O momento atual é de pouca paciência, pouca tolerância e alto estresse. O corpo não tem aguentado tanta carga emocional, e estamos vivendo uma pandemia de síndrome do pânico e crise de ansiedade. Reagimos de forma desproporcional e despendemos mais energia do que temos, em embates desnecessários. Mas por que temos agido assim?
A urgência da vida moderna é um dos motivos. Tudo é “para ontem”: trabalho, respostas e projetos. Com isso, desaprendemos a esperar também. Se formos pensar, há 20 anos, escrevíamos cartas para nossos amigos e familiares que moravam em outras cidades e esperávamos pacientemente a resposta, que às vezes vinha, outras não. Era um exército de resignação, sem ansiedade e pouca expectativa. Atualmente, temos um meio de comunicação ultra ágil, como as mensagens via celular, porém perdemos a capacidade de esperar. Na verdade, estamos num movimento contrário. Quando não somos prontamente respondidos, sentimos raiva, irritabilidade e ansiedade. Queremos respostas imediatas.
No trânsito não é diferente, a impaciência prepondera. Nós nos irritamos com a lentidão, com o semáforo que fecha, com a forma com a qual os outros dirigem. Muitas vezes, a irritabilidade é expressa por meio de xingamento, gritos e bate-boca. Um nítido descontrole emocional.
Outra situação recorrente é a incapacidade de tolerar um pensamento ou conduta que fogem ao senso comum. Há sempre uma crítica ou desmerecimento com aqueles que pensam ou vivem de forma diferente à nossa. Mas o que fazer com tantos estímulos que fomentam nosso estresse? Muitos optam por mudar das grandes capitais, outros por parar de ver notícias e se auto alienar. Penso que essa não seja a solução do problema, pois ignorar não significa estar isento do prejuízo. Por exemplo: um motorista que não sabe que é proibido parar em determinado local não está isento da multa. Uma pessoa que desconhece os malefícios do cigarro não está imune ao prejuízo que isso traz. A ignorância é como uma mão anestesiada que vai ao fogo. Em princípio, não se sente a dor, no entanto, isso não significa não sofrer as consequências da queimadura. A ignorância alivia temporariamente, mas não salva, ao mesmo tempo em que o conhecimento não resolve por completo a situação. Se assim fosse, ninguém fumaria, pois todos conhecem os males do tabaco. É preciso desenvolver um estágio superior, no qual consigamos, com paciência, dominar aquilo que nos domina.
O paciente é manso e, por isso, passa a impressão de ser fraco. Já o impaciente é nervoso e passa a impressão de ser forte. Este, o sem paciência, no fundo é o verdadeiro fraco, visto que não consegue controlar suas próprias reações. Segue comandado pela raiva e não tem controle sobre si. Já o paciente, aquele que parece “bobo”, é realmente forte, pois consegue resistir ao quase insuportável, procurando resolver os conflitos por meio do entendimento, e não da agressividade. A paciência é uma força revestida de suavidade, adquirida pela humildade, sabedoria e treino.
Novo presidente da Capes rejeita o pensamento científico e defende a teoria do “design inteligente” para criar um contraponto ao evolucionismo
O pensamento criacionista, baseado na Bíblia e que se opõe a evolucionismo do inglês Charles Darwin, está ganhando cada vez mais espaço no governo de Jair Bolsonaro. Depois da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, promover a tese de que o homem é uma criação divina e que Deus criou a vida, um novo membro do alto escalão do Ministério da Educação (MEC) traz na bagagem intelectual a crítica ao pensamento científico e a defesa de ideias religiosas retrógradas. Trata-se do recém-nomeado presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Benedito Guimarães Aguiar Neto, ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. No ano passado, num evento na universidade, Aguiar Neto defendeu o criacionismo e disse querer “colocar um contraponto à teoria da evolução e disseminar a ideia de que a existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos, discutir o criacionismo”. O preocupante é que agora, à frente do Capes, ele pode impor suas teorias como política pública, já que o órgão do Ministério da Educação (MEC), além de oferecer bolsas de pesquisa para mestrado e doutorado, atua fortemente na formação inicial e continuada de professores para a educação básica.
O “design inteligente” ao qual se refere Aguiar Neto é uma teoria atrelada ao criacionismo, totalmente apoiada na fé na criação divina. Essa teoria argumenta que sistemas altamente complexos, como é o próprio homem, só podem ter sido desenvolvidos por um criador inteligente, um designer demiúrgico, que seria o próprio Deus. Teme-se que esse tipo de pensamento, totalmente refutado pela comunidade científica, passe a nortear a educação básica e que se estimule os pesquisadores bancados pela Capes a defender teses criacionistas. Há que aguardar também os novos livros didáticos que o MEC pretende produzir em breve. Na semana passada, Bolsonaro assinou um decreto que autoriza o MEC a produzir o próprio material que distribui para as escolas, sem que haja necessidade de processos de licitação e sem qualquer avaliação externa. O “design inteligente” deve invadir esses livros.
A prestigiada revista americana Science se posicionou contra a nomeação de um criacionista para comandar a pesquisa no País.
