EU ACHO …

TER VACINA VIROU DIFERENCIAL

Líderes com vacina crescem, os sem-vacina perdem popularidade

Deu a louca no mundo – e isso não é novidade nenhuma na era do coronavírus. Ridicularizado como um líder indeciso e hesitante, que falava uma coisa e fazia outra menos de 24 horas depois, Boris Johnson está com o prestígio em alta. A pioneira campanha de vacinação no Reino Unido virou um motivo de orgulho nacional. Enquanto isso, a venerada Angela Merkel amarga um desencanto sem precedentes: a lerdeza e a paquidérmica burocracia da União Europeia, aquém a primeira-ministra confiou as negociações conjuntas sobre a compra das vacinas para os 27 países-membros, provocam revolta e indignação. A situação não é muito diferente para Emmanuel Macron, que tomou a atitude nada esclarecida de desdenhar dos ingleses e de uma das suas vacinas, a Oxford/AstraZeneca, uma atitude extraordinariamente parecida com a de uma certa raposa que não alcançava um apetitoso cacho de uvas. Para complicar, o sem-vacina Macron tem no encalço uma adversária capaz de fazer um vinagre duro de engolir com qualquer uva verde, Marine Le Pen. Uma pesquisa chocante deu à sua adversária garantida na próxima eleição presidencial 48% das preferências. Apenas 34% dos franceses apoiam o modo como Macron conduz a crise do corona.

A eleição na França é só no ano que vem e até lá todos os franceses deverão estar vacinados, espera-se. O que conta é a janela de oportunidade do momento atual e como ela está sendo aproveitada: os com-vacina avançam para um planejamento realista da normalização de atividades, inclusive os tratamentos médicos suspensos pela pandemia; os outros esperneiam. A vacinação rápida e eficiente não traz automaticamente o sonhado “passaporte verde”, que permitiria liberdade de viajar e trabalhar. Mas é muito melhor ter pelo menos os grupos de risco vacinados.

O mundo da era do vírus não se comportou melhor ou pior do que o anterior. Em lugar da nobre e solidária ação conjunta, cada país saiu correndo para proteger os seus – pelo menos, entre os que entendem a relação entre dominar a pandemia e ganhar eleição. A tentativa de ação coletiva feita pela União Europeia redundou no atual fiasco. Melhor nem falar nas iniciativas da ONU. O impulso de autopreservação, salpicado pelo conhecido perfume de nacionalismo, funcionou. Sem dinheiro e competição ao velho estilo, ambos em grandes quantidades, não teria sido possível chegar ao extraordinário número de vacinas de eficácia já comprovada. China e Rússia também captaram rapidamente o potencial da “diplomacia da vacina” – e a dependência dos sem-imunizantes ficou demonstrada em todos os seus humilhantes detalhes no caso do Brasil. A corrida das vacinas tem sido comparada ao Grande Jogo, a disputa por domínio e recursos na Ásia Central, na virada do século XIX, entre a Grã-Bretanha e a Rússia, na época do imperialismo puro e duro. As disputas hegemônicas da erado coronavírus são travadas inteiramente com soft power. Quem é bom em pesquisa e desenvolvimento tem poder. Quem não chegou lá tem de ser esperto. “A sorte favorece as mentes preparadas”, ensinou Louis Pasteur, o genial precursor da microbiologia e pai da vacina antirrábica.

*** VILMA GRYZINSKI

OUTROS OLHARES

DÉFICIT DE BEBÊS

Nada de baby boom. Na pandemia, o que se observou foi um declive nos índices de natalidade, acentuando uma tendência que vinha de antes – e já faz populações começarem a encolher

No começo do ano em que todo mundo ficou preso em casa, imaginou-se aquilo mesmo: que o resultado de tamanha proximidade seria, nove meses depois, uma explosão de bebês pelo planeta. Mas agora se constata que aconteceu o contrário – em vez do esperado baby boom, a preocupação com o futuro espalhada pelo novo coronavírus ocasionou um baby bust (derrocada, em inglês), como está sendo chamada a queda na taxa de natalidade em quase toda parte. Em paralelo, a taxa de mortalidade aumentou significativamente no mundo inteiro, e a junção dos fatores fez de 2020 um ano demograficamente atípico. Passada a fase pandêmica, porém, a média anual de mortes deve retornar à normalidade. Já o recuo acentuado nos nascimentos provavelmente só fará se agravar no futuro, visto ser uma tendência global que se observa há anos. “O baque mental e financeiro da pandemia afetou e continuará afetando a natalidade de forma sem precedentes”, diz Cho Youngtae, demógrafo da Universidade Nacional de Seul.

O dado mais alarmante até agora vem justamente da Coreia do Sul, onde o governo fez tudo certo em matéria de controle da pandemia. Graças a uma combinação de testes em massa com rastreamento de contatos e distanciamento social, o país, sem um único dia de lockdown total, fechou 2020 com menos de 1.000 mortes por Covid-19. No entanto, no mesmo período nasceram apenas 275.800 bebês, uma queda de quase 10% em relação a 2019, enquanto o total de mortos crescia 4,3%, para 308.000. E assim, pela primeira vez na história, o número de habitantes ali pôs-se a encolher. A trilha já estava traçada: o crescimento da população passou de 1,5%, em 2010, para 0,05%, em 2019.

