OUTROS OLHARES

OS CANDIDATOS A SER A ‘NOVA NICOTINA’

Um debate que começa a esquentar no Brasil é sobre quais produtos devem virar alvo dos impostos do pecado fazendo companhia a cigarros e bebidas alcoólicas. Por motivos óbvios, um dos preferidos dos especialistas são as bebidas açucaradas

Atire a primeira pedra quem nunca caiu ou cai em tentação. São aquelas situações em que, mesmo sabendo que uma ação no presente poderá provocar problemas no futuro, a gratificação imediata fala mais alto. E lá sevai mais um maço de cigarros, um pote de sorvete numa sentada ou alguns drinques para aliviar o estresse. Há também o peso da preguiça. E, de repente, fazemos aquela saída de carro para rodar apenas dois quarteirões, a falta de paciência para separar o lixo reciclável ou levar sacolas reutilizadas para carregar as compras. A lista pode ser bem longa.

Governos de todas as partes do mundo descobriram há muito tempo que podem dar um empurrão para incentivar comportamentos mais saudáveis e mais voltados para o bem comum aumentando tributos. O caso clássico é o do cigarro, com vários exemplos documentados. No Brasil, entre 2006 e 2013, o preço subiu 116%, e as vendas caíram 32%.

Essas medidas costumam funcionar por dois motivos. Primeiro porque a elevação do valor pesa no bolso, principalmente para os mais pobres e jovens. Segundo porque são “educativas”, ao sinalizar desaprovação da sociedade como um todo.

NA MIRA

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 110, em tramitação no Senado, tem muita coisa técnica, mas há, pelo menos um ponto de amplo entendimento: propõe uma discussão nacional sobre quais produtos, que podem afetar a saúde e o meio ambiente, devem ter uma tributação mais elevada, na toada dos “impostos do pecado”. As bebidas açucaradas aparecem no topo da lista dos candidatos a alvo da vez.

De acordo com levantamento do The Global Food Research Program, ligado à. Universidade da Carolina do Norte em Chapei Hill, nos Estados Unidos, por volta de 50 nações já adotaram medidas nesse sentido, sendo que 25 delas aplicam essas ações desde 2017.

Tome o exemplo do Chile. Após a implementação de um pacote de políticas públicas em 2014 – que incluíram aumento de tributos sobre bebidas açucaradas (em 5%), a adoção de uma lei sobre rotulagem de alimentos e de restrição à publicidade -, os chilenos passaram a comprar menos refrigerantes e bebidas de fruta industrializadas com grande quantidade de açúcar. Foi o que mostrou um estudo feito em 2016, que reuniu cientistas do Instituto de Nutrição e Tecnologia de Alimentos da Universidade do Chile, ente outras entidades.

No México, três anos após a adoção da taxa, também houve queda na venda de refrigerantes. Uma pesquisa que avaliou a recorrência do consumo mostrou que o grupo que não consumia esse tipo de bebida passou de 7% da população antes do imposto, para 13.6% depois da taxa.

HORA CERTA

Na cidade da Filadélfia, nos EIJA, a régua passou entre os adolescentes. Após a implementação do Imposto das bebidas açucaradas, o consumo de refrigerantes por semana caiu 27,7% entre os mais jovens. A mudança de hábitos nesta faixa etária é especialmente importante, explicam os médicos, porque a obesidade nessa época tende a aumentar as chances de uma condição de saúde bem parecida na vida adulta.

“É comum que esses impostos tenham maior impacto sobre os grupos que mais consomem bebidas açucaradas. Nos Estados Unidos, por exemplo, são os adolescentes. Além disso, os impostos também têm um resultado maior sobre os grupos que são mais sensíveis aos aumentos de preços”, afirma Anna Grummon, pesquisadora da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard.

Apesar dos resultados conhecidos – a maioria deles dedicados a avaliar a redução do consumo desses produtos – , ainda é difícil mensurar o efeito na queda de casos de diabetes e de mortes em decorrência de complicações de saúde. É o que explica a pesquisadora do The Global Food Research Program, Shu Wen Ng.