REAÇÃO INTERNACIONAL
Até a prestigiada revista americana Science se posicionou em um artigo na sua última edição contra a nomeação de um criacionista para comandar a pesquisa no País. Segundo a revista, a escolha de Aguiar Neto para comandar a agência deixou os cientistas preocupados com a possibilidade de interferência da religião na ciência e na política educacional. A Science lembrou também de Damares Alves, que, no ano passado, declarou que a igreja evangélica perdeu espaço na ciência quando deixou a teoria da evolução entrar nas escolas. Para tentar diminuir o mal-estar na comunidade científica, na quarta-feira 29, Aguiar Neto divulgou uma nota em que diz defender a “liberdade de cátedra”, princípio que tem como finalidade garantir o pluralismo de ideias e de concepções de ensino, especialmente no universitário. “Sem liberdade de cátedra, não há nem a criatividade intelectual, nem as soluções dos problemas nacionais”, afirmou. “O fomento à apropriação e ao desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico dos problemas nacionais serão prioridade na minha gestão”.
Possivelmente a defesa do criacionismo e do “design inteligente” estará incluída entre as possibilidades de liberdade de cátedra e de pluralismo de ideias defendidas por Aguiar Neto. Se for fiel às suas teses, o novo presidente do Capes deve priorizar pesquisas que comprovem que o “design inteligente” é ciência e gastará dinheiro público que poderia estar sendo aplicado em ciência de verdade. O orçamento da Capes para 2020 será de R$ 2,8 bilhões, o equivalente a 67% do total de recursos disponíveis no ano passado. Há mais de um século há um consenso entre os cientistas de que o evolucionismo de Darwin é a melhor explicação para os fenômenos da vida. O próprio Vaticano endossa o pensamento darwinista. Mas, pelo jeito, no Brasil ele está em baixa, o que só serve para aumentar o temor sobre o futuro da educação pública.
O que trabalha com mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer-se (Provérbios 10.4).
A preguiça é a mãe da miséria e a patrona da pobreza. Aqueles que têm alergia ao trabalho e fogem dele como se fosse praga contagiosa empobrecem. Aqueles que amam o sono e encontram toda sorte de desculpas para não trabalhar, esses acabam tendo a mente cheia de coisas perversas. O ditado popular diz: “Mente vazia é oficina do diabo”. O trabalho é uma bênção. O trabalho não é castigo nem fruto do pecado. É uma ordem de Deus. O homem trabalhava antes da queda e trabalhará depois da glorificação. O céu não será uma bem-aventurança contemplativa, mas um trabalho dinâmico e deleitoso. A Bíblia diz que no céu os servos de Deus o servirão. O trabalho dignifica o homem, supre as necessidades da família, faz prosperar a sociedade e glorifica a Deus. O trabalho é uma bênção, e devemos nos dedicar a ele com profundo zelo. Todo trabalho feito com honestidade é digno. Podemos trafegar da indústria ao santuário com a mesma devoção. O trabalho gera riqueza, pois a mão dos diligentes vem a enriquecer-se. Por intermédio do trabalho fazemos o que é bom, cuidamos de nós mesmos e da nossa família e ainda acudimos ao necessitado.
Pesquisa exclusiva revela que 41% dos brasileiros entram em pânico longe do smartphone. O uso excessivo dessa tecnologia está nos tornando estressados, pouco criativos e improdutivos. Veja como encontrar o equilíbrio num mundo em que todos se sentem pressionados a estar sempre disponíveis
Em 2016, um médico disse ao paranaense Adriano Santos que seu corpo não era o de um homem de sua idade. Clinicamente, seu organismo parecia estar uma década à frente: em vez de 35 anos, o físico era o de uma pessoa de 45. Sobrepeso, hipertensão e depressão em estágio inicial compunham o quadro. Se nada fosse feito, no ritmo em que estava, Adriano poderia perder anos de vida. O diagnóstico assustou o fundador da startup Empari Global Innovation, de softwares e aplicativos para gestão de pequenas e médias empresas. Sua primeira atitude foi investigar os hábitos para entender de onde vinham tantos problemas, pois não existia nenhuma doença crônica diagnosticada. Ao olhar sua rotina, algo ficou claro: o uso exagerado da tecnologia estava acabando com sua saúde. “Dormia às 5 horas para acordar às 9, todos os dias. Ficava programando e olhando as redes sociais ao mesmo tempo. Minha ansiedade era muito grande e eu a descontava na mídia social, no WhatsApp e no e-mail”, afirma Adriano, que abraçou uma profunda mudança de comportamento e hoje está saudável.
Assim como Adriano, pessoas estão adoecendo por causa do excesso de conectividade e se tornando dependentes da tecnologia – prova disso é o levantamento feito pela Motorola em parceria com Nancy Etcoff, psicóloga especializada em comportamento cognitivo da Universidade Harvard. A fabricante de celulares ouviu 20.000 brasileiros e descobriu que 41,5% deles estão viciados em seus telefones.
No entanto, muitos não percebem que, sem um uso equilibrado, poderão sofrer graves consequências. Várias pesquisas mostram que estar 100% do tempo on-line auxilia no surgimento de doenças como ansiedade, depressão, estresse, déficit de atenção e até transtorno obsessivo-compulsivo. Um estudo alarmante, conduzido por professores da Universidade de Seul, diz que quem se tornou dependente de smartphone tem níveis menores do ciclo de glutamato-glutamina (série de eventos mentais responsável por energizar os neurônios) e níveis mais altos de Gaba, neurotransmissor que inibe os neurônios. Resultado: nervosismo, insônia e falta de foco.