Mas, segundo os especialistas, foi a crise na saúde que fez a balança pender de vez para o negativo. “A partir de agora, os nascimentos não mais conseguirão superar as mortes”, adianta Cho Youngtae.

A baixa natalidade afeta de forma semelhante boa parte do mundo desenvolvido e é motivo de estudos e preocupações. A amplificação do fenômeno ainda está longe: ele só deve se reproduzir em dimensões planetárias lá por 2100, segundo as projeções da ONU. Mas o balé das curvas demográficas já tira o sono dos governos e os faz agir, no aqui e agora, inapelavelmente. Uma população com menos bebês naturalmente envelhece – e isso impõe à humanidade o desafio de seguir avançando economicamente com menos braços no mercado. No planeta atual, de 7,7 bilhões de habitantes, a razão é de sete adultos na ativa para cada idoso. No próximo meio século, serão apenas quatro. Esse cenário vai exigir um ganho de produtividade – ou, na linguagem popular, se fazer mais com menos -, e ainda bem que as conquistas tecnológicas estão aí para ajudar a alimentar essa engrenagem. Ela terá de funcionar a toda para suprir a inevitável subtração de jovens por vir. Um estudo da Universidade Católica de Milão, que ouviu gente de 18 a 34 anos da Itália, Alemanha, França, Espanha e Reino Unido, mostra que mais de dois terços dos jovens planejam adiar ou desistiram de ter filhos por causa da pandemia.

Nos Estados Unidos, país no qual a população tem declinado consistentemente, a Brookings Institution, que trata de políticas públicas, prevê até 500.000 menos nascimentos em 2021, em razão das preocupações com a Covid-19. Na Itália, em processo de encolhimento da população desde 2015, os nascimentos tiveram em 2020 uma redução de 3% em relação a 2019, período que já havia registrado o menor número de bebês em 150 anos. No Japão, cujo índice de reposição de habitantes ficou negativo em 2010, o número de bebês em 2020 também foi o mais baixo desde que os registros começaram a ser computados, em 1899.

A pandemia exacerbou aspectos que já vinham contribuindo para a redução da natalidade em diversas partes do planeta. No ano passado, a agência Yonhap informou que um quinto dos sul-coreanos que se casaram em 2015 ainda não tinha filhos, uma virada de conceitos que teve como consequência a menor taxa de natalidade do mundo: 0,92 filho por mulher em 2019, 0,86 em 2020 e previsão de 0,83 em 2021, muito abaixo dos 2,1 necessários para que um país mantenha sua população. No Brasil, a conta está em 1,7.

Na Europa, a situação se agrava pelo fato de os jovens ainda sentirem de perto os efeitos da recessão de 2008, que dificultou os ritos de passagem para a vida adulta: conseguir um emprego estável, comprar uma casa e constituir família. A crise atual também tem um impacto psicológico significativo, impulsionado pelo medo de ficar doente, pelo desconforto dos confinamentos e pelas mortes de entes queridos. As mulheres passaram a evitar a gravidez ainda por não poder estar acompanhadas no parto e não ter a mãe por perto depois dele, além do temor de transmitir Covid-19 aos bebês e da parcela desproporcional das tarefas domésticas que assumiram durante a quarentena. Um estudo nos Estados Unidos, do Instituto Kinsey, acrescenta outro ângulo: quase metade dos adultos consultados relatou diminuição na atividade sexual. “O estresse é um dos maiores inibidores do desejo”, diz o psicólogo Justin Lehmiller, autor do estudo.

A reposição populacional no Brasil também foi marcadamente afetada pela pandemia: em 2020, houve uma queda de 7,5% nos registros de nascimentos, em relação ao ano anterior, enquanto os óbitos davam um salto de 15%. O país ainda não entrou na fase de recuo sistemático da natalidade, mas caminha para ela sem ter tirado o devido proveito do chamado bônus demográfico – o bom período em que a população economicamente ativa supera a fatia de idosos e crianças. A chance de se beneficiar dessa janela, elevando a produtividade e fazendo a economia deslanchar, infelizmente passou. A previsão é de que a proporção de idosos triplique até 2060, enquanto o índice de fecundidade cai, inapelavelmente, desde os anos 1960, em todas as classes sociais e regiões do país.

Os governos das nações já duramente atingidas pela queda na natalidade estão tomando uma série de providências destinadas a estimular casais a ter filhos e, assim, amenizar o problema mais imediato e visível do menor número de jovens e da maior população idosa: o peso sobre o sistema previdenciário. Na Alemanha, avançam os projetos destinados a manter as fronteiras abertas à imigração, um ponto delicado e polêmico, alimento para reações absurdamente xenófobas, mas que vem sustentando o crescimento populacional no país. A Itália, entre outras providências, está se preparando para recompensar o terceiro filho nascido em 2019 e 2020 oferecendo à família um lote de terras agrícolas por vinte anos e empréstimos a juro zero para a construção de uma casa no local. No Japão, além de o governo já ter introduzido em 2019 plataformas de paquera no estilo do Tinder para facilitar encontros (e, posteriormente, casamentos), o primeiro-ministro, Suga Yoshihide, quer que os planos de saúde passem a cobrir tratamentos de fertilização in vitro. O presidente sul-coreano Moon Jaein, por sua vez, lançou um programa de bolsa-bebê: famílias receberão 1.850 dólares para cada criança nascida, além de um pagamento mensal de quase 300 dólares até o bebê completar 1 ano de idade.

