NA MENTE DOS DEPRESSIVOS – III

REMEDIANDO O SOFRIMENTO
Os antidepressivos podem ser uma saída eficaz para quem precisa superar a depressão, mas como eles funcionam?
A depressão é um dos transtornos mentais mais sérios que existem, segundo os manuais de diagnóstico de doenças psíquicas. E, assim como a maioria das doenças, há casos em que certos remédios são indicados para um tratamento eficiente. Tais medicamentos, quando receitados e administrados por um profissional, atuam no sistema nervoso central, elevando os níveis de neurotransmissores e aumentando a excitação cerebral. Cabe ao psiquiatra definir quais fármacos são os mais indicados em cada situação, já que a intervenção médica deve ser individualizada, levando em consideração as condições clínicas de cada paciente.
GRANDE OFERTA
Atualmente, dezenas de classes de remédios antidepressivos são encontrados no mercado. Há uma grande variedade, pois cada grupo apresenta diferentes mecanismos de ação. “É como se eu tivesse vários tipos de ferramentas que pudessem se adaptar ao problema em questão”, explica o psiquiatra Rodrigo Pessanha. O profissional completa destacando a importância dessa diversidade, uma vez que, dessa forma, o tratamento torna-se mais personalizado. “São levados em consideração aspectos como a idade, o peso corporal, a existência de uma doença subjacente e a possível utilização de outros medicamentos de uso geral”, aponta.
Entre essas classes, as que se destacam são os antidepressivos tricíclicos, mais eficazes em casos de depressão crônica ou profunda; os inibidores da monoamina oxidase (IMAOs), usados para a depressão maior e de longa duração; e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), utilizados apenas em depressão moderada.
RISCOS MENORES
Os ISRS, introduzidos no mercado recentemente, se diferenciam pelo fato de intervirem no aumento do nível de serotonina, enquanto os mais antigos ficaram conhecidos pela atuação nos sistemas de noradrenalina. “Em função do risco que podem trazer ao paciente, mesmo que sejam muito eficientes em alguns casos, os primeiros antidepressivos foram gradativamente substituídos por medicamentos mais recentes, cujos riscos são muito menores”, relata Rodrigo. Graças a esse menor perigo – e à grande difusão que tiveram nas duas últimas décadas -, atualmente, os ISRS são os antidepressivos mais receitados por médicos em diversos países.
Isso se deve, também, à diversidade de características encontradas nos medicamentos dessa classe. “A paroxetina, por exemplo, é bastante sedativa, enquanto a sertralina tem efeito estimulante. Isso vai ser vantajoso na escolha do remédio adequado, frente às características do paciente e do distúrbio depressivo que ele tem”, relata o psiquiatra.
NOVOS MEDICAMENTOS
Diferentemente dos antidepressivos já citados, há alguns anos começaram a surgir remédios de ação pós-sináptica, como o Vortioxetina, que, segundo o fabricante, possui eficácia “significativamente superior”. Além dele, outras substâncias – criadas para outros fins -vêm ganhando espaço no combate à depressão. “Temos uma série de outras opções de tratamento que não usam antidepressivos, como o carbonato de lítio, que é empregado como um complemento”, explica o psiquiatra Rodrigo Pessanha.
Outro exemplo disso é a utilização de hormônios tireoidianos, mesmo para pacientes que não apresentam hipotireoidismo. “Em alguns casos, também são usados estimulantes do sistema nervoso central, como o metilfenidato – conhecido aqui no Brasil como Ritalina – e, mais recentemente, vários estudos foram feitos a respeito do uso do anestésico cetamina”, aponta. Essa substância, segundo as pesquisas, tem um efeito “surpreendentemente rápido” no alívio dos sintomas depressivos, além de apresentar relativa melhora em relação às ideias de suicídio, especificamente. A psiquiatra Maria Cristina de Stefano aponta que “os estabilizadores do humor e os medicamentos que controlam a ansiedade são utilizados em conjunto, além dos neurolépticos e dos anticonvulsivantes”.
AFINAL, VICIA?
Apesar da prescrição médica, muitas pessoas diagnosticadas com depressão têm receio de iniciar o tratamento à base de remédios. Tudo porque existe a ideia, no senso comum, de que antidepressivos causam dependência. Segundo o neurocientista Aristides Brito, tal conceito é um mito. “Como são tratamentos longos, fica a sensação de que viciam”, assegura.
Um dos motivos para essa imagem negativa se dá pela utilização de ansiolíticos no tratamento à depressão. Esses medicamentos têm a capacidade de controlar a ansiedade, induzir o sono e colocar a pessoa em estado hipnótico. Segundo a psiquiatra Maria Cristina, os fármacos dessa classe são empregados apenas pelo tempo necessário, já que “eles agem em neurotransmissores diferentes dos antidepressivos e diminuem algumas das atividades dos neurônios”, sendo necessários cuidados médicos constantes. “Eles provocam sensação de prazer e por isso acabam viciando. Assim, devem ser retirados de forma gradual para não provocar abstinência e outros problemas”, alerta o neurocientista Aristides Brito.

COM CAUTELA!
Apesar de necessário, o uso contínuo de antidepressivos pode trazer alguns riscos à saúde e alterações na funcionalidade de determinadas partes do corpo. Algumas mudanças biofísicas podem surgir, ocasionando temporariamente insônia, erupções cutâneas, além de dores – como de cabeça, musculares, articulares e de estômago. Náuseas e diarreia também podem ser um problema.
Os antidepressivos podem causar uma redução da capacidade de coagulação do sangue, já que há uma diminuição na concentração do neurotransmissor serotonina nas plaquetas.
O médico responsável pela prescrição do medicamento precisa estar atento ao uso de outros remédios.
Se o antidepressivo for tomado junto com outro fármaco que aumenta a atividade da serotonina, é possível desenvolver a síndrome da serotonina. Com isso, podem ocorrer palpitações, sudorese, febre alta, pressão arterial elevada e, por vezes, delírios. Além disso, podem causar espasmos musculares e tiques, assim como a diminuição do apetite e do desempenho sexual do paciente. Durante a gravidez, o uso deve ser acompanhado pelo médico responsável.
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