Eu perco o sono e choro Sei que quase desespero Mas não sei por quê A noite é muito longa Eu sou capaz de certas coisas Que eu não quis fazer Será que alguma coisa Nisso tudo faz sentido? A vida é sempre um risco Eu tenho medo do perigo
Lágrimas e chuva Molham o vidro da janela Mas ninguém me vê O mundo é muito injusto Eu dou plantão nos meus problemas Que eu quero esquecer Será que existe alguém Ou algum motivo importante Que justifique a vida Ou pelo menos este instante
Eu vou contando as horas E fico ouvindo passos Quem sabe o fim da história De mil e uma noites De suspense no meu quarto
Eu perco o sono e choro Sei que quase desespero Mas não sei por quê (Não sei por quê) A noite é muito longa Eu sou capaz de certas coisas Que eu não quis fazer Quis fazer Será que existe alguém no mundo?
Eu vou contando as horas E fico ouvindo passos Quem sabe o fim da história De mil e uma noites De suspense no meu quarto Eu vou contando as horas E fico ouvindo passos Quem sabe o fim da história De mil e uma noites De suspense no meu quarto No meu quarto
DESEMPREGO AFETA MAIS MULHER JOVEM E COM POUCO ESTUDO
Levantamento mostra que, de cada 3 desempregados, 2 são do sexo feminino com idades entre 17 e 29 anos e baixa qualificação
O perfil de quem procura emprego há mais de dois anos no Brasil é mulher, jovem e com baixa escolaridade. A cada três trabalhadores desempregados, dois são mulheres. Metade das pessoas que estão desempregadas por muito tempo tem entre 17 e 29 anos. Elas acabam caindo na informalidade ou desistindo de procurar emprego, fenômeno chamado pelos economistas de “desalento”. Do total, 80 % dos jovens desempregados por mais de dois anos têm baixa qualificação. Ou seja, no máximo, possuem nível médio – 38% deles não possuem sequer esse nível de escolaridade.
É o que mostra raio X do perfil do desempregado traçado pela Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia. O levantamento avalia o tempo que o trabalhador está à procura de ocupação para identificar a taxa de desemprego de longo prazo (TDLP). Ela é definida como o tempo de procura por um emprego superior a dois anos.
O quadro de desemprego persistente é considerado de difícil superação porque acaba gerando um efeito de inércia, relacionado à perda de interesse por parte do profissional, e de competitividade, devido à desatualização técnica e tecnológica. Nas crises econômicas, como a causada pela pandemia da covid-19, a situação se agrava.
A divulgação dessa radiografia ocorre no momento em que o governo tenta aprovar no Congresso um pacote que prevê cursos de qualificação dos trabalhadores jovens, afrouxa as regras de contratação e permite até mesmo contratos sem carteira assinada para jovens de 18 a 29 anos e trabalhadores acima de 55 que estejam desempregados há mais de um ano. Não há, contudo, nenhuma medida específica para incentivar a contratação de mulheres. Quanto mais tempo uma pessoa fica desempregada, maior será a perda de capital humano e, consequentemente, menor a chance de ela se recolocar no mercado de trabalho. “Para desenhar uma política de emprego eficiente, temos de entender qual é a composição da taxa de desemprego, em especial, a TDLP”, diz o subsecretário de Política Fiscal, Erik Figueiredo. Segundo ele, problemas históricos que levaram a esse quadro foram agravados na pandemia. O professor de Relações do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP) José Pastore explica que o mercado de trabalho brasileiro ainda está concentrado em empregos relacionados a commodities (produtos básicos, como alimentos e minério de ferro) e serviços de baixa complexidade com milhões de trabalhadores de baixa qualificação – grande parte informais.
No Brasil, 3% dos trabalhadores são analfabetos, 32% têm o ensino fundamental incompleto ou completo, 41% têm o ensino médio incompleto e completo e 24% têm o ensino superior incompleto e completo.
É muito diferente da situação da Alemanha, por exemplo, que exporta quase metade do seu Produto Interno Bruto (PIB), com grande concentração em bens de alta tecnologia, que exigem pessoal altamente qualificado. São automóveis, aviões, computadores, maquinário, instrumentos científicos, produtos químicos, farmacêuticos, tecnologias verdes e serviços técnicos de engenharia, robótica, inteligência artificial e outros. Cerca de metade dos trabalhadores alemães completam escolas técnicas; 10% formam-se como especialistas, tornando-se mestres em sua profissão; 2.2% têm diploma universitário e doutorado; apenas 18% não fizeram cursos profissionais.
