DISPOSIÇÃO DE PRODUTOS NO MERCADO INFLUI NA DIETA
Estudo mostrou que, em lojas que passaram a dar mais destaque para frutas e legumes, foram vendidas 6 mil unidades a mais de hortaliças por semana, três meses após as mudanças. Por outro lado, houve redução de até 1,4 mil doces

Os supermercados são o principal canal que a população mundial usa para comprar alimentos, segundo dados da Kantar, uma consultoria internacional. Porém, mais da metade das decisões do consumidor nessas lojas não são planejadas, de acordo com um estudo divulgado pela BioMed Central (BMC), por isso a colocação de produtos nesse estabelecimento tem um papel preponderante.
Conhecer a motivação do clientes no momento da compra e saber se a forma de disposição desses produtos influencia ou não a sua aquisição tem sido o principal objetivo de um estudo piloto feito pela Universidade de Southampton, no Reino Unido, e publicado esta semana na revista PLoS Medicine.
Nesta pesquisa, foi comparada a compra de determinado produto em várias lojas da mesma rede após alteração do design de metade delas. O resultado obtido é que, ao dispor frutas e hortaliças em um local de maior destaque, suas vendas aumentaram e, portanto, a alimentação dos participantes melhorou.
Esta pesquisa foi realizada em seis lojas de uma rede de supermercados localizada em uma área de menor poder aquisitivo na Inglaterra. Três desses estabelecimentos mantiveram-se iguais, e os demais sofreram alteração na localização dos produtos. Essas modificações consistiram em retirar doces e alimentos não saudáveis das caixas registradoras e substituí-los por produto não alimentícios, como pasta de dente. Além disso, colocaram frutas e vegetais em um local de maior destaque, na entrada da loja.
A amostra escolhida foi de 150 mulheres entre 18 e 45 anos que possuíam cartão de fidelidade da rede de lojas. Christina Vogel doutora em Saúde Pública da Universidade de Southampton e uma das autoras do estudo, explica que focaram nesse público-alvo porque sua alimentação além de ser importante para sua saúde, e importante também para a de seus filhos:
“A alimentação das mulheres jovens durante a gravidez pode ter um impacto sobre seus filhos. Além disso, as mulheres no Reino Unido, e tenho certeza de que é semelhante em outros países, ainda são as principais tomadoras de decisões sobre a alimentação em casa”.
MAIS FRUTAS, MENOS DOCES
Para chegar nos resultados esses pesquisadores compararam as vendas de doces, frutas e verduras em lojas cujo design se manteve o mesmo com as mesmas vendas daquelas que passaram por mudanças.
Além disso, levaram em consideração períodos diferentes: três meses antes, e três e seis meses após a intervenção.
Nos supermercados cujo design foi alterado, foram vendidas 6 mil unidades a mais de frutas e vegetais por semana em cada loja, três meses após as mudanças. Passados seis meses, esse número saltou para 10 mil unidade de frutas e vegetais a mais. Quanto aos doces, nessas mesmas lojas, houve uma redução de 1.400 e 1.600 porções aproximadamente no trimestre seguinte e no semestre seguinte, respectivamente.
Não é a primeira vez que se estuda o impacto dessas técnicas utilizadas por supermercados em clientes de áreas com poucos recursos econômicos. Em 2016, a revista Public Health Nutrition publicou outro estudo que já refletia resultados positivos em relação ao aumento das vendas de frutas e verduras em diversos supermercados, após dar-lhes maior visibilidade. Na ocasião, a investigação incidiu sobre as pessoas que possuíam vouchers governamentais para a compra desses produtos e outros alimentos.
Essa opção de melhorar a compra dos consumidores por meio da mudança do design dos supermercados é uma possibilidade sustentada pelos próprios clientes. Dos entrevistados neste estudo recente, 72% acreditam que esta iniciativa é a melhor para promover escolhas alimentares saudáveis.
Beatriz Robles, tecnóloga em alimentos, acha que essa medida é “relativamente simples de fazer”, já que, geralmente, são produtos que nem precisam de câmara fria. Mas ela insiste que isso requer um compromisso “importante” das grandes cadeias de distribuição. Miguel Angel Luruefia, doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, lembra que não se pode esquecer que, no fim, o que as empresas procuram é “vender”, por isso colocam determinados produtos em locais de fácil acesso. Além disso, ele destaca que a questão é sobre quais produtos exigimos como sociedade:
“Se demandássemos maçãs, eles colocariam as maçãs nos caixas para que as comprássemos impulsivamente, mas o que demandamos são outras coisas, e essas são as escolhidas (para ter destaque).
Com o passar do tempo e dos estudo, cada vez mais consumidores estão cientes de como a disposição dos produtos na loja ou a rotulagem, por exemplo, influenciam suas decisões de compra. Um quarto das mulheres afirmam que engordam por causa das ofertas de alimentos e bebidas não saudáveis no supermercado, de acordo com o relatório “Health on the Shelf”, da instituição de caridade britânica Royal Society for Public Health.
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