GESTÃO E CARREIRA

BOMBE SUAS FINANÇAS

Descubra 12 estratégias que vão ajudar você a ter um ano com o bolso cheio

Da máxima que dinheiro não traz felicidade. Verdade ou não, nos cinco últimos anos, para muitos brasileiros, ele trouxe coisa pior: dor de cabeça. Além de faltar educação financeira por aqui, o país experimentou uma de suas piores crises da história recente. Hoje, o Brasil tem 12,5 milhões de desempregados e 62 milhões de pessoas endividadas, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Com as dificuldades batendo à porta, controle de orçamento, planejamento financeiro e investimentos ficaram em segundo plano.

Mas, aos poucos, a economia dá sinais de melhora. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil, o número de brasileiros registrados em cadastros de inadimplentes recuou 0,27% em novembro ante o mesmo período de 2018 – foi a primeira vez em dois anos que esse indicador apresentou recuo. Fatores como a liberação de saques no FGTS ajudaram, é fato, mas para muitos especialistas o cenário está melhor do que em anos anteriores. ”A economia vive de ciclos de expansão e retração. Entre 2015 e 2017, tivemos retração acumulada de 8,5%, mesmo nível de uma nação em guerra. Nessa situação, empresas reduzem de tamanho e pessoas perdem o emprego. Agora estamos na retomada”, diz Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos. “Aprovando as reformas e melhorando o resultado fiscal, o crescimento do PIB deve chegar a 2% [em 2019 ficou em 0,8%]”, completa Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Se os juros se mantiverem no patamar atual, 4,5%, e as mudanças propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, avançarem no Congresso, a expectativa é que o mercado se reaqueça. Mostramos, a seguir, 12 estratégias para você aproveitar o clima de otimismo e mudar sua relação com o dinheiro em 2020. A hora é agora.

PASSO 1 – OR6ANIZAR O ORÇAMENTO ANUAL

O primeiro passo para colocar a casa em ordem é mapear quais são os gastos fixos, os variáveis e os pontuais e infalíveis, que surgem todo começo de ano, como IPVA, IPTU e material escolar. Comece 2020 fazendo um prognóstico de despesas e receitas de janeiro a dezembro. Seja detalhista e inclua até mesmo as previsões de compras de presentes em datas comemorativas, como Dia das Mães, dos Pais, dos Namorados, das Crianças, Páscoa e Natal. “Vale muito a pena fazer isso. Se você sabe que terá um gasto, começa a se planejar com antecedência e aproveita melhor datas como a Black Friday”, diz Renatta Gomes, consultora financeira. Outra orientação é dividir o valor integral de taxas como IPVA e IPTU por 12 para entender o impacto dessas contas no orçamento anual – prática que ajuda a prever quanto deve economizar mês a mês para não iniciar o ano desprovido de recursos. Os exercícios podem parecer óbvios demais, mas a realidade é que o brasileiro não chega nem perto disso. Dados do SPC e da CNDL mostram que 46% das pessoas não sabem o valor exato de suas contas básicas, como água, energia, telefone, aluguel, plano de saúde e condomínio; 53% desconhecem a própria renda mensal; e 52% não têm a menor ideia de quantas parcelas de compras realizadas no crédito ainda faltam ser pagas.

PASSO 2 – COLOCAR METAS PARA GASTOS NO DIA A DIA

Organizar o orçamento, conforme sugerido no passo anterior, não é sinônimo de fazer planejamento financeiro. São etapas diferentes. “O orçamento serve para ter clareza sobre quanto entra e quanto sai, enquanto o planejamento é o que você fará com o dinheiro”, diz Renatta. Seja no caderno, seja na planilha de Excel, seja no aplicativo de celular, as únicas regras inegociáveis são colocar metas para despesas variáveis do dia a dia, como alimentação, roupa e lazer, e registrar tudo, do chiclete ao sapato parcelado. Só assim é possível identificar as compras fantasmas que corroem o orçamento. Valéria Meirelles, especialista em psicologia financeira, reforça que o hábito de anotar leva ao autocontrole. Ao registrar o que gastou, a pessoa percebe os próprios excessos e identifica quando, como e por que perde a linha. Ou seja, planejar gera um importante mecanismo mental: o de racionalizar o ato da compra, conscientizando-se de que a escolha de um item pressupõe a renúncia de outro para não extrapolar o orçamento.