Não há como voltar atrás no desenvolvimento da tecnologia. Só que dá para acender o sinal de alerta e entender que os riscos do exagero são graves. Mais do que isso. É preciso compreender que smartphones, aplicativos, redes sociais, relógios inteligentes, videogames, tablets e notebooks são mais viciantes do que imaginamos – e que isso prejudica nossa produtividade e criatividade, o que é péssimo para os negócios e para a carreira.
”Estamos vivendo uma transformação que alguns comparam com a descoberta do fogo há 2 milhões de anos. Somos testemunhas oculares de uma mudança paradigmática em que cada vez mais a inteligência artificial se torna presente”, diz Cristiano Kabuco, psicólogo e coordenador do Grupo de Dependência Tecnológica do Programa dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ser testemunha de uma mudança tão profunda na sociedade é empolgante, mas é também um problema: não sabemos lidar com o que o mundo está nos oferecendo. Pior: não paramos para pensar no que estamos nos transformando – e no que as próximas gerações vão se tornar. “Por ser muito recente, o ser humano ainda se encontra deslumbrado com tudo o que a tecnologia pode fazer”, diz Cristiano.
E o que é esse tudo? Tem a parte positiva, claro. A tecnologia auxilia no desenvolvimento da ciência, da medicina, da agricultura, da indústria e na disseminação do conhecimento. Existe, porém, o outro lado da moeda. Se você faz parte dos 68% que pegam o celular assim que abrem os olhos, de acordo com levantamento da revista Time, ou dos surpreendentes mesmos 68% que acionam o aparelho ainda dormindo, segundo pesquisa da consultoria Deloitte, certamente está sucumbindo à tentação da conexão 24/7 (24 horas por sete dias da semana). E talvez comece a perceber os efeitos nocivos dessa interação constante e concorde com o que a jornalista americana Catherine Price diz em Celular: Como Dar um Tempo, recém-lançado no Brasil: “Ao mesmo tempo que estamos ocupados, também nos sentimos ineficientes. Estamos conectados, mas somos solitários. A tecnologia que nos dá liberdade também funciona como uma prisão quanto mais ficamos presos, nos perguntamos com mais frequência quem realmente está no controle. O resultado é uma tensão paralisante”.
Mesmo antes de termos mais de um smartphone ativo por habitante no Brasil (ou 220 milhões de aparelhos), havia viciados em tecnologia. O problema é que esses dispositivos são mais perigosos do que os PCs simplesmente porque não ficam presos a uma mesa. Podem estar ao nosso lado conforme nosso desejo, vibrando o tempo todo em nossas mãos. Vibram tanto que nove em cada dez pessoas já sentiram a “síndrome do celular fantasma”, quando acham que seus dispositivos estão tocando mesmo quando estão estáticos, de acordo com um teste feito no Instituto de Tecnologia da Georgia. “Por serem móveis, causam mais dependência. Há o fato de que podemos fazer qualquer coisa com eles, pois existem aplicativos para tudo, e isso os torna ainda mais viciantes”, afirma a psicóloga americana Kimberly Young, fundadora do Centro de Vício em Internet e uma das primeiras pesquisadoras do mundo sobre o assunto. Por que tanto impulso por olhar o dispositivo? Porque os cérebros estão sendo treinados para isso.
DA FELICIDADE À ANSIEDADE
A mente está sempre em busca do bem-estar. É uma questão evolutiva. Para sobreviver, corremos atrás daquilo que nos agrada. Uma das maneiras mais eficazes de alcançar essa sensação é por meio da produção de dopamina, o famoso hormônio da felicidade, liberado quando nos sentimos recompensados. Funciona assim: um comportamento X leva a uma consequência Y, e isso traz alegria. Por exemplo, quando você entrega um trabalho e recebe um elogio, seu cérebro vai soltar dopamina, você se sentirá feliz e tentará repetir a tática para conquistar o mesmo efeito.
Até aí, só vantagem. O problema é que podemos associar a recompensa a atitudes negativas. Um dos exemplos clássicos é o da máquina de caça níqueis. Quando alguém joga nesse aparelho, experimenta uma série de tentativas frustradas. Mas, se em algum momento cinco abóboras se alinharem no visor, a pessoa terá ganhado o jogo, e o corpo vai comemorar com uma boa quantidade de dopamina. O comportamento de apertar incessantemente os botões (ou de puxar a alavanca) levou ao cumprimento de um objetivo, e isso nos deixa animados. No entanto, se passarmos horas a fio correndo atrás do jackpot, vamos ficar dependentes de doses cada vez mais altas do hormônio.
Algumas tecnologias seguem o mesmo princípio. “Os videogames fazem com que a liberação de dopamina aconteça depois de 5 minutos. O cérebro percebe e sinaliza dizendo para segurar a dose e reagir só após 8 minutos. Depois, são necessários 16 para ter a mesma sensação. Aí cria-se um círculo vicioso.” diz Cristiano Nabuco, da USP. “As redes sociais e o WhatsApp têm o mesmo efeito dopaminérgico. Quando você não está bem e recebe um comentário elogioso online, sua autoestima melhora naquele momento.” Por isso é tão difícil tirar os olhos da tela. A mente entende que existe felicidade ao abrir uma mensagem ou ao receber uma notificação de um aplicativo. Para alcançar o mesmo nível de satisfação, a quantidade terá de ser cada vez maior. Não à toa, as pessoas tocam, em média, 2.617 vezes por dia no celular, de acordo com levantamento do site Dscout, plataforma americana de análise de mercado.
