EU ACHO …

A PERIGOSA AVENTURA DE ESCREVER

“Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras.” Isso eu escrevi uma vez. Mas está errado, pois que, ao escrever, grudada e colada, está a intuição. É perigoso porque nunca se sabe o que virá – se se for sincero. Pode vir o aviso de uma destruição, de uma autodestruição por meio de palavras. Podem vir lembranças que jamais se queria vê-las à tona. O clima pode se tornar apocalíptico. O coração tem que estar puro para que a intuição venha. E quando, meu Deus, pode-se dizer que o coração está puro? Porque é difícil apurar a pureza: às vezes no amor ilícito está toda a pureza do corpo e alma, não abençoado por um padre, mas abençoado pelo próprio amor. E tudo isso pode-se chegar a ver – e ter visto é irrevogável. Não se brinca com a intuição, não se brinca com o escrever: a caça pode ferir mortalmente o caçador.

*** CLARICE LISPECTOR

OUTROS OLHARES

OLHA, SEM AS MÃOS!

Os carros semiautomáticos são uma realidade cada vez mais próxima do consumidor – resta saber agora quando eles dispensarão completamente o motorista

A mobilidade imaginada no filme Minority Report A Nova Lei, de 2002, está a cada dia mais perto de se concretizar. Os carros totalmente autônomos que levavam Tom Cruise para cima e para baixo podem não se tornar uma realidade generalizada nesta década, mas as principais montadoras do mundo estão avançando rumo ao advento do veículo que dispensa motorista. Projetos futuros ainda dependem de condições ideais de ambiente – sinalização e infraestrutura viárias padronizadas -, de velocidade de transmissão de dados e, principalmente, de um marco legal. De qualquer forma, a indústria continua progredindo e promete entregar, entre este e o próximo ano, mais unidades que atendam ao nível 2 de automação (veja o quadro abaixo). Em linhas gerais, existem seis níveis de automação veicular, que vão da total dependência do motorista (mesmo em carros automáticos) ao estágio em que o veículo é capaz de operar sem interação humana. Criada pela Sociedade dos Engenheiros Automotivos dos Estados Unidos (SAE), a classificação ajuda a entender em que ponto estão as montadoras. A Tesla, por exemplo, empresa de carros elétricos cuja avaliação de mercado supera a de muitas montadoras juntas, projetava entregar seus modelos de nível 5 em 2021. No entanto, só clientes selecionados, em regiões específicas, podem experimentá-los.

O que a Tesla oferece em todos os carros é um piloto automático e recursos de direção autônoma para o futuro – por meio de atualizações de softwares. O Autopilot AI, como é chamado o programa da fabricante, ajuda a dirigir, acelera, freia e regula a velocidade, tendo como referência os carros à frente. Até o Model 3, modelo mais barato, que custa 35.000 dólares, já vem com recursos de conveniência, como frenagem de emergência, aviso de colisão e monitoramento de ponto cego, o que o coloca no nível 2.

A GM americana anunciou que lançará em 2022 dois carros de condução semiautônoma, o redesenhado Chevrolet Bolleo novo Bolt EUV – ambos elétricos. Eles serão equipados com tecnologia Super Cruise, já usada em veículos como o sedã Cadillac, modelos CT5 e CT6, que permite ao motorista tirar as mãos do volante. O Super Cruise, no entanto, vigia o piloto por meio de uma câmera para aferir se ele está prestando atenção na estrada, caso seja necessário retomar a direção. Uma nova versão do sistema, que faz o automóvel mudar de faixa sozinho, estará presente no Cadillac e também no novo SUV Escalade.

No fim do ano passado, a Honda recebeu certificação do governo japonês para oferecer tecnologia de direção autônoma em nível 3 ao mercado doméstico. A empresa promete apresentar nas próximas semanas o sistema que equipará seu principal modelo, o Legend. Apelidado de Traffic Jam Pilot, ele deixa o veículo assumir a direção, frenagem e aceleração sob determinadas condições, como em um congestionamento. Em teoria, o motorista pode fazer qualquer coisa, como ler uma revista, menos dormir ou consumir bebidas alcoólicas. Isso porque precisa estar preparado para reassumir o controle.

