EU ACHO …

O GENE DA FESTINHA

Recente estudo do Royal College de Londres descobriu que alguns seres humanos nascem com uma mutação genética que afeta o gene do bom-senso.

Essa mutação faz com que o portador seja incapaz de controlar seus impulsos quando ouve as palavras “festa”, “balada” ou “rave”, por isso, foi batizada de Festogênia.

Para nós, seres humanos normais, pode parecer ridículo.

Difícil compreender como alguém pode ter dificuldade em conter o ímpeto de festejar, pensam aqueles que, numa festa de casamento, por exemplo, sempre precisam ser arrastados para a pista.

Os festogênicos não.

Esses dançam até quando o garçom derruba a bandeja.

Aposto que você conhece o tipo.

São consumidores contumazes de colares havaianos e vuvuzelas.

Ao menor sinal de uma bagunça, são os primeiros a fazer um trenzinho e se perderem no salão.

Carnaval para eles é o ponto alto do ano. De preferência na Bahia.

Antes da pandemia, não era fácil reconhecê-los, porque festas e reuniões não estavam proibidas, então mutantes
e não mutantes se misturavam e sempre acabavam enchendo a cara em algum boteco. Aí faltavam ferramentas para saber quem era quem.

Apesar de que, desconfio, os festogênicos eram os que mandavam “Sextou!” no grupo de WhatsApp da família.
Também acho que eram os que no meio de reuniões de trabalho sugeriam:

— Deu né? Vamos de Happy Hour? Hein? Hein? Alguém?

Os festogênicos geralmente são sujeitos boa praça.

Indivíduos perfeitos para que a gente pergunte:

— E aí? Qual a boa de hoje?

Sempre sabem a resposta.

Em suas agendas tem sempre uma balada, uma festinha secreta, o show de um DJ qualquer.

E até o início da pandemia, eram inofensivos.

Ocorre que, de alguns meses para cá, os festogênicos passaram a ser um grupo perseguido pela sociedade.
Párias mesmo.

Tudo porque, não importa os números da Covid-19, ou as restrições em suas cidades, os festogênicos não conseguem se controlar.

É mais forte que eles, coitados.

Então continuam se reunindo em festas que varam as noites, orgias virais, a despeito dos riscos.

E não ache que fazem isso em apoio ao presidente Bolsonaro. Nada disso.

Nessas festas proibidas você encontra Bolsonaristas, Lulistas, Ciristas e até alguns que votaram no cabo Daciolo.
Apoiadores da Marina, é verdade, são raros porque não primam pela animação.

O fato é que os festogênicos estão lá porque são motivados pela genética e não pela política.

Muitos deles compreendem o risco de participar de um encontro nos dias de hoje e são favoráveis ao isolamento, desde que não esteja tocando Alok.

E correm o risco com ou sem máscara porque, afinal, festa sempre tem umas bebidinhas e os festogênicos não costumam perder a chance de uns bons drinks.

Aí já viu.

Combinando suas animações genéticas com uns dois ou três copos de caipirinha, as máscaras perdem muito da importância e mesmo os mais cuidadosos acabam por ceder à tentação e são vistos pelo salão de língua de fora como
se a pandemia já tivesse acabado há décadas.

A verdade é que, nas últimas semanas, as polícias em todos os estados têm invadido dezenas, centenas até, de reuniões de festogênicos.

Por mais que tentem coibi-los, na semana seguinte estão lá de novo, dançando, pulando e distribuindo perdigotos como se não houvesse amanhã.

Se você conhece alguém que apresenta esse tipo de sintoma, a Organização Mundial da Saúde recomenda que reporte para as autoridades o nome do infeliz para que possa ser feito o monitoramento de suas atividades.

O estudo que identificou essa mutação ainda está no início, e a comunidade cientifica aguarda ansiosa por novas conclusões. Principalmente sobre a suspeita de que estes indivíduos sofrem também de outra profunda metamorfose, essa muito comum, conhecida pelo nome de “estupidez”.

