EU ACHO …

CAIU NAS REDES …

A exclusão de Donald Trump do Twitter e de outras plataformas é um bom ou um mau sinal?

Em um texto muito difundido entre a extrema-direita norte-americana, The Dark Enlightemment, escrito pelo filósofo inglês Nick Land, é reproduzida a seguinte frase de um dos apoiadores de Donald Trump, o fundador do Pay-Pal, Peter Thiel: “Não acredito mais que liberdade e democracia sejam compatíveis”. Desde a primeira campanha eleitoral, Trump parece ter seguido esse ditame, conseguindo articular a extrema-direita em seu apoio, lançando nas redes digitais toda a sorte de desinformação, da simples mentira à descontextualização de fatos. Após perder as eleições de 2020, tentou golpear a democracia.

Com pronunciamentos que visavam mobilizar suas hordas radicais, da supremacia branca aos ativos militantes do 4chan, acusou sem evidências, sem provas, que sua derrota não teria sido legítima, que ela ocorreu devido a uma fraude eleitoral.

Trump praticou diversos crimes durante a sua gestão. O que gerou uma fracassada tentativa de impeachment. Ao perder as eleições, amplificou seus ataques à democracia. Inflamou seus partidários, conclamou sua base para agir.

Suas atitudes culminaram com a invasão do Capitólio. Em seguida, foi bloqueado em algumas redes sociais on-line. Logo, gente comprometida com a defesa da democracia aplaudiu as plataformas de relacionamento que adotaram essa postura. Diante da ausência de ação das autoridades judiciárias, cabia ao Twitter o bloqueio da conta do presidente.

O episódio articulou diversos elementos bem problemáticos. O primeiro foi a inação do Ministério Público, que não agiu como deveria diante do ataque frontal à Constituição. Segundo, nos Estados Unidos, o bloqueio de expressões públicas, mesmo a de grupos como a Ku Klux Klan, é demasiadamente controverso.

Terceiro, a censura privada é bem mais tolerada, principalmente a executada pelas plataformas de relacionamento, autointituladas redes sociais. Quarto, existe uma crença amplamente disseminada da neutralidade política e ideológica das plataformas.

A transferência da defesa da democracia e de decisões que deveriam caber ao Poder Judiciário para as estruturas privadas tem como efeito colateral o fortalecimento do arbítrio e do poder privado sobre o interesse social. Alguns leitores e leitoras poderiam afirmar: as redes sociais são espaços privados e podem bloquear quem elas quiserem. Aí está um dos maiores equívocos. As plataformas de relacionamento social colocam-se como espaços públicos e fazem de tudo para atrair as conversas do cotidiano para o seu interior. Dessa prática retiram os lucros. São estruturas privadas, verticalizadas, que se colocam como espaços digitais nos quais deve ocorrer a conversação social, ampla e particular.

Nenhum debate e nenhuma campanha massiva, política, cultural ou comercial podem ser bem-sucedidos, hoje, sem interações nessas redes de relacionamentos sociais. Nelas ocorrem as principais inter-relações no cenário digital, na internet. Repare que, no início de 2020, o Facebook ultrapassou o total de 2 bilhões de usuários, o YouTube transpôs a marca do 1,9 bilhão, o WhatsApp chegou a 1,5 bilhão, o Instagram atingiu 1 bilhão e o Twitter suplantou 326 milhões de inscritos.

O grande número de usuários é o ativo estratégico dessas plataformas, que, na economia da atenção, as torna indispensáveis para o marketing e para a comunicação em geral. Além disso, as plataformas concentram um poder econômico gigantesco e nunca visto. O maior grupo de mídia tradicional do Brasil, a Rede Globo, faturou em 2019, aproximadamente, 14 bilhões de reais, o equivalente a 3,8 bilhões de dólares. No mesmo ano, o faturamento do Twitter, a 15ª rede social em número de usuários do mundo, foi de 3,4 bilhões. O faturamento do Grupo Alphabet, controlador do Google e do YouTube, atingiu 161,8 bilhões de dólares. O Facebook e suas empresas, que incluem o WhatsApp e o Instagram, faturaram 70,7 bilhões. A soma do faturamento unicamente dessas duas corporações perfaz a quantia de 232,5 bilhões de dólares. É importante ressaltar que a receita das cinco grandes plataformas norte-americanas (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft), no mesmo ano, atingiu 899,093 bilhões de dólares. Mas, o que isso representa na economia mundial?

Para responder à questão, vou comparar a soma do faturamento dos grupos Alphabet e Facebook com o PIB de alguns países. Em 2019, o Brasil teve um Produto Interno Bruto de 1,83 trilhão de dólares. A receita das duas plataformas no mesmo ano correspondia a 12,6% do PIB brasileiro. Equivalia a 52,2% do PIB da       Argentina., 71,8% do PIB da Colômbia, 82,3% do PIB do Chile, mais que cinco vezes o PIB da Bolívia e quatro daquele do Uruguai. Para que a comparação não fique apenas na América do Sul, o faturamento dos grupos Alphabet e Facebook atingiu, em 2019, a dimensão de 97,3% do PIB de Portugal.

A concentração de poder econômico nessa escala e a importância que possuem na comunicação cotidiana de bilhões de indivíduos no planeta tornaram as plataformas um evidente problema para as democracias. Elas não podem se tornar um Poder Judiciário privado e passar a julgar o que faz bem ou mal para as sociedades nem podem estar acima das legislações democráticas. Outro grave problema é a coleta permanente de dados de seus usuários. As plataformas concentram as interações nas redes, por isso são fontes privilegiadas de rastreamento do comportamento online. As operações nas plataformas são realizadas por sistemas algorítmicos projetados para monetizar as interações e vender perfis dos usuários em amostras para quem tem dinheiro a oferecer. O Google possui um registro gigantesco de dados pessoais de milhões de usuários. O Facebook, do mesmo modo, tem dados das preferências e das vontades de diversas conversas realizadas por milhões de seres humanos. Desse modo, as plataformas alimentam seus algoritmos de aprendizado de máquina com a finalidade de extrair padrões de consumo e de comportamento. Por isso concentram a maior parte da publicidade de diversos países.

Nesse cenário, em que plataformas operadas por sistemas de algoritmos opacos têm o poder de controlar os conteúdos que os usuários podem ver, que podem reduzir a visualização de adversários enquanto aumentam a circulação de postagens e vídeos de aliados, temos uma esfera pública obscurecida. Assim, não concordo com a remoção e o bloqueio de conteúdos sem a devida ordem judicial. Mais que isso, está na hora de reivindicarmos uma legislação de supervisão das plataformas pela sociedade civil. Precisamos de um conselho com a participação de entidades dos diversos segmentos que possam auditá-las. Sabemos que nas plataformas o poder econômico tem primazia, pois pode escolher os segmentos e os microssegmentos atingidos por suas mensagens. A sociedade precisa lançar luz na obscura operação das plataformas.

***SÉRGIO AMADEU DA SILVEIRA – é sociólogo, professor da Universidade Federal do ABC, pesquisador de redes digitais e criador do podcast Tecnopolítica.

OUTROS OLHARES

ELES QUEREM MAIS

Com resultados surpreendentes durante a pandemia, os gigantes da tecnologia expandem seus tentáculos por setores cruciais, como o de saúde

Em meio à hecatombe que atingiu a economia global com a pandemia de Covid-19, não deixam de impressionar a força e a vitalidade que os gigantes da tecnologia vêm mostrando durante a crise, mesmo considerando-se que pessoas em todo o planeta têm usado como nunca seus serviços. Enquanto CEOs dividem seu tempo entre implorar dinheiro dos governos para não ir à bancarrota e decidir quantos empregos vão cortar, o dono da Amazon, Jeff Bezos, anunciou que a empresa fez 175.000 contratações só em março e espera lucrar mais de 6,5 bilhões no primeiro semestre do ano. Facebook, Apple e Microsoft também apresentaram uma saúde financeira notável em plena pandemia. Mas mais importante que o lucro de hoje é o que fazer com ele amanhã: as chamadas big techs, todas com valor de mercado na casa de 1 trilhão de dólares, querem fincar raízes em áreas cruciais como saúde, educação e defesa. “Elas não têm tantas opções para onde crescer, e há muita gente querendo justamente seu desmembramento em empresas menores”, afirma Scott Galloway, autor do livro Os Quatro: Apple, Amazon, Facebook e Google, o Segredo dos Gigantes da Tecnologia. “Essas companhias não podem se contentar em caçar ratos. Elas precisam capturar elefantes”.

E atrás dos elefantes elas vão. Sob a orientação de Bill Gates, que deixou o dia a dia da empresa, mas segue sendo seu maior acionista, a Microsoft havia criado, em janeiro, a iniciativa AI for Health (IA para a Saúde, em português), com foco no uso de inteligência artificial no setor. Com a expansão da pandemia, o projeto foi rapidamente alinhado ao esforço pela busca de uma vacina contra o coronavírus. O Facebook contribui para a mitigação dos efeitos da crise sanitária global com seu projeto Data for Good (Dados para o Bem, em português). Apple e Google estão trabalhando no desenvolvimento de um sistema para o rastreamento de pacientes infectados. Cientes do receio de governos e cidadãos pela quebra da privacidade, já anunciaram que não se valerão de GPS, mas do uso anônimo do Bluetooth dos smartphones.

O desejo do Google e da Apple de se estabelecer no ramo de saúde é antigo. O gigante das buscas na internet toca um projeto chamado Nightingale, em parceria com um dos maiores planos de saúde americanos, para procurar padrões e tendências – e, é claro, oportunidades de negócio – nos dados dos pacientes. E, para não depender apenas de informações repassadas por terceiros, comprou em novembro último – por 2,1 bilhões de dólares – a Fitbit, pioneira na produção dos relógios inteligentes que medem a atividade física, batimentos cardíacos e a qualidade do sono. O mamute fundado por Steve Jobs, por sua vez, já se protege da perda de lucratividade no mercado de smartphones justamente com seu Apple Watch. “Se, no futuro, alguém se perguntar qual a maior contribuição da Apple para a humanidade, dirá que foi no campo da saúde”, afirmou recentemente em entrevista o presidente da empresa, Tim Cook.

No campo da educação, o Google trava com a Microsoft uma corrida pela massificação do ensino a distância por meio da internet. A empresa sediada em Mountain View, de Larry Page e Sergey Brin, porém, está à frente da rival nessa disputa que se estende por todo o planeta. O Google Classroom (Google Sala de Aula, no Brasil), sistema para criar, distribuir e avaliar conteúdo didático para os alunos, dobrou seu número de usuários, de 50 milhões para 100 milhões, entre março e abril, em um efeito decorrente do isolamento social imposto pela Covid-19.

Dado seu tamanho, dificilmente as big techs são desafiadas por concorrentes. Em meio a quarentenas e lockdowns por todo o mundo, o Zoom, aplicativo que permite a realização de videoconferências com várias pessoas ao mesmo tempo, conseguiu uma rara brecha ao se popularizar da noite para o dia. O feito, entretanto, não durou muito tempo. O Facebook já lançou o Messenger Rooms para avançar sobre esse mercado, oferecendo mais robustez e confiabilidade na conexão. Google e Microsoft, por sua vez, deixaram de cobrar pelo uso de suas ferramentas de videoconferência Meet e Teams.

Medir as empresas de tecnologia pela régua das quatro big techs é um erro, e se ilude quem busca uma fórmula para apontar quem tem mais chance de ir bem ou mal na atual debacle. Uma hipótese é que os serviços 100% digitais têm melhor performance que os de companhias com um pé no mundo físico. Isso explicaria porque a Netflix dobrou sua base de usuários em apenas dois meses, enquanto Airbnb e Uber perderam o chão. O raciocínio desmonta com a Tesla. Ainda são questionáveis os motivos que levaram a empresa de automóveis elétricos a ter uma valorização surpreendente – o.k., estamos em meio à queda no preço do petróleo, mas mesmo assim… Tanto que até seu excêntrico fundador, Elon Musk, tuitou que as ações estavam sobrevalorizadas. Obviamente, o ataque de sincericídio derrubou o valor dos papéis em 10%. E comprovou que, embora o Vale do Silício seja pródigo em indicar para onde o mundo vai no futuro, seus gênios às vezes passam do ponto.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 31 DE JANEIRO

A BOCA DO JUSTO, FONTE DE SABEDORIA

A boca do justo produz sabedoria, mas a língua da perversidade será desarraigada. Os lábios do justo sabem o que agrada, mas a boca dos perversos, somente o mal (Provérbios 10.31,32).

A boca do justo é uma fonte de vida; a do perverso, uma cova de morte. Quando o justo abre a boca, jorra a sabedoria como água fresca para o sedento; quando o perverso fala, sua língua é fogo que destrói e veneno que aniquila. A sabedoria do justo leva os homens a olharem para a vida com os olhos de Deus, a sentirem com o coração de Deus e a agirem para a glória de Deus. A maldade do perverso, ao contrário, afasta os homens de Deus e os seduz para um caminho de transgressão, cujo paradeiro final é a morte. A língua é como o leme de um navio: pode conduzi-lo em segurança para o seu destino, ou pode direcioná-lo para as rochas submersas e provocar um grande naufrágio. A língua do justo é manancial perene de sabedoria; por meio dela, os homens aprendem os caminhos da vida. Porém, a língua do perverso, que será desarraigada, maquina o mal, e toda a sua instrução produz incredulidade, rebeldia e desastre. Precisamos falar aquilo que exalta a Deus, edifica os homens e promove o bem. Nossa língua deve ser um manancial de sabedoria, e não um instrumento de iniquidade; um bálsamo do céu para os aflitos, e não um chicote de tortura para os abatidos.

GESTÃO E CARREIRA

A CASA DOS COWORKINGS CAIU?

As medidas de isolamento atingiram em cheio os escritórios compartilhados. Muitos deixaram de existir, outros tiveram de cortar o cafezinho para sobreviver. Mas os que aguentaram as pontas até agora têm tudo para renascer mais fortes.

Em 2005, o programador norte-americano Brad Neuberg vivia um dilema comum de muitos profissionais que deixam a vida de 8h às 17h para trás e se tornam freelancers. Embora gostasse da liberdade do home office, ele sentia falta do contato diário com outras pessoas (alô, quarenteners). Para resolver esse problema, então, ele teve uma ideia inusitada: convidar alguns amigos para dividir o aluguel de um apartamento em São Francisco, berço das empresas de tecnologia. Outras pessoas ficaram sabendo, gostaram da ideia e passaram a pagar a Brad para trabalhar em seu espaço, que ganhou um nome: Hat Factory. O americano ainda não sabia, mas estava criando um modelo de negócio milionário, que ganharia o mundo na década seguinte.

A proposta de ambientes modernos, com internet à vontade, boa localização e contratos flexíveis de aluguel, ou seja, prazos menores e sem cobrança de multas enormes no caso de distratos, caiu no gosto das startups. E com um empurrãozinho da crise financeira de 2008, que popularizou a chamada economia compartilhada, logo virou febre também entre gigantes, como Microsoft, IBM e HSBC.

De lá para cá, o setor disparou e originou grandes redes globais, como a WeWork e a Spaces. Segundo dados do Coworking Brasil, uma espécie de QuintoAndar de escritórios compartilhados, em 2019 existiam 1.497 negócios do tipo no Brasil. De acordo com a consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, os coworkings saltaram de 53 mil m2 ocupados, em 2015 por aqui, para 354 mil m2 no ano passado. A previsão era de um aumento de 20 mil m2 no território dessas empresas neste ano. Era, porque isso é passado.

Se anos atrás uma crise ajudou a alavancar os coworkings, hoje outro revés econômico coloca à prova o modelo de negócio dessas empresas. A pandemia, que colocou boa parte da força de trabalho em home office na marra, atingiu em cheio os coworkings. Enquanto autoridades de saúde orientavam evitar escritórios, e home office virou norma, os coworkings assistiam suas finanças derreterem. Em julho, segundo um estudo do Coworking Brasil, 90% dos negócios do ramo haviam perdido mais de 15% da receita. Destes, 40% tiveram prejuízo de mais de 75% nos três meses anteriores e 23 espaços faliram de vez. “Foi um setor muito atingido pela pandemia. Cada uma em seu nível, tanto as gigantes como as pequenas tiveram de adotar atitudes para passar por esse momento”, diz Adriano Sartori, vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP).

NEM O CAFEZINHO ESCAPOU.

 Para sobreviver à crise, todas as empresas de coworking ouvidas nesta reportagem tiveram de reduzir drasticamente suas despesas. Além de suspender jornadas e salários de funcionários e renegociar contratos, também abdicaram de algumas benesses famosas nesses escritórios, como frutas, snacks, garrafinhas de água – e até, vejam só, o cafezinho. A Co.W Cowork:ing, rede de escritórios criada em 2015 na cidade de Joinville (SC), foi do céu ao inferno em poucos dias. Com seis unidades em São Paulo e duas na cidade catarinense, em março a empresa havia aumentado o faturamento em 25% acima do esperado. Mas a chegada da quarentena, em abril, mudou tudo. A taxa de ocupação dos escritórios caiu de 70% ao mês, em média, para menos de 20%. “O respiro foram as empresas de serviços essenciais que continuaram no local”, afirma Renato Auriemo, sócio-diretor do Co.W.

Mas só a receita desses clientes não bancava o negócio. Por isso, a Co.W montou um comitê de crise para analisar possíveis cenários. “Fizemos um planejamento financeiro até dezembro de 2021 para que, mesmo com uma perspectiva ruim no médio prazo, pudéssemos manter os empregos e a operação”, diz Renato. A solução foi negociar descontos com os clientes para não perder a carteira e pausar reformas e outras melhorias no prédio – só escaparam os serviços de manutenção e limpeza.