PASSO 3 – RENEGOCIAR DÍVIDAS

Com o planejamento desenhado, o pagamento de dívidas vira prioridade. Olhe para os gastos com calma e veja tudo o que pode ser cortado sem prejuízo. A ideia é usar toda e qualquer sobra de receita para a quitação dos débitos. Nesse processo, troque dívidas caras por baratas. Um exemplo? Você entrou no cheque especial, com taxas que chegam a 100% ao ano. Nesse caso, é melhor fazer um empréstimo consignado, com tarifas anuais de cerca de 25%, e cobrir o limite. Outro truque eficiente é unificar as dívidas, o que torna seu gerenciamento mais simples. Acordos e renegociações também são úteis, desde que estejam adequados à sua capacidade de pagamento. “Tenha atenção ao valor do parcelamento para não se enrolar de novo”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil. A dívida precisa caber com folga no orçamento mensal. Apesar de cada caso ser um caso, especialistas não indicam comprometer mais de 30% do salário com prestações.

PASSO 4 – FAZER UMA RESERVA DE LIQUIDEZ DIÁRIA

Bernardo Pascowitch, fundador da plataforma Yubb, marketplace de investimentos, pontua que a primeira medida assim que começa a sobrar algum dinheiro é constituir um fundo de emergência, composto de ativos de liquidez diária. “Por mais arrojado que seja, o investidor precisa ter uma reserva de liquidez para situações de demissão, doença e redução do poder de compra”, diz. Para isso, ele indica o Tesouro Selic, os CDBs e as Letras de Câmbio (LCs), emitidas por financeiras para o custeio de empréstimos.

PASSO 5 – COMEÇAR A INVESTIR EM RENDA VARIÁVEL

Uma vez constituída a reserva de emergência, com o equivalente a seis meses de salário, trace metas mais ousadas para o dinheiro que pretende aplicar. Isso porque o cenário de juros baixos exige diversificação. “A Selic não só está baixa como também muito perto da inflação. Hoje, você instala um aplicativo e já começa a investir. O acesso é muito fácil”, afirma Thiago Salomão, da Rico Investimentos. Entre as opções indicadas pelos experts estão os fundos multimercado, os fundos imobiliários e as ações. Apesar do risco, o momento não é ruim para a renda variável. Ao longo de 2019, a bolsa de valores B3 atingiu resultados históricos, fechando o ano em mais de 100.000 pontos. De acordo com o relatório da Rico, papéis como os da varejista Magazine Luiza (MGLU3) e de empresas alimentícias como Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) valorizaram 96%, 106% e 128%, respectivamente. Mas, como o sobe e desce oscila com o humor do mercado, não custa tomar cuidado. Felipe Paiva, diretor de relacionamento com o cliente da B3, ressalta a importância de o investidor se manter atualizado em relação ao desempenho das companhias listadas na bolsa. No site da B3 é possível acompanhar a curva dos ativos negociados e verificar em tempo real as cinco ações que mais subiram e caíram no dia. Algumas apostas do mercado para 2020: espera-se que o segmento de varejo continue expandindo, turbinando os papéis de companhias como Magazine Luiza, Via Varejo (VVAR3) e B2W (BTOW3) – grupo composto de Submarino, Shoptime e Americanas.com. A área de infraestrutura também promete, com destaque para EcoRodovias (ECOR3) e Taesa (TAEE11). Vale ficar de olho ainda nas small caps, cujo índice acumulou alta de 30% em 2019 e que contêm títulos de empresas como Movida (MOV13), Totvs (TOTS3) e Arezzo (ARZZ3).

