O ensinamento que Tolstói transmite por meio das palavras de Bezúkhov é extraordinário. Ele resume de que forma o ser humano é capaz de manter intacta sua estrutura emocional mesmo quando o mundo desaba ao seu redor. Pode ser em razão de uma guerra, como a que afligiu o personagem Bezúkhov, ou a que agora reduz ao sofrimento milhões de pessoas na Ucrânia atacadas pelas tropas de Putin. Ou de uma pandemia, como na Gripe Espanhola, entre 1918 e 1920, durante a qual, estima-se, 50 milhões de pessoas tenham morrido, ou a de Covid-19, doença que nos últimos dois anos tirou a vida de 6 milhões de indivíduos. Ou, então, o desmoronamento provocado pelas pequenas tragédias pessoais, aquelas sobre as quais não há holofotes, mas que seguem alimentando as dificuldades humanas e das quais praticamente ninguém escapa.
Não importa a origem do sofrimento. O segredo para sobreviver emocionalmente às adversidades da vida está no grau de resiliência de cada um. A palavra é emprestada da física e significa a capacidade que determinado material tem de aguentar pressões e voltar à forma original passado o estresse. Traduzindo para o universo humano, o conceito diz respeito à habilidade de se adaptar a diferentes circunstâncias e manter-se são. “Resiliência é a combinação entre ser apto a se levantar se for preciso e ter treinamento necessário para ser flexível em um mundo incerto como o de hoje, onde não sabemos o que pode acontecer”, define Dorie Clark, da Universidade Duke, nos Estados Unidos. De fato, a capacidade tornou-se a diferença entre quem passa por tudo sem ruir e aqueles que podem nunca mais se erguer diante de mazelas tão desafiadoras quanto as atuais. É preciso ser resiliente em relação às aflições universais, às exigências profissionais, às transformações sociais e às demandas afetivas de uma sociedade em permanente ebulição.
Por se tratar de tema tão decisivo, e tão intimamente ligado à realidade, a resiliência ganhou espaço na ciência comportamental nas últimas quatro décadas. Descobriu-se que a dificuldade de lidar com a complexidade do mundo pode adoecer corpo e mente. Os estudos tomaram fôlego ao mesmo tempo que floresciam as investigações sobre a depressão e a ansiedade, enfermidades psiquiátricas cujas raízes também têm a ver com o jeito de responder a circunstâncias hostis. Desde o início, a pergunta a ser respondida era a seguinte: por que as pessoas reagem de maneira diferente diante de uma mesma situação desfavorável? A explicação possibilitaria identificar de que material são feitos uns e não outros, os que sobrevivem às pressões e os que sofrem.
As respostas começam agora a surgir. A questão central que emerge das informações levantadas é a importância da percepção que cada indivíduo tem dos problemas. O psicólogo americano George Bonanno, coordenador do Laboratório de Perdas, Traumas e Emoções da Universidade Columbia, em Nova York, pesquisa o assunto há 25 anos e, segundo ele, a força da resiliência pode variar de acordo com a classificação dada pela pessoa a determinado acontecimento. É o indivíduo que vai considerar se o evento foi traumático ou, ao contrário, se representou uma oportunidade de aprender e de crescer. “O que aconteceu só será um trauma se o vivenciarmos e nos lembrarmos dele como tal”, diz Bonanno.
É dificílimo fazer o que ele e outros estudiosos do tema sugerem. Contudo, é exatamente assim que agem os mais resilientes. Basta ver os jovens que se casaram em plena pandemia ou em plena guerra na Ucrânia. Também são vários os exemplos de pais e mães que perdem filhos para doenças ou violência e transformam a dor em combustível para promover iniciativas que ajudam comunidades de vítimas de tragédias semelhantes. E o fazem independentemente das condições da própria vida. Ricos ou pobres, esses indivíduos dão ao infortúnio o significado de oportunidade em vez de marcá-lo com o símbolo da amargura.
Mas eles não nascem assim. Descobriu-se, felizmente, que a resiliência não é inata. É possível construí-la ao longo dos anos ou aprendê-la rapidamente, se preciso. “Qualquer pessoa é capaz de usar recursos para enfrentar os problemas”, diz o psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira Neto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo. O primeiro movimento é prestar atenção nos fatores que influenciam quanto cada um será resiliente. O essencial é criar mecanismos que mudem as reações cognitivas e comportamentais diante de um obstáculo. Há ferramentas psicoterapêuticas eficazes para isso, usadas para ensinar os indivíduos a reclassificar pensamentos negativos, a reagir racionalmente, a dar aos fatos a dimensão correta e a compreender que os contextos mudam. O sofrimento não vai durar para sempre. “As pessoas precisam aprender, ainda, que a maioria dos problemas não foi criada por elas”, diz Emerson Santos, diretor-geral da Escola da Inteligência, organização que atua em 1.000 escolas do país dando aulas de resiliência e inteligência emocional, com mais de 300.000 alunos impactados.
O outro aspecto a ser trabalhado é o social. É possível ensinar desde cedo uma criança a lidar mais adequadamente com situações hostis oferecendo a ela a possibilidade de enxergar algo positivo onde parece haver só escuridão. Um caminho é proporcionar um ambiente familiar afetuoso e seguro, estimulando a capacidade de adaptação a novas circunstâncias. Para os adultos, a resiliência pode ser alimentada em situações que ofereçam a convivência com pessoas acolhedoras, acessíveis e prontas para ajudar e por meio da sensação de pertencimento. “Toda pessoa que se vê pertencente a um grupo sente-se amparada na luta contra um desafio”, diz o psiquiatra Oliveira Neto.
Ser resiliente é atributo vital para a sobrevivência humana. Se não fosse assim, o mundo estaria ainda pior em questões que exigem a força emocional de todos, como o enfrentamento da Covid-19. No entanto, é graças à resiliência demonstrada em dois anos de pandemia que o brasileiro hoje pode comemorar a suspensão total ou parcial do uso de máscaras em várias cidades do país, feita na hora certa e com o aval da ciência. É coisa para se orgulhar. A resiliência nos fez chegar a um bom porto, e com algum louvor, apesar das perdas. A crise sanitária, a mais dura em um século, é prova de que a sociedade consegue lidar com obstáculos. Tomando por empréstimo as palavras de Pierre Bezúkhov, o personagem de Tolstói, muita gente pensou que, ao sermos arrancados do caminho habitual, tudo acabaria. Mas a resiliência, insista-se, nos faz agora vislumbrar o começo de algo novo e, quem sabe, bom, apesar das guerras.
Pesquisa mostra que a grande maioria das brasileiras não se encaixa no formato que combina cintura fina e quadris avantajados, o muito exaltado corpo “violão”
No imaginário popular, a brasileira típica tem quadris avantajados e cintura fina, o célebre formato “violão”, cantado em prosa e verso. Na mais conhecida “confirmação” dessa característica, a espetacular Martha Rocha (1932-2020), favorita no concurso de Miss Universo 1954, teria perdido a coroa por causa de 2 polegadas no quadril acima do permitido (uma balela inventada por um fotógrafo e só desmentida por ela décadas mais tarde). Agora, uma pesquisa minuciosa, elaborada com o propósito de definir um padrão de tamanhos para as confecções, põe abaixo esse mito. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), 76% das brasileiras têm o corpo no formato retangular, com mínima diferença entre tórax e quadril, e cintura pouco pronunciada. Na forma de ‘colher”, que mais se aproxima na pesquisa ao “violão” estão apenas 39% das brasileiras. “O corpo ‘violão’, explorado no cinema, na música e na propaganda, nunca foi o padrão daqui. A realidade do Brasil é mais complexa, por resultar da miscigenação de europeus, africanos e indígenas”, explica Denise Bernuzzi de Sant’Anna, historiadora da PUC-SP.
Para coletar seus dados, a ABNT transportou Brasil afora um body scanner, equipamento capaz de medir com precisão 116 partes do corpo humano, pelo qual passaram 6.400 mulheres ao longo de cinco anos. As medições apontaram cinco biótipos principais, predominando, de longe, o “retângulo” – que independe de peso e altura e culmina nas impecáveis proporções do corpo da modelo Gisele Bündchen. A estrutura corporal, ao contrário do formato dos olhos e do tipo de cabelo. Não é imutável e depende do meio em que se vive – segundo pesquisas, 40% dela é genética e 60%, moldada por fatores ambientais. “Os hábitos locais influenciam a maneira de lidar com o corpo e a forma que ele vai assumir”, afirma o geneticista Salmo Raskin.
Os concursos de miss, a partir dos anos 1950, foram os impulsionadores do mito da mulher-violão, ao privilegiar a cintura fina e os quadris e coxas largos, que eram o padrão de beleza na época. Mas o rótulo viria a colar definitivamente nas brasileiras nas campanhas turísticas promovidas pelo governo no exterior, sobretudo entre 1960 e 1980. Nelas, a imagem do “paraíso tropical” sempre trazia na linha de frente mulheres com pouca roupa e quadris e retaguarda exuberantes, mensagem sexista e degradante que acabou sendo apagada na propaganda e em outras frentes. Hoje em dia, “violões” como Kim Kardashian, Beyoncé e a brasileira Iza exibem suas formas como prova de força feminina, com orgulho e proposital descaramento.
No que se refere a seu objetivo inicial, a ABNT espera que, de posse dos resultados da pesquisa, as confecções possam padronizar os tamanhos das peças femininas, de maneira que um P ou G tenham aproximadamente as mesmas medidas em todas as marcas. ”A intenção é conseguir unificar os padrões”, diz Maria Adelina Pereira, superintendente do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da ABNT, ampliando para os trajes delas uma uniformização que já existe para roupas masculinas e infantis. Como não há regulação atualmente, cada marca usa o molde que bem entende. A orientação da ABNT é que, junto com os tradicionais P, M e G e outras indicações de tamanho, a etiqueta inclua a medida em centímetros de busto, cintura e quadril aos quais a roupa se destina. Além de facilitar a vida das consumidoras, a uniformização dará maior eficiência às vendas por comércio eletrônico, em que, na falta de provador, 10% das compras são devolvidas. Grandes redes varejistas, como Renner e Amaro, já anunciaram que vão aderir à nova padronização, que não é obrigatória. “Ela vai contribuir para dar mais segurança à cliente”, diz Fernanda Feijó, diretora de estilo da Renner. Boa notícia para a brasileira, seja ela “retângulo”, “colher” ou qualquer outra configuração.
Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra (Jó 42.10).
Uma das maiores angústias da vida é lidar com o silêncio de Deus. Às vezes, o silêncio de Deus grita mais alto em nossos ouvidos do que o barulho das circunstâncias adversas. Jó foi açoitado com o azorrague da dor. Ele perdeu seus bens, seus filhos e sua saúde. Além disso, ainda sofreu a falta de solidariedade da esposa e a incompreensão dos amigos. Nessa tempestade assustadora, Jó ergueu aos céus dezesseis vezes a mesma pergunta: Por quê? Por quê? Por quê? Por que estou sofrendo? Por que a minha dor não cessa? Por que perdi os meus filhos? Por que não morri no ventre de minha mãe? Por que não morri ao nascer? Por que o Senhor não me mata de uma vez? A todas essas perguntas, Jó escutou a mesma resposta: o total silêncio de Deus! Jó fez 34 queixas contra Deus. Espremeu todo o pus de sua alma, gritou do mais profundo do seu coração, mas não lhe veio nenhuma explicação acerca das razões de seu sofrimento. Quando Deus rompeu o silêncio, não deu a Jó nenhuma explicação. Ao contrário, fez-lhe setenta perguntas: “Onde estavas, Jó, quando eu lançava os fundamentos da terra? Onde estavas quando eu espalhava as estrelas no firmamento? Onde estavas quando eu cercava as águas do mar?” Deus revela a Jó sua soberania e Jó se humilha até o pó, dizendo: Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza (v. 5,6). Nem sempre Deus nos dá explicação; mas ele sempre nos promete restauração.
As práticas de ESG criaram um grande dilema para o RH: como trabalhar o meio ambiente, a sustentabilidade e a governança sem cair na armadilha das ações vazias de marketing?
Em 2004, o Pacto Global, da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial, lançou a publicação Who Cares Wins (“Quem. se importa ganha”, em tradução livre), e um termo chamou a atenção: ESG (sigla em inglês para meio ambiente, sociedade e governança). O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, endereçava uma carta a 50 CEOs de grandes instituições financeiras ressaltando a importância de integrar fatores ambientais, sociais e de governança ao mercado de capitais. De lá para cá, o termo ganhou impulso. Tanto que a Global Sustainable Investment Alliance divulgou que o mercado de investimento responsável já chega a 31 trilhões de dólares no mundo.
No Brasil, a relação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que servem como pilares do ESG, já está presente em muitas corporações. De acordo com o índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, 83% das companhias possuem ações ou programas de meio ambiente, sociais e de governança. Muitas delas, inclusive, criaram áreas utilizando a sigla como nome.
O ESG cresceu no Brasil no ano passado coma ajuda da pandemia de covid -19, pois era preciso mostrar empatia num momento tão crítico. As empresas começaram a olhar para dentro e a investir em ações e projetos de sustentabilidade, governança, meio ambiente e equidade de gênero, por exemplo. Mais do que doar quantias para instituições e governos lidarem com o novo coronavírus, todos queriam mostrar que tinham sensibilidade com o momento. O resultado? Fundos ESG captaram 2,5 bilhões de reais em 2020 – e mais da metade desse valor veio de fundos criados nos últimos 12 meses, segundo a Morningstar e a Capital Reset. “Esse movimento veio para ficar. Como agora dói no bolso, as empresas estão prestando mais atenção”, afirma Fabio Alvarez, diretor financeiro da consultoria NEO.
E O RH NESSA HISTÓRIA?
Muitas práticas que têm a ver com essa temática são estruturadas dentro dos departamentos de recursos humanos. Atrair pessoas de grupos minoritários, conscientizar os funcionários sobre diversidade, pensar em políticas e acessibilidade e construir um projeto de equidade de gênero invariavelmente são pautas do setor de pessoas. Mas como as áreas conseguiram se estruturar para o novo desafio?
“A grande novidade é que o ESG entrou na agenda do CEO. No entanto, o RH precisou e acabou sendo envolvido em algum momento. E a grande dor desse profissional é o conhecimento. Muitas vezes o gestor dessa área é formado em psicologia ou administração e precisa lidar com meio ambiente e com diversidade”, diz Liliane Rocha, fundadora da consultoria Gestão Kairós.
Por isso, a política deve se tornar uma jornada de longo prazo, com desenvolvimento dos profissionais que vão atuar coma questão – e com a formação de uma cultura organizacional voltada para o tema. “As pessoas estão no centro dessa discussão. Não existe transformação se a empresa inteira não está envolvida”, diz Marina Procknor, sócia do escritório de advocacia Mattos Filho, que desde 2019 tem uma divisão exclusiva para atender às demandas de ESG. “As instituições estão evoluindo, mas é preciso ajuda para cumprir os critérios rígidos e escapar de armadilhas como ações sem efetividade e que são puramente marketing”, explica Antônio Augusto Reis, também sócio do Mattos Filho.
SEM AUTOPROMOÇÃO
O grande dilema dos profissionais atuantes na área do ESG, inclusive os de recursos humanos, é o chamado greenwashing (em tradução livre, “banho verde”), que significa divulgar ações que não são efetivas, apenas para melhorar a imagem da empresa. O que pega muito mal. Para Fábio Milnitzky, CEO da IN, tudo precisa passar pelo propósito e deve estar alinhado à cultura da companhia. Do contrário, não haverá sucesso. “O ESG bem-feito força a equilibrar as visões de mundo com o dia a dia do negócio. Essa é uma demanda por mais transparência, pois, na verdade, trata-se de uma visão sistêmica aplicada na prática”, explica o consultor.
Ter práticas sustentáveis que olhem para o meio ambiente, a diversidade e a governança auxilia na manutenção de talentos e melhora a percepção dos funcionários em relação à empresa. É algo muito mais profundo do que uma simples carta com protocolos assumidos. Por isso, as ações devem ser gerenciadas de forma integrada.