Tudo isso, além de causar uma possível dependência, pode levar a extremos de ansiedade. Em Celular: Como Dar um Tempo, Catherine Price escreve que “o psicólogo Larry Rosen, da Universidade do Estado da Califórnia, afirma que o telefone provoca ansiedade de modo deliberado ao proporcionar novas informações e gatilhos emocionais toda vez que pegamos o aparelho. Isso nos faz ter medo de que, cada vez que os largamos, mesmo por um segundo, percamos algo. O termo leigo para essa ansiedade é Fomo (fear of missing out, ou “medo de perder alguma coisa”). Os seres humanos sempre sofreram de Fomo. Mas éramos protegidos de desenvolver uma infecção total pelo fato de que, até o surgimento dos smartphones, não havia nenhum jeito de saber o que estávamos perdendo”.
Passamos o tempo todo apavorados por causa da probabilidade de estarmos desatualizados. Uma pesquisa aplicada em parceria com a consultoria de recrutamento Talenses, com 620 profissionais de todo o Brasil descobriu que 41% têm esse temor quando são obrigados a se separar dos smartphones, 29% se sentem ansiosos e apenas 16% relaxam. A conexão total leva a um efeito rebote. “Ficamos convencidos de que a única maneira de nos proteger do Fomo é olhar o celular a todo o momento para ter certeza de que não estamos perdendo nada. Mas, em vez de aliviar a ansiedade, essa prática a estimula de tal forma que as glândulas ad-renais acabam por liberar uma rajada de cortisol – um hormônio de estresse que tem papel importante em situações de luta ou fuga – toda vez que largamos o celular”, explica Catherine em seu livro. Na busca por aliviar a ansiedade, o que se encontra é apenas mais ansiedade.
No caso do trabalho, isso pode ser demonstrado pelos e-mails. A simples expectativa de receber uma mensagem que, por algum motivo, precisa ser respondida fora do expediente leva ao estresse. Essa foi a conclusão de um estudo feito em por professores das universidades Lehight, da Virgínia, e do Estado do Colorado, todas americanas, com 297 trabalhadores. Os autores explicam que, por poderem ser acessados de qualquer lugar, os e-mails geram uma sensação de sobrecarga, pois os funcionários se envolvem continuamente com o trabalho mesmo longe do escritório – o que inibe a capacidade de desconexão psicológica. “A mobilidade não significa que sejamos obrigados a estar o tempo tudo disponíveis”, diz Beatriz Maria Braga, professora de gestão de pessoas na escola de negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Eaesp).
Na DB1, desenvolvedora de softwares com 350 funcionários e sede em Maringá (PR), há uma crescente preocupação com isso. Além de não permitir que alguém trabalhe após as 20 horas, quando o escritório fecha, a empresa restringiu o acesso remoto aos computadores corporativos. Agora, só com a autorização da liderança e da equipe de TI um funcionário pode acessar os sistemas fora da empresa. “Estamos mais atentos a isso por questões de segurança e para evitar o uso em horários inadequados”, diz Natália Kawatoko, gerente de RH da DB1
DE CIMA PARA BAIXO
A luta contra o excesso passa pelo desenvolvimento da educação digital. “As pessoas usam o celular em todos os lugares, sem a menor sensação de estar sendo inconvenientes ou de que isso esteja atrapalhando o sono, a concentração e o trabalho”, diz Anna Lucia Spear King, professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro e fundadora em 2013 do Instituto Delete, o primeiro centro voltado para dependência digital na América Latina, que é ligado à UFRJ e já atendeu mais de 1.000 pacientes nos últimos cinco anos. ‘A maioria de quem nos procura se acha viciada, mas o fato é que não sabe usar a tecnologia corretamente.”
Para se policiar, é possível adotar uma série de atitudes pessoais – que vão desde deixar os gráficos dos smartphones em cinza até a desconexão mais profunda, como foi o caso do engenheiro e empreendedor Alexandre Vianna, de 43 anos. A mudança aconteceu por acaso, quando ele cedeu seu smartphone para a esposa. “O dela havia estragado, então recuperei meu aparelho antigo”, diz. Nos meses seguintes, Alexandre não sentiu falta do gadget e continuou com o modelo antigo. Desde então, já se passaram dois anos. Mineiro de Belo Horizonte, ele acredita que a principal vantagem é ficar desconectado depois de encerrar o expediente em sua empresa de tecnologia, que vai das 7 às 16h30. “Gostei de não ter mais celular porque, quando desligo o computador, fico offline e não caio na tentação de mexer no aparelho”, explica. Por investir no mercado financeiro, costumava acompanhar cotações de ações sempre que estava na rua, mas esse hábito foi substituído por momentos de desconexão. “Quando saio de casa, estou realmente fora. Leio livros de papel nas salas de espera e no transporte público. Sou observador, também gosto de ficar vendo as pessoas. Hoje em dia está todo mundo olhando para baixo”. Outro ganho foi sair dos grupos da família no WhatsApp. “É melhor receber telefonemas dos familiares no dia do meu aniversário, porque as mensagens instantâneas são impessoais”, diz. Talvez daqui a alguns anos seja impossível não ter um smartphone, mas seu plano é adiar esse dia ao máximo. Sou motivo de brincadeiras dos amigos, principalmente porque atuo na área de TI. Mesmo assim, se eu puder não comprar um smartphone, não comprarei.”