O Penal Creative, espaço compartilhado com capacidade para 50 pessoas, localizado em Curitiba, também teve de cortar na carne. Além de cancelar o serviço de limpeza, que era terceirizado, e renegociar o contrato do imóvel alugado, também demitiu dois dos cinco funcionários. “Foram medidas difíceis, mas necessárias. Do contrário, não teríamos sustentabilidade para encarar esse período”, conta Diego Costi, fundador do espaço.

Outra saída foi se reinventar. Já que a demanda por lugares em que funcionários pudessem trabalhar fisicamente caiu, eles apostaram na oferta de escritórios virtuais. “Passamos a alugar endereços fiscais e comerciais para pequenas empresas. O Penal Creative fica responsável por gerir os serviços de correspondência, entregas, ligações e pagamentos nessa modalidade de contratação”, afirma Diego. Atualmente, cerca de 50 empresas são clientes à distância do espaço.

RACHADURAS VISÍVEIS

Se empresas que estavam crescendo enfrentam dificuldades, imagine aquelas que já não iam muito bem. Entre elas está o WeWork, umas das maiores redes de coworking do mundo – e aqui a crise merece um capítulo à parte.

Desde que surgiu, em 2010, nos EUA, a startup teve um crescimento meteórico. Seu ambiente foi incensado durante anos como o futuro do trabalho, principalmente por oferecer algo que se tornou o carro-chefe dos escritórios compartilhados: o networking. Com happy hours semanais com suprimento infinito de mimosa (espumante com suco de laranja), seus espaços eram vistos como os lugares ideais para quem quisesse encontrar um parceiro de negócios dentro do próprio prédio onde trabalha.

A empresa logo atraiu atenção dos investidores, captando US$ 8,6 bilhões de empresas como o conglomerado japonês Softbank. O hype era tanto que, em 2019, o WeWork tinha um valor de mercado avaliado em US$ 47 bilhões, quarto maior do mundo entre startups. Sua estreia na bolsa de valores era dada como certa. Segundo o Morgan Stanley, um possível IPO da empresa faria com que ela passasse a valer US$ 104 bilhões. Mas, antes que botasse os pés em Wall Street, o reinado do WeWork caiu por terra. Em agosto de 2019 começaram a pipocar diversos escândalos sobre Adam Neumann, CEO e cofundador da empresa. O mais cabeludo deles foi o seguinte: Adam montou uma construtora em seu nome e passou a levantar edifícios para alugá-los para a WeWork, às vezes com empréstimos que ele adquiriu com a empresa – um baita conflito de interesses já que ele, como CEO, tinha a palavra final sobre quais edifícios alugar, e a quem a companhia poderia emprestar dinheiro.

Pior. Papéis apresentados para a CVM dos EUA, na ocasião do IPO, indicavam que a rede vinha acumulando prejuízos ano após ano. Só em 2018, o WeWork havia perdido cerca de R$ 1,6 bilhão em receita. As revelações deixaram os investidores ressabiados e levantaram dúvidas sobre a má governança do CEO. Poucos meses depois, Adam foi pressionado a abandonar o comando da empresa. Mas aí o estrago já estava feito. O jeito, então, foi correr atrás do prejuízo. No final de 2019, a empresa demitiu 2.400 pessoas que atuavam nas 843 unidades espalhadas pelo mundo. Também vendeu alguns dos negócios, como a empresa de gestão de escritórios Managed by Q.

Com a pandemia, o que era ruim piorou – inclusive porque, em abril de 2020, o SoftBank deu para trás de uma nova rodada de investimentos no valor de US$ 3 bilhões, alegando não cumprimento de contrato pelo WeWork. Resultado: unidades fechadas em diversos países – incluindo duas das 33 que a empresa mantinha no Brasil até o início do ano. “Desde 2019, a empresa está em um processo de adequação financeira no mundo todo com foco em se tornar mais rentável”, afirma Lucas Mendes, diretor geral do WeWork no Brasil.

De acordo com o balanço do segundo trimestre de 2020, de abril a junho, 81 mil clientes deixaram os escritórios da empresa. E, claro, o WeWork foi uma das redes que precisou renegociar contratos com proprietários de imóveis para não ir para o buraco. Mesmo diante do cenário difícil, porém, a rede tem esperanças de recuperar o passado glorioso. “A pandemia acelerou o conceito de flexibilidade. Empresas e pessoas estão interessadas em novos modelos de trabalho e, por isso, já estamos de olho em novas ofertas de serviços”, diz Lucas. Ele cita a iniciativa batizada de all access, em que, com uma assinatura, os clientes do WeWork podem acessar todas as unidades da rede, inclusive as internacionais.

LUZ NO FIM DO TÚNEL

Com o afrouxamento da quarentena em diversas regiões do Brasil, muitos escritórios compartilhados estão voltando às atividades e revertendo parte do prejuízo. De acordo com o mesmo estudo do Coworking Brasil, em abril, 73% dos escritórios estavam parcialmente ou completamente fechados. Em julho, o número caiu para 43%. Para Fernando Aguirre, cofundador da plataforma, o pior já passou. “Os coworkings que conseguiram chegar até aqui provavelmente não quebram mais. Agora já estão mais planejados e organizados para avançar”, diz.

Mas, se o auge da crise ficou para trás, isso não quer dizer que as coisas tenham voltado aos patamares de antes do coronavírus. Primeiro, porque muitas pessoas ainda estão receosas em retornar aos escritórios enquanto não houver uma vacina. Segundo que, para voltar com as atividades presenciais, as empresas de coworking estão tendo de investir pesado para garantir a segurança e diminuir o risco de contágio.

A GoWork, maior rede fundada no Brasil, com 15 unidades, gastou R$ 1 milhão em divisórias de acrílico, reforço na higienização dos ambientes e equipamentos de filtragem do ar-condicionado. O esforço valeu a pena. A procura por locação dos espaços da rede no mês de agosto foi a maior dos últimos 12 meses. “Novos perfis também estão aparecendo. Antes, cerca de 85% dos clientes eram da área de tecnologia. Agora existe uma procura por bancos, consultorias e escritórios de direito”, diz Fernando Bottura, CEO da GoWork. Mas a verdade é que a rede, focada no aluguel de andares inteiros, e que possui clientes como Rappi, Nextel e Grupo Globo, atravessou a crise de forma mais tranquila. “Cerca de 80% dos nossos clientes não cancelaram os contratos, alguns diminuíram postos ocupados, mas nada drástico”, diz Fernando.

Quem não tem tanto poderio acaba recorrendo a parcerias para continuar relevante. O Co.W, que tinha seis unidades, se juntou com outra rede, o ON Offices, para abrir mais duas em São Paulo. “Nosso objetivo é aumentar as opções regionais da marca. Neste momento é preciso juntar forças”, afirma Renato, diretor do Co.W. Além disso, a rede reformou outros dois escritórios, também em São Paulo. Estes últimos foram equipados para a produção de vídeos. Como resultado, a empresa recuperou 55% do faturamento de antes da pandemia.

Adriano, do Secovi-SP, salienta que a demanda de verdade chegará com a vacina – assim como em outros setores. Mas, até lá, os coworkings não devem sumir do mapa. “É um modelo de negócio que funciona. Não é preciso se preocupar em montar um escritório, nesses espaços vem tudo pronto. Fora que possibilita algo que o brasileiro gosta muito: contato humano”, afirma. Fernando Aguirre, do Coworking Brasil, compartilha da mesma visão. “O networking sempre foi um diferencial muito importante no negócio. Coworkings que conseguiram desenvolver comunidades se destacaram agora”, diz.

Este foi ó caso do O Penal Creative, por exemplo. No mês de setembro, cerca de dez clientes voltaram a ocupar o espaço diariamente depois que o fundador da empresa, Diego Costi, conversou diretamente com eles para informar as medidas de segurança, como sanitização dos espaços e distanciamento entre as mesas. “Também mantive o contato com os clientes durante todo o tempo, realizando consultorias e pesquisas”, diz ele.

COMO SERÁ O AMANHÃ

A consultoria Cushman & Wakefield destaca que haverá um aumento na demanda de escritórios compartilhados por profissionais individuais. A lógica é simples: de um lado, algumas empresas estão decretando home office de forma definitiva. Do outro, muitas pessoas que estão trabalhando em casa não possuem espaços ou equipamentos adequados para manter a produtividade no teletrabalho. É filho chorando, vizinho fazendo obra, cachorro, aquele “Olha o gás!” na hora do Zoom… Logo, a demanda por coworkings tende a subir agora que “todo mundo é frila”, mesmo que tenha carteira assinada. Outra possibilidade é explorar novos nichos. Começam a surgir coworkings que não são escritórios, mas cozinhas (para restaurante que só faz delivery) ou consultórios médicos. “Em comparação com os escritórios tradicionais, os coworkings ainda alcançam um público pequeno. É possível expandir para diversos outros setores e se especializar em certos públicos”, diz Adriano, do Secovi-SP.

Não são só os coworkings, claro. Todos os negócios de economia compartilhada estão sofrendo com a crise do coronavírus – caso do Air­ bnb e do Uber, símbolos da proposta de ter menos e dividir mais. Compartilhar qualquer coisa, afinal, virou sinônimo de contágio. Mas esse período foi um soluço. Quando a vacina chegar, a compartilhada será novamente a mais promissora das economias. E os coworkings voltarão para o futuro – o futuro brilhante que têm pela frente.

TEM PARA TODO GOSTO

Os coworkings apostam em nichos para sobreviver à crise.

O GASTRONÔMICO

Dark kitchens ou cloud kitchens são cozinhas compartilhadas, solução para empreendedores gastronômicos que não querem arcar com os custos de um espaço para receber clientes e preferem atender só por delivery. Até outro dia, o conceito era restrito a pizzarias, basicamente. Com a pandemia, se espalhou para todo o mercado de refeições. O maior exemplo no Brasil é a empresa Steam Cloud Kitchen do grupo Suprainvest, que, no início deste ano, anunciou um investimento de R$ 30 milhões para a construção de 30 espaços desse tipo nos próximos cinco anos.

O DE SAÚDE

O conceito do coworking de consultórios é o mesmo dos escritórios: aluguel de um espaço por horários específicos para uso em atendimentos, com flexibilidade de agenda e de localização. Focado em médicos, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, empresas como a Livance e Buratto Consultórios exploram o modelo.

O INFANTIL

Iniciativa do centro de educação Espaço Criançar, do Recife, o empreendimento conta com berçário e creche para crianças de até 4 anos, além do coworking destinado aos pais. Elaborada durante a quarentena, a solução parece datada a essa altura. Mas não: pode ser uma tendência para pais que curtiram a proximidade com os filhos no isolamento e pretendem continuar dessa forma, mas com profissionais por perto para ajudar. Com 270 m2 o local conta ainda com serviço de “vale night”, em que os filhos podem permanecer, em datas determinadas previamente, também durante o período noturno.

O HOTEL

O serviço hoteleiro está entre os que mais sofrem com a pandemia, você sabe. Uma das alternativas para angariar clientes foi transformar quartos de hotel em espaços de trabalho. Chamado de roam office, ou de hotel office, o serviço permite que pessoas usem os dormitórios para trabalhar por algumas horas. A Accor Hoteis, maior rede de hotéis do país, foi uma das pioneiras no serviço, e alugou quartos dessa forma para cerca de 500 clientes.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FORA DE CONTROLE

A fobia age no inconsciente e pode ser um obstáculo em diversas áreas da vida – algumas que você nem imagina!

O que seria do ser humano se não fosse o seu contato e convívio com o outro? Muitos estudiosos justificam a ascensão da espécie graças à nossa capacidade de nos desenvolver e viver em sociedade. O filósofo grego Aristóteles, por exemplo, credencia esse fato como algo natural aos humanos, já que somos os únicos com consciência do que é certo ou não, do bem ou do mal, além da capacidade de organização. Outros pensadores defendem a ideia de que os homens possuem um “contrato social”, um acordo mútuo para viver em sociedade. De fato, é difícil imaginar o desenvolvimento de um indivíduo que vive isoladamente, fato que pode afetar diversas funções motoras e cognitivas.

No entanto, apesar da importância da convivência social, muitos possuem aversão à maioria dos contatos com outras pessoas e, isso tem um nome: fobia social. Os motivos que levam a esse quadro parecem simples, mas podem causar uma espécie de terror. De acordo com dados norte-americanos e canadenses do início deste século, pelo menos 10% da população mundial sofre com esse mal.

O QUE É FOBIA?

Para muitas pessoas, a definição de fobia pode ser confundida com a de medo. Apesar de haver certa semelhança, o medo está relacionado com o instinto de sobrevivência. “Já a fobia é uma aversão excessiva, exagerada, irracional, persistente em relação a um objeto, animal ou alguma situação que represente pouco ou nenhum perigo real, mas que é sentida como se fosse”, explica o médico Gilberto Katayama. Isso ocorre em uma ocasião específica, que é entendida pela pessoa com o transtorno como uma ameaça terrível. É possível identificar esse tipo de quadro por meio dos comportamentos e recursos apresentados na tentativa de afastar o que causa incômodo. “Para muitas pessoas, torna-se relativamente simples perceber um indivíduo fóbico, porque as suas atitudes se tornam socialmente inadequadas no conceito social no momento em que esse medo extremo se manifesta”, frisa Gilberto.

A AÇÃO NA MENTE

Assim como a maioria dos casos, a fobia tem início por meio dos estímulos captados pelos sentidos. Após isso, as informações são levadas ao cérebro para serem processadas em áreas específicas e especializadas. “O sentimento de medo, por exemplo, é processado inicialmente pelo sistema límbico, mais especificamente pela amígdala. Este sentimento, associado às sensações físicas, será processado pela mente, que buscará atribuir um significado lógico ao que estamos experimentando. Quando o objeto fóbico se faz presente, surgem nossos comportamentos reativos e reações comportamentais de fuga ou desistência”, esclarece Gilberto. Além disso, a memória é outro fator importante nas respostas dos indivíduos. Isto é, ao vivenciar uma situação, o cérebro busca experiências semelhantes como forma de comparação. “A cada estímulo, buscamos na memória, de forma inconsciente, as experiências passadas similares. E estas bagagens se apresentam como memórias vivas, ou seja, vêm acompanhadas das sensações, sentimentos e pensamentos”, complementa Gilberto. Com isso, de maneira inconsciente, a mente soma as lembranças antigas com as novas a cada situação vivida, as deixando disponíveis para experiências futuras.

OBSTÁCULO SOCIAL

Asfobias interferem em diversos aspectos do dia a dia e, entre as principais, está a questão da convivência com o mundo ao redor. “Fobia social é um transtorno de ansiedade que se caracteriza pelo desconforto e pela esquiva de situações sociais e de desempenho”, descreve o psiquiatra Tito Paes. Dessa forma, a relação interpessoal do indivíduo sofre com um tipo de bloqueio, interferindo no seu dia a dia.

Ir a festas, construir um relacionamento, participar de reuniões, falar em público… Tudo isso parece muito distante das pessoas que sofrem com esse temor. Segundo Tito, isso ocorre porque há “um receio de ser avaliado negativamente pelas pessoas nas situações sociais e de desempenho”.

A ORIGEM

Mas, de onde vem essa preocupação que impede o indivíduo de viver e conviver em sociedade? Apesar de não existir nenhuma comprovação científica, alguns estudos apresentaram hipóteses para a origem desse quadro. “As causas da fobia social ainda não estão bem elucidadas. Admite-se que um componente genético tenha um papel na eclosão desta fobia. Uma vulnerabilidade biológica maior para manifestação de sintomas de ansiedade na infância pode contribuir para o surgimento dos sintomas”, alerta Tito.

Contudo, o psiquiatra ressalta que o fator familiar é outro possível de desencadeante e merece um cuidado a mais – principalmente a relação entre pais e filhos e o incentivo ao contato com outras pessoas. “O ambiente em que a criança foi criada também pode exercer uma influência importante. Assim, é possível que ela adquira a falta de interesse dos pais pela vida social. Em alguns casos, os responsáveis podem desencorajar seus filhos de terem vida social”, explica Tito.

Além disso, alguns pais dão muita ênfase a opiniões alheias e isso afeta na maneira de agir dos filhos, que podem se preocupar demais com o que os outros pensam. Há também os indivíduos que enfrentam longos períodos de isolamento, como em caso de doenças, dificultando o desenvolvimento de suas habilidades sociais.

O CORPO FALA

Esse medo em demasia gera diversos sintomas por todo o corpo da pessoa. Isso ocorre porque o cérebro se apronta e prepara o físico para encarar uma situação de perigo. “É provocada uma liberação de hormônios que informam a pessoa que eia irá enfrentar uma luta ou uma possível fuga”, cita Cristianne Vilaça.

Dentre os principais sintomas estão taquicardia, sudorese e falta de ar, mas eles não são os únicos. “Diante das situações sociais ou de desempenho, o fóbico social manifesta sintomas físicos como tremor, tensão, abalos musculares e ruborização, bem característica nesses casos”, descreve Tito.

E não para por aí. A psicóloga clínica Cristiane Maluhy Gebara afirma que o fóbico também pode sofrer com sintomas psíquicos, abrangendo os sentimentos de vergonha e humilhação, a autodepreciação, antecipação negativa, o medo da avaliação negativa e a timidez excessiva”. Com isso, há uma degradação psicológica da pessoa e ela busca o isolamento, alterando sua rotina e suas atividades diárias. “Os sintomas da fobia são muito desagradáveis e provocam sofrimento e ansiedade a ponto de interferirem na qualidade de vida”, ressalta Gilberto.

COMO VENCÊ-LA?

Não existe uma fórmula mágica, nem é da noite para o dia, mas é possível reverter uma fobia (sim, há esperança! Segundo Gilberto, dentre as técnicas utilizadas, está a “reprogramação de memórias, que, se feita com técnica específica e bem aplicada, pode eliminar a fobia, além de proporcionar ao indivíduo uma boa qualidade de vida”.

