Ando numa fase um pouco perigosa. É que estou estabelecendo contato com as pessoas com tanta facilidade que alguma ainda me acontece. Nesta fase, todo o mundo ou é meu irmão, ou meu filho, ou meu pai e minha mãe. No último domingo estive em perigo. Eu tentava pegar um táxi, o que nos domingos é mais difícil pois muita gente que nunca anda de táxi resolve sair do sério e tomar. Não encontrei nenhum no lugar onde geralmente acho com facilidade, e resolvi caminhar até um ponto deles: estava vazio, a rua limpa. Fiquei ali mesmo esperando que algum aparecesse. Depois de muito tempo quem apareceu foi um grupo de pré-adolescentes, de uns 14 anos cada, não mais. As duas mocinhas de saia pelo meio das coxas, um dos meninos de cabelos crescidos até metade do pescoço. Junto de mim pararam, e a conversa deles era insolente e falsamente livre. Pensei: estão esperando táxi, quem vai ganhar são eles, pois sempre me recuso a correr, acho feio correr. Pensamento vai, pensamento vem, resolvi perguntar: “Vocês estão esperando táxi?” Resposta em tom malcriado de um deles: “Estamos.” Eu disse: “Mas o primeiro que vier vai ser meu, pois estou aqui há mais tempo que vocês.” O menino cabeludo respondeu com o pior tom de voz: “E por que é que eu…” Interrompi-o: “Por causa do que eu já disse, e porque eu podia ser mãe de vocês e não pretendo disputar táxi com um filho meu.” Eles ficaram por meio segundo me olhando perplexos, e então o menino respondeu com a voz inteiramente obediente e de súbito como uma criança mesmo: “Sim senhora.”
A força das mulheres que não seguem padrões de beleza e ideais ultrapassados de feminilidade não pode mais ser ignorada. O arrebatador sucesso de personalidades como MC Carol, Jojo Todynho e a americana Lizzo são a prova dessa nova realidade
Se há cerca de dez anos o sonho de muitas mulheres era ser como uma modelo de lingerie da clássica marca Victoria’s Scret, hoje o cenário é outro. A empresa que levou manequins como as brasileiras Adriana Lima e Gisele Bündchen ao imaginário popular do que significa ser uma mulher bonita, hoje enfrenta dificuldades financeiras. Com diversos processos de falência em vários países em que opera, mais o fechamento de 250 lojas e o encerramento de seus desfiles televisionados, a marca que era sinônimo de modelos altas e magras, pode não sobreviver à pressão popular. Agora é o tempo de mulheres como Jojo Todynho, Mc Carol ou da americana Lizzo, muito mais próximas do mundo real.
Não é de hoje que as mulheres não se sentem representadas pelo que veem nas passarelas e a derrocada da gigante de lingeries é apenas um sintoma do que está por vir. A busca pelo corpo perfeito que entra em roupas minúsculas e padronizadas oferecidas pelas lojas de departamento, ainda não acabou por completo. Mas a mudança é irreversível e aparece nos mais variados setores do consumo, sendo acelerada pelas mídias sociais. Acesso à informação, pluralidade de ideias discutidas por qualquer pessoa com acesso à internet e pura ousadia transformaram a indústria da beleza: não há mais um padrão a ser seguido. A mulher de feição europeia: loira, magra e de olhos azuis ainda vende, claro, mas há tempos não é a escolha principal das empresas na hora de fazer publicidade, já que esse biotipo representa apenas uma pequena parcela da população do País.
Mc Carol, cantora, negra, gorda e periférica, como gosta de se apresentar, define o momento: “Estamos brilhando e não podemos mais ser ignoradas”, disse ela à ISTOÉ. Mc Carol, nome artístico de Carolina de Oliveira Lourenço, acaba de ser capa de uma das revistas de moda mais importante do mundo, a Elle, publicada em dezenas de países. O mesmo acontece com a cantora americana Lizzo, que foi a primeira mulher negra e obesa a aparecer na capa da Vogue, considerada a bíblia do mundo fashion. “Cresci ouvindo muita besteira, sabendo que ser negro é lutar contra ser diminuído e ser mulher e negra é ter que lutar muito mais. Eu nunca me via representada, me ver na capa da revista foi um sonho”, diz. Lizzo foi além e também desfilou, de fio dental e meia arrastão, para a marca de lingeries Fenty, da cantora Rihanna. Os desavisados que comentam na internet que cultuar a gordura é errado e que essas pessoas não deveriam ser exemplo de nada, perdem o foco da discussão. Aqui se fala em representatividade e não em regras de conduta. Mulheres gordas e negras existem, fazem sucesso e nunca lucraram tanto como agora.
