NEGROS TÊM MAIS RISCO DE MORRER DE COVID MESMO NO TOPO DA PIRÂMIDE
Estudo aponta que desigualdades raciais e de gênero aumentam o risco de morte pela doença
O risco de morrer de Covid 19 é significativamente maior para homens negros e mulheres brancas e negras, do que para homens brancos no Brasil, de acordo com um grupo de pesquisadores que analisou estatísticas oficiais sobre milhares de brasileiros mortos pela doença no ano passado.
Ligado à Rede de Pesquisa Solidária, que reúne várias instituições públicas e privadas, o grupo concluiu que as desigualdades raciais e de gênero contribuem para aumentar o risco de morte mesmo em grupos de pessoas com atividades profissionais que as colocam no topo da pirâmide social.
“Pensávamos que a mortalidade dos negros era maior porque trabalhavam em atividades mais expostas ao vírus, mas nem sempre isso é verdade”, diz o sociólogo Ian Prates, pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e coordenador do grupo responsável pelo estudo.
Os pesquisador examinaram dados do Sistema de Informação sobre Mortandade, do Ministério da Saúde, sobre 67,5 mil pessoas que morreram de Covid-19 no ano passado, amostra equivalente a um terço de todas as mortes causadas pelo coronavírus notificadas no período.
Foram considerados indivíduos entre 18 e 65 anos de idade e com ocupação profissional registrada no sistema do Ministério da Saúde. Os pesquisadores usaram técnicas estatísticas para evitar que comorbidades e outras características pessoais prejudicassem as comparações.
Em números absolutos, houve mais mortes por Covid em grupos ocupacionais que são grandes empregadores, como comércio e serviços (6.420), agricultura (3.384) e transportes (3,367), mas o resultado mostra que a alguns setores foram muito mais afetados em termos relativos.
As mortes por Covid representaram 14% de todas as mortes de profissionais de saúde registradas. Na segurança, incluindo praças das Forças Armadas, policiais militares e bombeiros, foram 25%.
Já entre líderes religiosos, 44% das mortes registradas no ano passado foram causadas pelo coronavírus.
Para homens negros, os riscos são maiores do que os enfrentados pelos brancos em todas as atividades, com exceção da agricultura, de acordo com o estudo.
O trabalho aponta mortalidade maior até mesmo entre advogados, com risco 43% maior, e engenheiros e arquitetos, com 44%.
“O fato de o risco ser maior até para os que exercem profissões de nível superior como estas mostra o tamanho da nossa tragédia”, afirma Ian Prates.
“Isso sugere que mesmo negros que ascenderam profissionalmente continuam expostos a fatores de risco que aprofundam desigualdades”, completa o sociólogo.
Uma das hipóteses dos autores do estudo é que a inserção mais precária de muitos negros no mercado de trabalho, em empresas de menor porte ou sem vínculo empregatício formal, os tornou mais vulneráveis na pandemia, aumentando os riscos criados pela exposição ao coronavírus. De acordo com o estudo, os riscos de morte por Covid também são significativamente maiores para mulheres negras, especialmente na base da pirâmide.
Para as que trabalham em serviços domésticos, são 112% maiores do que os enfrentados por brancos, calculam os pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária.
O grupo não encontrou diferenças relevantes para ocupações de nível superior porque há poucas mulheres negras nessas atividades.
A exceção foram as enfermeiras, para quem o risco de morrer de Covid é 23% maior do que o do homens brancos, segundo as estimativas dos especialistas.
No caso das mulheres brancas, o estudo mostra que o risco de morrer de Covid é menor que o dos homens brancos para aquelas que pertencem a grupos ocupacionais de nível superior e maior para atividades que exigem menos instrução. Em geral, o risco é menor que o de mulheres negras.
Nos serviços domésticos, o risco de morte para mulheres brancas é 73% maior do que o dos homens brancos, dizem os pesquisadores. A situação se inverte no topo da escala social. O risco é 39% menor para advogadas e 11% menor para mulheres em posições gerenciais e cargos de direção.
Para os autores do estudo, a vantagem das mulheres sobre os homens no topo da pirâmide pode ser explicada pelo hábito que elas têm de manter em dia cuidados preventivos com a saúde, ao contrário dos homens, que tendem a postergar visitas aos médicos, de acordo com especialistas em Saúde pública.
