POESIA CANTADA

METADE

OSWALDO MONTENEGRO

COMPOSIÇÃO: OSWALDO MONTENEGRO. 

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade, não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é plateia
A outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também

OUTROS OLHARES

PEQUENINO, MAS LUCRATIVO

As redes registram cada vez mais influenciadores mirins, que ganham fama e dinheiro com o estímulo dos pais. Os especialistas alertam para os perigos

Aos 3 anos, o menininho de bochechas fartas e sorriso fácil acomodado na cadeira infantil do carro ensaia um “eu te amo” em inglês para a mãe, que registra, eufórica, aqueles segundos. O vídeo, como quase tudo em que Noah Tavares estampa o rosto, viralizou entre o seu recém alcançado 1 milhão de seguidores no Instagram e os mais de 5milhões que acompanham suas variadas gracinhas no TikTok. Administrada pela mãe, a farmacêutica Frécia Tavares, 33 anos, a bio de Nonô, como ficou célebre, informa que ele é “uma pessoa pública”. E como. “Comecei a postar fotos dele quando era um bebezinho e me surpreendi com o sucesso”, conta Frécia, cuja determinação acabou transformando o filho em um pequeno ás da publicidade – chega a cobrar 4.000 reais por foto postada, divulgando marcas como Coca-Cola, Itaú e Rappi. “Temos uma rotina de gravação praticamente diária”, diz a farmacêutica, que largou o emprego para gerenciar a atribulada agenda. Em tempos pré-web, Nonô seria garoto-propaganda. Hoje é influenciador digital e encorpa a hashtag mini- influencer, já empregada 1 milhão de vezes, e subindo no Brasil.

A quem o aborda – e não é pouca gente – ele se apresenta: “Sou aquele menino famoso da internet”.

A indústria do entretenimento é uma usina de converter fofura e talento precoce em fama desde a mais tenra idade. Um mergulho mais fundo, porém, mostra que o caminho pode ser tortuoso para a criança, que perde contato com a espontaneidade da infância e passa a cumprir um roteiro traçado pelos pais. “Familiares às vezes agem de forma narcisista, expondo os filhos para aparecer através deles”, diz a psicóloga Ceres Araújo, fazendo um alerta para um efeito colateral nocivo: “O excesso de expectativa por parte dos adultos exerce sobre a criança uma pressão que tende a se traduzir em sofrimento”. Diversos nomes estelares penaram depois de estrearem jovens demais, entre eles Michael Jackson, que aos 6 anos cumpria uma maratona de shows e era alvo de castigos físicos do pai-empresário, e Macaulay Culkin, o astro de Esqueceram de Mim, que, revelado aos 4 anos, adentrou a maturidade sem saber lidar com a fama e abandonou as telas.

As redes sociais, sempre elas, deram novos contornos ao fenômeno, com seu potencial de fazer de uma peraltice um sucesso global, muitas vezes oco. E os pais se entusiasmam além da conta. A tentação de exibir todos os passos da prole ganhou até nome em inglês: sharenting, mescla de share (dividir) com parenting (paternidade.) Especialistas reconhecem a complexidade de estabelecer nesse movediço terreno a fronteira entre o razoável e o contraindicado – e o bom senso será sempre um balizador, lembram. Cientificamente, já está comprovado que uma rotina intensa demais no mundo paralelo da internet reduz vivências essenciais para o desenvolvimento. O risco é de a criança se deixar fisgar por imagens fáceis no lugar de afiar raciocínios complexos. “As redes atuam no sistema de recompensa do cérebro infantil como um estímulo positivo, mas não são nem de perto suficientes para enriquecer a linguagem e o pensamento”, afirma o neuropediatra Mauro Muszkat, da Unifesp. A médica Fernanda Kanner, 38 anos, viu a filha Nina, 14, disparar no TikTok, com 2 milhões de seguidores. Notando que o cotidiano virtual fugia do controle, a mãe tomou a dura decisão de encerrar a conta há um mês. “A pseudo fama a fez acreditar que a beleza era o que ela tinha de mais especial. Fiz isso para o seu bem”, justifica a médica. Quando o dinheiro entra na equação, a probabilidade de um desequilíbrio na rotina infantil se eleva. “Sempre houve crianças aparecendo em propagandas, mas, depois que as mídias tradicionais passaram a ser reguladas, as redes se tornaram uma opção mais interessante, já que ali as regras não estão plenamente definidas”, explica a antropóloga Solange Mezabarba. Desde 2014 uma norma do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente proíbe que a publicidade infantil seja dirigida diretamente aos pequenos, mas nem sempre é trivial discernir brincadeira de propaganda. A sutileza se revela, por exemplo, em situações como o unboxing, em que o mini- influenciador vai abrindo uma caixa e de lá retira “produtos-surpresa”, como roupas e brinquedos, tudo à venda. Na segunda-feira 23, nove empresas foram denunciadas ao Ministério Público da Bahia pelo Instituto Alana por prática de publicidade infantil irregular. “Acriança percebe o influenciador mirim como um amigo, não como um ator, e aí está o problema”, explica Isabella Henriques, diretora-executiva do Alana. No fim de 2020, a fabricante de brinquedos Mattel foi condenada a pagar 200.000 reais por danos morais coletivos, após o Tribunal de Justiça de São Paulo considerar que a empresa fez publicidade indireta ao contratar uma criança com canal no YouTube para divulgar uma marca de bonecas. A Mattel diz “garantir a ética, a qualidade e a verdade em sua comunicação”.

