ROUPA FEMININA TERÁ DE RESPEITAR BIÓTIPOS ‘RETÂNGULO’ E ‘COIHER’
Após quase dez anos de discussões, ABNT define tabela referencial com base no formato do corpo das brasileiras

Entrar em um provador pode ser uma experiência constrangedora para uma parte importante da população feminina no Brasil. Ter de pedir o tamanho GG quando você tem o quadril muito largo, ou o manequim 34 quando tem baixa estatura costuma ser acompanhado de comentários por parte do vendedor ou olhares curiosos de quem está por perto na loja.
Se depender da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), esse problema deve deixar de existir. A entidade acaba de aprovar a NBR16933, norma que visa padronizar tamanhos e medidas do roupas femininas no país.
“ANBR16933 institui a centimetragem na etiqueta das roupas”, diz Maria Adelina Pereira, gestora do Comitê Brasileiro de Normatização de Têxteis e do Vestuário da ABNT. “Não interessa se, para determinada marca, um tamanho de calça é 44, e, para outra, é 50: se a consumidora sabe quanto mede o seu quadril, isso deve ser o suficiente para que ela encontre a peça que precisa”, afirma.
A iniciativa era aguardada com ansiedade pelas confecções e modelistas. Conforme mostramos em post no dia 17/11 ,desde 2012, o Brasil está no limbo quando se trata de medidas para definir o tamanho das roupas das mulheres. O comitê da ABNT escolheu 2 dos 5 principais biótipos femininos no Brasil para basear a norma referencial. São eles: “retângulo” e “colher”, identificados na pesquisa antropométrica da população brasileira, a Size BR, conduzida entre 2006 e 2015 pelo Senai – Cetiqt (Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Serviço Nacional da Indústria).
No Brasil, 76% das mulheres têm o biótipo “retângulo”: quando as circunferências do tórax e do quadril são aproximadamente iguais, com uma linha de cintura pouco marcada. O outro biótipo escolhido foi o da “colher”: quando o quadril é maior que o tórax e sua lateral é marcada e arredondada – é a que mais se assemelha ao popular “violão”, embora o biótipo represente apenas 8% das brasileiras.
A NBR16933 determina dimensões em centímetros para cada biótipo, levando em conta perímetro da cabeça, pescoço, ombros, busto, cintura, quadril, costas, coxa, joelho, panturrilha e tornozelo.
Ao longo dos anos, cada rede ou confecção procurou criar referências próprias de tamanhos. Recentemente, por exemplo, a Renner investiu em tecnologia 3D para aperfeiçoar o processo de modelagem, com o desenvolvimento de 14 manequins físicos projetados a partir do escaneamento de corpos reais. O Brasil não conta com medidas oficiais de vestuário feminino desde 2012.
Naquele ano, foi revogada a norma anterior, de 1995, a NBR 13377, que tratava de maneira genérica de medidas referenciais do corpo humano. Em 2009, foi criada a NBR 15800, com medidas infantis, e em 2012 foi lançada a 16060, de medidas referenciais masculinas.
Participam do grupo grandes redes varejistas, confecções que fornecem às grandes redes, instituições de ensino de moda, modelistas, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e o Senai-Cetiqt.
Muitas varejistas vinham se recusando a abrir mão dos seus padrões para adotar uma referência nacional. Daí a demora de quase dez anos na discussão de uma tabela referencial para o vestuário feminino.
“Mas, com a pandemia, as grandes redes tiveram de adaptar a sua operação para a venda online de vestuário e, com isso, passaram a exibir detalhamento das medidas, que ajudou no processo para conclusão da norma”, diz Maria Adelina.
Os demais biótipos identificados na pesquisa do Senai – Cetiqt são o “triângulo” (quadril é bem maior que o tórax, sem uma cintura marcada), o “triângulo invertido” (quando a circunferência do tórax é maior que a do quadril e a mulher não tem uma cintura marcada) e a “ampulheta” (a mulher aparenta ser proporcional no tórax e no quadril e tem uma cintura bem marcada). Estes biótipos representam, respectivamente, 8%, 5% e 3% da população feminina no Brasil.
“Agora, os magazines se preparam para iniciativas que ajudem as consumidoras a conhecer melhor suas medidas, como espelho medidor ou a medição por foto, para facilitar a compra e impedir que a prova da roupa se tome um momento de provação”, afirma Maria Adelina

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