OUTROS OLHARES

A ERA DO CANCELAMENTO

Diante do anacronismo das letras ou de referência machistas, racistas, homofóbicas ou de estimulo à violência, muitos artistas, em uma espécie de autocrítica, decidem eliminar canções clássicas de seu repertório ou modificá-las para que sejam aceitas nos novos tempos

O cantor e compositor Chico Buarque decidiu excluir definitivamente a música Com açúcar, com afeto, um dos seus maiores clássicos, do repertório de shows. Não foi por uma pressão imediata do movimento feminista ou por qualquer conteúdo aversivo da canção. Nem por uma cobrança social pela autocensura. Trata-se de uma espécie de precaução anti-cancelamento, de uma revisão critica movida pela constatação de que a música caducou diante dos novos comportamentos e da evolução da condição da mulher. Composta em 1967, a pedido da cantora Nara Leão, que encomendou para Chico uma exaltação da fêmea sofredora no estilo de velhos sambas, como Ai, que saudades da Amélia. a música, embora seja ótima, hoje pode ser ouvida apenas como um elogio à submissão feminina. A situação que ela apresenta é típica de uma mentalidade do passado em que o homem saía para a rua e a mulher ficava em casa resignada, só esperando ele chegar depois da esbórnia.

Para Chico, que revelou  a intenção de abandonar a música no documentário “O Canto Livre de Nara Leão”, ela não cabe mais nas suas apresentações. “As feministas têm razão, mas elas precisam compreender que naquela época não passava pela cabeça da gente que aquilo era uma opressão, que a mulher não precisa ser tratada assim. Elas têm razão. Eu não vou cantar Com açúcar, com afeto mais e se a Nara estivesse aqui, ela não cantaria, certamente”, disse o artista. É sabido que a canção já estava fora de seus espetáculos há muito tempo, desde 1986. Mas Chico marcou posição citando feministas em geral. E reforçou uma discussão sobre a cultura machista de diminuir, menosprezar ou demonizar a mulher, seguindo um caminho que vem sendo adotado por muitos outros cantores e bandas de refletir sobre o anacronismo de parte de suas obras. Recentemente, os Rolling Stones também anunciaram que excluiriam de seus shows a música Brown Sugar (Açúcar Mascavo), lançada no álbum Sticky Fingers, em 1971. Nela, há referência a uma mulher vendida como escrava e sendo chicoteada por um velho feitor por volta da meia-noite. Alguém que ouve o barulho do chicote canta no refrão “Açúcar mascavo, como é que você tem um gosto tão bom”, em uma evidente sensualização da violência contra a mulher negra. Desde 1995, pelo menos, o vocalista da banda, Mick Jagger, via problemas na música, que romantiza a escravidão e reafirma estereótipos. Em uma entrevista para a revista Rolling Stone, ele declarou que “nunca a escreveria agora”. “Eu, provavelmente, me censuraria”, completou. Já o guitarrista Keith Richards demonstrou resistência à exclusão de Brown Sugar do repertório das apresentações, e disse que ela trata dos “horrores da escravidão”, ou seja, que é mais crítica do que politicamente incorreta. A decisão final da banda, porém, se alinha com a tendência geral de admitir erros do passado e atender demandas identitárias e alinhadas com uma visão histórica renovada, que não negligencia, por exemplo, o sofrimento de milhões de africanos trazidos à força para a América.

Chico não foi tão longe como os Stones na incorreção política em Com açúcar, com afeto, embora as duas músicas tenham açúcar como mote, mas percebeu que a canção tem problemas. “Não houve qualquer pressão do movimento feminista, o que deve ter acontecido é que ele deve ter ouvido das amigas que a música estava datada”, diz a blogueira feminista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). Lola Aronovich. “Tem gente que pode ver a exclusão como uma espécie de autocensura imposta por valores culturais, mas é só uma decisão do artista. Há uma velha tática machista de criar falsas polêmicas em nome do feminismo para deslegitimá-lo”. Em 1942, quando, por exemplo, Ataulfo Alves e Mário Lago lançaram Aí, que saudades da Amélia, que se tomou um símbolo da mulher submissa, eles não poderiam imaginar que haveria uma profunda transformação social. Vinte cinco anos depois, na gravação de Com açúcar, com afeto, apesar da contracultura e da popularização das ideias progressistas, a condição feminina ainda era desigual e precária e a resignação e a passividade eram tratadas como virtudes. São músicas que retratam uma época. Mas o tempo passa e os artistas continuam refletindo sobre a mudança da realidade e são pressionados a rever politicamente suas obras, buscando uma correção, um ajuste e atualização de postura por causa da evolução mental de seu público.