A lei brasileira determina que filhos não podem se tornar responsáveis pelos rendimentos da família, o que é frequente no universo dos influencers mirins. “O Estado e os pais também devem zelar pelo que é melhor para a criança”, frisa Glicia Salmeron, presidentedaCo1nissão dos Direitos da Criança da OAB. A especialista em turismo Patrícia Yamazaki, 43 anos, deixa a filha, Maria Eduarda, de 8, gravar anúncios (ela é embaixadora de grifes conhecidas de roupas e contabiliza 73.000 seguidores). Mas impõe horários, acreditando que assim a menina segue uma trilha saudável. “Só marco trabalhos aos sábados e domingos. Não quero que ela se deslumbre com o mundo digital e deixe de se empenhar nos estudos”, diz a mãe. Todo o cuidado é pouco nesse campo de tantos e variados estímulos.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 20 DE SETEMBRO

O CORAÇÃO SE ALIMENTA DA BOCA

Do fruto da boca o coração se farta, do que produzem os lábios se satisfaz (Provérbios 18.20).

Há uma estreita relação entre o coração e a boca. A boca fala o que procede do coração, e o coração se alimenta do que a boca fala. O coração é a fonte, a boca, os ribeiros que fluem dessa fonte. Sendo a boca o veículo do coração, é também o celeiro que o alimenta com o melhor das iguarias. Quando a boca diz palavras sábias, bondosas, edificantes, o coração se satisfaz com o que produzem os lábios. Palavras verdadeiras, oportunas e cheias de graça sempre alegrarão o coração. Essas palavras abençoam não apenas quem as ouve, mas também quem as profere. Essas palavras alimentam não somente o coração dos ouvintes, mas também o coração daqueles que as proclamam. Como é bom ser portador de boas-novas! Como é bom ser instrumento de Deus para consolar os tristes! Como é bom abrir a boca para falar a verdade em amor e encorajar as pessoas diante dos dramas da vida! Quando plantamos sementes na vida dos outros, nós mesmos colhemos os frutos dessa semeadura. Quando plantamos boas sementes na lavoura do nosso próximo, vemos essas mesmas sementes florescendo e frutificando em nosso próprio campo. Bebemos o refluxo do nosso próprio fluxo. As bênçãos que distribuímos para os outros caem sobre a nossa própria cabeça.

GESTÃO E CARREIRA

 HERDEIROS ESG REVOLUCIONAM EMPRESAS FAMILIARES

Chegada de ‘millennials’ ao comando dá ênfase a metas ambientais, sociais e de governança

Não é mera coincidência a ascensão sincronizada dos millennials no comando de empresas familiares e da sigla em inglês ESG, ou ASG em português – Ambiental, Social e Governança. Forjados em uma educação globalizada já sob ansiedade climática, herdeiros têm sido a força motriz por trás da adoção de boas práticas socioambientais em empresas fundadas por antepassados com outros valores. As trajetórias são variadas e nem sempre lineares -afinal, cada família é ESG à sua maneira – , mas os que chegam se parecem e são cada vez mais verdes.

