BOMBE SUAS FINANÇAS
Descubra 12 estratégias que vão ajudar você a ter um ano com o bolso cheio

Da máxima que dinheiro não traz felicidade. Verdade ou não, nos cinco últimos anos, para muitos brasileiros, ele trouxe coisa pior: dor de cabeça. Além de faltar educação financeira por aqui, o país experimentou uma de suas piores crises da história recente. Hoje, o Brasil tem 12,5 milhões de desempregados e 62 milhões de pessoas endividadas, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Com as dificuldades batendo à porta, controle de orçamento, planejamento financeiro e investimentos ficaram em segundo plano.
Mas, aos poucos, a economia dá sinais de melhora. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil, o número de brasileiros registrados em cadastros de inadimplentes recuou 0,27% em novembro ante o mesmo período de 2018 – foi a primeira vez em dois anos que esse indicador apresentou recuo. Fatores como a liberação de saques no FGTS ajudaram, é fato, mas para muitos especialistas o cenário está melhor do que em anos anteriores. ”A economia vive de ciclos de expansão e retração. Entre 2015 e 2017, tivemos retração acumulada de 8,5%, mesmo nível de uma nação em guerra. Nessa situação, empresas reduzem de tamanho e pessoas perdem o emprego. Agora estamos na retomada”, diz Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos. “Aprovando as reformas e melhorando o resultado fiscal, o crescimento do PIB deve chegar a 2% [em 2019 ficou em 0,8%]”, completa Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Se os juros se mantiverem no patamar atual, 4,5%, e as mudanças propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, avançarem no Congresso, a expectativa é que o mercado se reaqueça. Mostramos, a seguir, 12 estratégias para você aproveitar o clima de otimismo e mudar sua relação com o dinheiro em 2020. A hora é agora.
PASSO 1 – OR6ANIZAR O ORÇAMENTO ANUAL
O primeiro passo para colocar a casa em ordem é mapear quais são os gastos fixos, os variáveis e os pontuais e infalíveis, que surgem todo começo de ano, como IPVA, IPTU e material escolar. Comece 2020 fazendo um prognóstico de despesas e receitas de janeiro a dezembro. Seja detalhista e inclua até mesmo as previsões de compras de presentes em datas comemorativas, como Dia das Mães, dos Pais, dos Namorados, das Crianças, Páscoa e Natal. “Vale muito a pena fazer isso. Se você sabe que terá um gasto, começa a se planejar com antecedência e aproveita melhor datas como a Black Friday”, diz Renatta Gomes, consultora financeira. Outra orientação é dividir o valor integral de taxas como IPVA e IPTU por 12 para entender o impacto dessas contas no orçamento anual – prática que ajuda a prever quanto deve economizar mês a mês para não iniciar o ano desprovido de recursos. Os exercícios podem parecer óbvios demais, mas a realidade é que o brasileiro não chega nem perto disso. Dados do SPC e da CNDL mostram que 46% das pessoas não sabem o valor exato de suas contas básicas, como água, energia, telefone, aluguel, plano de saúde e condomínio; 53% desconhecem a própria renda mensal; e 52% não têm a menor ideia de quantas parcelas de compras realizadas no crédito ainda faltam ser pagas.
PASSO 2 – COLOCAR METAS PARA GASTOS NO DIA A DIA
Organizar o orçamento, conforme sugerido no passo anterior, não é sinônimo de fazer planejamento financeiro. São etapas diferentes. “O orçamento serve para ter clareza sobre quanto entra e quanto sai, enquanto o planejamento é o que você fará com o dinheiro”, diz Renatta. Seja no caderno, seja na planilha de Excel, seja no aplicativo de celular, as únicas regras inegociáveis são colocar metas para despesas variáveis do dia a dia, como alimentação, roupa e lazer, e registrar tudo, do chiclete ao sapato parcelado. Só assim é possível identificar as compras fantasmas que corroem o orçamento. Valéria Meirelles, especialista em psicologia financeira, reforça que o hábito de anotar leva ao autocontrole. Ao registrar o que gastou, a pessoa percebe os próprios excessos e identifica quando, como e por que perde a linha. Ou seja, planejar gera um importante mecanismo mental: o de racionalizar o ato da compra, conscientizando-se de que a escolha de um item pressupõe a renúncia de outro para não extrapolar o orçamento.