Em geral, a decisão de cantores de excluir músicas de seus repertórios tem envolvido temas como machismo, racismo, homofobia ou estímulo à violência. Nos últimos dez anos, o movimento hip hop e os músicos de rap brasileiros, por exemplo, numa revisão crítica que começou bem antes de Chico Buarque e da MPB, têm discutido profundamente a questão do machismo e do preconceito nas músicas. Em 2017, o líder dos Racionais MC’s, Mano Brown, declarou que nunca mais cantaria determinadas composições suas da década de 1990, como Mulheres Vulgares e Estilo Cachorro. Em Mulheres Vulgares, Brown perguntava “Mulher, que tipo de mulher?/ Se liga aí: derivada de uma sociedade feminista/ que considera e diz que todos somos machistas”. Para justificar sua decisão, o rapper disse em uma entrevista que foi “criado de maneira machista, mas o mundo está mudando – e para melhor”. “Não podia continuar errado desse jeito. Não faz nenhum sentido o homem ser beneficiado só por ser homem, é injusto”, declarou.

REVISÃO NO RAP

Antes de Brown, em 2013, o rapper Emicida enfrentou críticas por conta de versos machistas na música Trepadeira, do disco “O Glorioso Retomo de Quem nunca esteve aqui”, na qual diz, por exemplo, que “Margarida era rosa, bela, cheirosa e grampola/Chamei de banquete era fim de feira/Estendi tapete, mas ela é rueira/Dei todo amor, tratei como flor/ mas no fim era uma trepadeira”. Diante dos ataques. Emicida se defendeu afirmando que a música “não é um manifesto de como eu percebo as mulheres”. “Isso gerou uma provocação muito importante para mim, de pensar e ajudar a ver um monte de coisa que, não é que eu não visse, mas que eu não dava a atenção que tinha que dar”, completou. Com o mesmo espírito revisionista, o rapper Criolo alterou em 2018 sua música Vasilhame, de 2006, e no lugar de “os traveco tão aí! Alguém vai se iludir” colocou “o universo tá aí! Alguém vai se iludir”. Já há tempos a palavra “traveco” se tornou inaceitável e ofensiva. A dupla Sandy e Júnior também alterou o final da letra de Maria Chiquinha por causa do conteúdo machista. A cantora e compositora de hip hop Lívia Cruz, que promove uma discussão sobre o lugar das mulheres no seu ambiente musical, acha que essas iniciativas de revisão histórica podem ser “uma faca de dois gumes”. “Acho importante que exista um debate sobre discursos que depredam as mulheres, mas não podemos personalizar em um artista a responsabilidade por um problema social”, diz. “O maior problema é que a crítica é desproporcional e pode virar uma espécie de censura, além de levar a uma postura de cancelamento do autor. O rap é machista, o hip hop é machista, mas o mundo é machista.” Segundo ela, frequentemente a música pode estar promovendo uma crítica à condição da mulher submissa em vez de um elogio à submissão, como acontece em outra canção de Chico Buarque, Mulheres de Atenas. “Depende muito da interpretação”, afirma. Para Lívia, músicas não devem ser banidas ou censuradas, mas lembradas e incluídas no debate público.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE ALEGRIA PARA A ALMA

DIA 18 DE FEVEREIRO

LUTE PELOS SEUS FILHOS

Davi muito se angustiou […], porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no Senhor, seu Deus (1Samuel 30.6).