“Quando se fala em ESG, ter um ambiente de governança estabelecido requer que as empresas brasileiras atuem de acordo com as melhores práticas de mercado, e não se pode pensar apenas em uma questão e deixar o restante de lado. As companhias têm que gerenciar suas ações de forma que as questões sociais e ambientais reflitam o nível de sustentabilidade e responsabilidade da organização”, explica Cynthia Catlett, vice- presidente da Charles River Associates, consultoria global que acabou de abrir escritório no Brasil e oferece prestação de serviços na área.
Mais do que uma nuvem passageira, as organizações precisam estruturar-se e contar com o apoio do RH para conseguirem equalizar as necessidades do negócio com o imperativo de ser sustentável, socialmente responsável e ter governança. Em um mundo conectado e de milhões de “canceladores”, não dá mais para adotar ações apenas com o intuito da autopromoção. Conheça a seguir dois exemplos de companhias que estão construindo práticas robustas.
DE LONGO PRAZO
Na brasileira de papel e celulose Suzano, com 35.000 funcionários diretos e indiretos, não há uma área chamada ESG. Todas as ações são coordenadas pelo departamento de sustentabilidade e desenvolvidas, acompanhadas e analisadas pelo pessoal de recursos humanos.
Argentino Oliveira Neto, diretor de gente e gestão, tem no seu comando 200 profissionais que ajudam nas jornadas de projetos de meio ambiente e governança – algo que acontece desde 2015.
“Nosso negócio é celulose e papel. Tudo vem da árvore, da natureza. Na nossa indústria, precisamos falar de sustentabilidade. Os investidores e os clientes dos clientes já querem saber, já assumem uma parcela da responsabilidade de cobrar”, diz o executivo.
Em 2019, por causa da demanda dos próprios funcionários, a Suzano organizou grupos de afinidades para projetos de inclusão. Cinco minorias estão no radar: mulheres, negros, LGBT+, PCDs e gerações. O RH percebeu que os grupos precisavam de embaixadores, mas também havia a necessidade de uma governança clara, com metas. Para 2025, foram estabelecidas as seguintes diretrizes: chegar a 30% de pessoas negras em cargos de liderança, 30% de mulheres em cargos de liderança, ser uma empresa 100% inclusiva para LGBT+ e totalmente acessível.
Como uma indústria que tem negócios importantes com Europa e Estados Unidos, a Suzano já incluía em sua cultura as preocupações que hoje formam os pilares do ESG. “Esses mercados nos exigem conformidade e ações em prol do meio ambiente e da sustentabilidade, com sinergia e muita governança”, diz Cristiano Oliveira, gerente executivo de sustentabilidade da Suzano. No entanto, os dois profissionais enfatizam que as práticas não nasceram apenas norteadas pelos fundos de investimento. “Tudo era uma preocupação da diretoria, e por isso conseguimos desenvolver de forma orgânica”, explica Argentino. A companhia tem recebido o apoio de uma consultoria para conquistar as metas e fez benchmarking utilizando metodologias da China e do Leste Europeu.
O esforço está gerando resultados. A empresa anunciou no ano passado a emissão de títulos de longo prazo com a menor taxa já obtida na história por urna empresa brasileira para vencimentos com prazo de dez anos. O título tem como característica vincular o custo do recurso oferecido pelos investidores ao cumprimento da meta ambiental assumida pela Suzano de reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa. No mercado internacional, esses títulos são chamados de sustainability-linked bonds, em razão da conexão entre o modelo da emissão e o desempenho ESG.
TIPO EXPORTAÇÃO
A farmacêutica Merck conseguiu fazer um movimento raro no planeta: usar o Brasil para alavancar as práticas de ESG. “Nós até implementamos projetos globais, seguindo as recomendações da matriz, mas aqui o programa alcançou outra maturidade e tornou-se exemplo para o mundo”, diz Edise Toreta, diretora de RH para o Brasil e a América Latina da Merck.
Com 1.400 empregados diretos e cerca de 100 profissionais terceirizados no Brasil, as ações de cunho social, ambiental e de governança começaram a ser desenhadas em 2015. A estratégia estava ligada a três pilares: diversidade, inclusão e igualdade – direcionados pelo RH e com patrocinadores nas diretorias.
Os números começaram a aparecer. Na questão de igualdade de gênero, a presença de mulheres na liderança passou de 35% em 2015 para 44% em 2021. Mesmo com o sucesso, o RH enfrentou algumas dificuldades no caminho, como conectar todas as ações de ESG e contar com mão de obra especializada no tema – tanto que foi preciso contratar um profissional com experiência em sustentabilidade para dar estabilidade aos projetos.
Em novembro do ano passado, no meio da pandemia, a Merck inseriu em sua estratégia de negócios a sustentabilidade ligada a todas as áreas, incluindo a de recursos humanos. “Foi anunciada uma estratégia global mais abrangente para os próximos 20 anos. E ela está muito mais conectada ao desenvolvimento sustentável”, diz Edise.
A preocupação social apareceu com mais força no último ano. Para ajudar no combate à covid-19, a empresa dedicou parte da fábrica no Rio de Janeiro à produção de cerca de 600 litros de álcool em gel, que foram doados para instituições e para os funcionários e seus familiares. Também se somaram aos esforços 125.000 reais em doações revertidos em cestas básicas para a ação Rio Contra Corona, em produtos de limpeza para a Universidade Federal do Rio de Janeiro e em apoio a campanhas de conscientização de grupos de pacientes oncológicos.
Qual é a criança que nunca sonhou em fugir de casa? Todo mundo tem uma experiência pra contar. A minha aconteceu quando eu tinha uns sete anos de idade. Depois de ter minhas reivindicações não aceitas – provavelmente eu queria um quarto só para mim e não precisar mais escovar os dentes – preparei uma mochila e disse “vou-me embora”. Tchau, me responderam.
O quê??? Então é assim? Abri a porta do apartamento, desci um lance de escada e ganhei a rua. Fingi que não vi minha mãe me espiando lá da sacada. Fui caminhando em direção à esquina, torcendo para que viessem me resgatar, mas nada. Olhei para trás. Minha mãe deu um abaninho. Grrrr, ela vai ver só. Apressei o passo. Dobrei a esquina, sumi de vista e, claro, entrei em pânico. Pra onde ir? Antes de resolver entre pedir asilo numa embaixada ou tentar a vida numa casa de tolerância, minha mãe já estava me pegando pelo braço e dizendo que a brincadeira havia acabado. Fiquei aliviada, por um lado, mas a ideia de fugir ainda me ocorreria muitas vezes.
O desafio agora seria elaborar um plano de fuga mais realizável, pois estava provado que, sim, eu queria escapar, mas ao mesmo tempo queria ficar. O mundo lá fora era libertador, mas também apavorante. Eu estava numa encruzilhada: queria ser quem eu era, e ser quem eu não era. Qual a saída? Ora, escrever.
Um plano perfeito. De banho tomado, camisola quentinha e com os dentes escovados, eu pegava papel e caneta antes de dormir e inventava uma garota totalmente diferente de mim, e que não deixava de ser eu. Fugia todas as noites sem que ninguém corresse atrás de mim para me trazer de volta. Ia para onde bem queria sem sair do lugar.
Viva as válvulas de escape, que lamentavelmente não gozam de boa reputação. Não sei quem inventou que é preciso ser a gente mesmo o tempo todo, que não se pode diversificar. Se fosse assim, não existiria o teatro, o cinema, a música, a escultura, a pintura, a poesia, tudo o que possibilita novas formas de expressão além do script que a sociedade nos intima a seguir: nascer-estudar-casar-ter filhos- trabalhar-e-morrer. Esse enredo até que tem partes boas, mas o final é dramático demais.
Overdose de realidade é a ruína do ser humano. Há que se ter uma janela, uma porta, uma escada para o imaginário, para o idílico – ou para o tormento, que seja. Ninguém é uma coisa só, ninguém é tão único, tão encerrado em si próprio, tão refém do que lhe foi ensinado. Desde cedo fica evidente que nosso potencial é múltiplo, que há um deus e um diabo morando no mesmo corpo. Como segurar a onda? Fugindo de casa, mas fugindo com sabedoria, sem droga, sem violência – fugindo para se reencontrar através da arte, através do espetáculo da criação, mesmo que sejamos nossa única plateia. Cada um de nós tem obrigação de buscar uma maneira menos burocrática de existir.
Por que o autocuidado se tornou uma prática vital nos tempos de pandemia
Terapia, exercícios físicos e meditação: há quem batize esses três elemento de santíssima trindade do bem-estar. Se a pandemia revirou o que era conhecido como rotina, manter o equilíbrio – ou, ao menos, tentar – se tornou fundamental para encarar as novas dinâmicas e desafios do dia a dia. Nessa esteira, o autocuidado se expande a partir de rituais que levam a uma vida mais saudável, mental e fisicamente. O termo, até pouco tempo usado apenas para práticas alternativas, agora já é adotado também pela medicina.
A professara de hatha ioga Ruhana França, de 24 anos, acredita que cada pessoa tenta manter as próprias ações de autocuidado, ainda que sejam modestas. Nesse contexto, subverter a lógica da produtividade a partir de momentos de lazer configuraria uma resistência e seria uma aliada no combate ao estresse e à ansiedade, intensificados durante a pandemia.
“Na minha experiência, o estresse está muito ligado à necessidade de produtividade. Em não tentar se afastar dessa lógica de sempre ser útil para alguém, é uma forma de construir pequenas resistências. São espaços de acolhimento que a gente cria para si mesmo, porque os problemas existem, mas a gente precisa construir espaço para estar saudável em meio a eles e às cobranças.
AÇÕES SIMBÓLICAS
Os rituais também ganham contornos que tocam a autoestima, de dentro para fora, com a prática de skincare, termo popularmente utilizado para designar cuidados com a pele. Para a engenheira de software Marina Faria, 25, os rituais de autocuidado ajudam a aliviar o estresse. Na busca por inseri-los na vida cotidiana, ela usa não só a meditação – inclusive em aulas guiadas -, mas também técnicas de respiração, além de cuidados diários de skincare, para desanuviar a mente e dar tchau à ansiedade.
“É um momento de relaxamento, você desconecta das coisas que está pensando e vai cuidar de si, cuidar da saúde mental… Acho que, dessa forma, você esquece das outras coisas e é um processo relaxante. Na meditação, você relaxa o corpo inteiro com o método de respiração”, detalha.
Rituais se caracterizam por uma sequência de ações de caráter simbólico, repetidos numa ordem preestabelecida. Se as ações por si só podem remontar a práticas de centenas e milhares de anos atrás, como batizar bebês e enterrar mortos, atualmente se reinventam no dia a dia comum, em pequenas ações cotidianas.
Quando realizadas em grupo, como determinadas atividades de lazer, podem ajudar a desenvolver laços sociais, abalados pelo distanciamento social e pelas restrições impostas pela Covid-19.
Durante a pandemia, a sobrecarga de trabalho e emocional foi uma constante na vida da população, o que levou a quadros de esgotamento, tanto físico quanto mental, além de ansiedade, depressão e burnout. Estudo da Universidade de Varsóvia publicado pela revista Applied Psychology: Health and WellBeing (Psicologia Aplicada: Saúde e Bem-estar, em tradução livre) mostrou que uma rotina planejada pode ajudar a manter o bom humor e o bem-estar – sobretudo em épocas de instabilidade como esta.
Assim, contato com a natureza, terapias manuais e atividades de lazer, sono regular e menos tempo em frente às telas estão no rol de possibilidades para manter o equilíbrio, tão difícil e necessário.
RECARREGAR A BATERIA
O psiquiatra Fabio Aurélio Costa Leite, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, conta que é comum ver pessoas mentalmente exaustas nos últimos dois anos, já que estresse e ansiedade ativam o mecanismo primitivo de luta e fuga.
“Todas essas questões da ansiedade aumentam muito a nossa sobrecarga e a nossa descarga, então é preciso recarregar as baterias, de forma metafórica, com essas atividades para que a gente possa ter, no outro dia, energia suficiente para gastar de novo. A pandemia exigiu de todo mundo muito mais energia do que antes”, diz.
O psiquiatra complementa que não é só possível, mas necessário manter o equilíbrio em fases difíceis.
“Sempre (é bom) ter um momento em que você consiga dar uma pausa para o seu cérebro e para os seus sentimentos em relação ao que é negativo e alimentar e colocar para dentro da mente aquilo que é positivo, que acalma, que tranquiliza”, finaliza Costa Leite.
Conciliando saúde física e mental, a hatha ioga une posturas físicas a exercícios de respiração, além de técnicas de relaxamento e de meditação. Na avaliação de Ruhana França, pode ser uma ferramenta de autoconhecimento, já que o corpo “é um veículo da prática” e se beneficia do movimento enquanto a mente alcança a quietude, o silêncio e a paz.
“Quando a gente cria esse espaço que é confortável ocupar, a gente pode se ocupar por inteiro, perceber a respiração, estar atento ao momento presente e não mais estar preocupado com aquilo que a gente precisa fazer amanhã. Um dos grandes diferenciais do ioga é viver o momento presente e, durante a prática, trabalhar isso”, completa.
Pesquisas confirmam que a maioria das pessoas, por mais que queira, não consegue dizer não, problema que pode afetar o desenvolvimento social
Dizer não com clareza é uma das primeiras habilidades adquiridas pelos seres humanos. No início da vida, muito antes de aprender a falar, os bebês já são capazes de deixar claro que estão descontentes com a temperatura da água do banho, ou que já saciaram a fome e não querem mais mamar. Correntes da psicologia enxergam, inclusive, uma correlação direta entre o fato de a criança afastar a boca do peito da mãe com um movimento lateral do pescoço e o gesto de balançar a cabeça para os lados – linguagem não verbal de negativa compreendida da mesma forma em quase todas as culturas ao redor do mundo. Nada disso, no entanto, impede que, quando cresçam, muitas pessoas sejam incapazes de negar um pedido, não importa de onde venha. A maioria, pelo jeito: estudo conduzido pelo departamento de psicologia comportamental da prestigiada Universidade Cornell, nos Estados Unidos, concluiu que as pessoas são mais afeitas a dizer sim do que não.
Ao longo de quinze anos, a pesquisadora Vanessa Bohns realizou experimentos sociais com cerca de 15.000 pessoas, seguindo um mesmo roteiro: sua equipe abordava estranhos na rua e pedia que fizessem alguma coisa inesperada. Cada entrevistador tinha um número certo de indivíduos a interpelar e, antes de se pôr a campo, antecipava quantos achava que iriam atender à sua solicitação. Os resultados surpreenderam. Em uma situação, jovens pediam para usar o celular de um desconhecido, dizendo que a bateria de seu havia acabado. A expectativa era a de que 90% recusassem, mas metade aceitou ajudar.
Em outro cenário, uma corrida de rua cujo objetivo era arrecadar fundos para uma instituição de caridade, a tarefa dos pesquisadores era se aproximar dos participantes e pedir doações até elas atingirem uma meta que ia de 2.000 a 5.000 dólares. A expectativa era precisar convencer 210 corredores, mas o objetivo foi alcançado com a abordagem de, em média, 122 deles. “É incrivelmente estranho, desconfortável e difícil encontrar palavras para decepcionar o outro, mesmo sendo alguém que não conhecemos e com quem não temos nenhuma relação afetiva”, disse a pesquisadora Bohns, que reuniu os experimentos no livro Você Tem Mais Influência do que Pensa, ainda sem tradução no Brasil.
A dificuldade de negar ajuda ou pedido tem raízes na pré-história, quando se percebeu que as chances de sobrevivência eram maiores se as pessoas se organizassem em bandos e colaborassem umas com as outras do que se vagassem sozinhas por ambientes inóspitos e cheios de perigo. A evolução do cérebro e o desenvolvimento do sistema límbico tornaram as interações cada vez mais complexas. “Agindo em conjunto, a humanidade se mostrou capaz de obter ganhos para sua sobrevivência. Por isso, se uma pessoa lhe pede um favor, a reação natural é colaborar com ela”, explica Ariovaldo Silva Júnior, neurocientista da UFMG. Nos tempos modernos, esse condicionamento virou, em algumas pessoas, motivo de enorme angústia, sintoma de um distúrbio conhecido como ansiedade de insinuação. O problema se manifesta cada vez que o indivíduo se vê, de alguma forma, forçado a fazer algo que não quer, apenas para não se sentir rejeitado pelos pares. Albert Einstein, um dos mais brilhantes angustiados, escreveu. “Toda vez que diz sim querendo dizer não, morre um pedaço de você”.
