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INFÂNCIA INTERROMPIDA

Brasil já é o 5º país no mundo em número de casamentos de crianças

Ilegal, o casamento infantil e adolescente no Brasil tem sua face mais cruel no Maranhão e Piauí. Em campo para atualizar os dados da pesquisa “Como é ser menina no Brasil”, de 2015, uma ONG que atua em 75 países, a Plan lnternational Brasil, escolheu a cidade de Codó, a 219,7 km de São Luís, para buscar respostas. O que se soube, no último levantamento, é que cerca de 3 milhões de meninas entre 6 e 15 anos no país enfrentavam os desafios de uma vida adulta antes do tempo, antes mesmo de brincar como crianças. Desta vez, o foco do levantamento são as jovens entre 14 e 19 anos.

Os pesquisadores localizaram as mesmas personagens da última pesquisa, além de novas vítimas. O levantamento será concluído em outubro, mas quem está em campo já vê os sinais do triste avanço do número de casamentos precoces:

“Nunca vimos tantos casos como agora (ele trabalha na Plan há doze anos). A gente tem se surpreendido. Sem dúvida, a situação econômica e a pandemia contribuíram para piorar a situação, assim como os casos de abuso e de violência contra a criança”, avalia Flávio Debique, gerente nacional de Programas e Incidência da Plan, em Codó.

Com população estimada em 123.368 pessoas, o município maranhense é miserável, ocupando o 4.352° lugar entre os 5.570 municípios do país no que diz respeito ao salário médio familiar, que lá é de R$ 1, 6 mil. Para Debique, a falta de contato com as escolas e as amigas, nos últimos meses, isolou muitas crianças do mundo. Não à toa, a ONG nasceu mundialmente durante outra pandemia, a da Gripe Espanhola, entre 1918 e 1920, que matou cerca de 50 milhões de pessoas em todos os continentes.

Outro componente que amplia o drama: a fuga para um casamento para escapar de abusos dentro de casa. Como o caso de uma menina, hoje com 15 anos e grávida aos 13, que foi morar com o namorado porque era abusada pelo padrasto desde os 11.

“Neste caso, a gravidez foi a fuga dela. Ela se libertou do padrasto, a mãe denunciou e ele está foragido”.

APROVAÇÃO DOS PAIS

Seguindo os cuidados previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, enviamos perguntas e recebemos áudios de três das jovens entrevistadas pela pesquisa. Em geral, elas se expressam como as crianças que ainda são. Vivendo a realidade de adultos, na pequena Codó, outra jovem, hoje com 16 anos, ficou grávida aos 14.

“A gente se conheceu pelas redes sociais e namora há três anos. Casamos porque fiquei grávida”, conta Claudia*. “A gente não planeja engravidar. Nenhum adolescente deseja engravidar, muito menos casar tão cedo assim. Alguns dizem que só de 18 para frente. Mas às vezes acontece. Tem muita coisa nova acontecendo. Ser mãe nova é difícil, a vida tá meio complicada, mas boa. Não posso passear para muitos lugares. A gente ainda não se casou na igreja e no cartório, só foi morar junto. Eu amo minha filha. E a família dele (o namorado) substituiu a minha família”.

Claudia diz que vai ensinar métodos contraceptivos para a filha, algo que pouco conhecia quando engravidou. O plano inicial, que era ser advogada, pode mudar para outro, como ser policial, enfermeira ou veterinária:

“Agora fico muito impressionada com uma mulher sendo juíza. Fico inspirada”.

No país, nem com a autorização dos pais adolescentes menores de 16 anos têm direito ao casamento civil e religioso, desde a aprovação da Lei 13.801, de 2019, que alterou o artigo 520 do Código Civil.

De posse do cargo de desembargadora no Rio de Janeiro desde a semana passada e juíza que se especializou na área de Família, Andréa Pachá lembra que negou autorização a uma menina de 16 que pretendia se casar.

“Em muitos casos, vemos que a família quer resolver a violência de uma gravidez precoce com o casamento. A lei hoje não impede que uniões precoces continuem acontecendo. Mas (a decisão) vai criando a percepção simbólica de que casamento não é cura”, observa Andréa Pachá. “Conversei sobre o peso daquele casamento com os pais”.

A desembargadora acredita que a ausência da escola durante a pandemia e a falta de contatos com amigos e até mesmo vizinhos impactem no número de casos de violência doméstica e também de uniões precoces por falta de orientação e rede de apoio. Procurada, a assessoria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou que a entidade não se pronunciaria sobreo assunto.