Experiências anteriores indicam que o declínio nas taxas de natalidade após catástrofes pode ser revertido rapidamente: a fertilidade caiu após a epidemia de Gripe Espanhola, de 1918, o surto de Sars de 2003, em Hong Kong, e a passagem do furacão Katrina no sul dos Estados Unidos, mas se recuperou logo depois. A incógnita, neste momento, reside na duração da crise. “Estamos vivendo uma situação historicamente nova. Nunca enfrentamos bloqueios nacionais generalizados por um período tão longo”, diz Martin Bujard, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa Populacional da Alemanha (BiB), país que encolheu em 2020 pela primeira vez em uma década. Só o tempo dirá se o desejo de ter filhos, que já esteve no centro das ambições masculinas e femininas, recuperará seu lugar de honra na vida dos casais.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 14 DE FEVEREIRO

GOVERNO TOLO, POVO ABATIDO

Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança (Provérbios 11.14).

A história está repleta de exemplos de maus governantes, que à nação impuseram desgraça e opressão; ao mesmo tempo a história destaca a importância dos conselheiros sábios para dar segurança ao povo. A loucura de Adolf Hitler transtornou a Alemanha e provocou a Segunda Guerra Mundial, com sessenta milhões de mortos. O governo truculento de Mao Tsé Tung matou na China mais de cinquenta milhões de pessoas. Ainda hoje ditadores carrascos abastecem-se do poder e vivem nababescamente enquanto o povo geme sob o tacão cruel da pobreza e da opressão. O rei Salomão declara: Não havendo sábia direção, o povo cai (Provérbios 11.14). Cenário bem diferente é o da nação que é governada por conselheiros sábios. Na multidão dos conselheiros há segurança (Provérbios 11.14). Quando o justo governa, o povo é abençoado. Quando a verdade assenta-se no trono, a justiça floresce. A Bíblia diz que feliz é a nação cujo Deus é o Senhor (Salmos 33.12). Todas as nações que foram estabelecidas sob a égide da Palavra de Deus tornaram-se prósperas e felizes; entretanto, caíram em opróbrio todas aquelas que proibiram a liberdade e perseguiram o evangelho. A Bíblia nos ensina a orar por aqueles que governam, por aqueles que estão investidos de autoridade, para que tenhamos paz.

GESTÃO E CARREIRA

BIG BROTHER DO CHEFE

O uso de ferramentas que monitoram o computador dos funcionários disparou durante a pandemia. Entenda corno essas tecnologias funcionam e até onde as empresas podem ir com a espionagem.

Você está em home office e a companhia resolve instalar um software no seu computador. Com ele, o seu chefe vê todos os sites que você está acessando, sabe exatamente quantas horas por dia você passou no Facebook ou naquela planilha do Excel. Mais. Ele recebe, em tempo real, um gráfico com a movimentação do seu mouse e, a cada 30 segundos, printscreens das telas em que você está navegando. Pior. De 10 em 10 minutos, a webcam do notebook tira fotos da sua mesa de trabalho. Vai que você resolveu dar aquela dormida depois do almoço?

Se você suou frio com a mera possibilidade de isso acontecer, temos uma má notícia. Todas as ferramentas descritas existem – e já são usadas para monitorar funcionários. A tendência já vem de antes da universalização do home office. Uma pesquisa da consultoria Gartner, publicada em 2019, mostrou que mais de 50% das 239 empresas americanas que eles pesquisaram já adotavam técnicas “não tradicionais” (como as que veremos nesta reportagem) para espionar funcionários. Em 2015, esse número era de apenas 30%.

Cada vez mais empresas de tecnologia se especializaram em fornecer softwares voltados para essa patrulha. A americana TimeDoctor é uma das mais famosas. Cobrando USS 9,99 por usuário cadastrado, ela promete ajudar “companhias e indivíduos a serem mais produtivos” por meio de capturas periódicas de telas, cronômetro de atividades e pop-ups que avisam quando os funcionários entram em sites não relacionados ao trabalho.

A TimeDoctor também atua no Brasil e não faltam concorrentes nacionais. Um deles é a mineira fSense, fundada em 2015, a companhia faz parte do Grupo Arcom, um conglomerado que conta com operações de call center e comércio atacadista em Minas Gerais. Ela nasceu de uma necessidade das próprias empresas do grupo.

“Na época não encontramos nenhuma prestadora desse tipo de serviço por aqui. Então fizemos um estudo com organizações americanas para desenvolver uma ferramenta nossa”, afirma Eduardo de Souza Vieira, gerente de produtos da fSense.

Assim como a TimeDoctor, a mineira oferece um painel no qual os gestores acompanham ao vivo os sites que os funcionários acessam e, a cada 30 segundos, captura uma imagem da tela (adeus, WhatsApp Web…).

O EFEITO PANDEMIA.

Depois da Covid-19 a procura por esse tipo de serviço cresceu de forma exponencial, claro. De março para cá, as vendas de licenças de uso do sistema da fSense aumentaram em 2.000%. Hoje, 6 mil funcionários de mais de 100 companhias, como Cielo e Net têm o software da empresa instalado em suas máquinas. “Sem a supervisão presencial, o uso dessas ferramentas se tornou mais aceitável”, afirma Tatiana Iwai, professora de comportamento organizacional e liderança no Insper, em São Paulo.