*** MENTOR NETO

OUTROS OLHARES

DOS JETSONS PARA A VIDA REAL

Curiosamente, diversos equipamentos mostrados no desenho são usados por nós hoje, como robôs, aspiradores inteligentes e tablets. O seriado se passava em 2062

Acredite ou não, um desenho conseguiu prever o futuro. Lançado em 1962, o seriado “Os Jetsons”, que mostrava as aventuras de uma família vivendo no ano de 2062, apresentou, em primeira mão, diversos aparelhos tecnológicos que usamos hoje, desde robôs que limpam a casa até chamadas de vídeo, tablets, assistentes pessoais e carros voadores.

Quase tudo dependia de tecnologia, como agora. Assim sendo, é possível afirmar que nos tornamos seres high-tech como ‘Os Jetsons’ previram. Oscar Reis, especialista em comércio exterior, é a prova disso. Ele não vive sem seus apetrechos digitais. Por isso, desde o início da pandemia, trabalha em home office com seu computador, tablet, celular e smartwatch integrado com a Alexa, assistente virtual da Amazon, que o alerta das atividades diárias. “Sou totalmente futurista”. Ele reforça: “Quase tudo está integrado. Portanto, é preciso se adaptar”.

TUDO INTEGRADO

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o setor cresceu 5,1% em 2020 e movimentou mais de R$ 144,52 bilhões, números que comprovam a paixão dos brasileiros por tecnologia. “A indústria lança conceitos para ver como as pessoas vão lidar com aquilo, se vão desejar os objetos”, diz o especialista em tecnologia e inovação Arthur Igreja. Sobre a influência do desenho, ele acredita que em breve os lares brasileiros serão totalmente integrados digitalmente. “A eficiência dos aparelhos chama atenção dos consumidores”, afirma.

Com duas gatas e sem tempo para fazer faxina em seu apartamento, a especialista em tecnologia Victoria Morena da Silva descobriu as vantagens de um robô aspirador há um ano e hoje não vive sem ele. “Uso todos os dias. Como sou alérgica, me salva da poeira”, diz. A utilidade é o principal pré-requisito dos aparelhos. “Eu limpo um cômodo e o robô limpa outro. Me ajuda muito”, conta. É seguro dizer que daqui para frente a nossa realidade será cada vez mais parecida com a dos Jetsons. Como se vê, a vida imita a arte.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 12 DE MAIO

VALORIZE O CONHECIMENTO

Os simples herdam a estultícia, mas os prudentes se coroam de conhecimento (Provérbios 14.18).

O conhecimento é o melhor tesouro que podemos acumular. Os bens se dissipam, mas o conhecimento permanece. O dinheiro pode ser roubado, mas ninguém pode assaltar o cofre da nossa mente para roubar o que lá depositamos. Os tesouros que granjeamos aqui podem ser dilapidados pela ferrugem, carcomidos por traça e saqueados por ladrões, mas o conhecimento que adquirimos é um bem inalienável que ninguém pode tirar de nós. Aqueles que desprezam o conhecimento e se gabam de coisas são tolos e herdam a estultícia, mas os prudentes se coroam de conhecimento. Os sábios investem tempo na busca do conhecimento. Privam-se de confortos imediatos para adquirir o conhecimento, mas este é em si mesmo um grande prazer. O conhecimento distingue o prudente, coroa-o de honra e eleva-o a uma posição de destaque. A Bíblia nos ensina a empregarmos o melhor dos nossos recursos para adquirirmos a sabedoria. Os tolos fazem troça da sabedoria e folgam-se com sua sandice, mas ao fim serão envergonhados e terão como herança aquilo que não possui valor algum. Mas os prudentes que buscaram o conhecimento herdarão honra e felicidade.

GESTÃO E CARREIRA

AS DORES DA DISTÂNCIA

O home office deve ser adotado em definitivo pela maioria das empresas no pós-pandemia. Antes, porém, será preciso aprender a administrar os desafios longe do escritório

A verdade é que as empresas esperavam por este momento: o dia em que o teletrabalho seria tão corriqueiro quanto pegar um ônibus. Elas já sabiam que poderiam economizar muito com aluguel e energia, mas ainda pairavam dúvidas em relação à produtividade – se aumentaria, diminuiria ou permaneceria a mesma. A pandemia parece ter acelerado o processo e respondido a algumas questões. Estudos de múltiplas consultorias nacionais e internacionais mostram que, enquanto a ocupação de lajes corporativas caiu em 40%, a produtividade tomou caminho contrário, subindo em média 50%. Resta agora saber se a melhoria no desempenho será permanente ou apenas um efeito colateral do medo que as pessoas têm de perder o emprego na crise. E mais relevante: descobrir como ficará a saúde mental dos funcionários no distanciamento.

