Bem sei que é uma vaidade dizer em plena primavera que eu sei o que é primavera. Às vezes porém sou tão humilde que os outros me chamam a atenção. É uma humildade feita de gratidão talvez excessiva, é feita de um eu de criança, de susto também de criança. Mas, desta vez, quando percebi que estava humilde demais com a alegria que me era dada pela vinda da primavera chuvosa, dessa vez apossei-me do que é meu e dos outros.
Sei o que é primavera porque sinto um perfume de pólen no ar, que talvez seja o meu próprio pólen, sinto estremecimentos à toa quando um passarinho canta, e sinto que sem saber eu estou reformulando a vida. Porque estou viva. A primavera torturante, límpida e mortal que o diga, ela que me encontra cada ano tão pronta para recebê-la. Bem sei que é uma perturbação de sentidos. Mas, por que não ficar tonta? Aceito esta minha cabeça à chuva tremeluzente da primavera, aceito que eu existo, aceito que os outros existam porque é direito deles e porque sem eles eu morreria, aceito a possibilidade do grande Outro existir apesar de eu ter rezado pelo mínimo e não me ter sido dado.
Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar horas sentada fumando, apenas sendo. Ser às vezes sangra. Mas não há como não sangrar pois é no sangue que sinto a primavera. Dói. A primavera me dá coisas. Dá do que viver. E sinto que um dia na primavera é que vou morrer. De amor pungente e coração enfraquecido.
A Covld-19 provocou uma corrida atrás dos oxímetros, aparelhos que medem a oxigenação do sangue. Atenção: eles devem ser usados com muita parcimônia
O medo causado pelo alastramento da Covid-19 provocou um novíssimo fenômeno de vendas: as dos oxímetros portáteis, pequenos dispositivos que medem a oxigenação sanguínea pela ponta dos dedos. Em pouco menos de dois meses, as dezenas de modelos do aparelho sumiram das farmácias, como se fossem frascos de álcool em gel. Em abril, o número de compras via e-commerce aumentou 171% em relação ao mesmo período de 2019, de acordo com levantamento da consultoria Compre & Confie. Para ter um deles agora é preciso esperar por semanas e desembolsar 59% a mais do que se pagava no ano anterior: 202 reais, em média. Dados do Google no Brasil mostram que entre fevereiro e março houve um aumento de quase 10.000 % (isso mesmo) da busca pela palavra “oxímetro”.
A intensa procura começou a partir de um artigo do médico de emergência americano Richard Levitan no The New York Times. No texto, Levitan descreve um quadro que chamou de “hipóxia silenciosa”. É o que acontece com pacientes que estranhamente não sentem falta de ar mesmo com níveis extraordinariamente baixos de oxigênio no sangue, fenômeno ainda não explicado pela medicina. Essas pessoas chegam ao hospital em estado crítico. Segundo o médico, o uso de oxímetro por pessoas com sintomas compatíveis com o da Covid-19 poderia ajudar a antecipar a detecção precoce de quadros graves.
A sugestão de Levitan, contudo, é controversa. Diz o pneumologista Bruno Guedes Baldi, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Fisiologia: “É um grande risco fazer desses aparelhos o único método de diagnóstico precoce e de complicações da Covid-19″. Estima-se que em 25% dos doentes a medição da saturação seja inútil porque são pacientes assintomáticos. E mais: dificilmente o portador da doença apresenta falta de ar e oxigenação baixa no início. Em geral, esses problemas aparecem por volta do sétimo dia e são antecedidos por sintomas como febre, tosse seca e incômoda e falta de olfato e paladar. O benefício real do monitoramento da oxigenação é poder sinalizar a queda da saúde respiratória antes do stress fatal da doença para o enfermo que está se recuperando em casa e precisa ir para o hospital – não para o saudável. O uso doméstico do dispositivo pode ainda levar a erro de interpretação. O fluxo de oxigênio, por exemplo, sofre variações naturais fica mais baixo quando acordamos ou praticamos exercícios. Também pode acontecer o oposto e o oxímetro transmitir uma falsa sensação de segurança. “Há ainda um efeito colateral indireto, o aumento da ansiedade causado pelas verificações frequentes”, diz o pneumologista Eliel Fiss, pesquisador sênior do Hospital Osvaldo Cruz. Conclusão: use com parcimônia e acompanhamento médico.
