Tendência que se originou na França e na Suíça, o jantar às cegas, que promete uma experiência sensorial de despertar os sentidos, ganha cada vez mais apreciadores no Brasil
Comemos com os olhos, diz o milenar aforismo. A visão tem o poder de provocar atração ou repulsa, reprimindo os demais sentidos. Crianças consumiriam mais verduras se elas fossem multicoloridas, e menos hambúrgueres se não fossem processados industrialmente. Aversões se impõem sobre a comida principalmente porque a maioria pode ver o que está no prato antes de colocar na boca. É por isso que existem aqueles que acreditam que algumas experiências precisam ser vividas às escuras – entre elas, participar de jantares imersos nas trevas e também no silêncio.
O conceito de jantar às cegas teria surgido em pontos alternativos de Paris no fim do século passado, mas o primeiro restaurante a fincar raízes foi o Blindekuh, em Zurique, na Suíça. Inaugurado em 1999 por um clérigo cego que buscava promover a inclusão de deficientes visuais, o Blindekuh prosperou e inspirou versões similares. A rede mais conhecida hoje é a Dans Le Noir, presente em cinco países da Europa, na Nova Zelândia e no Egito. O conceito não fez muito sucesso quando chegou a Nova York, mas, no Brasil, vai conquistando adeptos.
Em São Paulo, a chef Mariana Pelozio faz dois jantares por mês. No momento da reserva, os interessados precisam informar se têm alergia ou restrição a algum alimento. Passada essa etapa, a aventura sensorial começa. Ao adentrar o restaurante Duas Terezas, do qual Mariana é proprietária, o cliente é vendado e lhe é servida uma sequência de pratos, harmonizados com vinho se ele desejar. A todos os presentes é pedido que evitem comentar sobre o que estão comendo a fim de não atrapalhar os outros. Segundo Mariana, quem participa relata reminiscências da infância e descobre sabores que foram perdidos no tempo. “No final, quando revelamos o cardápio ao cliente, ele percebe que errou o conteúdo de quase tudo que consumiu”, explica a chef.
No Rio de Janeiro, a italiana Silvia Di Capucci promove festins similares, os quais ela chama de Jantar dos Sentidos, que não ocorrem em lugar fixo e podem ser feitos até mesmo em casa, para onde ela leva a experiência. Silvia é uma estudiosa do tema e, assim como a colega de São Paulo, busca criar um ambiente acolhedor para que as pessoas se dê em conta até do tilintar de talheres. “A visão define a comida. Sem ela, o cérebro precisa se recondicionar”, diz a chef. Conforme relatado, alguns clientes chegam a se emocionar, pois a jornada na escuridão parece reconectá-los ao mundo, por meio da audição, do tato, do aroma e, principalmente, do paladar.
A posse antecipada de uma herança no fim não será abençoada (Provérbios 20.21).
A pressa é inimiga da perfeição. Antecipar as coisas nem sempre é sinal de prudência. Querer, por exemplo, tomar posse antecipada de uma herança é colocar o carro na frente dos bois. É inverter a ordem e a prioridade. É dar mais valor a coisas do que a pessoas. Um exemplo clássico disso é o que Jesus retrata na parábola do filho pródigo. O filho mais moço pediu ao pai a parte que lhe cabia da herança. Essa não era uma prática comum. Na verdade, era uma agressão, pois a posse da herança só acontecia depois da morte do pai. Esse filho estava dizendo que seu interesse não estava na vida do pai, mas nos seus bens. Ao exigir a parte que lhe cabia da herança, ele estava matando o pai em seu coração. Essa atitude insensata custou muito caro para o jovem. Por não ter maturidade para administrar esses bens, dissipou-os numa gastança irresponsável. Esbanjou tudo o que recebeu, vivendo de forma dissoluta. A posse antecipada da herança não foi abençoada. O jovem ficou reduzido à pobreza e foi parar numa pocilga. Esse mesmo princípio se aplica a outras áreas da vida. Jovens que buscam usufruir os privilégios do sexo antes do casamento percebem, mais tarde, que essa posse antecipada da herança constitui-se em pura perda.
Responsável pela digitalização de algumas das maiores empresas do mundo e, com escritórios em quatro continentes, a Cl&T teve uma explosão de novos funcionários em 2020. E planeja aumentar ainda mais a equipe.