Segundo pesquisa recente da consultoria de recrutamento Robert Half, 92% dos colaboradores são favoráveis ao trabalho remoto, tendo o modelo híbrido (parte em casa, parte no escritório) como o preferido. Ainda que as companhias estejam alinhadas com esse desejo, há um lado do home office potencialmente sombrio que não pode ser ignorado: os efeitos deletérios sobre as pessoas. Se, por um lado, o profissional rende mais afastado das distrações inerentes ao convívio social, ele fica à mercê de outros transtornos. Um levantamento da Royal Society for Public Health, instituição britânica dedicada à saúde, revelou que 67% das pessoas forçadas a fazer home office reportaram queda de empatia com os colegas, enquanto 37% relataram distúrbios de sono.

“Os problemas podem ir além da solidão e do burnout, o esgotamento físico e mental ocasionado por excesso de tarefas”, diz Eliseu Urban, sócio da Valuing, empresa de treinamento de executivos. “Já foram relatados falecimentos não relacionados à Covid-19, brigas em teletrabalho e até uma aparente tentativa de suicídio.” Urban também pontua que, por esses motivos, as empresas estão oferecendo ajuda psicológica aos funcionários, além de aproximá-los dos gerentes-seniores. “A saúde mental das equipes passou a ser prioridade dos RHs”, afirma o especialista.

A postura assumida pelas grandes empresas confirma a percepção das consultorias. A Johnson & Johnson instituiu um modelo que incentiva os profissionais a se desconectar uma sexta-feira por mês para relaxar. A Heinz além de oferecer auxílio financeiro para o home office, tem bloqueado as manhãs de segunda-feira a fim de permitir que as pessoas se organizem para a semana sem ter de se preocupar com isso no domingo. A BR Distribuidora optou por oferecer atendimentos virtuais de medicina e psicologia. O fundo Aqua Capital, de agronegócio, foi além: busca entender quais empregados podem estar próximos do burnout para impedir que aconteça. A Cielo passou a oferecer apoio contra ansiedade e depressão. Caminho semelhante percorrem a companhia de tecnologia VTEX, a Arcelor Mittal, líder mundial na produção de aço, e outros gigantes de diversos segmentos, como Braskem, Roche, PepsiCo e Royal Canin.

A opção pelo modelo híbrido em vez do home office integral, não se deve apena à melhoria da dinâmica de trabalho. Há uma preocupação genuína dos RHs com a conexão entre os funcionários e a empresa. É interessante diminuir o desembolso com a locação de espaços, mas é igualmente importante manter algum contato para avaliar as condições físicas e mentais dos colaboradores. Mas trata-se de um movimento irreversível. Muitas companhias estão abordando nos seus contratos profissionais nova regras para o teletrabalho, como o fornecimento de equipamentos, cadeiras e mesas ergonômicas, concessão ou cancelamento de benefícios e adequação de jornada.

Nos últimos meses, as boas empresas têm, de fato, se esforçado para cumprir esses requisitos, e a maioria delas certamente chegará a um modelo que seja adequado para o negócio em si e para a qualidade devida dos colaboradores. “É um caminho sem volta, em que todas as partes têm de se ajustar”, diz Carlos Marui, sócio-diretor da Tredici, empresa especializada em recursos humanos. Superada a crise do coronavírus, o mercado precisará agir para evitar outra pandemia – a de colapsos emocionais. Felizmente, isso já vem sendo feito.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SONHAÇÕES: A PELE DA COBRA

A observação na Psicanálise trata diretamente com movimentos fluentes, com mudanças de estados mentais. A dificuldade principal reside em como aproximar conceitos de intuições

“Quando pronuncio a palavra Futuro,

A primeira sílaba já se perde no passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,

Suprimo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,

Crio algo que não cabe em nenhum

não ser.”

Wislawa Szymborska (As Três Palavras mais Estranhas)

Para falar sobre o ato de observação em Psicanálise estou tom ando como base o momento que o poema demonstra esse hiato entre o que é observado e as palavras que usamos para nomeá-lo. Ressalto que esse momento se constitui como um ponto crucial em nosso cotidiano como psicanalistas. Há um risco sempre presente em nossa atividade, que é o de tomarmos nossos mapas conceituais ou os nomes que usamos como fatos e colapsarmos nossas observações.