Pesquisas mais recentes que mapearam o funcionamento da mente encontraram outras explicações para a dificuldade em dizer não. As decisões mais banais e cotidianas ativam um sistema neurológico automático e intuitivo, principalmente quando não oferecem nenhum tipo de risco – daí ser comum a pessoa só parar para pensar depois de responder positivamente a uma solicitação. Em 1978, Ellen Langer, professora de psicologia de Harvard, conduziu um estudo em que um pesquisador pedia para furar a fila em uma máquina de fotocópias e constatou que a maioria cedia, mesmo quando a justificativa para passar à frente não fazia sentido. “A tomada de decisão racional e refletida depende do acesso a uma região específica do cérebro que precisa ser treinada”, ensina a neuropsicóloga Adriana Fóz. Sem ter passado por esse treinamento, todo ano a contadora Isabel Cristina faz o imposto de renda para amigos do trabalho, de graça, e não consegue se livrar dos pedidos. “Eu me sinto muito mal em negar ou cobrar pelo serviço porque acho que as pessoas vão ficar chateadas comigo. É uma bola de neve, porque o volume só aumenta”, desabafa.
Em que pesem as dificuldades, impor limites para si e para os outros é fundamental para a formação da identidade dos indivíduos e de seu posicionamento em sociedade. Em seus estudos, o pai da psicanálise Sigmund Freud postulava que a personalidade é moldada, entre outros fatores, por desejos e necessidades das pessoas mais próximas. “Receber aprovação é uma habilidade necessária para a vida social, mas quando isso se torna exagerado há o risco de alienação da realidade”, alerta Paula Peron, professora de psicologia da PUC-SP”. Mesmo que não tenha capacidade de resolver o problema dos outros, dou um jeito de ser prestativa e acabo deixando as minhas questões em segundo plano”, admite a estudante de enfermagem Valeska Castro, 22 anos. Duas recomendações valiosas para quem não consegue dizer não: 1) pare e pense antes de responder e 2) se já sabe que o pedido virá, planeje a negativa com antecedência. “Tenha um roteiro com as palavras corretas para não desagradar ao outro”, ensina Bohns. Negar o que não agrada, no fim das contas, fará bem a todos. Sim?
A NEGATIVA É INDISPENSÁVEL
A importância de se posicionar e impor limites, nas palavras de quem sabia o que dizer
Os bioestimuladores de colágeno são o novo xodó dos pacientes nas clínicas dermatológicas. Eles devolvem viço e firmeza à pele e o melhor – o efeito dura muito
Demorou, mas o reinado do Botox, a toxina botulínica, começa a ser ameaçado. Há uma novidade que já divide a preferência de médicos e pacientes: a aplicação de bioestimuladores de colágeno, a proteína que dá sustentação à pele e cuja produção natural cai cerca de 1% ao ano a partir da terceira década de vida. O número de procedimentos explodiu. De acordo com o levantamento da IQVTA, empresa de dados da área de saúde, entre 2020 e 2021 a expansão mundial no total de aplicações foi de 57%. E a perspectiva é de que nos próximos anos os compostos se consolidem como os novos queridinhos da beleza. Segundo projeção da consultoria internacional Inside Partners, os mercados de Botox e de estimuladores de colágeno devem crescer praticamente na mesma velocidade. Até 2026, o uso estético da toxina botulínica aumentará cerca de 10%, enquanto a aposta no colágeno subirá 11% até 2028.
É fundamental que se saiba, porém, que cada um tem seu papel no rejuvenescimento facial. Os tratamentos não se excluem, complementam-se. A toxina botulínica relaxa a musculatura, deixando a pele mais lisa. Por isso, é indicada para atenuar rugas e linhas finas provocadas por repetição de movimentos – em torno dos olhos, por exemplo – e marcas de expressão que podem surgir com o tempo. O efeito dura cerca de seis meses.
Os estimuladores de colágeno são outra história. Seu objetivo é provocar a cútis para que o próprio órgão aumente a produção da proteína, cuja redução progressiva é responsável pela perda de viço, de firmeza e do contorno facial observados depois dos 40 anos. Há três produtos com essa finalidade (Sculptra, Radiesse e Ellansé).
Eles têm ativos distintos, mas causam efeito similar. Ao serem injetados na pele, desencadeiam uma reação inflamatória que acaba por ativar a fabricação do colágeno. A resposta é progressiva e duradoura. “A produção da proteína persiste de um a dois anos”, afirma a dermatologista Marina Bittencourt, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. O que agrada também é o resultado natural do tratamento. A pele volta a exibir saúde e as linhas do rosto ganham novamente um formato, criando a tão desejada harmonia que faz as pessoas perceberem que há algo diferente na face, mais bonita, mas não sabem apontar exatamente o quê.
A utilização estética dos bioestimuladores começou com o Sculptra, inicialmente formulado e aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, em 2004 para o tratamento da lipoatrofia associada à aids, que é uma disfunção metabólica que ocasiona o acúmulo de gordura em partes do corpo, podendo causar deformações. De lá para cá, suas indicações se expandiram – em fevereiro, o FDA aprovou o uso como recurso terapêutico para rugas e linhas finas – e a categoria aberta pelo artigo caiu ao gosto dos pacientes.
O sucesso do resultado depende da avaliação clínica, da qualidade da pele e da necessidade de reposição de colágeno de cada um. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que a cútis é bastante afetada por hábitos individuais como alimentação, exposição ao sol, tabagismo, consumo de álcool e estresse. O número de aplicações também varia, assim como podem ser diferentes os pontos nos quais os estimuladores são injetados. Outro fator relevante para a satisfação é combinar procedimentos. Os produtos podem ser utilizados em conjunto com o Botox e preenchedores como o ácido hialurônico. O composto tem alto poder de hidratação, o que é bom para todo tipo e idade de pele – e é usado para amenizar sulcos como o nasolabial, conhecido como bigode chinês. “Dessa maneira, os efeitos dos tratamentos são potencializados”, diz o dermatologista Alessandro Alarcão, conselheiro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e membro da American Academy of Dermatology. É certamente tudo o que se quer.
Então, respondeu Satanás ao Senhor: Porventura, Jó debalde teme a Deus? (Jó 1.9).
O livro de Jó levanta a ponta do véu e nos mostra o propósito de Satanás em desmoralizar Deus e arruinar Jó. Satanás tem três teses como cartas na manga: Ninguém ama a Deus mais do que ao dinheiro; ninguém ama a Deus mais do que à família; ninguém ama a Deus mais do que a si mesmo. Deus constituiu Jó seu advogado na terra e colocou nas mãos de Jó sua reputação. Jó desbancou as teses de Satanás. Em primeiro lugar, a despeito de perder todos os seus bens e ir à falência, Jó não blasfemou contra Deus. O dinheiro não era o deus de Jó. Ele sabia que tudo o que tinha, Deus lhe tinha dado. Portanto, Deus poderia tirar. Jó amava mais a Deus do que ao dinheiro. Em segundo lugar, a despeito de perder os seus dez filhos num único acidente e sepultá-los todos no mesmo dia, Jó não se insurgiu contra Deus, mas disse: o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor! (Jó 1.21). Jó amava mais a Deus do que à família. Em terceiro lugar, a despeito de ser tomado por uma terrível enfermidade, que lhe causou dor atroz, Jó não pecou contra Deus em seu coração. A mulher de Jó revoltou-se contra Deus e mandou seu marido morrer. Os amigos de Jó, depois de se condoerem com ele, assacaram-lhe pesadas e levianas acusações. Nem mesmo assim Jó ergueu seus punhos contra os céus. As teses de Satanás foram derrotadas. O advogado de Deus prevaleceu no tribunal e Deus foi glorificado.
Mesmo profissionais que já enfrentaram muita pressão podem, numa startup, sentir- se desorientados, sobrecarregados, intoxicados por informação nova. Aí vem a pergunta: “O que estou fazendo aqui? ”
A pandemia nos ensinou a enxergar as relações profissionais de outra forma. A discussão sobre o trabalho remoto ganhou destaque globalmente e colocou em xeque uma dinâmica de trabalho consolidada havia pelo menos três séculos, desde a Revolução Industrial. O debate questiona se antigos hábitos laborais ainda têm lugar na realidade contemporânea. Atualmente, quem atua nos setores mais dinâmicos e reconhecimento busca aprendizado acelerado, reconhecimento, autonomia.
A permanência prolongada no mesmo lugar passou a ser cada vez mais rara. Pode ser também porque hoje a quantidade de opções de trabalho é bem maior que antigamente (mesmo que o número de vagas assalariadas encolha). Logo no início de 2022, quase metade dos funcionários (49%) pretendiam trocar de empresa. Remuneração defasada, novos aprendizados, realização pessoal e qualidade de vida aparecem como principais razões. Os dados constam na 18ª edição do Índice de Confiança Robert Half, que entrevistou mais de mil profissionais.
O movimento de demissões voluntárias de milhões de pessoas em todo o mundo até ganhou nos Estados Unidos o título de “The Great Resignation”. A rotatividade está insana e lembra as catracas do metrô na Estação da Sé, centro de São Paulo, em horário de pico. E os gestores estão preocupados com tantas baldeações. Segundo estudo da consultoria PwC com executivos C-Level, mais de três quartos dos entrevistados (77%) afirmaram que a capacidade de contratar e reter talentos é um dos maiores desafios das companhias neste ano. Para quase metade deles (48%), fracassar nesse setor poderá comprometer o crescimento das companhias em 2022.
Esse novo cenário não envolve apenas jovens. Vejo com receio algumas mudanças, principalmente de pessoas mais experientes migrando de grandes empresas para startups. A maioria desses profissionais não tem plasticidade e elasticidade para se adaptar ao dinamismo das jovens empresas. Correm para passar pela catraca e mudar de trem, mas sem saber aonde vão.
Quem nasceu antes de 1990 e tem experiência em companhia tradicional carrega uma bagagem corporativa bem definida – processos estruturados, recursos bem definidos, rotinas claras, exatidão, alguma morosidade na operação, pouco espaço para erros e retrabalho. O objetivo são ganhos incrementais diários e o retorno a médio e longo prazos. Os modelos de negócio são mais estáticos, no espírito “o avião está no ar, é só pilotar em velocidade cruzeiro”.
Numa startup, os modelos de negócio são construídos de forma continua, no espírito “sempre colocando o avião no ar”. A busca pela precisão cede espaço à velocidade e à tolerância a erros, com expectativa de ganhos exponenciais a partir de projetos diferenciados e “disruptivos”. Essa lógica de aprendizado constante atrai um mindset distinto, e as pessoas se acostumam a trabalhar sob pressão, com agilidade e sem medo de arriscar. Os erros não são julgados e punidos, mas rapidamente corrigidos e, como num experimento científico, as hipóteses vão sendo testadas, descartadas, validadas, até se atingir o resultado desejado. O ambiente é exponencialmente mais dinâmico (para alguns, caótico),ágil e imediatista. Os recursos são mais limitados. A visão sobre os resultados do próprio trabalho é mais clara, a relação com os projetos, mais próxima. E a remuneração será construída em torno de sucesso futuro, em forma de ações e programas de opção de compra de ações, com salários menores.
Na chegada, o executivo sente a pressão para gerar resultados imediatamente. Não compreende como as decisões são tomadas. Não tem parâmetros para processar o nível de autonomia que os jovens têm para tomar decisões. Sente falta de estruturas formais e orçamentos mais parrudos. A sobrecarga fica evidente porque a equipe é enxuta e mais júnior. Os dados são abundantes, mas, sem conhecimento de domínio do negócio, a intoxicação por informações é inevitável. As ferramentas de gestão são novas e mais técnicas, os canais de comunicação e de gestão de workflow digitais são uma forma nova de gerir e interagir. O onboarding remoto torna mais desafiador construir conexões com outros times. O vai e vem das decisões e a dinâmica aparentemente desordenada criam uma sensação de desespero que, aos poucos, corrói a motivação. O executivo fica paralisado, perde a confiança dos mais novos e se entrega ao desespero. Vem a pergunta: “O que estou fazendo aqui?”.
Com o mindset correto, e estudando profundamente a startup, seu setor e as pessoas que lá trabalham, executivos mais experientes podem contribuir para impulsionar a empresa, criando oportunidades para que os mais jovens possam ser acelerados com mais responsabilidade, autonomia e exposição. E grande parte da sua realização pessoal virá da aderência dos seus valores aos valores da companhia e das pessoas que fazem parte dela. O esforço pagará bons resultados. Além de se divertir ralando muito, novos executivos poderão abrir um capítulo inédito em suas vidas, de protagonistas do século 21.
Há uma enorme distância entre perseguir e atrair algo. Podemos sair em busca de um sonho ou criar condições ideais para que ele se realize. Perseguir o objeto de um sonho é uma coisa. Atraí-lo é outra. É uma diferença tão sutil quanto fundamental, se damos a devida atenção à nossa qualidade de vida. A distinção se aplica a qualquer sonho – um novo trabalho ou projeto de vida, uma viagem de aventura, a conquista de um amor. Lançar setas em direção a tais alvos é como correr atrás da felicidade – uma receita para a frustração. Afinal, ninguém consegue ser feliz quando se empenha nisso.
Acredito que, talvez devido a características de nossa formação, valorizamos demais a proatividade. Sempre ouvimos que “se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha”. Se o ditado popular for usado para combater a preguiça, então ele cumpre o seu papel educativo. O perigo surge quando a tal montanha é não uma empreitada, mas uma aspiração. Nesse caso, deslocar-se decididamente em direção a ela pode apenas expor nossas inseguranças.
Já a atração opera a partir de um outro pressuposto: o de que um aguçado estado de recepção é mais eficiente para chegarmos aonde queremos. O segredo para atrairmos as oportunidades talvez seja desenvolver a plena confiança de que, mais dia, menos dia, elas virão ao nosso encontro. Não há nada de místico nessa colocação. Empresários argutos e políticos pragmáticos não desprezam essa dimensão nas mais importantes decisões. Eles sabem que, para além de suas convicções, em geral é inútil remar contra a maré. O melhor a fazer, uma vez esboçada a meta, é evitar a ansiedade e deixar a vida fluir. Basta estarmos sempre atentos à nossa bússola interior para os resultados aparecerem, às vezes quando menos se espera, quase sempre sem angústias ou sofrimentos desnecessários.
Agindo assim, aumentamos a chance de pôr em marcha um círculo virtuoso, em que uma primeira conquista leva à seguinte, e assim por diante. Pense, por exemplo, numa pessoa que queira emagrecer. Ela poderá perseguir esse objetivo com afinco, dedicando-se à contagem das calorias dos alimentos, à análise dos rótulos de embalagens e à radicalização na exclusão de determinados itens do cardápio, por mais que agradem a seu paladar. Em outras palavras, essa pessoa vai partir para um imenso sacrifício em nome daquilo que acredita ser um bem maior – a silhueta mais fina.
A estratégia alternativa para chegar ao mesmo fim é a da atração. Em vez de se sujeitar ao sufoco de uma dieta maluca, com assaltos noturnos à geladeira, por que não cuidar da cabeça, aquietar a mente, buscar o equilíbrio corporal? A perda do peso, desde que corresponda a uma vontade genuína, virá como consequência natural, sem que se tenha de abrir mão das alegrias de viver – o que inclui uma dieta saudável e deliciosa.
Os motivos variam de hábitos comuns, como falta de cafeína ou estresse, até questões mais sérias, como enxaquecas
Muitas vezes tenho dores de cabeça pela manhã. Elas melhoram quando me levanto e tomo café, mas não consigo descobrir como evitá-las. Tentei vários travesseiros e posições para dormir. O que devo fazer?
As dores de cabeça matinais têm várias causas. Um dos culpados comuns é a cafeína, ou a falta dela.