Por falar em dinheiro, a cantora e influencer Jojo Todynho, nome artistico de Jordana Gleise de Jesus Menezes, acaba de ganhar R$ 1,5 milhão como vencedora do reality show “A Fazenda”, da Rede Record. No início do programa era comum ver comentários de fãs da atração dizendo que não iriam assistir à edição por terem “nojo” da participante. Palavras pesadas e que nem sempre foram levadas com leveza por Jojo. “Nunca me importei com julgamentos e carrego comigo somente as opiniões que me fazem crescer. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas é obrigado a respeitar”, diz. Foi sua participação em “A Fazenda”, inclusive, que garantiu boa parte desse respeito à Jojo. Na telinha ela mostrou que era “uma pessoa normal”. Sua personalidade, frases de efeito e jeito brincalhão conquistaram o Brasil e contratos “bem gordos” para ser a garota-propaganda de diversas marcas nacionais. Com mais de 15 milhões de seguidores só no Instagram, Jojo começou a fazer sucesso ao participar de biquíni em um clipe da cantora Anitta. Depois veio o hit “Que tiro foi esse?” tocado à exaustão e que rendeu à cantora dinheiro para ajudar a família. Hoje ela diz não se ver como milionária, mesmo com o prêmio que recebeu. “Sou uma trabalhadora que está alcançando seus objetivos com muito foco e dedicação. Tenho muita estrada pela frente, muitas lutas e conquistas. E sinto que estou pronta pra isso”, afirma. Tanto Jojo quanto Mc Carol já se cansaram de ouvir gente opinando sobre seus corpos e sugerindo dietas milagrosas. Se quiserem perder peso, o farão e se quiserem se aceitar como são, tudo bem também. Cabe apenas a elas decidir o destino de seus corpos. E quando o assunto é regime, Mc Carol é implacável: “Não sei se pode falar palavrão aqui então… Acho que o melhor seria mandar cada um olhar para sua própria vida”, diz.
Os últimos dados do IBGE, de 2019, apontam a realidade: uma em cada quatro pessoas acima de 18 anos estava obesa, o equivalente a 41 milhões de pessoas. Já o excesso de peso atingia 60,3% da população, o que corresponde a 96 milhões de pessoas, sendo que 62,6% são mulheres e 57,5%, homens. Mas o que isso significa? Que devemos abandonar uma dieta saudável e adotar o sedentarismo porque ser gorda está na moda? Não. Significa que devemos aceitar as pessoas como elas são, independente do possível nível de colesterol que ela possa vir a ter. Afinal, a anorexia e o excesso de magreza de muitas celebridades chegam a ser motivo de elogio e não causa de preocupação pelo exemplo que podem dar para a juventude. Agora é a vez das gordinhas!
Os perversos serão derribados e já não são, mas a casa dos justos permanecerá (Provérbios 12.7).
Os perversos, não poucas vezes, tornam-se fortes e poderosos na terra. Adquirem riquezas ilícitas, saqueiam os pobres, torcem as leis e violam o direito dos inocentes. Colocam o seu ninho entre as estrelas e blindam-se com armaduras de aço. Pensam que seu dinheiro e seu prestígio político podem lhes dar segurança. Porém, o castelo dos perversos é um castelo de areia. Quando a tempestade chega, essa casa cai, e há grande ruína. Mesmo que os perversos escapem da justiça dos homens, não escaparão do reto juízo de Deus. Mesmo que sejam aplaudidos na terra, não serão aprovados no céu. Os justos nem sempre são notados na terra. Muitas vezes, enquanto o ímpio prospera, o justo é castigado. No dia da tempestade, contudo, enquanto a casa deste permanece de pé, a casa daquele entra em colapso. Porque o justo fez de Deus o seu alto refúgio e edificou sua vida sobre a rocha que não se abala, a chuva pode cair no seu telhado, os ventos podem bater em sua parede, e os rios podem chicotear seu alicerce, mas ele permanecerá imperturbavelmente de pé. A firmeza dos perversos é apenas aparente, mas a estabilidade dos justos é real. A casa dos perversos pode ser opulenta por um tempo, mas perecerá eternamente, ao passo que a casa do justo permanecerá para sempre.