Você não gerou filhos para o cativeiro. Seus filhos são herança de Deus. São filhos da promessa. Nunca desista deles. Nunca deixe de lutar por eles. Davi estava sendo perseguido de forma implacável pelo rei Saul. Depois de se esconder em cavernas e desertos, precisou fugir de Israel, buscando asilo político entre os filisteus. Designaram-lhe a cidade de Ziclague, onde sua família e as famílias de seus valentes permaneceram. Certa feita, quando Davi e seus homens chegaram a Ziclague, a cidade havia sido atacada pelos amalequitas. Feriram e queimaram a cidade. Levaram cativos os filhos, as filhas e as mulheres. Ao ver a cena, Davi chorou até não ter mais forças para chorar. Seus homens se revoltaram contra ele e queriam apedrejá-lo pelo fato de seus filhos estarem nas mãos do inimigo. Quando a cena parecia irremediável, Davi se reanimou no Senhor e pôs-se a orar. Perguntou a Deus se deveria perseguir o inimigo. Deus não apenas deu resposta positiva, mas lhe fez uma sólida promessa: “Persiga o inimigo, pois tudo o que ele tomou, você trará de volta”. Davi reconheceu que o nosso Deus é o Deus da restituição. Fortalecido pela promessa, Davi saiu ousadamente e triunfou sobre os amalequitas, trazendo de volta as mulheres, os filhos e as filhas. Nada ficou nas mãos do inimigo, nem coisas pequenas nem grandes. Tudo Davi tornou a trazer. Não deixe seus filhos nas mãos do inimigo. Lute também por eles. Chore por eles. Não desista deles!

GESTÃO E CARREIRA

NO RINGUE DOS ANÚNCIOS DIGITAIS

Empresas disputam palavras-chave do Google na justiça

Uma loja de roupas ocupa a calçada com balões, serpentina e cartazes de promoções em letras garrafais, cores berrantes e português duvidoso. Sua concorrente vizinha contra-ataca e escala um locutor fantasiado de Batman para circular pelo quarteirão com uma caixa de som portátil e anunciar liquidações em generosos decibéis. A disputa pela atenção da freguesia sempre foi acirrada no comércio de rua. Já o foco atual das grandes redes varejistas é o meio digital, com o crescimento do comércio eletrônico. Nessa seara, links patrocinados em plataformas como o Google se tornaram estratégias criativas – e muitas vezes decisivas – para atrair o consumidor. A novidade é que a concorrência pela clientela ganhou ares de vale-tudo na internet e foi parar na Justiça.

Os recentes processos entre Magazine Luiza e Via – dona de Casas Bahia e Ponto – com acusações mútuas de concorrência desleal no Google são só um exemplo. Brigas judiciais se tornaram comuns: levantamento da empresa de pesquisa jurídica Juit listou 505 processos contra companhias que compraram o nome de um concorrente com o link patrocinado.

JUÍZES VEEM VIOLAÇÃO DA LEI

O serviço do Google oferece a possibilidade de uma empresa pagar para que seu site seja exibido nas primeiras posições no resultado das buscas por determinado termo. Marcas usam isso para aumentar seus acessos e vender mais produtos. Quando o usuário digita “Magazine Luiza” no Google, por exemplo, o buscador devolve, como primeiro resultado, o link da varejista. O motor de busca permite, no entanto, que concorrentes comprem o nome dessa marca como link patrocinado. Na Justiça, a acusação é que ao escrever “Magalu”, o usuário acabava encontrando um link para Casas Bahia como primeiro resultado. A Via ( processou o Magalu por fatos similares,

Existem 657 decisões judiciais sobreo tema, 71% delas de segunda instância. Na maioria dos casos, o Judiciário entende que a prática viola a Lei de Propriedade Intelectual. Os processos envolvem muito dinheiro. Uma grande varejista gasta em média 2% do seu faturamento com marketing.

As disputas em diversos setores, do turismo às redes, de fast food a  floriculturas vem de longe. Em 2014, o Groupon, extinto site de compras coletivas, processou o Hotel Urbano (hoje Hurb) no Tribunal de Justiça do Rio (TJ- RJ) porque a agência digital de viagens adquiriu a palavra “Groupon” na plataforma de links patrocinados do Google. Com isso, o primeiro resultado exibido a quem procurasse o termo era o site da Hurb.

Na primeira instância, o TJ-RJ concedeu tutela antecipada para que o Hurb interrompesse a compra do nome do concorrente. A empresa recorreu e, em 2018, os desembargadores ratificaram a sentença.

O tribunal entendeu que “a utilização do nome de marca concedida a empresa concorrente como palavra-chave (… ) caracteriza concorrência desleal, por permitir a atração indevida de clientela, com a confusão ao consumidor”. O Hurb foi condenado a pagar indenização de R$50 mil.