PASSO 3 – RENEGOCIAR DÍVIDAS
Com o planejamento desenhado, o pagamento de dívidas vira prioridade. Olhe para os gastos com calma e veja tudo o que pode ser cortado sem prejuízo. A ideia é usar toda e qualquer sobra de receita para a quitação dos débitos. Nesse processo, troque dívidas caras por baratas. Um exemplo? Você entrou no cheque especial, com taxas que chegam a 100% ao ano. Nesse caso, é melhor fazer um empréstimo consignado, com tarifas anuais de cerca de 25%, e cobrir o limite. Outro truque eficiente é unificar as dívidas, o que torna seu gerenciamento mais simples. Acordos e renegociações também são úteis, desde que estejam adequados à sua capacidade de pagamento. “Tenha atenção ao valor do parcelamento para não se enrolar de novo”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil. A dívida precisa caber com folga no orçamento mensal. Apesar de cada caso ser um caso, especialistas não indicam comprometer mais de 30% do salário com prestações.
PASSO 4 – FAZER UMA RESERVA DE LIQUIDEZ DIÁRIA
Bernardo Pascowitch, fundador da plataforma Yubb, marketplace de investimentos, pontua que a primeira medida assim que começa a sobrar algum dinheiro é constituir um fundo de emergência, composto de ativos de liquidez diária. “Por mais arrojado que seja, o investidor precisa ter uma reserva de liquidez para situações de demissão, doença e redução do poder de compra”, diz. Para isso, ele indica o Tesouro Selic, os CDBs e as Letras de Câmbio (LCs), emitidas por financeiras para o custeio de empréstimos.
PASSO 5 – COMEÇAR A INVESTIR EM RENDA VARIÁVEL
Uma vez constituída a reserva de emergência, com o equivalente a seis meses de salário, trace metas mais ousadas para o dinheiro que pretende aplicar. Isso porque o cenário de juros baixos exige diversificação. “A Selic não só está baixa como também muito perto da inflação. Hoje, você instala um aplicativo e já começa a investir. O acesso é muito fácil”, afirma Thiago Salomão, da Rico Investimentos. Entre as opções indicadas pelos experts estão os fundos multimercado, os fundos imobiliários e as ações. Apesar do risco, o momento não é ruim para a renda variável. Ao longo de 2019, a bolsa de valores B3 atingiu resultados históricos, fechando o ano em mais de 100.000 pontos. De acordo com o relatório da Rico, papéis como os da varejista Magazine Luiza (MGLU3) e de empresas alimentícias como Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) valorizaram 96%, 106% e 128%, respectivamente. Mas, como o sobe e desce oscila com o humor do mercado, não custa tomar cuidado. Felipe Paiva, diretor de relacionamento com o cliente da B3, ressalta a importância de o investidor se manter atualizado em relação ao desempenho das companhias listadas na bolsa. No site da B3 é possível acompanhar a curva dos ativos negociados e verificar em tempo real as cinco ações que mais subiram e caíram no dia. Algumas apostas do mercado para 2020: espera-se que o segmento de varejo continue expandindo, turbinando os papéis de companhias como Magazine Luiza, Via Varejo (VVAR3) e B2W (BTOW3) – grupo composto de Submarino, Shoptime e Americanas.com. A área de infraestrutura também promete, com destaque para EcoRodovias (ECOR3) e Taesa (TAEE11). Vale ficar de olho ainda nas small caps, cujo índice acumulou alta de 30% em 2019 e que contêm títulos de empresas como Movida (MOV13), Totvs (TOTS3) e Arezzo (ARZZ3).