“Vamos levar um tempo até observar os resultados de saúde dessas políticas. A epidemia de obesidade não aconteceu do dia para a noite, foram décadas acumulando mudanças na cadeia de alimentação e distribuição para chegar até aqui. Como podemos esperar que uma única política seja capaz de resolver isso? – pergunta a pesquisadora, que defende uma “harmonização” de outras medidas para, de fato, impactar a obesidade em massa e outras doenças.

Especialistas brasileiros, por sua vez, apoiam amplamente a medida de taxar as bebidas açucaradas. Em setembro, quase duas dezenas de entidades de saúde do país, incluindo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), defenderam, em um posicionamento conjunto, a taxação extra desses refrescos açucarados no país.

A taxa do imposto proposta pelos especialistas está de acordo com o que sugere a organização  Mundial  de Saúde (OMS), de ao menos 20%. Cintia Cercato, presidente da Abeso e uma das médicas que assinam o documento, faz coro à ideia de que a medida deve estar unida a outras estratégias de proteção à saúde, como a proibição da publicidade de alimentos ultra processados e bebidas para o público infantil.

RISCOS ENVOLVIDOS

Eduardo Leão, diretor executivo da Unica, associação que representa a agroindústria canavieira no Brasil, diz que medidas como essas elevam o risco de que o consumo migre para produtos alternativos. O perigo existe mesmo, argumentam especialistas, e as autoridades devem ficar atentas à necessidade de também aumentar os impostos que incidem sobre esses produtos.

As escolhas, lembra Paulo Henrique Pêgas, professor de contabilidade tributária do Ibmec, no Rio, devem se apoiar em avaliações técnicas.

“O que o congresso está fazendo não é ruim, tanto do ponto de vista tributário como de saúde. Mas a forma apressada de criar esse imposto não é ideal”, diz.

Outro ponto que merece atenção é a eficácia. Não é porque o aumento dos impostos para o cigarro tiveram efeito que o mesmo vai acontecer com todos os produtos. Há experiências infrutíferas pelo mundo.

A Dinamarca decidiu taxar, em 2011, produtos que continham gordura saturada. Subiu em quase 5% a tributação na manteiga e no sorvete. Um ano depois, a medida foi revogada.

O imposto sobre a gordura não diminuiu de forma significativa o consumo porque a demanda foi considerada inelástica. Ou seja, mesmo com preços mais altos, os dinamarqueses continuaram com grande apetite por esses itens.

Há casos em que a medida funciona e isso causa uma enorme gritaria. O governo britânico introduziu em 2018 impostos sobre sacolas plásticas. Um estudo publicado em 2020 mostrou uma queda ao número dessas sacolas, encontradas nas regiões costeiras. O excesso de impostos, porém, gerou uma saraivada de críticas.

Irlanda e Austrália adotaram iniciativas semelhantes. No Brasil, prefeituras tentaram seguir o mesmo caminho, mas nem sempre com um final feliz para o meio ambiente.  Diante da  gritaria, muitas voltaram atrás.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 29 DE NOVEMBRO

O VIOLENTO DESTRÓI A SI MESMO

A violência dos perversos os arrebata, porque recusam praticar a justiça (Provérbios 21.7).

A violência é uma flecha venenosa que se volta contra a própria pessoa que a lança. Aquele que fere o próximo destrói a si mesmo. O mal praticado contra os outros retorna contra o próprio malfeitor. Os maus são destruídos pela sua própria violência porque se negam a fazer o que é direito. A violência dos ímpios os arrastará, pois eles se recusam a agir corretamente. Quem à espada fere à espada será ferido. Quem planta violência colhe violência. Quem semeia guerra ceifa contendas. O perverso é aquele que maquina o mal em seu leito e se levanta para praticá-lo. Sua vida é uma torrente de maldade, uma espécie de avalanche que desce com fúria, arrastando tudo à sua volta e causando grande destruição. O perverso, porém, não fica impune nem sai ileso desse caudal de violência. Todo o mal concebido pelo perverso e praticado contra o próximo cai sobre sua própria cabeça. O perverso não escuta conselhos nem emenda sua vida. Contumaz no seu erro, é um indivíduo cuja cerviz jamais se dobra. O perverso se recusa a praticar a justiça, pois está acostumado a fazer o mal. Toda a inclinação do seu coração é para desviar-se de Deus e atentar contra a vida do próximo. A violência que mora no seu coração, entretanto, recai sobre sua própria cabeça.