É importante que os pacientes busquem ajuda profissional para superarem seus medos excessivos, apesar de o isolamento ser uma forma de evitar certos desconfortos. Afim de reverter os quadros de fobia, a psicanalista Cristianne Vilaça elenca algumas linhas de tratamento que podem ser aliadas na batalha contra o mal:

• DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA: “pode ser feita com o objeto real causador do medo ou de modo virtual. Basicamente, consiste em aproximar a pessoa daquilo que causa o seu temor”, cita Vilaça;

• TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: “trabalha com a dessensibilização e com técnicas específicas para tentar acalmar o paciente”, explica;

• HIPNOSE: “são utilizadas técnicas de sugestão na tentativa de mostrar que o objeto do temor não representa perigo”, afirma;

• PSICANÁLISE: “busca a origem dos temores nos aspectos mais profundos do inconsciente, uma vez que acredita que a solução do problema está em trazer estes aspectos à tona e trabalhar com eles”, menciona.

FOBIAS INUSITADAS

Se o medo de conviver com outras pessoas pode causar estranhamento há outras fobias um tanto incomuns. Confira algumas abaixo:

ANATIDAEFOBIA: medo de ser observado ou perseguido por patos

ESTRUMINOFOBIA: receio de morrer enquanto defeca;

PENTEROFOBIA: medo do sogro ou da sogra;

EISOPTROFOBIA: receio de olhar no espelho, principalmente por temer visões sobrenaturais ou de fantasmas e espíritos.

AFOBIA: receio de não ter medo em situações em que essa sensação é necessária.

TIMIDEZ X FOBIA SOCIAL

Apesar de causarem sintomas e sinais relativamente semelhantes, há uma grande diferença entre os dois conceitos. Ambos afetam a parte social do indivíduo, porém, a fobia impede a convivência e o torna solitário. Enquanto isso, uma pessoa tímida continua realizando suas atividades diárias, caracterizando-se apenas como um traço de personalidade.

EU ACHO …

O ABUSO ORIGINAL

Más experiências na infância podem provocar obesidade

É quase impossível não falar de peso no começo do ano. Depois das comilanças de Natal e réveillon, janeiro costuma ser o mês de se preocupar com a silhueta. O assunto rende brincadeiras e memes – você provavelmente já recebeu algum nos primeiros dias de 2021. Mas a preocupação com o peso não é piada ou apena s questão estética. A obesidade é um problema sério, cada vez mais presente na população brasileira, e merece, portanto, toda nossa atenção. Ninguém sabe ao certo o que leva a uma alimentação desregrada, embora não faltem estigmas: muita gente pensa que o obeso é necessariamente alguém indisciplinado, exagerado e preguiçoso, pois não se exercita. A verdade, porém, é que o sobrepeso pode ter raízes psicológicas profundas.

Na Universidade de Kobe, no Japão, pesquisadores da Escola de Medicina analisaram os hábitos de cerca de 20.000 adultos e fizeram importantes descobertas. Ao que tudo indica, o acúmulo de gordura corporal entre as mulheres tem alguma relação com experiências de violência na infância. Sofrer agressões físicas, ser vítima de comentários maldosos e insultos dentro da própria casa, todos esses são eventos que poderiam levar, anos mais tarde, ao excesso de peso.

O estudo, publicado no finalzinho de 2020, foi o primeiro do tipo realizado no Japão, mas confirma uma ideia já apontada por vários especialistas de outros países: situações de abuso físico, psicológico, sexual e até de negligência estão, sim, correlacionadas à obesidade. A criança vítima de abuso desenvolve mais facilmente a dependência de alimentos açucarados ou ricos em gordura.

E, quando adulta, ela tende a comer demais em situações de stress.

Esse é um problema que interessa a todos nós, em especial às mulheres, que acabam sendo as maiores vítimas desse terrível mecanismo de compensação psicológica. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), uma em cada três mulheres já sofreu violência física e/ou sexual. Na pandemia do coronavírus, com muitas famílias em confinamento, aumentam os episódios de violência doméstica, inclusive contra crianças. Além de abusadores e vítimas estarem fechados em um mesmo ambiente por mais tempo, a diminuição do contato com pessoas de fora da casa dificulta o reconhecimento e a denúncia dos casos.

Se quisermos mudar esse cenário, é preciso discutir abertamente o problema, sem tabus. Hoje entendo como minha própria história, aos 7 anos, contribuiu para que eu chegasse aos 120 quilos – e como só pude me livrar da obesidade, perdendo a metade daquele peso, quando reconheci os mecanismos psicológicos por trás da minha alimentação desregrada. Esse processo de reconhecimento das causas da obesidade, tão importante para eliminar o preconceito que atinge homens e mulheres acima do peso, só funciona se a sociedade estiver disposta a um diálogo aberto.

Justamente por isso, tento aqui ajudar a construir esse diálogo. A luta contra a gordura indesejada às vezes exige um mergulho profundo em nossos traumas. Felizmente, com força de vontade e uma rede de apoio familiar e profissional, é possível fazer esse mergulho e voltar com segurança à superfície.

*** LUCÍLIA DINIZ 

OUTROS OLHARES

DISCOS QUE VALEM UMA NOTA

A venda de alguns itens da coleção de Ed Motta por até r$ 45 mil expõe mais uma vez a força imorredoura dos LPs

Na faixa-título de um de seus mais conhecidos LPs, O dia em que a Terra parou, de 1977, o cantor baiano Raul Seixas fez um exercício de futurologia, tentando a imaginação de seus ouvintes ao propor a possibilidade de que, numa data qualquer , “todas as pessoas do planeta inteiro ” resolvessem “que ninguém ia sair de casa”. Mais de 30 anos após a morte de Raul – quase 43 depois do lançamento da canção – a pandemia de Covid-19 tornou real a profecia do artista. E as pessoas, confinadas em suas residências, num clima de desolação e incertezas se agarraram ao que tinham ao alcance das mãos – muitas vezes, seus velhos e novos LPs, que se alternam nas funções de objetos do desejo, depósitos de memórias e narrativas sonoras úteis em tempos difíceis.

Não é por acaso que nos últimos dias proliferam nas redes sociais postagens sobre “os discos que mais influenciaram meus gostos musicais”, selfies com a capas do LPs favoritos e lives de DJs, profissionais e amadores, trocando suas preciosidades. No meio disso tudo, virou notícia a decisão de um dos mais notórios colecionadores do Brasil, o cantor Ed Motta, de pôr à venda no site Discog (principal banco de dados de discos físicos do mundo, que conecta compradores e vendedores em todo o mundo, com mais de 52 milhões de itens) alguns exemplares de seu acervo de mais de 30 mil discos. Entre as raridades que ele começou a anunciar em dezembro estava uma cópia da primeira prensagem de Coisas (1965), influente LP do maestro Moacir Santos, pela qual teria pedido R$ 45 mil.

“Meus discos sempre foram meus melhores amigos eternamente. Meus discos, meus livros, meus DVDs, meus VHS. Eu tenho muito a aprender com eles, o tempo inteiro, e não tem decepção”, disse Ed Motta, ainda ressabiado com a repercussão do caso (sabe-se que alguns dos discos à venda são duplicata ou itens que ele não costuma mais ouvir, mas ele prefere não explicar as  razões da venda). Para o músico, que como muitos trocou os shows pelas lives, a pandemia trouxe todo um lado terrível; a “tristeza em ver tantas pessoas morrendo”, mas também um déjà vu. “Não só eu, mas boa parte dos colecionadores de discos, de filmes ou de gente que lê muito de forma geral já vive em um isolamento social. Não dá tempo de você sorver a arte encontrando com todo mundo o tempo todo.”

Colecionador com um acervo numericamente similar ao de Ed Motta, ar condicionado no apartamento número 201 (ele mora no 101) de um prédio em Botafogo, no Rio de Janeiro, o ex-administrador de empresa Fábio Pereira tem acompanhado mais de perto o lado social dos discos em tempo de pandemia. Ele toca sozinho o Supernut MaraRecord, grupo de venda de discos on-line cuja origem remonta há mais de 20 anos, quando ele era empregado de uma empresa petrolífera e descobriu que dava para ganhar mais (e viver seu sonho de fissurado por música) vendendo achados da MPB para o exterior. “Enquanto você está numa vida louca, atarefada, você tende a ouvir mais música digital. Todo mundo tem em casa aquela estante de discos que não tinha tempo de escutar. Esta é a hora”, contou ele.

Segundo Pereira, a pandemia fez com que muita gente que andava quieta no grupo do Facebook de sua loja (com mais de 800 membros) voltasse a comprar disco com ele – mesmo sabendo das dificuldades que o isolamento e precariedade do funcionamento do Correio impõem à entrega. “A música salva, existe um tipo de música para cada momento. Você pega um disco e lembra do dia em que comprou”, divagou ele, que cuidou de agitar a rede social com muitas postagens sobre itens raros da grande discografia brasileira (“muita gente usa o grupo para aprender, não só para comprar”). O tempo mais flexível dos dias de Covid-19, o comerciante-colecionador tem aproveitado de forma singular e lúdica: “Subo um lance de escada e de repente lá estou eu, no meio de meus discos. Faço explorações e encontro alguns que não via havia muito tempo. Daí, fico postando no grupo coisas que eu nem sabia que tinha!”.

 De cadeira, Pereira oferece uma explicação para o fenômeno que intriga os não iniciados nas comunidades do vinil raro: o que faz com que uma edição original de um Coisas ou a de um Arthur Verocai (estreia solo do grande arranjador da MPB, lançado em 1972) provoquem inconfessáveis frenesis e alcancem preços estratosféricos no Discogs. “Muitas vezes, é um gênio que lança um disco à frente de sua época, em uma tiragem pequena. Ele não é entendido e não faz sucesso nenhum. Anos depois vão lá os gringos e descobrem ou um conceituado DJ e produtor americano do hip-hop) Madlib sampleia ele. E quando o pessoal descobre, já é tarde demais. A reedição do LP até pode fazer com que o preço do original caia um pouquinho, mas tem sempre o colecionador psicopata, que não vai sossegar até conseguir um exemplar. A vida é feita disso, se não tiver algo que você busque, ela não vale a pena.”

No mês passado o movimento internacional Vinyl Alliance, dedicado ao “fortalecimento da posição do disco de vinil no mundo digital”, alertava em um comunicado de imprensa, sobre o papel que a música em formato físico poderia assumir na pandemia. “O impacto econômico da Covid-19 é severo e atinge fortemente a indústria do vinil, com uma demanda decrescente, lojas fechadas, produção limitada e proibições de transportes. No entanto, uma rápida pesquisa entre nossos    membros mostra o compro misso e a resiliência do setor”, anunciou a organização. “O negócio do vinil tem uma grande vantagem. É abençoado com fãs leais; caso contrário, o formato não poderia ter sobrevivido primeiro à ascensão do CD e depois ao streaming. A crise atual prova isso mais uma vez. Os colecionadores usam seu tempo em casa pata reorganizar as coleções, descobrir joias escondidas ou simplesmente para fazer uma limpeza em seus discos. Outros desenterram toca-discos antigos no sótão e os reformam.”

Fabricante de agulhas para vitrolas, a firma dinamarquesa Ortofon pegou carona no comunicado para aumentar o otimismo, na palavra de seu CEO, Christen Nielsen: “O vinil é uma ótima maneira de as pessoas ajudarem seu artista favorito, principalmente quando eles têm de cancelar um show ou turnê. E, mesmo que não possam comprar novos discos, encontram outras maneiras. Por exemplo, existem tendências on-line, como a exibição de seu álbum mais amado e da loja em que você o comprou. Essa é uma ótima maneira de mostrar amor ao artista e à loja dar publicidade gratuita. “No último dia 14, inclusive, a Discogs e a empresa japonesa de equipamentos sonoros Audio-Technica anunciaram uma parceria: a fábrica ofereceu toca-discos e fones para que DJ de loja de discos selecionadas fizessem a série de lives Homespun, transmitidas em maio e junho, na página da Discogs no Facebook, Instagram e YouTube. A série visa incentivar a compra de vinil nas lojas, por meio da Discogs.

Os LPs já mostravam resiliência antes mesmo da pandemia reforçar seu valor sentimental. No ano passado, a venda de disco nos Estados Unidos no primeiro semestre teve alta de 12% em relação ao ano anterior e superou em faturamento a de CDs pela primeira vez desde 1986. Não deixa de     ser uma vingança, mais de três décadas depois sobre aqueles que vaticinavam que os CDs, eles próprios agora vítimas do streaming, acabariam com os LPs. A disputa, no entanto, é inglória. Juntos, os dois respondem por menos de 10% do total de dinheiro gasto com música no mundo. Todo o resto vai para o digital.

Mas a cultura do álbum – de coleções de canções, formato disseminado pelo advento do LP de vinil, em 1948 – sobrevive na pandemia para além do meio físico. Alguns dos principais artistas da música popular se recusaram a suspender seus lançamentos, como é o caso de uma superestrela do rap: o canadense Drake, que no último dia 1º soltou no streaming a compilação Dark leme demo tapes. Em programa da rádio da Apple Music, ele explicou ao colega, o rapper Lil Wayne: “É um momento interessante para todos nós, como músicos, descobrir como isso funciona e de que as pessoas precisam. E eu simplesmente senti que elas apreciariam talvez algo substancial para ouvir, em vez de apenas uma música isolada”.  O álbum traz colaborações de Drake com artistas como Future, Young Thug, Playboi Carti e Chris Brown, além de faixas lançadas anteriormente no    SoundCIoud, e “Chicago freestyle.

Sensação do novo rock britânico, o grupo Porridge Radio também quis encarar os novos tempos, lançando no dia 13 de março, quando muitos já estavam em confinamento, o álbum Every bad. Em entrevista no início deste mês ao site adhoc.fm, a vocalista e guitarrista Dana Margolin contou: “Estava programada uma grande turnê, que tivemos de cancelar. Por enquanto, temos feito muitas lives, e pude estar mais on-line e me envolver com as pessoas. Foi muito legal poder ouvir que elas estão realmente amando o álbum. A resposta tem sido muito boa até agora, e sinto-me com sorte, mesmo que não possamos conhecer todos pessoalmente e fazer shows. Comprar o álbum e demais produtos da banda é a melhor maneira de nos apoiar, mas, se as pessoas não puderem gastar dinheiro no momento, ouvir nossas músicas no streaming e compartilhá-las será realmente útil”.

As perspectivas para quando a Terra voltar a girar sobre seu eixo são desconhecidas. Mas os discos, esses continuarão a girar, embora, como diz Fábio Pereira, a vida dos colecionadores e    comerciantes deva se alterar a partir do momento em que todos voltem às ruas e um “novo normal” se estabeleça. “Eu não sei como a gente vai sair desse esquema, mas muita coisa vai mudar. A coisa de sujar a mão de poeira nos sebos, de ter alguém ali na loja, para bater papo, isso talvez se perca. E muita gente que desdenhava do on-line agora vai ter de se virar”, apostou.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 30 DE JANEIRO

A ESTABILIDADE DO JUSTO

O justo jamais será abalado, mas os perversos não habitarão a terra (Provérbios 10.30).

Salomão mais uma vez faz um vívido contraste entre o justo e o perverso. Mais uma vez a ideia é ressaltar a estabilidade do justo e a instabilidade do perverso. O justo mantém-se firme apesar da tempestade. Ele não é poupado dos problemas, mas nos problemas. Sobre a casa do justo também cai a chuva no telhado, sopra o vento na parede e batem os rios no alicerce. Mas sua casa fica de pé, porque ele a construiu sobre a rocha. Ele não será abalado, não porque é forte em si mesmo, mas porque seu fundamento é o próprio Deus, a rocha dos séculos. O perverso, porém, que muitas vezes parece forte e inexpugnável e manifesta ao mundo a robustez do seu intelecto, a pujança do seu dinheiro e o poder de sua influência política, será desarraigado como uma palha levada pelo vento. Ele não habitará a terra da promessa, não permanecerá na congregação dos justos nem desfrutará a bem-aventurança eterna. O perverso vive um vazio existencial e constrói para o nada, pois de que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? De que adianta ter riquezas e bens se o dinheiro não pode nos dar segurança nem felicidade? O justo herdará a terra, pois tem Deus como sua herança e sua eterna fonte de prazer.

GESTÃO E CARREIRA

PARECE COCAÍNA, MAS É DAY TRADE

Todo mundo está virando trader: não falta quem entre na bolsa com a expectativa de transformar R$20 em R$ 1mil – num intervalo de horas. Culpa dos minicontratos – instrumentos que, sim, permitem lucros brutais. Mas que deixam 9 em cada 10 usuários crônicos no prejuízo. E pior: viciados. Entenda essa roubada.

Segunda-feira. Day trader que é day trader acorda cedo. Faz exercícios, prepara um suco verde com água de coco e liga o computador. É um profissional focado, e tudo precisa estar pronto para a abertura do mercado de dólar, às 9 da manhã

Os preços do dólar no home broker começam a piscar, variando o tempo todo. Nosso day trader aposta que a moeda americana vai subir bem nos próximos minutos e faz uma compra a R$ 5,40. O dólar sobe e vai a R$ 5,50 em meia hora. Bora vender. R$ 1 mil de lucro e meta do dia cumprida. Fim de expediente, às 9h30 da manhã.

Terça-feira, 10h30. O Ibovespa cai de 100 mil a 98 mil pontos. Mas o nosso trader já estava preparado. Meia hora antes ele tinha apostado na queda do índice. Quanto mais a bolsa tombasse, melhor seria para ele. Só esses 2% de queda, então, renderam R$ 1,2 mil. Meta batida com louvor. Está chovendo lá fora. Partiu Netflix. E segue assim a vida do nosso day trader. R$ 1 mil a cada dia útil. R$ 20 mil por mês sem fazer nada que dê para chamar de trabalho.

