RACISMO ESTRUTURAL E PANDEMIA
A mortalidade tem raça e cor

A pandemia do coronavírus nos Estados Unidos e Brasil apresenta dados importantes sobre as pessoas que têm mais chances de morrer, nos quais os negros e latinos são os mais afetados. Os Estados Unidos têm 13% da população negra com 27% de maior chance de morrer, segundo a entrevista do jornalista da New York Times, Eduardo Porter, autor do livro “O preço de todas as coisas”.
O Ministério da Saúde do Brasil estima que a taxa de mortalidade para 100 mil habitantes no país e muito maior para negros (27.4%) do que para brancos (9,6%). Ou seja, os negros têm 62% mais chance de morrer que os brancos. Dados assustadores e considerados resultados do racismo estrutural como uma das questões fundamentais para esse entendimento.
As desigualdades sociais e raciais também podem ser vistas nas doenças em populações de vulnerabilidade, no não acesso a atendimentos de qualidades nos sistemas de saúde, na precarização da moradia, nos trabalhos básicos e fundamentais para o bem-estar social, entre outros fatores. Tudo isso demonstra injustiças comuns em diferentes contextos históricos, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, segundo Eduardo Porter.
Uma das formas de prevenção do coronavírus de ficar ou trabalhar em casa não é privilégio da população negra e latina. Os trabalhadores com maiores chance de contaminação e letalidade são motoristas, domésticas, entregadores e atendentes, todos exclusos de redes de solidariedades já estabelecidas antes da pandemia, redes pautadas na coletividade, na convivência e na cooperatividade. Atualmente, essas redes foram reduzidas na prevenção do coronavírus.
Infelizmente, a naturalização e a banalização das mortes nos dois países são parte do racismo estrutural, como diz Silvio Almeida, autor do livro “O racismo estrutural”. Ele salienta que o racismo aniquila a potência da vida quando banaliza a morte em massa e outras demandas que a sociedade já viveu por muitos anos, com o desaparecimento de pessoas na ditadura, o encarceramento dos jovens pretos e pobres, brutalidade policial, violência à mulher negra e, na atualidade, essa hostilidade racial mais de 200 mil mortes do coronavírus no Brasil, em muitos casos sem direitos a velórios, proibidos na pandemia.
A banalização das mortes – principalmente as mortes negras – criam corpos sem identidade. Uma sociedade que se desumaniza desta forma está em crise, e o racismo é uma doença que vem oprimindo a sociedade globalmente, pois é uma forma de naturalização da morte do outro. Silvio Almeida questiona: “Por que alguém pode pensar que merece viver mais que o outro?” Você tem alguma hipótese?
Uma pessoa negra pode não ser a exceção em estar vivo ou por ser sinônimo de sucesso. Isso deveria ser natural, principalmente no Brasil onde a maioria da população é de origem negra; não é possível negar as necessidades dessa numerosa população. Seria esse, talvez, o motivo da violência ser maior na população negra? São características típicas do racismo estrutural… A população negra vive o tempo todo experienciando situações de exclusões baseadas nas relações raciais.
Os resultados do racismo estrutural e da pandemia se afinam para a sociedade continuar desejando a morte do povo negro. Segundo Silvio de Almeida, é como se a cor da pele também provocasse mais medo e pavor num contexto da pandemia. O racismo é pandêmico e a pandemia produz medo e racismo.
A pandemia configura-se também como forma de in justiça e opressão que o Estado e o sistema neoliberal têm como ferramenta de controle de suas instituições, sejam estas econômicas ou políticas. São nesses segmentos que as ações precisam ser ajustadas de forma digna e decente para a população pobre e negra, adjetivos quase sinônimos no Brasil. É preciso reconhecer a “doença racismo”, estruturar ações com representatividade, direitos, moradia, rendas e espaços de decisão para a mudança.
Utilizando uma terminologia de saúde, poderíamos dizer que as vidas negras são vírus e precisam ser controladas por um sistema em crise que não combate o que não lhe interessa. A demora da vacina como prevenção também pode ser parte desse parâmetro. Idealmente, quando se trata de racismo, as ações precisam ser muito mais que preventivas. As ações precisam ser coordenadas por toda a sociedade que está desumanizada. É preciso quebrar a curva do crescimento do racismo pandêmico.
Os casos de opressão, violência, mortes e injustiças precisam cair. Nós precisamos desinfectar pensamentos que não fazem a sociedade avançar e “reinfectar” todo o povo no avanço e num futuro mais civilizado, pois os Estados que não promovam paz e humanidade estão equivocados na condução de suas instituições.
Os números das mortes denunciam o racismo, necessários e fundamentais para pensarmos no futuro além da raça como fator classificatório dos seres humanos, como conclui Sílvio Almeida em seu livro brilhantemente. É preciso sonhar e agir rapidamente nessa direção!
*** TEREZINHA RIBEIRO – tmjribeiro8@gmail.com Facebook: Terezinha Ribeiro Instagram: @tmjribeiro
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