“De nada adianta oferecer empregos bons quando não há qualificação, nem ter qualificação se não há bons empregos. Esse é o caso do desemprego de longa duração dos mais educados”, diz Pastore.
REFERÊNCIA
Na nota técnica, foram utilizados os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Continua) referentes ao primeiro semestre de cada ano, para o período 2012-2020. O desemprego de “curta duração” (de até 1 ano), que atingia 5% da população em 2012, cresceu até 8,1% da população no período entre 2014 e 2017. Depois, recuou para 7,3% entre 2017 e 2019 e aumentou novamente em 2020 para 9,5 %da força de trabalho devido à pandemia.
Já o desemprego de longo prazo, por outro lado, apresentou um crescimento constante entre 2014 e 2019, partindo de 1,2% da força de trabalho, em 2014, e atingindo o máximo de 3,2% da força de trabalho em 2019. Em 2020, atingiu 2,6% da força de trabalho. Para a SPE, essa queda pode ser resultado de medidas fiscais e de socorro ao mercado de trabalho adotadas ao longo de 2019 e início de 2020, como o programa que permitiu às empresas cortarem salários e jornada ou suspenderem contratos de trabalho.
“Diferentemente da recessão de 2014 e 2016, o grande movimento negativo no mercado de trabalho durante a pandemia foi a saída de milhões de trabalhadores da força de trabalho”, afirma o economista Fernando Veloso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas. Ele lembra estudo do Banco Mundial, divulgado recentemente, mostrando que crises econômicas têm efeitos persistentes. No caso do Brasil, o impacto sobre emprego e salários do trabalhador médio pode perdurar por nove anos após o seu início, diz o estudo. Veloso ressalta que a pandemia é uma crise dessa natureza, por ter afetado sobretudo os informais e menos escolarizados. Por isso, segundo ele, é possível que a taxa de desemprego de longo prazo tenha aumentado, ao contrário do que indica a nota da SPE.
Águas profundas são as palavras da boca do homem, e a fonte da sabedoria, ribeiros transbordantes (Provérbios 18.4).
A linguagem humana é profunda como o mar, e as palavras dos sábios são como rios que nunca secam. Nossas palavras são profundas porque brotam do coração, e esse é um território desconhecido. Por mais que pesquisemos sobre essa terra distante, jamais chegaremos ao pleno conhecimento a respeito dela. Nosso coração é um universo ainda insondável. O que sabemos é que ele é semelhante a um mar profundo. O que lemos nas Escrituras é que o nosso coração é desesperadamente corrupto e enganoso. Só Deus pode conhecê-lo perfeitamente. Por isso, as palavras que sobem do nosso coração e saltam dos nossos lábios são como águas profundas, cuja fundura não conseguimos medir. As palavras do sábio, porém, são como ribeiros transbordantes, como rios que jamais secam, cujas águas correm dentro do leito, levando vida por onde passam. As palavras do homem sábio são conhecidas. Os rios de água que fluem de sua boca abastecem os sedentos, irrigam a alma aflita daqueles que vivem na sequidão e produzem prosperidade para aqueles que os ouvem. Nossas palavras nunca são neutras. Abençoam ou maldizem. Curam ou ferem. São veneno ou medicina. Carregam a morte ou transportam a vida.
JOVENS NÃO QUEREM VOLTAR PARA OS ESCRITÓRIOS NO CENÁRIO PÓS-PANDEMIA
Conflito de gerações entre eles e colegas que apreciam mais o presencial pode exigir flexibilidade
David Gross, executivo em uma agência de publicidade sediada em Nova York, reuniu seus comandados via Zoom este mês para uma mensagem que ele e seus sócios estavam ansiosos por transmitir: era hora de pensar em voltar ao escritório.
Gross, 40, não estava seguro de como seus empregados, muitos na casa dos 20 e 30 anos, receberiam a ideia. A resposta inicial – um completo silencio – não foi nem um pouco encorajadora. E aí um jovem sinalizou que tinha uma pergunta. “Vai ser obrigatório?”, ele questionou.