PASSO 6 – APRENDER A LER O CENÁRIO

Saber analisar os sinais que a economia emite é uma característica elementar do bom investidor. Para desenvolver essa competência, é essencial pesquisar indicadores e apontamentos de mercado. Vamos analisar o caso do setor imobiliário. Nos últimos anos, essa área foi afetada pela recessão. Com a lenta retomada, no entanto, voltou a aquecer. Numa busca rápida na internet é possível encontrar a informação de que o número de imóveis comercializados na cidade de São Paulo aumentou 46,6% entre 2015 e 2019. Mas isso não significa que investir neles seja um bom negócio agora. “Há muito imóvel vago, e quem está pensando em comprar uma propriedade como forma de investimento deve pensar bem. Isso porque corre o risco de ficar com o imóvel parado e ainda perder dinheiro com IPTU e condomínio”, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A sugestão para ganhar dinheiro é buscar um fundo imobiliário, que reúne ativos de shopping centers, complexos empresariais, prédios hospitalares e hotéis. Fabio Carvalho, sócio da gestora de recursos focada em investimentos imobiliários Alianza, afirma que esse tipo de aplicação vive uma “fase de ouro”. “O lfix [Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários] está em alta histórica. E, como os contratos de aluguel ainda estão com os valores baixos por causa da crise e se acredita que serão substituídos por acordos melhores, a previsão é de melhoria nos dividendos”, diz Fabio. Até outubro, o lfix havia acumulado 18,7% no ano. Além disso, um levantamento da Colliers lnternational Brasil, realizado no terceiro trimestre de 2019, indica que a taxa de vacância nos escritórios de alto padrão na capital paulista atingiu o índice de 14%, o menor em seis anos. Mas, de novo, é importante fazer avaliações criteriosas. “Há fundo que subiu 200%, mas a rentabilidade caiu 3% ao ano. Outros têm um único imóvel, o que é arriscado”, alerta. Hoje, as principais corretoras do país oferecem esse tipo de renda variável a partir de 100 reais. Embora envolva risco, tem a vantagem de ser isenta de IR.

PASSO 7 – RESERVAR 13º, RESTITUIÇÃO NO IR E OUTROS “EXTRAS”

O sucesso financeiro depende, em boa medida, da capacidade de economizar. Por isso, coloque como meta para 2020 poupar integral ou parcialmente o 13º salário, a restituição do imposto de renda e qualquer outro ganho extra. Se for utilizar esses recursos, que seja com inteligência, pagando aquelas contas pesadas de janeiro, como IPTU, IPVA e material escolar. “Reserve com antecedência parte do 13º salário, do saque do FGTS e de outros adicionais para cobrir esses custos”, orienta Michael Viriato, coordenador do Laboratório de finanças do lnsper. A Serasa indica também utilizar esses valores para pagar dívidas à vista ou, então, para adiantar parcelas de empréstimos ou financiamentos, obtendo descontos. Se for tirar o dinheiro de seu FGTS autorizado pelo governo (até 998 reais) ou fazer o Saque­ Aniversário (opção que permite retirar uma quantia pré-estipulada do fundo no mês de nascimento), não torre com supérfluos. Se não for usado para pagar dívidas, esse montante deve virar investimento, com um rendimento superior aos 3% anuais do fundo previdenciário.

PASSO 8 – FAZER AS PAZES COM O CARTÃO DE CRÉDITO

Ao contrário do que muitos acreditam, o cartão de crédito não precisa ser vilão. De acordo com a consultora Renatta, quando usado com consciência, ele é um parceiro. “Se você tem um Limite diário ou semanal preestabelecido em seu planejamento, consegue pagar tudo e ainda aproveitar os descontos dos programas de fidelidade”, explica. Embora cada banco e bandeira tenha o próprio plano de milhagem, há opções em que, a cada dólar gasto, o consumidor recebe até 2,5 pontos, que podem ser trocados por passagens aéreas, hospedagens em hotéis e até eletrodomésticos. A dica para usar bem o cartão é não comprometer mais do que 30% da renda mensal com a fatura. Se você utiliza esse método para pagar aplicativos de carona, serviços de streaming e compras pela internet, lance esses gastos em seu controle mensal. E esteja atento ao prazo de vencimento da fatura – afinal, os juros rotativos no Brasil chegam a absurdos 300% ao ano.