Nos grupos ocupacionais da base da pirâmide, a perda de acesso a serviços de saúde e sobrecarga de tarefas com cuidados de crianças e idosos durante a pandemia pode ter tornado muitas mulheres mais vulneráveis diante dos riscos criados pela Covid, dizem os pesquisadores do grupo de estudo.
Não ames o sono, para que não empobreças; abre os olhos e te fartarás do teu próprio pão (Provérbios 20.13).
O sono é uma dádiva de Deus. É reparador e absolutamente necessário para a saúde do corpo. No entanto, amar o sono é sinal de indolência e preguiça. Aqueles que amam o sono e fogem do trabalho ficarão pobres. Não terão provisão na hora da fome. Seus celeiros estarão vazios. Sua casa ficará desamparada. Mas aqueles que são despertos e se lançam ao trabalho com afinco e dedicação, esses prosperarão e se fartarão. Quem gasta seu tempo dormindo acabará pobre, mas quem trabalha com esforço verá seus campos florescendo, e sua casa terá pão com fartura. O trabalho engrandece o homem e enriquece a nação. Gera dividendos para a pátria e fartura para a família. O trabalho é uma bênção. Deus mesmo o estabeleceu. O trabalho foi uma ordenança divina antes da queda. É uma obrigação depois da queda e permanecerá mesmo depois que estivermos na glória. O trabalho não é vergonhoso; vergonhoso é dormir em excesso. O trabalho não mata ninguém, mas amar o sono deixa os músculos flácidos e o corpo fraco e doente. O trabalho produz desenvolvimento e riqueza, mas render-se ao sono é cair nas malhas da miséria e da pobreza. Não ame o sono; ame o trabalho!
Em tempos de alta ansiedade por um emprego, empresas fajutas aplicam um golpe na internet que atrai cada vez mais gente à base de falsas promessas
Em um país com quase 15 milhões de desempregados, a promessa de colocação garantida no mercado de trabalho, por mais irrealista que soe, se torna quase irresistível. É justamente se valendo do desespero, da ansiedade e da boa-fé de quem precisa encontrar uma vaga que agências inescrupulosas, a maioria sem registro formal, praticam um golpe tão antigo quanto eficiente: oferecem uma posição desde que, antes, o candidato pague por cursos e apostilas – sendo que a vaga não existe e o material adquirido não tem valor algum.
O golpe costuma ganhar força renovada nos tempos de desocupação em alta, e agora não é diferente, com um fator que amplia consideravelmente o número de vítimas: o terreno fértil das redes sociais. A equipe de reportagem navegou durante semanas por dezenas de páginas da internet, passando-se por candidato em busca de emprego, e pôde constatar a intensa atuação dessas quadrilhas para arrancar dinheiro principalmente de jovens à procura de uma primeira oportunidade.
A maior parte das ofertas-fantasma localizadas encontra-se em fóruns virtuais do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Fortaleza, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. O trambique é simples. A pessoa se candidata a uma vaga oferecida na internet. Faz um cadastro – que sempre inclui seu número de celular – ou entra em contato via aplicativo de mensagem. Em questão de minutos recebe resposta envolta em esperança, dizendo que seu perfil se encaixa perfeitamente e a aprovação é certa, mas resta um detalhe: ela precisará de um certificado, obtido após a conclusão de um curso rápido de capacitação. Mensagens em áudio de um “supervisor” da falsa agência reforçam as chances do candidato, incentivando que siga adiante: “É impossível a pessoa ficar desempregada”, garante o larápio, obviamente sem nome nem rosto. No caso, o curso fajuto, on-line, de apenas um dia e sem registro no Ministério da Educação, rende uma certificação sem nenhuma credibilidade – e zero vaga. “Gastei 70 reais e recebi uma apostila de 67 páginas. Fiz uma prova pelo WhatsApp, recebi um certificado de 55 horas de estudo e não consegui colocação nenhuma, só promessas de empregos falsos”, relata uma vítima, a gaúcha Stefani Eduarda, 20 anos.