Na prática, o Traffic Jam Pilot, o Autopilot AIeo Super Cruise são semelhantes, embora estejam em níveis diferentes. Chegar à total automação, entretanto, é uma questão de tempo, contanto que os obstáculos técnicos e de responsabilidade civil sejam superados. Uma das questões que se colocam é quem seria o culpado no caso deum acidente com um veículo autônomo: o motorista inerte ou o fabricante? Ainda não há resposta. “Há dilemas éticos, morais e de legislação que precisam ser equacionados,” diz o engenheiro Camilo Adas, presidente da SAE Brasil, dedicada à mobilidade. E onde está o Brasil nessa busca do carro autônomo? Não há nenhum desenvolvimento local previsto, mas o nível 5 teria os mesmos desafios de implantação de outros países, em especial a infraestrutura viária adequada. No entanto, segundo Adas, as rodovias bem avaliadas, como a Bandeirantes, no estado de São Paulo, poderiam receber veículos de alta automação. Portanto, é seguro afirmar que, em algum momento, a tecnologia de ponta estará ao alcance de um bom número de brasileiros – e talvez não demore tanto tempo assim.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 15 DE ABRIL

O CONHECIMENTO VALE MAIS DO QUE OURO

Todo prudente procede com conhecimento, mas o insensato espraia a sua loucura (Provérbios 13.16).

O conhecimento é um bem inalienável. Investir em conhecimento é acumular um tesouro que ninguém lhe pode roubar. O conhecimento vale mais do que ouro. É uma joia que brilha sempre e nunca perde o valor. O prudente procede com conhecimento. Seu conhecimento o promove, o destaca e o faz assentar-se entre príncipes. Os bens materiais podem ser roubados e saqueados, mas nenhuma força da terra pode arrombar o cofre onde você entesoura o conhecimento. O prudente, porém, não é apenas aquele que tem o conhecimento, mas também aquele que procede com conhecimento. Sabedoria é o conhecimento corretamente aplicado. Não basta saber; é preciso colocar em prática o que se sabe. Tanto o saber sem agir como o agir sem saber são atitudes insensatas. O tolo é aquele que rejeita o conhecimento e ao mesmo tempo espraia a sua loucura. Fala do que não entende e age inconsequentemente. Espalha sua tolice, provoca desconforto com suas ideias insensatas e com suas atitudes agressivas magoa as pessoas à sua volta. Invista no conhecimento; ele vale mais do que ouro!

GESTÃO E CARREIRA

LICENÇA PARA DISCORDAR

Os líderes precisam de pessoas que os questionem. O segredo é: como fazer isso sem gerar conflitos e abalar as relações?

Em um reino muito, muito distante, um rei criava leis do tipo que proibia as pessoas de cortar a unha do pé em noite de lua cheia. Quando questionado, ele gritava: “Cale a boca! Quem manda aqui sou eu”. Com o tempo, ninguém mais discordava do soberano. As pessoas pararam de falar.

Apesar de escrita para crianças, a premiada obra de Ruth Rocha O Reizinho Mandão (Editora Salamandra) ilustra a situação vivida por muitos subordinados no mundo corporativo que se calam frente a líderes ainda autoritários. Pode parecer mais fácil gerir sem divergência, mas certamente não é saudável para o negócio. “Discordar gera novas ideias criatividade, honestidade, autenticidade e engajamento”, diz George Kohlrieser, professor de liderança e comportamento organizacional na escola de negócios IMD, na Suíça, que por mais de 40 anos ajudou na negociação em sequestros. “As pessoas que dizem ‘sim’ para tudo evitam conflitos, mas eles são importantes -desde que o vínculo relacional seja mantido”. Já dizia William Ury, um dos mais renomados especialistas em mediação do mundo e cofunda dor do Programa de Negociação de Harvard: “O conflito é como uma tempestade. Adequadamente controlado, pode ser uma bênção. Em grande intensidade e no lugar errado, pode causar uma enchente destrutiva”.