Em nossa atividade lidamos com movimentos fluentes, com passagens constantes entre estados mentais, que fazem parte de uma complexidade que, em Psicanálise, conjugamos pelo nome “personalidade”. Nossas formas de entendimento, bem como a linguagem que usamos para nos aproximarmos dos eventos que nos torneiam, inexoravelmente delimitam diversas regiões da realidade.

O problema continua sendo como aproximar conceitos de nossas intuições. Para nós, psicanalistas, a distância entre o dogma e a fé pode ser muito estreita. Através de um “ato de fé” pode-se “ver”, “ouvir ” e “sentir ” o fenômeno mental de cuja realidade nenhum psicanalista praticante tem dúvida, embora não possa representá-lo com exatidão pelas formulações existentes.

Os psicanalistas observam certas coisas que outras pessoas não podem ver, ainda que talvez seja possível para os que buscam uma análise. Esse mundo é o mundo da experiência emocional. Nele, emoções, como tristeza, alegria, amor, sexo, solidão, paixão são fatos tão tangíveis como uma mesa ou a chuva. Esses aspectos, muitas vezes, são tão sutis e evanescentes que resultam ser virtualmente invisíveis, mas sabemos que são tão reais que podem chegar a destruir-nos se permanecemos passivos frente a eles.

As investigações sobre a realidade psíquica e a expansão dos limites de suas fronteiras nos colocam na mesma situação de uma criança que precisa aprender a falar e pensar simultaneamente. Ela não consegue falar, pois seus pensamentos lhe são estranhos, e não pode pensar, pois lhe faltam conceitos a partir dos quais seus pensamentos possam se ordenar.

O analista, ao “obter” uma experiência emocional, precisa vesti-la através de uma imagem visual (ou, de modo mais geral, uma experiência sensorial), com o intuito de torná-la disponível para ser uma espécie de peça, que será usada nos pensamentos. A imagem visual encarna uma emoção de tal modo que ela possa se tornar pensável.

Esse é o misterioso trabalho do sonho (que Bion denomina TS-alfa): parear a experiência emocional do momento com uma imagem visual. Quando esse pareamento ocorre, outro salto misterioso sobrevém; agrega-se a essa imagem uma dimensão ideacional que não é um pensamento, mas, sim, uma extensão passível de ser convertida em uma dimensão pensável.

EXPERIÊNCIA

Visitando uma região rural e passeando por um lugar na mata junto com um acompanhante, alguém que conhecia a região, em uma ravina, ele me apontou o que percebi como sendo a pele de uma cobra. Logo adiante eu mesmo apontei a ele o que seria mais um pedaço da pele de uma cobra, o local parecia estar coalhado de “peles” de cobra.

Obviamente, instalou-se uma grande apreensão. Mas, e as cobras propriamente ditas, como eu as perceberia? O fato de estar nessa região e com esses indícios, ampliavam-se sobremaneira as chances de nos encontrarmos com uma cobra, pois me lembrava de que, na época de mudança de pele, a cobra fica mais arisca e irritável.

Nesse momento tenho também uma recordação da minha visita educativa ao Instituto Butantan e das explanações sobre a aparência das cobras venenosas. Essas eram as referências que valorizei para dar conta do que estava experimentando e dar continuidade à investigação do que se apresentava como a minha experiência daquele momento.

Após algum tempo de caminhada meu acompanhante, que estava logo atrás de mim, solta um grito de dor – ele sofrera o bote de uma cobra que o picara. Ele passava justamente pelo mesmo caminho que alguns segundos atrás eu passara. Com seu grito, tornando-me ainda mais alerta, viro-me rapidamente em sua direção e vislumbro um pequeno vulto deslizando furtivamente entre a vegetação rasteira e desaparecendo logo em seguida.

A partir desses elementos apresentados pelo grito de meu parceiro, meu próprio susto e o estado de alerta subsequente, uma ruptura do estado mental anterior, vislumbrei a dimensão na qual a cobra viva estava presente.

