POESIA CANTADA

JOÃO E MARIA

CHICO BUARQUE

JOÃO E MARIA

COMPOSIÇÃO: CHICO BUARQUE / SIVUCA.

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você, além das outras três

Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz

Pois você foi a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem era nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim

Pois, você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida irá fazer de mim?

OUTROS OLHARES

ATRAÇÃO FATAL

Carentes de festas e bares, brasileiros solitários caem cada vez mais em golpes via aplicativos de encontros, um crime tão disseminado que é alvo de alertas da Interpol e do FBI

Separada e sentindo-se muito sozinha na pandemia, uma comerciante paulistana de 52 anos estava trocando mensagens cada vez mais íntimas e afetuosas com Albert Paul Chester, piloto americano de uma grande companhia aérea, 50 anos, divorciado, belos olhos azuis e corpo atlético. “Você é minha paz, a verdadeira definição de descanso para minha alma”, proferia o galanteador Chester, em tom poético – sempre por escrito, porque ele alegava não falar português e usar um tradutor virtual para se comunicar. O romance via Tinder, a plataforma de encontros mais popular do mundo, foi evoluindo, com promessas de mudança do piloto para o Brasil.

Para selar o compromisso, ele despachou pelo correio uma caixa com joias, perfumes e 260.000 dólares, para ela comprar o imóvel em que os dois morariam juntos. Problema: a suposta caixa foi “retida” na alfândega e para retirá-la era preciso pagar inúmeras taxas por meio de transferências bancárias. Ali começava o golpe mirabolante que arrancou 700.000 reais da comerciante, sugados de sua poupança, previdência privada e empréstimos hipotecando a própria casa. A trama, que se estendeu de março a outubro de 2020, envolveu falsos funcionários da Receita Federal, uma transportadora internacional e um banco britânico. “Era tudo tão elaborado que caí feito uma idiota. Estava apaixonada e cega”, conta a paulistana, que pediu para não ser identificada. Ela prestou queixa à polícia e tem esperança de reaver ao menos parte do dinheiro.

Esse tipo de estelionato virtual, também conhecido como “golpe Don Juan”, existe há tempos, mas ganhou tamanho impulso durante a quarentena imposta pela pandemia que levou a Divisão de Crimes Financeiros da Interpola emitir recentemente um alerta formal a 194 países, entre eles o Brasil. Também o FBI divulgou, no início do ano, uma notificação sobre os riscos dos falsos namoros pela web. Nos Estados Unidos, levantamento da Federal Trade Commission (FTC) mostra que esse tipo de artimanha cresceu 50% no ano passado, causando, além do rastro de corações partidos, um rombo de 304 milhões de dólares na conta bancária de americanos solitários. A polícia brasileira não dispõe de estatísticas precisas, mas é certo que o crime se disseminou no país. Segundo o instituto americano Pew Research, durante a pandemia o uso de aplicativos de relacionamento no Brasil aumentou até 400%, dependendo da região, e 78% da população usa ou já usou algum deles. Por outro lado, só entre março e maio de 2021, o número de fraudes eletrônicas de todos os tipos quase triplicou, somando mais de 15 milhões de registros. Os golpes envolvem muita vergonha. Pouca gente tem coragem de denunciar, mas no consultório percebo aumento no número de pacientes com problemas em decorrência dessas fraudes”, diz Christian Dunker, psicanalista e professor da USP. “Antes da pandemia, recebia no escritório uma pessoa por semana vítima de um golpe desses. Agora, são pelo menos três”, afirma o criminalista José Beraldo.

Os estelionatários cibernéticos lançam mão dos mais variados recursos para atacar suas presas. O chamado catfish, em que o golpista se passa por outra pessoa – como aconteceu com a comerciante paulistana -, está entre os mais usados. Já na sextorsão, o criminoso arquiva, ou diz que arquivou, nudes de seu alvo como forma de arrancar dinheiro dele. Os aplicativos de encontros são ainda ponto de partida para o conhecido “boa noite, Cinderela”, em que, no almejado encontro físico, a presa é dopada e roubada. O engenheiro Murilo Marques, 31 anos, ex- participante do programa Bake Off Brasil, relata que, há uns meses, trocou mensagens no aplicativo Grindr com um homem que usava foto dele mesmo, mas com nome de outra pessoa. Combinou de recebê-lo em casa, no centro de São Paulo, e o encontro casual virou pesadelo. Depois de manterem relações sexuais, o golpista disse ser garoto de programa e, de posse de uma máquina de débito, exigiu o cartão para efetuar o pagamento. Àquela altura, Marques, que suspeita ter sido drogado durante o sexo, sentia que perdia a noção da realidade. Irritado, o ladrão lhe deu um soco no rosto, exigiu que passasse as senhas dos cartões e o drogou novamente. Em vinte minutos, realizou transferências, empréstimos e pagamentos que somaram 45.000 reais e em seguida fugiu. “Decidi tornar a história pública para alertar outras pessoas. É tudo premeditado e esses criminosos não agem sozinhos”, relata Marques, que faz tratamento psicológico para superar o trauma.