Entre os sites mais ativos nas redes sociais estão o Formação Inicial, o Educação Nacional e o Movic Treinamentos. Em comum, todos os três cobram 250 reais pelas “aulas”, exibem desenho parecido e a chave do Pix para pagamento utilizada em suas vendas é o e-mail de um tal Landoaldo Pereira Dias, dono da plataforma Start Vip, central de cursos de formação que também oferece franquias do negócio a partir de 10.000 reais. Dias, com quem não conseguimos contato, esteve envolvido em um processo por estelionato no Tribunal de Justiça de São Paulo, mas acabou absolvido por falta de provas. A estudante de enfermagem Hevilly Thairiny, 25 anos, foi fisgada em um anúncio desses no Facebook. Achou o áudio que lhemandaram forçado, o site, estranho, e isso lhe acendeu o sinal vermelho. Ela recuou. ”Estou desesperada atrás de emprego, mas, por sorte, percebi a tempo que se tratava de um golpe”, diz a mineira que, só nas primeiras semanas de setembro, recebeu dez propostas similares via rede social. Em nota, o Facebook informou que “vagas de emprego falsas ou enganosas não são permitidas e pedimos que nossa comunidade denuncie esses conteúdos imediatamente”.
As quadrilhas também atuam em endereços físicos. A carioca Ana Carla Florêncio, 22 anos, conta que em 2018 compareceu a um escritório bem estruturado no centro do Rio de Janeiro para uma entrevista de emprego. Estranhou o pedido de que fosse acompanhada de um responsável, já que é maior de idade. “Eles queriam que minha mãe pagasse os 150 reais, imaginando que eu não tivesse o dinheiro”, explica. A estudante de biblioteconomia ainda passou por outras quatro entrevistas e foi convencida a contratar mais uma série de “aulas” antes de cair fora, acumulando prejuízo. “A gente só ficava ouvindo palestras. Oportunidade que é bom, nada”, lamenta. A falcatrua respinga, inclusive, em empresas sérias do ramo, usadas como chamariz para a obtenção da colocação inexistente. “Todo mês recebemos em nossa sede pessoas que buscam vagas prometidas por esses bandos de estelionatários”, confirma o presidente de uma das maiores empresas especializadas em colocação de jovens no mercado de trabalho, que prefere não se identificar por ter sido alvo de ameaças de morte depois que denunciou uma quadrilha. “Chegaram a clonar nosso site, oferecendo empregos falsos”, relata.
As grandes empregadoras também servem de isca no conto da vaga garantida. A multinacional farmacêutica Merck já esteve na mira dos charlatões, que enviaram e-mails chamando candidatos para uma seleção presencial na empresa, mas avisando que antes era necessário comprar uma apostila com conteúdos-chave do processo seletivo. Em nota, a Merck informou que esse tipo de golpe é frequente e que faz alertas nas redes sociais para que os interessados em suas vagas não sejam iludidos. Os golpistas do mercado de trabalho podem ser enquadrados nos crimes de estelionato e formação de quadrilha, com penas que começam em quatro anos de prisão, mas a impunidade é a regra, até porque poucos casos são levados à polícia. No início de setembro, a 4ª Delegacia de Belo Horizonte desmantelou uma falsa agência de empregos e prendeu 21 pessoas por cobrar entre 450 e 1.500 reais por cursos fictícios e vagas inexistentes. “De tempos em tempos, eles trocavam de endereço e mudavam a razão social” diz a delegada Ana Paula Kish, responsável pela operação. Para os jovens empenhados na difícil busca da primeira colocação, aquela que exige a experiência que ainda não adquiriram na vida, fica o alerta: se parece bom demais para ser verdade, talvez não seja.
O ambiente reconquista o prestígio antigo, agora reinventado
Outro dia, procurando meu celular, encontrei-o plugado em uma tomada na sala de jantar. Apesar da minha pressa, deixei o olhar passear vagarosamente pelo ambiente, vazio e na penumbra. Mergulhei na atmosfera e viajei no tempo. Lembrei-me da importância desse espaço para minha família. Nas reuniões, nós, as crianças, éramos acomodadas em uma mesa menor – um ensaio para a vida adulta. A lembrança me fez refletir. Tão central para as famílias, a sala de jantar passou os últimos anos um tanto esquecida, como se recoberta por uma fina camada de poeira alegórica, lá depositada pela negligência imposta por um novo ritmo de vida, mais acelerado. É como se, infelizmente, as famílias contemporâneas não mais dispusessem do tempo alongado que uma reunião em torno de uma mesa requer. Em casa, os múltiplos afazeres resultavam em almoços e jantares ligeiros sobre o colo, não raramente num sofá em frente à TV, o que é lamentável, até porque dessa maneira acaba-se comendo além do apetite. Por tudo isso, a vida moderna parecia querer aposentar precocemente a sala de jantar. Aos poucos, ela foi caindo em desuso, até que…
Até que a pandemia, por vias tortas, tratou de revaloriza- la, depois que o confinamento prolongado fez com que as pessoas prestassem mais atenção ao ambiente doméstico. Hoje, a sala de jantar, se não é mais apenas um altar dedicado às refeições, está sendo reinventada. Acabou se transformando em uma extensão da sala de estar, mas com funções ampliadas. Ali também se trabalha e, em casas com crianças, é ainda um lugar de aprendizado. Em alguns momentos, laptops, blocos, canetas, celulares e livros espalhados sobre a superfície são um lembrete do home office. O nome do jogo é versatilidade.
