EU ACHO …

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO VOLUNTÁRIO

A covid-19 aflorou na sociedade do Brasil e do mundo o nobre sentimento de solidariedade. Diante de uma crise sem precedentes que escancarou nossa desigualdade social, assistimos a grandes mobilizações de pessoas e empresas em prol de ajudar o próximo e tentar minimizar os efeitos da pandemia. Cidadãos arriscaram a própria saúde para levar equipamentos de proteção, alimentos, produtos de higiene e atendimento médico a idosos, moradores de rua e comunidades carentes. Olhando sob a óptica do comportamento humano, todo esse movimento me fez pensar em quanto o voluntariado é uma forma de desenvolvimento da inteligência emocional e de exercício da cidadania. Eu me lembro como se fosse ontem do meu primeiro trabalho voluntário, aos 17 anos, no Hospital A.C. Camargo. Fui levada pelo meu pai que, quando foi tratado naquele hospital, descobriu que lá havia um programa do tipo. Na época, o hospital oferecia um curso de voluntariado no qual tínhamos aulas com médicas especialistas que nos mostravam como o câncer atuava em cada especialidade. Eles nos davam consciência não só da doença, mas do sofrimento psicológico dos pacientes.

Eu passava no A.C. Camargo boa parte do meu tempo livre. Participei muito dos encontros quase diários que dona Carmem Prudente, grande voluntária do combate ao câncer, fazia com as crianças que estavam em tratamento, para quem ela contava histórias. Foi naquele período que consegui, pela primeira vez, organizar meus sentimentos e entender a importância de apoiar o outro em situações de extrema criticidade. Entendi a essência do trabalho voluntário: ajudar o próximo e contribuir para a melhoria da sociedade sem esperar nada em troca.

Ao transformar a vida de uma comunidade, lidamos com problemas reais. Enfrentamos barreiras, dificuldades e aprendemos a transformar indignação em ação. Vivenciamos na prática o que é diversidade, exercitamos empatia, entendemos o real conceito de responsabilidade social.

Além de tornar a sociedade mais justa, o trabalho voluntário nos toma melhores seres humanos e, também, melhores profissionais. Não é a toa que universidades americanas dão um enorme valor às atividades voluntárias de seus estudantes. Esse tipo de trabalho aumenta o grau de socialização, melhora as competências para o trabalho em equipe, amplia a troca de experiências, estimula a criatividade, aumenta a autoestima e a satisfação pessoal e contribui para que os indivíduos lidem melhor com desafios.

Por mais que nosso tempo livre seja escasso, é importante pararmos para avaliar quais são as atividades que estão merecendo parte dessa nossa preciosa agenda. Será mesmo que não há como trocar as horas gastas nas redes sociais pela dedicação a um projeto social?

Mas o voluntariado deve ser uma atitude genuína. Não somos superiores quando ajudamos alguém menos favorecido. Não devemos usar a causa para uma autopromoção disfarçada de generosidade. Não teremos o poder de salvar o mundo com nossas atitudes. Mas podemos, com muita humildade, fazer nossa parte, ouvir e evoluir como seres humanos. A condição de vulnerabilidade não está apenas no outro – e não podemos nos esquecer disso.

*** VICKY BLOCH

OUTROS OLHARES

O BAILE DAS MÁSCARAS

Uma nova peça aparece no adereço-símbolo da pandemia: correntes que o deixam no pescoço. Quando retiradas, elas evitam o contato do acessório com superfícies

Um fato é inescapável: as máscaras de proteção contra o novo coronavírus permanecerão indispensáveis ainda por bom tempo, mesmo com a chegada das vacinas. Como a invenção é mãe da necessidade, o mercado soube se adaptar à realidade, com lançamentos de modelos cada vez mais funcionais. As mais recentes gerações são anatômicas com tecido antiviral. E por que não poderiam ser também bonitas? Podem – várias, aliás, possuem um design elegante. Agora começa a ganhar espaço uma nova tendência: as máscaras acopladas a correntes ou cordinhas que ficam presas ao elástico, atrás das orelhas. Pode parecer fútil (e alguns modelos são mesmo), mas o item em si tem um papel essencial: evitar a perda e o contato com superfícies, ao permitir que a máscara se mantenha presa ao corpo.