Em minha epistemologia pessoal havia pelo menos três diferentes dimensões, que delineio como premissas para sustentar meus argumentos a respeito do ato de observar e/ou colapso de nossas observações. Havia uma dimensão do que seria a cobra, outra dimensão era o lugar em que a cobra esteve e não estava mais, e por último a cobra. Com essa analogia quero focalizar as diferentes dimensões de nosso instrumental observacional: os enquadres conceituais (aquilo que aprendi sobre as cobras), a sustentação de dúvidas (as peles da cobra e meus conhecimentos sobre cobras me possibilitavam um tipo de expectativa a respeito daquele momento) e a emergência de uma intuição (o bote da cobra).

Pontuo que a Psicanálise não pode ser contida nas teorias que ela produz, e o que melhor configura seu método seja a ideia de que ela é uma sonda, cujo movimento expande um universo que está muito além de seus conceitos.

O analista e seu analisando são ambos dependentes dos sentidos, mas as qualidades psíquicas com as quais tratamos não são percebidas pelos sentidos, nem pela memória ou pelo desejo. Acredito que manter- se disponível e em sintonia com um estado de mente que propicie o “bote da cobra” pode nos apresentar para uma experiência fugaz, dolorosa e vivamente presente e real. Talvez seja somente nessa dimensão que a nossa própria existência como analista possa ser experimentada como verdadeira.

Tal disponibilidade exige o exercício da fé, uma fé científica, para que a intuição possa emergir e captar a experiência emocional que está sendo transformada na sessão. Segundo minhas referências, “mistério” é a vida real e ela só pode se apresentar aos nossos instrumentos de observação pela via da intuição.

O “bote da cobra” aproxima-se de uma “intuição instantânea” que, uma vez formulado, assume “definitividade” e pode temporariamente ser usado como ponte para passar para outro momento. O que surge da intuição deverá ser um pensamento que pode ser abandonado no mesmo momento em que é pensado. Quando entramos em unicidade com a verdade daquele momento, o que se consegue é uma percepção do positivo e do negativo, mas com a velocidade de um flash, uma centelha. Esse movimento é pontuado no poema de Szymborska.

MODELO CLÍNICO

Nesse modelo clínico aparece o que chamei de “bote da cobra”, uma intuição instantânea que provém de um longo percurso de sustentação de dúvidas e incertezas, uma ponte para outro momento da dupla.

Inicio um relacionamento com alguém que se apresenta a mim como quem foi indicada por uma ex-paciente minha, que foi sua professora na universidade. Nossos encontros revelam-se, à minha percepção, de uma forma excêntrica: senta-se à minha frente e me pergunta, sentindo-se afrontada com o meu olhar: “Eh… o que foi, hein?”.

Os momentos em que sustentei algum tipo de fala, a partir de uma questão ou observação que me pareciam pertinentes, desencadeavam uma turbulência que “desmoronava” literalmente o setting, culminando com a saída brusca da “paciente”, batendo a porta e dizendo impropérios à minha pessoa e ao que ela imaginava que fosse o meu trabalho.

Afortunadamente ou desafortunadamente ela voltava para outra sessão. Ela, então, na medida em que eu aguardava em silêncio que algo evoluísse entre nós, parecia brincar mostrando-se indiferente à minha presença, dava pequenos chiados, que eu identificava como um ciciar. Colocava um dedo sobre a boca, apontava para o meu corpo e sussurrava esse chiado. As primeiras imagens pictóricas sobre a cobra surgiram desses momentos. Posteriormente, foram se transformando nas conjeturas imaginativas que apresentei.

Acontecia às vezes um esboço de diálogo, resmungos que eu escutava como ruminações e queixas sobre a sua vida e sobre o que ela experimentava em suas relações; nesses momentos se eu a interrompesse formulando alguma questão ou mesmo interpelando-a sobre algo que não havia escutado, ela dizia exibindo uma mímica facial de desprezo: “Não é nada…”.

Percebia que ela jogava seus cabelos sobre seu rosto. Ela os tem longos e selvagens, isto é, sem nenhum tratamento de escovação ou métodos de alisamento. Separava, então, de cada lado de sua cabeleira duas porções de cabelos e literalmente pendurava-se neles, enrolando-os e desenrolando continuamente. Com sua face escondida pelos cabelos iniciava uma fala, para mim, desconexa e em um tom monocórdio, mesclada com vocalizações de cantigas infantis.