PASSO 6 – APRENDER A LER O CENÁRIO
Saber analisar os sinais que a economia emite é uma característica elementar do bom investidor. Para desenvolver essa competência, é essencial pesquisar indicadores e apontamentos de mercado. Vamos analisar o caso do setor imobiliário. Nos últimos anos, essa área foi afetada pela recessão. Com a lenta retomada, no entanto, voltou a aquecer. Numa busca rápida na internet é possível encontrar a informação de que o número de imóveis comercializados na cidade de São Paulo aumentou 46,6% entre 2015 e 2019. Mas isso não significa que investir neles seja um bom negócio agora. “Há muito imóvel vago, e quem está pensando em comprar uma propriedade como forma de investimento deve pensar bem. Isso porque corre o risco de ficar com o imóvel parado e ainda perder dinheiro com IPTU e condomínio”, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A sugestão para ganhar dinheiro é buscar um fundo imobiliário, que reúne ativos de shopping centers, complexos empresariais, prédios hospitalares e hotéis. Fabio Carvalho, sócio da gestora de recursos focada em investimentos imobiliários Alianza, afirma que esse tipo de aplicação vive uma “fase de ouro”. “O lfix [Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários] está em alta histórica. E, como os contratos de aluguel ainda estão com os valores baixos por causa da crise e se acredita que serão substituídos por acordos melhores, a previsão é de melhoria nos dividendos”, diz Fabio. Até outubro, o lfix havia acumulado 18,7% no ano. Além disso, um levantamento da Colliers lnternational Brasil, realizado no terceiro trimestre de 2019, indica que a taxa de vacância nos escritórios de alto padrão na capital paulista atingiu o índice de 14%, o menor em seis anos. Mas, de novo, é importante fazer avaliações criteriosas. “Há fundo que subiu 200%, mas a rentabilidade caiu 3% ao ano. Outros têm um único imóvel, o que é arriscado”, alerta. Hoje, as principais corretoras do país oferecem esse tipo de renda variável a partir de 100 reais. Embora envolva risco, tem a vantagem de ser isenta de IR.

PASSO 7 – RESERVAR 13º, RESTITUIÇÃO NO IR E OUTROS “EXTRAS”
O sucesso financeiro depende, em boa medida, da capacidade de economizar. Por isso, coloque como meta para 2020 poupar integral ou parcialmente o 13º salário, a restituição do imposto de renda e qualquer outro ganho extra. Se for utilizar esses recursos, que seja com inteligência, pagando aquelas contas pesadas de janeiro, como IPTU, IPVA e material escolar. “Reserve com antecedência parte do 13º salário, do saque do FGTS e de outros adicionais para cobrir esses custos”, orienta Michael Viriato, coordenador do Laboratório de finanças do lnsper. A Serasa indica também utilizar esses valores para pagar dívidas à vista ou, então, para adiantar parcelas de empréstimos ou financiamentos, obtendo descontos. Se for tirar o dinheiro de seu FGTS autorizado pelo governo (até 998 reais) ou fazer o Saque Aniversário (opção que permite retirar uma quantia pré-estipulada do fundo no mês de nascimento), não torre com supérfluos. Se não for usado para pagar dívidas, esse montante deve virar investimento, com um rendimento superior aos 3% anuais do fundo previdenciário.
PASSO 8 – FAZER AS PAZES COM O CARTÃO DE CRÉDITO
Ao contrário do que muitos acreditam, o cartão de crédito não precisa ser vilão. De acordo com a consultora Renatta, quando usado com consciência, ele é um parceiro. “Se você tem um Limite diário ou semanal preestabelecido em seu planejamento, consegue pagar tudo e ainda aproveitar os descontos dos programas de fidelidade”, explica. Embora cada banco e bandeira tenha o próprio plano de milhagem, há opções em que, a cada dólar gasto, o consumidor recebe até 2,5 pontos, que podem ser trocados por passagens aéreas, hospedagens em hotéis e até eletrodomésticos. A dica para usar bem o cartão é não comprometer mais do que 30% da renda mensal com a fatura. Se você utiliza esse método para pagar aplicativos de carona, serviços de streaming e compras pela internet, lance esses gastos em seu controle mensal. E esteja atento ao prazo de vencimento da fatura – afinal, os juros rotativos no Brasil chegam a absurdos 300% ao ano.