Não pelas questões sanitárias, claro, as grifes de luxo se movimentaram e criaram versões com materiais diversos. Há correntes de metal, tecido, acrílico, plástico, miçanga, prata, ouro e pérolas. Algumas chegam a custar o equivalente a exagerados 960 reais. São mais leves que os colares convencionais e têm ganchinhos nas pontas, semelhantes aos adereços usados em óculos. Celebridades como a cantora Jennifer Lopez e as atrizes Elle Fanning e Sarah Jessica Parker já aparecem em público com elas. Diz a consultora de design estratégico Valeska Nakad, coordenadora do curso de design de moda do Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo: “É uma forma prática de se adornar, pois une a estética ao funcional”. Os médicos, porém, alertam que é preciso estar sempre atento à higiene. “Para não ser um veículo de transmissão do vírus, o penduricalho tem de ser higienizado com álcool em gel constantemente”, diz o epidemiologista Bruno Scarpellini, da PUC Rio. Uma importante mensagem. Afinal de contas, a beleza é louvável, mas a saúde vem em primeiro lugar.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 18 DE FEVEREIRO

PERVERSIDADE, UM SALÁRIO ILUSÓRIO

O perverso recebe um salário ilusório, mas o que semeia justiça terá recompensa verdadeira (Provérbios 11.18).

O dinheiro granjeado com desonestidade é como um salário ilusório. Do mesmo modo que chega fácil, vai embora rápido. A ânsia pela riqueza transforma muitas pessoas em verdadeiros monstros. Temos visto filhos que matam seus pais para tomar posse antecipada da herança. Temos visto cônjuges que tramam a morte de seu consorte para açambarcar seus tesouros. Temos visto políticos desonestos que roubam o erário para abastecer suas contas polpudas nos paraísos fiscais. Temos visto empresários bandidos que compram a peso de ouro licitações públicas e se mancomunam com órgãos públicos para enriquecer ilicitamente. Esses expedientes, entretanto, não são seguros. De vez em quando a luz da verdade chega a esses porões imundos e traz à tona toda a podridão da corrupção, deixando envergonhados seus protagonistas de colarinho branco. O sábio é enfático: o perverso recebe um salário ilusório. O que semeia a justiça, mesmo privado das benesses da riqueza terrena, tem uma recompensa verdadeira. Há coisas mais importantes do que o dinheiro, como o bom nome, a paz de espírito, uma família harmoniosa e a comunhão com Deus. Não ajunte os tesouros da impiedade; ajunte tesouros lá no céu!

GESTÃO E CARREIRA

SINAL DOS TEMPOS

O líder de trabalho remoto deve se tornar uma função importante para as empresas nos próximos anos. Saiba quais são as atribuições e os desafios desse profissional

Em setembro de 2020, o Facebook publicou em sua página global de carreiras uma vaga inédita até então: diretor (ou diretora) de trabalho remoto. Segundo a descrição, esse profissional seria “um pensador estratégico que entende de times virtuais e distribuídos; um excepcional formador de relacionamentos e um agente de mudanças”. A vaga vem em linha com o anúncio de Mark Zuckerberg, que espera que, nos próximos dez anos, pelo menos metade dos funcionários do Facebook passe a trabalhar de forma remota.

Mas não foi a rede social que criou a função. Na verdade, ela já existe desde 2011, quando a GitLab, empresa de softwares americana, contratou um líder de trabalho remoto responsável por articular as necessidades e os ajustes demandados pelas equipes em home office, desde questões tecnológicas até quais são as cidades e regiões com melhor estrutura para o teletrabalho.