Procurado, o Hurb disse ter abolido a prática. E, inclusive, processa concorrentes  em casos em que sua marca é que foi comprada como palavra-chave. Diz já ter obtido decisões favoráveis. “A empresa está acompanhando e agindo na defesa de seus direitos nos processos atualmente em curso e segue à disposição para fornecer demais informações necessárias”, afirmou em nota.

Mesmo com a mudança de comportamento de algumas empresas, a prática continua. Em 2010, não havia nenhum processo sobre o tema. Em 2021, foram 133 questionamentos judiciais, um recorde.

O MaxMilhas, site de passagens aéreas, passou pelo problema várias vezes e decidiu reagir: processou a agência de viagens digitais eDestinos. Em 2020, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou que a agência deixasse de usar o nome “MaxMilhas” como palavra-chave de seus anúncios e pagasse uma indenização por danos morais, de RS20 mil. “Ao identificar prática de uso indevido de palavras-chave que possam confundir o consumidor da MaxMilhas em decisão de escolha, reconhecimento da marca ou mesmo trazer impactos financeiros, são realizados acompanhamentos e notificações em empresas para a imediata solução”, disse a empresa em nota.

Em 2021, uma briga envolvendo o nome do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, morto no ano passado. A Futon Company pediu que o TJ-SP impedisse a WestWing de usar seu nome como palavra-chave no Google. No processo, disse ainda que a WestWing associava o termo “cadeira paulistano”, projetada por Mendes da Rocha nos anos 1950 e comercializada apenas pela Futon, como palavra-chave em seu site. O tribunal entendeu em junho de 2021 que se tratava de ”uso parasitário dos nomes” e concedeu uma cautelar determinando que a WestWing cessasse a prática. O processo não teve ainda julgamento sobre o mérito do caso.

Em nota, a WestWing afirma nunca ter usado o termo “Futon Company’ ‘em sua estratégia de adwards no Google, apenas “futon’, o nome de uma categoria de estofados e não de marca própria. A empresa afirma ainda que usou o termo ”cadeira paulistano” em uma matéria sobre design em seu site, já retirada do ar, e nunca em sua estratégia digital. E ressalta que o processo ainda não tem decisão final.

Entre as plataformas de links patrocinados em sites de busca, o Google é o líder, seguido por Bing, da Microsoft, e Yahoo. A compra de palavras-chave funciona como um leilão. Quem adquire primeiro paga mais barato e, como em uma corrida de Uber, o preço sobe se há aumento da demanda pela mesma palavra.

No geral, se uma empresa A compra o nome da concorrente B como palavra-chave para busca, vai pagar mais caro por que não tem esse termo em seus sites. Mas o preço daquela palavra sobe também para a dona da marca. Deoclides Neto, presidente da Juit, que mapeou os processos do tema, diz que uma agência de viagens chegou a desembolsar R$ 80 mil a mais por mês sempre que uma concorrente comprava seu nome no Google Ads.

”Tribunais entendem maciçamente que a prática é um ato feito por empresas que visam a retirar clientela do concorrente. As indenizações têm variado de RS5 mil a R$ 200 mil. Há casos em que se consegue coibir a pratica no mesmo dia em que ocorre”, diz.

Os processos geralmente envolvem as duas empresas, mas podem incluir as plataformas que permitiram esse tipo de estratégia. Nesses casos, as big techs podem ser condenadas de maneira solidária a pagar indenizações. Quem recorre das sentenças perde em 78% dos casos, segundo a Juit.

GOOGLE: NÃO HÁ CONSENSO

O Google afirmou que não restringe o uso de marcas registradas como palavras-chave, “mas limita seu uso no texto do anúncio, o que é permitido apenas ao detentor da marca ”Ao exibir duas marcas lado a lado, como acontece em uma gôndola de supermercado (…), estamos garantindo que o consumidor tenha os elementos necessários para fazer uma escolha informada sobre o produto ou serviço que está buscando. Entendemos que se trata de uma prática comum e legítima de concorrência no mercado”, afirmou a empresa em nota. Para o Google, não há consenso jurídico: “O assunto está em franco debate nos tribunais brasileiros”.

EU ACHO …

QUEM SERÁ MODERNO HOJE?

Há cem anos, a ainda pacata vida cultural de São Paulo foi abalada pela Semana de Arte Moderna. Um grupo de intelectuais, vários deles ligados à Academia Paulista de Letras, usou o espaço do Teatro Municipal para indicar vanguardas e criticar modelos antigos, como a poesia Parnasiana.