Bom demais para ser verdade? Claro. É impossível ganhar dinheiro na bolsa todos os dias sem ter nascido com o dom de prever o futuro. Mesmo assim, cada vez mais gente tem tentado a sorte no day trade. E o ato de comprar e vender dentro de um único pregão, geralmente de forma “alavancada”, ou seja, sem precisar ter o dinheiro para entrar no esquema, como vamos ver em detalhes mais adiante.

Segundo a CVM, mais de 300 mil pessoas fizeram ao menos uma operação desse tipo em 2020 – um crescimento de 50% na comparação com 2019. E este também é o ano em que as buscas por “day trade” dispararam no Google e a “profissão day trader” entrou em uma lista do LinkedIn como uma das grandes carreiras do futuro. Isso acontece porque muita gente está ganhando dinheiro com day trade. Mas não são os day traders. É gente que lucra com cursos picaretas de como ficar rico da noite para o dia, e as próprias corretoras, que ganham um cascalho a cada operação de compra e venda que você faz.

Hora de entender como a armadilha funciona.

COMO A MÁGICA ACONTECE

Curso de day trade virou tutorial de maquiagem: está cheio de youtuber metido a professor. Eles e elas dizem que bastam três coisas para começar: conta em corretora (abra rapidinho no celular), gráficos para acompanhar a variação de preços (tem no home broker) e quase nenhum dinheiro. Uns R$ 20 já são o suficiente para entrar na jogada.

A bolsa serve para você comprar ações de empresas. E isso tende a ser um bom negócio para o longo prazo. A grande ferramenta do day trade, porém, não são ações. São os chamados minicontratos – ferramentas que permitem ganhos de 20%, 30%, 5.000% em questão de minutos, e que, por outro lado, também têm o poder de fazer com que o seu dinheiro desapareça para sempre em questão de segundos.

Funciona assim: você quer ir para a Disney em dezembro. Como Mickey e Pateta não aceitam reais, você vai precisar de dólares. Pessoas comuns, filhas de deus, fazem isso numa visita à casa de câmbio. Mas o mercado financeiro oferece uma outra maneira de fazer a mesma coisa, com uma vantagem. Você sabe quanto vai estar o dólar em dezembro? Não. Nem nós.

Então sempre vai haver alguém (geralmente uma instituição financeira) com dólares na mão a fim de vender hoje para entregar só em dezembro. Que vantagem esse alguém leva? Bom, se o dólar cair daqui até dezembro, ele vai se dar bem. Ele fecha com você de vender os dólares a R$ 5,40. Se em dezembro a moeda do Mickey estiver a R$ 4,80, o sujeito se deu muito, muito bem. Quem vende dólar hoje para entregar depois, então, é sempre alguém que aposta na queda do dólar.

Mas você não está a fim de fazer aposta. Quer garantir a viagem. Se em dezembro o dólar estiver a R$ 6,40, fuén. Rolê miado. Então melhor garantir as verdes a R$ 5,40. O que você pode fazer, então? Dá para entrar na bolsa e comprar a R$ 5,40 do sujeito que está vendendo dólar para dezembro neste momento na esperança de lucrar com uma queda. Pronto. Agora, se a moeda americana subir, não tem mais galho. O dólar pode estar a R$ 6,40 no fim do ano e tudo certo. O outro sujeito vai aceitar que perdeu a aposta, e cobrir a diferença para você.

É assim que funciona o “mercado futuro” de dólar. “Futuro” porque a base do negócio é uma especulação, a de quanto o dólar estará valendo lá na frente. E o que você negocia nesse mercado não são os dólares em si. São só os contratos para comprar uma certa quantidade da moeda por R$ 5,40 (ou seja lá o quanto for) em dezembro (ou seja lá em que mês for). Daí os “minicontratos” de que falamos lá atrás.

Só tem um detalhe. O grosso desse mercado não é formado por gente que pretende ir à Disney. O que você tem são multidões apostando na alta e outras multidões apostando na baixa. Os contratos são as fichas nesse cassino. E a bolsa organiza a ciranda. Vamos lá. Você adquire um contrato para comprar US$ 10 mil em dezembro a R$ 5,40. Você vai gastar R$ 54 mil para isso? Não. Para entrar nessa jogada, basta fazer um depósito de R$ 20 na corretora.

Em troca dessa miséria, a corretora te entrega um presentão: o equivalente a US$ 10 mil em reais para você operar no mercado de câmbio. Se você entrar com o dólar para dezembro a R$ 5,40, então, terá R$ 54 mil no seu home broker. Isso não é exatamente um dinheiro que a corretora coloca na sua conta. A grana serve exclusivamente para você fazer apostas com dólar.

É como se você entrasse num cassino, pagasse R$ 20, e o caixa te desse R$ 54 mil em fichas.

Você ganha o poder de operar uma quantia vultosa de dinheiro. Dinheiro que não lhe pertence. É só uma linha de crédito da corretora. Na prática, porém, é igual operar com dinheiro emprestado. O nome disso é alavancagem.

Mas e aí? Como é que faz dinheiro com isso? Bom, o valor do dólar muda a cada minuto, certo? Então. Isso não vale só para dólar que você compra na casa de câmbio. Vale também para o mercado futuro. O preço do dólar para dezembro muda a cada minuto também – tal como o para janeiro, o para fevereiro…

Se você entrou a R$ 5,40 e ele pula para R$ 5,50 em uma hora, o que acontece? Parabéns: pode vender o seu contrato e embolsar os dez centavos de diferença. Opa. Dez centavos, não. Lembra que o tal contrato envolve US$ 10 mil? Então. Nessa subida, seu lucro foi de R$ 0,10 vezes 10 mil. MIL REAIS. Má oêê!

E isso para um contratinho só. Fossem dez deles, você teria operado mais de meio milhão de reais sem abrir a carteira, apenas para lucrar com a diferença de preço. E nessa brincadeira levantaria R$ 10 mil em questão de horas.

Esse é só um exemplo superficial, ainda que realista. No home broker a conta é um pouco diferente, mas chega aos mesmos R$ 1 mil. Vamos lá.

Cada minicontrato de dólar, como dissemos aqui, representa US$ 10 mil no mercado futuro, certo? Bom, a cotação do tal contrato na bolsa não se dá em reais, mas em pontos. E cada ponto vale R$ 10. Os pontos derivam de uma multiplicação: o preço do dólar futuro por mil. Portanto, se o dólar para dezembro estiver a R$ 5,40, o contrato do dólar para dezembro estará a 5.400 pontos. Caso o câmbio para dezembro vá a R$ 5,50, a pontuação sobe para 5.500. Dá 100 pontos de lucro. 100 X R$ 10 = R$ 1 mil. Pronto.

É assim que se calcula o valor do nosso amigo mini dólar – apelido para o tal do contrato que os day traders tanto amam. Ele é “mini” porque US$ 10 mil é um valor relativamente baixo. Equivale a só 20% do contrato “cheio”, de US$ 50 mil. Esse é para gente grande, ou seja, empresas e bancos. Tem outra coisa que diferencia os pequenos dos grandes nesse mercado. No míni, dá para adquirir um contrato por vez. Já o povo do mercado cheio é obrigado a negociar de cinco em cinco contratos. Nisso, a cada rodada ficam em jogo US$ 250 mil.

Seja no míni, seja no cheio, sempre pode dar ruim. Imagina que o dólar, em vez de subir, caia. Para R$ 5,30. Aí danou-se. Você, com seu míni de US$ 10 mil, vai ter que PAGAR R$ 1 mil. Se você adquiriu dez contratos, vai dormir devendo R$ 10 mil. Serasa na veia.

Isso não significa que todo mundo perde quando o dólar cai. Você também pode entrar nessa fazendo o papel de quem aposta na queda da moeda americana. Para entender como isso funciona, é só inverter todos os exemplos que demos até aqui: cada ponto a ‘menos no mini dólar vai significar R$ 10 a mais para você. Seja qual for a modalidade, enfim, o risco é igual: você estará operando com dinheiro emprestado do mesmo jeito. Com isso, suas perdas sempre terão o potencial de ser maiores que o seu patrimônio. Esse é o grande veneno dos minicontratos.

Ah, o mini dólar tem um irmão gêmeo: o mini índice. Com este contrato, você aposta no sobe e desce dos pontos do Ibovespa, não do dólar. De resto, a lógica é a mesma: você entra numa montanha-russa de perdas e ganhos gigantescos, operando com quantidades absurdas de dinheiro alheio.

CAIXA ELETRÔNICO

Por trás da ideia de que é fácil ganhar dinheiro com minicontratos está a noção de que o trader jamais erra. Só lucra. O home broker da corretora vira o novo caixa eletrônico: bastaria abrir e sacar o quanto você quiser.

Há outro elemento que dá a ideia de caixa eletrônico: os R$ 20 que as corretoras pedem não entram no jogo da compra e venda de minicontratos. É só uma garantia mínima contra calotes, caso o trader perca dinheiro. Quanto mais contratos você adquire, maior a garantia que precisa deixar – cinco contratos, R$ 100; dez contratos, R$ 200.

Na prática, é como se fosse o preço do ingresso para entrar numa montanha-russa financeira, que pode garantir dinheiro fácil em marés de sorte e destruir seu patrimônio em todos os outros momentos.

O ponto é que as perdas sempre acontecem e quase nunca serão de apenas R$ 20. É como se cada contrato futuro fosse um sistema fechado: sempre que alguém ganhar R$ 1 mil, outra pessoa terá que pagar os R$ 1 mil. Dá até para chamar de programa de transferência de renda – geralmente com a renda do trader caseiro sendo transferida para um trader de banco.

“Não existe barreira de entrada, mas ser bem-sucedido nesse negócio é bem diferente. [O trader] está lidando com o imponderável”, diz Jayme Carvalho, que foi trader de um grande banco e hoje é planejador financeiro certificado pela Planejar.

Isso não significa que as instituições financeiras tenham uma fórmula mágica para sempre vencer nesse jogo. O ponto é que bancos não arriscam grandes fatias de seu patrimônio nisso. Gente como a gente, por outro lado, tende a fazer justamente o contrário – e perder mais dinheiro do que tem de reserva.

A ONDA

Se o prejuízo pode apagar rapidamente qualquer ganho, e acabar maior do que todo o patrimônio do trader, como é que o day trade amador foi alçado ao posto de “carreira” do futuro?

Bom, nada disso é realmente novo. Os minicontratos existem há quase 20 anos, cursos para operar no mercado financeiro foram o coração da XP desde a fundação, lá no ano de 2001, e as corretoras mantêm pelo menos desde 2016 um analista ao vivo ensinando as pessoas a fazer day trade durante todo o horário de pregão.

Mas, pela primeira vez, essa avalanche de informações e promessas de ganho fácil chegou às massas, via YouTube. O maior canal sobre day trade é o Ports Trader, com 917 mil seguidores. É do gaúcho Suriel Ports, 27, que promete transformar qualquer pessoa que comprar seu curso de cerca de R$ 2 mil em um “trader de elite”. Para ele, um trader de elite é quem ganha de R$ 1 mil a R$ 5 mil por dia.

Ports não declara patrimônio e tampouco abre o resultado dos trades que diz ainda fazer. Aempresa pela qual vende cursos tem capital social de R$ 2 mil e foi enquadrada no regime de tributação de microempresa, cujo faturamento anual não pode superar os R$ 360 mil.

Enquanto isso, posa de milionário nas redes sociais. Em setembro, transmitiu ao vivo o momento em que pilotava um carro esportivo no autódromo de Interlagos, uma amostra do que diz ter conquistado como day trader. Com o ronco do motor dos carros que ostenta, abafa reclamações de alunos que perderam dinheiro. “Não tem fórmula mágica. Eu dou o direcionamento e depende da disciplina da pessoa aprender”, disse.

E o gaúcho nem de longe é o único a atrair clientes usando carros, iates e maços de dinheiro como se isso provasse que ficaram milionários com o day trade. “Se a pessoa tem uma grande habilidade para ganhar dinheiro, por que ela estaria gastando tanto tempo tentando vender curso?”, questiona André Pássaro, gerente de acompanhamento de mercado da CVM.

O aumento na oferta de cursos ganhou de alguma forma o apoio da bolsa brasileira. Em maio, a B3 passou a bancar até R$ 300 mil para corretoras que quisessem difundir educação financeira sobre day trade a seus clientes. A condição era que as empresas investissem montante equivalente. Até agora, 14 iniciativas obtiveram o patrocínio.

Entre os mais recentes está a “Jornada do Trader Profissional”, uma série de lives gratuitas da Toro Investimentos. Nelas, Rafael Panonko, chefe de análises da corretora, explicava o básico do funcionamento de minicontratos, planejamento da operação em planilhas, metas de ganhos e controle de riscos – como o mantra “opere com stop loss” (parar perdas), um comando que precisa ser pré-programado para diminuir a possibilidade de prejuízos vultosos. Na primeira aula, incentivou abertura de conta na Toro, na última, vendeu o curso pago de day trade a R$ 2 mil. Já a XP lançou o curso “Full Trader”. Custa R$ 8 mil.

Ou seja: a prática, apesar de incrivelmente perigosa, está sendo fomentada pelos gigantes do mercado. Esse fenômeno já aconteceu no passado. Quando a taxa Selic rondava 14% ao ano, e não os atuais 2%, a bolsa criou um programa de incentivo para a migração da poupança que fica nos bancos para o Tesouro Direto (que fica na B3). As corretoras deixaram de cobrar taxas para o investimento e, em troca, passaram a receber uma compensação da bolsa. A diferença é que Tesouro Direto rende mesmo mais que a poupança, enquanto o day trade, principalmente aquele com minicontratos, é nitroglicerina pura.

Executivos da B3 não quiseram conceder entrevista. A assessoria de imprensa encaminhou declarações do presidente da empresa, Gilson Filkenstein, sobre o crescimento da prática de day trade entre pessoas físicas. Ali, ele diz que o day trade é uma porta de entrada para a bolsa, mas não é para qualquer investidor. Essa porta de entrada, enquanto isso, gera receita para a B3, que só no segundo trimestre lucrou R$ 1 bilhão.

MUITO ESFORÇO PARA NADA

92% dos traders pessoa física desistem de operar antes de um ano. É o que diz um estudo da FGV feito em 2019 a partir de uma base de dados com 19.696 pessoas que fizeram day trade em operações com mini índice entre 2013 e 2015.

O que disse Rafael Panonko, da Toro, sobre esse estudo na primeira live em que ensinava os riscos do day trade? “Desistir é uma coisa. Ter prejuízo, na minha avaliação, é outra.”

Continuemos com a pesquisa da FGV, então. Entre os 1.558 traders que permaneceram na ativa por mais de um ano, 91% tiveram prejuízo. 9% conseguiram algum lucro. E 0,06% – só 13 das 19,6 mil pessoas – teve retornos acima de R$ 300 por dia. Em um mês com 22 dias úteis, isso daria um salário de R$ 6,6 mil. É isso que a carreira de trader pode render, mas para apenas seis pessoas a cada 10 mil que tentam a sorte – ou uma a cada 1,6 mil numa notação mais científica. “Ninguém estava informando com clareza que a probabilidade de obter lucro com esse tipo de operação é baixíssima. Claro, porque dar esse tipo de informação não rende dinheiro. O que dá dinheiro é vender curso”, provoca um dos autores do estudo, o economista Fernando Chague.

Fernando e seus colegas voltaram a se debruçar sobre as reais possibilidades de ganhar dinheiro com day trade quando viram aumentar a procura por operações desse tipo em meio à pandemia. Desta vez, olharam o mercado de ações mesmo. “Circulava a ideia de que era mais fácil em comparação aos mercados futuros [os minicontratos]. Porém, os resultados foram igualmente desastrosos”, diz o professor da FGV.

Após analisarem 98.378 pessoas que começaram a fazer day trade com ações entre 2013 e 2016, eles constataram, de novo, que apenas uma pequena parcela persiste por mais de um ano: só 554 pessoas. Destas, somente 127 day traders tiveram lucros diários acima de R$ 100. A coisa é tão feia que a média de rentabilidade por dia dos 554 investidores que permaneceram firmes é, na verdade, um prejuízo – R$ 49 ao dia.

Bom, ao analisar a performance dos 127 investidores que tiveram ganhos, os economistas constataram que quem obtinha retornos diários de, em média, R$ 103 mostrava um desvio padrão de R$ 747. Estatisticamente, isso quer dizer o seguinte: na maior parte dos dias, os ganhos desses investidores variavam entre lucros de R$ 850 e prejuízos de R$ 644. Haja risco.

“Os dados deixam claro que quem conseguiu obter algum lucro fez isso às custas de muita volatilidade. No final, a mensagem é uma só: a ideia de que é possível ganhar dinheiro com day trade de forma fácil ou ficar milionário sem sair de casa é uma ilusão”, afirma Fernando, da FGV.

Estudos de fora corroboram os achados da FGV. Pesquisadores americanos e chineses analisaram em um estudo todas as operações de day trade feitas em Taiwan durante 15 anos. A conclusão: 97% perderam dinheiro. Fora isso, apenas 1% dos que ganharam alguma coisa conseguiu lucros superiores ao retorno de quem investe em fundos de índice (os ETFs; a maneira mais segura de investir em ações).

NÃO ADIANTA TREINAR

De novo: o único jeito de ganhar dinheiro com day trade é ter o dom de prever o futuro. E não consta que existam cursos para isso. A experiência também não ajuda.