Aos 35 anos, Alex Seibel é da terceira geração de uma família judaica polonesa que se estabeleceu no Brasil no entre- guerras, fugindo do antissemitismo. Seu avô Bernard chegou a São Paulo adolescente, aos 14 anos e acabou fazendo carreira no setor moveleiro. Em 1961, comprou a Leo Madeiras, loja de insumos para marcenaria que se tomaria pedra angular de um grupo de negócios familiares.

Em 2009, uma outra empresa dos Seibel, a Satipel, se fundiu com a Duratex, tornando-se uma das maiores fabricantes de painéis de madeira do mundo. A transação representou um salto de ordem de grandeza nos negócios da família. Hoje, os Seibel fazem parte do bloco de controle da Dexco (novo nome da Duratex) junto com a Itaúsa e têm 20% da companhia, fatia que vale R$ 3 bilhões na Bolsa.

Mas a trajetória de Alex, neto de Bernard, começou longe do core business familiar. Em 2012, aos 26 anos, o jovem foi enviado a Porto Alegre para trabalhar na Empório Body Store marca que vendia cosméticos artesanais. Em seguida, a Empório Body Store fez uma joint-venture com a The Body Shop, famosa empresa britânica. Em pouco tempo, a marca da L’Oréal – e que hoje pertence à Natura – compraria a Empório Body Store. Mas a passagem deixou impressões marcantes no herdeiro dos Seibel.

“Foi lá que conheci a trajetória da Anita Roddick, fundadora da The Body Shop e pioneira no uso de produtos de base vegetal e no comércio justo com comunidades locais.

O primeiro resultado dessa experiência foi a Positiva, uma consultoria de soluções ambientais inspirada em conceitos como permacultura e economia circular. Logo, Alex constatou que o modelo tinha pouco alcance e resolveu transformar a empresa em uma linha de produtos de limpeza e higiene pessoal ecológicos. Desde 2015, a Positiva já reciclou 50 toneladas de plástico. A marca está em 500 pontos de venda e é ativa no e-commerce.

CADÊ O DINHEIRO?

A Positiva foi a primeira de uma série de empreendimentos centrados na sustentabilidade. Alex, mais tarde, voltou para o negócio familiar, criando um núcleo de impacto no Family office do clã, o HS Investimentos. Recentemente, assumiu vaga no conselho de administração da Dexco.

“Escolhi atuar na esfera do capital”, explicou Alex.

É justamente aí que o Brasil mais peca, observa Marina Cançado, responsável pela área de sustainable wealth ( patrimônio sustentável) da XP. Diferentemente do que ocorre nos EUA e na Europa, o investimento institucional tem sido um dos pontos cegos do ESG no Brasil.

“Estou positivamente surpreendida na forma como a nova geração está mexendo nos negócios. Falta ainda mexer nos investimentos. Talvez os Family offices locais ainda sejam tocados por pessoas de velha guarda”, especula Marina, ela própria herdeira da rede de farmácias Drogaí, que tem 219 lojas no interior de São Paulo.

NA VANGUARDA

Curiosamente, um dos pioneiros do tema no Brasil foi um banqueiro. Ex-presidente do Real e, posteriormente, do Santander, Fábio Barbosa lembra que era ridicularizado com apelidos como ”banqueiro verde” e “abraçador de árvore” ao abordar a sustentabilidade duas décadas atrás.

“Se minha geração não deixou um Brasil melhor, pelo menos ela deixou filhos melhores. A cada dia sai do mercado um consumidor que achava isso uma bobagem e entra outro que acha isso importante. A cada dia sai do mercado um profissional que escolheu a carreira por salário e entra outro que escolheu por propósito. Isso é motivo de celebração”, resume Barbosa, que é membro dos conselhos de administração do Itaú Unibanco e da Endeavor Brasil.

A mudança geracional é real e global. As estimativas variam, mas calcula-se que até US$ 68 trilhões que hoje pertencem a baby boomers serão herdados por millenials americanos ao longo desta década. Isso vai quintuplicar a riqueza dos jovens que estão ocupando cargos de poder nas empresas.

A sensação de deslocamento leva muitos herdeiros a experimentarem o ESG fora de casa. “Entre 2005 e 2010 eu era universitário e fiz uma espécie de grande programa de trainee dentro da empresa. Chegou um momento em que percebi que não era para eu estar ali”, lembra Pedro Wickbold, de 34 anos, herdeiro de quarta geração da fabricante de pães que leva seu sobrenome.