GESTÃO E CARREIRA

POR DENTRO DAS PROFISSÕES – REGENTE DE CORAIS

Sim, é uma profissão de nicho, e sem um mercado de trabalho propriamente dito. Justamente por isso, o regente de corais não é apenas um artista. É um empreendedor, que precisa idealizar projetos e oferecê-los a empresas e programas sociais.

Quando olhou para as fotos nas paredes daquele camarim estrangeiro, Vladimir Silva, presidente da Nova Associação Brasileira de Regentes de Coros (Nova ABRC­ -Abraco), começou a chorar. Eram imagens de alguns dos maiores maestros do século 20 – Arturo Toscanini, Leonard Bernstein… -, presenças que foram frequentes naquela sala de concertos: o Carnegie Hall, em Nova York.

Por lá passaram estrelas da música erudita, mas também da popular, como Frank Sinatra e os Beatles. No mesmo cômodo onde esses astros fizeram seus rituais de concentração e contaram piadas para aliviar a ansiedade, em 2017 estava Vladimir, que levou seu coro paraibano de Campina Grande para cantar a Missa de AIcaçuz – composição original, brasileira. Ao todo, regeu 80 cantores naquele templo da música. Uma experiência para contar aos netos. Ser o protagonista em alguns dos palcos mais tradicionais do planeta é, naturalmente, um Olimpo para poucos. O mais normal na profissão de regente de corais é acumular trabalhos, que tanto pode ser o de comandar diversos grupos de coro quanto o de dar aula de música – geralmente os dois. Por isso, o profissional não pode se esconder de algumas competências que vão além da boa técnica de regência: dominar um vasto conhecimento musical (familiaridade com múltiplos gêneros aumenta seu mercado) e ter desenvoltura em áreas raramente associadas ao dia a dia do músico, como gestão e empreendedorismo. A vastidão desse conhecimento justifica a importância de uma graduação. Para ser regente, você não precisa de diploma. Mas a faculdade vai lhe proporcionar multiplicidade de repertório, técnicas específicas de regência… Muita coisa que você poderia conseguir em cursos livres, mas na graduação esse conhecimento é condensado –  e direcionado para a profissão. E é lá que você fará contatos imprescindíveis para conseguir trabalho no futuro. A Unesp se destaca entre as instituições de Ensino Superior no campo musical e oferece um “bacharelado em música com habilitação em regência coral”.

O mercado de trabalho é exíguo, claro. Para dar uma ideia: em São Paulo, onde há uma galáxia de corais em comparação com cidades médias e pequenas, só três são profissionais (nos quais tanto o regente quanto os cantores ganham um salário fixo): o Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), o Coro Lírico Municipal e o Coral Paulistano Mário de Andrade.

No meio-termo entre esses e o coral de amigos da escola, há semiprofissionais, conjuntos bancados pelo governo e uma profusão de grupos amadores. É aí que o dinheiro está mais à mão. “Quando falo da experiência que tive no Carnegie Hall para meus alunos, deixo claro que a realidade que eles vão encontrar é bem diferente”, alerta Vladimir Silva. “Você vai trabalhar com coro de igreja, de programa social…”

Outro caminho é montar projetos e oferecer para empresas. Votorantim, grandes bancos, seguradoras… muitas têm ou já tiveram grupos corais para promover ações de qualidade de vida aos funcionários, mas também para estimular uma atividade que envolve trabalho em equipe e que aumenta o senso de pertencimento do colaborador.

Ou seja: para potencializar sua carreira, o regente tem de encontrar a harmonia perfeita entre o lado artista e o lado executivo. Precisa ter habilidades de gestão, porque administrar um grupo heterogêneo de pessoas demanda uma capacidade enorme de fazer acontecer. E deve saber prospectar: convencer empresas, órgãos de governo e os próprios cantores a pagar por seu trabalho. O maestro Ricardo Carvalho, de São Paulo, que se especializou em regência de corais, iniciou a carreira nessa área graças a um desses projetos para grandes companhias.

REGENDO PARA O GOVERNO DE SP

Aluno de Naomi Munakata, a maestrina titular do Coral Paulistano – e uma das primeiras artistas renomadas a morrer de Covid no Brasil -, Ricardo começou a ganhar dinheiro como regente assistente num coro do Itaú. Um assistente pode, por exemplo, preparar as vozes só do naipe feminino, para que o regente principal já pegue o grupo todo mais sintonizado.