Aqueles dias ,memoráveis viraram tópico de estudo. A Semana aparece nos vestibulares. Vários dos integrantes transformaram-se em “medalhões” da cena artística. A poeira baixou um pouco. Não sei se há uma pesquisa, no entanto, imagino que existam boas tribos citando “ora direis ouvir estrelas” de Bilac como há encantados com o ódio de Bandeira ao “lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo”. O volumoso rio da língua portuguesa admitiu igarapés variados.

Sou historiador e não literato. Tenho dúvida se modernos e parnasianos seriam inimigos ou faces distintas de uma mesma moeda. De um lado, uma cara arrojada e arlequinal; de outro, uma coroa de fraque e pince-nez – ambos fundidos do mesmo metal raro e algo elitista. Do ponto de vista da novidade, Carolina de Jesus é um terremoto social mais denso com seu Quarto de Despejo do que os debates de 1922. Se não quisermos entrar na delicada seara social-étnica, tenho a sensação de que, bem antes daquele fevereiro de 1922, O Guesa de Sousândrade tinha um potencial revolucionário certamente perturbador.

Volto ao tema: 1922, foi um ano agitado! Em fevereiro, São Paulo gritou ao mundo seu orgulho de vanguarda. Em março, fundava-se o Partido Comunista, em Niterói (RJ). No início de julho, os canhões do Forte de Copacabana anunciavam o começo do fim da República Velha. E, claro, Epitácio Pessoa passaria o poder ao famigerado Arthur Bernardes em meio às celebrações do centenário da Independência. Nos agitados meses de 1922, o mundo ainda veria o choro inicial de um futuro laureado do Nobel: José Saramago. Naquele ano, o prêmio foi para o espanhol Jacinto Benavente.

No mundo de 2022, quem seria moderno? A primeira e segunda geração de modernistas já viraram nomes de ruas, praças e bibliotecas. No atomismo atual, onde estaria a modernidade? Acho que o máximo da vanguarda modernista hoje é ler um livro inteiro sem consultar redes sociais durante a leitura. Quem faz isso está além de Macunaíma de Mário ou da pedra poética de Drummond. Ler e pensar já é ato de modernidade completamente fora do padrão e de imensa ousadia.

*** LEANDRO KARNAL

ESTAR BEM

IRRITAÇÃO, ESTRESSE OU DOENÇA: POR QUE O OLHO TREME?

Mioquimia da pálpebra geralmente não é sinal de nada sério e desaparece sozinha sem intervenção médica, dizem especialistas

Espasmos nas pálpebras, embora irritantes, “raramente são um sinal de algo sério”, disse Stephanie Erwin, optometrista do Instituto Cole Eye da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos. O tipo mais comum de tremor ocular é uma série de contrações musculares chamadas mioquimia palpebral, que produz contrações involuntárias e intermitentes da pálpebra, normalmente a inferior.

Apenas um olho é afetado por vez porque a contração se origina no músculo ao redor do olho, e não no nervo que controla o reflexo de piscar, que envia a mesma mensagem para ambos os olhos simultaneamente, acrescentou Erwin. Os espasmos podem durar de horas a dias e meses.

“Se a contração persistir por um longo período de tempo ou for acompanhada de sintomas adicionais, é uma boa ideia ser examinado por um oftalmologista para garantir que nada mais esteja acontecendo”, disse ela.

Se os espasmos se espalharem para outros músculos do rosto ou se você notar que os dois olhos estão se contraindo ao mesmo tempo, esses são indícios de um problema mais sério. Outros sinais de alerta incluem uma pálpebra caída ou um olho vermelho. Mas se apenas uma pálpebra está se contraindo, geralmente é um caso inofensivo (e muitas vezes exasperante) de mioquimia palpebral.

“Ninguém sabe exatamente por que (isso acontece)”, disse Alice Lorch, oftalmologista do Massachusetts Eye and Ear, em Boston. “Às vezes, decorre de uma pequena irritação, por exemplo, uma lente de contato esfregando na pálpebra.