O plano era sair para empreender. Wickbold trouxe para o Brasil a marca italiana Wewood, cujos relógios são feitos em madeira. A cada peça vendida, uma árvore é plantada. Três anos depois, em2014, Wickbold vendeu o negócio.

“Casei e tirei 2015 para dar uma volta ao mundo com minha mulher. Estivemos em 120 cidades de 37 países. Conheci muita gente, vi muita riqueza e muita pobreza. E voltei encantado com o Brasil, que é um país fantástico, mas cuja desigualdade é abissal. Voltei determinado a retomar o legado da família e, por meio dele, contribuir para mudar isso”, sustenta.

Sua chegada precipitou uma guinada sustentável. Já em 2016, a marca de pães fechou parceria com a rede de negócios sustentáveis Origens Brasil. Por meio dela, a Wickbold passou a comprar castanha-do-pará e farinha de babaçu diretamente de famílias extrativistas da Amazônia. Por meio da Amigos do Bem, a panificadora também está comprando castanha de caju de famílias no sertão nordestino. Essas matérias-primas se transformaram na Linha Raízes, de pães especiais.

“É mais caro, mas demonstra nosso engajamento socioambiental. Adotar essa política é um processo de convencimento desafiador, mas a família sempre foi aberta a isso. E o mais importante é que dá resultado”, afirma o executivo, que assumiu a presidência da companhia no ano passado e criou uma área de sustentabilidade que está calculando a pegada de carbono para traçar um plano de mitigação.

SUCESSÃO NO LUTO

Para Manuella Curti, herdeira da marca de purificadores de água Europa, a chegada ao comando foi abrupta, trágica e envolta em luto.

Em 2010, em um intervalo de apenas seis meses, ela perdeu o irmão e o pai. Aos 26 anos, coube à jovem advogada ocupar o vácuo.

Ao tomar as rédeas da companhia, Manuella diz que começou pelo “questionamento de nosso propósito”, o que desembocou em uma crise de identidade da Europa. Foi a oportunidade para integrar ao negócio uma sensibilidade social e ambiental característica de sua geração, explica:

“Mudar fatores ligados à cultura da empresa sempre são processos mais longos e nem sempre o caminho mais fácil. Na Europa, isso não foi diferente.

Manuella decidiu avançar em políticas como a ampliação do nível de circularidade dos resíduos e maior diversidade na companhia. “É preciso haver conexão entre a geração de valor do ESG e o resultado econômico”, observa.

Mas a maioria dos herdeiros assumem negócios que, em geral, não têm o ESG como prioridade, diz Carlos Mendonça, sócio da PwC:

“Uma pesquisa nossa mostrou que a pauta ESG está lá embaixo nas prioridades. Por isso muitos jovens não querem trabalhar na empresa da família nem têm orgulho desse legado.

Segundo ele, as três maiores prioridades são expandir seus negócios, avançar em tecnologia e melhorar o uso de recursos digitais. Só 39% das empresas têm uma estratégia ESG fundamentada

EU ACHO …

PAÍS MAL-ASSOMBRADO

Somos perseguidos pelos fantasmas que não foram devidamente enterrados

Nessa última semana, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul hasteou em sua sede a bandeira do Brasil Império, como símbolo de reconhecimento aos ideais libertários e de respeito à Constituição. Em 1822, marco da homenagem do órgão aos “ideais libertários”, a população negra era escravizada e seguiu sendo durante a grande parte do século 19.

No Facebook e no WhatsApp, uma corrente de fake News em curso há mais de ano “informa” as pessoas que dom Pedro 2º era um bravo líder que “por mais de 40 anos lutou contra poderosos fazendeiros pela abolição da escravatura”.

Quem quiser ver Pedro 2º na versão romântica, como um líder sensato, que respeitava a população negra no último país a abolir a escravidão na América, basta ver a novela das seis da maior emissora do Brasil.

Somos transportados a um outro país. É engraçado o que uma liberdade de roteirização pode fazer. Como diz um provérbio africano: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, a história da caça glorificará o caçador”. Pessoas negras não detêm concessões públicas, nem poderio econômico para criar suas novelas.

Como nos ensina Chimamanda Adichie em “O Perigo da História Única:” “É impossível   falar sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo igbo, que eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo – ‘nkali’ é um substantivo que se traduz: ‘Ser maior do que o outro’. Como nossos mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do ‘nkali’. Como é contada, quem as conta, quando e quantos histórias são contadas, tudo realmente depende do poder”.