“Às vezes, a razão para a dor de cabeça durante a manhã é que você dormiu um pouco mais e acabou atrasando o consumo da sua cafeína matinal”, disse Kathleen Mullin, neurologista e especialista em dor de cabeça do Instituto de Pesquisa Clínica da Nova Inglaterra.
É fácil avaliar se a abstinência de cafeína é mesmo a causa de uma dor de cabeça, porque colocar a cafeína de volta em seu sistema a cura rapidamente.
“As pessoas geralmente sentem dores de cabeça por causa da cafeína apenas se elas bebem regularmente mais de 200 miligramas por dia, o que equivale a cerca de duas a três xícaras de café coado”, afirma Mullin.
Segundo a neurologista, para diminuir essas dores de cabeça, é preciso reduzir lentamente o consumo de cafeína para menos de 200 miligramas por dia. (Cuidado com o fato de que, no processo, suas dores de cabeça podem aumentar por vários dias ou até semanas antes de começarem a diminuir).
APNEIA E REMÉDIO
“Outra causa comum para as dores de cabeça matinais é a apneia do sono, que muitas vezes é associada ao ronco e aos despertares noturnos frequentes”, explica a neurologista.
Ainda de acordo com Kathleen Mullin, uma vez que a apneia do sono diagnosticada e tratada, em sua grande maioria com um dispositivo de pressão positiva contínua nas vias aéreas ou um protetor bucal especial, as dores de cabeça geralmente desaparecem.
O ranger de dentes também pode causar dores de cabeça matinais, no entanto, protetores bucais podem impedir esse problema.
O uso excessivo de medicamentos é outra causa comum para as dores de cabeça. Isso significa 15 ou mais dias por mês de consumo de analgésicos de venda livre, como aspirina, acetaminofeno e medicamentos antiinflamatórios não esteroides, como ibuprofeno, ou 10 ou mais dias por mês de analgésicos prescritos, como opioides ou triptanos.
“Os pacientes não percebem que medicamentos tão simples como Advil, Tylenol e Excedrin são realmente grandes culpados”, alerta Mullin.
A melhor maneira de prevenir essas dores de cabeça é reduzindo o uso de medicamentos para, se possível, tomá-los menos de três vezes por semana.
Em casos raros, as dores de cabeça matinais são o resultado de lesões cerebrais, como tumores, que causam pressão dentro do crânio – em média, os tumores do cérebro e da medula espinhal são diagnosticados em apenas cerca de 24 em cada 100 mil pessoas nos Estados Unidos por ano. Deitar aumenta essa pressão, então essas dores de cabeça geralmente ocorrem no meio da noite ou da manhã. E a dor costuma ser tão imensa que desperta os pacientes do sono.
“Uma dor de cabeça que o acorda do sono de manhã é algo que, para a maioria dos neurologistas, dispara nossas bandeiras de “isso é preocupante”. Multas vezes, uma ressonância magnética é o próximo passo, para que o cérebro seja visto”, disse Mullin.
ENXAQUECAS
A médica Merie Diamond, presidente e diretora da Diamond Headache Clinics, nos EUA, afirma que as enxaquecas também são uma causa comum da dor de cabeça matinal. Na verdade, por razões desconhecidas, segundo ela, 40% das enxaquecas começam no início da manhã. Muitos fatores podem desencadeá-las, incluindo álcool, desidratação, falta de sono, muita ou pouca cafeína e comer demais ou não o suficiente na noite anterior. Outros gatilhos são carnes, chocolate, queijo envelhecido e adoçantes artificiais, bem como estresse, alterações hormonais, mudanças climáticas e luzes brilhantes.
“Mesmo uma mudança na rotina pode desencadear uma enxaqueca, porque um cérebro que sofre com enxaqueca gosta que as coisas sejam realmente regulares”, explica Diamond.
A médica ressalta que as enxaquecas são diferentes de outras dores de cabeça. Elas geralmente latejam ou pulsam, e podem vir acompanhadas de náusea ou sensibilidade à luz ou ao som. Ocorrem frequentemente em apenas um lado da cabeça e podem durar de quatro horas a vários dias se não forem tratadas, dificultando a vida das pessoas.
Para prevenir enxaquecas, a médica recomenda manter um diário de dor de cabeça – anotando os gatilhos e padrões associados ao seu início – e depois evitar esses estímulos.
Dependendo da frequência e gravidade de suas enxaquecas, um médico também pode recomendar remédios prescritos que podem prevenir ou tratá-las. Desde 2018, a Food and Drug Administration(FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou um punhado de novos medicamentos para o problema, muitos dos quais têm menos efeitos colaterais do que remédios mais antigos.
Por fim, Diamond sugere que às vezes desligar os dispositivos digitais pelo menos meia hora antes de dormir e alongar, meditar ou praticar ioga, podem ajudar.
“Quando as pessoas se comprometem a relaxar e limpar suas mentes antes de dormir, às vezes percebem que suas cabeças também se sentem melhor pela manhã”, conta Diamond.
MODO ROBÔ: POR QUE NOS DESCONECTAMOS AO FAZER CERTAS TAREFAS NO DIA A DIA?
Conversou com alguém e nem ouviu o que a pessoa disse? entrar no ‘piloto automático’ se tornou corriqueiro. mas não deveria
Você já conversou com uma pessoa e, distraída, acabou percebendo que não ouviu nada do que ela disse? Você já almoçou enquanto mexia no celular e nem notou o que comeu, porque não estava presente e mal sentiu o gosto da comida? Você já tomou banho desatenta e de repente se deu conta de que não sabia se já havia lavado o cabelo ou não?
É provável que você se tenha identificado com alguma dessas situações. São muitas as atividades que realizamos de forma automática no dia a dia – escovar os dentes, tomar banho, fazer uma refeição. Christian Haag Kristensen, professor de Pós-graduação em Psicologia da PUC-RS, explica que quando, em nosso cérebro, um processo se torna mais automatizado, significa que necessitamos despender menos “energia.”
“Os processos mais automatizados necessitam de menor direcionamento de recursos de atenção. menos esforços conscientes, por assim dizer, para que uma determinada tarefa seja executada. Dessa forma, ao precisarmos exercer menor controle mental para o gerenciamento de tarefas, podemos ter recursos (de atenção, de memória, etc.) disponíveis para outras atividades”, diz. Um exemplo é quando estamos aprendendo a dirigir. No início, precisamos de muita atenção em processos básicos. Na medida em que essas tarefas (trocar marcha, por exemplo) se tornam procedimentos de rotina, podemos focalizar a atenção em outros aspectos, como o ambiente a nossa volta, outras pessoas no carro, etc.
Ainda que seja comum realizar essas atividades de maneira mecânica, não precisa, necessariamente ser assim. “O que torna uma ação automática ou não se relaciona ao modo como interpretamos o nosso corpo em relação ao tempo e à vida.” Essa é a visão de Elaine Moraes, psicóloga e integrante do Desacelera SP, iniciativa que desenvolve trabalhos voltados para consciência temporal na cidade. Para entender melhor como se dá esse processo, ela reflete sobre os principais adoecimentos mentais deste século: depressão, estresse e ansiedade. Todos remetem a uma distorção de aspectos relacionados à experiência da temporalidade.
No caso da depressão, é possível identificar uma fixação no passado, enquanto as queixas de estresse se apresentam como uma sobrecarga gerada no tempo presente. Já na ansiedade, vemos um sofrimento que ocorre por uma antecipação do futuro, uma preocupação excessiva pelo que ainda não aconteceu. “Embora o diagnóstico de cada uma dessas patologias seja muito mais complexo e não tão linear assim, compreender como nos relacionamos com o tempo na sociedade contemporânea é chave para sair do automático”, ressalta. “A rotina pode ser uma experiência autêntica, repleta de sentidos atribuídos pela presença no aqui-agora e pelo desenvolvimento de uma percepção de tempo mais cíclica e atenta ao corpo”, completa.
A psicóloga avalia que um dos grandes obstáculos para se manter presente é o vício tecnológico. O bombardeio de informações, propagandas e imagens que “metralham” nossos olhos diariamente vem gerando um padrão de concentração baseado na distração concentrada. “Esse estado de excitação e inquietação mental produzido pelas telas deixa as pessoas muito mais voltadas para esses estímulos externos e visuais, atrofiando a capacidade de concentração interna, reflexiva e consciente do momento presente.”
CONSEQUÊNCIAS
Um estilo de vida acelerado e sem presença pode acarretar diversos prejuízos. Para Déborah Aquino, especialista em desenvolvimento humano, a falta de presença nos tira da excelência. “Gosto do conceito do professor Clóvis de Barros Filho, que afirma que excelência é alocar todos os seus recursos numa determinada atividade, fazendo o que pode ser feito, com o que você tem no momento. Considerando essa ideia, são pouquíssimas as pessoas que são realmente excelentes nas diversas áreas da vida”, observa.
Segundo a especialista, a desconexão com o momento presente afeta a carreira, prejudicando o pensamento criativo e o foco na solução e em novas ideias. Nas relações com amigos e familiares, são grandes as possibilidades de que elas sejam superficiais e distantes. ”Sem presença você não escuta, não olha nos olhos, não entende as necessidades emocionais das pessoas que são importantes para você”, enfatiza. Já na saúde, o impacto também é enorme. “Quem é acelerado não come direito, porque está sempre com pressa e, consequentemente, come além da conta. Quem não tem presença, deixa de sentir, não sabe lidar com as emoções. Além disso, não dorme bem, não tem paciência para respirar”, enumera.
E a que devemos estar atentos para evitar uma vida no “piloto automático!? Falhas de memória, dificuldade em concentração, irritabilidade, senso de urgência para tudo (já reparou quantas vezes temos pressa e nem sabemos o motivo?), culpa por descansar e ser
multitarefa são alguns indícios. “Nosso cérebro não suporta tanta coisa ao mesmo tempo. Ele ‘buga’. E quando isso acontece, ele escolhe o caminho mais fácil. E esse caminho, definitivamente, não é o caminho da consciência”, ressalta Déborah Aquino. A solução? Fazer uma coisa por vez. “Se você vai comer, ‘só’ coma! Nada de celular ou qualquer outra atividade com a comida. Se vai brincar com seu filho, ‘só ‘ brinque! Sem falar no telefone, sem conversar com outra pessoa. Viver de forma consciente significa trazer presença para tudo o que vamos fazer.”
Além disso, o escritor e psicólogo Rossandro Klinjey destaca outros sinais, como ter uma rotina muito previsível e rígida, sem espaço para mudanças e criatividade. Outra característica: se deixar em segundo plano para agradar aos outros. “Esse movimento evidencia o quanto você não se prioriza e está sempre preocupado em atender às expectativas externas à custa até de sua paz intima e de seus valores”, conta.
Há também uma sensação muito comum: achar que o tempo voou, quando na verdade, por não observar o passar do tempo, ele passa por você. “Nesse modo ‘piloto automático’, você começa a julgar todos, a analisar, criticar ou avaliar sem intenção, sem clareza e, pior, sem empatia ou compaixão. Talvez, olhar demais o outro seja reflexo de ter esquecido de si mesmo”, conclui.
Ao derrubar preconceitos e mostrar que grandes realizações são alcançadas bem depois da juventude. uma geração abre caminho para a valorização da chegada à maturidade
Uma boa olhada no velho álbum de fotografia da família é uma maneira infalível de notar as divergências físicas entre nós e nossos antepassados. Repare bem na foto de seu avô: aos 40 anos, ele provavelmente parecia bem mais velho. Note como aquela tia querida de 50 anos tinha feições de idosa. Agora olhe para si próprio: os quarentões, cinquentões e todos os entões da atualidade são muito diferentes daqueles que os antecederam. No século XXI,os avanços da medicina associados ao aumento da qualidade de vida fizeram com que as atuais gerações cheguem ao amadurecimento em melhor forma, mais ativos e produtivos – tanto do ponto de vista físico quanto do intelectual – do que as pessoas de ontem jamais foram. Qual é o sentido de dizer que um profissional de 50 anos esteja caminhando para o fim de carreira? Que lógica há em considerar senhoras e senhores de 60 anos incapazes de realizar tarefas que um jovem faria? Porém, por mais que a nova realidade bata à porta, o preconceito contra pessoas que deixaram a juventude persiste. Chama-se isso de etarismo, a nova fronteira da diversidade que começa a ser combatida com o mesmo afinco que outras formas de intolerância.
Basta acompanhar o desempenho extraordinário do surfista Kelly Slater em uma etapa do Mundial da modalidade para entender o que um cinquentão pode fazer. Com cinco décadas redondas, Slater venceu a competição que disputou com garotos que não tinham a metade da idade dele. Agora, desponta como candidato ao 122º título mundial. Não custa lembrar: surfe exige força, equilíbrio, rapidez de raciocínio, criatividade para a execução das manobras e uma dose extra de ousadia que muitos consideravam patrimônio exclusivo da molecada. Exemplos não faltam. Os atores Flávia Alessandra, 47 anos, e Rodrigo Santoro, 46, usam as redes sociais para mostrar que continuam belos, ativos e sarados – e mais produtivos do que nunca.
Mesmo com essa nova realidade, o movimento contra o etarismo nunca esteve tão em evidência. É assunto central da trama de Um Lugar ao Sol, novela das 9 da Globo que mostra a atriz Andréa Beltrão no papel de uma modelo de 50 anos lidando com o preconceito e o “prazo de validade” da carreira que escolheu. Ser retratado no principal folhetim da televisão aberta é sinal de que a sociedade debate o problema em diversas esferas. “Estamos vivendo um período de transição”, diz a consultora Silvia Ruiz, autora do blog Ageless.”A idade ainda é uma questão complicada para alguns, mas existe uma geração que está se rebelando contra a ideia de esconder quantos anos a pessoa tem”. É bom que seja assim.
A mudança passa necessariamente pela revisão de preconceitos. Significa abandonar de vez expressões como “cabeças brancas” ou o elogio torto de que alguém está “em ótima forma… para a idade”. O movimento “Em Desconstrução”, iniciativa do ativista Marcos Guimarães, que já abordou o racismo e o capacitismo e agora se debruça contra o etarismo.
Ele convidou personalidades como a e1mresária Luiza Trajano, a atriz Nany People e a cicloativista Renata Falzoni, para estrelar a campanha “Você Me Vê Como Eu Me Vejo?”, charmosos. As mulheres não. Elas precisam estar sempre jovens”.
O etarismo costuma ser perverso no mercado de trabalho, mas isso começa a mudar. Segundo amplo estudo realizado no Brasil pela empresa de tecnologia Gupy, as contratações de pessoas entre 40 e 50 anos cresceram 95% de janeiro a setembro de 2021 na comparação como mesmo período do ano passado. Em nenhuma faixa etária o avanço foi tão expressivo. Uma das explicações é que, nas crises – o período considerado para o levantamento foi marcado pela pandemia -, as empresas buscam profissionais mais tarimbados. O fenômeno tende a se consolidar. Diversas empresas lançaram programas para incorporar em seus quadros pessoas com mais de 40 anos, tendência já observada em diversos países.
As conquistas aparecem até em áreas que consagraram os estereótipos da beleza juvenil. Na mais recente semana de moda de Paris, grifes de luxo como a Valentino puseram lado a lado na passarela modelos mal saídas dos 20 anos e mulheres maduras. A atriz inglesa Helen Mirren, 76 anos, esteve à frente do desfile da L’Oréal, exibindo confiança e estilo. Até as supermodelos que na década de 1980 estrelaram campanhas globais de tremenda repercussão – e que eram tratadas como semideusas – agora se posicionam contra a visão datada de que a beleza só existe na juventude. Também há pouco tempo, a atriz Brooke Shields posou, com bem vividos 56 anos, para fotos de topless. Ela proibiu retoques digitais na imagem e exagero na aplicação de cosméticos, que esconderiam os sinais da idade.