De acordo com a FGV, os resultados dos day traders no pregão número 100 de suas vidas foram piores que os do pregão número 1. E melhores que o do pregão 200. Sim. Você vai piorando com o tempo. Motivo: quem começa perdendo dinheiro logo de cara, pula do barco. Já quem dá sorte no começo tende a seguir – daí que vem o mito da “sorte de principiante” – enquanto quem dá azar no início some das estatísticas. Mas uma hora os sortudos iniciais começam a ter prejuízo. Para tentar saná-los, o trader vai aumentando suas apostas. E afunda na lama.

Foi o que aconteceu com o mineiro Matheus Henrique da Silva, de 26 anos. Morador da cidade de Cambuí, a 500 km de Belo Horizonte, ele começou a investir na bolsa em 2018. Influenciado por youtubers, partiu para o day trade em mini dólar.

E veio a sorte de principiante. “Na primeira vez que você consegue transformar R$ 20 em R$ 1 mil, você acha que isso vai acontecer todos os dias”, diz. Pois é. Um viciado em cocaína, crack ou heroína passa o resto da vida em busca do prazer da primeira dose. O corpo, porém, acostuma com a droga. Para voltar a ter a mesma sensação, o sujeito vai aumentando as doses. No day trade, você vai aumentando as apostas. “E se eu colocar R$ 20 mil? Posso ganhar um milhão…”.

Matheus fez basicamente isso depois de amargar o bode dos primeiros prejuízos. Pegou um empréstimo de R$ 20 mil no banco para tentar a sorte grande. Não rolou: Matheus terminou sua aventura no mundo do mini dólar devendo R$ 108 mil para a corretora, mais R$ 55 mil para o banco.

GATILHOS E VÍCIOS

Não é cocaína em si que vicia. É a dopamina, o neurotransmissor que a droga ativa no cérebro. Dopamina é o biscoito de cachorro da evolução das espécies. Quando você faz algo bacana para a sua sobrevivência, tipo fazer exercícios ou se alimentar, o cérebro libera dopamina. Quando você faz algo ok para passar seus genes adiante – no caso, sexo -, mesma coisa, e numa quantidade bem maior (obrigado, evolução). Drogas driblam esse sistema. Cocaína, crack, álcool e cigarro são dopaminérgicos. Eles enganam o corpo, fazendo com que ele produza doses cavalares de dopamina sem que você tenha feito nada de útil para sua sobrevivência ou reprodução.

Com day trade é a mesma coisa. Ver R$ 20 se transformar em R$ 80 em meia hora já é um dopaminérgico poderoso. Seu corpo é tomado por um rush de prazer. Ver R$ 20 virar R$ 1 mil, então, minha nossa. É melhor do que sexo. Vicia. Você vai topar qualquer aposta só para sentir isso de novo.

O psiquiatra Hermano Tavares, da USP, alerta para o perigo: “A excitação de apostar, por si só, já é capaz de acionar o disparo dopaminérgico, mesmo que o lucro não venha”.

O analista de sistemas Fernando Barros da Silva, de 38 anos, sabe bem o que é isso. “É igual cocaína. Toma conta da sua mente e, quando você vê, está sempre atrás de alguma forma de ganhar dinheiro com as operações”, diz, admitindo que o day trade se tornou um vício para ele.

No começo, em 2015, Fernando fazia apenas operações de longo prazo (as que de fato são recomendáveis), mas logo a promessa de conseguir enriquecer de forma fácil fez seus olhos brilharem. “Me chamou a atenção o fato de que, com pouco capital, é possível ganhar muito dinheiro. Então fui atrás de cursos para entender”, diz.

Em 2016, ele fechou o ano com um prejuízo de R$ 15 mil. Mas achava que, para reverter isso, bastava ganhar mais experiência. “Em todos os cursos dizem que existe uma ‘curva de aprendizado’ na qual você queima dinheiro, que isso é normal”, explica. Entre muitas perdas e poucos ganhos, Fernando persistiu. “Não pensava em parar. Sempre achei que encontraria uma maneira de recuperar o que tinha perdido. Eu dormia e acordava pensando na bolsa, até nos finais de semana sentia vontade de abrir o home broker”, diz.

Três anos depois, o prejuízo já estava em R$ 150 mil. Ele tinha vendido o carro e levantado empréstimos. Não conseguia mais dormir direito. Foi aí que, com a ajuda de uma amiga psicóloga, Fernando percebeu que tinha um problema. Em fevereiro de 2020, desinstalou o home broker. Está limpo há oito meses. “A qualquer momento posso ter uma recaída. Agora eu tenho consciência de que sou um viciado.” É isso. Se algum youtuber ou corretora lhe oferecer day trade, diga não.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

GUERRA CONTRA A DOR

Esse mal afeta boa parte das pessoas e interfere na qualidade de vida. Saiba como a dor age no cérebro e de que forma sua mente pode ajudar você a enfrentá-la

Qual foi a última dor que você sentiu’? Caso não saiba responder, pode se considerar um (a) privilegiado (a). De acordo com dados de 2015 de urna parceria entre o Ibope Conecta e uma marca de analgésico, três em cada quatro brasileiros são afetados por algum tipo de dor. Dentre as mais de mil pessoas analisadas, 65% sofrem com dores de cabeça e cerca de 41% com dores nas costas. Com isso, atividades como emprego (69%), sono (32%), funções domésticas (30%) e lazer (29%) são prejudicadas. No entanto, apesar dos sinais, apenas 6% dos entrevistados deixam de fazer suas obrigações por causa de algum sintoma. Seja onde for, esse incômodo pode atrapalhar (e muito!) a rotina de quem convive com esse mal.

CONHECENDO O INIMIGO

O caminho da dor começa no momento em que alguma parte do corpo é lesada, isto é, sofre um trauma. “Quando isso ocorre, alguns receptores (denominados nociceptores) são estimulados, desencadeando um disparo doloroso que é transmitido até a medula espinhal. Esse estimulo é transmitido de um neurônio a outro até chegar ao cérebro, onde há a percepção da dor”, explica Alexandra Raffaini, médica especialista em tratamento de dor.

Ou seja, apesar das lesões partirem de um local específico, o cérebro é o responsável pela sensação de dor. O chamado estímulo álgico pode surgir em um órgão, um nervo, na pele, entre outros locais. “É no cérebro que essa informação é detectada e processada; e, então, temos a percepção da dor. Isso tudo ocorre em uma fração de segundo, mas é neste órgão que o estímulo é reconhecido como doloroso”, complementa Alexandra. Além disso, alguns fatores pessoais podem interferir diretamente nesse processo. “Após a captação dos sinais de dor e envio ao cérebro, as emoções e as memórias podem modular a percepção desse incômodo”, descrevem a neurologista Marcela Jacobina e o neurocirurgião Marcelo Amato. Dessa forma, uma sensação desagradável, já sentida anteriormente, pode parecer muito pior se houver lembranças negativas.

CAMPO DE BATALHA

Para que haja essa interpretação, diversas regiões do cérebro são estimuladas e contribuem nesse resultado nada agradável. Segundo Alexandra Raffaini, dentre os principais neurotransmissores envolvidos na transmissão da dor, estão “glutamato (responsável pela velocidade da comunicação neuronal, pela resposta imediata a um estímulo), aspartato, substância P (age aumentando a sensação de dor) e neurotensina, peptídeo relacionado, ao gene da calcitonina e co!ecictocinina”. Mas é possível citar outros exemplos, como as endorfinas e encefalinas, que influenciam na modulação da dor.

Em relação às áreas do cérebro, muitas estão envolvidas. “Há a participação do tálamo (responsável pela transmissão de estímulos da medula espinhal), formação reticular, hipocílamo e sistema límbico (que agem no controle de emoções, entre outras funções), e áreas somestésica do córtex cerebral”, apontam Marcela e Marcelo. Após a interação de todos esses setores, um sinal é emitido e, com isso, percebemos a dor.

NA CABEÇA, DE CABEÇA

A dor de cabeça, provavelmente, é a que mais incomoda a população brasileira todos os anos. E não é de hoje. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federai de São Paulo concluiu que 72% da população nacional sofreu com esse mal em 2008.

Nesse contexto, a dor de cabeça pode ser dividida em dois grupos. O primeiro é chamado primário e, nele, se encaixam as dores que são os próprios males, ou seja, não há nenhum outro fator que dá origem a esse quadro (por exemplo, as oriundas de desgaste físico). Já o segundo, denominado secundário, a dor de cabeça surge como um indício de alguma outra disfunção do organismo, como sinusite, aneurisma ou tumor. ”A dor de cabeça é um sintoma que pode estar presente em muitas doenças, e sua identificação vai depender de quais outros sintomas e sinais estão associados nesse quadro”, frisam Marcela e Marcelo.

MENTE PULSANTE

Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, existem mais de 150 tipos de dores de cabeça. Sem dúvidas, um dos mais temidos pelas pessoas é a enxaqueca, que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta cerca de 90% da população mundial.

Em nossa sociedade, criou-se um senso comum de que a enxaqueca é uma dor de cabeça mais forte. No entanto, apesar de fazer parte das cefaleias primárias, ela vai muito além disso: suas crises podem durar dias e, geralmente, provocam dores latejantes no paciente. “O desencadeador deste processo pode ser uma associação entre predisposição genética e agressões do meio ambiente”, alertam Marcela e Marcelo. Algumas dessas situações são o estresse, cansaço, emoções fortes, variações hormonais e sedentarismo, que vão desgastando a capacidade de resistência do organismo. “Existem várias teorias para a causa da enxaqueca. A mais aceita é a de que o sistema nervoso, quando submetido a mudanças bruscas corporais ou do ambiente externo, torna-se vulnerável, causando uma inflamação nos vasos sanguíneos do cérebro”, relatam Marcela e Marcelo.

“AI, MINHAS COSTAS”

Dados da OMS apontam que cerca de 80% das pessoas sofrerão com dores nas costas pelo menos uma vez na vida. Esse sintoma pode interferir negativamente nas atividades diárias. “As dores na coluna são, geralmente, causas de graus de incapacidade, queda de produtividade no trabalho, aumento do estresse emocional, abandono de atividade física e diminuição da qualidade do sono”, esclarece a fisioterapeuta Isabela Laynes. Além disso, é possível que diversos movimentos, antes considerados naturais, sejam comprometidos ou perdidos.

A origem desse mal pode variar desde hábitos incorretos até questões físicas e doenças. “Sedentarismo, tabagismo, sobrepeso, hérnia de disco, desvios posturais, doenças metabólicas (como artrite reumatoide e espondilite anquilosante), doenças degenerativas (como a artrose, fatores psicossociais), entre outros fatores são as causas de dores nas costas”, justifica Isabela.

O fisioterapeuta Ricardo Regi reitera que a postura também interfere, pois “as alterações como hiperlordose, hipercifose e escolioses podem, com passar do tempo, devido à mudança de eixo anatômico, provocar maiores desgastes nas articulações e, consequentemente, serem geradoras de dores nas costas”.

CORPO E MENTE

Além das questões físicas provocadas pelas dores nas costas, é comum que também apareçam algumas consequências pessoais. “É praticamente impossível desassociar os dois conceitos, principalmente quando falamos nas questões das dores crônicas. Por isso, cada vez mais a abordagem da dor lombar tornou-se biopsicossocial”, complementa Ricardo.

Nesses casos, além de tratar os aspectos músculo esqueléticos, o especialista explica que são estudadas questões “comportamentais ligadas aos fatores de recidiva (reaparecimento de um sintoma) ou piora (ansiedade, estresse, medo e evitação), assim como outras relacionadas à melhora (por exemplo, motivação e confrontamento)”.

ALIADA NO COMBATE

Na busca pela cura desse mal, grande parte dos pacientes procuram médicos e tratamentos tradicionais. No entanto, muitos esquecem que a própria mente também pode ser uma aliada no combate a diversos sintomas. Nesse quesito, a hipnose é uma das técnicas utilizadas para o tratamento de algumas dores. Apesar de apresentar resultados positivos em muitos casos, geralmente as pessoas só procuram essa alternativa quando a dor já alcançou um estágio mais grave. “A hipnose pode ser aplicada para tratar qualquer tipo de dor. Lógico que não vai curar um processo inflamatório, mas alivia a dor enquanto o remédio leva o tempo necessário para a cura. É mais usada nos casos crônicos, pois há um componente emocional intensificando os sintomas”, frisa o psiquiatra e hipniatra João Cabral.

O especialista explica que o desespero ea desesperança invadem o paciente, e a hipnose age também no âmbito emocional. No tratamento, diversas técnicas conduzem a intervenção. “Os métodos empregados podem ser uma indução direta para bloquear a dor, mas geralmente é utilizada a regressão para busca da sua causa. Se for um trauma, ao tratá-lo, a dor desaparece. Há também a técnica de visualização dirigida para alívio da dor enquanto se faz o tratamento adequado para cada caso”, menciona João.

Mas os benefícios não param por aí; além de reduzir a ingestão de medicamentos, inúmeros casos e pacientes podem receber essa ajuda. “Em cirurgias, diminui o uso de anestésicos e melhora a cicatrização, o edema e a dor pós-operatória. Há ainda a possibilidade de utilização no parto sem dor, facilitando o nascimento sem trauma”, conclui João.

EU ACHO …

SERVOS OU SENHORES?

Há cem anos, um dramaturgo tcheco criava o termo robô. Desde então, ele atiça a criatividade e o temor da humanidade

“Escute, Josef”, disse o dramaturgo tcheco Karel Capek a seu irmão, “tive uma ideia para uma peça.”

Josef, um artista de certo renome, pintava furiosamente e não ficou impressionado com a intromissão do irmão. “Que tipo de peça?”, perguntou rispidamente. Karel explicou a trama. No futuro, os seres humanos inventariam criaturas sintéticas, humanoides, para aumentar a produtividade nas fábricas e lutar nas guerras. Construídas como trabalhadores escravos, elas acabarão se rebelando e eliminando a raça humana. Josef ficou indiferente diante da ideia. “Então a escreva!”, ele disse. Mas Karel estava emperrado. Não conseguia encontrar uma palavra adequada para descrever seus trabalhadores artificiais. “Chame-os de “roboti”, disse Josef. Era a palavra tcheca para “servo” ou “trabalhador forçado”.

Karel decidiu que a palavra “robô” se encaixava perfeitamente. A peça Os Robôs Universais de Rossum (RUR) estreou em Praga em janeiro de 1921. A conversa com seu irmão foi contada por Karel Capek em um jornal alguns anos depois, refletindo como ele apresentou a palavra “robô” ao mundo há exatamente cem anos.

A peça foi um sucesso. Uma obra original de ficção científica, ela inspirava-se nos temores do início do século XX sobre o papel da tecnologia no movimento em favor da produção em massa depois da Primeira Guerra Mundial. A visão ousada e temível de RUR, de um futuro em que a humanidade é ameaçada pelos robôs, causou sensação.

Kara Reilly é professora, dramaturga e autora de Automata and Mimesis on the Stage of  Theatre History (Autômatos e Imitações no Palco da História do Teatro). No livro, ela diz: “Todo mundo na plateia conhecia alguém que morreu em consequência da guerra, e a ideia de robôs substituírem os soldados devia ser fascinante. Com o uso de tanques, dirigíveis e imagens fotográficas, a Primeira Guerra Mundial foi uma vitrine para tecnologias emergentes. Tornou as pessoas subitamente cientes da possibilidade muito real de destruição da raça humana por suas próprias criações baseadas em máquinas”.

Os robôs de Capek aprofundaram a discussão sobre se a tecnologia poderia libertar os trabalhadores e erradicar o trabalho manual. Como Reilly comenta, “esses escravos têm o potencial de transformar o mundo em um paraíso para os seres humanos. Em parte, RUR interroga e satiriza aquela luta modernista entre capital e mão de obra para forjar um paraíso dos trabalhadores”.

A primeira tradução em inglês chegou à Broadway em 1922, com o ator Spencer Tracy. Um ano depois, era apresentada no West End de Londres, no Teatro St. Martin, e um crítico da revista Pall Mall Gazette comentou: “Os robôs tornam-se bastante assustadores com seus rostos sem expressão e gestos automatizados. Ao sairmos, os pobres robôs sem alma parecem nos cercar: na rua, na escada do metrô, no trem. Efeito curioso. Poderia ser verdade?”

E RUR era ao mesmo tempo cativante e aterrorizante para o público. Em 1927, foi a primeira peça completa transmitida pela BBC e, mais tarde, em 1938, tornou-se a primeira peça de ficção científica televisionada, quando um programa de meia hora foi ao ar ao vivo pela mesma BBC.

“Eu acho que as ideias de RUR continuaram influenciando a cultura da ficção científica, mesmo em um nível subconsciente”, diz o autor premiado e campeão de vendas de ficção científica Stephen Baxter. “Os robôs de Capek rebelaram-se, como fizeram os robôs desde então, do Exterminador aos Simpsons”.

Baxter prossegue: “Hoje, pensamos mais em inteligências artificiais possivelmente sem corpo, mais que em humanoides, mas os dilemas morais são os mesmos. Como se controlam os robôs? Não acredito que Capek tenha pensado nisso tudo conscientemente, mas ele nos deu uma fábula, quase uma parábola bíblica, que nos permite explorar essas questões. Cunhar a palavra ‘robô’ foi uma ideia nova para explorar na ficção e na própria ciência”.

Enquanto a invenção do “robô” por Capek se mostrou cultural e cientificamente importante, a popularidade de RUR esvaneceu, e hoje a peça é quase desconhecida. Caitriona McLaughlin é uma diretora de teatro irlandesa que dirigiu a produção de RUR do Teatro Jovem Nacional da Irlanda, no Abbey Theatre em Dublin, em 2017. “Eu procurava uma peça que tentasse articular quem somos como espécie e que tipo de código moral queremos definir para nós”, analisa. “RUR usava alguns temas muito contemporâneos aos quais eu sabia que um jovem elenco reagiria, em particular a super dependência da tecnologia.” O tema de rebelião e revolta também forneceu um fundo cultural importante para a produção. “Trabalhamos na peça em meio a uma série de comemorações centenárias marcando a Revolta da Páscoa na Irlanda e a iminente formação do Estado irlandês, por isso ela parecia estranhamente apropriada.”