A FieldLink foi outra que viu a demanda disparar. O produto da companhia paulista monitora a localização dos funcionários via GPS (na versão para celulares). Ele também dá a duração das ligações feitas para clientes, por exemplo.

Criada em 2016, a FieldLink atende grandes empresas, como Itaú, Peugeot e Ifood, e estima que o seu faturamento dobrou em 2020. Acostumada a ser procurada por empresas com grandes equipes comerciais, ela também viu uma mudança no perfil dos clientes. “Escritórios de Direito e até empresas do terceiro setor vieram atrás de nós”, diz Diego Cueva, CEO da FieldLink.

Algumas gigantes de tecnologia quiseram aproveitar a onda – mas acabaram se arrependendo. É o caso da Stefanini. Em agosto de 2020, a multinacional brasileira de TI lançou um conceito inusitado. Batizado de Home Booth, tratava-se de uma cabine de 1 metro de largura por 1,6 metro de profundidade, climatizada e com isolamento acústico, com o objetivo de ser instalada na casa dos funcionários que estivessem em home office.

O Home Booth ainda contava com um sistema de monitoramento digno de Big Brother: biometria facial para permitir a entrada na cabine, além de basicamente todo tipo de controle. Assim que foi divulgada, a ideia se tornou alvo de críticas nas redes sociais. Dias depois, a Stefanini apagou a menção ao projeto do seu site oficial.

Outra que voltou atrás foi a Microsoft. Em outubro de 2020, a empresa lançou o Productivity Score. A ferramenta criava uma linha do tempo com um placar de produtividade dos funcionários, baseado em cinco pilares: comunicação, reuniões, compartilhamento de conteúdo online, colaboração entre as equipes e mobilidade.

Para produzir essas métricas, o software analisaria informações como o número de e-mails enviados por dia e uso de chats internos pelo time. Porém, o mais assustador: ele também seria capaz de monitorar a linguagem corporal e expressões faciais dos empregados durante reuniões virtuais, para identificar o “nível de engajamento” nos encontros (ai de quem bocejasse). A exemplo do que houve com a Stefanini, assim que foi lançado, o Productivity Score recebeu uma avalanche de críticas. Com o resultado, em dezembro, a empresa anunciou mudanças no produto, afirmando que a partir dali as métricas deixariam de ser individuais e mostrariam apenas o desempenho da empresa como um todo.

E OS LIMITES?

Verdade seja dita, mecanismos para controlar a produtividade dos funcionários são tão antigos quanto o trabalho em si. O registro de ponto que o diga. Mas o fato é que o cerco está se fechando. “Hoje, temos uma ‘plataformização’ desse controle. Eu não tenho mais um gestor, mas uma tecnologia que me vigia. E isso traz uma série de complexidades”, diz Fabrício Barili, mestrando em Ciências da Comunicação pela Unisinos e pesquisador no tema.

A maior dessas complexidades é óbvia. Qual é o limite para a espionagem? A resposta ainda é difusa. De um lado, a Justiça do Trabalho entende que as empresas podem, sim, fiscalizar tudo o que seja ferramenta profissional, como e-mails e notebooks corporativos. A lógica é simples: esses dispositivos pertencem às companhias, e não aos funcionários.

Outra forma de legitimar a espionagem é por meio do Código Civil brasileiro. Ele prevê que os empregadores são responsáveis por todas as atividades realizadas por seus funcionários enquanto eles estiverem usando os equipamentos e as conexões da empresa. Ou seja, se um funcionário praticar algum crime usando os sistemas da organização (como enviar mensagens de e-mail que configurem assédio sexual ou consumir pedofilia), a companhia pode responder judicialmente pelo ato. Logo, há um grande estímulo para que as companhias monitorem o comportamento online de seus funcionários, e também para que elas demitam quem sair da linha.

“Se o empregado estiver acessando pornografia com o computador corporativo, por exemplo, pode ser demitido por justa causa. E daí a empresa também vai precisar do histórico de sites como prova durante o processo de auditoria”, explica Fabiana Fittipaldi, advogada trabalhista e sócia do escritório PMMF.

Mas o direito da empresa se limita aos equipamentos e sistemas corporativos. Se o e-mail ou o notebook for pessoal, aí a história é outra – e monitorar essas ferramentas se torna violação de privacidade. “No caso dos equipamentos pessoais, ainda que o funcionário esteja em home office, não é permitido esse tipo de controle”, diz a advogada.

Mesmo que via de regra, todos os equipamentos corporativos possam ser acessados pelos chefes, isso também não significa que vale tudo. “Não existe uma lei específica, mas capturar a tela dos funcionários pode configurar assédio moral. Uma situação assim indica que o profissional está trabalhando sob extrema pressão”, diz Fabiana.

A paulista Bruna (nome fictício), de 32 anos, conhece bem o estresse causado pelo monitoramento excessivo. Formada em Letras e com doutorado em linguística, a jovem começou a trabalhar para uma empresa de tecnologia em 2020., prestando serviços na área de linguística computacional. Para controlar a jornada de 20 horas semanais, realizada em home office e com contrato de PL a companhia pediu que ela instalasse um aplicativo de monitoramento.