Codó é um microcosmo da pesquisa integral, que está ouvindo 2 mil meninas em todas as regiões do país. O Brasil está hoje no quinto lugar no ranking internacional de casamentos infantis, de acordo os dados do Fundo Nacional para a Infância. Estava em quarto lugar até o ano passado, mas foi ultrapassado pela Etiópia, precedida de Índia, Bangladesh e Nigéria. Estudiosos indicam que, aqui, há uma certa anuência dos pais em relação às uniões.

“Infelizmente temos encontrado muito, nesses últimos tempos, meninas de 13 anos, 14 anos, que engravidaram. Muitas foram morar informalmente com os namorados. Essas crianças jamais poderiam estar casadas. Essas uniões são totalmente proibidas por lei. De fato, elas perderam uma importante rede de proteção com a pandemia. O contato com o mundo exterior é essencial”,  afirma Cynthia Betti, diretora-executiva da Plan International Brasil.

FALTA DE OPÇÕES

Apesar de concentrado em regiões mais pobres, o drama se espalha Brasil afora. Promotora de Justiça e coordenadora do Centro Operacional de Infância do Ministério Público de São Paulo, Renata Rivitti relata casos semelhantes em seu estado. Para ela, o primeiro e crucial problema é que é uma questão “altamente invisibilizada”.

“Tem alta relação com a vulnerabilidade social. Quando pensamos em países da África e na Índia, por exemplo, estamos falando de rituais, muitos religiosos. No Brasil, se dá como se fosse a naturalização de uma escolha. E não é. Em muitos casos, é falta de opção”, diz Rivitti.

Em grande parte dos casos, as mães das adolescentes também engravidaram quando eram crianças – o que acaba naturalizando a situação em família. Em outros, o abuso é tolerado. Um dado: quase todos os maridos são adultos.

“A avó dele era vizinha da minha avó. Aí a gente decidiu morar junto porque ele morava muito longe da casa da mãe dele. Nós pegamos essa responsabilidade. Meu sonho é ter minha casa, para colocar meu filho dentro. E vou dizer a ele que tudo é muita responsabilidade”, relata Flávia*, que se uniu ao marido aos 14 anos e citou a palavra “responsabilidade” seis vezes.

A história contada por Silvia*, outra “noiva” que se tornou mãe no ano pandêmico de 2020, também traz componentes dramáticos:

“Sempre é melhor antes de namorar, de casar, realizar alguns sonhos que a gente tem. A gente se conheceu e dois dias depois já estávamos namorando. Voltei pra casa dos meus pais, mas apanhei da minha mãe, acabei fugindo. Vim passar o Natal com ele e fui ficando. Aí veio a Natália*(a filha) e os sonhos mudaram. A gente tem que pensar nela. Se dedicar. Eu não posso nem estudar. Alguns sonhos a gente tem que deixar pra trás”, conta Silvia, que se uniu ao namorado aos 16 anos. Os pais da jovem não concordaram com o casamento.

“Nenhum pai quer que os filhos casem tão novos”, afirma Silvia.  “Ser mãe e esposa jovem é muito complicado. Algumas coisas que a gente desejava fazer a gente não faz mais. A gente planejava tanta coisa…”.

A promotora Renata Rivitti corrobora a visão de que a pandemia agravou o cenário do casamento infantil:

“O momento aumentou muito tudo isso. Há muito mais litígios, brigas familiares. Aumenta o número de meninas em busca de socorro. O “casamento” acaba parecendo uma saída. Em geral não é”.

* Nomes fictícios.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 30 DE SETEMBRO

AMIGOS SANGUESSUGAS

Ao generoso, muitos o adulam, e todos são amigos do que dá presentes (Provérbios 19.6).

