MULHERES NO PODER – III – DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
Apesar das evidências, muitos ainda duvidam que o machismo, mais ou menos velado, de fato prejudica a vida profissional das mulheres. Mas cientistas confirmam: o preconceito faz com que o caminho para elas seja mais árduo e a competência precise ser comprovada de forma bem mais frequente e explicita

Estudos desenvolvidos na Universidade de Michigan revelam que em situações de grupos, inevitavelmente, há o reconhecimento da autoridade feminina – ainda que isso não seja necessariamente de bom grado para a maioria – desde que a competência da profissional se evidencie. Com os homens essa aceitação se dá de forma geral, de maneira mais fácil: eles parecem ter menos a provar em relação ao direito de ocupar determinado lugar.
De fato, às vezes, é difícil entrar em confronto com os colegas sem que a divergência interfira na amizade. Em grande parte por questões culturais, parece mais fácil para os homens seguir o ditado “amigos, amigos, negócios à parte”. Ensinada ao longo dos séculos a sorrir e agradar a todos, é quase uma transgressão para algumas mulheres simplesmente dizer “não”.

SE NÃO FOSSE COM VOCÊ
Alguns especialistas costumam ensinar a executivos, homens e mulheres, um “truque” interessante: observar aquilo que está vivendo como se fosse uma cena de um filme e depois pensar nos melhores conselhos a serem dados ao “ator” ou à “atriz” que interpreta o nosso papel. Isso ajuda, por exemplo, a fugir de uma armadilha comum: o risco de exagerar na empatia quando estão em jogo decisões que influenciam a vida das pessoas. É possível, por exemplo, que muitas mulheres se sintam responsáveis pelos outros e em condições de enxergar mais adiante, ocupando-se de problemas que as afastam da decisão momentânea.
Pesquisa feita pela psicóloga Donata Francescato com parlamentares italianas revela que as progressistas são as que têm menos disposição para a liderança, bem como para perceber as dificuldades advindas por serem deixadas de lado ou pela escassa exposição na mídia. Os homens conseguem obter visibilidade com muito menos esforço. Para elas, com frequência a política é fonte de ansiedade, traz sentimento de precariedade e incerteza. Durante muito tempo, as parlamentares de esquerda acharam difícil se imaginar como líderes, vivendo a competição pelo poder como uma oportunidade para trazer à tona capacidades ocultas. E, não raro, elas preferem ficar à sombra – uma posição, aliás, bastante comum também nas empresas. E a maioria delas tem como referência uma figura masculina de poder como se, apesar do poder que alcançaram, devessem se dedicar de alguma forma a uma figura masculina.
De vez em quando, porém, são justamente elas que têm uma visão negativa do poder, encarado como um obstáculo que se acrescenta àqueles que a sociedade já lhes traz. Se pensarmos no contexto histórico, no qual a mulher ficou durante tanto tempo escondida em casa, faz sentido que restem em muitas os resquícios do medo de “sujar as mãos” com decisões que lhes trarão algum ônus, e não se dão conta de que, inevitavelmente, o poder tem um lado obscuro, mas também há outro positivo. A diferença está em desejar esse poder para si ou para a organização. Não por acaso, muitas profissionais crescem na carreira em contextos em que o compromisso com questões sociais é claro. Muitos defendem que elas são mais sensíveis à justiça e têm um sentido mais amplo do que é coletivo, mas faltam pesquisas que comprovem essa opinião. No caso delas, a maior satisfação vem principalmente de saber que executam bem suas funções e que seu trabalho é reconhecido pelos chefes e colaboradores.
Exceções à parte – e elas sem dúvida existem -, em geral, os homens gostam de exibir o poder, enquanto as mulheres escolhem o estilo “baixo perfil”. Em uma pesquisa na Universidade de Roma, foram ouvidos homens e mulheres acerca de uma mesma situação fictícia: todas as manhãs se formava, em frente a determinado escritório, uma fila de pessoas em busca de atendimento. Eles viam o fato como um símbolo do status e importância do serviço, associavam palavras que expressavam sentimentos de gratificação, orgulho e admiração. Já as voluntárias encaravam a situação como um transtorno, um problema a ser resolvido, e vinculavam à cena ideias de preocupação e angústia.
Em alguns casos, porém, o poder traz medo. Afinal, em última instância nosso ideal é que todos nos amem, mas para quem é “o chefe” isso raramente é possível. Dificilmente alguém se torna uma unanimidade quando se concentra em suas mãos a possibilidade de tomar decisões e muitas vezes as escolhas podem ser interpretadas como incorretas. Impopularidade e solidão quase sempre são companhia certa daqueles que assumem postos de comando. E isso parece pesar mais para as mulheres, por isso a figura de uma amiga (ou amigo), marido ou até terapeuta que possa funcionar como interlocutor pode ser importante para ajudar a equalizar sentimento e razão. Para os homens, entretanto, ficar só e “retirar-se para a caverna” às vezes é suficiente para administrar o estresse.
Todo mundo sabe, homens e mulheres não são vistos (ou julgados) socialmente da mesma maneira. No âmbito profissional isso não é diferente. O prazer explícito nessa área suscita certo incômodo nas outras pessoas, ressalta os pontos negativos dos demais e altera a ordem costumeira das coisas. Quando se trata de mulheres, a reação negativa é mais óbvia. Enquanto a dedicação masculina é admirada com raras ressalvas, no caso delas, com frequência, a paixão declarada pelo trabalho é interpretada de maneira negativa, como se equivalesse à admissão de carências em outros papéis da vida. Se há disputa entre pessoas dos dois gêneros, a competição costuma ficar especialmente violenta.
Para elas (ou pelo menos para grande parte delas) é mais difícil do que para os homens afirmar eu quero e assumir os louros por suas conquistas, parecendo haver uma urgência em dividir os louros com a equipe. Alguns estudos mostram até que elas são menos ambiciosas – se a ambição for definida como o estímulo para o poder ou o prestígio. Mas podem sê-lo tanto quanto os homens se a ambição for descrita como aspiração para resolver problemas sociais.