PASSO 9 – CALCULAR IMPOSTOS COM ANTECEDÊNCIA

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) revelou que, no ano passado, os brasileiros pagaram em tributos para os governos federal, estadual e municipal o equivalente a 153 dias de trabalho – ou cinco meses de salário. É como se o dinheiro começasse a entrar na conta, de fato, em junho. E só a organização é capaz de reduzir os impactos dessa mordida gigante do Leão. “Separe todos os documentos de transações financeiras e patrimoniais numa pasta chamada IR”, orienta Bernardo Sermenho, gerente sênior da consultoria de contabilidade Mazars. O hábito de guardar tudo num mesmo lugar, de maneira ordenada, ajuda na hora de prestar contas. Todos os anos, a Receita Federal divulga quais gastos podem ser abatidos e o Limite de cada um. Em 2019, os valores gastos com pensão alimentícia, contribuição da previdência social e despesas de saúde podiam ser abatidos integralmente. Já gastos com educação são limitados a 3.561,50 reais, sendo que as despesas são restritas ao ensino infantil, fundamental, médio, superior e profissional – cursos extracurriculares, como o de idioma, não são aceitos pelo Fisco. Ainda é possível abater 2.275,08 reais por dependente informado na declaração e 1.200,32 reais em despesas com empregado doméstico. Já quem opta pela declaração simplificada garante um abatimento de 20º limitado ao teto de 16.754,34 reais. Se estiver na dúvida sobre qual modelo é mais vantajoso, a dica é preencher toda a declaração como se fosse fazer a versão completa. Ao final, o próprio programa da Receita indica qual modelo gerará menos imposto. E aqui vai uma informação: segundo o SPC Brasil, só vale pagar à vista o IPTU se o desconto for maior do que 1,5%; e o IPVA, se for maior do que 0,5%. Caso contrário, parcele e deixe o resto do dinheiro rendendo em alguma aplicação de alta liquidez.

PASSO 10 –   BUSCAR TAXAS MAIS BARATAS

De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (ldec), de abril de 2017 a março de 2019, os grandes bancos elevaram em média 14% o preço das cestas de serviços de conta- corrente, quase o dobro da inflação no período (7,45%). Para quem busca economizar, os serviços digitais são uma opção. “Dá para escolher o banco pensando em suas necessidades e seu estilo de vida”, diz Ingrid Barth, diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). Só fique de olho na questão da anuidade. Mesmo que o valor seja “zero”, avalie os demais encargos cobrados, como saques em Banco 24 Horas, transferência de recursos para terceiros e segunda via de cartão. “Se ficar atenta a taxas como as de TED e de manutenção de conta, a pessoa chega a economizar, em 12 meses, até 500 reais”, alerta Michael, do lnsper.

PASSO 11 – DEFINIR PROJETOS DE VIDA

Quais são os sonhos que gostaria de realizar a partir de 2020? Uma viagem internacional, um MBA, aquela festa de casamento? Especialistas recomendam escrever os principais objetivos no papel, definindo o prazo e o preço de cada um deles. Anote e cole na geladeira ou no painel de recados do escritório – para ter sempre próximo à visão. A economia comportamental mostra que esse tipo de exercício ajuda a programar o cérebro para guardar rendimentos em vez de gastá-los no impulso. “Economizar é algo que requer um incentivo. E esse incentivo são os sonhos”, diz Renatta. Mapear os objetivos de vida, para além da aposentadoria, também possibilita melhorar a estratégia de investimento, com aplicações mais inteligentes. Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, recomenda para o curto prazo, até dois anos, as Letras de Crédito Imobiliário (LCls) prefixadas, isentas de IR.

PASSO 12 – INICIAR O PLANO DE APOSENTADORIA

Em vigor desde novembro, a reforma da Previdência aumentou a idade mínima de aposentadoria das mulheres de 60 para 62 anos e manteve a dos homens em 65 anos. Além disso, o tempo de contribuição aumentou de 15 para 20 anos. Quando o segurado atinge os requisitos mínimos, tem direito a 60% do valor integral da aposentadoria, acrescido de 1% a cada ano excedente de trabalho – até então tinha direito a 70%. As mudanças evidenciam a necessidade de um plano B para complementar a renda no futuro. Miguel, diretor da Anefac, lembra ainda que os gastos aumentam na velhice, sobretudo por causa de custos com médicos e planos de saúde. “Todo mundo tem de fazer um pé-de-meia, porque esse dinheiro vai complementar o benefício. Lá na frente. Aconselho buscar uma previdência privada e fundos, tanto de renda fixa quanto variável. Quanto antes começar ajuntar dinheiro, menor será o esforço e o sacrifício mensal”, diz. Embora não exista uma receita de bolo na hora de decidir quanto poupar para o futuro, os parâmetros mais usados são 15% do salário até os 40 anos e 30% depois. Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Lembra ainda que quem não é CLT consegue contribuir em paralelo ao INSS. “Donas de casa, estudantes e pessoas com atividades remuneradas, sem carteira assinada, podem depositar facultativamente”, afirma. Para isso, basta se cadastrar no INSS e gerar todo mês a guia de pagamento de Contribuinte Facultativo. Nesse caso, existem quatro opções de valores: 5%, 11% e 20% do salário mínimo, ou então o teto, de 1.167,89 reais.