A indústria dos cosméticos, aliás, é protagonista das mudanças na sociedade. Se antes havia montes de produtos que prometiam a ilusão da juventude eterna, hoje há opções específicas para cada faixa etária e uma compreensão maior sobre os cuidados necessários em diferentes estágios da vida. Uma das linhas mais famosas para o público maduro, a Chronos, da Natura, foi lançada há 35 anos, quando o etarismo nem mesmo era debatido. “Foi um marco, e sustentamos essa posição, trazendo um lugar de luz, e não de sombra, em torno da passagem de tempo”, afirma Maria Paula Fonseca, diretora global da marca. Além de colocar a idade ideal para cada produto no rótulo, a empresa usa expressões como “antissinais”, em vez de “antienvelhecimento”, termo preconceituoso que expõe os vícios do setor. “É um apagamento que acontece em vários aspectos. A sociedade ocidental não valoriza o passar do tempo. Fala-se em perdas, e não em ganhos”, diz a executiva.
O envelhecimento populacional é um fenômeno global. Em 2019, eram 703 milhões de pessoas com mais de 65 anos. O número vai dobrar, passando para 1,5 bilhão até 2050. No Brasil, o fenômeno se dá em velocidade maior. De acordo com o instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2050 30% da população estará acima dos 60 anos. A porcentagem passará de 40% até o fim do século. ‘”Com isso, toda mudança se torna muito mais urgente, principalmente no mercado de trabalho”, diz Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV-lbre.
Como se sabe, é impossível – ainda – frear o passar dos anos, mas pesquisadores de diversas partes do mundo têm trabalho para isso. “O envelhecimento é algo codificado no DNA e, se algo está codificado, é possível descobrir seu segredo”, afirmou em entrevista recente o médico sul coreano Joon Yun, que comanda o Palo Alto lnvestors, fundo americano de investimentos de 1 bilhão de dólares. Estender a vida indefinidamente é um desejo ancestral da humanidade. Ainda está distante o dia em que isso será possível, mas a ciência proporciona inúmeros avanços.
No livro 21 Lições para o Século 21, o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor dos best-sellers Sapiense Homo Deus, diz que a revolução tecnológica trará profundos impactos para o corpo humano, devendo melhorar as habilidades físicas e cognitivas. Ele ressalta, contudo, que a evolução ficará restrita aos muito ricos, à medida que só terão acesso aos tratamentos aqueles que puderem desembolsar fortunas por eles. Para Harari, há o risco de o futuro reservar uma nova forma de discriminação que separará os seres evoluídos tecnologicamente daqueles desprovidos dessa possibilidade.
O tema é sensível. No ano passado, o pesquisador russo Sergey Young publicou o livro The Science and Technology of Growing Young (ainda sem tradução para o português), no qual assegura que a primeira pessoa a viver 200 anos já nasceu. Sua teoria é baseada no ritmo de desenvolvimento da medicina, que acelera em velocidade jamais vista. Fanático por números, Young apoia suas análises em projeções matemáticas. “Há oito décadas, a expectativa de vida era de 43 anos. Hoje, nos Estados Unidos, ela está em torno de 80 anos”, disse. Para ele, é razoável supor que, dado o ritmo intenso de descobertas da ciência, é possível que um humano comemore dois séculos de existência. Utopias à parte, a verdade é que a vida é preciosa em toda a sua jornada, a despeito dos anos registrados no calendário, que já não valem tanto. Aproveitá-la ao máximo é algo que todos deveriam fazer, sejam jovens ou maduros, sem pré-julgamentos ou preconceito. Idade, afinal, não é documento.
Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles… (Jó 1.5).
Jó foi um homem riquíssimo. Não obstante, era piedoso, temente a Deus, íntegro, reto e se desviava do mal. A despeito de ter uma colossal riqueza, dedicava o melhor de seu tempo para investir em sua família. Jó era sacerdote do lar. Intercedia com fervor e constância pelos filhos. Criou-os unidos. Manteve o elo de amizade entre os dez filhos. Era um pai exemplar. Não se preocupava apenas com coisas materiais, mas sobretudo com a vida espiritual dos filhos. Para ele, não era suficiente dar conforto aos filhos nem deixar para eles uma rica herança. Jó se importava com a glória de Deus, pois temia que seus filhos pecassem contra o Senhor no coração. Não se importava apenas com as aparências. Sabia que Deus vê o coração e procura a verdade no íntimo. Hoje, muitos pais vivem a tensão entre o urgente e o importante. Atendem ao urgente e se esquecem do importante. A família é importante. Os filhos são importantes. O relacionamento com Deus é importante. Não sacrifique no altar do urgente aquilo que é importante. Precisamos saber que Deus vem antes das pessoas, o cônjuge vem antes dos filhos, os filhos vêm antes dos amigos, e as pessoas vêm antes das coisas. Precisamos adorar a Deus, amar as pessoas e usar as coisas, em vez de esquecer de Deus, amar as coisas e usar as pessoas.
Apesar dos discursos sobre igualdade, a presença feminina em posições de liderança ainda é pequena. Como acelerar a mudança?
No dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, o Brasil foi tomado por campanhas e mensagens de empresas enaltecendo a participação feminina no mercado de trabalho. As homenagens destacaram trajetórias de sucesso, ressaltaram a importância de políticas afirmativas e apontaram para os avanços obtidos nos últimos anos em diversos setores econômicos. No mundo das aparências que costuma pautar as datas comemorativas, o discurso foi altivo e inspirador. Na vida real, porém, o que se vê é uma história menos edificante. De acordo com um levantamento do Programa Diversidade em Conselho (PDeC), louvável projeto que é fruto de parceria entre o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), B3, International Finance Corporation (IFC), Spencer Stuart e Women Corporate Directors (WCD) Foundation, as executivas representam apenas 14% das vagas nos conselhos de administração de empresas listadas na bolsa brasileira. Repita-se: em cada 100 profissionais nos conselhos, uma das posições mais relevantes nas estruturas das grandes companhias, somente catorze são do sexo feminino. Nos cargos de diretoria, as mulheres respondem por 25% do total. Há uma década o índice era de 20%. Ou seja: elas estão subindo degraus em passos de tartaruga. É inaceitável.
Oque explica o atraso da ascensão feminina nos quadros das empresas? Para começar, há a relutância dos homens em compartilhar espaços dominados por eles desde sempre. Preconceitos enraizados são difíceis de quebrar, mas é preciso apontar que existe uma razão ainda mais direta e objetiva: os executivos, mesmo que jamais admitam, não querem perder a primazia da liderança e poder. “Conselhos de administração são ambientes muito masculinos e seus participantes tendem a mantê-los assim,” afirma Adriana Muratore, coordenadora do Programa Diversidade em Conselho. A melhor forma de romper a deplorável tradição é a pressão da sociedade – ainda que falha e por vezes tímida, ela tem ganhado intensidade de uns tempos para cá.
Há raras e honrosas exceções de executivas no comando. Mas elas revelam evidente incômodo em ambientes predominantemente masculinos. “Quantas reuniões das quais participei em que eu era a única mulher presente, tanto dentro da empresa quanto fora, atendendo clientes”, diz, com um ponta de indignação, Ana Karina Bortoni, CEO do Banco BMG. Bortoni é um exemplo notável de liderança. Atuou durante anos na área acadêmica, no ramo da química, antes de participar de um processo seletivo da McKinsey. Entrou e foi subindo posições até se tornar sócia em 2010. Deixou a consultoria após quase dezenove anos para assumir a presidência do conselho do BMG, em 2019. No ano seguinte, foi nomeada CEO e se tornou a primeira mulher a ocupar a posição em um banco brasileiro com capital aberto na bolsa.
Ela diz que há, sim, uma preocupação genuína das empresas em mudar o quadro corporativo, mas isso leva tempo. “Não é algo que aconteça de uma hora para a outra, estamos numa jornada”, diz Bortoni. No BMG, o conselho é formado por cinco homens e quatro mulheres. “Não estou mais sozinha”, comemora a CEO.
A jornada, de fato, começou, mas o caminho será árduo. Na maioria dos lares, são os representantes do sexo feminino que assumem a maior parte das responsabilidades relacionadas aos filhos e às tarefas domésticas. Dados do IBGE apontaram que, em 2019, a mulher brasileira dedicou, em média, 18,5 horas semanais a afazeres da casa, quase o dobro do tempo gasto pelos homens (10,3 horas). Na pandemia, o cenário se agravou. Segundo o Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), quase metade (48%) das 5.000 mulheres pesquisadas disse que a carga de trabalho aumentou durante a crise do coronavírus. Em home office, elas foram obrigadas a fazer tudo ao mesmo tempo – cuidar de filhos, participar de reuniões, administrar a rotina da casa. Enquanto isso, os homens fizeram o mesmo de sempre, sem derramar uma gota de suor a mais.
Os obstáculos para a maior inserção feminina são reflexo do papel secundário a que as mulheres foram submetidas ao longo da história. Parece inacreditável, mas direitos antigos para os homens foram conquistados muito depois por elas. É o caso do voto feminino, que acaba de completar noventa anos. O direito ao divórcio só veio em 1977. Antes de 1979, acredite se quiser, elas não podiam nem jogar futebol – os times femininos só foram autorizados a disputar campeonatos a partir daquele ano. Nem é preciso ir tão longe assim: a importunação em transportes públicos só passou a ser considerada crime em 2018.
É por isso que a redução do fosso corporativo entre homens e mulheres passa também pela transformação por completo das estruturas que regem a sociedade. As organizações profissionais são, afinal, fruto das culturas nas quais estão inseridas. Em um recente ranking de diversidade nos conselhos elaborado pela consultoria Deloitte, os países mais inclusivas são aquelas em que as conquistas sociais femininas vêm de longa data, como França, Noruega e Bélgica. Na lanterna da lista estão nações como Catar, Arábia Saudita e Kuwait, onde persistem severas restrições às mulheres em todas as esferas – na política, na cultura, na religião e, claro, no mercado de trabalho.
Eliminar barreiras para que mulheres cheguem ao topo traz benefícios imediatos para as corporações. Diversos estudos já provaram que a diversidade produz melhores resultados financeiros. Uma dessas pesquisas, realizada pela consultoria LHH, mostrou que a igualdade entre homens e mulheres nas empresas aumenta o lucro em até 21%. As marcas também se tornam mais admiradas e, portanto, têm melhores chances de conquistar o público. “Para garantir a longevidade das empresas, é urgente acelerar a agenda de inclusão”, afirma Adriana Muratore. “Esse senso de urgência é menos explícito porque a falta de diversidade não arruína os negócios imediatamente. Consequentemente, é menos visível.”
A boa notícia é que a inclusão deverá ganhar velocidade nos próximos anos, quando os millennials e os representantes da geração Z dominarem o ambiente corporativo. Hoje em dia as duas vertentes respondem por um terço do total do mercado de trabalho, mas chegarão a 60% nos próximos dez anos. O público mais jovem é aberto a esse tipo de discussão e, mais do que isso, tende a ser intolerante com preconceitos. “As novas gerações defendem uma sociedade mais igualitária, e isso inclui diversidade racial, de gênero, ações para a população LGBTQIA+ e para pessoas com deficiência”, afirma Venus Kennedy, sócia da Deloitte Brasil e que fará parte do conselho da consultoria a partir de junho. Americana que mora no país há sete anos, ela elogia o trabalho que vem sendo realizado por aqui. “Eu vejo o Brasil como líder no conceito de diversidade”, diz. “Viajei muito, conheci várias culturas e em muitos países não há nem mesmo conversas sobre esse tema. Os brasileiros deveriam ter orgulho.” Os especialistas dizem que falar sobre diversidade de gênero – ou sobre qualquer tipo de diversidade – é importante, pois coloca luz sobre a questão. Deixá-la escondida nas sombras de escritórios não faz nenhum sentido. A hora das mulheres é agora, em qualquer lugar – inclusive nos cargos mais altos das empresas.
Se fosse feita uma enquete nas ruas com a pergunta “você tem a vida que pediu a Deus?”, a maioria responderia com um sonoro quá quá quá. Lógico que alguém desempregado, doente ou que tenha sido vítima de uma tragédia pessoal não estará muito entusiasmado. Mas mesmo os que teriam motivos para estar – aqueles que possuem emprego, saúde e alguma relação afetiva, que é considerada a tríade da felicidade – também não têm achado muita graça na vida.
O mundo é habitado por pessoas frustradas com o próprio trabalho, pessoas que não estão satisfeitas com o relacionamento que construíram, pessoas saudosas de velhos amores, pessoas que gostariam de estar morando em outro lugar, pessoas que se julgam injustiçadas pelo destino, pessoas que não aguentam mais viver com o dinheiro contado, pessoas que gostariam de ter uma vida social mais agitada, pessoas que prefeririam ter um corpo mais em forma, enfim, os exemplos se amontoam. Se formos espiar pelo buraco da fechadura de cada um, descobriremos que estão todos relativamente bem, mas poderiam estar melhor.
Por que não estão? Ora, a culpa é do governo, do papa, da sociedade, do capitalismo, da mídia, do inferno zodiacal, dos carboidratos, dos hormônios e demais bodes expiatórios dos nossos infernizantes dilemas. A culpa é de tudo e de todos, menos nossa.
Um amigo meu, psiquiatra, costuma dizer uma frase atordoante. Ele acredita que todas as pessoas possuem a vida que desejam. Podem até não estar satisfeitas, mas vivem exatamente do jeito que acham que devem. Ninguém os força a nada, nem o governo, nem o papa, nem a mídia. A gente tem a vida que pediu, sim. Se ela não está boa, quem nos impede de buscar outras opções?
Quase subo pelas paredes quando entro neste papo com ele porque respeito muito as fraquezas humanas. Sei como é difícil interromper uma trajetória de anos e se arriscar no desconhecido. Reconheço os diversos fatores – família, amigos, opinião alheia – que nos conduzem ao acomodamento.
Por outro lado, sei que esse meu amigo está certo. Somos os roteiristas da nossa própria história, podemos dar o final que quisermos para nossas cenas. Mas temos que querer de verdade. Querer pra valer. É este o esforço que nos falta.
A mulher que diz que adoraria se separar, mas não o faz por causa dos filhos, no fundo não quer se separar. O homem que diz que adoraria ganhar a vida em outra atividade, mas já não é jovem para experimentar, no fundo não quer tentar mais nada.
É lá no fundo que estão as razões verdadeiras que levam as pessoas a mudar ou a manter as coisas como estão. É lá no fundo que os desejos e as necessidades se confrontam. Em vez de se queixar, ganharíamos mais se nadássemos até lá embaixo para trazer a verdade à tona. E, então, deixar de sofrer.
Esse é o caminho para ter saúde física e mental. Confira histórias de quem decidiu romper com os padrões idealizados para melhorar o bem-estar
Priscila Barros, de 35 anos, assumiu os seus cabelos brancos e reuniu milhares de brasileiras interessadas em fazer o mesmo. Coracy Arantes, aos 79 anos, posou de lingerie sexy no TikTok, no qual é aplaudida por seus 16 milhões de seguidores. Thiago Bronze, nutricionista de 35 anos, dá dicas de alimentação saudável e faz questão de exibir no seu perfil do Instagram o seu físico “normal”- com algumas gordurinhas localizadas e sem tanta definição muscular. Vanessa Joda, de 42 anos, não se importa em ser chamada de gorda, pois vê potência no seu corpo do jeito que ele é enquanto pratica ioga e ensina as posturas a seus alunos.
Na contramão das beldades fitness, essas quatro pessoas exibem nas redes sociais uma imagem bem diferente do padrão estético vigente, que determina que o belo é ser magro, com musculatura definida, jovem, sem deficiências e com pele branca, mas bronzeada, sem marcas como manchas e estrias. Em entrevista, elas contam como se libertaram dessas referências para buscar melhor saúde emocional e física, apesar de alguns olhares de reprovação nas ruas, das críticas de pessoas do círculo social e dos ataques de haters – aqueles que publicam comentários de ódio nas redes sociais. As críticas feitas a Coracy, mais conhecida como Cora, são rebatidas com bom humor em vídeos no TikTok. Longe da faixa etária predominante nessa rede social. entre 18 e 24 anos, ela chacoalha o seu corpo de 79 anos em suas dancinhas. Ela conta que a brincadeira a ajudou a superar a depressão, mas quatro amigas desaprovaram a “ousadia” e cortaram relações. “Elas me criticaram dizendo que eu, na minha idade, não deveria posar de lingerie. Mas qual é o problema disso se eu me sinto bem com o meu corpo? Eu envelheci, claro, mas ainda é o meu corpo”, avalia. “Podem falar mal, pois há pessoas que me agradecem e minha família me apoia, já que é isso que eu gosto de fazer.”