Cada um pode fazer sua parte, mas, no trabalho, a realidade da conexão contínua só vai mudar se os líderes estiverem realmente dispostos a dar o exemplo. “A impressão que eu tenho é que a maioria das empresas está inconsciente sobre esse problema. Isso passa despercebido pelos gestores”, diz Cristiano Nabuco, da USP. Simon Sinek, guru de gestão autor do livro Os Líderes se Servem por Último, concorda com o diagnóstico. Numa palestra dada em 2015 na Escola de Administração de Iowa, ele alertou que, quando alguém entra numa reunião e vê um celular em cima da mesa, se sente preterido. “E coloca-lo de cabeça para baixo não é mais educado. A coisa mais importante é se desligar do dispositivo quando estiver em contato com outro ser humano. Lembre- se que lideramos pelo exemplo”. Ele costuma aplicar a separação forçada em seus workshops. “A primeira coisa que faço é pegar um cesto e pedir para que cada um deposite o telefone ali dentro. São executivos seniores e eu recebo uns olhares muito duros. Eles não estão felizes. Mas alguns minutos depois relaxam. O melhor acontece nos intervalos: eles realmente conversam uns com os outros. Nunca deveria haver celulares em salas de reunião – qualquer que seja – porque a qualidade dos encontros sempre é mais elevada.”
A EY, consultoria e auditoria, tem se preocupado com o excesso de conexão e fez, neste ano, um projeto nos escritórios da sede americana durante a semana de 4 de julho, um dos feriados mais importantes nos Estados Unidos. Nesse período, os empregados ganharam sete dias de folga com a orientação de se desconectarem totalmente – não poderiam usar computadores ou smartphones. “Os funcionários foram avisados de que a chefia e os clientes não iriam enviar e-mails”, diz Cristiane Amaral, líder de gestão de talentos para o Brasil e América do Sul. O objetivo era incentivar a reflexão dos profissionais sobre sua relação com a tecnologia, promovendo o uso consciente das ferramentas e a proximidade das pessoas com suas famílias. “Todos voltaram muito mais produtivos e perceberam que uma semana assim não prejudica a empresa, pelo contrário”, diz Cristiane, que está estudando a aplicação da prática no Brasil. “Se a gente não se preparar para fazer desconexões, as empresas vão ter mais afastamentos.”
Já na DB1, a mesma que restringe o acesso remoto, a solução para desconectar aparece na sala de descompressão. Ali, além de 25 leitos para descanso, só existem brincadeiras analógicas, como xadrez, pebolim e tênis de mesa disponíveis para uso o dia todo. “Antes tínhamos videogames, mas retiramos porque não havia demanda. Os profissionais preferem os jogos não eletrônicos porque conseguem ter um momento de integração que os games não proporcionam”, afirma a gerente de RH Natalia Kawatoko.
A GUERRA PELA ATENÇÃO
Outro princípio que explica a sensação de uma necessidade constante de conexão tem a ver com recompensas variáveis e intermitentes, quando não sabemos em que momento uma novidade pode aparecer e ficamos cm estado de alerta, esperando por ela. Lembra dos caça-níqueis? É a mesma coisa. No texto como a tecnologia sequestra a mente das pessoas, Tristan Harris, ex-funcionário do Google e cofundador do Center for Humane Technology, que prega a ética na tecnologia, explica o mecanismo: “Se você quer maximizar o vício ou dependência, tudo que os designers de tecnologia precisam fazer é atrelar uma ação do usuário (como puxar uma alavanca) a uma recompensa variável. Você puxa a alavanca e imediatamente ou recebe uma recompensa tentadora (um match, um prêmio), ou não recebe nada. A dependência é maximizada quando a taxa de recompensa é bastante variada. Mas aqui está a triste verdade – alguns bilhões de pessoas têm uma máquina de caça níqueis no bolso: quando tiramos o celular do bolso, estamos apostando em caça níqueis para ver quais notificações recebemos”.
Segundo Tristan, empresas e desenvolvedores sabem disso e usam desse e de outros métodos de atratividade para fazer com que as pessoas fiquem o máximo possível em suas plataformas. Quanto mais tempo alguém estiver conectado a um aplicativo, mais sua dona consegue faturar, seja com anúncios personalizados, seja com a comercialização de dados pessoais – o que começa a se tornar uma questão legal ao redor do mundo. No fundo, o que está à venda é a nossa atenção.
Prestar atenção é algo custoso para nossa mente, que, além de precisar se concentrar em algo específico, a inda tem de isolar o que atrapalha – barulhos, cheiros ou sensações físicas (como fome e frio). Quando um dispositivo tecnológico está por perto, toda a distração do mundo está ali, mesmo que ele fique em silêncio. Foi o que descobriu uma pesquisa feita pela Escola de Negócios da Universidade do Texas. Os cientistas acompanharam pessoas que precisavam cumprir uma atividade de concentração. Elas podiam escolher se queriam deixar os telefones (todos no silencioso) na mesa virados de cabeça para baixo, no bolso, na bolsa ou colocá-los numa sala ao lado. Os resultados mostraram que os que estavam fisicamente longe do celular tiveram desempenhos melhores do que os outros. “É como se, nas proximidades, mesmo sem utilização, o dispositivo roubasse a capacidade de aprofundamento”, diz Cristiano Nabuco, da USP. Para evitar perdas de produtividade, algumas companhias têm restringido o uso dos gadgets no trabalho. Na área de segurança privada, um acordo coletivo entre sindicatos e empresas firmado há cinco anos no estado de São Paulo proíbe o manuseio de smartphone no serviço. “O setor enfrentou alguns problemas no passado devido à falta de atenção dos vigilantes pelo uso do celular”, diz Marcos Sousa, diretor de RH da Gocil Segurança e Serviços, que tem 18.000 profissionais. Por lá, os empregados recebem orientações sobre o uso. Caso um vigilante seja visto descumprindo a regra, tem um desconto de 5% a 25% na participação de lucros anual. “Foi uma transição difícil porque era uma novidade e as pessoas queriam usar a todo momento”, diz Marcos.