Com a pandemia acelerando a adoção das atividades à distância, a tendência é que mais empresas abram posições como essa. Um exemplo é a Quora, rede social de perguntas e respostas. Depois de ver que a maior parte de seus 200 empregados queria ter a chance de trabalhar de casa, a companhia criou uma vaga de líder de trabalho remoto. Sua missão: ajudar a criar um modelo de “trabalho dinâmico”.

ANTECIPANDO O FUTURO

Mesmo que muitas empresas tenham conseguido, de uma forma ou de outra, se adaptar ao home office durante a pandemia, o desafio é pensar a transformação no longo prazo. “Fizemos cerca de 60 conversas com multinacionais no Brasil em vários setores, e praticamente todas estão pensando no modelo híbrido de trabalho”, diz Marcelo Godinho, sócio líder em gestão de pessoas da consultoria EY, se referindo à ideia de operar presencialmente e à distância de forma integrada.

“Trabalho remoto não é mandar todo mundo para casa, é dar aos funcionários a oportunidade de gerenciar a vida e o trabalho de forma melhor”, diz De’Onn Griffinn, diretora sênior de pesquisas do Gartner, consultoria global.

Para ela, o novo estilo deve ser encarado como uma prática de flexibilização. E essa é uma demanda dos funcionários. Em uma pesquisa do próprio Gartner, 48% dos profissionais que atuaram em home office na pandemia não querem retornar ao escritório em tempo integral. O novo cargo viria para orquestrar essas mudanças e entender, exatamente, como cada empresa deve criar a própria versão das atividades à distância. “Com uma força de trabalho distribuída, na qual as pessoas se deslocam com facilidade, pode ser importante ter alguém prestando atenção a essas dinâmicas em tempo real”, diz De’Onn.

A transformação vem, inclusive, para permitir que os profissionais morem em cidades menores, desocupando os grandes centros urbanos. Isso é o que defende o professor da Harvard Business School Prithwiraj Choudhury, que estuda o workfrom anywhere (“trabalho de qualquer lugar”) nos Estados Unidos. Nesse sentido, o líder de trabalho remoto teria um papel fundamental para gerenciar o bem-estar de quem está longe, assim como sua integração com o resto da empresa. “Eles não podem se sentir cidadãos de segunda classe nem ficar de fora de discussões da companhia ou de redes de informação”, diz Prithwiraj. Por isso, os processos organizacionais precisam ser repensados para incluir pessoas de qualquer localidade, não importa a área ou o nível.

Não é a primeira vez que um cargo é criado para ajudar na adoção de uma nova ferramenta ou de uma nova cultura. “Quase sempre, quando há uma nova tecnologia, coloca-se alguém dedicado a ela no começo”, afirma Antônio Salvador, líder de negócios de career na consultoria Mercer Brasil. “Mas a tendência é que as empresas desenhem a experiência do colaborador de forma integrada, não importa se ele é remoto ou não.”

ATUAÇÃO POLIVALENTE

O novo cargo deve envolver uma série de competências. ”Para entender as possibilidades da organização, é preciso combinar tanto o lado operacional quanto o cultural”, diz De’Onn, do Gartner. De um lado, ela diz, esse profissional precisa entender qual é a tecnologia disponível e ajudar a empresa a buscá-la e implementá-la. De outro, deve engajar as equipes nessa mudança. “Precisamos garantir que mesmo a mais simples reunião seja inclusiva e que todos se sintam ouvidos”, orienta a consultora.

Marcelo Godinho, da EY, explica que o líder de trabalho remoto deverá orquestrar ao menos quatro áreas funcionais na empresa. Afinal, a transformação para o modelo híbrido envolve setores distintos, como RH, facilities, jurídico e TI (veja o quadro Missão multidisciplinar, no tópico abaixo). Para ele, não será crucial criar urna nova diretoria dedicada à área; é possível absorver a demanda dentro do departamento de gestão de pessoas. ”As empresas estão num momento de segurar custos, por isso talvez seja mais razoável pensar em ter um profissional do RH dedicado a essas questões.”