“A gente tem uma visão do maestro lá na frente balançando o braço, mas a maior parte do trabalho é anterior a isso. É garantir que as pessoas estejam entregando suas partes corretamente, fazer os ajustes necessários nas vozes e criar um filtro de interpretação”, explica Ricardo. Depois da experiência no banco, o maestro passou dois anos como assistente de um coral da farmacêutica Roche.

Apesar do currículo no mundo corporativo, sua primeira vez como regente principal foi para uma casa de shows. O finado The Clock, em São Paulo, era especializado em rock dos anos 1950, e o proprietário contratou o maestro para montar um grupo que cantasse doowop, técnica vocal baseada no rhythm and blues. Nesse mesmo período, Carvalho virou regente de um coral feminino de música sacra e de outro, mais eclético, de terceira idade.

Mas seu salto na carreira veio mesmo quando se candidatou a dar aulas de canto coral no Projeto Guri, do governo de São Paulo (no concurso, ficou em primeiro lugar). Eram os idos de 2010, e isso lhe rendeu um emprego de fato. Lá dentro foi regente de 16 corais de menores carentes e chegou a ter 700 alunos ao mesmo tempo. “Na época, a Lu Alckmin, então primeira-dama do Estado, era a patrona de um dos polos onde o Guri atuava, então sempre ia assistir nossas apresentações, o que chamava imprensa, e meu trabalho acabava tendo repercussão.”

PANDEMIA DESAFINOU O NEGÓCIO

Ricardo sempre conciliou suas atividades de regente com as de professor: além de canto, ensina piano, baixo, teoria musical e prepara alunos para vestibular de música. Mas, até o começo da pandemia, a regência era mesmo seu principal ofício. Mantinha o grupo de terceira idade, regia o coral da Geap Saúde – plano de assistência médica de servidores públicos – e outro da AGU, em sua sede paulistana. Sim, os funcionários da Advocacia Geral da União também cantam em conjunto.

O coronavírus, no entanto, foi um meteoro na terra dos regentes. Primeiro porque a máscara é incompatível com o canto – atrapalha o controle da respiração que é essencial para soltar a voz. E, diferente das aulas individuais de instrumentos ou mesmo de canto, o coro não funciona no Zoom. E não adianta tentar: há um delay entre uma conexão e outra, e aí fica impossível ter a sincronia da qual o coral depende. Segundo Vladimir Silva, da associação de regentes, muitos profissionais tiveram de recorrer ao auxílio emergencial por falta de trabalho – a expectativa é de que as atividades sejam retomadas com o avanço da vacinação.

Para Ricardo, graças a um bom networking, não foi o fim do mundo. O que perdeu nos corais, ele aumentou nas aulas particulares online. Ah, e ainda conseguiu manter um dos coros. Justamente o da terceira idade.

Trata-se do Piacere, um grupo organizado por Elisa Campos, professora livre docente do Departamento de Psicologia Clínica da USP. O conjunto é amador (só os regentes são pagos), mas o esquema é profissional. Eles têm uma organização que faria inveja a muita empresa, planejam o repertório do ano e negociam para conseguir locais atraentes para se apresentar.

Assim, já cantaram no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (Mube) e na Catedral da Sé.

Agora, por videoconferência, se dedicam ao que é possível: estudar as peças e cantar individualmente para as orientações do regente. O lado positivo é que estão há um ano e meio montando repertório. A volta promete ser triunfal. Ricardo Carvalho está certo disso. “Tem sido uma das experiências emocionantes que reafirmam minha convicção de ter escolhido a profissão certa.”

UM DIA NA VIDA

ATIVIDADES-CHAVE

Ensaiar grupos de cantores ao longo de períodos que podem se estender por até um ano, geralmente visando a uma apresentação ao vivo. Montar projetos de canto coral para empresas ou governos. Organizar as apresentações. Reger o grupo diante do público.

PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS

Ter um vasto conhecimento musical, excelência em técnicas de regência, facilidade de lidar com pessoas, habilidades de gestão, empreendedorismo e liderança. O regente é o CEO do coro.