O ano é 1995. Até então, o acesso à internet no Brasil era uma opção disponível apenas para as universidades. Até que, em maio, a Embratel lançou um serviço de comercialização de internet ao grande público. Nessa época, em plena Idade da Pedra da conexão as we know it, César Gon, Bruno Guiçardi e Fernando Matt, todos recém-formados no curso de Engenharia da Computação da Unicamp, fundaram a Cl&T, uma empresa de desenvolvimento de software.
A ideia era manter a companhia só por um ano – o dinheiro que a organização desse serviria para financiar os doutorados dos três nos Estados Unidos. Mas o plano foi por água abaixo quando os amigos pegaram gosto pelos negócios. No fim, transformaram a companhia de Campinas (SP) em um nome de peso do setor tecnológico.
Hoje a Cl&T auxilia empresas em desenvolvimento de aplicativos, gerenciamento de processos internos, migração de dados para nuvem e uso de inteligência artificial. Um exemplo: em 2017, a empresa começou um projeto com a Coca-Cola para reduzir o prazo de testes de novas bebidas. Usando ferramentas digitais para coletar dados sobre a receptividade do produto entre os usuários testadores, a filial brasileira da fabricante de bebidas agora leva até quatro meses para lançar novos produtos – antes, o prazo chegava a um ano. O primeiro lançamento dentro dessa nova metodologia, mais ágil, foi o Del Valle Origens, uma linha de sucos sem adição de açúcar que chegou ao mercado em agosto de 2018.
A lista de clientes da CI&T, diga-se, é invejável: Cielo, Google, HP, ltaú, Johnson &Johnson, Motorola, Nestlé, Porto seguro, Sul América, Vivo. Além disso, a empresa atua em outros sete países: Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Portugal. São mais de 3.800 funcionários espalhados por 14 escritórios em quatro continentes – 90% da equipe, de qualquer forma, fica no Brasil.
O crescimento da CI&T chamou a atenção da gestora americana de private equiry Advent. Em 2019, ela comprou os 30% que o BNDES Par tinha na companhia, além de uma parte (não revelada) das ações dos três fundadores. Com o novo sócio, a brasileira tem duas missões: a primeira é aproveitar as empresas do portfólio da Advent para ampliar a sua própria carteira de clientes. A gestora investe USS 56 bilhões em mais de 375 empresas de 42 países. A segunda é abrir capital nos EUA – a exemplo de outras companhias fundadas aqui, como a Pag Seguro e a XP Investimentos (o IPO ainda não tem data confirmada).
A pandemia não desacelerou o processo de expansão da multinacional. Pelo contrário. O isolamento social, você sabe, obrigou boa parte das empresas a passar suas operações para o modelo remoto; e lá estava a Cl&T com duas décadas de experiência em processos de digitalização. O faturamento de 2020 foi fechado, confirmando o cálculos iniciais são de mais de RS 1 bilhão – 42% mais do que em 2019.
A equipe também cresceu. Só no ano passado, foram contratados mais de 1.100 profissionais para áreas como programação, análise de dados, arquitetura de software e design de produtos. A previsão é de que mais 2 mil entrem para o time ao longo de 2021.
Receber tanta gente nova durante o isolamento social é um desafio quando o assunto é integração e preservação da cultura corporativa. A CI&T determinou que a empresa vai manter as equipes em home office até dezembro. Enquanto isso, o jeito é reforçar o contato online, como os RHs de tantas empresas têm feito. Todos os programas de reconhecimento de talentos e comemorações, como a de aniversariantes do mês, foram adaptados para o modo videoconferência. Além disso, os funcionários participam de lives para compartilhar conhecimentos e habilidades – vale qualquer assunto, seja desenvolvimento de software, sejam aulas de culinária.
AGILIDADE DE DENTRO PARA FORA
1 – FLEXIBILIDADE
Quando reabrir completamente os escritórios, os funcionários poderão escolher se querem trabalhar de forma presencial, remota ou adotar um modelo híbrido, de alguns dias em casa e outros na empresa.
2 – INOVAÇÃO VEM DE DENTRO
Alguns dos escritórios seguem um modelo batizado de Prisma. Toda a configuração do ambiente é móvel e pode ser adaptada de acordo com os projetos que estão sendo realizados.