A partir do momento em que Bruna se logava no sistema, toda a sua atividade online era rastreada. A movimentação do mouse, períodos inativos e printscreen das telas navegadas     iam parar em uma linha do tempo acessada pelos gestores. Se o cronômetro mostrasse que, durante o expediente, Bruna havia passado 30 minutos sem nenhuma movimentação na planilha de trabalho, a empresa descontava esse tempo do pagamento combinado.

“No começo, você cai em várias ciladas. Esquece o aplicativo ligado enquanto vai ao banheiro e acaba sendo penalizada. Se abre um e-mail pessoal, o printscreen captura e você leva bronca também”, diz Bruna.

Quem dava um de espertinho e apagava as imagens tinha o valor correspondente a 10 minutos da jornada de trabalho descontados do pagamento, como multa. “Esse controle gera uma pressão absurda. Eu terminava as semanas exausta, parecendo que havia trabalhado o dobro do tempo”, afirma Bruna.

Segundo aquela pesquisa de 2019 da Gartner, mais de 50% dos funcionários diziam que tudo bem serem espionados, contanto que a empresa explique previamente o que está sendo observado. Mas nem sempre isso acontece na vida real.

Bárbara (nome fictício), de 30 anos, tem um bom exemplo. A empresa na qual ela trabalha, uma exportadora em São Paulo, passou a monitorar os sites e aplicativos que os funcionários acessam. Mas foi tudo na surdina. Bárbara descobriu pela chefe, de maneira informal. “Acho que deveríamos, ao menos, ser avisados. Nem sei que tipo de informação eles rastreiam. As redes sociais já eram bloqueadas, mas agora eu nem entro em aplicativos de música com medo de ser punida de alguma maneira”, diz.

Para o bem ou para o mal, o fato é que o monitoramento veio para ficar. E deu origem a um paradoxo. Num momento em que vários países buscam limitar o acesso de dados pessoais por parte de gigantes de tecnologia, como Google e Facebook, empresas criam seus Big Brothers particulares com ferramentas cada vez mais intrusivas. Para detectar possíveis abusos, talvez valha monitorá-las mais de perto.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO O DINHEIRO MEXE COM A NOSSA CABEÇA?

Há mais de três décadas os psicólogos Amós Tversky e Daniel Kahneman, da Universidade Hebraica de Jerusalém, começaram a investigar como as emoções distorcem nossas percepções e capacidade de fazer cálculos, focando suas pesquisas em situações nas quais as pessoas precisam tomar decisões que não afetam apenas sua vida econômica, mas envolvem seu sistema de crenças, funcionamento cerebral e traços de personalidade. Em 2002, Kahneman tornou-se o único psicólogo a receber o Nobel de economia. Desde então, o interesse pelo tema tem sido cada vez maior. Em tempos de crise, quando preocupações com variações de câmbio, oscilações das bolsas de valores e taxas de juros, compras, aplicações e desemprego são constantes, compreender os sentidos que recursos financeiros adquirem no âmbito psíquico pode melhorar a forma de lidar com ganhos e perdas.

Dinheiro. Apenas uma palavra, mas carrega uma misteriosa força psicológica. Respeitados pesquisadores garantem que o simples ato de pensar sobre conceitos associados a dinheiro surte efeitos curiosos, como nos deixar mais autoconfiantes e menos inclinados à filantropia. E, surpreendentemente, em alguns casos, manusear notas pode afastar por alguns momentos o sentimento de rejeição social e até diminuir a dor física.

Isso parece muito estranho se considerarmos a função concreta do dinheiro. Para os economistas, trata-se de uma ferramenta usada para tornar as trocas mais eficientes. Como um machado, que nos permite cortar árvores, possibilita a existência de mercados que, de acordo com economistas tradicionais, nos possibilitam colocar, desapaixonadamente, preços em tudo, de um pão a um quadro de Pablo Picasso. Ainda assim, o dinheiro consegue criar mais paixão, stress ou inveja do que qualquer machado ou martelo poderia. O fato é que a maioria de nós não é capaz de lidar racionalmente com ele…

Em geral, a relação com o dinheiro possui inúmeras facetas. Algumas pessoas parecem compelidas a acumulá-lo, enquanto outras não conseguem deixar de estourar seus cartões de crédito e acham impossível guardá-lo para dias difíceis. Ao entendermos melhor o efeito que o dinheiro exerce sobre nós, percebemos que o cérebro de algumas pessoas reage a ele como a uma droga, enquanto que o de outras, como a um amigo. Alguns estudos sugerem que o desejo por dinheiro pode causar uma espécie de “reação cruzada” com o apetite por comida. E, como possuir recursos financeiros significa comprar mais coisas, ter dinheiro torna-se sinônimo de status – tanto que perder dinheiro pode levar à depressão e até mesmo ao suicídio.

VALORES RELATIVOS

Até mesmo como simples meio de troca, o dinheiro pode tomar uma desconcertante variedade de formas – de tiras de cortiça e penas, passando por punhados de sal, moedas e notas, até dados no computador de um banco. Coisas, em sua maioria, frias e que, por si sós, não suscitam emoção. O valor de R$ 100,00, por exemplo, deveria ser relacionado à quantidade de cerveja ou combustível que pode ser comprada com ele, e mais nada. Não deveríamos nos importar mais com os R$ 5,00 faltando no troco do supermercado do que com o mesmo valor perdido ao fazer um empréstimo para comprar uma casa de R$ 200 mil.