Na General Motors, a regra global, aplicada para 180.000 empregados desde janeiro de 2019 diz que não se pode olhar o celular quando se está em movimento – iniciativa que faz parte das regras de segurança da empresa, avaliadas como positivas por 85% dos funcionários. “É um chamado para a gente ter uma vida mais plena, estar presente quando fala ao telefone, quando dirige, caminha. As pessoas às vezes pensam que podem viver diversas vidas ao mesmo momento, mas isso não é realidade”, afirma Christian Cetera, diretor de recursos humanos da GM Mercosul.
ÁVIDOS POR IRRELEVÂNCIA
A desatenção que os aparelhos digitais causam tem a ver com o foco disperso. “Existe a máxima de quanto mais, melhor. Isso não funciona para o cérebro, que tem a função biológica de concluir tarefas”, afirma Cristiano. Conclusão: quem acredita que pode se desdobrar em vários e ser multitarefa, alternando a atenção em múltiplas telas ao mesmo tempo, está se autoenganando. Em 2.009, pesquisadores da Universidade Stanford revelaram que os multitarefas digitais assumidos que usam vários dispositivos ao mesmo tempo enquanto fazem coisas – são piores executores do que quem se concentra em uma atividade por vez. De acordo com o estudo, os multitarefas digitais não conseguem nem estruturar informações nem ignorar o que é irrelevante. No limite, esse comportamento os transforma em seres incapazes de realizar qualquer coisa com eficiência. “Eles são ávidos por irrelevância e tudo os distrai”, disse Clifford Nass, professor de comunicação de Stanford e um dos autores do estudo. “Ficamos procurando algo em que eles fossem melhores, mas não achamos nada”, disse Eyal Ophir, um dos pesquisadores da Universidade Stanford.
O cérebro simplesmente não aguenta operar assim, pois precisa terminar tarefas para relaxar. Em psicologia, esse processo é chamado de “fechar as gestalts”, aquelas famosas figuras em preto e branco em que vemos ora dois rostos, ora dois vasos. Quando conseguimos identificar um dos desenhos, a mente percebe que realizou uma tarefa e está pronta para começar outra. Biologicamente, o cérebro só se aprofunda quando faz uma coisa por vez. “O processo de alternar as informações mentais por causa do estímulo de um celular, por exemplo, é custoso. Isso cria uma alta carga emocional, que se transforma em desgaste mental”, diz Cristiano, da USP.
Há também o fato de que, nas telas, a assimilação de conteúdo é diferente. A consultoria Nielsen Norman Group mapeou (usando a técnica de eyetrackers) a leitura digital de cerca de 300 pessoas e encontrou um padrão. No computador ou num dispositivo móvel, os olhos trabalham fazendo um movimento em “F”, ou seja, veem rapidamente o conteúdo da esquerda para a direita e descem rapidamente até o pé da página. Isso ocorre porque os usuários estão tentando ser mais eficientes e não estão comprometidos a ler todas as palavras do texto. A leitura dinâmica se torna o padrão. Desse modo, porém, a informação não fica gravada. “Para sair da superficialidade, a informação precisa funcionar como se fosse um conta-gotas: conforme eu leio, ela pinga no gargalo de reflexão. Quando reflito, ela é ancora em dados prévios, gerando conhecimento. Na leitura em ‘F’, isso não acontece”, afirma o psicólogo da USP.
Talvez por tudo isso o QI dos jovens esteja caindo. Mesmo com um volume maior de informações, os níveis de inteligência declinaram 12 pontos entre 1980 e 2008, de acordo com levantamento do professor James Flynn, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia. E o mesmo tem acontecido no Brasil. Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo mapeou que o uso do celular atrapalha o desenvolvimento dos estudantes universitários. A cada 100 minutos diários de navegação no celular, os alunos perdem, em média, 6,3 pontos no ranking de classificação da universidade. Isso se usarem o aparelho em casa. Caso utilizem dentro da sala de aula, a queda chega a 12 pontos. O impacto na aprendizagem é grande e, por isso, a França proibiu a entrada de celulares e tablets nas escolas públicas do país – uma “medida de desintoxicação contra a distração”, de acordo com o Parlamento francês.
SILÊNCIO INTERIOR
Esses dados mostram que estamos nos transformando na geração da superficialidade. Mas a atenção é um ativo precioso demais para ser tão negligenciado. Sem ela, não experimentamos nada com profundidade. E, sem viver alguma coisa por inteiro, fica impossível criar as memórias de longo prazo, aquelas que realmente se enraízam e com as quais podemos contar para concatenar uma informação com a outra, solucionar problemas e ter novas ideias. “Só vivenciamos aquilo em que prestamos atenção. Quando decidimos no que prestar atenção em determinado momento, tomamos uma decisão mais ampla, de como queremos viver a vida (…). O celular nos absorve num estado intensamente focado de distração”, afirma Catherine em um trecho de seu livro.