3 – AMBIENTE DOS SONHOS
Os escritórios têm academia, sala de jogos, espaço de relaxamento, cozinha gourmet, cadeira de massagem e miniadega. Em Campinas, tem até um tobogã.
4 – FORÇAS-TAREFA
A Cl&T decidiu dar mais autonomia aos profissionais de nível gerencial. Um grupo que pegue um projeto não precisa necessariamente se reportar a todo o C-level (CFO,COO etc.) toda hora. Isso diminuiu o tempo gasto em reuniões e relatórios pouco produtivos, e agilizou o desenvolvimento de novos produtos.
5 – AMIGO DO AMIGO
A empresa tem um programa de indicações de novos funcionários – 40% das contratações são de profissionais já conhecidos por pessoas que trabalham por lá.
6 – PASSAPORTE CARIMBADO
Todos os funcionários podem se candidatar para posições nas unidades dos outros sete países onde a empresa atua. Para aqueles que simplesmente querem mudar de país, e seguir trabalhando remotamente, a empresa também auxilia na expatriação e na adaptação dos benefícios.
7 – DIVERSIDADE
A empresa possui um programa de diversidade e inclusão. O foco maior é em relação às mulheres. A CI&T é signatária do Women Empowerment Principies, a organização da ONU que age em prol da equidade de gênero.
8 – MELHORIA CONTÍNUA
A companhia trocou as tradicionais avaliações anuais por um modelo mais dinâmico: os feedbacks acontecem a cada três ou seis meses, dependendo dos prazos dos projetos de que o profissional está participando.
9 – SAÚDE MENTAL
A CI&T criou o programa “Papo com mindfulness”. São encontros semanais para falar sobre equilíbrio emocional, saúde mental e meditar. A companhia também oferece apoio psicológico gratuito.
O QUE É PRECISO PARA TRABALHAR NA COMPANHIA
“A gente valoriza o senso de pertencimento, de querer fazer parte e ser protagonista. Mas, ao mesmo tempo, é importante ter disposição para aprender e se transformar junto com a empresa”, diz Carla Borges, diretora de pessoas da Cl&T.
Na primeira vez em que minha menstruação desceu, eu estava sentada no fundo do ônibus, cantando músicas do Claudinho e Buchecha, em uma viagem escolar para Tiradentes. Entrei naquele banheiro sacolejante fedendo a urina seca e minha calcinha parecia uma cena dirigida pelo Tarantino.
Meu único recurso naquele momento era dobrar metros de um papel pura secar as mãos da pior qualidade – aquele de cor cinza, com textura de língua de gato e colocá-lo entre as pernas. Voltei para o meu assento. Ainda faltavam horas para chegarmos no nosso destino.
Tentei, em vão, me comunicar telepaticamente com minhas amigas – talvez tenha assistido a “Jovens Bruxas” demais. Sabia que, se verbalizasse a qualquer uma delas que havia ficado menstruada pela primeira vez, a reação seria efusiva e meu segredo chegaria até aos ouvidos do motorista.
Agora, a turma se esgoelava com a música “Vampiro Doidão”, cuja letra é um besteirol supostamente transgressor quando se é pré-adolescente.
“Eu sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão/ Só chupo sangue de menstruação”. A euforia dos meninos com aquela estrofe era proporcional ao meu desespero silencioso.
O professor de história estranha o fato de eu estar muito quietinha. Eu preferia ser atropelada por um caminhão de oito eixos a admitir para um homem de meia idade o que estava acontecendo comigo. Invento que estou enjoada.
Chegamos e vamos direto almoçar. Foi quando um colega de classe, que tinha a charmosa mania de soprar a franja do rosto, me puxa em um canto, demonstrando certa timidez. Pensei que o destino havia sorrido para mim – talvez tenha assistido comédias românticas demais. Ele me disse que minha calça estava suja.
Suja, era exatamente como me sentia. Essa semana fui transportada para essa sensação, quando Bolsonaro vetou a PL nº 4.968, de autoria da deputada Marília Arraes, que determina a distribuição de absorventes à meninas e mulheres pobres, mesmo não fazendo parte dos 26% das mulheres brasileiras que não têm dinheiro para comprar absorventes.