Sim, a presença no escritório seria obrigatória três dias por semana, foi a resposta. E foi assim que começou uma conversa complicada na Anchor Worldwide, a empresa de Gross, que está sendo reproduzida no momento em muitas empresas, grandes e pequenas, espalhadas pelos Estados Unidos.
Embora trabalhadores de todas as idades tenham se acostumado a trabalhar de longe e evitar a cansativa jornada de casa para o escritório, os mais jovens desenvolveram apego especial pela nova maneira de operar.
E, em muitos casos, a decisão de voltar opõe gestores mais velhos, que consideram trabalhar no escritório a ordem natural das coisas, a subordinados mais jovens que passaram a considerar o trabalho remoto como completamente normal nos 16 meses transcorridos desde que a pandemia surgiu. Alguns novos contratados jamais foram ao local de trabalho de seus empregadores. “Francamente, eles não sabem o que estão perdendo, porque temos uma cultura forte”, disse Gross. “O desenvolvimento e a produção de trabalho criativo requerem colaboração face a face. É difícil fazer uma reunião de ‘brainstorm’ via Zoom”.
Alguns setores, como os bancos e as companhias financeiras, estão adotando linha mais dura e insistindo no retorno do pessoal, mais jovem e mais velho igualmente.
Os presidentes-executivos de gigantes de Wall Street como o Morgan Stanley, Goldman Sachs e JP Morgan Chase sinalizaram que esperam ter seu pessoal de volta às baias e escritórios nos próximos meses.
Outras companhias, especialmente as de tecnologia e mídia, estão mostrando flexibilidade. Por mais que Gross deseje o retorno do pessoal de sua agência de publicidade, ele se preocupa com reter novos talentos em um momento no qual o giro do pessoal cresce, e por isso deixou claro que existe espaço para acomodação.
“Estamos em um setor verdadeiramente progressivo, e há empresas que adotaram o trabalho completamente remoto”, ele explicou. “Temos de definir a questão em termos de flexibilidade”.
Em uma pesquisa recente do Conference Board, 55% dos entrevistados da geração Y definidos como pessoas nascidos entre 1981 e 1996, questionaram a sabedoria em voltar aos escritórios.
Entre os membros da geração X, nascidos entre 1965 e 1980, 45% tinham dúvidas sobre voltar ao escritório, enquanto apenas 36% dos integrantes da geração Baby Boom, nascidos entre 1946 e 1964, tinham restrições parecidas.
E a ascensão da variante delta do coronavírus, nos últimos dias, pode alimentar a relutância a retornar entre os trabalhadores de todas as idades.
“Entre as gerações, a Y é a mais preocupada com sua saúde e bem-estar psicológico”, disse Rebecca Rey, vice-presidente executiva de capital humano do Conference Board. “As companhias farão bem em oferecer o máximo possível de flexibilidade.”
Matthew Yeager, 33 deixou seu emprego como desenvolvedor de web em uma empresa de seguros em maio, depois que esta o informou de que ele precisava voltar ao escritório, com a elevação dos índices de vacinação em sua cidade, Columbus, Ohio.
Ele limitou sua busca de emprego a oportunidades que oferecessem trabalho remoto, e em junho começou a trabalhar para uma empresa de contratação e recursos humanos de Nova York.
“Foi difícil porque eu realmente gostava de meu emprego e das pessoas com quem trabalhava, mas não queria perder a flexibilidade de poder trabalhar remotamente”, disse Yeager. “O escritório oferece muitas distrações, que são removidas quando você trabalha de casa”.
Yeager disse que gostaria da opção de trabalhar remotamente em quaisquer postos que ele vier a considerar no futuro. “Mais empresas deveriam oferecer oportunidades para que as pessoas trabalhem e sejam produtivas da melhor maneira que podem”, ele disse.
Embora essa divisão por idades tenha levado os gestores a buscar maneiras de persuadir os contratados mais jovens a retornar ao escritório, existem outras distinções.
Muitos trabalhadores que têm filhos ou outras responsabilidades de cuidar de terceiros se preocupam sobre deixar de trabalhar em casa quando os planos de retorno à escola ainda estão em dúvida, uma consideração que afetou as mulheres de maneira desproporcional.