Mas, como descobriu McLaughlin, interpretar uma peça de ficção científica de um século para um público do século XXI encerra seus próprios desafios. “O texto em si era um pouco datado e precisávamos encontrar maneira de construir uma visão do futuro criada no passado que ainda parecesse o futuro atual.”

Os robôs trabalhadores humanoides de Capek e o cenário de uma ilha futurista dão aos artistas e diretores a oportunidade de montar diferentes desenhos de palco. “Nossos cenaristas e figurinistas criaram um mundo que era satisfatoriamente retrô, mas ainda sobrenatural o suficiente para sustentar a produção”, diz McLaughlin. “O conceito geral do design tornou-se a lente através da qual pudemos explorar algumas questões muito essenciais sobre a humanidade.”

É fácil ver como RUR influenciou a narrativa da ficção científica, dos androides de Philip K. Dick sonhando com carneiros elétricos ao Exterminador em perpétuo retorno de Arnold Schwarzenegger. Há até um musical de rock no estilo Rocky Horror Picture Show inspirado em RUR. Rob Susman, criador de Save the Robots, diz: “Foi uma peça que li na escola e sempre ficou comigo”. Embora, como indica o coautor Jacques Lamarre, a breguice explícita não estivesse necessariamente aparente no original de Capek: “Nossa versão vai um pouco além, fazendo os cientistas usarem couro e calcinhas”.

RUR também fez parte da carreira florescente de um ícone do cinema britânico. Em 1986, Michael Caine participou do programa de entrevistas de Terry Wogan e contou que seu pai, um peixeiro, lhe havia aconselhado: “Nunca faça um trabalho no qual você possa ser substituído por uma máquina”. (pausa) Então eu me tornei ator (risos). E na primeira peça que fiz interpretei um robô (mais risos). Muito esotérica na sociedade teatral amadora, era uma peça chamada Robôs Universais de Rossum, RUR. Um crítico da South London Press disse: “Caine estava muito convincente como robô”.

Para comemorar o centenário de RUR, um projeto sediado em Praga, The Aitre, fará uma apresentação ao vivo da primeira peça escrita por robôs. Estará disponível gratuitamente em 26 de fevereiro. The Aitre é uma colaboração entre programadores de IA, pesquisadores e representantes do teatro, que fazem as perguntas: Você acha que a inteligência artificial é capaz de criar um roteiro de teatro? Ela é capaz de criar uma peça sobre seu próprio pai, Karel Capek, que escreveu sobre robôs cem anos atrás?

Rudolf Rosa, um especialista em psicologia de robôs na Universidade Carlos, em Praga, que usa o apelido de RUR desde o seu tempo de escola, foi convidado a chefiar o projeto. Tecnicamente, não serão robôs a escrever a peça, pois, como Rosa explicou em uma entrevista recente, “embora os robôs existam e sejam usados, ao contrário das ideias clássicas, eles não são muito inteligentes. A inteligência geralmente está escondida em outro lugar, em poderosos computadores e servidores em centros de dados. Os robôs são mais como bonecos”.

Os robôs de Capek atuaram mais como advertência do que como previsão. RUR nos pedia para imaginar até onde a busca incansável por progresso tecnológico poderia levar a humanidade. Hoje, cem anos depois, a humanidade, em sua maior parte, continua a controlar firmemente suas máquinas. Mas quem sabe, talvez no bicentenário de RUR, humanos e robôs estejam unidos na comemoração.

OUTROS OLHARES

CINEMA EM CASA

Mini projetores vieram para ficar e se tornaram um dos equipamentos mais cobiçados nestes tempos de pandemia

Há um novo produto de consumo que virou uma febre nestes tempos de coronavírus e isolamento: os mini projetores digitais. Em plena quarentena obrigatória eles estão ganhando popularidade e se tornaram uma opção a mais para cumprir o distanciamento social com rigor e conforto e transformar qualquer ambiente da casa em uma verdadeira sala de cinema. A qualidade da imagem e do som supera as expectativas. Além disso, o mini projetor é uma máquina portátil e versátil que pode acompanhar o dono em qualquer lugar que ele vá. O equipamento garante uma autêntica e agradável experiência cinematográfica, permitindo a projeção de filmes a partir de celulares, computadores ou de qualquer outro equipamento de reprodução de imagens.

Com pouco mais de 300 gramas e preços que variam de R$ 400 a R$ 3,5 mil, os mini projetores podem substituir perfeitamente um aparelho de TV com vantagens sobre o tamanho e a definição da imagem. Para quem pode gastar mais, o LG Minibeam tem resolução da imagem ideal para jogos e filmes. Pode ser usado também para fazer apresentação de trabalhos digitais, como planilhas e desenhos, além de ser um equipamento auxiliar para aulas e palestras. Vários mini projetores dão acesso à Internet. Segundo Gustavo Yoshida, gerente de produtos e trade marketing de TI da LG Electronics Brasil, a imagem pode ser projetada em até 100 polegadas. “Temos uma projeção grande, sem distorção de imagem”, afirma.

Existem diversas marcas e modelos. O que se deve observar no momento de adquirir um mini projetor são três itens principais. O primeiro é a resolução, que pode deixar a apresentação mais agradável visualmente. Ao projetar a imagem na parede, para assistir um filme, o conteúdo não pode ficar borrado. Depois, o nível de ruído. Quanto mais silencioso for o mini projetor, melhor, para que não haja interferência no som do filme. E o último item é o preço. Cabe buscar um produto que tenha o melhor custo-benefício. Além disso, as características do local onde a imagem vai ser apresentada podem interferir na escolha. O microempresário Willian Spassini, morador de Rio do Bananal (ES), conta que têm dois projetores Epson, Power Lite X17 e S27, e dá uma dica. “Caso não se tenha uma parede legal para projeção, é só usar uma lona fosca de fundo escuro”, diz. Aí, a experiência de cinema será completa.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 29 DE JANEIRO

O CAMINHO DO SENHOR

O caminho do Senhor é fortaleza para os íntegros, mas ruína aos que praticam a iniquidade (Provérbios 10.29).

O caminho de Deus é perfeito. O caminho de Deus passa pelas veredas da justiça. É o caminho estreito que conduz à salvação. Esse caminho é aberto a todos, mas não aberto a tudo. Nele trafegam os pecadores arrependidos, que nasceram de novo e foram lavados no sangue do Cordeiro. Nesse caminho enfileiram-se os que amam a santidade e todo aquele cujo coração é totalmente do Senhor. O caminho do Senhor não apenas conduz os íntegros à vida abundante, mas também os protege dos aleivosos perigos. O caminho de Deus é chão para os pés do íntegro e muralha protetora contra os dardos inflamados do maligno. Ao mesmo tempo que protege o íntegro, o caminho do Senhor é uma inevitável ruína aos que praticam a iniquidade. O caminho do Senhor não é neutro. É como uma espada de dois gumes: oferece vida aos que obedecem e condena os que praticam a iniquidade. Aos que correm para os braços de Deus arrependidos, buscando sua graça, abrem-se os portais da glória. Porém, aqueles que fogem de Deus, desobedecem à sua Palavra e escarnecem da sua graça recebem a dura sentença de se apartarem para sempre daquele que é a fonte da vida.

GESTÃO E CARREIRA

GUERRA BIOLÓGICA

Pandemia traz à tona a importância desse profissional, o especialista em biossegurança, que atua no combate a micro-organismos nocivos.

Existem pelo menos 150 espécies de bactérias nas suas mãos neste momento, de acordo com um estudo da Universidade do Colorado. E provavelmente são bactérias bem diferentes das que habitam as minhas mãos. A pesquisa identificou 4.700 tipos diferentes em apenas 51 pessoas. Só cinco dessas espécies estavam presentes em todos os indivíduos.

Ou seja: cada ser humano, mesmo que saudável, carrega nas mãos um zoológico de micróbios que, dependendo da circunstância, podem se tornar uma ameaça à saúde. Por isso que sua mãe sempre pediu para que você lavasse as mãos antes das refeições – ainda que ela não tivesse acesso a estudos de biossegurança de universidades estrangeiras. É por isso que a OMS faz o mesmo pedido hoje, no que diz respeito ao Sars­Cov-2, o novo coronavírus.

Com a exceção de épocas de epidemia generalizada, porém, essa realidade da biologia passa despercebida. Tão despercebida quanto uma espécie de profissional que age quietinha para diminuir os riscos de contaminação: o especialista em biossegurança. Ele trabalha para evitar possíveis contaminações por bactérias e vírus. Sua função é pôr em prática urna série de protocolos de segurança que limitam o contato entre humanos e micro-organismos. Se hoje você tira os sapatos para entrar em casa ou dá banho de álcool em gel nas compras de supermercado, está seguindo esse tipo de protocolo, criado por especialistas em biossegurança.

“É muito comum a gente pensar nesse profissional dentro de ambientes hospitalares e de laboratório. Mas, se você vai fazer a manutenção de um ar-condicionado, por exemplo, pode ter a atuação de um engenheiro especializado em biossegurança para evitar a disseminação de bactérias ou fungos”, diz Jorge Mesquita, gerente médico da Vendrame Consultores (uma consultoria de segurança do trabalho).

CONHECENDO O INIMIGO

Ou seja: o campo de atuação é bem amplo, então o caminho para se tornar um especialista em risco biológico muda de acordo com a área.

Médicos, enfermeiros, dentistas e farmacêuticos já saem da graduação preparados, porque no próprio curso eles passam por mais de um módulo de biossegurança, nos quais aprendem protocolos de higienização, esterilização e sobre o uso de equipamentos protetivos. Esses cuidados fazem parte da rotina da área da saúde, afinal.

Já aqueles que se aventuraram por outros setores, como engenharia, turismo ou até beleza e gastronomia, podem recorrer a uma capacitação, que varia desde cursos livres até uma pós-graduação formal. O Sebrae, por exemplo, oferece palestras sobre o assunto para orientar os pequenos e médios empresários que voltaram ao atendimento presencial durante a pandemia.

Para Adriana Silva, professora no curso de Biossegurança do Senac EAD, a demanda por profissionais que entendem desse tema está em ascensão. “Em todos os locais que exista qualquer tipo de atendimento, como supermercado ou recepção, os responsáveis precisam saber as noções básicas de prevenção para evitar que doenças se propaguem.”

PREPARANDO O BATALHÃO

A paulistana Simone Tinelli, de 44 anos, é uma especialista em biossegurança na área de beleza. Em 2002, ela fez um curso de cabelo e maquiagem no Senac, e já mostrava uma preocupação especial com o assunto. “Eu ficava me questionando sobre a melhor forma de fazer a higienização dos pincéis, escovas e lâminas, mas, naquela época, isso não era muito falado nem existiam cursos específicos”, relembra.

Quando começou a trabalhar em salões de beleza, ela adotou os protocolos básicos de biossegurança – uso de máscara, luvas e lâminas descartáveis. Além disso, Simone também trabalhava com equipe de filmagem de comerciais e, muitas vezes, precisava improvisar para manter tudo limpo durante as sessões. “Imagina você fazer uma gravação no meio do mato, onde não tem nem um pote de água filtrada para poder lavar a mão. Então sempre estava com álcool em gel ou lenço umedecido; o pessoal até achava que eu tinha TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), porque ficava limpando as mãos toda hora.”

Hoje, após tantos meses de pandemia, o pessoal que esteve nessas equipes de filmagem deve saber que Simone não tinha TOC; era simplesmente uma pessoa preocupada em atuar na prevenção de doenças. Ela continuou sua profissão, sempre buscando informações sobre biossegurança por conta própria. Mas a especialização de fato só veio em 2017, quando resolveu abrir uma barbearia e foi para a Inglaterra estudar na London School of Barbering. Lá na terra da rainha, ela deixou de ser um peixe fora d’água. A preocupação com a saúde já era um foco central nos salões de beleza britânicos, assim como a oferta de produtos e equipamentos – tanto que na capacitação como barbeira ela passou pelas aulas de biossegurança que os alunos da área da saúde sabem de cor.

“Hoje, a gente está falando da Covid-19. Mas a verdade é que os salões de beleza possuem uma alta taxa de transmissão de outros patógenos graves, como o HIV e os vírus das hepatites.” De fato, em 2014, uma pesquisa do Hospital Emílio Ribas identificou que uma em cada dez manicures de São Paulo estava contaminada com o tal vírus de hepatite (8% com o da hepatite B e 2% com o da hepatite C) por causa do uso de alicates e navalhas contaminadas com sangue de clientes. Desde então, a autoclave (máquina de esterilização para alicates e navalhas) passou a ser item obrigatório dentro dos salões. Mas vale notar que isso protege mais as clientes que as profissionais. A cliente tem a segurança de usar um material limpo, mas ainda pode contaminar a manicure com seu sangue caso esteja infectada – daí a necessidade de luvas e máscaras para essas profissionais.

Simone, enfim, se jogou de cabeça nos estudos com o objetivo de mudar a realidade dos estabelecimentos brasileiros. “Comecei a me aprofundar no assunto, a pesquisar e entrar em contato com os órgãos competentes, como a Anvisa, para estimular as discussões.” Hoje, além de gerenciar sua barbearia, ela oferece consultoria de biossegurança para outros salões e empresas do setor de beleza. No entanto, Adriana, do Senac, considera essa parte educacional um dos maiores desafios da profissão, porque montar um relatório de riscos e indicar o melhor protocolo de segurança é até simples. Complicado mesmo é conscientizar todo mundo. “É difícil fazer com que as pessoas sigam as normas. A pandemia trouxe uma mudança de hábitos. Mas a população tem memória curta. E a educação precisa ser constante.”

UM DIA NA VIDA

ROTINA DE TRABALHO: 8 horas diárias

DIVISÃO DO TEMPO

30% – Gerenciamento. Análise dos riscos e determinação dos processos de biossegurança que devem ser seguidos.

20% – Manutenção: limpeza de materiais, controle dos equipamentos, gerenciamento de resíduos e preparação dos procedimentos emergenciais.

50% – Treinamento e pesquisa: ensino de processos, auxílio aos funcionários e capacitação própria.

ATIVIDADES-CHAVE

Avaliar os riscos biológicos que podem estar presentes dentro de uma empresa ou linha de operação; definir processos e medidas de segurança; e auxiliar nos procedimentos emergenciais em caso de falha de biossegurança.

PONTOS POSITIVOS

Auxilia na melhora da saúde pública, ajuda a reduzir a incidência de doenças graves.

PONTOS NEGATIVOS

A profissão ainda é pouco conhecida fora do setor da saúde, e um dos maiores desafios é fazer com que as pessoas sigam de fato as orientações e protocolos de segurança.

PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS

Habilidade em comunicação, comprometimento com a legislação vigente e interesse em continuar aprendendo.

QUEM CONTRATA

Restaurantes, academias, supermercados, cabeleireiros. É comum o profissional atuar de maneira autônoma, como um consultor.

SALÁRIO:

Até R$ 6.000*

*Segundo fontes consultadas pela reportagem.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

HÁ ALGO DE BOM NA DEPRESSÃO?

Enquanto alguns se entregam, outros têm coragem para seguir em frente e buscar por mudanças de vida

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 12 milhões de pessoas têm depressão hoje em dia. A estimativa é de que, entre 2020 e 2030, ela se torne a doença mais comum do mundo.

Clinicamente, a depressão não apresenta nenhum benefício: muitas pessoas se entregam a um estado de sofrimento e de profunda tristeza e paralisam. Com isso, se tornam incapazes de exercer qualquer atividade cotidiana, como sair de casa.

Porém, vocêjá parou para pensar que pode existir um lado positivo nessa situação? Embora seja difícil de acreditar num primeiro momento, a depressão requer um profundo exercício de autoconhecimento e funciona como um importante processo de reflexão e mudança para o indivíduo.

CONHECENDO O MAL

“A depressão é um transtorno da nossa vida emocional”, aponta a psiquiatra Maria Cristina De Stefano. De acordo com a especialista, esse mal pode ser classificado como leve, moderado ou grave, dependendo do nível dos sintomas apresentados. A doença pode ocorrer em qualquer faixa etária e atingir tanto homens quanto mulheres. A depressão é um entristecimento patológico, que deixa a pessoa em um estado de desestímulo e desesperança frente à vida. Gilda Paoliello conta que a pessoa “perde a capacidade de sentir prazer, de fazer projetos e de acreditar em si mesma”. Segundo a psiquiatra, a depressão pode apresentar sentimentos em diversos graus. “Desde a sensação de tristeza, afeto mais característico da depressão, até o desejo de morrer que pode se concretizar nos casos mais profundos”, explica.

NO CÉREBRO

Embora atinja o córtex pré-frontal, região responsável pela manutenção do humor, a depressão ataca o cérebro como um todo. O distúrbio desregula os neurotransmissores, estruturas responsáveis pela comunicação entre os neurônios do sistema cerebral, sendo que os mais atingidos são serotonina, noradrenalina e dopamina.

Outro aspecto que merece atenção é que a depressão pode estar ligada a várias outras doenças das mais variadas formas, sendo causa ou consequência. “Alterações da tireoide, por exemplo, são causas frequentes da depressão. Algumas medicações, como corticoides, hormônios e anticoncepcionais, podem ter a depressão como efeito colateral. O abuso de álcool e drogas também é causa frequente de quadros depressivos”, aponta Gilda.