E, apesar de tudo, do mau hábito de se apegar a traquitanas da medicina em necessidade, deu-se a popularidade do dispositivo por um motivo simples: a facilidade de uso, semelhante a um prendedor de roupas, o oxímetro é colocado na ponta do dedo (a maioria dos modelos exigem que a unha fique para cima e sem esmalte) e, em segundos. indica o nível de oxigenação do organismo e os batimentos cardíacos. O aparelho funciona como uma lanterna que joga luz sobre uma folha de papel e que em seguida mede quanto dessa luz chega ao outro lado. A folha de papel, no caso, é o dedo do paciente. Quando as hemoglobinas, proteínas que transportam o oxigênio no sangue, estão com mais oxigênio, elas absorvem mais luz infravermelha: quando estão menos oxigenadas, absorvem mais luz vermelha. A intensidade das luzes que chegam ao receptor do outro lado é traduzida em valores digitais. O nível normal é de pelo menos 95%. Em portadores de problemas pulmonares, como enfisema e obesos, o índice aceito é um pouco menor, em tomo de 92%. Medições abaixo dessas, portanto, pedem atenção e, insista-se, olhar profissional.
Na vereda da justiça, está a vida, e no caminho da sua carreira não há morte (Provérbios 12.28)
Os homens são ávidos para encontrar o sentido da vida. Buscam esse sentido nas aventuras, nas riquezas, nos prazeres e no sucesso. Sorvem todas as taças dos prazeres e provam todas as iguarias do banquete do mundo. Embora entrem por largas avenidas e espaçosos caminhos na busca pela felicidade, muitos rumam para a perdição. Esse caminho parece direito, mas é caminho de morte. Oferece liberdade, mas escraviza; promete alegria, mas paga com a tristeza; proclama a vida, mas o que se vê ao longo dessa estrada é a carranca da morte. Na vereda da justiça, porém, está a vida, e no caminho da sua carreira não há morte. Jesus é o caminho e é também a vida. Quando andamos nele, saboreamos a verdadeira vida. Quando permanecemos nele, a morte não tem mais a última palavra sobre nós. A justiça é o caminho da vida. Esse caminho é estreito, mas seguro. É apertado, mas seu destino é a glória. Nesse caminho passamos pelo vale da sombra da morte, mas não precisamos temer mal nenhum. Não estamos sós. O bom pastor caminha conosco, oferecendo-nos segurança, refrigério e vitória. E, quando nossa jornada aqui terminar, habitaremos na casa do Pai, e isso por toda a eternidade.
A criação de um programa estruturado de diversidade está ajudando a Usiminas aumentar o número de mulheres em seu quadro.
Em 2016, a empresa do setor siderúrgico Usiminas estava enfrentando uma crise financeira, resultado da recessão econômica pela qual o país estava passando e da queda nos preços internacionais do minério de ferro, commodity primordial para a companhia. Na época, a organização registrou prejuízo líquido de 670 milhões de reais. Foi durante a recuperação ao longo do ano seguinte, que a Usiminas decidiu investir em um programa interno de diversidade e inclusão para impulsionar o engajamento dos funcionários e melhorar o aspecto financeiro.
“Além de garantir que as pessoas trabalhem mais felizes e se sintam respeitadas, o crescimento dos resultados é maior em ambientes diversos e inclusivos. Pesquisas de mercado mostram isso. A gente se baseou em um relatório da McKinsey que diz que empresas com diversidade de gênero são 21% mais lucrativas, enquanto a diversidade étnica melhora os resultados em 33%”, afirma Sergio Leite de Andrade, diretor presidente da Usiminas.
Por estar em um segmento altamente masculino, era um grande desafio criar uma cultura de aceitação para que o programa de diversidade fosse abraçado por todos. Por isso, a organização resolveu contratar uma consultoria para desenhar a estratégia e estruturar o projeto.
A SOLUÇÃO
Lançado em janeiro de 2019, o programa foi dividido em cinco pilares – gênero, étnico-racial, geração, PCDs e LGBTI+. Na primeira etapa, a tarefa era conscientizar a alta liderança e os gestores. Para isso, a companhia montou um comitê com o CEO e os cinco vice-presidentes. Os executivos tinham como objetivo acompanhar as métricas e os resultados das ações, reunir-se para discutir o tema a cada trimestre e apadrinhar um dos grupos de afinidade recém-criados.
