É MELHOR SE EXERCITAR PELA MANHÃ OU NA PARTE DA NOITE?
Treinar em diferentes momentos do dia pode trazer benefícios únicos para a saúde, sugere novo estudo conduzido em roedores

O exercício matinal tem efeitos muito diferentes no metabolismo em comparação com o mesmo treino no fim do dia, diz um novo e ambicioso estudo conduzido em animais sobre o timing de atividade física. O trabalho, que analisou roedores de laboratório saudáveis correndo em pequenas esteiras, mapeou centenas de diferenças em quantidades e atividades de moléculas e genes no corpo dos animais, que variavam se eles corriam logo pela manhã ou mais noite.
Muitas dessas mudanças estão relacionadas à queima de gordura e a outros aspectos do metabolismo dos animais. Com o tempo, essas alterações podem influenciar substancialmente seu bem-estar e o risco para doenças. E, embora o estudo tenha focado em roedores, suas descobertas provavelmente têm relevância para qualquer um de nós que se pergunta se é melhor malhar antes do trabalho ou se podemos obter tanto ou mais benefícios para a saúde com exercícios após o expediente.
As atividades internas de quase todas as criaturas vivas seguem um bem orquestrado ritmo circadiano de 24 horas. Estudos recentes mostram que quase todas as células do nosso corpo contém uma versão do relógio molecular que se coordena com um sistema de temporização de corpo inteiro mais amplo para direcionar a maioria das atividades fisiológicas. Graças a esses ciclos, nossa temperatura corporal, açúcar no sangue, pressão arterial, fome, frequência cardíaca, níveis hormonais, sono, divisão celular, gasto de energia e muitos outros processos aumentam e diminuem em padrões repetidos ao longo do dia.
Estes ritmos internos, embora previsíveis, também são maleáveis. Nossos relógios internos podem se recalibrar, mostra a pesquisa. Em geral, eles respondem à luz e à escuridão, mas também são afetados por nossos hábitos de sono e quando comemos.
ANÁLISE MINUCIOSA
Pesquisas recentes sugerem que a hora do dia em que nos exercitamos também impacta em nossos relógios internos. Em estudos anteriores em camundongos, correr em horários diferentes afetou o metabolismo e alterou a atividade de genes relacionados ao ritmo circadiano e ao envelhecimento. No entanto, os resultados em pessoas vinham sendo divergentes. Mas poucos desses estudos se aventuraram a examinar todas as mudanças moleculares que impulsionam os resultados de saúde e mudanças circadianas, o que pode explicar algumas das discrepâncias de um para outro.
Para o novo estudo, publicado este mês na capa da revista Cell Metabolism, um consórcio internacional de pesquisadores decidiu tentar quantificar quase todas as alterações moleculares relacionadas ao metabolismo que ocorrem durante o exercício em diferentes momentos do dia.
Eles colocaram camundongos machos saudáveis para correr moderadamente sobre rodas por uma hora no início do dia, enquanto outros correram a mesma quantidade à noite. Uma quantidade adicional de camundongos sedentários foi o grupo de controle. Cerca de uma hora após os treinos, os pesquisadores coletaram amostras do músculo, fígado, coração, hipotálamo, gordura branca, gordura marrom e sangue dos animais e usaram máquinas sofisticadas para identificar e enumerar quase todas as moléculas nos tecidos relacionadas ao uso de energia. Eles também verificaram marcadores de atividade de genes ligados ao metabolismo. Em seguida, tabularam os totais entre os tecidos e entre os grupos de camundongos.
Surgiram padrões interessantes. Como os ratos são noturnos, eles acordam e ficam ativos à noite e se preparam para dormir de manhã, um horário oposto ao nosso. Quando os camundongos correram no início de seu horário ativo – o equivalente à manhã para nós – , os pesquisadores contaram centenas de moléculas que aumentaram ou caíram em volume após o exercício, e que diferiram em números dos níveis observados em camundongos que corriam mais perto de suas horas de dormir ou dos que não se exercitaram. Se esses padrões se aplicarem a pessoas, isso pode sugerir que o exercício matinal contribui mais para a perda de gordura, enquanto o treino no final do dia pode ser melhor para o controle do açúcar no sangue. Mas camundongos não são pessoas, e ainda não sabemos se os padrões moleculares se aplicariam a nós.
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