Lançado em novembro de 2019, o Programa Verde Amarelo propõe desonerar a folha de pagamentos para estimular a contratação de jovens
Em novembro de 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro lançou o Programa Verde Amarelo, o Brasil contava com 11,9 milhões de pessoas sem trabalho, sendo os jovens os mais afetados pelo desemprego. Por isso, a ação, idealizada pelo ministro Paulo Guedes, foi criada para estimular a contratação de profissionais entre 18 e 29 anos.
Com a promessa de criar 1,8 milhões de vagas até 2022, a Medida Provisória. Nº. 905/2019 aposta principalmente na desoneração da folha de pagamentos das empresas. Entre as alterações que ela propõe estão a diminuição da contribuição patronal do FGTS de 8% para 2%, a redução da multa em caso de demissão sem justa causa de 4º% para 20% e a isenção do pagamento de alíquotas ao Sistema S pelas companhias.
Entre as exigências, está a duração do contrato por, no máximo, dois anos e somente para novos postos de trabalho. Ou seja, as empresas não podem demitir funcionários CLT e contratá-los sob o novo regime.
O número de admissões também é limitado a 25% do quadro das companhias, que devem respeitar o teto de um salário mínimo e meio pago por trabalhador.
PRÓS E CONTRAS
A medida dividiu opiniões. Alguns argumentam que, além de modernizar as relações trabalhistas, ela será um incentivo necessário em meio ao período de lenta recuperação econômica – cenário que deve piorar por causa da pandemia de coronavírus. “A folha de pagamentos é um dos maiores encargos das empresas, então, sem sombra de dúvidas a medida favorecerá a abertura de vagas”, afirma a advogada Camila Fernanda da Silva, do escritório PSG Advogados.
Para os críticos, a proposta carece de efetividade. “A Reforma Trabalhista, aprovada pelo governo Temer, seguiu a mesma linha de flexibilizar a CLT e não conseguiu entregar os resultados prometidos. Não há dados que comprovem que baratear a mão de obra, sem nenhum outro estímulo à economia, traga benefícios”, diz o ádvogaa0 Pedro Villas Boas, do escritório Villas Boas e Reigada Advogados,
Outra polêmica é que, segundo estimativas do próprio governo, para bancar as novas vagas criadas sem o pagamento dos impostos, a União deixará de arrecadar 10 bilhões de reais por ano. Unia das soluções propostas foi a taxação de 7,5% para o INSS dos trabalhadores que recebem seguro-desemprego. “Não é pouca coisa você retirar esse montante do orçamento sem a garantia de que o dinheiro voltará para a economia”, diz Pedro.
COMO FICA O RH?
Por se tratar de urna medida provisória, ela entrou em vigência no momento em que foi assinada pelo presidente. De acordo com o documento, as empresas poderiam contratar sob o regime Verde Amarelo a partir de 12 de janeiro de 2020. Na prática, porém, as companhias estão receosas.
Primeiro porque, embora tenha sido aprovada na comissão mista do Congresso em março de 2020, a MP está pendente de votação no plenário da Câmara e no Senado. Caso isso não ocorra até o dia 20 de abril, a portaria perderá a validade. “Há muita insegurança jurídica e, por isso, ocorre a baixa adesão. A expectativa é que, com a aprovação, algumas empresas passem a adotar o modelo e a medida ganhe escala”, afirma Rosana Marques, gerente de recursos humanos da consultoria Crowe Horwath.
Mesmo que as questões legais sejam resolvidas, Rosana lembra que o RH deverá se esforçar para engajar esses profissionais que, por estarem em um contrato com menos direitos trabalhistas, poderão se sentir menos integrados à empresa. “Será necessário alinhar as práticas e os benefícios para mostrar que, do ponto de vista organizacional, não há distinção entre os empregados”, diz.
Outra dica é oferecer apoio para os interessados em crescer na companhia. “Poderá ser criado, por exemplo, um plano de carreira específico para esse grupo”, diz Rosana. O trabalho que muitas empresas fazem com estagiários e jovens aprendizes pode ser um norte para os RHs. Isso porque está mais do que provado que investir em talentos desde a base traz benefícios para todo mundo.