Essa segunda vida da mesa da sala de jantar, por assim dizer, mantém o essencial do propósito a que serviu durante séculos, que é conectar pessoas, ao criar condições ideais de diálogo, um dos pilares da civilização. A nova mesa resguarda o atributo de juntar gente ao redor de um objetivo comum, que pode ser fazer uma refeição, pôr a conversa em dia ou aprender uma lição. A sala de jantar continua sendo, portanto, um local de troca – de ideias, de experiências. Em relação a esse móvel, não deveria caber o sentimento de melancolia por um passado que não se repete. Melhor é olhar para a frente – para o “presente das coisas futuras”, como dizia Santo Agostinho, para quem só o tempo presente existe de fato (para ele, o passado seria o “presente das coisas passadas”).
Uma boa dose de criatividade sempre ajuda a identificar uma solução naquilo em que mentes acomodadas só veem um problema. Às vezes basta uma pequena adaptação. Uma cristaleira pode ser também uma estante, com livros e taças convivendo harmonicamente. Uma cadeira pode ceder lugar a uma poltrona confortável. Ring lights descolados podem destronar lustres pesados. As coisas mudam de lugar, mas não devemos perder de perspectiva aquilo que realmente importa. Num momento em que nossa rotina é menos engolida por deslocamentos e imprevistos, saborear minutos a mais na companhia de pessoas queridas é um luxo possível que não deve ser desperdiçado.
ESTUDO INDICA PERDA DE PESO PARA DETER O DIABETES TIPO 2
Pesquisadores propõem novo protocolo de tratamento diante do êxito do emagrecimento na regressão da doença
Um estudo recém-publicado pela prestigiosa revista científica The Lancet faz uma das propostas mais ousadas já vistas na área da endocrinologia nos últimos anos: mudar o protocolo de tratamento do diabetes tipo 2, doença que acomete 16 milhões de pessoas no Brasil. O grupo de pesquisadores recomenda que, em vez de remédios, como se faz de rotina, o médico indique como primeira conduta a perda de pelo menos 15% da gordura corporal. Os resultados da pesquisa afirmam que a taxa de emagrecimento é capaz de retardar o progresso da doença, evitar complicações e, em muitos casos, revertê-la.
Entre os especialistas que assinam o trabalho está o médico brasileiro Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
“O que nós sugerimos é que o primeiro degrau no tratamento seja a perda de peso. Hoje, isso é pouco valorizado em todas as diretrizes pelo mundo, é sempre o remédio primeiro. Nós não somos contra a medicação, mas acreditamos que uma intervenção sobre o peso pode promover benefícios a vários pacientes, prevenir complicações e tratar outras doenças associadas a ele”, diz.
EFEITO DIRETO
Os benefícios foram notados depois do acompanhamento de um grupo de pessoas com sobrepeso que pesavam em média 100 kg, e que desenvolveram o diabetes tipo 2 há menos de 6 anos. Cerca de 70% dos participantes que perderam 15 kg ou mais nos dois primeiros anos, ou seja, 15% do peso, apresentaram remissão da doença.
A ideia da nova conduta será apresentada no Encontro Anual da Associação Europeia para Estudos da Diabetes (EASD).
Doutor em endocrinologia e metabologia pela Universidade de São Paulo (USP), Antônio Carlos do Nascimento explica como o sobrepeso é capaz de provocar e agravar o quadro do diabetes tipo 2.