O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA

Estudar música, e especializar em regência. Fazer networking (músicos amigos podem indicá-lo para grupos). E de novo: criar projetos para oferecer a empresas, órgãos de governo, igrejas e outros grupo, amadores.

PONTOS POSITIVOS

Uma sessão de ensaio costuma durar entre uma e duas horas, então você pode encaixar diversos grupos na sua agenda, aumentando o faturamento. O horário é flexível.

PONTOS NEGATIVOS

Você tem de ir atrás. Não há um mercado de trabalho com vagas a serem preenchidas. Iniciantes, com pouco networking, penam até conseguir fazer dinheiro com regência.

QIEM CONTRATA

Há pouquíssimos grupos profissionais no Brasil. Mas o trabalho pode ser feito para grandes companhias; governos, faculdades e principalmente grupos amadores.

SALÁRIO MÉDIO**

R$ 100 A R$ 250 POR HORA

**Fonte: Nova ABRC- Abraco

EU ACHO …

FARTO DE NÃO OLHAR PARA A SUA CARA

Parte da comunicação depende dos movimentos que a boca faz

Eu já devia ter desconfiado, porque tenho tido bastante dificuldade em entender as pessoas. Desde que a pandemia começou, passei a ter consciência de que parte da comunicação depende do som das palavras massa outra parte se deve aos movimentos que a boca faz, e a máscara impede que eu os veja.

Às vezes, quando o meu interlocutor se encontra num balcão de atendimento, atrás de um vidro, tenho de fazer suposições, muitos vezes tragicamente erradas, sobre o que está a ser dito.

Do ponto de vista da higiene, está tudo ótimo: o vidro e a máscara, em princípio, impedem ao transmissão de qualquer vírus. Infelizmente, impedem também a transmissão de mensagens. O resultado é uma conversa de bobos. Somos bobos muito saudáveis, mas não há dúvida de que somos bobos. Eu, pelo menos, sou.

Por isso, foi sem surpresa que li os estudos sobre a dificuldade que as crianças do ensino  pré-escolar estão tendo para aprender português. Na verdade, elas não estão aprendendo português, estão adivinhando português.

Como é evidente, tudo tem as suas vantagens. Em princípio – pelo menos, assim o espero -os alunos mais velhos estarão a aproveitar a oportunidade de terem máscaras a cobrir parte da cara para fazer barulhinhos irritantes que exasperam o professor, incapacitado de localizar os idiotas responsáveis pelo ruído. No meu tempo, era muito mais difícil e arriscado perturbar o normal funcionamento de uma aula. Espero que estes jovens tenham ao menos consciência da sorte que têm.

Claro que o professor também é apenas um par de olhos, pelo que é mais difícil perceber o momento em que ele fica verdadeiramente enfurecido, mas é melhor do que nada.

No entanto, este fenômeno, juntamente com a experiência do ensino a distância, que se revelou incomparavelmente pior do que o ensino presencial, indica que nós, enquanto espécie, temos absoluta necessidade de estarmos juntos e de olharmos para a cara uns dos outros. Quem diria. Imagino que se estejam a criar novos desabafos idiomáticos tais como: já estou farto de não olhar para a sua cara. Ainda bem.

*** RICARDO ARAÚJO PEREIRA – Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É editor de ‘Boca do Inferno’.

ESTAR BEM

FAZER EXERCÍCIO AERÓBICO E DE FORÇA PODE REDUZIR MORTALIDADE PELO CÂNCER

Estudo indica que atividades como prancha, agachamento e remada diminuem em 14% a mortalidade pela doença

A prática regular de exercícios de força muscular associados a atividades aeróbicas pode reduzir significativamente a mortalidade por câncer, indica estudo publicado no lnternational Journal of Behavioral Nutritionand Physical Activity. Os autores fizeram uma revisão sistemática de estudos epidemiológicos sobre o tema e concluíram que fazer exercícios como prancha, agachamento e remada diminui em14% a mortalidade pela doença. Já quando esses exercícios são combinados com outros do tipo aeróbico, o benefício é ainda maior: 28% menos mortes.