O desafio está em manter o equilíbrio entre as partes, permitindo, de um lado, uma comunicação sincera e, de outro, evitando que as relações azedem. Mas de que forma os profissionais de recursos humanos podem convencer os gestores de que ouvir opiniões contrárias – e até alguns “nãos” – é benéfico para seu desempenho? E qual é o limite para discordar sem gerar conflito?

A ARTE DA GUERRA

Primeiro, vale entender que o cérebro humano interpreta o desacordo como uma intimidação, ativando o instinto de sobrevivência. “Quando alguém discorda de você, isso pode significar uma ameaça a algo de seu interesse, como a imagem de “estar certo”, diz Roberto Aylmer, professor na Fundação Dom Cabral e especialista em gestão estratégica de pessoas. Isso leva os indivíduos a agir de forma mais primitiva e com menos reflexão, dando origem ao conflito.

Além do sentimento de ameaça, outros fatores podem prejudicar o diálogo. A pressa é um deles. “Ela não deixa espaço para a escuta”, afirma a psicóloga Eliane Leite, coordenadora acadêmica do curso de formação em recursos humanos da Escola de Negócios da PUC-Rio. Em tempos de redes sociais, a professora levanta outro problema: pessoas que discordam temem ser rotuladas de pessimistas ou inadequadas à cultura corporativa. “Vivemos a era dos likes. Refletir, indagar, apresentar outra forma de ver uma questão passou a ser um sinal vermelho. Isso soa como: ‘Alguém por aqui não deu um like’?”, diz Eliane. O “fantasma” do desemprego faz, também, com que muitos assumam uma postura de autopreservação. Afinal, é melhor deixar de cortar as unhas um dia do que ter a cabeça na guilhotina.

SABER OUVIR

Foi-se o tempo em que fazia sentido o mantra ”Manda quem pode, obedece quem tem juízo.” Hoje em dia, as chefias precisam dar o exemplo e entender que o questionamento feito com respeito traz vantagens competitivas. Além de colaborar para a inovação, ajuda a formar equipes com melhor desempenho e contribui para que os trabalhadores sejam mais inovadores.

A chave para a boa gestão de desavenças, segundo George Kohlrieser, é estar disposto a discordar, incentivar as pessoas a expressar as diferenças e criar uma atmosfera em que todos se sintam seguros em falar.  “Quando isso não acontece, é papel do líder dizer: ‘Quero saber onde você discorda de mim e não apenas onde concorda’“, afirma o professor e também autor do livro Hostage at the Table How Leaders Can Overcom e Conflict, influence Others, and Raise Performance (Editora Jossey-Bass).

Se, de um lado, demonstrar uma opinião oposta sem gerar confusão depende da postura e da intenção de quem argumenta, de outro, também está sujeito à disposição de quem ouve. “Alguns gestores confiam tanto neles que se esquecem de que os outros também podem ter boas ideias”, diz Vera Martins, especialista em comunicação assertiva e autora de Seja Assertivo! (Alta Books Editora). “O conflito acontece quando o inflexível vê a discordância como uma ameaça à sua competência.” A dica da especialista está em focar a solução do problema, bem como fazer o chefe perceber que o subordinado se encontra ali para colaborar.

Um detalhe: faz toda diferença que ambas as partes se escutem com atenção e deixem o interlocutor concluir seu pensamento. “Começar ouvindo ajuda a quebrar a resistência”, afirma Vera. Feito isso, é hora de fazer perguntas e, ao final, concluir com frases como: “‘Veja se eu entendi o que você está dizendo” e “Eu penso diferente. Você quer me ouvir?” De acordo com Vera, isso permite que a comunicação seja menos agressiva e se torne assertiva.

Uma maneira divertida de o RH estimular as discussões saudáveis e tornar isso uma prática seria propor uma dinâmica na qual um grupo tenha de defender uma opinião, e outro, discordar. “Criar um tribunal em cima de uma ideia é uma forma interessante de favorecer a troca, abrindo a participação de todos a partir de um papel que foi previamente estipulado”, diz Aylmer, da Dom Cabral. Para ele, pessoas que não expressam opiniões podem ter sua criatividade asfixiada. Por isso, é um movimento importante a organização se deixar perceber como aberta a diferentes visões de mundo.