Na “carentena”, gíria cunhada em meio ao isolamento social, os cibercriminosos encontraram terreno fértil nos solitários que, privados das festas e dos bares onde costumavam conhecer pessoas, acabaram se rendendo aos sites de relacionamento. “Diferentemente do europeu ou americano, o brasileiro é dependente do convívio social encontrou nos apps uma alternativa à privação de contato. A malandragem, por sua vez, sempre migra para onde há público”, observa o antropólogo Bernardo Conde, da PUC-Rio. “Muitas pessoas ficaram mais frágeis e vulneráveis, tornando-se presas fáceis para esse tipo de crime”, acrescenta a psicóloga Lídia Aratangy. Valendo-se disso, farsantes como Danilo Melo, 32 anos, são suspeitos de aplicar seguidos golpes em mulheres nos últimos meses. Bonito, viajado, com gosto requintado e se apresentando como executivo ora da XP Investimentos, orado Bank of America, Melo é acusado de induzir pelo menos treze garotas a lhe dar dinheiro para aplicar e, depois, sumiu de vista. Após a denúncia de uma das vítimas, em abril, ele foi preso em Balneário Camboriú, Santa Catarina, mas acabou liberado por falta de flagrante. “É impressionante esse Danilo continuar à solta e dando golpes em série”, diz uma médica de 27 anos, que pediu para não ser identificada e administra um grupo de enganadas pelo trambiqueiro no Instagram. Ela relata que se relacionou com o sujeito por quatro meses e perdeu 5.800 reais, mas sabe de um caso em que ele embolsou 100.000 reais.

Os casos virtuais de estelionato são tantos e tão frequentes que estão chegando ao streaming: a Netflix anunciou a compra dos direitos do documentário Tinder Swindler (Vigarista do Tinder, em tradução livre), relato da trajetória de um israelense que se passava por magnata russo para aplicar golpes em mulheres escandinavas. No Brasil, mentir na paquera virtual é esporte nacional. Em pesquisa global feita neste ano pelo aplicativo Happn, os brasileiros sagraram-se campeões nesse departamento: 51% dos entrevistados já contaram alguma balela na cantada, acima da média mundial, de 29%. Evidentemente que apenas uma fração das lorotas resvala para a criminalidade.

Para dar mais segurança aos usuários, o Tinder criou em 2020 um selo de verificação, a tag azul, que indica que a imagem do perfil é genuína. Outro aplicativo, o Bumble, dispõe de uma equipe em tempo integral encarregada de verificar se os inscritos são realmente quem dizem ser. Todos orientam os participantes a jamais aceitar pedidos de dinheiro, mas mesmo assim as fraudes seguem proliferando e se sofisticando. O ator Ricky Tavares, de 29 anos, conta que até o mês passado sua imagem estava sendo usada no Tinder por outra pessoa, que se fazia passar por ele. “Nunca usei o aplicativo e, de uma hora para outra, comecei a receber uma enxurrada de mensagens no Instagram. Resolvi fazer um vídeo denunciando o caso”, diz. Na azaração virtual, todo o cuidado é pouco.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 03 DE SETEMBRO

A PERVERSIDADE DÁ À LUZ A VERGONHA

Vindo a perversidade, vem também o desprezo; e, com a ignomínia, a vergonha (Provérbios 18.3).

A perversidade é filha da impiedade. A impiedade diz respeito à nossa relação com Deus, enquanto a perversidade se refere à nossa relação com o próximo. Aqueles que se afastam de Deus e se rebelam contra ele degradam-se moralmente e transtornam a vida do próximo. A teologia desemboca na ética. Nossas crenças se refletem em nossas ações. Como o homem pensa no seu coração, assim ele é. Uma pessoa perversa, rendida ao pecado, escrava de suas paixões, acaba colhendo o desprezo. Por ser egoísta, avarenta e violenta em suas palavras e ações, termina no ostracismo social, desprezada por todos. Quem mancha seu nome e perde sua reputação pessoal cobre-se de vergonha. O pecado não compensa. Arruína o caráter, produz desprezo e traz vergonha. Os maus são desprezados e acabam cobertos pelos trapos da vergonha. Colhem o que plantam. O mal que intentam contra os outros cai sobre sua própria cabeça. Eles sofrem as consequências de suas próprias ações perversas. É impossível semear o mal e colher o bem. É impossível agir com perversidade e não ceifar o desprezo. É impossível deixar o nome se arrastar na lama sem se cobrir de opróbrio.