A lei da sanguessuga é: dá, dá. A sanguessuga gruda no nosso corpo apenas para sugar nosso sangue. Ela se alimenta da nossa seiva e se abastece da nossa vida. Há pessoas que se acercam de nós e nos cobrem de elogios, adulando-nos com palavras doces, apenas para receber algum proveito pessoal, para tirar alguma vantagem, para ganhar algum presente. São pessoas egoístas e mesquinhas. Não estão interessadas em você, mas no que você tem. Não amam quem você é, mas o que você pode oferecer. Tentam comprá-lo com bajulação. São sedosas nas palavras, estratégicas nos elogios, mas falsas nas motivações. Querem aninhar-se debaixo de suas asas. Querem viver seguras sob a proteção de sua sombra. Desejam seus presentes mais do que sua presença. Querem seus bens mais do que o seu bem. Querem o que você tem, não quem você é. São sanguessugas, e não amigos. São aproveitadores, e não camaradas de jornada. São indignos de sua companhia, e não parceiros de seus sonhos. O rei Salomão nos alerta para o fato de que todos procuram agradar às pessoas importantes; todos querem ser amigos de quem dá presentes. A prudência nos ensina a não engrossarmos as fileiras desse grupo. Não devemos dar guarida a esse bando de aproveitadores nem nutrir em nosso coração esse sentimento vil.

GESTÃO E CARREIRA

CUIDE DO SEU TIME E ELE CUIDARÁ DOS SEUS CLIENTES

Você se lembra das vezes em que se irritou esperando na linha de telefone para ser atendido, dos longos formulários para preencher e da ansiedade em ter que ficar repetindo seus dados pessoais cada vez que era passado de área em área? Pois é, as experiências negativas ficam conosco, e não só para os clientes como também para as equipes que trabalham na ponta do atendimento

A pesquisa CX Trends 2021 mostrou que 75% dos times de atendimento nas empresas latinoamericanas estão se sentindo sobrecarregados e mais da metade passou a trabalhar de casa, mudando toda a estrutura e apoio que tinham de trabalho. A pandemia trouxe à tona inúmeros desconfortos e problemas pessoais a todos, mas grande parte do estresse também está relacionado à velocidade com que as empresas tiveram que reestruturar seus times e processos da noite para o dia.

E por que estamos falando dos times de atendimento? A verdade é que a percepção dos clientes sobre uma marca, hoje se embasa muito mais na experiência deles com a marca, especialmente quando precisam conversar com elas para resolver um problema, do que propriamente o produto e o preço.

E quem lida com essa jornada são as equipes de CX e atendimento ao cliente. Se ali falta tecnologia, suporte e processos adequados para atender ao cliente como ele espera, dificilmente ele terá uma boa experiência e continuará com a marca.

1. A INFLUÊNCIA DA LIDERANÇA NA AGILIDADE – O estudo Agilidade em Ação mostra que 82% dos agentes de atendimento na América Latina disseram que suas lideranças consideram a agilidade importante para o sucesso do negócio. Por isso, o primeiro ponto que trago é a importância do envolvimento das lideranças em promover uma cultura que tenha agilidade e o cliente no centro.

E isto é feito criando processos e padrões movidos pela colaboração e pelo compartilhamento de conhecimento. A colaboração continua sendo um desafio para todas as empresas. Hoje, 48% dos agentes na América Latina consideram ainda não possuir as ferramentas necessárias para trabalhar de casa, e sem isto dificilmente a empresa atingirá seus objetivos com o cliente.

Criar um ambiente que facilite a colaboração aberta e o compartilhamento de conhecimento é uma maneira poderosa de melhorar a eficiência da equipe. Por exemplo, se um agente resolve um problema difícil para um cliente, documentar e compartilhar esse esforço pode poupar outros agentes de complicações semelhantes e ajudar os clientes com mais agilidade.

Portanto, escolher tecnologias flexíveis e integradoras que possibilitem o compartilhamento de informações se torna ainda mais importante para lidar com mudanças como foi durante a pandemia.

2. VISÃO DO CLIENTE SEM SILOS – Da mesma forma, é importante que a tecnologia contribua para que a equipe de atendimento tenha uma visão unificada de toda a jornada dos clientes. Se o agente perde tempo para achar uma informação, pedir dados do cliente, passar a demanda entre diferentes áreas e canais para entender o que o cliente precisa, além daquele consumidor ter uma péssima experiência com a marca, a equipe de atendimento e muitas outras áreas perdem produtividade a todo momento.

Na pesquisa Agilidade em Ação, vimos que 37% dos agentes de empresas de médio porte dizem precisar de mais contexto do cliente para oferecer uma experiência melhor. Manter os dados coletados da experiência do cliente em silos entre as áreas é uma oportunidade perdida.

O feedback do cliente e os dados relacionados devem ser compartilhados por toda a sua organização; da equipe de produto ao marketing. Essas informações podem alimentar a tomada de decisões informada e baseada em dados, consequentemente aumentando a aquisição e fidelidade do cliente.