A parte mais suja dessa história talvez tenha sido a defesa do veto por ninguém menos do que nossa Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Menstruar não deveria ser motivo de vergonha, nem ferir a dignidade de mulheres em vulnerabilidade.
*** MANUELA CANTUÁRIA – Roteirista e escritora, faz parte da equipe do canal Porta dos Fundos
A chegada de medicamentos capazes de atacar apenas as células tumorais promove uma guinada no jeito de tratar o câncer e reduz a necessidade de uso da quimioterapia
O semblante tranquilo, o sorriso no rosto, o cabelo mais longo, nada faz supor que a aposentada paulista Fátima Aparecida Guerra, de 57 anos, ex-secretária, enfrente um câncer de mama há treze anos. Mais difícil ainda seria imaginar que, desde julho de 2019, ela trate metástases desse mesmo tumor nos pulmões, nos ossos e na região próxima à traqueia. Em 2008, quando a doença foi diagnosticada e o tumor extraído por meio de cirurgia, Fátima era outra mulher. Submetida à quimioterapia, a cada sessão seguiam-se oito dias na cama de intenso desconforto. “Não tinha forças para me levantar”, ela lembra. “Além das náuseas, do cansaço, sentia dores horríveis.” Dez anos depois, quando soube que células tumorais haviam se alojado em outras partes de seu corpo, o filme voltou a sua cabeça. Que angústia pensar naquilo tudo de novo. Felizmente a história não se repetiu. Em pouco mais de dois anos de tratamento, os tumores diminuíram e Fátima segue forte, sem tanto sofrimento quanto da primeira vez.
Fátima é o retrato feliz de uma guinada espetacular na forma de tratar o câncer, que pouco a pouco tira de cena a quimioterapia para dar lugar a medicações bem menos agressivas e muito mais eficazes. É uma revolução que acontece gradualmente, como em geral são as transformações produzidas pela ciência, e que tem beneficiado milhares de pacientes em todo o mundo. Nessa segunda rodada de tratamento, Fátima, por exemplo, não precisou de quimioterápicos porque está sendo medicada com uma droga que atua de forma seletiva sobre as células doentes, sem danificar tanto tecidos saudáveis. Por isso a redução dos tumores – o ataque é preciso – e a menor ocorrência de efeitos colaterais sobre o organismo da ex-secretária. “Eles nem se comparam ao que acontecia quando eu fazia químio”, diz. De fato, enquanto os remédios modernos têm atuação bem definida, a quimioterapia atinge o corpo todo, matando o câncer, mas destruindo também células normais.
Tal ascensão de novas classes de medicamentos foi possibilitada pelo avanço impressionante no conhecimento sobre a enfermidade levantado nas últimas duas décadas. O mais decisivo foi descobrir que o câncer não é uma doença, mas várias. Isso mudou tudo. Não mais se combateriam tumores de mama, de pulmão, de rim de um modo comum. Antes de iniciar o tratamento, agora é necessário identificar qual o tipo a ser enfrentado. Para isso, a principal marca a ser procurada em cada um é sua assinatura genética. Essa informação ilumina como farol na escuridão. Por meio dela, a medicina descobre o trajeto mais curto para chegar às células doentes e o meio mais eficaz de impedir sua proliferação. Em vez do tiro de canhão da quimioterapia, os oncologistas hoje têm à mão drogas que podem ser comparadas a mísseis teleguiados, tamanha a seletividade com que atuam. Entre os tumores mais beneficiados com a nova abordagem estão os de mama e o de pulmão.