“Desde o início, um ponto muito importante foi conquistar o comprometimento das lideranças. Todos os nossos 420 gestores passaram por três meses de capacitação, treinamentos, workshops e discussões sobre vieses inconscientes” explica Sergio, que é padrinho do grupo LGBTI+.
A segunda fase do processo foi marcada por duas ações paralelas: reforçar a comunicação interna para difundir o programa entre os funcionários e promover a reflexão sobre a diversidade; e lançar efetivamente as atividades dos grupos de afinidade. As equipes são formadas por até 30 empregados voluntários que se reúnem uma vez por mês para discutir o tema e propor ações. Durante a pandemia da covid-19 o pessoal continuou os trabalhos – a interação é feita de forma remota.
Paralelamente, a Usiminas começou a ampliar o recrutamento por meio de parcerias e participações em feiras, congressos e palestras de diferentes instituições e consultorias de recolocação profissional voltadas para minorias. Outro enfoque foi em ações de retenção que começaram a olhar mais para as necessidades dos grupos diversos com benefícios como licença maternidade estendida, instalação de salas de aleitamento, realização de um programa de capacitação de pessoas com deficiência e inclusão de cônjuges do mesmo sexo no plano de saúde.
E a companhia ainda assinou três pactos: a Carta-Compromisso de Coalisão Empresarial para equidade Racial e de Gênero; O Fórum Empresas e Direitos LGBTI+, e os Princípios de Empoderamento Feminino da ONU Mulher. Segundo Sergio, fazer parte dessas iniciativas permite que a empresa compartilhe sua experiência com outras companhias e conheça diferentes práticas.
O RESULTADO
Em um ano, os trabalhos de sensibilização e revisão dos processos seletivos permitiram aumentar a participação das mulheres em programas de entrada de 18% para 40%. Algumas atividades, como o programa de trainees, começaram antes do lançamento oficial do projeto de diversidade, mas já foram pensadas para ampliar a participação das minorias. A seleção de trainees feita em outubro de 2018, por exemplo, tinha 50% de mulheres entre os 34 contratados. “Esse é um programa de longo prazo. Os indicadores estão evoluindo e o aumento das mulheres no quadro de funcionários é um exemplo disso”, afirma Sergio.
Em junho deste ano, o foco da empresa tem sido o pilar LGBTI+. Por conta do Mês do Orgulho, a comunicação interna ganhou as cores da bandeira LGBTI+ e foi lançado um manifesto a favor da diversidade.
USIMINAS
NEGÓCIO
Produção e comercialização de aços laminados, bobinas, placas e revestidos, destinados principalmente para a produção de equipamentos, materiais de construção, instalações industriais, bens de consumo da linha branca, além da indústria automotiva.
ANO DE FUNDAÇÃO: 1956
UNIDADES: 12
NO BRASIL
Sede em Belo Horizonte (MG) e unidades em São Paulo (SP), Cubatão (SP), Taubaté (SP), Guarulhos (SP), Ipatinga (MG), Itatiaiuçu (MG), Santa Luzia (MG), Betim (MG), Porto Alegre (RS), Suape (PE) e Vitória (ES).
FUNCIONÁRIOS
27.700 – Sendo 15.800 – Próprios e 11.900 – Terceirizados
RECEITA LÍQUIDA TOTAL
14,9 bilhões de reais em 2019, resultado 8,8% superior ao exercício de 2018
Deixar marcas, ser notado, não passar em branco, ser alguém especial… por que isso é tão essencial e essa necessidade tem crescido tanto numa sociedade que valoriza até a ostentação da felicidade?
Amar e ser amado são necessidades inerentes à humanidade, somos seres sociáveis e, como tais, temos o desejo de pertencimento a um grupo e de compartilhar amor. Necessidade essa que nasce, fundamentalmente, na infância e nos acompanha no decorrer da vida.
O amor é o alimento da alma. Amor é preenchimento, transbordamento, alegria. Quando estamos cheios de amor genuíno e realmente conseguimos nos amar, esse amor transborda e atinge o outro, assim como preenche a vida e tudo que se faz! É o que dizem as escrituras sagradas em “amar o próximo como a ti mesmo”. Quando se pratica o amor, a vida se torna leve, colorida. Ele é o combustível da vida, o sentimento que dá sentido ao que somos e ao que fazemos. Quem é cheio de amor genuíno, amor-próprio, consegue amar o outro de forma incondicional. Ter amor ao que faz traz felicidade e uma sensação de paz e de completude na vida.