Ainda assim, essa pessoa deve ser capaz de manter o ponto de contato entre todas as áreas e liderá-las no movimento. Outra proposta em vez de criar um cargo, é criar uma equipe multidisciplinar, como sugere Amélia Caetano, especialista em gestão remota do Instituto de Trabalho Portátil. “Seria interessante um modelo de squad dedicado, com um líder bom em gestão de projetos, que possa olhar a organização de forma sistêmica”, diz.

Qualquer que seja o formato escolhido, ter proximidade com tecnologias será essencial para a função. “O digital vai perpassar todos os processos da companhia”, diz Antônio Salvador, da Mercer. Mas a forma como isso será feito deve ser única para cada negócio e cultura.” Desenvolver esse conhecimento interno é importante para gerenciar e encontrar o que mais se adequa ao negócio. Isso não deve ficar fora da empresa, de forma terceirizada”, afirma o executivo.

Urna das principais funções desse profissional, para Prithwiraj, da Harvard, será organizar e formalizar as regras intrínsecas e o conhecimento existente na companhia. Isso é especialmente importante por que, com as pessoas espalhadas em diversas localidades, não será possível que um novo empregado pergunte ao colega no cafezinho como as coisas funcionam, nem que aprenda pela observação. “A primeira coisa que o líder de trabalho remoto deve fazer, além da política de home office, é reunir e documentar esse conhecimento”, diz o professor.

Esse manual deve ser de fácil acesso e não pode depender de interações ao vivo para ser assimilado por quem está chegando.

ESCUTA ATIVA

Um dos principais desafios, seja no ambiente remoto, seja no presencial, é um velho conhecido: alinhar as expectativas dos profissionais com as da empresa. Uma pesquisa da EY sobre o retorno ao trabalho depois da pandemia com 3.682 funcionários mostra uma disparidade entre a percepção das pessoas e a da liderança: 90% das empresas entendem que estão priorizando a geração de valor para os funcionários nas tomadas de decisão – percepção compartilhada por apenas 69% dos empregados. “É fundamental que esse líder execute um processo de escuta ativa de todos para endereçar as necessidades, conjugando as demais áreas”, diz Marcelo, da EY. Numa cultura como a brasileira, que exige interação e encontros, o raciocínio faz todo o sentido. “Talvez seja o caso de pensar no escritório como o lugar do coletivo, onde as pessoas podem se reunir”, diz o consultor. Importante lembrar: os gestores também precisam de cuidados e de acolhimento. “As lideranças estão sofrendo mais porque é difícil fazer a transição da gestão presencial para a virtual”, diz Antônio, da Mercer. “A maior parte do trabalho do líder é conversar, coordenar reuniões, fazer apresentações, e o virtual requer um preparo diferente.” Aí é que entra a necessidade de engajar os chefes na transformação do modelo de trabalho. Para Prithwiraj, se CEO e diretores continuarem indo ao escritório todos os dias, dificilmente a mudança será efetiva. “Somente se a alta liderança começar a trabalhar de forma remota é que você conseguirá que toda a organização se motive para o sucesso do modelo.” Na pandemia isso é até fácil. O desafio surgirá de verdade depois que o isolamento social se tornar desnecessário.

MISSÃO MULTIDISCIPLINAR

Para que o líder de trabalho remoto seja bem-sucedido, é necessário ter uma atuação integrada com outras áreas. O professor Prithwiraj Choudhury, da Harvard Business School, explica quais setores são cruciais nesse processo

RH

No modelo híbrido, é preciso repensar a cultura, o aprendizado, o engajamento e as jornadas dos funcionários. Além, é claro, dos benefícios que precisarão ser reformulados e levar em conta as rotinas diversas.

FACILITIES

Os espaços no escritório físico deverão ser reformulados tanto para novos usos (como locais de encontro) quanto para usos mistos (com reuniões envolvendo pessoas remotas). A área também apoia quem está em casa e precisa de estrutura.