HIDRATAÇÃO E DESCANSO

Não há solução rápida para a contração da pálpebra quando ela começa, disse Lorch. Mas colírios que lubrificam o olho podem ajudar. O ideal é escolher aqueles que não contenham conservantes, porque os conservantes químicos às vezes podem ser irritantes. Você também pode tentar massagear os olhos no chuveiro ou cobrir os olhos com um pano úmido e morno antes de dormir, acrescentou ela, o que ajudará a relaxar os músculos dos olhos e abrir as glândulas nas margens das pálpebras. Isso aumenta o fluxo de óleo nos olhos e retarda a evaporação da lágrima.

Outras medidas preventivas incluem descansar mais e reduzir o estresse.

“A contração é um sinal do seu corpo pedindo para você desacelerar”, disse Raj Maturi, porta-voz da Academia Americana de Oftalmologia.

Diminuir a ingestão de cafeína também pode ajudar a evitar espasmos nos olhos, porque grandes quantidades podem levar à tensão muscular – uma ou duas xícaras de café por dia é OK, disse Lorch. Também é importante manter-se hidratado e ter uma deta balanceada que inclua alimentos ricos em potássio (batatas, bananas e lentilhas são ótimas fontes),

magnésio (encontrado em vegetais de folhas verdes, grãos integrais, feijão, nozes e peixes) e cálcio (laticínios, sardinha, folhas verdes escuras ou cereais matinais fortificados), uma vez que desequilíbrios nesses minerais podem levar a espasmos.

TRATAMENTOS ALTERNATIVOS

Água tônica às vezes é apontada como remédio para espasmos nas pálpebras porque contém uma pequena quantidade de quinina, um medicamento usado off-label  para tratar cãibras noturnas nas pernas. Mas não há evidências científicas de que previna ou alivie a contração das pálpebras. Raramente, os oftalmologistas também usam Botox para interromper a contração injetando uma pequena quantidade no músculo orbicular que envolve as pálpebras, mas isso é feito “apenas em casos graves”, disse Erwin.

A mioquimia da pálpebra geralmente desaparece sozinha sem intervenção médica, disseram os especialistas. Para a maioria dos pacientes, é apenas uma questão de descansar, tomar medidas para reduzir o estresse, lubrificar o olho e esperar.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

NAS ONDAS DO CÉREBRO

Tratamentos que reorganizam a atividade elétrica dos neurônios ganham espaço e controlam com sucesso casos de depressão grave que não respondem aos medicamentos

Nossa, como são lindas as diferenças entre as cores! Agora consigo enxergar coisas belas no mundo. Antes, tudo o que via era feio. Mudaram as lentes dos meus olhos.” Em quatro frases, a americana Sarah, de 36 anos, resume o que é viver com e sem depressão, doença que atinge 300 milhões de pessoas no mundo, 16 milhões delas no Brasil. Sarah, que prefere não ter o sobrenome divulgado, é a primeira pessoa do planeta tratada com uma técnica capaz de fazer desaparecer sintomas graves pouco depois de aplicada. É quase como se a dor fosse arrancada com as mãos, como diz a expressão. Ela sai da mente por meio da modulação da atividade elétrica em partes do cérebro associadas à enfermidade. Melhor ainda, a beleza do método que beneficiou a americana não se restringe ao alívio imediato do sofrimento emocional. Ele foi desenhado para atuar de acordo com cada paciente. Isso porque, sabe-se hoje, assim como há peculiaridades biológicas que distinguem um paciente com câncer de outro, existem diferenças nos padrões elétricos cerebrais entre indivíduos com depressão.

O caminho para que a medicina chegasse à técnica tão eficaz e precisa é longo. Por milênios, a depressão devastou vidas humanas sem que fossem compreendidos os mecanismos físicos e ambientais envolvidos no seu desencadeamento. No conhecido tratado The Anatomy o fMelancholy, publicado em 1621, o autor, escritor e clérigo inglês Robert Burton define o que chama de estado de tristeza permanente como uma enfermidade inata ao ser humano. Burton acertou ao descrever algumas manifestações da doença, mas errou ao dizer que ela seria um atributo de nascença de homens e mulheres. A depressão, na verdade, é resultado de um conjunto de fatores que pode incluir predisposição genética, ambiente, momento de vida. Do ponto de vista fisiológico, é caracterizada pelo desequilíbrio na disponibilidade de substâncias responsáveis pela comunicação entre os neurônios e por alterações nos modelos de funcionamento elétrico do cérebro.

O nó químico que travava o sistema neurológico começou a ser resolvido quando o Prozac chegou ao mercado, em 1988, abrindo a porta para dezenas de outras medicações que reequilibram a concentração dos compostos cujo desbalanço contribui para a manifestação dos sintomas.