Os padrões idealizados sempre existiram, mas a popularização das redes sociais tornou mais difícil aceitar o próprio corpo, pois a comparação é intensa e ilusória e os corpos ideais estão mais magros e “esculpidos”, observam os especialistas.
”Existe uma sobrevalorização da aparência externa e muitas pessoas acreditam que precisam seguir um determinado padrão para serem aceitas”, observa Fábio Salzano, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Ele trabalha no Ambulim, área do HC que atende pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com transtornos alimentares como a bulimia, que leva a pessoa a repetidos episódios de consumo excessivo seguidos de ações inadequadas para evitar o ganho de peso.
As fotos dos influenciadores digitais preferidos dos pacientes atendidos pelo psiquiatra dizem muito para o médico. “Dá para perceber que essas pessoas consideradas modelos de beleza não conquistaram o corpo de forma natural, mas com uso de anabolizantes e hormônios de crescimento. Esse custo para conseguir o corpo ideal é muito alto e pode ter consequências físicas e psicológicas.”
COMPARAÇÃO
Quando conferimos os posts das redes sociais, estamos constantemente observando corpos e modos de vida alheios, afirma a psicóloga Patrícia Gipsztejn Jacobsolm. Segundo ela, que é coordenadora da Clínica Cybelle Weinberg de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (Ceppan), a prática clínica e os estudos científicos mostram que o uso das redes sociais pode ser um fator que desencadeia ou mantém transtornos psiquiátricos relacionados à imagem corporal ou à alimentação.
Desde a infância, a professora de ioga Vanessa Joga, de 42 anos, é pressionada para emagrecer. Ela conta que isso a levou a praticar violências contra o seu corpo, como o consumo de remédios com efeitos colaterais. “A pessoa que é gorda é alvo de olhares de desprezo e perde oportunidades na sociedade, sendo julgada por seu corpo em entrevista de emprego, por exemplo. Isso não é só pressão estética, mas gordofobia”, diz.
Ao praticar ioga, Vanessa percebeu que deveria aceitar o próprio corpo. Mas essa conquista foi gradual e difícil. “Como dizer para um gordo amar o seu corpo se o mundo inteiro sempre o levou a se odiar, a se culpar? Sei que se eu pisar de biquini na praia, vão me olhar com nojo, como se eu não tivesse direito de estar lá”, afirma.
O medo da exclusão social é o que leva as pessoas a buscar o padrão vigente no feed do Instagram e outras redes, na visão da psicanalista e pesquisadora Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio. “A beleza padrão é considerada uma moeda de troca, valorizada no mercado de trabalho, no casamento”, exemplifica.
Seguir esse padrão, porém, custa caro – e as pessoas mais pobres se desdobram para buscar esse ideal, mas de maneira mais precária, com práticas de risco, que podem deixar sequelas, como dietas milagrosas, explica a pesquisadora. “O discurso perverso que diz que ‘só é feio quem quer’ cria um caldo de cultura que promove o adoecimento”. Nesse cenário, Joana considera válido o momento Body Neutrality, que está no meio do caminho entre amar o corpo (o chamado Body Positive ou Body Positivity) e odiá-lo. “Essa proposta é mais inclusiva, acolhe pessoas comuns como gordos e velhos. Permite que você lide com a vida real, de forma não idealizada, com suas limitações e dores, não como uma vida de Instagram.”
Para o nutricionista clínico Thiago Bronze Dias, de 35 anos, aceitar o corpo não significa estar acomodado. “Ninguém está proibido de querer mudar o seu corpo. Mas aceitá-lo é importante. A partir do momento que a pessoa honra sua história, acolhe suas dificuldades e para de se comparar com os outros, ela consegue seguir adiante cuidando daquilo que ela tem.”
No seu perfil do Instagram, Bronze dá dicas de alimentação saudável, mas faz questão de liberar o chocotone no Natal, por ser uma guloseima sazonal, e de publicar fotos e vídeos que exibem o seu corpo que foge do padrão fitness. Ele critica quem usa a insatisfação corporal como estratégia para conquistar clientes. “Profissionais da área de nutrição e da educação física são grupo de risco para distúrbios alimentares e dismorfias corporais. Alguns já estão adoecidos e usam sua autoridade para adoecer mais pessoas.” A visão do nutricionista sobre a pressão sofrida pelos profissionais de saúde – e repassada aos pacientes, numa espiral negativa – é compartilhada pelo educador físico Pedro Carvalho, pesquisador do Núcleo Interprofissional de Estudos e Pesquisas em Imagem Corporal e Transtornos Alimentares da Universidade Federal de Juiz de Fora (Nicta/UPJP). “É preciso formar profissionais de saúde capacitados a discutir o tema do corpo idealizado, que tem um impacto no atendimento dos pacientes”, diz. “A prática disfuncional como exercício está presente em muitas academias, boxes de crossfit e outros ambientes. Os profissionais de saúde devem estar atentos.”
No dia a dia como professor de educação física, Carvalho percebe que o exercício deixou de estar focado no bem-estar, no lazer e na saúde, para ser responsável pelo formato, pelo peso e pela musculatura corporal. ” Há um entendimento de que o corpo belo é saudável. Não é verdade. Muitas pessoas adotam comportamentos prejudiciais, como pular refeições, praticar exercícios em excesso e abusar de substâncias como laxantes, diuréticos e anabolizantes, sem acompanhamento médico.”
O padrão idealizado de corpo traz descontentamento às pessoas, o que é um fator de risco para transtornos alimentares e de imagem, explica Carvalho. A dismorfia corporal é um transtorno de imagem em que a pessoa não se enxerga de forma adequada. “É o caso de um indivíduo musculoso e forte que se vê como fraco e franzino. Por isso, continua com comportamentos deletérios”, exemplifica,
GRISALHAS
A mulher que decide aceitar os seus cabelos brancos também é atacada com piadas, olhares e comentários preconceituosos disfarçados, afirma a atriz e gerente de projetos Priscila Barros, de 37 anos, que fundou o Clube das Grisalhas, com cerca de 130 mil seguidores. Ao mesmo tempo que inspira outras mulheres a aceitarem os brancos de forma mais leve, ela ouve relatos tristes, como o de uma delas que perdeu o trabalho de empregada doméstica acusada de “nojenta” por não tingir os cabelos e de parceiros que reclamam que perderam a atração pela parceira por conta dos brancos. “Por isso, muitas mulheres desistem de assumir o visual “grisalho.”
Para economizar o dinheiro da tintura, em janeiro de 2020, Priscila resolveu não pintar os cabelos enquanto estivesse trabalhando em casa, por causa da pandemia. “Quando participava das videoconferências, eu deixava a câmera fechada, para que não aparecesse meu cabelo. Eu tinha vergonha dos fios brancos, como se fosse coisa de gente descuidada.” Com o tempo, foi mudando de ideia e assumiu o visual. “Hoje o meu cabelo branco me faz sentir uma mulher mais poderosa, de personalidade”, diz, orgulhosa.
A solidão não precisa ser solitária. Pode fazer bem à saúde, basta estar no controle e saber se ocupar de forma positiva
Sally Snowman adora ficar sozinha. Como guardiã do Boston Light, um farol centenário no porto de Boston nos EUA, ela tem muita prática. Durante a maior parte dos últimos 19 anos, nos meses de abril a outubro, ela morou lá.
Ela preenche os dias com trabalho, seja limpando as janelas, cortando a grama ou varrendo a escada de 90 degraus em espiral da torre do farol. Ela lê muito e assiste a muitos pores do sol. E aprecia cada minuto.
“É um alívio estar na ilha”, diz Snowman, de 70 anos.
Para a guardiã, o tempo aproveitando a própria companhia é restaurador. Mas nem todo mundo sente o mesmo em relação à solidão e, nos últimos dois anos, a pandemia forçou um pouco desse sentimento em todos nós. Temos visto menos amigos e passamos mais tempo em casa. Algumas pessoas se sentiram mais solitárias, principalmente se já eram solteiras ou moravam sozinhas.
A medida que entramos em uma nova fase da pandemia que é menos “limpar todas as compras” e mais “ok, acho que esse é o nosso novo normal”, períodos ocasionais de isolamento podem ser algo que veio para ficar. Ainda que você esteja passando mais ou menos tempo sozinho nos dias de hoje, a solidão é algo que você pode apreciar.
A SOLIDÃO É MAIS AGRADÁVEL SE VOCÊ ESTIVER NO CONTROLE
“Como nos sentimos em relação ao tempo a sós depende em grande parte do que fazemos com ele. As pessoas que buscam a solidão por vontade própria tendem a relatar que se sentem plenas como se estivessem repletas de ideias, pensamentos ou coisas para fazer”, explica Virginia Thomas, professora de psicologia da universidade americana Middlebury College que estuda a solidão.
Com isso, o tempo a sós se torna diferente da solidão, um estado negativo no qual você está “desconectado de outras pessoas e se sente vazio.
A chave é ver a solidão como uma escolha, não como um castigo. Em uma pesquisa de 2019, Thomas descobriu que os adolescentes que deliberadamente buscavam a solidão apresentavam níveis mais altos de bem-estar e eram menos solitários do que seus colegas que estavam sozinhos por causa das circunstâncias. O mesmo aconteceu com adultos jovens de 18 a 25 anos, que também apresentaram níveis mais altos de crescimento pessoal e auto- aceitação, níveis mais baixos de depressão.
Na verdade, segundo Thomas, a maioria das pesquisas mostra que nos beneficiamos mais da solidão à medida que envelhecemos e à medida que desenvolvemos mais controle sobre nosso tempo juntamente com maiores habilidades cognitivas e emocionais para nos ajudar a usá-lo de forma mais construtiva.
Jenn Drummond, uma alpinista em Park City, Utah, passou muito tempo sozinha enquanto treinava para se tornar a primeira mulher a escalar os Seven Second Summits, que são as segundas montanhas mais altas – e geralmente mais difíceis – em cada continente. Se ela se pega “entrando em um padrão melancólico se lembra de que está no comando.
“Uma pequena mudança de “a solidão está acontecendo comigo” para “a solidão está acontecendo para mim”, faz a maior diferença”, conta Drummond, 41 anos.
MESMO EXTROVERTIDOS PODEM GOSTAR DA SOLIDÃO
Você pode supor que são apenas os introvertidos que se beneficiam da solidão, mais a pesquisa, de acordo com Thomas, é mista sobre se eles são realmente mais habilidosos em ficar sozinhos. Para ela, “qualquer pessoa com qualquer personalidade, pode aproveitar – com uma ressalva: saber usar bem. Isso significa decidir o que você quer do seu tempo, seja lidando com uma situação difícil; aproveitando a criatividade ou apenas curtindo cinco minutos sem que alguém com menos de cinco anos lhe peça algo.
“Sem termos um objetivo, podemos provocar uma falsa sensação de fracasso, e depois pensarmos “Ah, eu não sou boa em ficar sozinha”, afirma Gina Moffa, psicoterapeuta de trauma em Nova York.
A solidão pode ter um efeito calmante em nossas mentes e corpos, o que pode ser desanimador para as pessoas que geralmente associam felicidade a se sentir energizado. Elas geralmente se sentem entediadas ou inquietas, diz Thomas.
“A chave para dissipar o desconforto é substituí-lo por algo agradável. Se você não sabe por onde começar, pense em algo que você gosta de fazer em geral e tente fazer sozinha”, recomenda Moffa.
E não, passar muito tempo no Twitter não conta como solidão saudável. Em um estudo de 2020, Thomas acompanhou 69 participantes por uma semana, concluindo que eles estavam mais emocionalmente satisfeitos com sua solidão quando estavam realmente sozinhos, sem seus telefones, do que quando estavam sozinhos, mas ainda com seus telefones.
“Se você quer se conectar consigo mesmo ou se sentir calmo ou criativo, ficar conectado nas redes sociais vai te dar o que você precisa? Na maioria das vezes, a resposta é não”, reflete Moffa.
EXISTEM MANEIRAS DE TORNAR A SOLIDÃO MAIS FÁCIL
O ex- astronauta da NASA Jim “Ox” van Hoften experimentou uma solidão muito particular durante suas missões ao espaço na década de 1980, ele ficou isolado de sua família, de sua rotina e, literalmente, do mundo.
“E, no entanto, apenas algumas vezes senti que estava realmente sozinho”, afirma van Hoften, 77 anos. Embora a tripulação pudesse falar com a equipe de controle de solo só em algumas situações, ele ainda se sentia reforçado pelo apoio.
“Mesmo no espaço sideral, você nunca está sozinho, sempre tem alguém ajudando”, conta ele.
“Isso se aplica na Terra também. Ficar com um amigo ainda pode ser parte de seu ritual de solidão. De fato, ter espaço para fazer isso enquanto estamos neste lugar de solidão pode tornar a comunicação mais profunda e a conexão mais autêntica, porque estamos sem as camadas de distração ao nosso redor”, diz Moffa.
Você também pode fazer uma atividade solitária, mas compartilhá-la comunitariamente. Moffa faz parte de um bate-papo em grupo com amigos que trocam mensagens de texto com suas pontuações do Wordle, um jogo de palavras, todos os dias.
“Todos nós fazemos isso silenciosamente por conta própria, mas se torna algo que nos conecta quando compartilhamos”, revela.
A solidão também pode envolver o silêncio, que reduz o estresse, melhora o sono, ajuda na tomada de decisões em algumas pessoas.
“Mas sem estrutura, pode parecer intimidador”, afirma Eloise Skinner, que passou um ano treinando como monja em uma comunidade monástica moderna.
Pratique ficar confortável com o silêncio durante pequenos momentos do seu dia, primeiro e quanto estiver fazendo outra coisa ativamente – como cozinhar ou caminhar – e depois, para um desafio maior, enquanto está sentado quieto.
Adicionar uma estrutura ao seu silêncio – escrevendo em um diário ou ouvindo sua respiração – pode torna-lo mais satisfatório.
Se você só precisa ouvir outra voz, não há vergonha em torná-la sua. Liz Thomas, de 36 anos, que é uma caminhante profissional de longa distância e já viajou 25 mil quilômetros sozinha, dá a si mesma conversas estimulantes usando o nome de Snorkel para sua voz.
“Eu digo: “Vamos, Snorkel, você precisa montar esta barraca”, diz ela.
Falar consigo mesma na segunda pessoa acalma preocupações, algo que os pesquisadores também descobriram em um estudo de 2014.
VOCÊ PODE ENCONTRAR A SOLIDÃO EM QUALQUER LUGAR
Sally Snowman não passa a noite em Little Brewster Island desde 2019. Ela ainda vai várias vezes por semana para manutenção de rotina, mas a guarda costeira está transferindo a administração do farol e não precisa tanto dela.
Segundo ela, recuperar a sensação de calma que sentia lá foi o desafio final no continente. Snowman começou a visitar um parque local fora do horário de pico, “olhar além das coisas feitas pelo homem e se concentrar nas árvores”. Então, tenta engarrafar essa paz e contentamento e trazê-los para casa.
“Encontrei um lugar com o qual se sinta conectado e depois pratique encontrar esse lugar dentro de você, sem ter que trata-la”, aconselha.
A medicina descobre que, assim como o câncer, o diabetes é muito mais complexo do que se imaginava. E isso altera tudo no tratamento da doença
Desde que os primeiros dados do Projeto Genoma começaram a ser liberados, em abril de 2003, ficou claro que dali por diante a medicina nunca mais seria a mesma. Com 99% do material genético humano decifrado, iniciou-se uma fabulosa transformação na forma de compreender e tratar as doenças baseada na evidência de que elas, ao final, não eram exatamente como se imaginava. De acordo com características genéticas distintas, uma enfermidade pode ter manifestações, evoluções e desfechos muito diferentes.
O conhecimento vem imprimindo mudanças históricas particularmente expressivas no enfrentamento do câncer. Já virou um mantra entre os oncologistas a postulação de que o câncer não é uma doença, mas várias. Assim, o que antes era combatido com uma receita hoje é atacado com enorme variedade de armas. Chama-se essa abordagem de medicina de precisão, caminho sem volta no cuidado à saúde. Agora, ela chega ao controle do diabetes, doença que atinge 537 milhões de pessoas no mundo, 16 milhões no Brasil. Assim como no câncer, as terapias contra a moléstia mudarão para sempre.