O LADO BOM

A psiquiatra Maria Cristina De Stefano afirma que tudo aquilo que nos causa uma crise é uma oportunidade única de definirmos novas perspectivas de vida. “Muitas vezes, doenças como a depressão desencadeiam alterações na ‘zona de conforto’ do existir e provocam reflexões, sentimentos e redecisões de como viver. O fato de ser possível superar dificuldades, doenças graves ou perdas importantes, inclusive da saúde mental, em geral, eleva a pessoa a outro grau de compreensão de sentido da vida e proporciona desapegos necessários”, comenta a profissional.

A depressão cria uma sensação de tristeza extrema que toma conta de todos os aspectos da vida. Em alguns casos, os indivíduos são acometidos por uma sensação tão negativa que acreditam que a única solução dos problemas é a morte. Porém, quando exibem um quadro mais controlado e conseguem se livrar dessas sensações de impotência, o instinto de vida ressurge. Segundo Stella Kill, terapeuta especialista em métodos naturais, ocorre um desejo por mudanças de postura, que podem estar relacionadas a várias esferas da vida. “Pode ser em relação as suas crenças, atitudes, comportamentos em sociedade, alimentação e espiritualidade (que nem sempre está envolvida com religiosidade, mas sim encontrar um caminho de contato com seu interior)”, define.

NOVOS SIGNIFICADOS

Para a psiquiatra Gilda Paoliello, é preciso transformar todas as perdas que a depressão trouxe em ressignificações. De acordo com ela, “uma revisão nos valores e uma nova forma de relação com a vida, com pessoas e consigo próprio”. O surgimento de doenças graves, que colocam a vida em risco, colaboram para esse quadro. “Essa situação é chamada Síndrome do Sobrevivente e se caracteriza por mudanças radicais no modo de vida, frequentemente, para melhor”, explica Maria Cristina.

Mais do que trazer novas percepções e comportamentos habituais, a depressão pode ser vista como mm oportunidade para o indivíduo conhecer melhor a si mesmo. Assim, ele pode entender como seu corpo e cérebro funcionam e a maneira que deve lidar em cada situação. “A busca pelo autoconhecimento é uma, possibilidade de tirar proveito dessa experiência”, afirma o psiquiatra Sérgio Lima.

É PRECISO DESEJAR

O tratamento dia depressão é constituído por vários processos integrados. Além de realizar consultas com um psiquiatra, o indivíduo deve ser capaz de falar sobre seus sentimentos e problemas, além de tomar antidepressivos, que “ajudam a diminuir sintomas mais graves e proporciona conforto mental à pessoa em sofrimento”, esclarece Maria Cristina. É preciso salientar que esses medicamentos “devem ser tomados com o acompanhamento médico, pois podem gerar efeitos colaterais ou precisar de ajustes de doses”, salienta o psiquiatra Sérgio Lima.

Stela Kill aponta que, mais importante do que procurar ajuda profissional, desejar a mudança é fundamental. “Acreditar que é possível sair desse estado é uma excelente ferramenta para que o tratamento siga adiante de maneira eficaz:”, explica a terapeuta·

TRISTEZA X DEPRESSÃO

É muito comum a confusão entre o que é tristeza e depressão. A primeira é um estado emocional e passageiro comum em nossas vidas, ocasionado por algum momento ou situação específicos. Já a segunda é um estado patológico, uma doença que precisa de tratamento. Na depressão, o indivíduo perde o prazer pela vida e se sente desmotivado e fazer qualquer atividade. Uma maneira de diferenciar as duas coisas é verificando o tempo que a pessoa permanece em um estado apático e a intensidade de seu sofrimento, além de se consultar com um médico.

SINTOMAS

A depressão apresenta uma grande complexidade e diversidade de sintomas, uma vez que tem efeitos por todo o cérebro. Confira alguns deles:

• Tristeza profunda;

•Desânimo;

• Pessimismo;

• Sensação excessiva de culpa;

• Perda do prazer de viver;

• Desvalorização;

• Perda ou ganho de peso;

• Alterações na tireoide;

• Insônia hipersônia (excesso de sono);

• Diminuição ou perda do desejo sexual;

• Isolamento social;

• Incapacidade de trabalhar;

• Diminuição da concentração;

• Apatia.

EU ACHO …

O PARADOXO

Até o momento, nada sugere que haja razão para pavor: ao que parece, as vacinas – as aprovadas para uso e as que estão em ensaio clínico – não ficarão obsoletas, nem deverão ter a eficácia afetada.

Assim como gente nasce, vírus mutam. O nascimento é uma condição fundamental aos seres humanos, assim como a mutação é intrínseca a ser vírus. Deixando de lado a questão existencial dos vírus, isto é, se são ou não são, o fato é que se não muta dentro de uma célula hospedeira, então não é vírus. A condição de mutar é determinada pela função existencial de um vírus: a de se replicar. Vírus mutam quando se replicam. Como a replicação é essencial para sua sobrevivência, e as mutações só ocorrem no processo de replicação, não há vírus que não mute.

Outra forma de apresentar o que disse acima é que vírussão parasitas de células, o que significa que eles dependem delas para se replicar. Logo. dependem de células para mutar. Uma questão é: células do quê ou de quem? No caso do sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, nós somos seus hospedeiros mais recentes. Como outros vírus, o sars­ CoV-2 é zoonótico: pulou espécies até chegar a nós. Se ele não está em nós, em nossas células, ele não se replica e não sofre mutações. Se ele está em nós, ele parasita nossas células, toma o controle dos mecanismos de transcrição e tradução genética para fabricar partes de si, reacoplá-las e produzir outros vírus. Estes não são exatamente cópias do original, e aqui está a grande sacada em relação aos vírus: ao contrário das bactérias, que se dividem e se clonam, como nossas células, os vírus fabricam cópias não idênticas ao original, ou seja, aquele primeiro vírus a entrar na célula. Essas cópias não são idênticas porque sofrem mutações no processo de replicação viral. A vasta maioria dessas mutações é aleatória e/ou confere desvantagens ao vírus – sendo por isso eliminadas -, ou são inócuas.

Contudo, há mutações que ocorrem de modo aleatório e que podem dar ao vírus certas vantagens. No caso do sars-CoV-2, tais mutações tendem a ocorrer na proteína spike, a espícula ou “coroa” do vírus. Essa proteína, encontrada em sua superfície, é a chave que abre a fechadura (o receptor ACE2) de nossas células. Se as mutações são tais que o encaixe da chave viral em nossas fechaduras se torna melhor, o vírus terá maior capacidade de infectar novas células. Há, também, a possibilidade de que as mutações na chave – o alvo principal de nosso sistema imune – modifiquem-na de tal modo que ela se torne menos reconhecível para nosso arsenal imunológico, ou mesmo que os anticorpos que atuam para neutralizar a chave e impedir que ela se encaixe na fechadura não mais sejam capazes de fazê-lo. Mutações com esse potencial devem sempre ser investigadas para saber se o vírus está se tornando mais transmissível. É o que os cientistas denominam de VUI – Variant Under Investigation, ou variante sob investigação. Uma variante é a versão do vírus que difere da que se utiliza para comparação, o vírus original, pois possui algumas mutações, ainda que não em quantidade suficiente para alterar o comportamento do vírus. Cepa é o termo que caracteriza um vírus que muito se desviou do original – fenotipicamente – devido ao acúmulo de muitas mutações.

Escrevi tudo isso para chegar à variante B.1.1.7, fonte de notícias e ansiedade mundo afora. Dentre as 23 mutações dessa variante, há pelo menos duas mutações sob investigação pelos motivos descritos acima. Ainda não se sabe se elas tornam o vírus, de fato, mais transmissível. Mas, na incerteza gerada pelo que é desconhecido em um momento em que os anseios por normalidade são aplacados pela perspectiva de imunização, muita gente se apavorou.

Todo o medo dos brasileiros sobre a variante britânica às vésperas das pandêmicas festas de fim de ano contrasta com seu descaso com a circulação do vírus nas cidades. As boas notícias sobre as vacinas não o justificam, pois já se sabe que elas serão inicialmente escassas no mundo e ainda mais no Brasil, em que a letargia do governo resultou num portfolio ainda diminuto de opções. “A variante! A variante pode produzir um supervírus!” (Não produz). “A variante pode tornar as medidas de proteção inócuas!” (Não pode). O vírus continua a ser imprevisível e letal? Sim.

“Ah, mas quer saber? Vai rolar uma superfesta na casa do fulano, eu já estou de saco cheio desse vírus, quero mais é me divertir!”

*** MÔNICA DE BOLLE – é pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics e professora da Universidade Johns Hopkins

OUTROS OLHARES

EMAGRECIMENTO EM CÁPSULAS

Técnica empregada na Europa dispensa a sedação e permite que o balão gástrico, usado contra a obesidade, chegue ao estômago mais facilmente

Pelo menos 1,9 bilhão de adultos lutam contra a balança no planeta, segundo estatística da Organização Mundial da Saúde – 100 milhões apenas no Brasil. Quase metade desse contingente não consegue emagrecer mexendo no cardápio e no estilo de vida. Para esse imenso grupo, já há no mercado uma profusão de remédios e procedimentos, como a popular cirurgia bariátrica, de redução do estômago. Recentemente, surgiu uma opção intermediária, que não faz uso de remédios e dispensa a faca: a ingestão de uma cápsula que contém um balão gástrico. -Até então, o balão, dispositivo que reduz o apetite por ocupar o espaço dos alimentos no sistema digestivo, era instalado apenas por endoscopia, em ambiente hospitalar. Agora, em uma visita à clínica, o paciente engole a drágea e vai para casa meia hora depois. Não é preciso sedação. O dispositivo inflável permanece no estômago por quatro meses e depois disso é eliminada naturalmente. A técnica foi batizada de “bariátrica oral” – um exagero, por nada ter a ver com a cirurgia, mas um atalho que ajuda a entender o novo recurso.

O balão gástrico é hoje um dos principais meios para tratar homens e mulheres com índice de massa corpórea (IMC) a partir de 27 que ainda é considerado sobrepeso. O IMC, lembre-se, é uma fórmula-padrão para calcular os quilos a mais. Divide­ se o peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros). Acima de 25 há sobrepeso. Além de 30, obesidade. De 40 para cima; obesidade mórbida. A versão em pílula mais recente é chamada Elipse e encontra-se disponível na Europa. Está em fase de estudos nos Estados Unidos e não há previsão de chegada ao Brasil. Detalhe importante, se estiver considerando a pílula uma boa ideia: prepare o bolso. O valor médio da colocação equivale a 27.000 reais. O balão gástrico faz perder peso de forma simples. Ao ocupar um espaço de até 70% no estômago ele cria uma sensação de saciedade permanente, fazendo, com que o paciente passe a consumir pelo menos metade do que ingeria antes. E os mecanismos de emagrecimento vão além. A redução da capacidade em si do órgão também mexe com hormônios ligados à sensação da fome. A sensação de saciedade diminui a grelina, composto que controla justamente o apetite. Apesar do preço a facilidade de colocação do balão via oral, sem internação, tem tudo para torná-lo cada vez mais acessível. Estudos recentes comprovam perda de peso muito semelhante à verificada com o uso de balões tradicionais e à dos primeiros três meses da cirurgia bariátrica. Nos últimos anos com o avanço das técnicas de operação e o desenvolvimento de medicamentos que permitem uma convivência mais saudável com um novo corpo, deu-se uma explosão da busca pela cirurgia. Em cinco anos, a procura aumentou 47%, de acordo com as estatísticas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), um dado que instala o Brasil no topo do ranking mundial da redução de estômago – atrás apenas dos Estados Unidos, o império global da obesidade.

Como é natural acontecer com qualquer procedimento médico, a cirurgia, assim-como a colocação do balão gástrico, tem efeitos colaterais. A perda de peso pode trazer impacto biológico e comportamental, tanto que se recomenda acompanhamento psicológico e nutricional. No caso do balão gástrico em específico, o paciente pode sentir na primeira semana de implantação; dores abdominais e náusea. Há episódios raros de rejeição, quando tem de ser retirado. “O maior desafio, porém, é manter o peso a longo prazo”, diz a endocrinologista Erika Paniago Guedes. Como a ação do balão é puramente mecânica, não ocorre redução dos hábitos alimentares.   Em tese, quando é eliminado, o apetite volta ao normal. “O paciente precisa ser informado de que não é um balão mágico nem um tratamentodefinitivo para a obesidade”, diz Luiz Vicente Berti vice-presidente executivo da SBCBM. Para o endocrinologista Mario Carra diretor do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) trata-se apenas de “uma tentativa que pressupõe antes tentar o tratamento farmacológico”.

Curiosamente, um problema mental está na origem da descoberta do balão gástrico nos anos 1980. Médicos alemães constataram que pacientes com distúrbios psiquiátricos que comiam cabelo, perdiam mais quilos em relação aos que não apresentavam o distúrbio. Ao submeterem os doentes a exames de imagem, verificaram que a causa da redução de peso era o bolo de fios que se formava no estômago. Desde então vários modelos de balão foram testados. Alguns eram grandes demais e impediam totalmente a passagem dos alimentos. Outros furavam com facilidade. O tipo utilizado atualmente é feito de silicone.

No Brasil; o desembarque do balão gástrico em pílula é aguardado com ansiedade. O país ocupa hoje o quinto posto na lista de cidadãos mais gordos. Em 1980 apenas 7% da população brasileira era obesa. Em 2015 eram 18 % – um salto semelhante ao observado nos Estados unidos, considerando-se apenas a última década a taxa de obesidade – por aqui cresceu em ritmo superior ao da americana. A continuar assim, estima-se que em cerca de dez anos os brasileiros possam estar tão obesos quanto os americanos. O balão em cápsula é um bálsamo, evidentemente. Mas melhor seria poder evitá-lo – com bom-senso, melhores hábitos alimentares e exercícios.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 28 DE JANEIRO

ESPERANÇA FELIZ

A esperança dos justos é alegria, mas a expectação dos perversos perecerá (Provérbios 10.28).

Todos nós temos sonhos. Quem não sonha não vive. Quem deixou de sonhar deixou de viver. É possível, porém, que você tenha perdido seus sonhos mais bonitos pelas estradas da vida. É possível também que você tenha visto seus sonhos mais sublimes transformando-se em pesadelos. É possível até que você já tenha desistido de seus sonhos, enterrado-os e colocado sobre o túmulo deles uma lápide com letras garrafais: “Aqui jazem os meus sonhos”. Quero encorajar você a retomar esses sonhos e colocá-los novamente na presença de Deus, pois a esperança dos justos é alegria. Deus tem pensamentos de vida e de paz a seu respeito. Se agora você só enxerga nuvens escuras, saiba que por trás delas o sol está brilhando. As nuvens passarão, mas o sol jamais deixará de brilhar. Você não está a caminho do fracasso, mas marchando rumo à glória. Em Cristo, Deus já fez você mais do que vencedor. Não é assim, porém, a expectação dos perversos. Os sonhos deles se tornarão amargo pesadelo. Eles semearam ventos e colherão tempestades. Jogaram no útero da terra espinhos e não colherão figos. Tanto os perversos como a sua esperança perecerão.

GESTÃO E CARREIRA

UM GÁS NA DIVERSIDADE

A PepsiCo faz muito mais do que Pepsi. É a segunda maior fabricante de alimentos e bebidas do mundo e, no Brasil, se destaca por ações em prol de mais mulheres e negros em cargos de Liderança. Ela está com 160 vagas em aberto.

Você deve conhecer a “batata da onda” ou o salgadinho que “é impossível comer um só”, ou o snack que é “só para os corajosos”. Ruffles, Cheetos, Doritos, todos são produzidos pela PepsiCo, multinacional americana detentora de 30 marcas de alimentos e bebidas. Segunda maior do mundo, com um faturamento de US$ 67 bilhões em 2019, a empresa só fica atrás da suíça Nestlé (US$ 99 bilhões). Presente no Brasil desde 1953, a companhia possui mais de 10 mil funcionários por aqui, distribuídos em 11 fábricas e mais de cem centros de distribuição. Suas marcas estão presentes pelo menos em 1 milhão de pontos de venda no país, ajudando a gerar mais de 340 mil empregos indiretos, segundo estimativas da própria PepsiCo. Neste ano, mesmo com a pandemia, a produção está a todo vapor, assim como as contratações. Somente para cobrir os funcionários operacionais que pertencem ao grupo de risco e estão em quarentena, 500 vagas temporárias foram preenchidas. E, atualmente, os processos seletivos de estágio e trainees estão abertos. O foco da multinacional está na promoção da diversidade, o que fez com que o recrutamento nas duas modalidades de contratação fosse às cegas. Nas primeiras fases, os recrutadores não têm acesso ao gênero, à cor nem à universidade em que o candidato estudou. E a fluência em inglês deixou de ser um critério eliminatório. “Entendemos que a inclusão é um diferencial em nossos negócios e buscamos promovê-la de forma justa”, diz Thaisa Thomaz, diretora de RH da PepsiCo.

1. CONTATO DE EMERGÊNCIA

Em vista da pandemia, a PepsiCo disponibilizou o Einstein Conecta, plataforma de telemedicina do Hospital Albert Einstein, para todos os funcionários, sem custo adicional ao plano de saúde. Também implantou um canal de atendimento com assistência psicológica, financeira e jurídica.

2. FÁBRICA EM FOCO

Mais de 90% dos funcionários trabalham nas fábricas e centros de distribuição da companhia, e não pararam durante a quarentena. Para eles, foram oferecidos kits de higiene e máscaras, um número maior de ônibus fretados para evitar lotação e triagem com medição de temperatura.

3. LAR, DOCE LAR

Os funcionários da área administrativa estão em home office e recebem treinamentos online sobre técnicas de meditação, alimentação saudável e educação financeira. Também contam com um benefício para os filhos: a empresa passou a transmitir atividades recreativas ao vivo.

4. DA COR DO ARCO-ÍRIS

A PepsiCo Brasil é membro do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. Desde 2017, promove o Mês do Orgulho em junho, quando acontecem debates e palestras sobre o tema, para reflexão e conscientização. Este ano, o Mês do Orgulho foi online, e teve média de 500 participantes por vídeo.