Havia entre nós a mobilização de um tipo de passividade, uma entrega a uma ausência de sentidos, a uma ausência de palavras e a presença de um comportamento que eu sentia como incompreensível.

Vou me sentindo torporoso e tenho a impressão, a partir dessa sonolência, de observar, nos momentos em que consigo manter-me precariamente atento, uma criança completamente alheia ao seu entorno, brincando e conversando sozinha. Saio desses episódios como que embriagado, recompondo-me logo em seguida ao término da sessão. Essas situações eram perturbadoras, porque eu sentia que estava completamente desprovido dos recursos que habitualmente nos acompanham em diferentes contextos, além de que essas situações me aproximavam daquilo que acontecia com alguém severamente regredido. Segundo Bion, quanto mais perto de alcançar a supressão do desejo, memória e compreensão chega o analista, mais é possível que ele deslize num sono semelhante ao estupor.

Ao final de algumas dessas ocorrências ela resmunga algo expressando certa surpresa, mas como se falasse consigo mesma: “Como é que consegue?”. Noto nesses momentos que ela expressa uma jovialidade, quase um contentamento.

Essa observação e tal questão ampliam meu desconcerto, mas ao mesmo tempo me fazem supor que essa condição tenha alguma importância para o que ela tenta me comunicar, mas que para mim era inacessível.

Ao longo de um período e experimentando um estado de torpor, vou me atendo às vocalizações, que vão me parecendo um tipo de ritmo infantil e repetitivo. Algo como: “Nã, na, nãã, na, nãã, na…!”. Que me dava a impressão de estar envolvido pelos ritmos e rimas de canções de ninar e, ao mesmo tempo, pela cadência das zombarias infantis.

Depois de um bom tempo dessas experiências vou distinguindo, mobilizado por esses ritmos e padrões, uma de minhas vivências e me vejo em situações de confrontos infantis, elaborando sátiras, que eram repetidas nos ritmos de uma canção, tais como: “Magro banguelo… pé de chinelo ” como resposta a “Gordo … baleia… saco de areia”.

Dou-me conta da habilidade, muitas vezes cruel das “crianças”, de transformar diferenças, insuficiências e defeitos em “apelidos jocosos”, que, por sua vez, sustentam uma interação através de disputas e confrontos, mas, ao mesmo tempo, pode ser entendido como um tipo de apresentação entre duas pessoas. Distinguir essas emoções em meio ao torpor tem efeito de um choque, um impacto, sinto-me vivo e existindo naquele momento. Aquela experiência inacessível, momentaneamente, torna-se singular e pessoal. Sinto que tenho algo de minha experiência afetiva e que posso imaginar que se relaciona ao que ela está tentando me comunicar. Observo-a com seus cabelos cobrindo todo o seu rosto e ela, percebendo que saí daquele estado torporoso, se espanta agarrando-se às mechas de seu cabelo com mais intensidade e começa a enrolá-las.

Pergunto-lhe: “É sobre um tribufo…?”. Sonhei que a partir daqueles movimentos e ritmos, bem como daquele cenário, ela me contava uma história sobre algo que poderia pertencer a essa dimensão. Assusto-me ao mesmo tempo por ter formulado tal questão e usado tal nomeação tão espontaneamente. Posteriormente, soube que este é um adjetivo regional da Bahia, de onde sua família migrou em busca de melhor sorte em São Paulo, bem como um tipo de troça que seus irmãos mais velhos lhe impunham.

Ela, então, me surpreende e dá uma gargalhada e me pergunta interessada: “De onde você tirou isto…?”.

Logo sua mímica facial se recompõe e me diz com desprezo, olhando ostensivamente para o

meu corpo: “E você, quem pensa que é?”. Respondo: “Daqui de onde te observo elevando em conta como você me olhou, posso imaginar que também sou um ‘gordo… baleia’ – expresso esse adjetivo jocoso no compasso que vinha de seus ritmos – que pode nos encalhar! “.

Sorri novamente e me diz: “E eu sou um tribufo que vai te assombrar!”.

MIGUEL MARQUES – é médico e psicanalista; membro efetivo da SBPSP e membro efetivo e analista didata de SBPRP. Trabalha em Marília, Ribeirão Preto e São Paulo.

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