VOLTA DA LICENÇA É DESAFIO PARA REINSERIR MÃES NO MERCADO
Organizar processo seletivo exclusivo e valorizar habilidades desenvolvidas na maternidade são boas práticas de inclusão

Quando se olha para a participação das mulheres no mercado de trabalho, um dos grandes funis é o da maternidade.
Ao lado das obrigações profissionais, surgem jornadas, muitas vezes triplas, em que elas precisam dar conta dos filhos e do cuidado com a casa e a família. A pandemia deixou isso ainda mais explícito: sofreram e sofrem as que não puderam trabalhar de casa, enquanto as escolas e demais atividades recuaram, e, também, aquelas que fazem parte de menos de 10% da população que, segundo a Pnad Covid-19, ficaram em home office.
A pandemia fez com que o índice de participação de mulheres no mercado de trabalho atingisse o ponto mais baixo em 30 anos, considerando aquelas acima de 14 anos que trabalham ou procuram emprego. No último trimestre de 2020, o número ficou em 45,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as mães com crianças de até dez anos de idade em casa, houve recuo de 7,7% na atuação profissional.
Antes da covid-19, a situação já não era satisfatória. De acordo com uma pesquisa realizada pela plataforma de empregabilidade Catho, com 2,3 mil pessoas em 2018, 30% das mulheres deixam o mercado de trabalho para cuidar dos filhos. Já entre os homens, o índice é de apenas 7%.
Após observar que muitas mães iam para o empreendedorismo por não conseguir uma vaga no mercado de trabalho, Daniela Scalco, que tem dois filhos, criou, em 2019, a ParentslN, startup que conecta mães, pais e cuidadores a empresas. Em uma plataforma, as mulheres podem colocar seus currículos, e as empresas selecionam candidatas. Além disso, a startup faz workshops de cultura inclusiva nas organizações para identificar soluções de baixo custo.
No fim do ano passado, a Ambev Tech (hub de tecnologia da Ambev) fez seleções em parceria com a ParentsIN para recrutar duas mães para ocuparem cargos de negócios. Segundo a recrutadora de tecnologia da empresa, Letícia Schmidt, o projeto ajudou a organização a avançar em uma de suas metas ,a de ter mais mulheres em posições de liderança.
Uma das contatadas foi Élida Lisboa, agora Agile Master na Ambev Tech. Após tirar a licença-maternidade onde trabalhava, ela percebeu que não teria como voltar à rotina com os cuidados da filha, hoje com cinco anos, e se demitiu. “Foram dois anos bem intensos de cuidados e de total dedicação à educação e à maternidade que não foram fáceis. Horas de angústia, alegria, crise. E, mais uma vez, o receio em relação ao mercado de trabalho”, conta.
Após muitas candidaturas, Élida foi contratada em outra empresa. Apesar de bem recepcionada, diz que a maternidade não era fator determinante no ambiente de trabalho. “Foi isso justamente que pesou para mim, porque acabei me distanciando da minha filha, mas não daquela preocupação integral em relação a como ela estava, o que estava sentindo, se escava sendo bem cuidada.”
Élida defende que as empresas precisam se preparar melhor para a volta das mães ao mercado, adotando horários mais flexíveis para que elas e os filhos atravessem o desmame de forma mais leve. Durante o processo da Ambev Tech, ao ter de fazer uma apresentação quando a filha estava doente, preferiu não remarcá-la e compareceu com a criança no colo. “Eu achei que fui mal, estava meio desanimada, mas me ligaram falando que eu tinha passado. Foi incrível!”
MENTORIA.
Outro projeto é o Mãellennials, com foco em consultoria para organizações e na empregabilidade de profissionais de tecnologia e comunicação. A iniciativa é fruto da experiência pessoal da fundadora Paula Sousa, que pediu demissão após o nascimento da filha.
Até 4 de fevereiro, a organização recebe inscrições para mães que querem mentoria e mulheres líderes no mercado que possam mentorá-las por um trimestre. Para se candidatar a mentora, é preciso ter experiência com gestão de pessoas e disponibilidade semanal ou quinzenal para reuniões. As inscrições são online: para madrinhas em https:/{lnkd.in/dGmUuak8 e para mentoradas em https: //bit.ly/3Kw\VrNq.

BOAS PRÁTICAS
PARA EMPRESAS
*** Criar ambiente para que mães e pais se sintam à vontade na organização
*** Entender as configurações familiares: as famílias não são iguais e, por isso, têm necessidades diferentes
*** Rever benefícios (estilo atingindo os objetivos?)
*** Oferecer maior flexibilidade de horários, além da possibilidade de trabalho remoto ou híbrido
PARA MÃES
*** Listar o que você aprendeu desde que ficou grávida
*** Pensar em como esses novos conhecimentos podem ajudar na carreira
*** Atualizar seu currículo e perfil no LinkedIn: nesta rede, quando for adicionar um novo cargo, é possível selecionar a opção ‘autônomo’ na área ‘tipo de emprego’ (assim, não será obrigatório listar uma empresa) e descrever o período da licença e o que aprendeu com ela
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