INTOLERÂNCIA: O PODER DA ANTECIPAÇÃO
Estar com pessoas semelhantes a nós nos leva a acreditar que temos todos as mesmas informações e compartilhamos pontos de vista idênticos; essa perspectiva inibe o surgimento de novas ideias e nos faz menos cuidadosos

Adicionar olhares variados a um grupo faz com que as pessoas acreditem que pode haver diferenças de perspectivas entre elas – e essa convicção as leva a mudanças de comportamento. Membros de um grupo homogêneo estão relativamente convictos de que concordarão entre si: que entenderão suas perspectivas e convicções mutuamente; e que serão capazes de chegar facilmente a um consenso. Mas quando os integrantes percebem que são socialmente diferentes uns dos outros, mudam suas expectativas, antecipam diferenças de opinião e perspectiva – e presumem que terão de trabalhar mais arduamente para chegar a um acordo. Essa lógica ajuda a explicar tanto as vantagens quanto as desvantagens da diversidade social: as pessoas saem de sua área de conforto e tendem a se empenhar mais cognitiva e socialmente em ambientes diversificados. E esse esforço pode levar a resultados melhores, além de favorecer a autoestima.
Em um estudo sobre o processo de tomada de decisão de júris, o psicólogo social Samuel Sommers, pesquisador da Universidade Tufts, propôs um experimento: reunidos em equipes, voluntários deveriam deliberar sobre um caso de ataque sexual. O pesquisador observou que grupos etnicamente diversos trocaram um leque bem mais amplo de informações durante a discussão do que grupos formados exclusivamente por brancos. Em colaboração com juízes e encarregados de júris em um tribunal de Michigan, Sommers conduziu julgamentos simulados com jurados previamente selecionados. Embora os participantes soubessem que o júri simulado era um experimento patrocinado pelo tribunal, eles não tinham conhecimento de que o verdadeiro objetivo da pesquisa era estudar o impacto da diversidade racial na tomada de decisão dos jurados.
Sommers compôs os júris de seis pessoas somente com jurados brancos, ou com quatro jurados brancos e dois negros. Como seria de esperar, os júris diversificados se saíram melhor na consideração dos fatos do caso, cometeram menos erros ao recordar informações relevantes e exibiram maior abertura para discutir o papel da etnia/raça no caso. Esses avanços não ocorreram necessariamente porque os jurados negros levaram novas informações ao grupo; aconteceram porque os participantes brancos mudaram seu comportamento na presença dos negros. Diante da diversidade, foram mais cuidadosos e menos preconceituosos.
Agora considere o seguinte cenário: você está redigindo um trecho de um artigo que será em breve apresentado em uma conferência e está antecipando algumas divergências e potenciais dificuldades de comunicação porque você é brasileiro e a pessoa com que fará o debate no dia da apresentação é chinesa. Devido a uma distinção social, você talvez se concentre em outras diferenças entre vocês, como a cultura, educação e experiências dele ou dela – aspectos que você não esperaria de um colega do mesmo país. Como você se prepara para o evento? É bem provável que se dedique mais a explicar seu raciocínio e antecipar alternativas do que faria em outras circunstâncias.
Pois bem, é assim que a diversidade funciona: a criatividade estimula a consideração de alternativas antes mesmo que ocorra qualquer interação interpessoal. O desconforto associado ao que é diferente pode ser imaginado como a dor resultante de exercícios físicos. Para desenvolver seus músculos, você tem de se esforçar. Como diz o velho ditado, “sem esforço não há recompensa”. Da mesma maneira, precisamos de diversidade em equipes, organizações e na sociedade em geral se quisermos mudar, evoluir e inovar.

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