“A atividade física tem sido relacionada à redução do risco de vários tipos de câncer. No entanto, ainda não estava muito claro qual tipo de exercício teria melhor resultado. Neste estudo, encontramos evidências de que atividades de fortalecimento muscular não só podem reduzir a incidência e a mortalidade por câncer como têm um efeito ainda melhor quando associadas a atividades aeróbicas, como corrida. caminhada, natação ou ciclismo”, diz Leandro Rezende, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM ­ Unifesp).

O trabalho é fruto de uma Bolsa de Iniciação científica concedida a Wilson Nascimento e contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade Harvard (Estados Unidos), Universidade Internacional de Valência (Espanha), Universidade Pública de Navarra (Espanha) e Universidade de Santiago (Chile).

Estudos epidemiológicos baseados em dados populacionais têm mostrado que a atividade física em geral reduz o risco de sete tipos de câncer: mama, cólon, endométrio, estômago, esôfago, rim e bexiga. A análise da Unifesp identificou que a prática de exercício de força muscular também pode reduzir em 2.6% o risco de câncer de rim. Já a associação entre exercício de força muscular e os demais tipos de câncer  (cólon, próstata, pulmão, linfoma, pâncreas, mieloma múltiplo, bexiga, esôfago, reto, melanoma, leucemia e do sistema digestivo) foi inconclusiva, por causado número limitado de estudos.

A pesquisa da Unifesp corrobora a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que propõe para adultos a prática de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana, ou de 75 a 150 minutos de atividade física aeróbica vigorosa (ou uma combinação equivalente de intensidades). Também são recomendados exercícios de fortalecimento duas vezes por semana. “A OMS se baseia em benefícios proporcionados pela atividade física. E nós vimos que a redução do risco de câncer é mais um benefício”, diz Rezende à Agência Fapesp. A análise mostrou a existência de um efeito protetor contra o câncer por meio da realização de exercícios de força duas vezes por semana.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

BARBUDOS E GRÁVIDOS

Em um mundo mais aberto à diversidade, homens trans engravidam e dão à luz, cravando na sociedade a marca de um novo e surpreendente arranjo familiar

Fruto de uma gestação muito desejada, Alex veio ao mundo com 3,5 quilos e 49 centímetros em uma maternidade carioca. O parto foi acompanhado por uma doula e a cesariana ocorreu sem intercorrências, ao som da música Anunciação, de Alceu Valença. A chegada da bebê Alex, hoje com 6 meses, não chamaria atenção entre os 2,6 milhões de nascimentos que ocorrem por ano no país, não fosse por um detalhe: o pai, Cleyton Cruz Bitencourt, 26 anos, foi quem a gestou e deu à luz. Não se trata de algum avanço extraordinário da ciência ou milagre da natureza, mas de uma reviravolta nos costumes e na composição da sociedade: com barba, voz grave e feições masculinas, Bitencourt é um homem trans que nasceu biologicamente mulher e optou por fazer a transição sem retirar os órgãos sexuais femininos – capaz, portanto, de ter filhos. “Mesmo me reconhecendo como homem, sempre sonhei gerar uma vida”, diz o auxiliar administrativo, casado com Fabiana Santos, 28 anos – ela, uma mulher trans com órgãos masculinos. “Vivemos a era do ‘eu posso ser o que quiser’, e a discussão já atingiu outro estágio no universo trans. A tendência é que essas gravidezes sejam cada vez mais comuns”, afirma o antropólogo Bernardo Conde, da PUC-RJ.

Embora um barbudo com bebê no ventre ainda seja raridade nas ruas, a internet está apinhada de fotos e vídeos de papais exibindo suas barrigonas.

O Unicode Consortium, ONG do Vale do Silício encarregada de aprovar novos emojis –   figurinha que traduz hábitos e mudanças da sociedade – , anunciou o lançamento, no início de 2022, de um ícone com um homem grávido. Ainda não há registro do número de crianças nascidas nessa nova configuração, que vem chacoalhando tabus ao ampliar limites antes restritos à ala feminina da humanidade, mas alguns indicadores confirmam que se trata de um universo em expansão. O Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (lbrat), presente em vários estados, teve contato com cerca de trinta casos nos últimos dois anos. No mesmo período, a Santa Casa de São Paulo realizou três partos de pessoas transgênero – aquelas que não se identificam com o gênero atribuído ao nascer. “A possibilidade de uma gravidez assim não é nenhuma novidade, mas ela vem ganhando visibilidade à medida que a transexualidade é mais discutida e aceita”, avalia o psicólogo Ricardo Martins, do ambulatório para saúde integral de travestis e transexuais do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo.