Não surpreende, portanto, que só na semana passada tenham sido aprovados no Brasil dois medicamentos contra ambos. O primeiro é o amivantamabe, da farmacêutica Janssen, indicado contra um tipo raro de câncer de pulmão. O segundo é o trastuzumabe deruxtecan, da Daiichi Sankyo e AstraZeneca, feito contra um tipo específico de câncer de mama. Ele faz parte da classe conhecida como químio inteligente. Isso porque a droga leva até a célula tumoral uma concentração elevada de quimioterápico. Faz isso graças a um anticorpo desenhado para chegar às células desejadas, como um trem com destino certo. Os resultados do remédio foram tão expressivos que a Food and Drug Administration, a agência americana responsável pela aprovação de remédios, decidiu pela liberação depois de analisar as conclusões da primeira fase dos estudos clínicos com a droga. Isso só acontece quando os benefícios são tão espetaculares que não deixam dúvida sobre a pertinência em liberar a medicação. “A altíssima eficácia do remédio pode revolucionar o tratamento do tumor para o qual foi criado”, diz o oncologista Marcelo Cruz, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. A estratégia evoca a busca do alemão Paul Ehrlich, prêmio Nobel de Medicina em 1908, por aquilo que ele chamava de “bala mágica”: uma substância tóxica que matasse apenas tecidos doentes.
Quando drogas assim começaram a chegar, não eram consideradas a primeira escolha de tratamento. Isso também está mudando, corno disse o oncologista Robert Vonderheide, diretor do Penn Medicine’s Abramson Cancer Center, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, reputado centro de pesquisa e tratamento. “Para muitos pacientes com câncer de pulmão, a quimioterapia não é mais a primeira opção”, diz ele. “Preferimos ir com as terapias-alvo ou com a imunoterapia, abordagens que têm ajudado a revolucionar o cuidado com nossos pacientes nos últimos anos.” A imunoterapia é um tratamento biológico que potencializa a atuação do sistema de defesa do corpo contra os tumores. No câncer de mama, a quimioterapia também é menos usada.
Um estudo da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, retratou bem o fenômeno. Depois de analisar as respostas de 504 oncologistas e de 5.080 pacientes com determinados tipos da doença em estágios iniciais, o time de Stanford concluiu que o declínio no uso da quimioterapia entre as mulheres foi de 34%, em 2013, para 22 %, em 2015. Entre os especialistas, a indicação caiu de 44% para 31% no mesmo período. Um dos desafios dos médicos é saber quando ela é cabível. O que ajuda a esclarecer dúvidas são painéis genéticos que apontam quem se beneficiará da terapia. Uma avaliação desse tipo evitou que 70% de mulheres com câncer de mama em estágio inicial recebessem quimioterapia sem necessidade no Hospital Pérola Byington, em São Paulo.
Contudo, é consenso entre os profissionais que a quimioterapia ainda tem lugar, sim, no combate ao câncer. “Temos muito a aprender sobre qual o remédio para cada paciente”, diz o oncologista Bruno Ferrari, fundador e presidente do conselho de administração do Grupo Oncoclínicas. Mas também há o entendimento de que a resposta à doença será cada vez mais individualizada, como prega a medicina de precisão, caminho dos tratamentos revolucionários. A redução do espaço da químio será inevitável, para alívio dos que precisam enfrentar a doença. Que esse tempo chegue logo.
Menos de sete horas de descanso aumentam apetite, diz estudo
Uma ampla pesquisa conduzida com 20 mil homens e mulheres pela Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, afirmou que dormir menos de sete horas por dia aumenta o risco de ingestão de comidas menos nutritivas e com maior quantidade de calorias.
“Existe um mecanismo cerebral responsável pelo sistema de recompensas. Quando dormimos mal e pouco, temos uma alteração nessa região. Com a desregulação, o corpo entende que “merecemos” comer mais para conseguir as energias necessárias para continuarmos acordados. É aí que surge a vontade de comer coisas pouco nutritivas e muito calóricas, como um hambúrguer, um sorvete”, explica Andrea Bacelar, presidente da Associação Brasileira do Sono.
O trabalho avaliou a rotina de pessoas entre 20 e 60 anos ao longo de onze anos. Foram coletadas informações alimentares de cada participante, com detalhes sobre o que foi ingerido e exatamente em qual horário. A pesquisa também questionou a quantidade média de sono noturno.
INSONES E DORMINHOCOS
Os participantes foram divididos, primeiramente, em dois grupos: os que cumpriam as recomendações de dormir pelo menos sete horas por noite e os que tinham noites de descanso mais curtas. Depois, usaram o banco de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para estimar a ingestão de nutrientes relacionada aos lanches dos participantes. Por último, criaram três intervalos de tempo para a hora da alimentação: das 2h às 11h59 (manhã); de 12h às 17h59 (tarde); e 18h a 1h59 (noite).