ANTES E DEPOIS
O que muda no Programa Verde Amarelo em relação ao contrato CLT
Pesquisadores investigam como a curcumina, ingrediente do curry, pode combater doenças autoimunes, Parkinson, câncer e impedir o acúmulo de placas amiloides que afetam o cérebro e fazem o Alzheimer avançar
Há pouco tempo, diversos compostos naturais, como o resveratrol do vinho tinto e os ácidos graxos ômega-3 do óleo de peixe, começaram a ser investigados mais profundamente depois que pesquisas indicaram seu potencial para proteger o cérebro e prevenir doenças a custos baixos, com poucos efeitos colaterais. O açafrão-da-índia, pó amarelo-alaranjado da planta asiática Curcuma longa, está nessa lista. Ele já não é apenas um ingrediente dos pratos orientais que, desde os tempos antigos, tempera a comida e evita que ela estrague.
Nos últimos anos, mais de 300 artigos científicos e técnicos mencionaram componentes biologicamente ativos do açafrão-da-índia – a curcumina – no banco de dados PubMed, da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, ante pouco mais de 100 há apenas cinco anos. Segundo um dos capítulos de um livro a ser lançado em breve, a curcumina e compostos relacionados, os curcuminóides, possuem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antivirais, antibacterianas, antifúngicas e antissépticas, com atividade potencial contra doença de Alzheimer, Parkinson, câncer, diabetes, alergias, artrite e outras enfermidades crônicas. Na Universidade Johns Hopkins estão sendo investigadas as propriedades da curcumina, que podem proteger o sistema nervoso de prejuízos de doenças neurodegenerativas como o Parkinson. Cientistas já e observaram que a substância age sobre e proteínas que provocam a morte de neurônios: ao entrar em ação, diminui a proporção de células danificadas de 50% para cerca de 20%.
Pesquisadores também investigam como o condimento e seus derivados poderiam ser usados em tratamento ou medicamento preventivo de baixo custo para alguns dos males mais temidos. Apoiado em resultados positivos obtidos em pesquisas com roedores, Greg Cole, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, está organizando um ensaio clínico em humanos para testar se a curcumina é capaz de impedir o acúmulo de placas amiloides que sobrecarregam o cérebro dos pacientes com doença de Alzheimer. Caso seja bem-sucedido, ele planeja propor formulações a serem misturadas no óleo de cozinha e outros alimentos para impedir a acumulação de placas – receita disponível a ricos e pobres em um mundo em envelhecimento.
Por ter muitas vias biológicas como alvos, a curcumina poderia também melhorar a terapia de combate ao câncer: como as células comprometidas adquirem lentamente resistência à substância, elas teriam de passar várias mutações a fim de evitar ataque. Mas o composto estaria pronto para uso generalizado? Alguns estudos carecem fundamentos para precaução. Há pesquisas que mostram como composto capaz de afetar tantas biológicas pode atingir o interruptor errado – e causar um desastre.
Conhecido como haldi em hindi, jiang huang em chinês e manjai em tâmil, o açafrão-da-índia tem uma história medicinal de mais de 5 mil anos longo do tempo, foi usado como medicamento para tratar feridas, purificação do sangue e problemas do estômago. O primeiro registro de pesquisas sobre a atividade biológica da curcumina na PubMed, data de 1970, quando grupo de pesquisadores indianos relatou os efeitos da substância sobre os níveis de colesterol em ratos. O ritmo dos estudos se intensificou nos anos 90; um dos líderes foi o pesquisador indiano de tratamentos contra o câncer, Bharat Aggaiwal.
Na década de 80, a equipe coordenada por Aggaiwal foi a primeira a purificar duas importantes moléculas do sistema imune – os fatores de necrose tumoral (TNFs, na sigla em inglês) alfa e beta -, identificadas como possíveis compostos anticancerígenos. Essas moléculas podem, de fato, matar células doentes quando empregadas em áreas localizadas, mas, se colocadas para circular na corrente sanguínea, agem como potentes causadores de tumores. Os TNFs ativam uma proteína importante, o fator nuclear kappa B (NF-kappa B), que então passa a estimular uma série de genes envolvidos na inflamação e proliferação celular.