De acordo, porém, em como se dão as primeiras experiências em compartilhar amor, ainda na tenra infância, outros sentimentos podem nascer e comprometer fundamentalmente a forma como iremos ressignificar esse sentimento futuramente. Se essas experiências forem negativas, sentimentos como frustração e baixa autoestima surgirão, determinando os relacionamentos futuros e a visão sobre o amor.
Talvez esse seja um caminho para começarmos a entender, olhando para a atual sociedade, os motivos pelos quais as pessoas buscam incessantemente serem notadas e admiradas, para se sentirem valorizadas e amadas. É preciso voltar à infância para começar a entender esses processos.
Segundo Freud, a criança ao nascer se depara com uma sociedade neurótica e vai se moldando aos poucos, tornando-se mais e mais sensível a essa neurose.
A criança quer chorar, gritar, expressar livremente seus sentimentos e até sua agressividade, mas precocemente é reprimida em seus atos, para ser apreciada e amada. Ela deve se comportar para ser aceita e querida e assim pode ir aprendendo a ter a necessidade de aprovação externa sobre os seus comportamentos. Ela percebe, ou sente, que existe um padrão para “acessar o amor do outro” e, cada vez que ela não consegue alcançar esse padrão em suas experiências, se sente insegura e frustrada, dando início ao processo das neuroses.
O amor deixa de ser algo entendido como natural, inerente, incondicional, para ser visto como algo a ser conquistado, ou seja, surge a necessidade de “se fazer amado”.
Dessa forma, de acordo com essas primeiras experiências infantis e conforme as frustrações com estas vão crescendo, a autoestima vai diminuindo, criando-se uma lacuna entre o querer e o conseguir ser amado.
O amor-próprio diminui gradativa- mente frente às inseguranças surgidas. Sem amor-próprio o amor ao outro se torna um processo dificultoso, árduo.
Sem o amor-próprio não há como se valorizar e o conhecimento de si mesmo passa a ser um referencial no “reconhecimento externo”. Se alguém diz que você é bom, você se sente bom, e se diz que não é bom, sente-se deprimido. A necessidade de ser aprovado foi ensinada: se não há reconhecimento, não há valor. In- felizmente, esse sentimento pode acompanhar a pessoa no decorrer da sua vida. Nesse processo, passa a “valer tudo” para ganhar o olhar do outro, e a estratégia mais utilizada é a busca pela atenção. Chamar a atenção do outro passa a ser a tentativa de preencher a lacuna que surgiu lá trás. Quando amamos alguém prestamos atenção nesse alguém, naturalmente. Então, o raciocínio inverso passa a ser verdadeiro: quando alguém está atento a nós, nos sentimos amados.
A lacuna está preenchida!
Daí para frente, há alguns desdobramentos que irão resultar em outros: o amor verdadeiro e transcendental passa a ser substituído por um “amor banalizado”. Todos se amam, mesmo que tenham um relacionamento superficial, na vida, nas redes sociais, porque a palavra “amor” perdeu o significado primário.
A lacuna do verdadeiro sentimento é substituída pela busca infinita pela atenção do outro. E na ânsia por essa atenção usam-se as formas mais visíveis para a obtenção de olhares, holofotes e admiração: comportamento, fama, ostentação. Tudo para ser admirado e desejado.
Entende-se então, assim, que a necessidade de ser importante é o resultado da falta de autoestima, tornando-se uma busca de compensação para o vazio, a lacuna sentida na alma quando perdemos o amor-próprio e natural.
MUNDO DAS REDES
Nesse contexto em que chamar a atenção irá preencher um vazio e trazer o sentimento de “plenitude” e valorização, surge um cenário maravilhoso que serve para mostrar ao mundo “que eu existo” da forma como eu quiser ser visto: a internet.
As redes sociais proporcionam a vitrine para o mundo. Nela, qualquer pessoa pode se mostrar da forma como gostaria de ser e arrematar para si os tão importantes olhares de aprovação que darão a falsa impressão de ser importante, de ser amado.
Ao postar uma foto ostentando alegria, felicidade, sucesso, realização profissional e social e começar a receber likes e comentários, o ego vai sendo massageado e inicia-se um vicioso ciclo de prazer, que vai sendo realimentado, fazendo com que haja uma dependência e necessidade cada vez maior desse ciclo.