QUESTÃO DE ESTILO
A forma de gerir relações de poder no trabalho pode ser considerada mais masculina ou mais feminina, e isso não depende necessariamente do gênero da pessoa, mas sim de suas características de personalidade, dos valores que preza, o que quer dizer que um homem pode ter um estilo mais empático, sensível e, portanto, “feminino”, ou uma mulher pode adotar posturas predominantemente “masculinas”, impessoais e assertivas. Na prática, conhecer os dois modelos e buscar integrar as características de cada um, de acordo com a situação, costuma dar bons resultados.
ESTILO FEMININO
1. É importante conhecer os próprios interlocutores no plano pessoal.
2. Ferir os sentimentos de um colega é um problema e deve ser resolvido.
3. O cargo ocupado por uma pessoa não a torna automaticamente infalível.
4. É preciso encarar as próprias fraquezas e até confessá-las.
5. Não há problema em falar de questões pessoais antes de discutir o trabalho.
6. É aceitável dedicar muito tempo para conseguir um consenso.
7. Sublinhar os próprios êxitos é excessivo e ligeiramente de mau gosto.
8. Não se cultivam relações amigáveis com alguém só porque é um superior seu.
9. É mais que justificável falar de sentimentos.
10. A equipe é importante, mas não é o centro do mundo.
ESTILO MASCULINO
1. Evitar falar de sentimentos, principalmente se está em jogo a autoestima.
2. Se necessário, as questões pessoais são abordadas superficialmente na conversa.
3. Os comentários não solicitados sobre a aparência não são apreciados.
4. Discussões mais valorizadas são sobre como desempenhar melhor uma tarefa.
5. No caso de um primeiro encontro, é importante exibir as próprias credenciais.
6. É inadequado manifestar fraqueza excessiva.
7. Deve-se respeito primeiro ao cargo, depois ao indivíduo.
8. É fundamental respeitar a hierarquia: é importante saber quem está “acima”.
9. As feridas no orgulho pesam e as possíveis consequências são consideradas.
10. Objetivos da equipe têm prioridade sobre interesses individuais e emoções.
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