Calar-se e balançar a cabeça positivamente é muito mais fácil do que ter a coragem de confrontar alguém ou de reconhecer que se está errado. Mas as desavenças são inevitáveis, normais – e saudáveis. Basta nos acostumarmos com elas.

5 RAZÕES PARA DIVERGIR

1. Equipes que se sentem responsáveis pela solução de um problema são mais comprometidas e engajadas

2. A diversidade de opiniões abre caminho para novas ideias e inovações

3. Dar aos funcionários liberdade de fazer perguntas e expressar opiniões leva à mitigação de riscos

4. Ao ouvir e incorporar feedbacks, o líder tem a chance de evoluir

5. Ao abrir espaço para debates, a empresa cria um ambiente de trabalho mais inclusivo

COMO QUESTIONAR SEM PROBLEMA

•  Discorde de um pensamento ou de uma estratégia, não de uma pessoa

•  Atue como mediador, gerando na equipe confiança para que as pessoas exponham seus pontos de vista

•  Estabeleça subgrupos nos quais um defenda uma ideia e o outro discorde dela. um sorteio pode definir quem é “advogado de defesa” e quem é “promotor”

•  O espaço para o time errar sem que esse erro bem intencionado seja considerado uma falha imperdoável

•  Incentive a equipe a focar na busca da solução ao invés de competir pela melhor ideia

•  Enxergue as pessoas como colaboradores e não como uma ameaça

• Antes de divergir, escute, questione e, depois de deixar a pessoa concluir seu pensamento, diga por que pensa diferente

“ACEITAR NÃO SIGNIFICA CONCORDAR”

Com mais de 40 anos de experiência como psicólogo e negociador de reféns, George Kohlrieser dá aulas de liderança no IMD, na Suíça. Na entrevista a seguir, ele ensina como expor opiniões contrárias sem azedar as relações.

CHEFES PRECISAM DE PESSOAS QUE OS QUESTIONEM?

Definitivamente, sim. Estar cercado de funcionários, amigos e consumidores complacentes é um problema para os líderes. Em algumas organizações, a cultura do silêncio desencadeia problemas sérios, como mostrou o escândalo de emissões de poluentes da Volkswagen. É responsabilidade dos gestores dar o exemplo, mostrando como discordar com respeito e como expressar as diferenças.

E DE QUE FORMA ISSO PODE SER ESTIMULADO?

O fundamental é ter desejo de aprender, curiosidade e abertura para outro ponto de vista. No desenvolvimento de liderança, ensinamos a diferença entre aceitação e concordância e como separar a pessoa do problema. Isso por que, a partir do momento em que você faz do indivíduo um problema, você se torna refém e mais suscetível a um desacordo destrutivo.

COMO OS LÍDERES PODEM INCENTIVAR AS PESSOAS A EXPRESSAR SUAS OPINIÕES?

O importante é que eles estimulem as pessoas a dizer o que pensam. Onde isso não está acontecendo, eles precisam fazer mais perguntas para elucidar as diferenças. Isso deve começar pelo próprio CEO, com a mensagem: “Quero saber onde você discorda de mim e não apenas onde concorda”. Líderes precisam ser o que chamo de “base segura”: motivar a verdade e a confiança para explorar soluções criativas.

POR QUE ALGUNS INDIVÍDUOS TÊM DIFICULDADE EM DISCORDAR?

Parte do problema é que eles não aprenderam a dizer “não”, então evitam discordar. Ao lidar com esses indivíduos, enfatize que você quer a verdade, porque gostaria de saber como eles se sentem. Para encorajá-los a ser honestos, você precisa ser direto e caloroso. Eles precisam aprender que as diferenças de opinião levam a melhores soluções.

AS PESSOAS DEVERIAM DIVERGIR MAIS?