Dessa forma, as pessoas vão criando “máscaras de felicidade”, procurando transparecer, cada vez mais, algo que muitas vezes não condiz com a sua realidade, mas que serve para alcançar os olhares, as curtidas e a aprovação.
Dentro de um contexto social em que valores materiais são supervalorizados em detrimento aos valores morais e éticos, é cada vez maior a ostentação no plano material, principalmente por jovens e adolescentes, em busca de autoafirmação. Surgem os braggers, termo que em inglês significa “fanfarrão”, mas que se refere àquele que se autopromove, o exibicionista nas redes sociais. O verbo brag em inglês está ligado ao ato de se vangloriar.
Ser uma pessoa de sucesso financeiro, profissional e pessoal é o modelo de alguém bem-sucedido, perseguido por milhares de pessoas que almejam a valorização e “ser notadas”.
Assim nasce a “cultura do exibicionismo”, com uma superexposição virtual, fingindo-se, na maioria das vezes, ter um estilo de vida que não é o real. Cria-se o “mito” da felicidade em cem por cento do tempo, a necessidade de se mostrar exuberante em tempo integral, ostentando um relacionamento perfeito, uma vida social intensa, uma vida profissional de extremo sucesso, uma vida financeira abundante.
A CULTURA DO EXIBICIONISMO
Estudos atuais relacionam essa superexposição às redes sociais a distúrbios psicológicos.
A Universidade da Pensilvânia (EUA) analisou 143 estudantes de 18 a 22 anos em três plataformas mais populares (Facebook, Snapchat e Instagram) e chegou à conclusão de que quanto mais tempo esses jovens passavam junto às redes, mais probabilidade apresentavam em relação a manifesta- rem sentimentos e comportamentos de tristeza, depressão e solidão.
Parece um paradoxo, uma vez que, ao inventar o Facebook, Mark Zuckerberg propunha um espaço de liberdade e de conexão, um ponto de encontro para amigos. Hoje, com mais de dois bilhões de usuários ativos por mês, a plataforma, tal qual algumas outras, pode instigar sentimentos negativos e prejudiciais à saúde psíquica.
Chega a ser irônico, diz Melissa Hunt, líder da pesquisa. Porém, ao analisar de perto o comportamento dos usuários, percebe-se que tudo faz sentido: há muita comparação entre aquele usuário que está vendo a publicação e exposição do outro com a sua própria vida. A impressão que se tem é que a do outro é sempre muito melhor do que a sua, estimulando o aparecimento de sentimentos de menos valia, incompetência e baixa autoestima.
O psicólogo Ethan Kross, da Universidade de Michigan, aponta em seus estudos que, quanto mais tempo conectadas, mais insatisfeitas as pessoas ficam com suas próprias vidas.
Uma outra pesquisa, realizada pela Universidade Humboldt, em Berlim, entrevistou 357 universitários e descobriu que o principal sentimento manifestado em relação à vida virtual é a inveja. Uma a cada cinco pessoas pesquisadas aponta o Facebook como origem do sentimento de inveja em sua vida.
Quase 30% dos jovens entrevistados relataram sentir inveja ao ver posts sobre viagens, atividades de lazer de amigos e postagens vinculadas ao sucesso.
Alguns usuários, mesmo se exibindo, se mostram chateados quando suas postagens de ostentação não são notadas como gostariam, aumentando ainda mais um ciclo de disputa por curtidas e por serem notados.
Recentemente, o caso de uma jovem consumida pela mídia social e necessidade de aprovação foi exposta, por ela mesma, na rede social.
Essena O’Neil, uma jovem australiana de 18 anos, consagrada como webcelebridade e com mais de 712.000 seguidores, abandonou as redes sociais, revelando que sua vida virtual era uma “fraude”, uma farsa. Antes de deixar as redes, a garota resolveu repostar suas fotos reeditando as legendas, mostrando que a realidade era muito diferente da postagem virtual. Ela conta, por exemplo, em seus depoimentos sobre uma foto que tirou como modelo e do sacrifício realizado para a barriga estar perfeita: ficou sem comer o dia todo e tirou mais de cem fotos para achar a posição perfeita para expor sua barriga e estômago.