TI E SEGURANÇA

O desafio de desenvolver ou escolher as ferramentas certas para diversos tipos de interações corporativas exige, do líder de trabalho remoto, proximidade com a área de TI da empresa, assim como um cuidado redobrado com a privacidade e a segurança de dados corporativos.

JURÍDICO

Acompanhar as novas leis trabalhistas e quais são as possibilidades legais de contratos de trabalho remoto ou híbrido é outra tarefa importante do líder de trabalho remoto.

SAÚDE

Este setor deve ajudar o líder em questões de segurança do trabalho em casa, adequação de espaços de home office e de mobiliários utilizados por trabalhadores remotos.

A TRANFORMAÇÃO JÁ COMEÇOU

Pesquisa da consultoria EY mostra como as companhias estão encarando as mudanças aceleradas pela pandemia

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

RETRATOS DO TRAUMA

Psicoterapias modificam circuitos neurais disfuncionais associados ao stress pós-traumático; pessoas com fobias, transtorno obsessivo-compulsivo e depressão também podem ser beneficiadas

Com relativa frequência pessoas de variadas idades e classes sociais são expostas a eventos violentos que ameaçam sua vida. A maioria de nós passou ou passará por situações dolorosas, de expressivo impacto psicológico, como perdas de entes queridos, acidentes e doenças. O National Comorbity Study estima que cerca de 60% da população enfrenta ao longo da vida pelo menos uma vivência passível de causar trauma psicológico. Contudo, experiências emocionalmente devastadoras podem disparar efeitos variáveis; isto é, a caracterização de um evento como traumático não depende somente do episódio estressor, mas, entre outros fatores, de como o indivíduo percebe e processa essa situação. Tal heterogeneidade vem motivando neurocientistas e profissionais da saúde ao estudo da fisiologia do trauma e dos diferenciais das respostas resilientes – que correspondem à capacidade de atravessar eventos estressores e voltar à qualidade satisfatória de vida.

Atualmente, compreende-se que traumas psicológicos podem causar grande impacto e caracterizar o transtorno de stress pós-traumático (TEPT). Entre seus sintomas estão recordações aflitivas, revivescência do trauma (por meio de lembranças, pesadelos recorrentes e pensamentos intrusivos), esquiva, entorpecimento emocional (isolamento, distanciamento afetivo) e hiperestimulação autonômica (irritabilidade, insônia, hipervigilância). A etiologia é conhecida: o transtorno ocorre sempre após um trauma psicológico. Portanto, existe a possibilidade de prevenção.

Porém, a desinformação e o subdiagnóstico do TEPT podem implicar a proliferação de outras psicopatologias, tendo em vista que esses pacientes apresentam risco aumentado para ocorrência de um segundo transtorno (depressão, abuso de substâncias etc.). Casos de TEPT subclínicos (que não atendem a todos os critérios internacionais para diagnóstico, mas apresentam indícios do transtorno) são diagnosticados como TEPT parcial. Estudos longitudinais sugerem que existe um número considerável de pessoas nessas condições, que também requerem cuidados terapêuticos.

A prevalência do TEPT na população geral é de aproximadamente 9%, enquanto a manifestação parcial do transtorno é calculada em 30 %. Entretanto pesquisadores têm dado atenção limitada a esse grupo sensivelmente maior de pessoas. Interessamo-nos em estudar possíveis impactos da terapia de exposição e reestruturação cognitiva – reconhecida como o tratamento de primeira escolha para indivíduos traumatizados – quanto à atenuação dos sintomas e respectivos correlatos neurais nesse grupo de pessoas que com frequência procura atendimento psicológico.