“O acúmulo gorduroso libera substâncias que interferem na ação da insulina no organismo. Ou seja, quando o hormônio tenta entregar a glicose que está no sangue para as células. Essa dificuldade faz com que o pâncreas se esforce em fabricar mais insulina para compensar, o que leva ao exaurimento da capacidade do órgão em secretar o hormônio”.
Segundo Cohen, a perda de gordura visceral sempre ajuda no tratamento:
“Para todo paciente que tem diabetes, a perda e a manutenção do peso baixo, além de tudo, diminui a resistência dos tecidos e do fígado à ação da insulina. Claro que é mais impactante para aquele paciente que tem sobrepeso, mas mesmo os mais magros podem se beneficiar da conduta.
O trabalho da Lancet aponta ainda que a ajuda de remédios e cirurgias para a perda de peso proporcionaram benefícios imediatos no tratamento da doença.
A cirurgia bariátrica reduz a necessidade de remédios para o controle da glicose dias após o procedimento, além de melhorar outros indicadores a longo prazo, como colesterol e pressão alta.
Para Cohen, dieta e exercício físico ajudam no processo de perda de peso e prevenção do aparecimento da doença. No entanto, o médico ressalta que as intervenções medicamentosas e cirúrgicas podem proporcionar resultados melhores e mais rápidos.
“O fato é que mudanças de hábitos como dieta saudável e exercícios podem prevenir contra a obesidade. Contudo, depois do ganho de peso, é mais difícil restabelecer o corpo inicial apenas com mudanças comportamentais”, ratifica Nascimento.
As estatísticas ajudam a entender o raciocínio. Dos 40 milhões de brasileiros que hoje estão na batalha contra os quilos a mais, 16 milhões não conseguem perder peso apenas com mudanças no estilo de vida. Os motivos vão desde questões genéticas à dificuldade imposta por rotinas desregradas com carga estra de trabalho.
Nascimento explica ainda que a perda de peso é resultado de um balanço energético negativo, ou seja, o gasto calórico tem de ser maior que a quantidade de calorias ingerida, sempre. Para isso, além da prática de exercícios físicos, é preciso uma dieta balanceada que evite os alimentos gordurosos:
“A dieta também tem um impacto direto nos mecanismos do diabetes. Ela deve ser composta por pouco carboidrato de absorção rápida, como açúcares, para não golpear o pâncreas solicitando grandes produções de insulina. Por isso, os alimentos integrais são as melhores escolhas, pois são absorvidos lentamente”, explica o médico.
QUEIMA DE CALORIAS
Quanto aos exercícios, o endocrinologista ressalta que os aeróbicos, aqueles de longa duração que usam o oxigênio como principal fonte de energia, são os melhores para queimar calorias, como a prática de correr, nadar e pedalar.
Mas os exercícios isométricos, aqueles que promovem contração muscular sem que haja a realização de movimentos, como a prancha abdominal, podem também melhorar a ação da insulina.
HOSPITAIS TÊM ALTA DE TENTATIVAS DE SUICÍDIO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Estudo da USP mostra que 36% desse público apresentaram depressão e ansiedade na pandemia
A estudante I, 17, está há um mês e meio em internação domiciliar após uma série de automutilações. Os ferimentos, escondidos sob as roupas, passaram despercebidos por algum tempo pela família até que o pai os descobriu no início de maio, ao entrar repentinamente no quarto da filha.
“A solidão da quarentena mexeu comigo. Acho que o fato de a gente ficar muito tempo dentro de casa, sem ver as pessoas, os amigos, influenciou bastante. Mas tem muita coisa minha também, como autoestima baixa, aceitação da minha sexualidade”, conta. A garota relata que nos meses que antecederam os episódios de automutilação já se sentia deprimida. “Eu queria só ficar deitada o dia inteiro, sem tomar banho, sem vontade para estudar ou comer. Não via mais sentido em nada,” Atualmente, I é acompanhada por um psiquiatra, toma ansiolítico e antidepressivo e faz terapia. “No começo, achava que não adiantava nada, não via mudança nenhuma. Agora já me sinto melhor. Falar sobre isso também me ajuda, percebi que muita gente se importa comigo”.
A economista Renata, 51., mãe de I., conta que quando descobriu as automutilações se sentiu culpada e desesperada . “Me perguntava : ‘Como não percebi isso antes? Onde é que eu estava’”.