O antídoto é se reconectar consigo mesmo e criar momentos em que a tecnologia seja realmente deixada de lado. Claro que, no mundo do entretenimento contínuo, a tarefa não é tão simples assim. Ficar sozinho para refletir, concretizar memórias e tomar decisões complexas – ou simplesmente para deixar o barulho do mundo do lado de fora – requer uma grande luta interna. Isso foi comprovado em um estudo feito pelas universidades Harvard e da Virgínia. Os cientistas queriam ver como 42 pessoas reagiriam se precisassem ficar sozinhas e caladas num quarto sem nenhuma distração por 15 minutos. Elas poderiam ficar sem fazer nada ou levar um choque só para fazer o tempo passar. Todas experimentaram a descarga elétrica (leve, mas dolorosa) antes de decidir. Para surpresa dos cientistas, 43% preferiram a dor ao isolamento. E um dos participantes estava tão entediado que ministrou 18 choques em si mesmo. Como dizia o filósofo Blaise Pascal (1623-1662), nos aprofundar em nossas questões mais íntimas (como a mortalidade e a ignorância) é tão doloroso para os seres humanos que preferimos fugir desses assuntos – e de nós mesmos.
No fundo, os choques e a conexão constante não são tão diferentes. São apenas maneiras de escapar. No livro Silêncio – Na Era do Ruído, de Erling Kagge, escritor norueguês e explorador que caminhou sozinho pelos dois polos do planeta e escalou o monte Evereste. Ele escreve: “É fácil pensar que o mais importante, a essência da tecnologia, é justamente o aspecto tecnológico, mas essa é uma concepção equivocada. A questão é saber como somos transformados pela tecnologia que usamos, o que pretendemos aprender, qual é nossa relação com a natureza, com as pessoas que amamos, com o tempo que investimos e com a liberdade da qual abrimos mão em nome da tecnologia (…) O segredo é se afastar. Você pode encontrar seu polo sul particular”. É só achar significado no que realmente tem significado – nossa humanidade. E ela não está atrás de uma tela, mas nas relações que estabelecemos com o que importa: um texto que nos faz pensar, uma conversa profunda com um colega de trabalho, uma experiência que transforma nossa percepção. No convívio com as máquinas, ganha quem se mostra mais humano.
DATA-CELULAR
Quase todos os profissionais trabalharam durante as férias usando o smartphone. É o que mostra a pesquisa exclusiva feita pela consultoria de recrutamento Talenses, que entrevistou 620 pessoas no país. Alexandre Benedetti, diretor da divisão de recursos humanos da Talenses, alerta: “É preciso encontrar o equilíbrio. Quando você fica altamente dependente da ferramenta, isso afeta sua gestão do tempo”. Veja os resultados:
DETOX DIGITAL
Estratégias para diminuir o tempo que você passa online
1. PROTEJA O QUARTO
O brilho de uma tela tem a mesma tonalidade azul do sol nascente, o que faz com que o cérebro entenda que é hora de parar de liberar melatonina, – hormônio que ajuda no sono, para o corpo acordar. Por isso, levar um dispositivo móvel para a cama é tão prejudicial. Colocar um filtro de diminuição do brilho não é a solução – porque você pode começar a navegar e estimular seu cérebro de outra maneira. Compre um despertador e deixe o quarto no escuro.
2. CRIE MOMENTOS DE LIBERDADE
Agende horários de desconexão. Se gosta de praticar esportes, comece a fazer exercícios sem levar os gadgets, ou aproveite o caminho de casa até o trabalho para ler um livro de papel. Amplie esses momentos e tente ficar a maior parte do fim de semana sem utilizar os aplicativos que mais lhe causam ansiedade e estresse. Assim, você estará energizado na segunda-feira.
3. ESTABELEÇA REGRAS DE CONEXÃO
Ao criar uma rotina de horários para usar e-mail, WhatsApp e redes sociais, você se policia para não ficar online sempre. Combine com colegas, chefes e clientes em quais momentos estará disponível. é possível programar respostas automáticas com os horários em que você irá responder às solicitações. em reuniões, deixar o celular e o notebook fora da sala ajuda a ter mais foco nas discussões – experimente algumas vezes.
4. SEJA EDUCADO
Em inglês, existe uma expressão para quando alguém não presta atenção na outra pessoa porque está olhando o celular: phubbing, junção das palavras phone (telefone) e Snubbing (esnobar). A maioria dos indivíduos já vivenciou essa situação – que é péssima em qualquer momento, principalmente no trabalho, pois demonstra falta de consideração com os demais. A desconexão começa nas pequenas atitudes.
5. ENVOLVA AS PESSOAS PRÓXIMAS
Fugir da tecnologia é complicado porque ela está em praticamente todos os lugares. Por isso, convide quem está perto de você para praticar a desconexão. Num jantar com os amigos, sugira que todos deixem o celular dentro de uma bolsa, longe dos olhos, e simplesmente conversem. No fim de semana com a família, faça programas que não exijam internet, como passear no parque (sem caçar pokemons) ou cozinhar.
