TERAPIA INFANTIL, ISSO FUNCIONA?
Agressividade, mau comportamento e baixo rendimento escolar. Por vezes, é difícil contornar essas situações com a criança, não é mesmo? Por isso, cabe um alerta: essas atitudes podem expressar alguma dificuldade ou frustração que os pequenos estejam passando…
Filho de pais se parados, Renato, de 8 anos, mora com a mãe e passa a maior parte do tempo com os avós maternos. O pai se casou novamente, e a mãe tem um namorado. Suas queixas: medo de vento, da chuva, de dormir sozinho e do escuro. Além disso, apresenta baixo rendimento escolar e possui uma alimentação descontrolada.
Foi com essas características que Renato chegou às mãos de Adriana Nabahan Braga, psicóloga especialista no desenvolvimento infantil e adolescente e mestre em educação. “Ele veio encaminhado pela escola, pois a professora percebeu um sofrimento grande, com dificuldade, inclusive, para lidar com os conflitos aparentes”, relata a profissional, que deu início imediato a um tratamento com base nos preceitos da terapia infantil.
A psicoterapia infantil é uma prática da psicologia que trabalha com o objetivo de favorecer o bem-estar e a qualidade de vida da criança e de sua família. Essa prática também é útil na prevenção de problemas familiares e infantis e na redução de dificuldades já instaladas em casa. Geralmente, os pais ou os professores encaminham a criança para um acompanhamento psicoterápico quando observam algum comportamento não usual que os preocupa.
No caso de Renato, o tratamento, que contou com o total apoio dos pais, que, por sua vez, cumpriram com o combinado a respeito da rotina, durou 18 meses. “Trabalhei com interferência tanto de sessões semanais com ele quanto com as famílias envolvidas”, conta Adriana, que acrescenta: “também fiz contatos semanais com a escola para coleta de dados e informações necessários para o trabalho conjunto com toda a equipe pedagógica”.
Os sintomas desapareceram, Renato ficou mais seguro, com uma expressão mais alegre e comunicativa, falando dos conflitos com mais naturalidade e conseguindo lidar melhor com as próprias emoções.
QUANDO A TERAPIA SE FAZ NECESSÁRIA
Existem alguns exemplos de comportamentos infantis que são indicativos da necessidade de ajuda profissional. Bater, morder, chutar ou empurrar pessoas, destruir objetos, roubar e mentir em excesso, ser muito quieto, ter dificuldades para fazer amigos, ser muito tímido ou parecer triste são os mais comuns.
Entretanto, crianças que adoecem muito, que não obedecem aos pais, que apresentam dificuldade de aprendizagem ou têm déficit de atenção na sala de aula também podem ser beneficiadas com sessões de psicoterapia infantil. “Como a terapia promove o exercício da observação do comportamento, o profissional consegue identificar se aquilo que a criança vem fazendo é normal ou não”, explica Adriana Nabahan Braga.
A presença dos pais é sempre fundamental e eles são convidados pelo terapeuta a participar de uma entrevista inicial e, depois, de discussões sobre as mudanças alcançadas. “Um dos objetivos da terapia é fornecer conhecimento aos pais para que possam participar ativamente da melhora de suas interações com seus filhos”, diz a profissional. Isso porque, geralmente, as crianças levadas à terapia possuem relações familiares muitas vezes marcadas por brigas e discussões que acabam levando ao sofrimento de todos – sem contar nos sentimentos de culpa, arrependimento e insegurança. Desse modo, os pais encontram na terapia orientações sobre as maneiras corretas de lidar com as dificuldades.
QUANDO PROCURAR UM PSICÓLOGO
É importante buscar ajuda quando a criança apresenta:
*** Dificuldade para realizar tarefas simples do cotidiano devido aos seus pensamentos e suas emoções estarem interferindo negativamente;
*** Atraso no desenvolvimento cognitivo ou psicomotor;
*** Mudanças bruscas de comportamento;
*** Perdas, seja separação dos pais, quebra de vínculo com pessoas muito próximas ou morte;
*** Problemas em seus relacionamentos com a família, na escola ou outros meios de convivência social;
*** Agressividade;
*** Timidez;
*** Apatia;
*** Dificuldade de interagir com outras crianças;
*** Baixo rendimento escolar;
*** Distúrbios alimentares;
*** Agitação excessiva;
*** Medos e fobias;
*** Depressão;
*** Enurese (incontinência urinária);
*** Encoprese (incontinência ou retenção fecal);
*** Dificuldade em lidar com situações inesperadas, como o nascimento de um irmão ou mudança de escola;
*** Ansiedade excessiva;
*** Anorexia e bulimia.
1. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA? QUAL DELAS VALE PARA AS CRIANÇAS?