3. OTIMIZANDO PROCESSOS PELA AUTOMAÇÃO E AUTOATENDIMENTO – Além de ter as informações corretas em mãos, os líderes também podem otimizar o trabalho da equipe ao adotar recursos de automação e inteligência artificial. Embora não seja um substituto para os seres humanos, implementar chatbots com tecnologia de IA, por exemplo, ajuda a filtrar os chamados mais simples para que o agente foque nos clientes que querem de fato falar com um atendente humano.

Se uma transferência for necessária, os bots podem fazer com que suas contrapartes humanas se adaptem rapidamente ao contexto e tornar a solução de problemas mais rápida e eficiente. Se a empresa também investe em criar um bom canal de autoatendimento, como Centrais de Ajuda e Perguntas Frequentes, muitos dos problemas mais simples podem ser resolvidos pelo próprio cliente – e o Agilidade em Ação mostra que 61% dos consumidores preferem fazer isso para achar respostas .

4. MANTER-SE À FRENTE DAS MUDANÇAS – Por fim, é preciso treinar as equipes para que possam aproveitar o melhor dos processos e tecnologias disponíveis, e constantemente aprender e se adaptar às mudanças do mercado, da empresa e do cliente. Ter um olhar continuamente atento a todos estes fatores e muitos outros se tornará parte da cultura ágil da empresa e da área de atendimento.

Afinal, agilidade é um músculo que, assim como tantos outros, precisa ser exercitado com frequência para alcançar os resultados esperados da equipe e consequentemente em toda a experiência que o cliente terá com a sua marca.

*** FÁBIO GONÇALVES – É consultor de Soluções da Zendesk Brasil.

EU ACHO …

O DESAFIO

Vou desafiar meus leitores e minhas leitoras. É um convite a uma posição mais científica na formulação de opiniões. Meu texto de hoje tem dois objetos: um é de memória de um centenário, outro é uma metodologia de pensamento.

Começo pela metodologia. O pensamento científico tenta enfrentar o que for “preconceito”. Dentre muitos sentidos, a palavra indica um conceito surgido antes da experiência, algo que está na cabeça sem observação da realidade. O indivíduo é um evangélico fervoroso e, por causa da sua fé, evita ler um bom texto do papa Francisco, por exemplo. Obviamente, o mesmo ocorre com o católico convicto em relação a outros credos. Também Freud, Adam Smith ou Marx são precedidos de muitas informações de segunda mão. Sempre houve mais nieczschianos do que leitores de Nietzsche, mais freudianos do que examinadores dos textos do médico austríaco.

Existem, por fim, os que conhecem algo de uma referência, porém apenas tomaram contato com trechos, excertos, frases perdidas. Talvez Platão e a Bíblia sejam as vítimas mais frequentes desse mal. Como na parábola dos cegos que apalpam um elefante, uns imaginam que a forma do mamífero seja de uma espada por tocarem no marfim, outro afirma ser uma parede por tocar seu abdômen e um terceiro garante que é uma mangueira por ter encostado, exclusivamente, na tromba.

Passemos ao centenário e à união dos dois temas. A 19 de setembro de 1921, ou seja, há cem anos, nascia o recifense Paulo Reglus Neves Freire. Filho de uma classe média urbana (o pai era militar), enfrentou dificuldades, porém seguiu o curso de Direito e começou a lecionar português. Seu olhar agudo tocava em um grande problema do Brasil: a alfabetização de adultos. Os métodos tradicionais causavam desistência. Apenas para dar uma breve indicação do tamanho do desafio: em 1906, de cada mil habitantes do Estado de Pernambuco onde Paulo Freire viria a nascer, 193 eram alfabetizados e 807 analfabetos. Os números podiam ser ainda mais desanimadores (168 alfabetizados em mil na Paraíba) ou subir um pouco mais (247 alfabetizados por mil em São Paulo). Apenas no Distrito Federal a área aproximada da então capital, Rio de Janeiro, a alfabetização ultrapassava 50% da população (519 em mil). Éramos um país rural e com poucos leitores. Deixamos de ser um país rural…

O quadro foi mudando lentamente ao longo do século 20, sem nunca ter conseguido eliminar a gravidade do analfabetismo total e do ainda não calculado analfabetismo funcional. Como construir uma sociedade produtiva e minimamente justa com analfabetismo, letramento imperfeito, dificuldades estruturais de leitura e de interpretação de texto? Abundam alunos defasados na relação idade/ano cursado, desistência e evasão escolar, sucateamento material da escola pública e a evidente falta de um projeto nacional consistente e contínuo sobre a educação. O quadro como via o jovem Paulo Freire e a nós, cem anos depois…

A questão tinha tocado fundo em Anísio Teixeira (1900-1971), um dos mais influentes pensadores da educação pública brasileira. Um dos livros do baiano de Caetité apresenta como título quase um programa permanente: Educação Não É Privilégio.