EU ACHO …

O MACHISMO NA LINGUAGEM

É urgente adaptar a gramática às questões de gênero atuais

Tenho uma história para contar. A questão de gênero vem ganhando espaço, e na linguagem essa batalha anda intensa (não vou nem falar naquela bobagem de que menina veste rosa e garoto veste azul, dita pela ministra). A questão toca fundo quando se usa o plural. Um conhecido fazia aula de balé, lá pelos 16 anos. Era o único rapaz entre vinte garotas. A professora até tentou dizer “meus alunos”. Mas estava tão acostumada que chamava: “Meninas!”. Ele estranhou. Depois, acostumou-se. Impedir a professora como? Monteiro Lobato, por meio da boneca Emília, já observava: numa maioria absolutamente feminina, por que usar o masculino? Sem ser aquele tipo de radical que só sabe vociferar, reconheço que a gente fala de um jeito machista. A linguagem evoca uma supremacia masculina, em que o feminino sempre ocupa o segundo lugar. A mudança começa a acontecer. Várias pessoas que conheço não falam mais todos ou todas. Mas todxs (não me perguntem como se pronuncia, tentei dizer e engasguei). Não é bobagem. Através da linguagem as pessoas formulam, incorporam conceitos, maneiras de ver a vida e de lidar com o próximo. Se a mulher for inferiorizada no modo de falar, as pessoas acreditarão que ela é inferior. Mas a linguagem é mutável, flexível, as palavras vêm e vão. Nossa língua, o português, não surgiu do latim? Qual o problema da mudança, se novos tempos requerem uma nova maneira de falar?

Parece lógico. Mas virou uma discussão político-ideológica que não sei aonde vai parar. Em novembro do ano passado, a direção pedagógica do Colégio Franco – Brasileiro, do Rio de Janeiro, enviou uma circular propondo que se adotasse a “neutralização” da linguagem. Em vez de “queridos alunos”, poderia ser dito “querides alunes”. Ou “queridos alunos e alunas”. Dizia: “A neutralização do gênero gramatical consiste em um conjunto de operações linguísticas voltadas tanto ao enfrentamento do machismo ou do sexismo no discurso quanto à inclusão de pessoas não identificadas com o sistema binário de gênero”. Veja bem, não era obrigatório. Mas veio uma revoada de pais. Enviaram um manifesto com 85 assinaturas, revoltados, com um anexo repleto de ironias. O colégio voltou atrás. Uma lástima, porque a Terra continua girando. Não é porque os pais são contra a questão de gênero que deixarão de existir alunos (alunes?) trans…

A Associação Brasileira de Autores Roteiristas (Abra), em seu novo estatuto, também mexeu nesse vespeiro. Optou pelo abandono da linguagem tradicional, em que o masculino predomina. Adotou a referência a pessoas. Foi o suficiente para vários autores se retirarem, acreditando que seriam chamados de autoras-roteiristas. Ainda há um burburinho em cima disso. Não me importa. A mudança é permanente, acredito nela. Se me chamarem de autor, autora, autore, autorx, tudo bem. Continuo escrevendo do mesmo jeito. Que venham os novos tempos.

*** WALCYR CARRASCO             

OUTROS OLHARES

A OUVIDORIA DO ABUSO

Arquidioceses brasileiras instalam as primeiras comissões para apurar denúncias de crimes sexuais cometidos por padres e religiosos