GESTÃO E CARREIRA

O QUE OS CEOS CONTAM SOBRE O TRABALHO REMOTO

Pensar no futuro das empresas ainda é incerto, mesmo após a vacinação, diante disso, o home-office um modelo que parecia apenas uma alternativa à pandemia está cada vez mais consolidado no mercado

As incertezas sobre o retorno aos escritórios ainda rondam os profissionais e empreendedores, ainda assim, muitas empresas viram no home-office um modelo mais produtivo.

Alguns CEOs de startups afirmam que o trabalho remoto tem ajudado no dia a dia de suas empresas. É o caso de Rogério Vairo, fundador da Eu Amo Cupons – plataforma de cupons de descontos, que cresceu 30% no ano passado. Para ele, as vantagens do trabalho remoto vão desde a qualidade de vida, custos até a produtividade dele e do time.

Vairo, que mudou para Atibaia, interior de São Paulo, no início do isolamento social destaca que na capital “a gente faz tudo com muita pressa” e ressalta que atualmente está mais concentrado e focado em suas tarefas, pois se sente menos estressado e as executa com mais qualidade que antes.

“Também reduzimos custos com aluguel, estacionamento, transporte, entre outros e como startup, eliminar esses custos faz muita diferença no caixa da empresa”, destaca o CEO.

Com o enorme avanço tecnológico das últimas décadas, diversas áreas e setores conseguiram se adaptar rapidamente ao ambiente remoto após a pandemia. O home-office deve continuar no futuro, mesclado com encontros presenciais assim que for viável. Marcelo França, CEO da Celcoin – maior plataforma de Open Finance do país -, por exemplo, gosta de ir ao escritório, localizado em Alphaville, Região Metropolitana de São Paulo, esporadicamente.

No entanto, elogia o trabalho remoto, que o ajuda, inclusive, a contratar pessoas de todo país. “O trabalho remoto nos auxilia na contratação de novos talentos, que podem estar em qualquer parte do Brasil e do mundo e para nós foi super fácil essa adaptação, pois o time é engajado e está cada dia mais produtivo”.

Rogério viu no trabalho remoto e no interior uma forma de alavancar negócios por meio da qualidade de vida e é super a favor do modelo. “Penso em não voltar mais pra capital paulista”, ressalta. Por fim, ele dá dicas para outros empreendedores: é essencial fazer uma agenda com tudo o que você precisa fazer no dia e se policiar para cumprir a lista toda.

Nessa listagem é muito importante reservar, ao menos, uma hora do seu dia para alguma atividade física. De acordo com ele, tendo a agenda organizada e disciplina na execução, o empreendedor vai ter mais tempo para a família e descanso.

EU ACHO …

VICIADOS EM APLICATIVOS

Ao deixar decisões com o mundo virtual, afeto minha criatividade

De uns tempos para cá, ninguém mais dirige sem Waze. Mesmo sabendo o caminho, as quebradas, os truques. Confesso: conheço bastante bem São Paulo e não sei usar o aplicativo. Não que eu seja contra. Há muitos anos, no Japão, fiquei deslumbrado com a possibilidade de chegar aonde quisesse. O aplicativo também me salvou em uma viagem à Alemanha. Quando o Waze desembarcou aqui, achei ótimo. Mas aí estava com um amigo, indo para minha casa. Um caminho conhecidíssimo. Ele botou o Waze.

– Não precisa, o trajeto é aquele lá mesmo.

– É melhor – respondeu ele, com expressão de esfinge.

Fomos. O trajeto congestionado. Propus uma rota alternativa. O motorista não gostou. Deu uma súbita guinada à direita.

– Por que virou

– O Waze mandou. Aqui está vazio.

Estava. Todos os veículos, todos, todos, todos, viraram imediatamente na mesma, direção, congestionando toda a rua. Obvio. O aplicativo dissera para fazerem o mesmo. E aí foi: uma sucessão de conversões, desvios, para chegar a novos congestionamentos. Quem vive há muito tempo em uma cidade tem seus truques. O Waze segue a lógica, inclusive de quilometragem. Mas não dá margem ao jeitinho pessoal, que é, frequentemente, a salvação. Por exemplo, se eu vou para o Rio de Janeiro, quero pegar a Ayrton Senna, que é uma rodovia mais tranquila em termos de caminhões. O Waze sempre indica a Dutra. Quando há outro no volante, começa a briga.