Como vivemos uma história única contada há décadas no país de “Escrava Isaura”, “Sinhá Moça”, “Terra Nostra” e tantas outras produções, os brancos no poder do regime escravista se tornam os mocinhos da história. Nem parece que vivemos no último país da América a abolir a escravidão. Nem parece que foi o mesmo país que massacrou populações negras quilombolas e indígenas, que manteve leis para “inglês ver”.

Seguindo com Chimamanda, “poder é a habilidade de não só contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti escreve que se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar sua história e começar com ‘em segundo lugar’. Comece uma história com as flechas dos nativos americanos, e não com a chegada dos britânicos, e você tem uma história totalmente diferente. Comece a história com o fracasso do estado africano e não com a criação colonial do estado africano e você tem uma história diferente”.

Parece que foi em outro país que o Brasil imperial instituiu como política pública o incentivo da vinda de imigrantes europeus, como forma de branquear a população. Uma política formulada por teóricos do racismo científico, que acreditavam que a população negra era biologicamente inferior à branca.

Ao mesmo tempo, vemos intelectuais ressentidos com o protagonismo negro no debate público, em vez de aceitar que precisam estudar autores negros e abrir mão de falácias argumentativas para justificar seus racismos. O ostracismo deve doer a ponto de se abrir mão da honestidade intelectual para impor aquilo que se quer provar. Realmente a branquitude não se enxerga, pois se recusa a reconhecer os lugares construídos a partir da opressão de outros grupos, a pauperização histórica da população negra que possibilitou a concentração de renda nas mãos brancas, a tentativa de culpabilização de pessoas negras por um sistema que as oprime. É uma total inversão lógica, ética e política.

Como já escrevi aqui, fazendo referência à artista multidisciplinar Grada Kilomba, a escravidão e o colonialismo, enquanto histórias mal- resolvidas, funcionam como fantasmas.

Fantasmas comumente são vistos como aqueles espíritos errantes com fim traumáticos e que ficaram presos ao plano terreno. Seguimos assombrados pelos fantasmas que não tiveram seus devidos fins, não foram devidamente enterrados. Não houve rituais fúnebres condizentes, então eles permanecem, nos assustam, mas a verdade é que sempre estiveram aqui, em um país que se recusa a enfrentá-los.

Temos o fantasma do marco temporal em um país que não respeita os povos indígenas;  o fantasma do golpe em um país que nunca condenou os torturadores da ditadura e ainda os homenageia com nomes de ruas, temos o fantasma do colonialismo, que mata e persegue a população negra e que tenta por algozes como heróis, que faz com que seja possível intelectuais racistas julgarem que sabem teorizar sobre racismo sem investigar seu próprio grupo racial e tantos outros fantasmas que fazem do Brasil um país mal-assombrado.

*** DJAMILA RIBEIRO – Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros “Feminismos Plurais”.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MENTE E MUSICALIDADE

A música está presente em variadas culturas. Não por acaso, a Neurociência tem investigado a relação entre música, emoção e comportamento humano, com o objetivo de compreender os seus benefícios para os seres humanos

A música se faz presente em diversos lugares. É plausível dizer que o canto dos pássaros em um jardim, assim como a queda d’agua de uma cachoeira, configuram cenários repletos de sons musicais. Do mesmo modo que, nos grandes centros urbanos, sirenes, buzinas, ruído de motores, vozes de pessoas que alertam, vendem e orientam também inspiram compositores exercendo influência direta na configuração do cenário musical de uma cidade. Desse modo, tom, melodia, harmonia e ritmo são constantes na vida dos humanos.

Os avanços tecnológicos permitiram descobertas científicas no campo de estudos sobre mente e musicalidade. A Neurociência tem investigado a relação entre música, emoção e comporta­ mento humano, com o objetivo de compreender os benefícios da música para os seres humanos. A música está presente em variadas culturas, sendo produzida por meio de diversos instrumentos que alcançam tonalidades distintas.

Este dossiê apresenta dados sobre mente e musicalidade, musicoterapia, além de relatar o modo pelo qual música e criatividade se conjugam no trabalho realizado por um músico, compositor e psicólogo que se beneficia da música e da criatividade para compor sua identidade enquanto atua profissionalmente em situações de vulnerabilidade social.