PASSO 9 – CALCULAR IMPOSTOS COM ANTECEDÊNCIA
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) revelou que, no ano passado, os brasileiros pagaram em tributos para os governos federal, estadual e municipal o equivalente a 153 dias de trabalho – ou cinco meses de salário. É como se o dinheiro começasse a entrar na conta, de fato, em junho. E só a organização é capaz de reduzir os impactos dessa mordida gigante do Leão. “Separe todos os documentos de transações financeiras e patrimoniais numa pasta chamada IR”, orienta Bernardo Sermenho, gerente sênior da consultoria de contabilidade Mazars. O hábito de guardar tudo num mesmo lugar, de maneira ordenada, ajuda na hora de prestar contas. Todos os anos, a Receita Federal divulga quais gastos podem ser abatidos e o Limite de cada um. Em 2019, os valores gastos com pensão alimentícia, contribuição da previdência social e despesas de saúde podiam ser abatidos integralmente. Já gastos com educação são limitados a 3.561,50 reais, sendo que as despesas são restritas ao ensino infantil, fundamental, médio, superior e profissional – cursos extracurriculares, como o de idioma, não são aceitos pelo Fisco. Ainda é possível abater 2.275,08 reais por dependente informado na declaração e 1.200,32 reais em despesas com empregado doméstico. Já quem opta pela declaração simplificada garante um abatimento de 20º limitado ao teto de 16.754,34 reais. Se estiver na dúvida sobre qual modelo é mais vantajoso, a dica é preencher toda a declaração como se fosse fazer a versão completa. Ao final, o próprio programa da Receita indica qual modelo gerará menos imposto. E aqui vai uma informação: segundo o SPC Brasil, só vale pagar à vista o IPTU se o desconto for maior do que 1,5%; e o IPVA, se for maior do que 0,5%. Caso contrário, parcele e deixe o resto do dinheiro rendendo em alguma aplicação de alta liquidez.
PASSO 10 – BUSCAR TAXAS MAIS BARATAS
De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (ldec), de abril de 2017 a março de 2019, os grandes bancos elevaram em média 14% o preço das cestas de serviços de conta- corrente, quase o dobro da inflação no período (7,45%). Para quem busca economizar, os serviços digitais são uma opção. “Dá para escolher o banco pensando em suas necessidades e seu estilo de vida”, diz Ingrid Barth, diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). Só fique de olho na questão da anuidade. Mesmo que o valor seja “zero”, avalie os demais encargos cobrados, como saques em Banco 24 Horas, transferência de recursos para terceiros e segunda via de cartão. “Se ficar atenta a taxas como as de TED e de manutenção de conta, a pessoa chega a economizar, em 12 meses, até 500 reais”, alerta Michael, do lnsper.

PASSO 11 – DEFINIR PROJETOS DE VIDA
Quais são os sonhos que gostaria de realizar a partir de 2020? Uma viagem internacional, um MBA, aquela festa de casamento? Especialistas recomendam escrever os principais objetivos no papel, definindo o prazo e o preço de cada um deles. Anote e cole na geladeira ou no painel de recados do escritório – para ter sempre próximo à visão. A economia comportamental mostra que esse tipo de exercício ajuda a programar o cérebro para guardar rendimentos em vez de gastá-los no impulso. “Economizar é algo que requer um incentivo. E esse incentivo são os sonhos”, diz Renatta. Mapear os objetivos de vida, para além da aposentadoria, também possibilita melhorar a estratégia de investimento, com aplicações mais inteligentes. Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, recomenda para o curto prazo, até dois anos, as Letras de Crédito Imobiliário (LCls) prefixadas, isentas de IR.
PASSO 12 – INICIAR O PLANO DE APOSENTADORIA
Em vigor desde novembro, a reforma da Previdência aumentou a idade mínima de aposentadoria das mulheres de 60 para 62 anos e manteve a dos homens em 65 anos. Além disso, o tempo de contribuição aumentou de 15 para 20 anos. Quando o segurado atinge os requisitos mínimos, tem direito a 60% do valor integral da aposentadoria, acrescido de 1% a cada ano excedente de trabalho – até então tinha direito a 70%. As mudanças evidenciam a necessidade de um plano B para complementar a renda no futuro. Miguel, diretor da Anefac, lembra ainda que os gastos aumentam na velhice, sobretudo por causa de custos com médicos e planos de saúde. “Todo mundo tem de fazer um pé-de-meia, porque esse dinheiro vai complementar o benefício. Lá na frente. Aconselho buscar uma previdência privada e fundos, tanto de renda fixa quanto variável. Quanto antes começar ajuntar dinheiro, menor será o esforço e o sacrifício mensal”, diz. Embora não exista uma receita de bolo na hora de decidir quanto poupar para o futuro, os parâmetros mais usados são 15% do salário até os 40 anos e 30% depois. Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Lembra ainda que quem não é CLT consegue contribuir em paralelo ao INSS. “Donas de casa, estudantes e pessoas com atividades remuneradas, sem carteira assinada, podem depositar facultativamente”, afirma. Para isso, basta se cadastrar no INSS e gerar todo mês a guia de pagamento de Contribuinte Facultativo. Nesse caso, existem quatro opções de valores: 5%, 11% e 20% do salário mínimo, ou então o teto, de 1.167,89 reais.
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