A estratégia para alinhar as ondas elétricas do cérebro começa a ser refinada agora – e o tratamento que tirou a americana Sarah do fundo de um poço que ela achava não ter saída é a representação do máximo a que chegou essa evolução até o momento. Existem três técnicas com essa finalidade. A primeira é a eletroconvulsoterapia, conhecida como eletrochoque. Bastante estigmatizada em razão de seu uso muitas vezes de forma cruel – em tortura, inclusive – o método ficou esquecido durante muito tempo, mas voltou a ser adotado em casos de depressão severa sem resposta aos remédios. Só que desta vez com anestesia obrigatória e devendo, sempre, ser realizada por serviços de psiquiatria reconhecidos e respeitados. Na década de 1980, surgiu outro recurso, a estimulação cerebral profunda. Trata-se do implante de eletrodos em áreas do cérebro associadas a doenças. Sua utilização mais conhecida é no tratamento da epilepsia, marcada pelo descompasso repentino dos impulsos elétricos. Em 2008, o Food and Drug Administration, agência americana responsável pela liberação de medicamentas e terapias, aprovou a utilização, contra a depressão, da terceira ferramenta. A estimulação magnética transcraniana (EMT) usa a força do campo magnético (emitido por bobinas posicionadas proximamente às regiões do cérebro que se quer tratar) para promover mudanças nos padrões elétricos. No Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, está sendo realizada uma pesquisa para avaliar seus benefícios no tratamento da depressão em idosos, faixa etária na qual é notificada a mais alta taxa de suicídio no Brasil. Segundo dados de 2019 do Ministério da Saúde, o índice entre eles é de 7,8 por 100.000 habitantes por ano, o triplo do registrado na população em geral, de 6,6 por 100.000 habitantes por ano. A eficácia da EMT gira em torno de 50% a 60%, segundo o psiquiatra Leandro Valiengo, coordenador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação do instituto. Há sessenta participantes, mas os médicos estão recrutando voluntários com mais de 60 anos porque desejam aumentar o número de participantes para 110 até 2023 (as inscrições podem ser feitas pelo e-mail pesquisa.neuropsiquiartia@gmail.com.)

Sarah, a paciente americana, sub­ meteu-se a um procedimento experimental que foi muito além em eficácia e precisão comparado aos três métodos. Como na estimulação cerebral profunda, ela passou pela implantação de eletrodo. A diferença, crucial, é que ela foi a primeira do mundo a ter os dispositivos colocados nos pontos que o seu cérebro precisava. “Sabemos que os padrões elétricos são distintos entre os pacientes”, disse a  psiquiatra Katherine Scangos, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, responsável pelo tratamento. “Criamos uma abordagem personalizada para Sarah.” O processo exigiu o mapeamento dos sinais elétricos trocados entre as células nervosas da paciente para identificar onde ocorriam as modificações elétricas sempre que ela tinha sintomas como pensamentos suicidas e a detecção de um lugar que, se estimulado, poderia mitigá-los. Feito isso, foram colocados dois eletrodos. O primeiro, na área onde a atividade elétrica se altera. O dispositivo monitora continuamente as ondas cerebrais, capta qualquer mudança e envia sinais para o segundo eletrodo de que há algo errado. Este imediatamente dispara impulsos elétricos, durante seis segundos, para restabelecer o ritmo adequado das ondas cerebrais. O mal é cortado pela raiz. A volta do equilíbrio nas transmissões elétricas simplesmente apaga pensamentos depressivos. De fato, o experimento é uma virada na forma de tratar a depressão grave resistente. “Ele aponta um paradigma desesperadamente necessário na psiquiatria”, diz Andrew Krystal, integrante do time de pesquisa. “Mostramos que a medicina personalizada tratou com sucesso uma paciente que havia tentado de tudo”, afirma. Sarah, de fato, fez inclusive eletroconvulsoterapia. Após o implante, ela experimentou emoções que havia esquecido, como a alegria de enxergar as cores do mundo. “Voltei a ter uma vida que vale apena ser vivida”, diz Sarah não tem sintomas há seis meses. Os médicos planejam reproduzir o resultado em pacientes que, como a americana até há pouco tempo, encontram-se presos na escuridão da depressão. Toda a sorte a eles.

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