DISCUTINDO A RELAÇÃO
Uma pesquisa da consultoria Deloitte feita com 2.000 brasileiros mostra o que as pessoas pensam sobre o uso dos dispositivos móveis
Estima-se que uma em cada cem pessoas seja um psicopata. Porém, não é fácil identificar um deles apenas pela observação, já que costumam ser mestres da manipulação e ótimos em imitar o comportamento humano normal. Mas o que é que se passa no cérebro deles? Será que é tão diferente do restante da população?
CÉREBRO DIFERENTE
A psicopatia é uma doença causada por uma anomalia orgânica no cérebro, e que costuma estar associada ao transtorno de personalidade antissocial. Clinicamente, os psicopatas são definidos como indivíduos com altos índices de falta de empatia, culpa e remorso. “O neurocientista da Universidade do Novo México, Kent Kiehl, estudou o cérebro dos psicopatas e constatou que possui níveis pequenos de densidade no sistema límbico. Esse sistema é formado por várias partes, entre elas a amígdala e o hipotálamo, e é responsável pelo processamento das emoções. Esta falta de emoções e um comportamento antissocial é uma construção, ou melhor, uma desconstrução do afeto desde a infância e tende a ser mais evidente na adolescência”, conta o psicólogo Breno Rosostolato.
A amígdala é uma parte do cérebro humano que está envolvida no condicionamento aversivo e na aprendizagem instrumental por punição e recompensa, por exemplo, além da resposta ao medo e a expressões faciais tristes. “Assim, sugere-se que a disfunção da amígdala é um dos mecanismos centrais envolvidos na patologia da psicopatia. Alguns estudos evidenciaram redução do volume da amígdala em indivíduos com escores elevados para psicopatia, o que torna essa hipótese ainda mais provável”, conclui a neurologista Marcela Amaral Avelino.
Vários estudos de neuroimagem têm investigado como os cérebros dos indivíduos com altos níveis de traços psicopáticos podem ser diferentes dos cérebros de pessoas normais ou ainda dos cérebros de quem tem comportamento antissocial, mas não comportamento psicopáticos. Marcela afirma ainda que as evidências mais recentes mostraram que os indivíduos com psicopatia podem apresentar uma atividade reduzida também na porção anterior da ínsula: “Em relação a presidiários não psicopatas, o cérebro de psicopatas exibiu áreas distintas de significativo afilamento do córtex cerebral. A área de maior diferença de espessura cortical foi a ínsula esquerda. Esta constatação está bem alinhada com os resultados de um estudo recente mostrando que criminosos violentos exibem reduções de volume de substância cinzenta especificamente na insula anterior esquerda (em relação aos não infratores pareados por abuso de substâncias) e que a gravidade da psicopatia está correlacionada com o volume da ínsula esquerda”. As pesquisas dão pistas sobre porque os indivíduos com altos níveis de traços psicopáticos não planejam com antecedência, têm decisões impulsivas, e parecem ser tão impulsionados pelo potencial de recompensa imediata a si mesmos.
O cérebro de um psicopata apresenta ainda um déficit de funcionamento do sistema orbito-frontal, responsável por processar emoções humanas como a empatia, a solidariedade e o amor. Em uma imagem de PETScan, esta região se mostra azul, o que quer dizer pouca ou nenhuma atividade. “Um psicopata tem a mesma reação diante da imagem de um campo florido com pôr do sol e uma criança sendo torturada, ou seja, nenhuma. Por isso não funciona em um psicopata um detector de mentiras. Ele não apresenta reação normal de um ser humano ao mentir”, finaliza a psicanalista Júlia Bárány.
NADA DE APRENDER COM OS ERROS
A inabilidade de um psicopata em aprender com transgressões está enraizada na estrutura de seus cérebros. Um estudo conduzido por Sheilagh Hodgins, da Universidade de Montreal, no Canadá, e por Nigel Blackwood, do King’s College de Londres, na Inglaterra, mostrou que criminosos violentos e psicopatas não processam punição da mesma forma que as outras pessoas costumam processar, tudo isso por causa de anormalidades em partes do cérebro associadas à culpa e a aprender com os erros.
Um em cada cinco criminosos violentos é um psicopata, e eles apresentam uma taxa bem mais alta de reincidência e de repetir comportamentos passados, não se beneficiando, assim, de programa de reabilitação. Para os estudos, os cientistas fizeram ressonância magnética em criminosos violentos em liberdade condicional no Reino Unido, condenados por estupros, assassinato, tentativa de assassinato e dano corporal. Todos os participantes eram do sexo masculino, 32 dele tinham transtorno de personalidade antissocial e, destes, 12 também eram psicopatas. Além disso, também foram analisados 18 não-criminosos saudáveis.
Durante tarefas neuropsicológicas, os criminosos violentos não foram capazes de aprender com punição, de mudar seu comportamento diante de eventualidades e ainda tomaram decisões de menor qualidade, mesmo após períodos mais longos de deliberação. O estudo também revelou reduções de massa cinzenta em partes dos cérebros dos psicopatas associadas à empatia, vergonha e culpa, além de anormalidades na massa branca de áreas ligadas à aprendizagem com punição e recompensa. A conclusão é que os criminosos psicopatas consideram apenas as consequências positivas de suas ações, deixando de lado as negativas. E, se eles não aprendem com os erros, fica difícil mudar o comportamento.
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