Na realidade, quando o assunto é dinheiro não somos racionais – e nem de longe o tratamos como uma ferramenta a ser usada com precisão objetiva. Ele assume conotações emocionais e influencia nosso funcionamento psíquico. Os resultados, frequentemente são imprevisíveis. Para entender como o comportamento é afetado por questões financeiras, alguns economistas estão começando a pensar mais como antropólogos evolucionistas. O pesquisador Daniel Ariely, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, é um deles. Ele sugere que a sociedade moderna apresenta dois conjuntos de regras comportamentais. Existem normas sociais “mornas e aconchegantes”, planejadas para cultivar confiança, cooperação e relacionamentos de longo prazo. E há um grupo de princípios de mercado que priorizam a competição e o individualismo.

As trocas econômicas ocorridas ao longo da história tornaram possível para nossos antepassados desenvolver a capacidade de reconhecer a diferença entre situações regidas por regras sociais ou de mercado – o que pode ter ocorrido antes mesmo do aparecimento da moeda. Aparentemente, reconhecemos as pistas associadas com o mundo mercantil de forma imediata e nem sempre consciente. Experimentos publicados em 2007 revelaram que um contato passageiro com conceitos ligados ao dinheiro orienta nossa mentalidade mercadológica, suscitando comportamentos específicos.

MAIS CONFIANÇA, MENOS DOR

A pesquisadora Kathleen Vohs, do Departamento de Marketing da Universidade de Minnesota, em Minneapolis, nos Estados Unidos, e sua equipe dividiram estudantes voluntários em dois grupos e pediram que a primeira equipe montasse frases utilizando palavras que não tinham relação com dinheiro (como “frio”, “mesa” ou “fora”).

Ao outro grupo foi solicitada a realização da mesma atividade, só que com o uso de vocábulos relacionados a finanças (incluindo, “salário”, “custo” e “pagamento”). Em seguida, solicitaram aos indivíduos de ambas as turmas que organizassem um conjunto de discos seguindo determinados padrões.

Os pesquisadores descobriram que os voluntários que trabalharam com palavras com sentido monetário se dedicavam por mais tempo à tarefa antes de pedir ajuda. Em experimentos relacionados, pessoas no grupo vinculado ao dinheiro se mostravam menos dispostas a cooperar com os companheiros que pediam ajuda do que as pessoas preparadas com outras palavras.

Vohs sugere que existe uma dinâmica simples funcionando: “O dinheiro torna as pessoas mais auto suficientes e mais propensas a se esforçar para atingir seus objetivos, mesmo que para isso precisem se isolar”. Sob a ótica socioafetiva podemos até desaprovar esse comportamento, mas inegavelmente ele é útil para a sobrevivência. A habilidade para distinguir que há normas que se aplicam a cada situação é importante para guiar nosso comportamento. Ela evita, por exemplo, que você aja com excesso de confiança em meio a uma negociação competitiva ou que cometa o erro de oferecer um pagamento para sua sogra por ela ter cozinhado uma refeição deliciosa. “Quando mantemos normas sociais e de mercado em caminhos separados, a vida flui bem, mas, quando elas colidem, surgem os problemas”, diz Ariely.

Muitas vezes, crises financeiras podem levar à perda de controle emocional, depressão e redução da expectativa de vida. Numerosos estudos em psicologia descobriram uma permuta entre a busca de aspirações extrínsecas – como riqueza, fama e imagem – e as intrínsecas, como construção e manutenção de relacionamentos pessoais; fortes. Em geral, pessoas com foco nas aspirações exteriores a elas apresentam pontuações mais baixas nos indicadores de saúde mental. Os que são fortemente motivados pelo dinheiro têm mais dificuldade de manter relações afetivas estáveis. Isso não significa que não deve haver nenhum foco em aspirações materiais – pelo contrário. Todos precisam de dinheiro e de fato há áreas importantes da vida governadas pelas normas de mercado.

Agora que os dias de crédito fácil e consumismo desenfreado parecem ter acabado, pelo menos por enquanto, seria bom pensar que podemos desenvolver uma relação mais equilibrada com o dinheiro. Infelizmente, isso não é tão simples. Uma das razões foi exposta pelos últimos achados de Vohs, que revelou outro aspecto peculiar de nosso relacionamento mental com o dinheiro. Em um estudo que será publicado em breve no periódico Ciência Psicológica, Vohs e os psicólogos Xinyue Zhou, da Universidade de Sun Yat-Sen, em Guangzhou, na China, e Roy Baumeister, da Universidade Estadual da Flórida, em Tallahassee, nos Estados Unidos, descobriram que as pessoas que se sentiam rejeitadas ou eram submetidas à dor física ficavam menos propensas a conceder prêmio em dinheiro durante um jogo, proposto logo depois da experiência desagradável. Os pesquisadores constaram também que o simples ato de tocar em notas de dinheiro pode reduzir o stress associado à exclusão social e diminuir desconfortos físicos.