Ao mesmo tempo, mais que uns poucos trabalhadores mais velhos recebem com agrado a positividade de trabalhar em casa, depois de anos em seus cubículos, enquanto pessoas na casa dos 20 anos sonham com a camaradagem de um escritório e o dinamismo de um ambiente urbano.
Ainda assim, que tantos jovens estejam trabalhando em casa é uma reversão de hábitos bem estabelecidos, disse Julia Pollak, economista do trabalho no mercado online de emprego ZipRecruiter.
“A norma por muito tempo foi a de que, nos escritórios, o trabalho remoto era reservado ao pessoal mais velho e mais confiável”, ela disse. “É interessante a rapidez com que os trabalhadores jovens se adaptaram a isso”.
Quando trabalham separados, os empregados mais jovens perdem a oportunidade de desenvolver contatos, encontrar mentores e ganhar experiência ao observar de perto o trabalho dos colegas, dizem gestores veteranos.
Em alguns casos, membros mais velhos da geração Y, como Jonathan Singer, 37, advogado imobiliário em Portland, Oregon, se veem defendendo o retorno antecipado aos escritórios diante de colegas mais jovens e céticos, que se acostumaram a trabalhar de casa.
“Como gestor, é realmente difícil desenvolver coesão e coleguismo sem que as pessoas estejam juntas em base regular, e é difícil orientar alguém sem estar no mesmo lugar que a pessoa”, disse Singer. Mas persuadir os colegas mais jovens a ver as coisas dessa maneira não vem sendo fácil.
“Com a força que os trabalhadores ganharam e a prova de que eles são capazes de trabalhar de casa, é difícil empurrar o creme dental de volta para dentro do tubo”, ele disse. Por medo de perder mais um subordinado, em um mercado de trabalho onde existe escassez de pessoal, Singer permitiu que um jovem colega trabalhe de casa um dia por semana, sob o entendimento de que a questão seria retomada no futuro.
“Tornou-se impossível dizer não ao trabalho remoto”, explicou Singer. “Simplesmente não vale a pena correr o risco de perder um bom trabalhador por causa de uma postura doutrinária de que as pessoas precisam estar no escritório”.
Amanda Diaz, 28, se sente aliviada por não precisar voltar ao escritório, ao menos por enquanto. Ela trabalha para a Humana, uma operadora de planos de saúde, em Porto Rico, mas vem realizando seu trabalho de casa, em Trujillo Alto, a cerca de 40 minutos de carro do escritório.
A Humana oferece ao pessoal a opção entre trabalhar no escritório ou de casa, e Diaz disse que continuaria a trabalhar remotamente enquanto tivesse escolha.
“Pense em todo o tempo que você perde se preparando para trabalhar e se deslocando para o trabalho”, ela disse. “Em lugar disso, uso essas duas horas ou pouco mais para preparar um almoço saudável, me exercitar ou descansar”.
Alexander Fleiss, 38, presidente-executivo da Rebellion Research, uma empresa de administração de investimentos, disse que alguns empregados haviam resistido a voltar ao escritório. Ele espera que o exemplo dos colegas e o medo de perder promoções por falta de interação pessoal com a chefia convençam as pessoas a voltar.
“As pessoas podem perder seus empregos por conta da seleção natural”, disse Fleiss. Ele disse que não se surpreenderia se trabalhadores começarem a processar empresas caso sintam ter sido demitidos por se recusarem a voltar ao escritório.
Fleiss também tenta persuadir os membros de sua equipe que estão trabalhando em projetos a voltar ao escritório chamando a atenção deles para os aspectos positivos da colaboração face a face, mas muitos trabalhadores ainda prefeririam continuar a interagir via Zoom.
“Se é o que eles querem, é o que eles querem”, ele disse. “Hoje em dia não há como forçar qualquer pessoa a fazer qualquer coisa. Só podemos insistir”.
A pandemia colocou no vocabulário cotidiano do Japão a palavra kuchisabishii. Nas reuniões online, em consultórios médicos de Tóquio, nas revistas especializadas ou não, cada vez mais se ouve falar de kuchisabishii. Antes de nos afogarmos na sopa de letrinhas, o Google nos ensina a pronunciar corretamente:” kutchí-sabichí”. Literalmente, significa “boca solitária,” se bem que traduções literais em geral não ajudam muito a compreender o sentido das palavras estrangeiras.