EXPRESSÃO FRAGMENTADA

Nosso estudo evidencia que a expressão psicopatológica do trauma não é estática e as memórias traumáticas podem se modificar em sua manifestação com o passar do tempo. Retratamos pela neuroimagem os substratos neurais que refletiram essas alterações influenciadas pela reestruturação cognitiva dos pacientes. O estudo esclarece o sentido da relação pré-frontal com a amígdala na atenuação dos sintomas de hiper estimulação por meio de psicoterapia e evidencia que o TEPT parcial pode partilhar similaridades neurais com os mecanismos que atuam na expressão sensorial fragmentada. Integrar traços mnêmicos sensoriais e emocionais do trauma em narrativas terapêuticas estruturadas é um dos desafios principais para as psicoterapias aplicadas às vítimas de traumas.

A terapia e exposição e reestruturação cognitiva pode influenciar o desenvolvimento de um padrão narrativo mais organizado que se sobrepõe aos substratos neurais da memória declarativa, além de melhorar os sintomas de forma geral.

LUZES DAS NEUROCIÊNCIAS

Hoje, as questões a respeito dos efeitos neurobiológicos e a psicoterapia estão entre as mais relevantes das neurociências. Métodos de neuroimagem começam a ser utilizados para avaliar as reciprocidades neurais envolvidas na terapia de indivíduos com fobias, transtornos obsessivo-compulsivo, depressão maior e de stress pós-traumático.  Ainda que poucos estudos tenham sido publicados até agora, os resultados revelam que as abordagens psicoterápicas aplicadas tiveram potencial de modificar os circuitos neurais disfuncionais associados às patologias estudadas. Ao favorecer o equilíbrio psicológico, a psicoterapia influencia o processo de normalização neurofisiológica.

A heterogeneidade das respostas sintomatológicas daqueles que sofreram traumas psicológicos aponta para a impossibilidade de existir um único circuito neural subjacente ao transtorno de stress pós-traumático. Amplas análises dos estudos neurofuncionais com paradigmas de provocação de sintomas em indivíduos com TEPT mostram redução da atividade do hemisfério esquerdo, do córtex pré-frontal médio (relacionado à classificação e categorização das experiências e do hipocampo (envolvido na capacidade de síntese e na aprendizagem e na memória) assim como maior atividade da amigdala (área do cérebro relacionada à expressão do medo.

Alguns estudos, no entanto, mostraram resultados discrepantes, tais como aumento da atividade no córtex pré-frontal. Uma possível explicação para tais resultados é dada pelo estado dissociativo dos voluntários. Por isso, é fundamental que os critérios de seleção dos participantes de estudos com neuroimagem funcional considerem a homogeneidade da amostra quanto às respostas de hiperestimulação ou dissociação. A despeito dessa variável, há importantes evidências da responsividade diminuída do córtex pré-frontal durante resgates de memórias traumáticas em indivíduos com TEPT e sintomas expressivos de hiperestimulação. Optamos pela tomografia por emissão de fóton único (SPECT, na sigla em inglês) como método de neuroimagem por utilizar marcadores de atividade encefálica com duração de quatro a seis horas, o que permite seu uso no ambiente psicoterápico, enquanto a memória traumática é recuperada. Nessas condições, a dispersão e a ansiedade que costumam ser disparadas pelo ambiente hospitalar são evitadas, e o paciente fica mais à vontade para deixar as emoções aflorarem naturalmente, sem a necessidade de permanecer imóvel. Como estratégia para evocação das memórias traumáticas – a recorrência delas é sintoma central do TEPT -, um roteiro personalizado foi composto para cada sujeito com um número idêntico de palavras-chaves. Utilizamos o radioisótopo 99mTe-ECO para investigar as possíveis alterações no fluxo sanguíneo encefálico (FSE) dos participantes com TEPT parcial durante o resgate de suas memórias traumáticas antes e depois da psicoterapia. Todos os participantes apresentaram memórias traumáticas recorrentes (critério B), hipervigilância e resposta de alerta (critério D) como sintomas prevalentes, mas não apresentaram sintomas do critério C – entorpecimento /anestesiamento da responsividade geral -, não preenchendo os critérios DSM-IV completos para TEPT O grupo-alvo reunia 16 voluntários submetidos à psicoterapia uma vez por semana, durante dois meses, num total de oito sessões. Para controle, estudamos 11 indivíduos com o mesmo diagnóstico, porém não submetidos à psicoterapia. Os dois grupos fizeram duas avaliações sintomatológicas e dois exames de neuroimagem intercalados por 60 dias, período em que os 16 participantes estiveram em psicoterapia e os 11 pacientes em lista de espera.

