VOLTA ÀS AULAS
Saiba como agir na retomada de atividades das crianças em meio à alta de casos de Covid

A vacinação infantil avança a passos lentos no Brasil devido ao baixo número de doses disponíveis. Por outro lado, a nova variante Ômicron se espalha rapidamente, aumentando exponencialmente o número de brasileiros diagnosticadas com Covid-19. Soma-se a esse cenário o início do ano letivo, programado paro os próximos dias, e a retomada de atividades coletivas das crianças, como aulas extracurriculares, prática de esportes, aniversários de coleguinhas etc. A maior parte dos estados não vai exigir comprovante de imunização dos estudantes ou não fará disso um impeditivo para frequentar as aulas. Esse é o cenário perfeito para muitas dúvidas e preocupação de pais e responsáveis. Para ajudar a tornar esse momento mais tranquilo, esclareceremos as principais dúvidas para uma retomada mais segura.

CASO UM CONTATO ESTEJA INFECTADO
A recomendação é que crianças que tiveram contato próximo (na mesma sala de aula, por exemplo) com um colega que testou positivo para a doença façam quarentena, em casa, até a realização do teste. Em geral, recomenda-se que pessoas assintomáticas que tiveram contato com um caso confirmado esperem cinco dias antes de fazer o exame. Se o resultado for negativo, podem retomar às atividades.
“Se houver um positivo, o certo é testar todas as crianças daquela sala de aula, pois isso é considerado contato íntimo”, diz o infectologista e pediatra Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

CRIANÇAS COM SINTOMAS GRIPAIS
A recomendação é que toda pessoa, criança ou adulto, com um quadro de síndrome gripal, que inclui tosse, febre, coriza e dor de garganta, deve iniciar a quarentena até a realização do teste. Se o resultado for positivo, o isolamento deve ser mantido por sete dias após o início dos sintomas. Ou seja, a retomada das atividades é permitida a partir do oitavo dia, desde que os sintomas já tenham melhorado e não haja febre por dois dias.
“A recomendação é não ir para a escolas e estiver com sintomas, mesmo que sejam leves. Também é indicado avisar a escola e colegas”, orienta o geneticista pediatra Salmo Raskin.

E SE JÁ TIVER A PRIMEIRA DOSE?
Embora os estudos não tenham avaliado o grau de proteção em crianças após a primeira dose, há imunidade parcial. Ela começa 14 dias após a aplicação e vai aumentando.
“O sistema imunológico amadurece essa resposta e ela fica completa 14 dias após a segunda dose. A CoronaVac sustenta essa proteção parcial por quatro semanas e a Pfizer, por até oito semanas. Daí a possibilidade de alongar o intervalo entre as doses do imunizante da Pfizer em crianças”, diz Kfouri.
Raskin ressalta a importância de completar o ciclo vacinal, em especial agora com a Ômicron, que tem maior capacidade de driblar os imunizantes.

PFIZER OU CORONAVAC?
Os médicos afirmam que, como para os adultos, a melhor vacina é aquela que estiver disponível. Os médicos ressaltam que as duas vacinas são seguras, eficazes e atenderam os mesmos critérios de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um estudo realizado no Chile, onde os dois imunizantes foram usados em crianças, mostrou que a efetividade contra hospitalização é a mesma. Contra infecção sintomática, a proteção é semelhante.
Vale ressaltar que a Pfizer é a única aprovada para crianças de 5 anos e para meninos e meninas imunocomprometidos, como transplantados e aquelas que vivem com HIV.

A COBERTURA VACINAL IDEAL
Não há um percentual de cobertura vacinal – o total de pessoas imunizadas em um determinado grupo ou população – contra a Covid-19 definida para crianças, mas especialistas são unânimes em dizer que quanto maior, melhor. Isso vale para todas as vacinas e não seria diferente com a de Covid.
“A cobertura ideal está associada à efetividade da vacina e à infectividade da variante, presente no momento. Por exemplo, no início da pandemia, com a variante de Wuham, falava-se em 70% de cobertura vacinal. Agora, com uma cepa mais infectante e vacinas menos efetivas contra ela, consideramos 90%”, destaca Salmo Raskin.