“O dinheiro tem grande poder simbólico e funciona como um recurso de interação cultural, habilitando as pessoas a manipular o sistema social, para que este lhes dê o que precisam, independentemente de serem ou não queridas”, diz Vohs. É como se recursos financeiros assumissem a função de tornar nosso ego fortalecido, pelo menos momentaneamente. Mas esse efeito pode explicar por que algumas pessoas focam tanto aspirações externas, ao custo de prejudicar relações afetivas? Os psicólogos Stephen Lea, da Universidade de Exeter, e Paul Webley, da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, ambas no Reino Unido, sugeriram outra razão para atitudes obsessivas e pouco saudáveis com relação a finanças: acreditam que o dinheiro age em nossa mente como uma espécie de droga de abuso, fazendo com que alguns joguem compulsivamente e outros trabalhem ou gastem em excesso. Todas essas manifestações podem indicar compulsão e dependência. Lea e Webley propuseram que, como a nicotina e a cocaína, o dinheiro pode ativar centros de prazer no cérebro, criando sensação de recompensa semelhante à de quando fazemos algo benéfico para a espécie, como sexo. Segundo eles, do ponto de vista neurológico, o dinheiro pode ter efeito semelhante aos textos pornográficos, desencadeando estímulos bioquímicos e fisiológicos que agem sobre nossas percepções e emoções.

Algumas evidências da ideia da “dependência do dinheiro” aparecem em estudos de neuroimagem. Em um experimento publicado pela Science, uma equipe liderada pelo psicólogo Samuel McClure, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, pediu a voluntários que escolhessem entre receber um vale para o Amaton.com naquele momento ou um valor maior alguns dias depois. Aqueles que optaram pela recompensa instantânea mostraram forte atividade cerebral em áreas envolvidas no processamento de emoções, especialmente no sistema límbico, ligado a comportamentos impulsivos e dependência de drogas. Aqueles que preferiram a recompensa tardia mostraram atividade maior em áreas como o córtex pré-frontal, conhecido por estar envolvido no planejamento racional.

A ideia de que o dinheiro pode estimular circuitos vinculados a sistemas de recompensa cerebrais é reforçada por outra descoberta intrigante. Numa tentativa de fornecer uma explicação evolucionária para nossa motivação na busca por dinheiro nas sociedades atuais, a pesquisadora Barbara Briers, da Escola de Negócios HEC, em Paris, decidiu testar se nosso interesse por dinheiro estava diretamente relacionado ao nosso apetite por comida.

Ela e sua equipe fizeram três descobertas, publicadas no volume 17 da Psychological Science: voluntários famintos estavam menos propensos a fazer doações para caridade do que aqueles que estavam satisfeitos. Aqueles que foram preparados para ter grande desejo por dinheiro, imaginando que tivessem ganho na loteria, comeram quase todo o doce do teste; já pessoas com o apetite estimulado por ficar esperando sentadas em uma sala com um cheiro delicioso estavam menos propensas a dar dinheiro do que aquelas que aguardavam em salas com odor normal. Para Briers, isso indica que nosso cérebro processa ideias sobre dinheiro e comida pelo mesmo sistema, o que significa que, para a mente, os dois têm capacidade similar de nos satisfazer – ou frustrar.

FELICIDADE COMO PRÊMIO

Pessoas com mais dinheiro tendem a ser mais felizes do que as com menos – mas apenas até certo ponto. Essa é a polêmica conclusão dos psicólogos Ed Diener, da Universidade de Illinois, em Urbana -Champaign, e Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, ambas nos Estados Unidos, que revisaram inúmeros estudos observando os efeitos psicológicos da riqueza. Eles relataram que o impacto do acúmulo de bens sobre o estado emocional acrescenta mais felicidade, uma que a pessoa tenha o suficiente se alimentar, se abrigar e desfrutar de um conforto moderado. Entretanto, a não ser que você esteja nadando em dinheiro, vale a pena continuar comprando seu bilhete da loteria. Quando os pesquisadores Andrew Osvald da Universidade de Warwick Reino Unido, e Jonathan Gare da consultoria em negócios Wa: Wyatt Worldwide, investigaram uma amostra aleatória de cidadãos britânicos que ganharam prêmios na loteria entre $1.000 e $120 – encontraram indicadores significativamente melhores de saúde mental entre essas pessoas, comparando com os que não ganharam nada ou receberam prêmios menores.

Os pesquisadores acreditam que a aquisição de um capital extra deixa as pessoas menos preocupadas com a vida financeira, e, consequentemente, mais resistentes a doenças relacionadas ao stress. O dinheiro adicionado pode não ter comprado a felicidade diretamente, mas certamente deu aos ganhadores tempo e condição materiais para aproveitar as boas oportunidades da vida, aprender e se divertir. Porém, mesmo sem a sorte inesperada é possível fazer com que o dinheiro traga alegrias, se for cuidadoso em gastá-lo. O pesquisador Ryan Ho da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos, e seus colegas perguntaram a alguns voluntários sobre suas compras recentes. Eles descobriram que as pessoas achavam que “compras vinculadas a experiências”, como viagens, idas ao teatro e investimento em cursos, traziam mais felicidade do que aquisições materiais, como roupas ou um carro novo. Uma compra concreta pode custar mais e durar mais tempo, mas uma experiência traz mais prazer.

CONTABILIDADE MENTAL

Adicionar R$ 50,00, por exemplo, a uma conta de cartão de crédito que já acumule dezenas de vezes essa quantia parece bem menos extravagante do que pagar esse valor, em dinheiro, por uma refeição. De fato, já foi comprovado cientificamente que quando as pessoas pagam com “plástico” se lembram menos de quanto gastaram do que em situações em que acertam suas contas com dinheiro vivo. Como salienta o economista Richard Thaler, cartões de crédito funcionam como “equipamentos de separação”, que desvinculam o prazer da compra da dor do pagamento, empurrando o acerto para um nebuloso futuro. Congelar o seu cartão dá a você a chance de superar o empurrão emocional e agir racionalmente.