O termo se refere, na verdade, ao hábito de comer por puro tédio, enquanto zapeamos a TV ou teclamos no computador. Quem sente a sensação de não ter nada melhor a fazer durante o confinamento prolongado acaba assaltando a geladeira seguidamente mesmo sem ter fome. Uma hora pega uma lasquinha de queijo. Mais tarde, ataca o resto da compota. Pouco depois, prepara um sanduíche. Se kuchisabishii fosse um verbo, a sua tradução seria “beliscar”.
É interessante notar, no entanto, que kuchisabishii não tem a conotação negativa que nós, brasileiros, costumamos atribuir ao nosso “beliscar”. A expressão japonesa não é entendida como compulsão alimentar. Não designa fraqueza de caráter, nem indício de transtorno. Para os japoneses, beliscar fora de hora não é condenável. É algo que faz parte da vida. É como se dissessem: se você tem vontade de entreter a boca mastigando bobagens sem o devido apetite, então vá em frente, sem culpa, entregue-se ao kuchisabishii. Melhor assim do que tentar reprimir o desejo, cobrando-se sem trégua uma atitude de determinação férrea em relação ao que come.
Gostei de conhecer a palavra e de saber que a filosofia dos japoneses os estimula a perdoar esse comportamento. E gostei porque, de certa maneira, me reconheci nessa atitude. Ouvi na expressão ecos de meus próprios conselhos. Afinal, minha dieta sempre considerou eventuais derrapadas em direção à cozinha como parte do processo de reeducação alimentar. É preciso identificar a linha tênue que separa a autocondescendência do perdão que merecemos nos conceder. É necessário, por vezes, calar o irritante grilo falante – a nossa consciência – que nos exige demais. Ou seja, depois de saborear um pedaço de bolo no meio da tarde, evite pensar que, só por isso, o regime fracassou. Nesse caso, você estaria desistindo precocemente de uma rotina saudável. Seria o equivalente à autossabotagem. Não resistiu ao bolo? Comeu antes de pensar? Tudo bem, aprenda com os japoneses: isso é apenas kuchisabishii.
A pandemia tem cobrado um preço alto. Por isso, sejamos gentis com nós mesmos. Lembre-se de que, em tempos de superação, é o.k. não se sentir o.k. – um conceito trazido à pauta na Olimpíada, com a desistência da Simone Biles de concorrer em algumas provas para preservar sua sanidade mental. Sim, a positividade pode ser tóxica, uma ideia que os japoneses aplicam aos supostos desvios da dieta. Descontar nossas ansiedades na comilança é uma coisa. É compulsão. Outra coisa, diferente, é se permitir snacks imprevistos. Não por gula desmedida, não por voracidade excessiva, mas apenas para atender a recaídas demasiadamente humanas.
Médicos têm tratado de casos de fraqueza a problemas cardíacos em crianças
Fraqueza, perda de memória, dificuldade de concentração e até problemas cardíacos. As sequelas da covid-19, mais conhecidas em adultos, também atingem crianças e adolescentes. Para monitorar sintomas persistentes da doença, hospitais criam ambulatórios pediátricos, e pesquisadores brasileiros coletam dados sobre a recuperação dos mais jovens. Além de ajudar as crianças a superar as consequências da doença, o objetivo é descobrir as repercussões da covid-19 a longo prazo – e quanto tempo elas podem durar.
Crianças e adolescentes, em geral, têm a forma mais branda da covid-19, mas podem manifestar sintomas que dificultam a retomada das atividades cotidianas após a alta. Um estudo britânico recente apontou que sintomas de longa duração são mais raros em crianças. Médicos e pesquisadores ainda não sabem porque algumas têm sintomas persistentes e outras não, mas já identificaram que até mesmo aquelas que tiveram quadros bem leves da doença podem manifestar a chamada covid longa meses depois.
Em junho, a estudante paulistana Anara de Quadros, de 14 anos, chegou ao hospital com uma dor forte no abdome. Os médicos suspeitaram primeiro de apendicite. Só depois veio o diagnóstico: era a covid-19. A adolescente ficou quatro dias internada, mas a alta não significou o fim dos problemas. ” Ela teve um susto grande, deu uma descompensada emocional. Quando saiu do hospital, ficaram ainda náuseas, vertigem e isso a levava a ter até uma falta de ar por batimento acelerado do coração”, conta a mãe, a dentista Iadasa de Quadros, de 44 anos. A família voltou ao hospital para acompanhar os sintomas pós-covid. A menina, então, recebeu tratamento para gastrite e foi encaminhada para tratar o quadro de ansiedade na terapia.