MÁSCARA E CUIDADO PÓS-VACINAÇÃO
Kfouri explica que o que norteia as medidas de restrição, que incluem recomendações do uso de máscara e distanciamento social, não é o status de vacinação, e sim a taxa de transmissão, um índice que mostra quantas pessoas cada infectado é capaz de contagiar (acima de 1, o indicador mostra tendência de alta).
“Quando há alta transmissão, todos os cuidados devem ser incentivados, independentemente da vacinação. Nas épocas de baixa transmissibilidade pode haver maior relaxamento, como no fim do ano passado relembra o presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O BEABÁ DA VACINAÇÃO INFANTIL
A VACINA É SEGURA PARA CRIANÇAS?
Sim. Dados de estudos clínicos e de mundo real mostram que a imunização infantil é segura. O perfil de segurança do imunizante da Pfizer no teste em crianças foi semelhante ao observado em outras faixas etárias. Os efeitos colaterais mais comuns foram fadiga, dor de cabeça, dores musculares e calafrios. Não houve nenhum caso de Covid-19 grave entre os participantes, e nenhuma ocorrência de doenças cardíacas raras, como miocardite e pericardite. Registros de vários países mostram que o principal evento adverso após a vacina infantil é a dor no braço.
MEU FILHO ESTÁ COM SINTOMAS DE INFECÇÃO, COMO CORIZA E DOR DE GARGANTA. ELE PODE SER VACINADO?
Depende. Antes da vacinação é preciso descartar a possibilidade de a criança estar com Covid-19 ou gripe. Por isso, a recomendação é realizar o teste. Se o diagnóstico for positivo para uma delas, o recomendado é adiar a imunização até a recuperação completa para gripe. Se for Covid, o prazo é de 30 dias após o início dos sintomas. Por outro lado, se após a consulta médica ficar constatado que a criança tem apenas um resfriado, rinite ou algo com sintomas leves, a vacinação está liberada.
A VACINA PODE PROVOCAR MIOCARDITE?
A miocardite é uma rara inflamação cardíaca associada à vacina da Pfizer, é uma das principais preocupações dos pais. O risco existe, mas é muito baixo e não deve desencorajar a imunização. No estudo clínico, por exemplo, nenhum caso de problema cardíaco grave foi relatado. Os riscos de uma forma severa da Covid em não vacinados são considerados bem mais preocupantes.
POR QUE VACINAR SE CRIANÇA TEM COVID MAIS LEVE?
Embora o risco de crianças desenvolverem quadros graves e morrerem em decorrência da doença seja mais raro, o número total de óbitos pela doença nessa população supera a de qualquer outra doença imunoprevenível. De acordo com dados do Ministério da Saúde, são 2.500 brasileiros com idade inferior a 20 anos mortos por Covid-19 desde o começo da pandemia. Na faixa etária que pode se vacinar, de 5 a 11 anos, foram 324. Há ainda o risco da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIMP) e de sintomas de longo prazo.
O QUE ACONTECE SE A CRIANÇA FIZER 12 ANOS ENTRE AS DOSES?
A orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é que a criança termine o esquema de imunização com a mesma vacina recebida na primeira dose. Ou seja, mesmo já tendo completado 12 anos, a criança irá receber o imunizante pediátrico.
AS CRIANÇAS PODERÃO RECEBER A VACINA CONTRA COVID-19 NO MESMO DIA QUE OUTRAS VACINAS DO CALENDÁRIO INFANTIL?
Não. A Anvisa recomenda que haja, no mínimo, um intervalo de 15 dias entre a aplicação do imunizante contra a Covld-19 e as outras vacinas do calendário infantil. A precaução é necessária, pois ainda não existem dados sobre a aplicação simultânea de vacinas em crianças.
O IMUNIZANTE USADO NA APLICAÇÃO EM CRIANÇAS É O MESMO DOS ADULTOS?
Os imunizantes são os mesmos, porém os frascos e a diluição são diferentes. A vacina pediátrica contém um terço da dose para pessoas a partir de 12 anos. Para distingui-las, os frascos são laranja, enquanto o adulto é identificado pela cor roxa. Cada um abriga dez doses e pode ser guardada por dez semanas entre 2’C- e 8’C
HÁ ALGUMA CONTRAINDICAÇÃO?
Nenhuma. Apenas para as crianças que demonstrarem reação mais pronunciada depois da aplicação da primeira dose.
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