De uma forma geral, sim. Os desacordos devem ser considerados parte normal e positiva de uma relação. No entanto, é essencial que seja feito com respeito para a construção de um objetivo comum. Saber quando discordar e quando concordar é importante para o desenvolvimento da liderança.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

AMOR NARCISO NA CIVILIZAÇÃO

Pelo fundamento inconsciente, o amor pode ser considerado político, o que motivou Freud a trabalhar mais claramente esse sentimento em textos sobre o narcisismo e nos que tocam a massa e os descontentes na civilização

No amor o sujeito recusa o dom em busca de sua realização, impossível, por ser oceânica, de estabelecer qualquer saber completo e garantia para o futuro, que é tão somente o de uma ilusão. Parando o tempo, no atemporal do inconsciente, poderá cristalizá-lo para fazê-lo eterno enquanto durar e/ou atualizá-lo em fantasias de um ato ilusoriamente recíproco, pois ama-se no outro aquilo que de si mesmo foi investido e retornou. Ama-se só até onde vai o limite dos desdobramentos da própria capacidade narcísica. O amor, pelo fundamento inconsciente, é político! Não por acaso Freud trabalhou mais claramente o amor em textos sobre o narcisismo e nos que tocam a massa e os descontentes na civilização.

Em uma das passagens Freud escreve “as pulsões do amor são difíceis de educar”. O amor questiona a civilização. “O estar apaixonado consiste num fluir da libido do ego em direção ao objeto. Tem o poder de remover as repressões e de reinstalar as perversões”.

O amor é polimorfo, sem sexo, sem objeto previamente estabelecido. O amor no feminino exige palavras para gozar, multiplamente. Sua reação frente ao corte é de imediata elaboração, trabalho de luto e sofrimento, sua necessidade é de ser amada. O amor no masculino tem o poder colocado em jogo, buscando adiar o contato com a castração e sofrimento, sua necessidade é de amar. Em ambos, o deslocamento e mecanismos de defesas podem ser usados para defender-se da angústia advinda do rompimento do amor. Ficam também enigmas, de um lado, o que de mim ofereço ao amor é mesmo impossível de ser acessado? E, de outro, o que ofereço de mim para amar é mesmo insuficiente?

Indubitavelmente os destinos do amor desassossegam, pelo caráter limiar, os temas do amor, do ser e identificações, do ter e escolhas de neuroses, romances, sexualidade, moral sexual civilizada, sexo, gozo, felicidade etc. Falar do amor é organizar a vida e fazer dele uma “carreira sem limite”, vendo o ser para além do que parece ser e se vendo como extensão ao futuro, efeitos de Eros.

No livro de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, podem, nas entrelinhas da história, serem lidos destinos possíveis ao amor. Os relatos do livro ocorrem em meio à guerra, em um diálogo que nos lembra o ato analítico, fundado em amor, repetições, invenções e palavras!

Ensinar o filho a amar é uma das impossíveis tarefas dos pais trabalhadas por Freud em 1905. Ainda com Freud temos a notícia de que “muito antes da puberdade já está completamente desenvolvida na criança a capacidade de amar”. Sabemos ainda que experiência pode ser dita, “redita”. A experiência na Psicanálise é algo da mais alta agudez humana, comporta algo muito sério e perigoso de ser manipulado. O corte deve ser cirúrgico! Nesta lógica, sabendo que se pode estar pisando em sonhos, nos amores, o analista caminha suave.

RETORNO À ANÁLISE

A primeira regra da Psicanálise, a regra fundamental, é a associação livre, e foi ensinada a Freud, via amor transferencial, por uma de suas pacientes: “Então, ela disse, francamente irritada, que eu não deveria lhe perguntar de onde vêm isso e aquilo, mas deixá-la contar o que ela deveria me dizer”.

O inconsciente diz e se manifesta em direção a Outro, não a outro qualquer, mas, sim Outro de amor no dom de amar! Ideal de eu. Ou em fundo narcísico, paixão ensimesmada em um eu ideal. Aquele que amo, aquele que me ama!

No fundo, sendo o amor uma invenção subjetiva para se haver com a falta, o amor é uma repetição da causa perdida no atemporal que transita em cada um. Em Guimarães Rosa, “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. Nos etcéteras da vida. Contos para análise.