IMAGENS REVELADAS

Os indivíduos submetidos à psicoterapia mostraram decréscimo da atividade da amígdala e aumento da atividade do córtex pré-frontal, do hipocampo esquerdo e dos lobos parietais (estes últimos relacionados à orientação espacial e temporal dos eventos) (ver imagem abaixo da tabela no tópico memórias traumáticas e porcentagem de intensidade). Depois do tratamento houve diminuições dos índices sintomatológicos do TEPT parcial, da ansiedade e do impacto do evento traumático. Já as alterações dos sintomas do grupo controle não alcançaram significância estatística ou mudanças do FSE nos dois exames intercalados por 60 dias.

A hiperresponsividade da amígdala tem sido reportada durante a apresentação de narrativas personalizadas do trauma, de ruídos de combate, imagens relacionadas ao trauma e expressões faciais de medo. Todavia, não foi esclarecido se a atividade da amigdala pode decair apenas com a continuidade de tais apresentações. Alguns estudos indicam que não e sugerem que a simples apresentação dos estímulos ansiogênicos isoladamente pode provocar a reconsolidação da memória traumática. Em convergência com os estudos que revelaram a atividade da amigdala correlacionada positiva à remissão de sintomas de TEPT parcial. A exposição terapêutica dos pacientes aos estímulos estressores contribuiu para a reconstrução cognitiva e o arrefecimento da resposta emocional, além de desfavorecer a reconsolidação da memória traumática.

FEEDBACK INIBITÓRIO

Métodos estatísticos e análises de conectividade foram usados em vários estudos para testar alguns modelos patofisiológicos da TEPT, tal como a correlação entre a atividade do córtex pré-frontal e da amígdala. A cronicidade dos indivíduos com TEPT parece ser uma variável implicada no relacionamento inverso entre a amígdala e o córtex pré-frontal. Nosso estudo vem colaborar com o esclarecimento do sentido dessa relação, uma vez que a atividade do córtex pré-frontal esteve correlacionada positivamente à atividade da amígdala. A ativação do córtex pré-frontal esquerdo nos exames SPECT subsequentes à psicoterapia indicam provavelmente, um melhor processo de feedback inibitório relacionado à atividade da amígdala.

Um conjunto de estudos neurofuncionais mostrou a natureza não-verbal da recordação traumática entre sujeitos com TEPT comparado a um padrão mais verbal da recordação traumática em sujeitos sem o transtorno. O psicólogo Chris Brewin, professor da University College de Londres, postulou a teoria da dupla representação como uma diretriz preliminar para classificar dois tipos de memórias traumáticas: (1) hipocampo dependente e (2) não-hipocampo dependente. O primeiro formato – chamado de memória verbalmente acessível – fornece suporte a recordações auobiográficas comuns que podem ser recuperadas de maneira voluntária, editadas, havendo interação com o conhecimento autobiográfico geral. O segundo modelo – determinado memória situacionalmente acessível – traz suporte aos flashbacks que são característica marcante em pessoas traumatizadas. Tais memórias são sensorialmente fragmentadas, sua narrativa é pouco estruturada e não interagem com outros conhecimentos autobiográficos.