Thaler identifica desvios irracionais que levam a distorções da nossa contabilidade mental. Um deles é que a maioria das pessoas tem aversão a perdas – dói mais perder R$ 50,00 do que faz bem ganhar R$ 50,00, por exemplo. E temos a inclinação para avaliar o dinheiro em termos mais relativos do que absolutos – consideramos R$ 10,00 irrelevantes quando fazemos uma viagem internacional, mas não ao pagarmos uma refeição. Da mesma forma, achar R$ 100,00 na rua deixa as pessoas mais felizes do que ter a redução de uma conta de R$ 950,00 para R$ 835,00, mesmo que o ganho real, no segundo caso, seja maior. Estar atento a essa estranha lógica mental das finanças que confunde preço com valor, poder e afeto pode nos ajudar a lidar com a dificuldade financeira – e com a dor que vem dela.

MELHOR COLOCAR NO GELO

Gastos excessivos no cartão de crédito? Tente congelá-lo – literalmente. Coloque-o dentro de um copo com água e guarde-o no freezer. Assim, quando sentir urgência em comprar, será preciso esperar que descongele, e nesse período sua sanidade vai prevalecer. É o que sugere o pesquisador de comportamento econômico Richard Thaler. Segundo ele, truques como esse podem ser úteis para conter tendências financeiras irracionais, que surgem porque os desvios de nosso psiquismo fazem com que coloquemos dinheiro em diferentes “contas mentais” e pensemos no conteúdo de cada uma delas de maneira diferente.

A dica de Thaler para economizar é “retirar” o dinheiro (qualquer que seja a quantia) da categoria mental “trocados soltos”. Em vez de simplesmente colocar diretamente R$ 100 em uma conta ou fundo destinado a suas economias, pode ser mais efetivo, sempre que possível, arredondar suas compras para cima – pensando que um item de R$ 22,50 custa R$ 30,00 e guardando sempre a diferença. Outra estratégia para não sofrer com custos associados a problemas no carro ou outras despesas imprevisíveis: deixar uma soma, no início de cada ano, separada mentalmente para doações à caridade. Se alguma conta inesperada aparecer, recorre-se a esse fundo, que, em sua mente, já estava comprometido. O que sobrar pode ser de fato doado a uma instituição, em dezembro.

Daniel Ariely, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, criou um plano ainda mais ambicioso. Ele sugere que todos nós deveríamos ser capazes de adicionar categorias a nossos cartões de crédito e criar limites para cada uma delas: não mais de R$ 600,00 para jantares fora, por exemplo, e, digamos, R$ 500,00 anuais para sapatos. Não por acaso, Ariely ainda não conseguiu persuadir nenhum banco de que essa pode ser uma boa ideia.

BOM SENSO E AULA PARA APRENDER A INVESTIR

São oferecidos hoje, no Brasil, dezenas de cursos de educação financeira em escolas particulares, faculdades, corretoras e na Bovespa, em São Paulo (onde são gratuitos, já que o objetivo é atrair novos investidores). A proliferação desse tipo de oferta configura um fenômeno similar ao que se deu no início da década de 80 nos Estados Unidos. Há algumas décadas, entretanto, a possibilidade de ter aulas sobre como lidar com a própria vida financeira era impensável. Até porque a ideia disseminada pela cultura católica de que acumular bens pode ser pecaminoso, em contraposição à de que é de fato prazeroso desfrutar confortos materiais, causou paradoxos na cabeça de muita gente. E o dinheiro, embora extremamente desejado, simbo­ licamente tornou-se, para muitos, ícone de sujeira e constrangimento. Justamente por isso é impossível falar dele de forma objetiva, sem levar em conta suas conotações psíquicas.

Também os sentimentos, as variações de humor e os traços de personalidade podem afetar nossas decisões econômicas. Pessoas especialmente ansiosas, por exemplo, podem agir de maneira contrafóbica, ou seja, ficar tão incomodadas com o desconforto de ter de fazer determinado investimento, compra ou venda que terminam por fechar o negócio de maneira precipitada – e equivocada. Deprimidos também correm risco de fazer mau negócio. Presa da apatia ou da auto estima rebaixada, o paciente pode perder boas oportunidades ou recorrer a aquisições desnecessárias, a fim de tentar aplacar com bens o vazio afetivo.

Mesmo os mais confiantes devem ser cuidadosos e evitar a ilusão de controle, derivada do sentimento mágico (típico do funcionamento mental infantil, mas também presente em adultos) que conduz àfalsa certeza de que é possível controlar todas as variáveis e que as previsões que fazemos acerca da realidade vão se confirmar. A imaturidade emocional, independente­ mente da idade cronológica, também é fator de risco. No comportamento econômico costuma ser característica daqueles que acreditam ser possível obter ganhos mirabolantes, rapidamente e sem esforço, em negócios para os quais raramente estão preparados. Em geral, seguem dicas que não se confirmam. A promessa de lucros fáceis ativa o mecanismo cerebral de recompensa, que desencadeia atitudes compulsivas. Nesses casos, o mais adequado é evitar agir de imediato, já que postergar a ação desativa o mecanismo cerebral.

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