Essena desabafa: “Nunca estive tão miserável. Likes, visualizações e seguidores não são amor”. A jovem ainda relata que passou a adolescência, desde os 12 anos, tentando se tornar alguém importante, bonita e cool e que chegou a pesquisar medidas ideais de coxa e cintura de celebridades para se ajustar ao perfil.
FALEM MAL, MAS FALEM DE MIM
Chamar atenção a qualquer custo pode significar, inclusive, ser notado através de comportamentos negativos.
Muitas vezes, a autoestima é tão baixa que a própria pessoa duvida que possa ser apreciada por algo positivo, que tenha algo bom a oferecer ao outro. Pessoas que foram muito depreciadas, machucadas, julgadas podem “incorporar” comportamentos negativos e rebeldes, que incluem quebra de regras, comportamentos destrutivos, que acabam virando um ciclo, baixando ainda mais a autoestima, até que a pessoa só se reconheça de forma negativa.
Num outro aspecto, para muitos, quebrar regras faz com que pessoas comuns pareçam poderosas. É o que diz um estudo publicado no periódico Psychological na Personality Science. Os entrevistados na pesquisa, diante de várias situações simuladas, demonstraram que consideravam pessoas que quebravam regras e pessoas rebeldes mais poderosas do que as outras.
Nesse sentido, na busca incessante pelo olhar do outro e por holofotes, vale chamar a atenção de todas as formas, incluindo pelo lado negativo. Assim, indisciplina, rebeldia, vandalismo são, na verdade, pedidos de atenção, de alguém que quer gritar: “estou aqui, eu existo, quero ser notado, mas não tenho nada de bom a oferecer”!
Esse fenômeno explica alguns casos de atos de indisciplina em sala de aula, vandalismo e rebeldia de crianças, adolescentes e adultos que se sentiram um dia vítimas de abandono e desamor, viveram um sentimento de rejeição, que perderam o amor-próprio, a capacidade de confiar no outro e que encontram, nessas atitudes, uma forma de pedir ajuda e alcançar a atenção do outro.
EXISTE UMA SAÍDA?
Sim! Estudiosos e filósofos acreditam nisso!
Um deles é a pesquisadora Brené Brown, autora do livro A Coragem de Ser Imperfeito.
Em seus estudos, Brown diz que nascemos para a conexão com o outro, mas no decorrer de nossos caminhos essa conexão é rompida e o responsável por essa ruptura é o sentimento de vergonha que carregamos em não nos sentirmos suficientes (suficientemente belos, suficientemente magros, suficientemente bem-sucedidos). Isso cria uma sensação de vulnerabilidade que sustenta a vergonha e produz um ciclo infinito de vulnerabilidade diante do outro, das situações da vida.
Estudando, porém, os depoimentos de seus entrevistados, para sua pesquisa e tese, Brené Brown reparou que havia um grupo diferenciado, que acreditava no seu senso de merecimento, no amor e no poder da conexão.
Brown percebeu, então, que, paradoxalmente, o que diferenciava esse grupo do outro era exatamente a aceitação dessa vulnerabilidade diante da vida, do outro e a aceitação também de suas imperfeições. Eles tinham coragem de ser vistos “nus” como realmente eram, aceitando-se acima de tudo, e isso lhes trazia de volta o sentimento de pertencimento. Assim, conseguiam ser felizes, plenos, aceitando suas falhas, imperfeições e principalmente sua vulnerabilidade.
Através não só dos estudos de Brown, mas de um olhar profundo sobre aquela “lacuna” do passado, da infância, sobre a autoestima perdida, sobre a busca incansável pela atenção do outro, na ânsia por valorização e necessidade de sermos amados, podemos aprender que somente a aceitação das nossas imperfeições e vulnerabilidades e o resgate do amor-próprio, nos amando do jeito que somos, nos trarão de volta aquele amor genuíno e transbordante.
O amor genuíno é um sentimento tão forte, capaz de renascer nos solos mais áridos das nossas vidas. Ele renasce na disponibilidade em ser o primeiro a dizer eu te amo verdadeiramente, e não da forma banalizada, a quem se ama real- mente, em se doar por completo e em investir tempo e qualidade nas relações.
Ele renasce também e principalmente na capacidade de enxergar e aceitar nossas próprias fraquezas e resgatar o amor-próprio. E é esse amor que vai nos preencher totalmente, preencher aquela lacuna e transbordar pela vida afora.
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
Você precisa fazer login para comentar.