A psicologia é uma ciência que estuda o comportamento psíquico e emocional do ser humano, área de atuação do psicólogo. É o mais recomendado para crianças, por atender a técnicas voltadas para a sua realidade, sempre respeitando a idade. Já a psicanálise pode ser trabalhada por profissionais formados em áreas diversificadas, uma vez que estuda traumas do passado que precisam ser trazidos para o consciente. Assim, para crianças, se torna algo muito abstrato, sendo, portanto, mais recomendado para adultos. Por fim, por psiquiatria entende-se uma área médica cujo tratamento introduz medicamentos.
2. O QUE É PSICOTERAPIA?
Psicoterapia é um trabalho desenvolvido com técnicas projetivas que auxiliam no diagnóstico e nas interferências adequadas a cada indivíduo. É um trabalho que pode ser feito em grupo ou individual, atendendo desde crianças até adolescentes e adultos. Pode, ainda, ser feita como terapia de casal ou família, dependendo da necessidade e da queixa apresentada por quem procura ajuda. No caso da criança, ela pode ser encaminhada ao profissional tanto pela escola, por apresentar inadequações comportamentais que a prejudicam no desenvolvimento físico ou psíquico, quanto pela própria família, ao notar algo de estranho no comportamento dela. O objetivo da terapia é o ajuste de processos emocionais e a adaptação para uma vida social mais saudável.
3. COMO FUNCIONA A PSICOTERAPIA INFANTIL?
A psicoterapia infantil funciona com sessões semanais e, se necessário, às vezes até mais de uma sessão por semana, dependendo do diagnóstico. Ela pode ser feita de maneira individual (somente o terapeuta e a criança), ou contar com a presença da mãe e/ou do pai. Durante o tratamento, o profissional utiliza técnicas e levantamento de dados como subsídios para o diagnóstico preciso e, consequentemente, o tratamento correto. Vale lembrar que a interferência com a criança é sempre bastante lúdica, com uso de estímulos próprios para cada idade.
4. COMO A TERAPIA PODE AUXILIAR CRIANÇAS COM PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS, COMO DESOBEDIÊNCIA ÀS REGRAS DA CASA, BRIGA COM OS IRMÃOS, FALTA DE ORGANIZAÇÃO?
A terapia infantil sempre resolve quando ocorre o comprometimento dos responsáveis pela criança. Assim, pai e mãe têm papel fundamental no sucesso do trabalho. A criança, muitas vezes, chega até mim com muita insegurança, com necessidade de referenciais e com a autoestima comprometida. Cabe a mim auxiliar não apenas à ela, mas também à família, para que todos se conscientizem dessas necessidades da criança, que são reais. Com o tempo, o pequeno vai se fortalecendo com os estímulos e as respostas positivas tornam-se evidentes.
5. QUAIS OUTROS COMPORTAMENTOS INFANTIS PODEM SIGNIFICAR A NECESSIDADE DE PSICOTERAPIA?
Agressividade, introspecção, rebeldia, defasagem escolar, hiperatividade, sintomas de medo, déficit de atenção ou até mesmo quadros patológicos de doenças. Um motivo bastante comum que leva crianças aos consultórios terapêuticos é o caso de separação dos pais e de perdas de pessoas queridas.
6. A TERAPIA É, ENTÃO, UM BOM CAMINHO PARA RENOVAR O COMPORTAMENTO INFANTIL?
Com certeza, ela é sempre o melhor caminho. A renovação do comportamento da criança é benefício imediato para ela e para todos com quem ela convive. Levar um filho para a terapia significa encaminhar a família para um novo contexto de vida, com reformas, mudanças e adaptações nas rotinas, hábitos, regras e limites. Ao longo do processo, a criança vai se sentindo mais segura, se posicionando diante dos conflitos e passando a lidar melhor com suas frustrações, o que leva as pessoas do seu meio a perceberem e ressaltarem com ênfase tais mudanças.
7. EM QUAIS CASOS A TERAPIA É REALMENTE INDICADA E A PARTIR DE QUAL IDADE?
A terapia é indicada quando os comportamentos da criança se tornam repetitivos, prejudicando a rotina e o desenvolvimento social e emocional dela. A idade ideal é a partir dos 3 anos, quando as sessões acontecem com o acompanhamento dos responsáveis. Mas vale lembrar que cada caso requer uma avaliação e, depois, uma interferência diferenciada. Entretanto, em regra geral, quanto mais cedo se puder contar com a ajuda de um profissional, melhor será o resultado conquistado. Diante disso, os pais devem ficar atentos para conseguir contornar o comportamento da criança.
8. A PARTIR DE QUANTO TEMPO DE ANÁLISE OS PAIS PODEM AVALIAR AS MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO DO FILHO?
Geralmente, as crianças respondem muito bem e rapidamente às sessões, principalmente quando há comprometimento e participação dos responsáveis. O resultado, portanto, pode aparecer já nos primeiros seis meses – mas ainda assim é muito variável de caso para caso.
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