Há muitos outros educadores. Paulo Freire é um deles. Ele concebeu um modelo de alfabetização novo. Partiu do universo dos alunos em um célebre experimento com cortadores de cana. Usando uma palavra em voga hoje, empoderou os alunos que deixaram de ser receptores passivos de uma escola informativa, baseada na memória e com autoridade do professor. Escreveu sobre suas experiências, inclusive sobre alguns fracassos que motivaram aperfeiçoamentos no método.

Paulo Freire tem muitos livros. Seu método chamou a atenção de intelectuais na Europa e nos EUA. O livro Pedagogia do Oprimido, obra básica para conhecer seu pensamento, é traduzido para quase todas as línguas. Sei da importância do livro, porém o meu preferido é Pedagogia da Esperança. É o intelectual brasileiro mais citado na área de educação nos grandes centros. Cerca de 40 instituições universitárias de peso deram a ele o título de Doutor Honoris Causa. Exemplos? Genebra, Bolonha e Barcelona. Foi professor-visitante em Harvard. Um brasileiro debatido e estudado no mundo todo. Não por acaso, é o patrono da educação brasileira.

Comecei falando do caráter pouco científico de julgar sem ler. Depois falei do centenário de Paulo Freire. Tenho encontrado defensores e detratores apaixonados da obrado recifense. Encontro bem menos leitores. Lanço o desafio cheio de esperança no centenário dele: antes de defender ou atacar Paulo Freire, leia dois livros dele ao menos. Pouco eu sei, porém, um começo. Depois de ler e examinar a obra, talvez alguns dados biográficos dele. Por fim, livremente, sendo você de esquerda ou de direita, emita sua sagrada opinião, agora com certo embasamento.

Educação é algo muito sério. Paulo Freire encarou o gravíssimo drama do analfabetismo. Hoje vivemos outro tipo de drama: pessoas que possuem a capacidade de ler e se recusam a fazê-lo. Freire dizia que a esperança é um ato revolucionário. Acredito nisso.

*** LEANDRO KARNAL

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COM A CABEÇA FEITA

Estudo mundial constata o aumento explosivo de sintomas de ansiedade e depressão entre crianças e adolescentes, resultado direto dos efeitos perversos da pandemia

As crianças e adolescentes vivem uma contradição nesta pandemia. Se eles são mais resistentes à ação nefasta do vírus do que os adultos, suas mentes estão entre as vítimas preferenciais do cenário atual. Um dos mais completos estudos já realizados sobre os efeitos da Covid-19 na saúde psicológica identificou o aumento explosivo de sintomas de ansiedade e depressão entre jovens, considerando desde a primeira infância até pouco antes de se tornarem maiores de idade. O levantamento coordenado pela Universidade de Calgary, do Canadá, compilou informações de 29 estudos que abordaram os desígnios mentais de 80.000 pequenos participantes de diversas partes do mundo, inclusive da América do Sul. O porcentual de jovens ansiosos saltou de 11,6% antes da pandemia para 25,2% agora – trata-se de um aumento superior a 100%. Para ficar claro: um em cada quatro jovens desenvolveu algum tipo de ansiedade enquanto o novo coronavírus se multiplicava pelo mundo. Os depressivos eram 12,9% nos tempos pré-Covid e são 20,5% atualmente.

A juventude é um período único da vida. Nessa fase, são comuns rompantes de felicidade entremeados com momentos de angústia, tudo junto e misturado em uma sinfonia de pensamentos típicos da tenra idade. Os psicólogos dizem que, nesse período mágico, os jovens precisam de rotina, ordem e equilíbrio – tudo aquilo que a pandemia aniquilou de forma repentina. A vida ficou imprevisível, cheia de incertezas. Com as restrições de circulação, o convívio social foi abruptamente interrompido. Amigos de escola, colegas de clube, parceiros de baladinhas para os adolescentes, todos eles saíram de cena, e a tela do smartphone, computador ou TV passou a ser, durante uni bom tempo, o único ponto de contato com o mundo lá fora. “Estar socialmente isolado, afastado dos amigos, das rotinas escolares e das interações sociais revelou ser muito duro para os jovens”, diz Sheri Madigan, uma das autoras do estudo.