–  Vai pela direita.

–  O Waze está mandando à esquerda.

–  Mas eu prefiro…

–  É melhor… Diz que está vazia.

–  ENTRA A DIREITA DE UMA VEZ!

Mas a questão não é exatamente essa. Motoristas experientes abdicam de todo seu conhecimento. Anos de tráfego para não pensarem um segundo sequer no caminho.

Não sou maluco por aplicativos. Até hoje não incorporei a Siri à minha vida. Fico satisfeito em teclar. Sim, é uma facilidade. Temos de viver entre tantas.

Existe uma tal de Alexa, que torna a casa inteligente. Uma companheira. Lê as notícias, toca músicas, prevê o tempo. Controla a casa. Pede comida. Até conta piadas. Há também a Siri, já citada aqui, e o Google Home. Aplicativos que cuidam da sua, da minha, da nossa vida.

Fazem parte de uma mesma tendência. Deixar tarefas e decisões por conta do mundo virtual. Ninguém mais tem de escolher unia música. Basta abrir unia lista do Spotify, que nem precisa ser sua mesmo, mas de alguém que você admira. É fascinante. Mas sinto que cada vez mais me torno menos criativo. Se eu sigo o caminho do Waze, nunca entrarei por acaso numa ruazinha diferente e apaixonante. Se me entrego à Alexa, algo do meu estilo e modo de ser estará se transformando.

Não importa o que eu diga agora, sempre será incrivelmente careta. Os aplicativos estão aí, mais cedo ou mais tarde também me entregarei a eles, e assim o inundo vai. Só me pergunto: cada vez que eu abdicar de uma pequena capacidade de tomar decisões, não estarei abrindo mão de uma partezinha de minha humanidade?

*** WALCYR CARRASCO

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

UMA PANDEMIA DE INSÔNIA

Desde a chegada do novo coronavírus, as queixas de falta de sono explodiram e os pesadelos substituíram os sonhos. Mas a ciência busca formas de devolver ao ser humano o necessário e merecido descanso noturno

Em 1932, Pablo Picasso pintou O Sonho. O quadro retrata a doce entrada no universo onírico de sua amante Marie-Thérese Walter, jovem francesa por quem o pintor se apaixonou com tal volúpia que, dizia ele, até seu sono lhe faltava. Mas, em sentido figurado, claro, olhar o descanso da amante lhe bastava. Privar-se de sono por amor pode até inspirar um certo romantismo. A realidade, porém, é que ficar sem dormir não é bom para ninguém, como estão deixando claro esses tempos de pandemia, quando fechar os olhos e repousar até o dia seguinte passou a ser um privilégio. Como o novo coronavírus, a insônia também se tornou pandêmica.

Desde o início dos casos, em janeiro de 2020, queixas vinculadas ao sono apareciam aqui e ali, mas eram insuficientes para entender o que acontecia e apontar o tamanho do problema. Recentemente, no entanto, pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, apresentaram os resultados do maior levantamento feito até agora sobre o tema, que incluiu entrevistas com 991 indivíduos de 79 países. O estudo apurou dados sobre o padrão de repouso noturno dos voluntários durante doze meses ao longo de um ano e meio de Covid-19. A conclusão preocupa. “Em geral, os distúrbios do sono aumentaram. Verificamos que 56% dos entrevistados relataram níveis clínicos de sintomas de insônia”, afirma Megan Petrov, coordenadora da pesquisa.

Megan estuda o comportamento do sono humano há dezesseis anos. Sabe que nas últimas duas décadas dormir bem transformou-se em artigo de luxo para cada vez mais gente. Porém, ela ficou surpresa ao constatar que hoje mais da metade da população mundial enfrenta dificuldades para relaxar totalmente. E por mais diferentes que sejam em cultura e estágios de desenvolvimento, os países apresentam índices e queixas semelhantes. No Reino Unido pré-pandemia, uma em cada seis pessoas tinha insônia. Atualmente, uma em cada quatro encontra-se nessa condição. Na China, os índices saltaram de 14,6% para 20%. No Brasil, segundo pesquisa da Associação Brasileira do Sono (ABS), houve diminuição na quantidade de horas de sono, de 7,12 horas diárias antes de 2020 para 6,23 horas agora. Na história da ciência do sono, esse período ficará conhecido como os tempos da coronasomnia (coronainsônia, em tradução livre do inglês), termo que já se popularizou entre os especialistas.