Por mais que traga à lembrança o filme Júnior, de 1994, no qual Arnold Schwarzenegger engravida ao servir de cobaia para uma nova droga, na vida real a gestação de um transexual masculino é igual à tradicional. Desde que, claro, no processo de masculinização ele não opte pela cirurgia de redesignação de sexo, que envolve a retirada de ovários e útero, e se disponha a interromper a terapia com testosterona para reativar a ovulação. “Se antes, para muitos trans, a reprodução era assunto encerrado, agora há o entendimento de que a gravidez não os faz menos homens”, ressalta Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Identidade de Gênero do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Bitencourt, o pai de Alex, sem alterar em nada seu jeito de ser, fez questão de amamentar a filha. Não esconde, porém, o desconforto em público na gestação. “Desisti de ir à praia com medo de retaliação, após olhares e comentários maldosos”, lembra.

Como ele, o pizzaiolo e influenciador Rodrigo Bryan da Silva, 34 anos, batizado Bárbara ao nascer e que aos 27 iniciou a transição e removeu os seios, decidiu tornar pública sua história nas redes sociais como forma de combater a transfobia. Morador de Montes Claros, em Minas Gerais, e casado com Ellen Carine, mulher trans de 26 anos, Silva deu à luz Isabella há seis meses. “O mundo seria melhor se as pessoas, em vez de julgar, nos respeitassem. Temos o direito de ter filhos como qualquer um”, defende. No fim de julho, desta vez sem planejar, descobriu que estava grávido outra vez. “Viramos sensação na cidade”, conta, bem-humorado.

O americano trans Thomas Beatie foi o desbravador desse caminho em 2008, quando soube que a mulher (não trans) era estéril, resolveu engravidar recorrendo a um banco de sêmem e, revoltado com a demora e a dificuldade para ser atendido dignamente, tornou pública a sua saga. “Nove médicos se recusaram a nos ajudar. A sociedade da época foi cruel. Os comentários on-line me tratavam como se não fosse humano e alguns até desejaram a morte do bebê”, contou. Ele teve três filhos com a primeira  mulher e mais um com a atual, este gestado por ela. Passada mais de uma década, o tema segue causando polêmica. Em julho, a professora de biologia Carole Hooven, da Universidade Harvard, manifestou em um programa de TV sua indignação com a orientação para usar o termo “pessoa grávida” no lugar de “mulher grávida”, e recebeu uma enxurrada de críticas. “É vital ensinar uma linguagem inclusiva de gênero, demonstrando respeito por todos que podem engravidar”, contra-atacou Laura Lewis, diretora da força-tarefa de diversidade e inclusão do departamento de biologia.

Goste-se ou não de juntar homem e gravidez na mesma expressão, as pesquisas mostram que, em pouco tempo, a estranheza dará lugar ao fato consumado. Estudo realizado em 2019 pela ONG Family Equality mostrou que 63% das pessoas queer – que não se enquadram no padrão de binarismo homem e mulher – e trans entre 18 e 35 anos nos Estados Unidos pensam em ter uma prole. O sistema de saúde segue sendo problema em    toda parte. “Fui a um posto fazer o pré-natal e ninguém entendia como um homem podia estar grávido, “lembra o músico trans Lourenzo Duvale Lima, 23 anos, conhecido como Aqualien, que está no sétimo mês e é casado com a cantora Isis Broken, travesti de 27. Visando a combater estigmas e a reduzir a burocracia, em junho o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que o cadastro do Sistema Único de Saúde (SUS) permita que cada paciente declare o gênero que quiser na marcação de consultas e exames. Além disso, na declaração de nascido vivo, o primeiro documento do bebê, em lugar de “mãe” se escreva “parturiente”. Tanto Bitencourt quanto Rodrigo Bryan constam na certidão de nascimento das filhas como “pai” e, como é de praxe nas famílias trans, não ligam a mínima para o gênero lá anotado para seu rebento. “Escolhi o nome Apolo para o meu bebê, que tem pênis, mas só vamos saber sua identidade de gênero quando ele escolher”, afirma o músico Aqualien. Opções não faltarão.

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