Os meses de isolamento foram, de fato, terríveis. Rejane Tardelli, mãe de Maria Fernanda, de 12 anos, e João Guilherme, de 14, identificou uma mudança negativa no humor dos filhos desde o começo da pandemia. Para entender o problema, ela agendou consultas com uma psicóloga para toda a família – e, sim, a crise se devia ao isolamento imposto pelo vírus. Maria Fernanda conta que, com a suspensão da escola e das aulas de futebol, tênis e skate, a vida piorou. “Fiquei mais triste mesmo”, resume a garota. Ela teve de trocar o contato com amigos e colegas por brincadeiras com o cachorro e mais tempo on­line, em sites como o YouTube.

A volta às aulas pode ser um antídoto contra a ansiedade e a depressão. As escolas obviamente favorecem o contato próximo entre os jovens, mas elas também estão atentas aos incômodos mentais. Segundo Claudia Santos Ferreira, psicóloga do Colégio Pensi, no Rio de Janeiro, a procura dos estudantes por conversas ou atendimentos cresceu de modo significativo desde o começo da pandemia, inclusive entre crianças com menos de 10 anos. “Entre nossos alunos, aumentaram muito as queixas daquilo que os menores chamam de tristeza e os mais velhos, de depressão”, afirma Claudia. “Eles têm falado frequentemente sobre dificuldades nas relações com os colegas, da sensação de isolamento e do frequente desinteresse pelos estudos.”

O fenômeno é notado em diversos colégios. Meire Nocito, diretora educacional do Visconde de Porto Seguro, de São Paulo, reforça o papel vital do retorno às aulas presenciais. “Na escola, o jovem tem autonomia, ao contrário do ambiente doméstico, onde fica muito vinculado à família”, diz. “Em tempos de pandemia, ele precisa estar em um lugar onde aprende a lidar sozinho com conflitos.” Brae Anne McArthur, uma das pesquisadoras que conduziu o estudo da Universidade de Calgary, concorda com esse ponto de vista. “Sabemos que jovens se dão bem com rotinas claras”, diz. “Por isso, o retorno à escola e a atividades extracurriculares é muito importante, podendo acrescentar mais pontos de apoio à saúde mental de crianças e adolescentes.”

A história ensina que as grandes crises costumam ser devastadoras para as novas gerações. Durante a II Guerra, crianças da então Prússia Oriental foram separadas de suas famílias e, para escapar da morte, vagaram por florestas durante meses. Devido aos hábitos selvagens que acabara1n adquirindo , recebera1n o apelido de crianças-lobo. Durante anos, esses ex- andarilhos, mesmo depois de reintegrados à sociedade, conviveram com os danos psicológicos provocados pela experiência traumatizante. Um famoso estudo dessa época reforçou a importância da manutenção de laços familiares. Durante os confrontos, milhares de crianças foram retiradas de Londres e outras cidades para morar em lares adotivos no interior da Inglaterra. Segundo a pesquisa, os jovens que ficaram com suas famílias, mesmo debaixo de bombardeio, eram mais “felizes” – na medida do possível, ressalte-se – do que os exilados.

O curioso é que, na pandemia do século XXI, muitos laços familiares foram revigorados graças ao confinamento forçado. Para muitas famílias, o período dentro de casa ajudou a aproximar pais e filhos. “Algumas crianças relataram que essa fase trouxe aspectos positivos e oportunidade de crescimento”, diz Guilherme Polanczyk, psiquiatra de crianças e adolescentes e professor da USP. Isso certamente ocorreu em muitos lares, mas o quadro geral mostra que a pandemia provocou estragos que deverão ser duradouros. Na psicologia, um evento traumático ocorrido hoje vai reverberar apenas amanhã, em um processo que pode levar meses ou anos. Seja como for, apenas o futuro será capaz de dimensionar o real estrago provocado por um vírus que obrigou a sociedade a se reorganizar, alterando hábitos enraizados. É certo que as crianças e adolescentes sofreram, só não se sabe exatamente quanto. Mas é certo também que vão se restabelecer.

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