Todavia, evidências indicam que sistemas múltiplos de memória podem ser ativados simultânea e paralelamente, também interagindo em várias ocasiões. A interface entre os circuitos neurais é um aspecto fundamental à psicoterapia, que pode favorecer a procura por uma narrativa e uma tradução integrativa da memória traumática fragmentada em um sistema declarativo de memória. Considerando que as regiões superiores são subjacentes às habilidades cognitivas de classificação e categorização das experiências, enfatizamos a importância de ativar memórias autobiográficas emocionais positivas (de auto-eficácia e superação) anteriores ao trauma, para “abertura” do processamento pré-frontal, tendo em vista que os sistemas mnemônicos múltiplos fazem interface em várias ocasiões. Assim, fragmentos sensoriais relativos ao trauma serão possivelmente integrados em outro sistema de memória, com repercussões na redução da resposta emocional e sensorial. As conectividades das regiões pré-frontais ao complexo límbico são sugestivas de seu papel na aglutinação das informações sensoriais da memória, assim como no processo de controle emocional/comportamental.

ORDEM EM FOCO

O TEPT pode ser considerado uma desordem especialmente relacionada à memória, que resiste à atualização dos aprendizados referentes ao trauma passado. O hipocampo tem um papel crítico nos processos de aprendizagem e de categorização das experiências conectadas e atualizadas com outras informações autobiográficas. Os exames iniciais deste estudo, tanto do grupo submetido à psicoterapia como do grupo-controle, foram similares, resgates das memórias traumáticas pós- psicoterapia apresentaram ativação significativa do hipocampo esquerdo, e as memórias correspondentes foram sensorialmente menos intensas e cognitivamente mais organizadas.

Os efeitos terapêuticos podem ser em boa parte decorrentes de um processo ativo de aprendizado que estabelece uma nova hierarquia de respostas num processo ativo de aprendizado que estabelece uma nova hierarquia de respostas. Algumas funções integrativas parecem ser mais eficientes com a ativação do hipocampo. A ativação parietal pós-psicoterapia pode estar também envolvida no processamento mais preciso das informações espaciais e temporais relacionadas ao evento traumático.

As correlações entre os escores dos sintomas de TEPT parcial e as contagens do FSE mostram que a melhora nos sintomas dos participantes submetidos à psicoterapia esteve relacionada a níveis mais elevados de atividade do córtex pré-frontal esquerdo, assim como à atenuação da atividade da amígdala. Os escores narrativos mais elevados para as memórias traumáticas pós-psicoterapia estiveram também correlacionados com a atividade mais elevada do córtex pré-frontal esquerdo, fortalecendo a evidência da participação desse circuito na construção de narrativas resilientes. A recuperação da memória de eventos traumáticos foi emocionalmente menos intensa com um padrão narrativo mais estruturado, de maneira distinta do primeiro SPECT pré-psicoterapia.

As correlações entre as expressões neurofuncionais e os sintomas TEPT, porém, requerem ainda mais pesquisas, e quanto mais dados forem coletados com qualidade, melhores serão nossas intervenções como terapeutas em relação ao que podemos estimular nas pessoas para normalizar suas atividades neuronais.

VARIAÇÕES DA ATIVIDADE CEREBRAL PÓS-PSICOTERAPIA

Indivíduos que passaram por psicoterapia tiveram decréscimo da atividade da amígdala e aumento da atividade do córtex pré-frontal, do hipocampo esquerdo e dos lobos parietais (estes últimos relacionados à orientação espacial e temporal dos eventos). Depois do tratamento houve diminuições de sintomas do transtorno de stress pós-traumático e ansiedade foram amenizados sintomatológicos do TEPT parcial, no impacto do evento traumático e nos índices de ansiedade

GLOSSÁRIO

MEMÓRIA DECLARATIVA: também é chamada de explícita. Graças a ela sabemos que “algo se deu”. Apresenta-se em duas variações: episódica (relacionada a ocorrências específicas) e semântica (compreende aspectos gerais).

SISTEMAS MÚLTIPLOS DE MEMÓRIA: espalhados por diferentes áreas cerebrais, são ativados simultaneamente e podem interagir; a reconstrução terapêutica da memória traumática está ligada diretamente a essa possibilidade de criar interfaces.

ESTADO DISSOCIATIVO: caracteriza-se por profunda analgesia e amnésia, mas não necessariamente por perda da consciência.

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