O diabetes é um dos principais pesadelos de saúde pública do planeta por representar importante fator de risco para infarto cardíaco e acidente vascular cerebral e ser a maior causa de cegueira em1 pessoas de 20 a 60 anos. A doença é caracterizada quando a concentração de açúcar no sangue ultrapassa os índices recomendados, isso acontece sempre que algum problema impede a produção ou o funcionamento adequado da insulina, hormônio secretado pelo pâncreas que tema função de abrir a porta das células para a entrada da glicose, o combustível que as faz funcionar. Sem conseguir entrar, o açúcar circula pelo corpo, causando estragos.
Convencionalmente, conhecia-se dois tipos da enfermidade. O 1 seria apenas congênito e de origem autoimune, quando as células do sistema de defesa do corpo atacam estruturas do próprio organismo. Nesse caso, o alvo são as células pancreáticas produtoras de insulina. O tipo 2 teria origem somente em questões ligadas ao estilo de vida, como obesidade e sedentarismo. O que se descobriu, no entanto, é que o gênero 2 é muito mais complexo, inclusive com casos nos quais também está presente o componente autoimune. É o que os médicos estão chamando de diabetes tipo 1,5. Por causa disso, está sendo adotada uma nova classificação agrupando os pacientes de acordo com os perfis predominantes na apresentação da doença. Foram criados cinco subgrupos: obesidade, resistência à insulina (o corpo produz, mas o hormônio não cumpre sua função adequadamente), disfunção de insulina (produção insuficiente), traço autoimune e carga genética que favorece o surgimento precoce de complicações típicas da doença como prejuízos renais e oculares.
Esse entendimento altera a forma de controlar a enfermidade, que deixa de ser baseada em atributos gerais para se tornar focada no que realmente está por trás das altas taxas de açúcar na circulação sanguínea. “O caminho é fornecer tratamentos pensando em qual subgrupo o paciente se encaixa”, diz o endocrinologista Ricardo Cohen, coordenador médico do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
A hipótese levantada pelos pesquisadores era ver se aquele grupo especifico de pacientes poderia particularmente ter se beneficiado com a operação. Eles queriam passar um pente-fino e refinar as indicações para a cirurgia de acordo com as novas categorizações para a enfermidade. Concluíram que o subgrupo de diabéticos estudado está associado aos melhores resultados da operação tanto no que diz respeito à remissão da doença quanto à manutenção das funções renais. “É o primeiro estudo que mostra a customização da cirurgia para pacientes com diabetes tipo 2”, diz Ricardo Cohen. “Mostramos quem vai se beneficiar mais e os médicos poderão definir acertadamente os pacientes”, completa.
A pesquisa foi publicada no início do mês na revista científica The Lancet Diabetes & Endocrinology, integrante da The Lancet, um dos mais respeitados periódicos científicos do planeta. Na apresentação do artigo, os cientistas escreveram que o trabalho representa um passo na direção da medicina de precisão no tratamento do diabetes por meio da cirurgia. Algonecessário e urgente. “Assim como não se pode pensar em operação para pacientes com o tipo 1, não tem cabimento oferecê-la ao tipo 2 com componente autoimune, por exemplo”, afirma o médico Domingos Malerbi, presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. O princípio básico para o sucesso de qualquer tratamento é acertar o diagnóstico. Depois, ajustar o remédio e a dose. Por décadas, ele não foi obedecido, prevalecendo entre os médicos a conduta de acompanhar os indivíduos com diabetes tipo 2 como se todos tivessem a mesma doença. E, como demonstram as pesquisas, não têm. Um erro, mas causado por falta do conhecimento e que finalmente começa a ser corrigido. Eis a beleza da ciência.
O QUE MUDA
A indicação do tratamento contra o tipo 2 da doença deixa de ser uniforme e passa a considerar fatores individuais que encaixam o paciente em cinco subgrupos:
O CONTROVERSO DIABETES TIPO 3
Um debate sobre a existência do diabetes tipo 3, que envolveria uma conexão entre a enfermidade e a doença de Alzheimer, divide especialistas. Embora o termo não seja utilizado por sociedades médicas, como a Associação Americana de Diabetes, há profissionais que usam a terminologia ou a expressão “diabetes do cérebro” para abordar a eventual relação.
Alguns estudos In vitro e com cobaias sugerem que o diabetes tipo 2 aumentaria o rosco para o desenvolvimento de Alzheimer e que isso estaria ligado com a resistência à insulina apresentada pelas células cerebrais. O quadro comprometeria o funcionamento dos neurônios, resultando em acúmulo de neurotoxinas, estresse neuronal e morte das células nervosas. Na análise dos cientistas que defendem a teoria, o mau funcionamento do hormônio teria relação direta com o declínio cognitivo característico do Alzheimer.
Um dos trabalhos foi divulgado em 2017 pela Mayo Clinic, nos Estados Unidos. A investigação relacionou a condição ao fato de que o diabetes danifica os vasos sanguíneos, o que afetaria o fornecimento de nutrientes ao cérebro. Também apontou que uma variante genética associada à enfermidade neurológica seria capaz de Interferir no mecanismo de processamento de insulina do cérebro.
No entanto, o assunto ainda é controverso e os médicos, em sua maioria, não fazem esse tipo de diagnóstico nos pacientes. Está certo. Se não está provado pela ciência, é assim que deve ser neste momento.
FORA DE CONTROLE
A última edição do Atlas do Diabetes mostrou que 1 em cada 10 adultos tem a doença
… e muito lhes desagradou que alguém viesse a procurar o bem dos filhos de Israel (Neemias 2.10).
O livro de Neemias retrata com cores fortes os diferentes embates do povo de Israel para reconstruir a cidade de Jerusalém. Havia inimigos por fora e temores por dentro. Havia ataques externos e desânimo interno. Muitas foram as investidas dos inimigos para paralisar a obra da reconstrução dos muros. Uma cidade vulnerável interessava aos propósitos inconfessos dos adversários. Quais foram as armadilhas usadas pelos inimigos do povo? Primeiro, tentaram aliar-se a ele na reconstrução da cidade. A parceria do inimigo é pior do que sua oposição. Neemias rechaçou com veemência essa proposta. Segundo, escarneceram do povo. Disseram que a obra que faziam era tão fajuta que uma raposa poderia derrubá-la. Terceiro, criaram intrigas entre o povo e fizeram acusações levianas ao rei, dizendo que os judeus estavam se rebelando contra o Império Medo- Persa. Quarto, espalharam boatarias, tentando com isso intimidar o povo. Quinto, tentaram sentar- se com Neemias para conversar, armando ciladas para matá-lo. Sexto, tentaram intimidá-lo, para que ele, com isso, desobedecesse a Deus. Todas essas ciladas foram criadas com o único propósito de impedir a restauração de Jerusalém. Neemias, porém, reagiu a todas essas ameaças com oração, vigilância, trabalho e confiança em Deus. Em vez de dar ouvidos às ameaças do inimigo, fortaleceu ainda mais as mãos para o trabalho. Em vez de ficar com medo das ameaças, tornou-se ainda mais diligente na obra.
O tema diversidade já entrou na pauta das empresas, mas ainda existe uma lacuna entre o discurso e a prática. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), apesar de 87% das companhias avaliarem ampliar a diversidade entre os funcionários, uma parcela bem menor, de 60%, adota algum programa de inclusão – e isso contando muitos recortes diferentes, como profissionais negros, pessoas com deficiência. LGBTQIAP+, profissionais acima dos 50 anos e ex-presidiários. De olho nesse cenário, as empreendedoras Laura Salles e Viviane Elias Moreira fundaram em 2021 a edtech Pluriebr, que atua em duas frentes: ajuda empresas a dar esse passo adiante por meio decursos, workshops, rodas de conversa e apoio jurídico, e capacita líderes de instituições sociais a preparar integrantes dessas minorias para o mercado de trabalho. “Acabamos de fechar um projeto importante com a Fundação Casa para ampliar as oportunidades de emprego de 200 jovens quando eles deixarem a instituição”, comemora Laura, fazendo referência à autarquia do governo paulista que abriga menores infratores.
Nos acordos com as empresas privadas, a Plurle br trabalha com valores bem abaixo do mercado, a partir de R$10,90 por funcionário. Com 22 cursos disponíveis na plataforma, a startup espera atender um universo de 10 mil pessoas até meados deste ano. Sua próxima meta é elaborar cursos para ajudar as companhias na contratação de ex-detentos.
De acordo com Laura, o grande desafio é convencer as empresas de que o processo de inclusão deve ser contínuo, não se limitando a ações pontuais. “O comprometimento empresarial é vital para que as pessoas se sintam acolhidas no ambiente de trabalho e tenham mais oportunidades de carreira”, afirma.
Nossa dependência da ferramenta que decide sucesso nas redes
Um amigo todo dia posta uma foto sem camisa em seu perfil no Instagram. Objetivo: conquistar likes e seguidores. É o que se chama de biscoiteiro. Certa vez, abri meu celular e vi outro amigo, eternamente desempregado, em um veleiro, confortável, como se fosse dele. Postou fotos assim por semanas a fio. Certamente foi convidado para passar só o dia. Fez uns 800 cliques, que alimentavam seu perfil. Queria ser notado pelo algoritmo. Esse senhor, o algoritmo do Instagram, seleciona a exposição dos posts. De sua decisão, é obvio, depende o grau de adesão. Claro que ele leva em conta o interesse pelos posts, o grau de engajamento – likes e comentários – e vários fatores misteriosos. O algoritmo é uma ferramenta da inteligência artificial capaz de analisar meu histórico, trajetória, interesse, e por aí em diante. Quanto mais o algoritmo gostar de mim, major sucesso terei no Instagram. Seu coração (embora não deva ter um) é tudo , menos óbvio. A cada instante descubro que existe alguém famoso que eu nem conheço, mas com milhões de seguidores. Seu segredo? Seduzir o dito-cujo. O império do algoritmo é tão poderoso que até Caetano Veloso fez uma música, Anjos Tronchos, falando a respeito dele.
Ter seguidores é uma mina de ouro. Quanto mais o perfil tem, maior o número de ações publicitárias. Já percebi: o algoritmo dita como as pessoas devem ser. Simpáticas, divertidas, sexy, sábias, elegantes … mas é tudo mentira, na maior parte das vezes. Quem faz sucesso tem equipes encarregadas de analisar as preferências do público no Instagram e fortalecer comportamentos de sucesso. E aí acontece essa loucura: advogado dando receita de bolo, dentista dando dicas de maquiagem masculina, “instas” especializados em fofoca, gente contando como foi estar em coma ou cachorrinhos e gatinhos fofinhos (que o algoritmo ama). Horror: tem uma galera me aconselhando: “Fale mais sobre televisão”; “Conte da sua vida pessoal”; “Leia poesias”. Só que não tenho talento para virar um site de fofocas televisivas (nem seria ético), falar da minha vida ou mesmo vocação para ler poesias. Irritado, o senhor algoritmo me trata mal.
“A solução é fazer dancinha no Reels.” Ui! Permaneço em minhas fronteiras. Muitas vezes, ele elimina a publicação de alguém, o que é o terror dos terrores. Ameaça excluir a conta. Embora eu não viva do Instagram, morro de medo de isso acontecer. Como sobreviver sem um post, sem olhar o feed, os stories? (Amigos se ofendem se não confiro, mesmo se o algoritmo é que não tenha me deixado ver.) A vida social, os relacionamentos, tudo isso hoje depende das redes sociais.
Tem mais. O algoritmo já saiu do Instagram. Agora ele permeia toda uma série de relações humanas. Interfere. Muitas vezes, estou conversando e, de repente, a pessoa me agarra e faz um vídeo, pensando que minha imagem vai agradar o algoritmo de suas próprias redes. Já vi acontecer até em namoro. O casal vai se beijar. Os dois agarram os celulares, fotografam e postam. É isso aí. Não existe mais relação a dois. O novo triângulo amoroso é como algoritmo. Tome cuidado. É melhor ser simpático com ele.
Fazer atividade física sem comer antes promove queima de calorias inicial, mas ativa “modo de sobrevivência” do corpo, que tende a armazenar reservas para encarar a escassez. Hábito também afeta hipertrofia muscular
Estudos recentes comprovam que fazer exercícios de estômago vazio aumenta a queima de gordura. Segundo pesquisadores da Universidade de Bath, na Inglaterra, treinar sem nada na barriga pode queimar até o dobro de gordura em comparação com a mesma atividade após a ingestão de alimento. Mas o cardio em jejum, como ficou conhecida a prática, pode trazer alguns prejuízos ao corpo e provocar o efeito contrário.
A alimentação é o combustível que nosso corpo utiliza para realizar qualquer atividade, desde as mais simples, como respirar, às mais complexas, como correr. Durante o processo de digestão, o corpo transforma a comida em pequenas moléculas, sendo a glicose a principal. Ela é usada para suprir nossa necessidade de energia diária.
Mas a energia também pode ser adquirida através da quebra de gordura. É o que acontece quando estamos em jejum. E, durante a atividade física, o corpo requer muita energia. Por isso, essa queima é acelerada. Sem calorias de alimentos para usar, as células adiposas são quebradas, gerando o combustível necessário ao treinamento e à manutenção das funções vitais.
“Com o organismo em jejum, os recursos energéticos utilizados são aqueles contidos nos depósitos de glicose do fígado e músculos, que se esgotam em cerca de 30 a 40 minutos. Isso obriga o organismo a recorrer aos depósitos de gordura”, explica o endocrinologista Antônio Carlos do Nascimento.
EFEITO COLATERAL
No entanto, treinar frequentemente sem se alimentar pode trazer prejuízos à saúde e gerar o efeito contrário ao desejado. Quando estamos com fome, nosso corpo entra em um “modo de sobrevivência” e começa a economizar calorias, já que não sabe quando virá a próxima refeição. Quando finalmente ingerimos a comida, a tendência do organismo é armazenar mais calorias (em forma de gordura) para o próximo período de fome. Assim, o que foi perdido durante o exercício é reposto pela alimentação.
A obtenção de energia via queima de gordura lenta. Quando começamos a fazer o exercício sem ter se alimentado, o corpo demora a conseguir o necessário para suprir sua demanda. Como resultado, você faz um treino de baixo rendimento e fica cansado mais rápido.
“Sem aporte pleno de glicose para o cérebro e com a musculatura exaurida, o resultado é fraqueza e adinamia (fraqueza muscular), limitando o prosseguimento da prática de exercícios”, alerta Nascimento.
MENOS MÚSCULOS
Além disso, estudos mostram que fazer uma atividade física alimentado diminui o apetite para as próximas refeições.
Pessoas que fazem exercícios para ganho de massa também sentem os efeitos adversos de treinar em jejum. Junto com a gordura que o corpo queima para obter energia, ele também se vale dos músculos. Assim, em vez de desenvolvimento muscular, o resultado é um muque mais mirrado.
Curso conduzido por geneticista ensina a lidar com as agruras da vida
Pandemia de Covfd-19, desastre de Petrópolis, guerra na Ucrânia. Quando o mundo parece se desfazer sob os nossos p[es e tudo o que resta é a incerteza, a melhor proteção pode estar dentro de nós mesmos. Resiliência, a preciosa capacidade de enfrentar e superar o estresse de tempos difíceis, está ligada à compaixão não apenas pelos outros, mas por si próprio, mostram estudos de neurociência.
Foi a investigação das bases biológicas da compaixão e da resiliência que mudou a vida do geneticista Marcelo Bento Soares, chefe do Departamento de Biologia do Câncer e Farmacologia e diretor de pesquisa da Escola de Medicina da Universidade de Illinois, no campus de Peoria, nos EUA.
Respeitado por seu trabalho sobre os aspectos moleculares do câncer, Soares hoje também é instrutor sénior de Treinamento da Compaixão Baseado em Cognição (conhecido pela sigla em inglês CBCT) da Universidade cle Emory.