A ligação entre inflamação e proliferação desenfreada de células doentes incitou Aggaiwal a voltar às suas raízes. Em 1989, ele se transferiu para o Centro de Câncer M. D. Anderson, da Universidade do Texas, e começou a procurar compostos que pudessem interromper a inflamação e ter efeito anticancerígeno. Lembrando-se de sua juventude na Índia, onde o açafrão era um antiinflamatório da literatura aiurvédica, ele decidiu dar uma chance à especiaria. “Pegamos um pouco na cozinha e jogamos em algumas células. Não dava para acreditar. Bloqueou inteiramente o TNF e o NF-kappa B.”
Mais tarde, Aggarwal publicou estudos mostrando que o bloqueio da via do NF-kappa B com a curcumina inibe a replicação e disseminação de vários tipos de células do câncer. Esse trabalho serviu de trampolim para ensaios clínicos iniciais de pequeno porte no M. D. Anderson, utilizando a curcumina como terapia adjunta para tratar câncer de pâncreas e mieloma múltiplo. Diferentes centros iniciaram ensaios clínicos sobre a prevenção do câncer de cólon e a doença de Alzheimer, entre outras. Os primeiros estudos feitos com células isoladas e em animais mostraram que a curcumina pode agir contra uma gama de doenças inflamatórias, entre elas pancreatite, artrite, colite, gastrite, alergia e febre. Ela também se revelou promissora para diabetes e doenças autoimunes e cardiovasculares. Por ora, ainda precisam ser realizados ensaios clínicos de grande porte para comprovar a eficácia contra câncer e outras doenças. Ainda assim, Aggarwal tornou-se um dinâmico defensor da especiaria, levada pela primeira vez à Europa por Vasco da Gama.
O M. D. Anderson, instituição líder mundial em pesquisas sobre o câncer, também começou a promover o uso da curcumina de maneira mais intensa que seria de esperar para um tratamento que não passou pelos rigores deum conjunto completo de ensaios clínicos. Na seção de perguntas mais frequentes do site da entidade, sugere-se que os pacientes com câncer adotem de forma gradual uma dose diária de 8 gramas, cerca de 40 vezes a quantidade presente na dieta indiana média, e “ao final de oito semanas, espera-se uma melhora significativa”. Indagado sobre a preocupação com o aparecimento de possíveis efeitos colaterais com uma dose de 8 gramas, Aggarwal disse que ensaios clínicos menores de outras instituições ministraram até 12 gramas. Se houvesse qualquer efeito desfavorável com a dosagem recomendada pelo M. D. Anderson, os pacientes o teriam notificado. Aggarwal, que toma uma pílula de curcumina todos os dias, afasta-se da cautela típica dos pesquisadores antes que tenham sido realizados ensaios clínicos de larga escala bem controlados.
O site do M. D. Anderson e a torrente de comunicados de várias instituições sobre as maravilhas da curcumina, ignoram uma pequena parte da literatura que aponta para um lado obscuro: a possibilidade de que a especiaria estimule a sobrevivência de células cancerosas. Em 2004, Yosef Shaul, do Departamento de Genética Molecular do Instituto de Ciências Weizmann de Rehovot, Israel, estudava a enzima NQO1, que regula a quantidade de uma proteína bem conhecida, chamada p53. Quando os níveis de p53 aumentam nas células, a proteína institui uma manobra defensiva para o organismo, induzindo as células com câncer a parar de se dividir ou mesmo a suicidar-se.
CULTURA CELULAR
Shaul e seus colegas descobriram que um anticoagulante, o dicumarol, e compostos relacionados bloqueavam a NQO1, o que impedia a p53 de fazer seu trabalho. Os pesquisadores se perguntaram o que aconteceria se expusessem a p53 de células saudáveis e de células da leucemia mielóide a antioxidantes, como a curcumina e o resveratrol. Para surpresa deles, a curcumina, ao inibir a mesma enzima, impedia a p53 de dar às células aberrantes a sentença de morte; descoberta relatada em 2005 no Proceedings of the National Academy of Sciences USA. Outros pesquisadores relataram resultados semelhantes. Para responder a esse grupo de trabalho, Aggarwal cita estudos que mostram como a curcumina, na verdade ativa, a p53.