A transferência, nos ensina Freud, é um fragmento da repetição, e a repetição é uma transferência do passado esquecido. ”A gente se acha de voltar aos passados”. E muita gente volta à análise. O inconsciente em sua atemporalidade se remonta na análise na esfera do amor e do ódio. O ódio é o oposto do amor.

O sujeito em “desenvolvimento” vive os desdobramentos da construção de um corpo que exige libido e Trieb em todos seus poros. Na transferência, para suportar suas lembranças encobridoras, o paciente “suspira de ódio, como se fosse por amor”.

Em análise – assim como na vida – no amor e na fala, “era como se tivesse que caçar emprestada uma sombra de amor”. No amor, essa sombra é necessária, poisnele não se cala o grito dos sonhos – “pai, não vês que estou queimando?”.

O amor, para lidar com os sintomas e modos de gozar, exige uma escuta que seja flutuante. “O senhor escute, me escute mais do que estou dizendo; e escute desarmado… muita coisa importante falta nome”. Daí supõe o saber e sendo o saber fálico por excelência, o traçado se risca tal como “bem, o senhor ouviu, o que ouviu sabe, o que sabe me entende”. A repetição, limítrofe entre a resistência e transferência, escorrega na língua: “Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do com um, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo seu, não é criatura de pôr denúncia”.

A escuta flutuante é a escuta que mantém desperta a posição do analista, que deverá estar abstinente de seus julgamentos, desnudado de preconceitos e comprometido com as sutilezas do inconsciente daquele que foi convidado a expressar-se como lhe convier. Pois, “o que é para ser – são as palavras! “. Em Psicanálise, do debruçar-se da escuta clínica até o debruçar-se do divã, o que o sujeito mais busca é o correlato do seu ”sertão”, do seu amor.

“SELF” SOB AS ÁGUAS

Por vezes busca-se o narcísico do amor, só pelo narcisismo é que podemos amar, pelos seus destinos. Das formas de amar, podemos pensar que aventurado foi Narciso, que tirou “self ” sob as águas (tão narciso que nem precisou de máquina fotográfica), se perdeu no império da própria imagem e morreu afogado no encontro com o real pelo simbólico que nunca disse! Do Narciso das águas veio ao Narciso do império das imagens, morrendo em aquisições ao discurso do mestre e leitos de hospitais. Dos amores narcísicos temos ainda, como exemplo, aquele que diz “eu te amo” para apenas escutar o “eu também”!

O ato analítico é um destino possível ao apalavrar do amor! É lá que “grandes pedras do fundo do chão vêm à flor”.

No apetitoso prazer da memória o inconsciente em transferência escapa nas falas e se manifesta em lembranças encobridoras:

“A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. (…) Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data”.

O amor não é recalcável, as palavras e as ideias que o contornam é que podem ser, isso que aqui pode parecer uma simples repetição ao leitor mais atento é um ponto de reflexão, “reflexão”, flexionar novamente o que se repete para descobrir o que “de novo” aparece, é assim que as políticas do amor vão à clínica.

O amor é afeto a ser destinado a algum lugar deste mundo – mundo particular. Não há regra de ouro para os destinos do amor e o futuro do amor é tão somente o futuro de uma ilusão. Na análise do amor somos todos leigos, até que se diga e só aí é que se inventa, na incomensurável medida, um certo saber fazer com amor.

O amor nos leva à loucura, dizemos do estranho, daquilo que nos é mais íntimo, gozamos com o corpo e amaciamos o egoísmo do desejo:

“A gente está pertinho do que é nosso por direito, e não sabe, não sabe, não sabe! Sendo isto. Ao doido, doidera digo. Mas o senhor é homem sobrevindo, sensato, fiel como papel, o senhor me ouve, pensa e repensa, e rediz, então me ajuda. Assim, é como conto. Antes conto as coisas que formaram passado para mim com mais pertença. Vou lhe falar. Lhe falo do Sertão. Do que não sei. Um grande Sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas – e só essas poucas veredas, veredazinhas. O que muito lhe agradeço é a sua fineza de atenção”.

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