No Brasil ele ministrará em maio, no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), o curso de extensão “Compaixão, resiliência e inteligência emocional”, não apenas para médicos, mas também para executivos e lideranças de outras áreas. Já treinou de policiais e professores da rede pública dos EUA à liderança da fundação Dom Cabral (MG).
Dramas pessoais levaram Soares a buscar formas de aumentar a resiliência. Não apenas a dele próprio, mas de médicos e estudantes de medicina. Tanto a primeira quanto sua segunda esposa morreram justamente de câncer. Mas foi a postura dos médicos que trataram delas que o motivou.
Quando a primeira mulher de Soares estava em seus momentos finais, o oncologista que tratava dela se desligou e saiu de cena. Soares se casou de novo. E, viu o drama se repetir. O especialista que acompanhava o caso há cinco anos e até então havia sido uma presença positiva não aguentou e também se distanciou.
“Nesse momento, ficou claro o sofrimento do médico. São formados para salvar vidas e muitos não sabem como lidar com as perdas. Quando minha segunda esposa faleceu, era vidente o sentimento de fracasso do médico dela. Isso leva ao distanciamento emocional e até ao esgotamento”, diz Soares.
Foi quando se tornou diretor de pesquisa médica do campus de Peoria que Soares viu a oportunidade de desenvolver programas educacionais que contemplassem o ensino da neurociência da empatia e da compaixão.
Desde os anos 2000, uma série de estudos têm demonstrado que as áreas cerebrais associadas à autocompaixão e à compaixão também estão relacionadas às chamadas emoções positivas, um termo guarda-chuva para aquilo que costumamos chamar de bem-estar. E a almejada resiliência é um componente do bem-estar, uma forma de reagir segundo a magnitude de uma situação. Algumas pessoas reagem melhor do que outras quando submetidas ao estresse. Porém, assegura Soares, os elementos essenciais para o bem-estar emocional podem ser aprendidos.
“Todos temos músculos, mas ninguém se torna atleta sem treiná-los, como nos diz Dan Siegel, professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia. O mesmo acontece com o cérebro. Os elementos do bem-estar são orquestrados por redes de neurônios com plasticidade para mudar.
FATORES ESSENCIAIS
Segundo ele, quatro fatores são essenciais para alcançar o bem-estar e a resiliência. O primeiro é a atenção, a capacidade de manter o foco numa situação. O segundo a conexão, habilidade que nos permite sentir compaixão e gratidão. O terceiro é o discernimento, a capacidade de não se limitar a um fato em si, mas reconhecer e avaliar outros fatores associados a ele. É essa habilidade que nos ajuda a entender e aceitar as próprias falhas. Propósito é o quarto elemento. Ter propósito, diz Soares, é criar um norte definido para seguir em frente.
“Todos esses elementos combinados nos fortalecem. Algumas pessoas agirão naturalmente de forma mais resiliente, mas todas podem aprender a lidar melhor com situações difíceis.”
A neurociência já mostrou que empatia e compaixão não são a mesma coisa. Empatia é instinto. Compaixão consciência.
Empatizar é sentir o que o outro sente. O ser humano possui “neurônios espelho”, que nos dão essa capacidade. É uma capacidade de sobrevivência, que nos ajuda a perceber e sentir emoções tanto positivas quanto negativas. Mas o que é um mecanismo de sobrevivência pode se tornar tortura em certas situações. Por exemplo, um médico que trabalha com pacientes terminais vive em dor crônica.
“Ignorar e se distanciar não resolve, porque o cérebro capta a sensação e ela acaba por incomodar do mesmo jeito”, explica Soares.
A empatia é fundamental para a compaixão. Mas esta é mais complexa. Ela Implica na consciência da dor do outro e sentir que algo precisa ser feito para aliviar o sofrimento.
A neurociência também já mostrou que as regiões cerebrais associadas às sensações de recompensa e motivação são ativadas quando sentimos compaixão.
A compaixão não se aplica apenas aos outros, mas a nós mesmos, salienta o pesquisador. Ela é extremamente necessária para atravessar o tempo de perdas que atravessamos, sejam elas de pessoas, patrimônio, lugares, convicções e visões de mundo.
Sentir autocompaixão é ter consciência das próprias dores e mudar para aliviá-las. Mas para isso é preciso compreensão e amor próprio.
“Ter autocompaixão é se tratar com carinho, se considerar o seu meu melhor amigo, ter autocuidado e motivação. Para ter compaixão dos outros é preciso começar conosco”, diz ele. Soares explica que a resiliência nada mais é do que a capacidade de reconhecer e agir para sobreviver a situações que nos ameacem.
“A ciência nos ensinou que evoluímos para a sobrevivência, não para a felicidade. Bem-estar não é alegria. Tristeza é normal em certas situações. O problema são as emoções negativas que se tornaram crônicas, a depressão, a ansiedade”, afirma.
Coisas simples contribuem para a autocompaixão. A primeira é lembrar das necessidades emocionais. A segunda é refletir sobre a forma como nos enxergamos, sentir respeito e carinho por si mesmo. A terceira é ter consciência da vulnerabilidade, porque ser vulnerável é ser humano.
Os casacos de pele de coelho, raposa, chinchila e vison não têm mais lugar nas principais passarelas do mundo. Já as texturas sintéticas ganham cada vez mais adeptos e viram artigos de luxo disputados
Com uma sociedade cada vez mais conectada e preocupada com o meio ambiente e a causa animal, o uso de peles verdadeiras virou uma questão identitária, política e também de estilo. Tidos como símbolo de elegância e riqueza do passado, os casacos de pele são hoje sinônimo apenas de crueldade contra os animais. Grifes como Prada, Chanel, Gucci e Bottega Veneta já não usam o produto em suas coleções e as que ainda possuem peles em seus catálogos – como a italiana Dolce & Gabbana – colocaram um prazo para encerrar a produção. Até o final do ano, das gigantes das semanas de moda, apenas a Fendi deverá manter uma pequena linha com pelagem animal.
A vitória dos ambientalistas, principalmente do grupo PETA, a organização global “People for the Ethical Treatment of Animals”, conhecida por seus protestos nas passarelas e nas ruas de Paris, Nova York e Londres não significa, contudo, que o estilo “peludo” tenha saído de moda. As peles falsas, ou “fake fur”, em inglês, perderam a cara de “ursinho de pelúcia” e são imitações de alta qualidade, usadas com orgulho pelas principais celebridades do planeta.
No último desfile da francesa Yves Saint Laurent, em Paris, as peles falsas foram as protagonistas, chamando a atenção pela quantidade das peças apresentadas e também pela qualidade que davam às composições de inverno da marca. A atriz e modelo norte-americana Hailey Bieber chegou ao evento, que foi realizado em frente à Torre Eiffel, já usando uma das peças que seriam apresentadas na noite: um longo casaco marrom que deslizava em suas curvas e pernas à mostra. A influenciadora Kim Kardashian também adotou a mudança, algo surpreendente já que ela e as irmãs famosas foram alvos de protestos por usarem o item no passado. Até mesmo as brasileiras Camila Coelho e Marina Ruy Barbosa abraçaram a causa. Marina, atriz que também possui a própria marca de roupas, usou uma estola branca para passar a virada do ano no frio dos Estados Unidos. Ao publicar o visual para seus 39 milhões de seguidores, fez questão de escrever “Fake fur, claro”. A repercussão foi tanta que a conta oficial da PETA na América Latina comentou: “O casaco de pele sintética colocou esse visual em outro nível. Adoramos como você mostra às pessoas como é fácil e moderno deixar para trás as peles de animais”.
Embora ainda existam muitas peles exóticas deslizando pela indústria, a geração Z tem sido uma força motriz para que as marcas abandonem as peles e até quem possui casacos verdadeiros no guarda-roupa, prefere apostar nas versões sintéticas. Esse é o caso da funcionária pública federal Daniela Marques, de 41 anos. Ela diz que possui uma peça de pelo de coelho, mas que nunca a usou. “Não me sinto bem, é uma sensação estranha, não tenho coragem de sair na rua”, diz. Daniela, porém, resolveu a questão comprando dois casacos de “fake fur” em sua última viagem para Paris, antes da eclosão da pandemia. “É quente, protege do frio e todo mundo usa por lá”, explica.
As versões sintéticas, apesar de não envolverem crueldade animal, não são uma salvação do meio ambiente. A estilista têxtil e pesquisadora de tecidos sustentáveis da “Brazilian Fashion Lab”, Thamires Pontes, afirma que esses tecidos são feitos de plástico e, por isso, danosos ao meio ambiente. “As peles fakes são feitas com fibras de acrílico e de poliéster. Esses materiais contêm polímeros derivados do petróleo e foram feitos para durar para sempre”, diz. Ela explica que quem quer pensar a sério em sustentabilidade precisa adotar os tecidos feitos com algas e cogumelos, por exemplo.
A personal stylist e professora de Moda da Fundação Armando Álvares Penteado, Rita Heroína, de 45 anos, diz que em nove anos trabalhando no ramo, não teve clientes que buscaram por peças verdadeiras. “Nunca foi uma pauta das minhas clientes, não é algo que representa luxo ou poder. As coisas mudaram bastante, muitas delas querem apenas usar marcas veganas. As pessoas usam a pele como acessório de festa e a artificial é a melhor opção, principalmente pelo preço”, explica. Com o fim da procura, será realmente o fim da oferta?
CAPRICHO DA RAINHA
A rainha Elizabeth II, que participou de caça e tiro durante toda a sua vida, revelou no final de 2019 que pararia de usar peles verdadeiras em seus compromissos oficiais. A informação partiu da própria estilista da monarca, Angela Kelly: “Se Sua Majestade for a um local em clima particularmente frio, peles falsas serão usadas para garantir que ela permaneça aquecida”. O palácio de Buckingham confirmou a informação, mas ressaltou que peles verdadeiras ainda poderão ser vistas na rainha em alguns eventos muito especiais.
Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus (Neemias 1.4).
Neemias foi governador de Jerusalém. Líder de qualidades excelentes, estrategista singular e gestor bem-sucedido, conseguiu em apenas 52 dias aquilo que todo o povo não conseguira realizar em décadas. Neemias foi um consolador por excelência por várias razões. Primeiro, Neemias teve coragem de fazer perguntas. Segundo, Neemias teve capacidade de sentir o fardo do seu povo. Terceiro, Neemias se colocou na brecha em favor do povo. Quarto, Neemias se entregou a Deus como resposta ao problema que lhe fora apresentado. Quinto, Neemias teve iniciativa de falar com Deus e com o rei. Como intercessor, aproximou-se de Deus; como estrategista, aproximou-se do rei. Buscou tanto os recursos do céu como os recursos da terra para reerguer Jerusalém das cinzas. Sexto, Neemias agiu com prudência e sabedoria. Antes de desafiar o povo, avaliou a enormidade da obra. Sétimo, Neemias encorajou o povo com as provas insofismáveis do favor de Deus. O que Deus fez no passado é o penhor do que ele fará no futuro. Devemos considerar as maiores experiências do passado como as medidas mínimas daquilo que Deus pode fazer no presente. Oitavo, Neemias não olhou para a ameaça dos inimigos, mas confiou na proteção divina. O resultado é que em tempo recorde a cidade foi reconstruída e o povo foi restaurado.
Cada vez mais numerosos, os nômades digitais fazem o Airbnb bater recorde de hospedagens de longa permanência
Nos Estados Unidos, a quantidade de nômades digitais saltou de 7,3 milhões, em 2019, para mais de 15,5 milhões em 2021 – e uma pesquisa da MBO Partners prevê que outros 64 milhões de americanos planejam virar nômades digitais nos próximos três anos. Enquanto isso, 15 países já estão oferecendo vistos específicos para estrangeiros que desembarcam com o intuito de se entregar ao turismo e trabalhar remotamente – o Brasil entrou para o grupo em janeiro. Favorável à tendência por motivos óbvios, o Airbnb registrou mais de 100 mil reservas de 90 dias ou mais entre setembro de 2020 e setembro de 2021. No terceiro trimestre do ano passado, uma a cada cinco hospedagens intermediadas pela plataforma se estendeu por quatro semanas ou mais – e metade de todas elas foi de no mínimo uma semana, o que representa um crescimento de 44%.
Para incentivar o nomadismo digital, Brian Chesky, CEO do Airbnb, não tem mais endereço fixo desde janeiro. Começando por Atlata, nos Estados Unidos, ele pretende trocar de cenário de tempos em tempos, sempre se hospedando em imóveis listados na plataforma. À sede da companhia, em San Francisco, voltará só vez ou outra.
O REMOTO É AQUI E AGORA
Novidades que favorecem o nomadismo
HUBS DIGITAIS
A Salesforce, líder global em software de gestão corporativa, está substituindo suas sedes físicas por ambientes digitais. A companhia adotou essa solução com a adesão mandatória ao Slack, plataforma adquirida por ela por USS 27.7 bilhões.
JORNADA MAIS CURTA
Panasonic, Canon e Kiekstarter cogitam reduzir a semana de trabalho para quatro dias, para melhorar a qualidade de vida dos funcionários. A Unilever já está testando a ideia na Nova Zelândia.
EQUIPES SEM FRONTEIRAS
A divisão de games da Sony, que gira em torno do Playstation, está contratando colaboradores baseados em qualquer país. Facilitadora de contratações internacionais, a startup americana Deel cresceu na pandemia e atingiu US$5,5 bilhões de valuation.
BASES DE APOIO
A startup de negócios imobiliários Quinto Andar, que tem sede em São Paulo, inaugura uma base em Lisboa em março para atender colaboradores que se mudaram para Portugal.
Falavam alto e ostentavam bronzeados e decotes que seriam perfeitos num clube de strippers. O conceito de beleza delas, decididamente, não incluía elegância nem naturalidade. Minha amiga comentou: esse mulherio é bem informado, lê revistas, livros sobre moda, por que será que pisam na bola desse jeito? No que eu respondi: só pode ser medo da morte, ué. E rimos como duas crianças, apesar de o assunto estar longe de ser piada.
Peruíce não é falta de gosto, e sim pânico gerado pela proximidade do fim. Muita gente tenta deter o tempo manipulando o próprio rosto e se caricaturando sem autopiedade – e sem autocrítica. Porém, o tempo continua passando da mesma forma, só que ele é mais implacável com quem joga fora suas expressões, que é o que temos de mais jovial. Uma senhora idosa pode muito bem ter um ar de garota. É insano abrir mão disso para ficar com rosto de boneco de cera.
Continuamos a conversar, minha amiga e eu, e chegamos à conclusão de que o mundo nunca esteve tão apavorado como agora. A escritora Fernanda Young, ao escrever sobre o filme Closer, detectou o medo da morte por trás das atitudes instáveis dos personagens. Perfeito, é isso mesmo. É preciso ser muito macho (e aí incluo a macheza das mulheres) para manter um relacionamento longo, estável, à base de concessão e perseverança. Quem não tem fôlego para tanto, opta pelo troca-troca, que é mais fácil e dá a sensação de estar “aproveitando a vida” antes que a morte venha e crau.
A gente casa por medo da morte – solidão, para muios, é morte – e se separa por medo da morte – rotina, para muitos, também é. A gente viaja para fugir da morte, a gente dança para espantar a morte, a gente gargalha para enfrentar a morte, a gente reza para se aliar à morte, a gente pensa nela o tempo todo. É nossa única e inabalável certeza. Sendo assim, dedicamos todos os nossos dias a tentar nos salvar. Estamos sempre atrás de uma receita que evite esse fim abrupto que nos aguarda lá adiante, ou ali adiante. Corremos no calçadão, procuramos nos alimentar decentemente, ouvimos música, saímos pra beber com os amigos e não nos sentimos vivos se não estivermos apaixonados -porque a paixão é o único sentimento que faz a gente se sentir imortal – e assim vamos tentando manter a morte o mais distante possível. Somos doutores em alegria, somos simpáticos a tudo o que nos faz rir, e chamamos equivocadamente de infelicidade aquilo que é silencioso e repetitivo, porque silêncio e tédio nos lembram você sabe o quê. Pirados, todos nós, e com toda a razão: não é mole viver com a consciência de que sumiremos de uma hora para a outra. A única saída é não dar muita bandeira deste nosso pavor. Ansiedade, sim, envelhece.
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b