MARCAS TENTAM FATURAR COM NFT ATÉ DE CALCINHA
Modernidade e aproximação do público jovem são atrativos para empresas ao lançar produtos digitais, diz especialista

Após o boom do e-commerce na pandemia, marcas de diferentes segmentos começam a apostar em um mercado ainda mais tecnológico: a venda de registros de produtos digitais na internet – ou NFTs, para os iniciados no metaverso.
Nívea, Nike e as brasileiras Pantys, de calcinhas absorventes, e Alpargatas, dona da Havaianas, são alguns dos conhecidos nomes do público que lançaram artes digitais nesse formato.
A Alpargatas foi uma das primeiras no Brasil, em maio. O primeiro leilão foi o do gif nomeado “Happy Feet”, arrematado por R$ 5.600. Parte do lucro foi revertida para doações.
Já a Nívea entrou no mercado em dezembro com uma arte chamada “The Value of Touch” (o valor do toque) na plataforma Polygon Scan.
Tokens não fungíveis, ou NFTs na sigla em inglês, criam assinaturas que permitem singularizar o que tornou banal e facilmente reproduzível na Internet. É assim que memes, tuítes e peças de arte que não existem fisicamente estão sendo comercializados por milhões de dólares em plataformas especializadas.
Para tal feito, é usada a mesma tecnologia das criptomoedas: o blockchain, uma espécie de sistema verificador de transações descentralizado e independente de bancos centrais. É possível compará-lo a um livro-caixa global que faz registros de informações – todas públicas, embora anônimas, já que cada usuário é identificado por meio de um código. Sua transação acontece em uma rede descentralizada de internet chamada ethereum (da criptomoeda ether).
O mercado é bilionário. Até 01/02, NFTs movimentaram quase US$20.876 bilhões, dos quais cerca de US$2.310 bilhões foram no ramo da arte, segundo dados da plataforma Non Fungible.
Uma vez comprado, é possível revender o NFT, mas não a obra, o que impossibilita o comprador de comercializar a arte em plataformas de música no mundo físico.
Diante disso, é comum perguntar-se para que, então, comprar o criptoativo. A resposta reside especialmente na revenda por ser insubstituível e exclusivo, a aposta é que esse registro se valorize no futuro.
Emily Ewell e sua sobrinha, Maria Eduarda Camargo, resolveram fazer a aposta. No dia 31/01, a Pantys, marca delas, lançou 33 artes entre fotos, vídeos e gif em NFT. São imagens ligadas ao universo em que atuam, de calcinhas absorventes para menstruação. Cada compra terá parte do seu lucro destinada a doações.
As peças são comercializadas em uma espécie de telão na plataforma OpenSea, e o valor mínimo é US$40,66 (RS215, 29), ou 0,015 ether.
Ewell, que é americana, foi visitar a família nos Estados Unidos em dezembro do ano passado e ficou surpresa com a popularidade do tema por lá. “Na Pantys a gente sempre olhou para conteúdo digital como se fosse um produto mesmo. Os clientes o consomem entre as compras e às vezes traz até mais valor no dia a dia do que comprar as calcinhas, que vão durar de dois a três anos.”
Dessa vez, explica, o conteúdo digital realmente teria um preço. E se alinha com parte do posicionamento da marca, que vende a ideia de modernidade, juventude, tecnologia. A comunidade feminina é menor”, diz Ewell.
Para o professor de finanças na ESPM, Alexandre Ripamonti, a entrada das marcas no metaverso é uma tendência para 2022. “Imagina que você sabe que vai dar sol. Você tem que estar preparado para ir para a praia”, diz.
Além da valorização do NFT, a marca também pode ter ganhos – ou perdas – se escolher preservar criptomoedas na transação.
Além de eventual valorização dos ativos, o especialista diz que o metaverso é mais um lugar para expandir a posição da marca. “Estar presente lá é estar presente em algo que vai ligar a sua marca à inovação, ao público jovem, ao mercado digital’, afirma.
Apesar de ser um universo aparentemente promissor, a cabeça do empresário que vai se aventurar pelos NFTs deve ser a de um investidor de altíssimo risco.
Há alguns meses especialistas vêm alertando para a formação de uma bolha no mercado de criptoativos. E a descentralização, seu trunfo, é também seu calcanhar de Aquiles: não órgãos regulatório para proteger o dinheiro do investidor.
Outro problema foi enfrentado pela Pantys: as críticas ao impacto ambiental dos NFTs, uma vez que a estrutura computacional exigida pela tecnologia demanda muita energia.

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