Depois de 17 longos anos desde a explosão de denúncias de abusos sexuais por parte de padres e religiosos nos Estados Unidos e no mundo, a Igreja Católica começa agora a estruturar canais específicos para receber essas acusações e investigar mais a fundo todas elas. O processo foi lento e a ação só começou após a determinação clara e direta feita pelo Papa Francisco, em agosto do ano passado, na Carta Apostólica denominada “Vós sois a luz do mundo”, que obrigou todas as dioceses espalhadas pelo planeta a implementar sistemas para apuração dos casos. No Brasil, Porto Alegre foi a primeira diocese a implantar uma ouvidoria específica para receber denúncias de abuso. Foi seguida por São Paulo e outras devem surgir. Desde 2003, a Igreja vem tentando administrar um problema que só cresce. Mas só com essa determinação para que se organizassem para receber e, principalmente, investigar os casos de abuso é que se iniciou o movimento. Segundo o padre Fabiano Schwanck Colares, coordenador da Comissão Arquidiocesana Especial de Tutela de Criança, Adolescente e Pessoa Vulnerável de Porto Alegre, a demora ocorreu porque foi preciso, inicialmente, estabelecer as regras, respeitando tanto o Direito Canônico como o Direito Civil e definir, junto com o Ministério Público (MP), quais as formas de se apurar as denúncias feitas.

Especialista em Direito Canônico, Colares foi o primeiro representante da Igreja brasileira a manter contato com a comissão de apuração de casos de abuso formada em Boston, que deu origem a todas as investigações após o escândalo provocado pela descoberta dos casos nos Estados Unidos. “Queríamos formatar uma comissão multidisciplinar como foi feito pelos norte-americanos, que tivesse psicopedagogos, psiquiatras, assistentes sociais, representantes do Ministério Público, da polícia, da igreja e todos os especialistas que pudessem ajudar na apuração dos casos e na assistência aos envolvidos”, explica o padre. Anunciada no dia 26 de fevereiro, a comissão de Porto Alegre obedece às normas do Vaticano atuando em duas frentes. A primeira é preventiva, para evitar que novos casos ocorram, oferecendo esclarecimentos tanto para os religiosos como para a população que frequenta igrejas e colégios católicos. A segunda frente é a do acolhimento e apuração das denúncias.

TRABALHO PREVENTIVO

A equipe segue um regulamento próprio que delimita o funcionamento e diz o que compete a cada um. A comissão terá reuniões ordinárias e sempre com uma pauta específica. “Até agora só recebemos alguns telefonemas que ainda não se tornaram denúncias formalizadas. Precisamos levantar informações para ver a consistência das denúncias, conforme nos orientou o MP”, diz Colares. As igrejas também estão iniciando o trabalho preventivo, começando a falar de assuntos tabus, o que inclui os casos que já existem de pedofilia. O segundo ponto é auxiliar tanto funcionários como as próprias crianças a identificarem o que é um abuso para que possam detectar o problema mais cedo. A comissão vai apurar casos nos 29 municípios de abrangência da Arquidiocese de Porto Alegre. Se a denúncia se confirmar, tudo é notificado ao Vaticano que vai julgar e dar o poder de emitir sentença ou encaminhar para o Tribunal Eclesiástico, que tem estrutura interna para discutir, como explica Colares, acrescentando que o processo todo, desde a denúncia até a apuração, deve levar no máximo 90 dias. A pena máxima para um padre que cometeu crime vai desde demissão clerical até o desligamento religioso. “Não vamos conseguir voltar no tempo, mas o tempo de silêncio não acontecerá mais”, diz taxativo o representante da igreja.

Em São Paulo, a arquidiocese também lançou seu canal de denúncias contra os abusos. As denúncias poderão ser apresentadas de modo presencial, por e-mail ou por carta, mas não serão aceitas informações anônimas. Elas deverão fornecer de forma detalhada dados sobre o caso, com o nome e contatos dos denunciantes, datas e locais em que ocorreram os supostos abusos. Também é recomendada a apresentação de fotos e gravações, além do contato de testemunhas. Na carta “Vós sois a luz do mundo”, o Papa torna obrigatório também a padres e religiosos denunciarem suspeitas de abusos sexuais. O decreto deu prazo até junho deste ano para que todas as arquidioceses do mundo criassem sistemas simples de notificação de denúncias. O Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler reconhece o avanço por parte da Igreja Católica. “Temos que reconhecer que não se deu a devida atenção ao longo do tempo a esses casos de abuso.”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 18 DE JANEIRO

NÃO ARMAZENE ÓDIO

O que retém o ódio é de lábios falsos, e o que difama é insensato (Provérbios 10.18).