Até acertar o tratamento psiquiátrico, foram semanas de angústia. “Tive que esconder todos os objetos cortantes, estiletes, compasso, gilete. Chegou um momento em que ela começou a quebrar copos para se cortar. Foi desesperador: Eu não dormia mais. Passava 24 horas de olho nela”.
Casos parecidos aos de l se tornaram frequentes em hospitais pediátricos e consultórios de psiquiatras infantis. Por trás da maioria dessas histórias, estão sintomas de depressão e ansiedade.
Um estudo da USP, ainda não publicado, que acompanhou por meio de um painel online a rotina de 6.000 crianças e adolescentes brasileiros durante o primeiro ano da pandemia, constatou que 36% deles apresentaram sinais de depressão e ansiedade.
Em outros países, como EUA e Reino Unido, pesquisas que utilizaram metodologia semelhante identificaram, durante a pandemia, uma prevalência de sintomas depressivos de 25% nessa população.
Já dados da literatura científica apontam que cerca de 20% dos jovens apresentam ao menos um episódio depressivo até o final da adolescência.
Para o psiquiatra Guilherme Polanczyk, chefe da unidade de internação do serviço de psiquiatria da infância e da adolescência do Instituto de Psiquiatria (lPq) do Hospital das Clínicas de São Paulo, há muitas solicitações de todo o país para a internação psiquiátrica nesses grupos. O HC tem nove leitos para esse público, que estão sempre ocupados, “São muitas situações de autolesões e tentativas de suicídio que aparecem no hospital e no consultório. Difícil saber se essas situações não surgiriam independentemente da pandemia. Dados dos EUA mostram que, no período, houve aumento na procura de serviços de emergência por essas questões”, explica.
De acordo com Polanczyk os reflexos da crise sanitária no público infanto juvenil são variados. Dependem de vários fatores, como características do indivíduo, situações familiares e suporte recebido. “Tivemos crianças que pioraram muito as suas psicopatologias por conta do isolamento. Para muitos, a pandemia significou a morte do pai, da mãe, ou desemprego deles. Mas para outros significou retirar o estresse do contato social que muitas crianças e adolescentes sentem”.
O psiquiatra Rodrigo Ramos observa que muitos jovens com episódios recentes de autoagressões já tinham sinais prévios e que agora vieram à tona. “A pandemia foi uma espécie de lente de aumento. Ela pegou as angústias e as aumentou muito. Há crianças que já sofriam com uma estrutura familiar desorganizada, por bullying, cyberbullying”.
Em uma semana, diz ter atendido três casos novos de transtornos psiquiátricos> uma garota de 11 anos com anorexia, um garoto de 11 com ideação suicida e uma adolescente de 17 com automutilação. Antes da pandemia, eram três casos novos por mês.
No Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), maior instituição pediátrica que atente o SUS no Brasil, de janeiro a agosto deste ano foram notificados 21 casos de tentativas de suicídio e de autoagressão entre crianças e adolescentes de 10 a 16 anos.
O número representa um aumento de 75% acima do registrado no mesmo período no ano passado, quando foram 12. A maior parte dos casos deste ano (18 deles) se refere às meninas.
Segundo Rosane Moura Brasil, coordenadora do serviço social do Pequeno Príncipe, em comum a maioria desses jovens tem um histórico de depressão e de sentimento de abandono pelos pais.
“Quando acontece (a tentativa de suicídio, os pais dizem: ‘Não entendo porque fez uma coisa dessas. Ele (a) tem tudo’. Tem tudo de material, mas não o que o sustente emocionalmente. Noventa por cento deles não querem acabar com a própria vida, querem acabar com a dor”. diz.
Nem sempre esses casos de ideações e tentativas de suicídios e autolesões estão ligados a transtornos psiquiátricos, como a depressão, na opinião da psicóloga Daniela Carla Prestes, também do Pequeno Príncipe. “Mas sempre há uma situação de sofrimento intenso, que não é legitimada porque o senso comum ainda é o de que criança não sofre”.
Para ela, há muito isolamento dentro das famílias e pouca comunicação, o que faz com que muitas dessas crianças e adolescentes não consigam simbolizar com palavras o que estão sentindo. O caminho, para alguns, acaba sendo expressar no corpo, por meio das automutilações.
“Observamos muitos adolescentes entristecidos, com autoestima baixa, dúvidas e conflitos sobre a sexualidade. Neste momento, em que o isolamento social foi requerido, esses sentimentos acabaram potencializados, diz. O Pequeno Príncipe dispõe de atendimento psicológico ambulatorial após a alta hospitalar. “Muitas vezes não é só paciente. A situação envolve o pai, a mãe, o irmão.”