Para acompanhar o desenvolvimento de crianças que se infectaram, o Sabará Hospital Infantil, no bairro de Higienópolis, criou há dois meses um ambulatório pós-covid voltado a crianças e adolescentes. O atendimento tem recebido inicialmente meninos e meninas que lá ficaram internados – mas está aberto ao público infantil em geral. “Os sintomas são muito abrangentes. Depois de quatro semanas (da alta), vemos nas crianças a partir de 7 anos alguns sintomas parecidos com os de adultos, como ansiedade, insônia, cefaleia, dor abdominal. E, nas menores, inapetência, déficit de atenção”, explica
Júlia Carvalho Seabra, pediatra intensivista do ambulatório pós-covid para crianças e adolescentes no Sabará. Segundo Júlia, um dos desafios dos médicos é diferenciar o que são sequelas do vírus do que são repercussões do isolamento e da angústia trazida pela pandemia.
O acompanhamento de crianças também esbarra na dificuldade que os mais novos têm de relatar sintomas. São os pais que indicam mudanças no comportamento das crianças e até dificuldades na escola. “Esses pacientes precisam ser acolhidos, identificados”, diz a médica. Não há um tratamento específico contra a covid longa, mas alternativas para aplacar os sintomas e fazer com que a criança volte a se desenvolver normalmente. No caso de Anara, foram sugeridas caminhadas regulares, além da terapia. Hoje, a adolescente já se sente melhor. “As crianças não estão isentas do risco”, afirma Marco Aurélio Sáfadí, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Segundo ele, há casos clássicos de perda do paladar e olfato, mas também complicações pulmonares, como broncoespasmos (contrações das vias aéreas), e cardíacas, além de fadiga e prejuízo da parte cognitiva entre as criança. Podem ocorrer ainda repercussões bastante raras após a infecção pelo coronavírus, como a síndrome inflamatória multissistêmica, duas a quatro semanas depois da contaminação. Nesses casos, graves, os sintomas incluem febre persistente, problemas gastrointestinais, inflamação na pele e complicações cardíacas. Até o dia 7de agosto, o Brasil registrava 1.204 casos da síndrome inflamatória multissistêmica e 74 mortes.
CASOS COMPLEXOS
O monitoramento pode ser, em geral, apenas clínico, com observação de sintomas pelo médico, mas, em algumas situações, demanda exames mais complexos. Foi o caso de João Amador da Silva, de apenas 4 meses. O bebê teve miocardite, uma inflamação no músculo do coração, após contrair a covíd-19 logo depois que nasceu, em abril deste ano. Na época, ele ficou 12 dias internado – três na UTI do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Por causa das complicações, voltou a ser hospitalizado, desta vez para tratar a alteração cardiovascular.
“Até então, eu não sabia que criança estava pegando covid e achava que o meu era o primeiro bebê que tinha pegado. Quando saiu o resultado dos exames, foi um susto muito grande para mim e para toda família. Ficamos com medo de perder o João, pois a gente sabe o estrago que a covid faz, ainda mais quando pega uma criança”, diz a mãe, a auxiliar odontológica Joraci Kolodin.
Maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, o Pequeno Príncipe tem mais de 100 crianças cm acompanhamento cardiológico, depois de terem contraído o coronavírus. “Sabemos que a população pediátrica é menos acometida pela covid-19, mas entre os casos que chegam ao hospital, que são os de maior gravidade, a proporção de crianças com envolvimento cardíaco é expressiva”, afirma a médica eletro fisiologista e cardiologista pediátrica Lânia Xavier.
A quantidade de casos levou o Pequeno Príncipe a criar uma ala específica para acompanhamento cardiológico de pacientes. Dos 1.100 casos de covid-19 que passaram pelo hospital, 230 necessitaram de internação. Desses, praticamente a metade apresentou complicações cardíacas. “Temos a expectativa de acompanhar esses casos por mais de um ano”, diz Lânia.
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
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