Os resultados mostraram que 95,5% dos que dormiam menos de sete horas por noite eram mais propensos a comer no mínimo um lanche mais calórico. Sendo que mais de 50% das calorias estavam agrupadas em categorias com pouco valor nutricional, como refrigerantes e bebidas energéticas, batatas fritas, biscoitos e doces.
O resumo do estudo foi publicado no jornal da Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos, e a pesquisa será apresentada em uma sessão de pôsteres no mês que vem na edição de 2021 da Food e Nutrition Conference & Expo.
Dormir pouco também impacta na fome por um segundo mecanismo importante – através da melatonina, o hormônio do sono. A substância é produzida pela glândula pineal, situada no centro do cérebro, apenas quando está escuro, ou seja, à noite. Ela é responsável por programar o nosso corpo para o momento de dormir, não só aumentando a sonolência, como também diminuindo a fome e abaixando a pressão arterial. Ou seja, promovendo todas as mudanças necessárias para o período de descanso.
Um estudo feito pelo fisiologista José Cipolla Neto, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a ausência da melatonina em modelos animais promoveu o desenvolvimento de doenças metabólicas e causou obesidade. A reposição, por sua vez, favoreceu a perda de peso.
Cipolla coordenou uma série de experimentos com animais, realizados em parceria com outros pesquisadores de São Paulo, da França e dos Estados Unidos, que estão demonstrando como a variação nos níveis de melatonina ao longo do dia afeta a ingestão e o gasto de energia, o chamado balanço energético do organismo.
“A principal ação da melatonina é regular a fisiologia do dia e da noite. Fisiologia do dia significa a pessoa ativa, se alimentando e todo o metabolismo correspondente, enquanto a da noite implica em sono, jejum e todo metabolismo relativo a isso. É fundamental manter o padrão fisiológico normal da melatonina para que a gente tenha as funções diárias adequadamente distribuídas”, explica.
Quando há uma redução da melatonina à noite, o que pede ocorrer se a pessoa ficar exposta à luz, por exemplo, o organismo deixa de entender adequadamente o que é dia e o que é noite, e não percebe que aquele é o momento de começar a desacelerar para dormir. Então, o corpo continua mantendo a fisiologia do dia, o que provoca fome e aumenta a ingestão de alimentos.
BALANÇO ENERGÉTICO
A melatonina é de fundamental importância para o balanço energético, pontua Cipolla Neto. Este processo é c:aracterIzado pela diferença de consumo e gasto de energia pelo corpo. Quando se gasta mais do que se consome (por meio da alimentação), ocorre o emagrecimento. Quando a ingestão é maior que o gasto, a pessoa engorda, já que a diferença fica armazenada.
“Este hormônio regula tanto a ingesta alimentar quanto o dispêndio energético. A noite, quando estamos com melatonina circulando pelo corpo, ela bloqueia a ingesta. E ela aumenta o gasto energético ao ativar o tecido adiposo marrom, responsável pela liberação de calor do organismo”, detalha.
A melatonina é vendida no Brasil sob prescrição médica em farmácias de manipulação. Por ser um hormônio, seu consumo não pode ser feito livremente. Cipolla Neto alerta que ela deve ser controlada como qualquer outro hormônio. Ela é usada para regular alguns problemas de sono, como casos específicos de insônia. Nos EUA, a melatonina não é considerada um medicamento,
, mas um suplemento alimentar. Isso facilita o consumo sem orientação de um profissional de saúde. O uso deste hormônio de forma irresponsável pode causar depressão, tremor, ansiedade, cólicas abdominais, irritabilidade, sonolência, confusão ou desorientação e pressão arterial anormalmente baixa. Por isso, o uso deve ser acompanhado por um médico.
Em abril deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso da substancia melatonina como um dos ingredientes de suplementos alimentares. Sua adição tem limite máximo de 0,21mg/dia, e só pode ser consumida por pessoas maiores de 18 anos. Além disso, a substância deve ter a seguinte advertência na rotulagem: “Este produto não deve ser consumido por gestantes, lactantes, crianças, pessoas com enfermidades, pessoas sob uso concomitante de medicamentos ou outros suplementos e pessoas envolvidas em atividades que requerem atenção constante”.
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
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