EXPERIMENTAÇÕES

O indivíduo entra em contato com a experiência musical na mais tenra idade. Das canções de ninar, entoadas pela mãe, ao ruído da água em ebulição durante o preparo da mamadeira, crianças ouvem uma grande porção de sons logo nos primeiros contatos estabelecidos na relação com adultos. A experiência vivenciada pela criança pode gerar prazer, dentre outras emoções, além de configurar esquemas que englobam regiões do cérebro.

O neurologista britânico Oliver Sacks, autor de diversos livros sobre temas relacionados aos campos da Psiquiatria e Neurologia, reconhecido professor de Neurologia da Columbia University, situada nos Estados Unidos, afirma que a espécie humana é a única a dispor de um cérebro capaz de entender estruturas musicais e ser afetado emocionalmente pelas características impressas nas músicas. Por meio da utilização de avançados recursos tecnológicos, descobriu-se que músicos sofrem significativas mudanças em regiões do córtex cerebral que nunca foram observadas em outros profissionais. Além dessa constatação, observaram-se alterações cerebrais em pessoas expostas a estímulos musicais, ainda que tais pessoas não tivessem habilidades musicais.

Segundo Sacks, a música se apossa de muitas partes do córtex cerebral, o qual se desenvolve quando um ritmo é percebido, aprendido e imaginado. Ele considera a musicalidade peculiar aos seres humanos, quando sustenta que nenhum outro animal é capa de ouvir e distinguir sons complexos, compostos de tons, semitons, ritmos e expressões orais. A percepção musical é, portanto, uma habilidade específica dos humanos e merece atenção da parte de pesquisadores interessados na compreensão da vida humana.

De acordo com Daniel J. Levitin, pesquisador da Universidade McGill, situada em Montreal, Canadá, a música foi e ainda é fundamental ao processo de evolução humana. Trata-se de um recurso indispensável para a vida cotidiana. O referido autor publicou um livro intitulado, A Música no seu Cérebro (2010) (no original, This is your Brain on Music, 2006), para divulgar estudo acerca da interação música, mente, corpo e cérebro. Ele lançou mão de músicas de diferentes estilos, partindo de Johann Sebastian Bach até o rapper norte-americano Eminem, com a finalidade de investigar fatores importantes na definição de gostos musicais. Segundo Levitin, o fato de as atividades musicais mobilizarem quase todas as partes cerebrais corrobora com as críticas ao pensamento dualista que considera a separação entre mente e corpo na compreensão do ser humano. A música é percebida em sua completude a partir de oito parâmetros perceptivos, conforme exposto por Levitin: (1) intensidade, (2) altura, (3) contorno, (4) duração, (5) andamento, (6) timbre, (7) localização espacial e (8) reverberação. Desse modo, as afetações incidem no ouvinte como um todo.

De acordo com Levitin, o ato de ouvir música se inicia nas estruturas subcorticais (núcleos cocleares, tronco cerebral e cerebelo) antes de avançar para o córtex auditivo. Esse modo de compreender a audição é condizente com a crítica que se faz à separação dualista entre razão e emoção, mente e corpo, dentre outras cisões operadas sob a influência do pensamento cartesiano, uma vez que a constatação indica o fato de a audição estar atrelada a diversas partes do córtex cerebral, sem atribuir, portanto, exclusividade ao córtex auditivo. Quando alguém acompanha uma música conhecida, prossegue o referido autor, aciona outras regiões do cérebro, como o hipocampo que está relacionado à memória, além de recorrer às subseções do lobo frontal. Outras regiões são envolvidas quando um músico compõe uma canção, por exemplo. Nesse caso, exigem-se ativações do córtex com o objetivo de se resgatar dados memorizados, mas espera-se que o compositor efetue planejamentos e cálculos que definirão ritmo, velocidade e intensidade musical.

No dedilhar de um violão, ou na digitação dos teclados de um piano, recorre-se ao córtex motor, situado no lobo parietal, bem como ao córtex sensorial que viabiliza percepção tátil. Para se efetuar a leitura de uma partitura, faz-se necessário mobilizar o córtex visual, situado na região do lobo occipital. Além destas regiões, exigem-se capacidades vinculadas à linguagem, o que sugere afetação da área de. Broca, situada nos lobos temporal e frontal. Em suma, a riqueza da música e da musicalidade reside na complexidade de sua natureza.

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