O cenário não incomoda somente porque a ausência de repouso noturno leva, entre outros prejuízos, ao cansaço, à irritabilidade ou à dor de cabeça no dia seguinte. O sono é um estado fisiológico fundamental para o organismo. Durante o repouso, o corpo trabalha para manter o equilíbrio dos sistemas imunológico, endocrinológico e neurológico. O armazenamento de informações pelo cérebro, por exemplo, ocorre à noite. “Dormir é uma parte essencial do viver, assim como o ar, a água e a comida”, explica a americana Megan Petrov. “Sua saúde fica comprometida quando a qualidade do ar que você respira, da água que bebe e do alimento que ingere é ruim. Esse também é o caso quando seu sono é péssimo ou insuficiente.”

Idealmente, o adormecer deve responder ao que é determinado pelo relógio biológico, programado para funcionar em ciclo de 24 horas. O aviso de que é hora de o corpo começar a se preparar para o repouso é dado pela fabricação da melatonina a partir do pôr do sol. O hormônio é o indutor do sono. A partir daí, a temperatura corporal baixa e a pressão arterial, também. Depois de poucas horas, o sono chega. Na pandemia, o processo virou de cabeça para baixo. Primeiro, porque desapareceu a rotina de acordar, sair para trabalhar, voltar para casa e dormir. Trabalho, descanso e lazer ficaram misturados. “O fato de as pessoas não conseguirem mais separar vida profissional da pessoal, levar trabalho para a cama, não ter horários para dormir e despertar faz com que o cérebro não entenda quando deve desacelerar”, explica o médico Gabriel Natan Pires, pesquisador do Instituto do Sono, ligado à Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Segundo, como agravante, há a ansiedade e o stress de lidar com situações novas, por vezes desagradáveis ou amedrontadoras.

Com sinal vermelho aceso, médicos agem para evitar que essa “coronainsõnia” deixe um legado igualmente nocivo. A primeira preocupação é impedir que o crescimento descontrolado do consumo de remédios para dormir, observado do ano passado para cá, resulte em milhares de indivíduos dependentes. “Em um primeiro momento tomar remédio pode parecer uma solução”, afirma a médica Andrea Bacelar, presidente da Associação Brasileira do Sono. “Mas depois pode se transformar em dependência.” Importantíssimo: medicamentos com essa finalidade são prescritos por médicos e exigem acompanhamento cuidadoso justamente para não se tornarem mais um problema. O ideal é pôr em prática ações cotidianas e eficazes. A primeira é estabelecer uma rotina, em especial para dormir e despertar sempre no mesmo horário. Respeitar a necessidade individual de sono é outro passo. Nem todo mundo precisa dormir oito horas por dia, mas menos de cinco horas não é recomendável. Se essas e outras medidas não forem suficientes, quem deve cuidar do problema é o médico. No arsenal disponível, há inclusive vários recursos não medicamentosos. Um deles é a terapia cognitivo-comportamental, cujo objetivo é identificar e modificar pensamentos e comportamentos associados que sirvam de gatilho para piorar o quadro. Seguindo orientações assim, quem sabe a humanidade volte enfim, com a paixão de Picasso, para os braços serenos de Hipnos, o deus grego que embala nosso sono.

O VÍRUS ROUBOU OS SONHOS

Sonhos representam nossos medos e desejos. “Nada mais compreensível, portanto, do que constatar na pandemia a prevalência de sonhos entrecortados, pontuados por situações de ameaças e ansiedade”, diz o médico Sérgio Arthuro, pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Afinal, é assim, em permanente montanha-russa de humores, que boa parte da humanidade se sente há dezoito meses.

Relatos coletados pela pesquisa internacional COVID Sleep Study, realizada em catorze países envolvendo cerca de 20.000 voluntários, registraram as transformações nos padrões de sono e sonhos no período em que o mundo vive sob a ameaça do vírus. Arthuro é o líder do braço brasileiro do estudo, que conta com aproximadamente 2.000 participantes. O levantamento não está finalizado, mas algumas observações já puderam ser feitas. Uma delas é o aumento dos chamados sonhos lúcidos, quando o indivíduo tem consciência de que está sonhando. A elevação aconteceu com frequência no Brasil, pelo que se sabe até agora. Também houve crescimento na ocorrência de pesadelos. “Muitos deles estão relacionados à pandemia, como os associados ao medo da contaminação”, diz o pesquisador. Resultados de outros estudos convergem para as mesmas conclusões: por enquanto, as representações oníricas da mente nesses tempos pandêmicos são mais de angústia do que de alívio.

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