Conflitos familiares também acabaram sendo exacerbados com o home office dos pais, segundo o psiquiatra Rodrigo Ramos. “Se antes havia uma omissão, agora multiplicou por dois. Os pais estão ali do lado, mas estão tão assoberbados com o trabalho que não dão nenhuma atenção a essa criança ou adolescente.” No SUS, foram notificados 28.542 casos de lesões autoprovocadas envolvendo crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos até setembro do ano passado. Ainda que parciais, os dados indicam uma queda em relação a 2019 (41.373).
Para a medica Fátima Marinho, pesquisadora sênior da Vital Strategies, isso não significa uma redução da incidência dessas violências, mas, sim, uma queda na procura de serviços de saúde durante a pandemia. Também há problemas relacionados à notificação desses casos.
As atuais fichas de notificação não permitem distinguir as tentativas de suicídio de outras lesões autoprovocadas. Há um campo específico em que deve ser especificada a natureza dessa automutilação, mas em um terço dos casos esse campo aparece em branco.
JOVENS E MULHERES SÃO OS QUE MAIS TÊM DEPRESSÃO NA PANDEMIA
Jovens entre 16 e 24 anos e mulheres foram os que tiveram a saúde mental mais afetada durante a pandemia de Covid-19, aponta pesquisa. Entre os jovens, 56% relataram sintomas de depressão e ansiedade. Entre as mulheres, 53%.
Ao todo, 44% dos 2.055 brasileiros entrevistados nas cinco macro regiões do país declararam ter enfrentado esses problemas emocionais. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento faz parte de uma campanha realizada pela Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e Viatris, empresa global de saúde, para o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio.
Há outros indicativos de que o brasileiro está preocupado com a saúde mental. As buscas pelo tema no Google Brasil em 2021 chegaram ao seu maior patamar desde 2006. O tema mais buscado foi ansiedade, seguido de depressão. O Brasil foi o país que mais fez pesquisas por ansiedade em todo mundo desde janeiro de 2021 na plataforma.
São Paulo e Rio de Janeiro encabeçaram a lista de cidades que mais buscaram o assunto em todo o planeta, seguidas por Los Angeles, Londres e Chicago.
Segundo a psiquiatra Alexandrina Meleiro, membro do conselho científico da Abrata, mesmo com esse cenário apontado pela pesquisa e outros estudos sobre o impacto da pandemia na saúde mental das pessoas não há nenhuma ação dos governos federal, estaduais e municipais para o enfrentamento dessa situação.
“Na maioria das unidades de saúde não há atendimento psicológico ou psiquiátrico. As pessoas que procuram esses serviços com sintomas de pânico, de depressão e de ansiedade voltam para casa sem atendimento adequado”. Segundo ela, a atenção primária precisa estar mais bem preparada para fazer o primeiro atendimento e encaminhar os casos caracterizados como urgências psiquiátricas para locais que possam atendê-los adequadamente. “Mas o que eu mais ouço é: “Fui lá e não me atenderam” ou “Fui lá e me mandaram embora.”‘
A pesquisa também mostra que a conscientização dos brasileiros sobre o tema depressão ainda é deficiente. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) considera muito importante oferecer suporte a quem esteja passando pela doença, e 10% não souberam agir diante de um conhecido com depressão.
Dos que passaram por ansiedade ou depressão durante a pandemia, 62.% tinham pessoas com quem contar. Quase todos (96%) concordaram que a rede de apoio favorece a recuperação.
Para Alexandrina Meleiro, cuidar da depressão, do transtorno bipolar e do abuso de substância é forma de prevenir o suicídio.
“Praticamente todos aqueles que tentam ou cometem esse ato têm alguma doença psiquiátrica. As estatísticas mostram que mais da metade deles estavam em acompanhamento médico até uma semana antes do episódio.”
Ela afirma que quem pensa em suicídio quase sempre dá sinais, mas a maioria das pessoas não está preparada para identificá-los. Essa é a segunda causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos no mundo. Idosos, indígenas, LGBTQIA+, médicos, policiais e membros das Forças Armadas também estão entre os grupos mais vulneráveis ao suicídio no Brasil.
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
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