Os especialistas precisam investigar agora se o trabalho de Shaul em culturas celulares tem relação com o que acontece quando uma pessoa ingere o composto. As concentrações de curcumina usadas pela equipe do Weizmann em culturas de células – de 1O mM a 60 mM (micromolar) – podem ser comparáveis aos níveis atingidos em alguns dos experimentos em cultura celular realizados no M. D. Anderson. Mas como a curcumina é pouco absorvida do intestino para a corrente sanguínea e também é rapidamente degradada no corpo. Um paciente que consuma 8 gramas provavelmente acabará com uma concentração no plasma sanguíneo inferior a cerca de 2,0 mM, observa Shaul, embora esse nível possa variar para mais no trato gastrointestinal e no fígado. Também poderão permanecer em nível elevado se os pesquisadores conseguirem desenvolver maneiras diversas de aumentar a concentração da curcumina na corrente sanguínea.
É sempre fundamental definir a dose de um novo fármaco – qualquer agente terapêutico, incluindo a aspirina, se torna tóxico em níveis elevados. Para a maioria dos novos produtos farmacêuticos, a melhor forma para atingir os níveis plasmáticos desejados é, em geral encontrada por meio de uma incontável sucessão de ensaios clínicos em culturas celulares e camundongos. Ainda assim, as empresas farmacêuticas não estão em competição pelo primeiro lugar na condução de testes com curcumina. Elas têm preferência por terapêutica com alvos altamente específicos, golpear determinado receptor, por exemplo, pode tratar a doença e, ao mesmo tempo, reduzir os efeitos colaterais, enquanto um fármaco com várias ações poderia, em teoria, aumentar as chances de que ocorra um efeito indesejado.
O açafrão-da-índia é um exemplo proeminente de um dos casos mais célebres de biopirataria de propriedade intelectual, que colocou um instituto de pesquisa apoiado pelo governo indiano contra uma patente de 1995 emitida para a Universidade do Mississippi para o uso do condimento no tratamento de feridas. O Gabinete de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos invalidou a patente depois que o Conselho Indiano de Pesquisas Científicas e Industriais questionou se um dos critérios da patenteabilidade – que uma invenção seja nova – havia sido satisfeito. Para fazer a objeção, o Conselho apontou um artigo de 1953 de uma revista indiana sobre o condimento e ofereceu uma citação sobre as propriedades curativas do açafrão de um texto em sânscrito antigo.
NOVAS SUBSTÂNCIAS
O gabinete de patentes emitiu registros para aplicação da curcumina como uma ação isolada. Mas a rejeição implica que as indústrias farmacêuticas jamais obterão uma patente de “produto” com um alcance bem mais amplo, que ajudaria a empresa a se defender de concorrentes com fármacos baseados no condimento. Algumas empresas ainda estão tentando explorar a promessa da substância, alterando a sua composição química a fim de aumentar sua atividade e, ao criar uma nova substância, justificar a proteção de propriedade intelectual
A AndroScience de San Diego planeja iniciar este ano a primeira fase de ensaios clínicos com candidatos a fármaco para acne à base de compostos derivados da curcumina que foram descobertos na Universidade da Carolina no Norte em Chapei Hill Da mesma forma, a Curry Pharmaceuticals, também da Carolina do Norte, tenta obter financiamento para passar a incluir os derivados da curcumina da Universidade Emory em ensaios clínicos. Mas, numa era de produtos farmacêuticos com alvos específicos, os aventureiros do capital de risco têm se mostrado hesitantes em patrocinar novos fármacos que atuam em várias vias. Mesmo sendo co-fundador da Curry Pharmaceuticals e dono de patentes sobre a curcumina, Aggarwal afirma que os químicos podem ter dificuldade em melhorar a natureza: é possível que a modificação da curcumina só aumente os efeitos colaterais indesejados nos pacientes. Se a infinidade de obstáculos ao desenvolvimento for superada e a segurança, garantida, a curcumina poderá oferecer uma alternativa econômica aos produtos farmacêuticos predominantes.”
ESTUDOS DEMONSTRAM POSSÍVEIS BENEFÍCIOS DA CURCUMINA…
…, MAS ALGUMAS PESQUISAS SUGEREM POSSÍVEIS EFEITOS CAUSADORES DE CÂNCER
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
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