Há duas maneiras erradas de lidar com o ódio. A primeira é a explosão da ira, quando o indivíduo, como um vulcão em efervescência, desanda a boca para difamar o próximo. Essa explosão começa com a agressão verbal e culmina na violência física. Pessoas destemperadas emocionalmente transtornam a vida de todos à sua volta. A segunda maneira errada de lidar com a ira é retê-la e armazená-la. A pessoa não explode, não provoca um escândalo público e até mantém as aparências, mas azeda o coração e destila falsidade com os lábios. Muitas pessoas vivem uma mentira. Os lábios produzem palavras macias, mas o coração é duro como uma pedra. Os lábios tecem elogios, mas no coração trama-se a morte. Há um descompasso entre o que se sente e o que se fala, um abismo entre a boca e o coração. Tanto a explosão da ira como a sua retenção são atitudes incompatíveis com a vida cristã. Não podemos apontar essa arma de grosso calibre contra os outros ou contra nós mesmos. A solução não é ferir os outros nem a nós mesmos, mas perdoar-nos mutuamente, como Deus em Cristo nos perdoou. Em vez de escondermos o veneno da maldade debaixo da língua, devemos nos abençoar e preferir em honra uns aos outros. Só assim desfrutaremos de uma vida verdadeiramente feliz.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A REINVENÇÃO DAS REGRAS DO PRAZER

Jovens têm e terão menos relações sexuais, mas isso não tem a ver com conservadorismo. Eles apenas mudaram as suas prioridades

Dois gênios separados por 1600 anos opinaram, com humor e sutil ironia, sobrea ausência de sexo na vida cotidiana. “De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência”, disse o escritor e cronista Millôr Fernandes na década de 70, naquela que se tornaria uma de suas frases mais conhecidas. No século V, o teólogo Santo Agostinho reconheceu, ao seu modo e para o provável espanto de seus pares, os prazeres advindos da conjugação carnal. “Dai-me castidade e continência, mas não agora”, escreveu o autor de Confissões. O que ambos não poderiam supor, evidentemente, é que, muito tempo depois, quando todas as repressões já deveriam ter sido superadas, uma nova geração demonstraria pouca disposição para o ato sexual. A recente castidade, ao que tudo indica, poderá ser uma tendência para o futuro, embora muita gente – a maioria, ressalte-se- vá continuar praticando freneticamente o livre prazer.

Os psicólogos até criaram uma expressão para definir a nova realidade: apagão sexual. Ela é comprovada por números. Segundo estudo realizado em 2020 pelo Instituto Karolinska, de Estocolmo, na Suécia, e que contou com a participação 9.500 pessoas, o total de homens com idade entre 18 e 24 anos que não fizeram sexo nos últimos doze meses chegou à surpreendente marca de 30,9%. Ou seja: um e cada três não se deitaram com ninguém em um período de um ano. Basta dar uma espiada em estudos anteriores para detectar a mudança. Em 2002, a abstinência era de 18,9%. Entre as mulheres, a inatividade saltou de 15,1% para 19,1% no mesmo período e na mesma faixa etária. Elas, portanto, também diminuíram a frequência sexual, mas para eles a transformação foi mais intensa.

Ainda que seja irresistível sugerir uma revolução conservadora, a nova onda não marca o retorno dos jovens a velhos preconceitos. Segundo especialistas, a abstinência é resultado de mudanças de atenção e do desejo de orientar a energia vital para outros assuntos, como o mercado de trabalho cada vez mais competitivo ou, quem sabe, o sonho de passar no vestibular. A tendência ganhou impulso graças a um evento ao mesmo tempo inesperado e avassalador: a pandemia do novo coronavírus. Com as restrições de circulação e as intermináveis quarentenas, os solteiros saíram menos, o que passou a ser um impeditivo para que pudessem encontrar um parceiro considerado adequado. “Surgiu assim uma nova barreira para os que já não eram tão afeitos ao sexo”, diz Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa dos Estudos em Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas.

Há fatores que transcendem o contexto atual e que provavelmente serão duradouros. A tecnologia é um deles. Com o acesso fácil ao sexo a distância, e diante da onipresença das redes sociais, muitas pessoas se sentem desestimuladas a conhecer o outro em toda a sua totalidade. Preferem, de certa forma, se esconder na segurança da internet. O fenômeno foi comprovado por inúmeros estudos. Até as conversas telefônicas, fonte de paquera para outras gerações, sumiram do mapa – tudo agora se dá nas mensagens frias de WhatsApp. Os jovens seguirão fazendo sexo, mas talvez de um jeito diferente.

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