5. MÃES E PAIS

Biológicos, adotivos, homoafetivos. Todos os papais e mamães funcionários da empresa têm direito a licenças paternidade e maternidade estendidas para 30 e 180 dias, respectivamente.

6. METADE /METADE

Nas fábricas de ltaporanga D’Ajuda (SE) e Goiânia (GO), foi implantado o programa “Inspire”, em que a linha de produção é 50% masculina e 50% feminina, todos com as mesmas atividades. O objetivo no longo prazo é levar o programa para todas as unidades.

7. ECONOMIA DE ÁGUA

Um dos maiores projetos sustentáveis da empresa é o de reúso de água. Na produção dos salgadinhos Doritos, Ruffles, Sensações e Lays, 188 milhões de litros são economizados todos os anos.

8. AÇÕES AFIRMATIVAS

A representatividade geral de pretos e pardos na PepsiCo é de 46%. Nos cargos de liderança, porém, o número cai para 10,5%. A meta é que, até 2025, esse número aumente para 30%. Para tanto, criaram um programa de mentoria que na primeira edição já conta com 18 participantes.

9. LIDERANÇA FEMININA

Mulheres ocupam 44% dos cargos de liderança da PepsiCo no Brasil. O objetivo é chegar em 50% até 2025.

COMPETÊNCIAS

A PepsiCo valoriza as ideias inovadoras e para isso tem reforçado a diversidade dentro da empresa. Aos novos talentos é indicado apenas uma coisa: seja você mesmo.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

TENHA FOCO!

Com algumas práticas, você pode estimular o seu cérebro, melhorar a sua concentração e ter mais qualidade de vida

Voltar no capítulo anterior do livro porque se esqueceu do que acabou de ler. Pedir para o amigo repetir a última frase. Prestar mais atenção na conversa que está rolando na cozinha de casa do que nos estudos. Distrair-se facilmente quando está fazendo prova. Caso você tenha se identificado com uma ou mais dessas situações, chegou a hora de trabalhar a sua concentração! Por meio de algumas posturas adotadas no seu dia a dia, é possível manter mais o foco e dar adeus às distrações.

CONCENTRE-SE

Mas, afinal, o que de fato é a concentração? “A concentração mental pode ser definida como o ato de voltar toda a atenção para um objeto, ideia ou situação específica, evitando, assim, que outras situações interfiram com a atividade que se está realizando”, explica Cristianne Vilaça, psicanalista. De acordo com o psicólogo Thiago Sant’Anna, “a habilidade de concentrar-se e sustentar esta concentração é importante porque nos permite realizar tarefas complexas, atingir objetivos mais difíceis e realizar sonhos”.

ROTINA TURBULENTA

Atualmente, vivemos sob uma pressão sem precedentes. É preciso cada vez mais se acostumar a fazer o maior número de atividades com perfeição, e no menor tempo possível, principalmente se isso tudo estiver ligado a uma rotina frenética. Ir à academia, estudar, trabalhar, iniciar uma dieta, sair com os amigos, pagar as contas, se informar. Ufa! São tantos afazeres que é preciso ter muita concentração para dar conta de tudo. Por incrível que pareça, é justamente isso o que falta para muitas pessoas por aí.

Realizar muitas atividades simultaneamente pode ser uma característica muito admirada. Porém, se o indivíduo não tiver o foco necessário para desenvolver cada uma delas, há uma maior probabilidade de os resultados serem insatisfatórios. “Se houver outras tarefas sendo executadas ao mesmo tempo, não é possível ter o foco direcionado. Tentar dar atenção a várias coisas ao mesmo tempo não favorece a concentração, pois ficamos “fragmentados”, complementa a psicanalista. A exceção fica por conta de atividades que rumam a um mesmo objetivo, como a montagem de um quebra-cabeça, por exemplo. “É uma habilidade treinável, mas que exige grande autocontrole se o objeto ou tarefa que a pessoa deve concentrar-se não desperta interesse relevante”, destaca Thiago.

Cristianne ressalta que conseguimos prestar atenção naquilo que nos provoca afeição, seja pelos aspectos positivos ou negativos, caso contrário, dificilmente manteremos o foco. “Mas, ainda assim, é importante que cada ato seja realizado com atenção única, como se fosse a coisa mais importante naquele momento”, argumenta. Sem foco, dificilmente alcançamos algum objetivo.

CADA UM NO SEU RITMO

A concentração é uma habilidade bastante particular a cada indivíduo. Desse modo, enquanto algumas pessoas são capazes de se concentrar com mais facilidade, mesmo em ambientes cheios de ruídos, outros não têm essa mesma sorte. Para Cristianne, isso acontece porque esses indivíduos “entendem a situação como algo que precisa ser decifrado e compreendido, e o fazem de uma forma lúdica, como uma criança que brinca e sente prazer em descobrir o brinquedo e seu funcionamento”.

Cada pessoa consegue se relacionar melhor com as situações do dia a dia por meio de uma habilidade que é mais desenvolvida por ela: sensações, intuição, sentimentos, pensamento e outras. “Todas elas passam por um processo de reinterpretação pelo cérebro, e é assim que ele entenderá o mundo à sua volta. Quando exercemos o ato da concentração por meio da habilidade que somos mais desenvolvidos, conseguimos executar essa atividade com mais facilidade”, aponta Cristianne.

VOCÊ MAIS FOCADO!

Para o psicólogo Thiago Sant’Anna, “todo comportamento humano é influenciado por estímulos antecedentes e consequentes. Melhorando o controle sobre ambos, é possível treinar e aumentar sua capacidade de concentração”. Aproveite essa, dica e confira algumas maneiras práticas de melhorar a sua atenção.

1. PROCURE UM AMBIENTE TRANQUILO

Procure fazer suas atividades longe de qualquer tipo de distrações e em um lugar calmo. Para isso, “nada de muito barulho, televisão ligada ou WhatsApp. Assim, você ajuda seu cérebro a te ajudar”, indica Thiago. Aliás, tente ficar o mais confortável possível no momento.

2. DEFINA OBJETIVOS

Uma ótima dica é estabelecer quais são as suas metas. Organize um cronograma para realizar suas atividades no dia e comece por aquela que julgar mais importante. Ter prioridades ajuda a manter o foco.

3. DESCANSE

“Se a pessoa sabe que precisará se concentrar em algo importante no dia seguinte, um sono de qualidade na noite anterior é valioso”, avalia Thiago. O cansaço é um dos maiores inimigos da concentração, por isso, ter uma boa noite de sono é fundamental.

4. PRATIQUE ATIVIDADES QUE AGRADEM VOCÊ

“Comece atribuindo-se tarefas que exigem concentração e, que você gosta muito (culinária, marcenaria, meditação, leitura). Você pode aumentar o tempo dedicado a elas, elevar a dificuldade e/ou passar aos poucos para tarefas que, em princípio, lhe agradem menos. Fazendo isso gradual e cotidianamente, sua habilidade de concentração evoluirá”, recomenda o especialista.

5. ACALME-SE

Muitas pessoas ficam tão ansiosas para realizar alguma atividade que acabam não focando no que é preciso. “Nestes casos, exercícios de relaxamento são interessantes, como treinos de respiração”, sugere Thiago. É a hora certa de concretizar aqueles planos de praticar ioga ou meditação, afinal, essas atividades ajudam a desenvolver a concentração e o autocontrole.

6. SAIBA CONVIVER COM AS FRUSTRAÇÕES

Nem sempre temos controle sobre tudo o que acontece. Em função disso, erros e situações frustrantes podem ser corriqueiros. Além de eles serem importantes para aprendermos ainda mais, o pensamento positivo tem papel fundamental em relação ao foco. Para o psicólogo, “desistir e assumir uma postura de que ‘não consegue se concentrar’, de que ‘não tem essa capacidade’ ou outros pensamentos disfuncionais semelhantes é uma fuga. Observe-se com honestidade e procure entender o que pode ser melhorado”.

7. ALIMENTE-SE BEM

Fazer as tarefas que precisa sem nada no estômago pode ser um grande erro. Procure realizar intervalos entre as refeições principais e intercale com pequenos lanches; assim, seu cérebro terá a energia necessária para se concentrar melhor naquilo que precisa. Além disso, sua mente não perde o foco se preocupando com a fome.

8. ORGANIZE SEU ESPAÇO

Trabalhar ou estudar em uma mesa que está um verdadeiro caos é muito ruim. Você pode não encontrar aquilo que precisa, perdendo tempo para procurar, o cérebro se espelha, no ambiente externo: se tudo para além dele estiver bagunçado, já sabe, nada de concentração. Por isso, mantenha sempre o ambiente arrumado e limpo.

9. FAÇA UMA COISA DE CADA VEZ

Não se dedique a realizar muitas atividades ao mesmo tempo. Quando isso acontece, as distrações são mais recorrentes, e você pode não se dedicar totalmente a cada uma delas. Ao final, o resultado não será aquilo que esperava.

10. CONHEÇA O PODER DA MÚSICA

Você sabia que ela pode ser uma grande aliada da concentração? Isso ocorre porque a música estimula várias áreas do cérebro, melhorando não só o foco, mas trazendo vários outros benefícios ao organismo. “Por meio de determinados sons ou músicas, conseguimos aumentar o nível de oxigenação cerebral, resultando numa melhor irrigação sanguínea do cérebro, favorecendo a plasticidade do órgão como um todo”, explica a musicoterapeuta Maria Isabel Sinegaglia.

A música também tem efeitos imediatos, como a sensação de prazer e felicidade, mudando o humor. Atualmente, a musicoterapia virou uma alternativa muito procurada: é um método que utiliza a música para desenvolver habilidades e oferecem tratamento diferenciado aos seus pacientes. De acordo com Maria Isabel, “A medicina sonora atua como tratamento nas áreas física, psíquica, emocional e comportamental, apresentando resultados absolutamente expressivos”.

EU ACHO …

RACISMO ESTRUTURAL E PANDEMIA

A mortalidade tem raça e cor

A pandemia do coronavírus nos Estados Unidos e Brasil apresenta dados importantes sobre as pessoas que têm mais chances de morrer, nos quais os negros e latinos são os mais afetados. Os Estados Unidos têm 13% da população negra com 27% de maior chance de morrer, segundo a entrevista do jornalista da New York Times, Eduardo Porter, autor do livro “O preço de todas as coisas”.

O Ministério da Saúde do Brasil estima que a taxa de mortalidade para 100 mil habitantes no país e muito maior para negros (27.4%) do que para brancos (9,6%). Ou seja, os negros têm 62% mais chance de morrer que os brancos. Dados assustadores e considerados resultados do racismo estrutural como uma das questões fundamentais para esse entendimento.

As desigualdades sociais e raciais também podem ser vistas nas doenças em populações de vulnerabilidade, no não acesso a atendimentos de qualidades nos sistemas de saúde, na precarização da moradia, nos trabalhos básicos e fundamentais para o bem-estar social, entre outros fatores. Tudo isso demonstra injustiças comuns em diferentes contextos históricos, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, segundo Eduardo Porter.

Uma das formas de prevenção do coronavírus de ficar ou trabalhar em casa não é privilégio da população negra e latina. Os trabalhadores com maiores chance de contaminação e letalidade são motoristas, domésticas, entregadores e atendentes, todos exclusos de redes de solidariedades já estabelecidas antes da pandemia, redes pautadas na coletividade, na convivência e na cooperatividade. Atualmente, essas redes foram reduzidas na prevenção do coronavírus.

Infelizmente, a naturalização e a banalização das mortes nos dois países são parte do racismo estrutural, como diz Silvio Almeida, autor do livro “O racismo estrutural”. Ele salienta que o racismo aniquila a potência da vida quando banaliza a morte em massa e outras demandas que a sociedade já viveu por muitos anos, com o desaparecimento de pessoas na ditadura, o encarceramento dos jovens pretos e pobres, brutalidade policial, violência à mulher negra e, na atualidade, essa hostilidade racial mais de 200 mil mortes do coronavírus no Brasil, em muitos casos sem direitos a velórios, proibidos na pandemia.

A banalização das mortes – principalmente as mortes negras – criam corpos sem identidade. Uma sociedade que se desumaniza desta forma está em crise, e o racismo é uma doença que vem oprimindo a sociedade globalmente, pois é uma forma de naturalização da morte do outro. Silvio Almeida questiona: “Por que alguém pode pensar que merece viver mais que o outro?” Você tem alguma hipótese?

Uma pessoa negra pode não ser a exceção em estar vivo ou por ser sinônimo de sucesso. Isso deveria ser natural, principalmente no Brasil onde a maioria da população é de origem negra; não é possível negar as necessidades dessa numerosa população. Seria esse, talvez, o motivo da violência ser maior na população negra? São características típicas do racismo estrutural… A população negra vive o tempo todo experienciando situações de exclusões baseadas nas relações raciais.

Os resultados do racismo estrutural e da pandemia se afinam para a sociedade continuar desejando a morte do povo negro. Segundo Silvio de Almeida, é como se a cor da pele também provocasse mais medo e pavor num contexto da pandemia. O racismo é pandêmico e a pandemia produz medo e racismo.

A pandemia configura-se também como forma de in­ justiça e opressão que o Estado e o sistema neoliberal têm como ferramenta de controle de suas instituições, sejam estas econômicas ou políticas. São nesses segmentos que as ações precisam ser ajustadas de forma digna e decente para a população pobre e negra, adjetivos quase sinônimos no Brasil. É preciso reconhecer a “doença racismo”, estruturar ações com representatividade, direitos, moradia, rendas e espaços de decisão para a mudança.

Utilizando uma terminologia de saúde, poderíamos dizer que as vidas negras são vírus e precisam ser controladas por um sistema em crise que não combate o que não lhe interessa. A demora da vacina como prevenção também pode ser parte desse parâmetro. Idealmente, quando se trata de racismo, as ações precisam ser muito mais que preventivas. As ações precisam ser coordenadas por toda a sociedade que está desumanizada. É preciso quebrar a curva do crescimento do racismo pandêmico.

Os casos de opressão, violência, mortes e injustiças precisam cair. Nós precisamos desinfectar pensamentos que não fazem a sociedade avançar e “reinfectar” todo o povo no avanço e num futuro mais civilizado, pois os Estados que não promovam paz e humanidade estão equivocados na condução de suas instituições.

Os números das mortes denunciam o racismo, necessários e fundamentais para pensarmos no futuro além da raça como fator classificatório dos seres humanos, como conclui Sílvio Almeida em seu livro brilhantemente. É preciso sonhar e agir rapidamente nessa direção!

*** TEREZINHA RIBEIRO –  tmjribeiro8@gmail.com Facebook: Terezinha Ribeiro Instagram: @tmjribeiro

OUTROS OLHARES

CELEBRIDADES DIGITAIS (MESMO)

Elas têm milhões de seguidores, fazem campanhas, gravam músicas, falam sobre sexo, mas na verdade não existem no mundo real: são robôs criados em computador

“Estou super agradecida por minha primeira experiência com o amor ter sido com alguém que se importava comigo de todo o coração. E, mesmo com o colapso e a separação embaraçosa que se seguiu, parece que avançamos.” A declaração é emotiva, mas que também exprime maturidade e faz parte de um post publicado no início deste mês pela influenciadora digital californiana Lil Miquela, de 22 anos, em seu perfil no Instagram. A mensagem, dirigida a seus 2 milhões de seguidores, tinha por objetivo anunciar o fim do namoro da moça com um certo Nick. Não é novidade, claro, que celebridades venham a público falar da vida pessoal. No caso de Lil Miquela, no entanto, há uma particularidade. Ela não é de carne e osso ó só existe no maravilhoso mundo virtual. Trata-se de um robô criado em computador graças aos extraordinários avanços da inteligência artificial (IA).

Como assim? E as selfies que inundam suas redes sociais? Simples: não são verdadeiras. E as fotos posadas ao lado de famosos? Resposta: jamais ocorreram em qualquer ponto do território terrestre. E a história de que sua família é metade brasileira e metade espanhola? Pura ficção. Lil Miquela é a mais fulgurante das celebridades virtuais, porém com fama e “influência” ao redor do planeta bastante palpáveis. Ela estreou no Instagram em abril de 2016 e, durante meses, gerou uma série de especulações, principalmente em razão do fato de que seu rosto nunca aparecia focado de forma nítida pelas lentes das câmeras fotográficas. As teorias conspiratórias não demoraram a ser desenvolvidas por muitos que perceberam que aquela não era uma pessoa de verdade e sim, nem sempre isso fica evidente para os fãs, e é preciso reconhecer que seus idealizadores capricharam na hora de provocar a “confusão”. Houve quem apostasse em uma “jogada de marketing” do The Sims, série de jogos eletrônicos que simulam a vida real. Outros diziam acreditar que Lil Miquela estava a serviço de algum misterioso experimento social. Não demorou, entretanto, a ficar evidente a que ela vinha: Lil Miquela surgiu para cumprir o papel de garota-propaganda. Nas fotos que publica no Instagram, ela sempre aparece usando roupas de grife como Prada, acessórios da Chanel e sapatos Dior. Nada mais it girl. Lil Miquela já gravou hits como Not Mine, que viralizou no Spotify, dá dicas de restaurantes e viagens, e usa a web para apoiar causas sociais, como o movimento Black Lives Matter (campanha de denúncia da violência policial contra afrodescendentes nos Estados Unidos) e a organização Black Girls Code, que oferece aulas de programação e robótica a jovens negras. Tudo isso beira as fronteiras entre o mundo real e o virtual. Até hoje nunca ficou claro se Lil Miquela tem partes de seu corpo adaptadas do corpo de mulheres deslumbrantes – e verdadeiras.

No universo em que Lil Miquela circula também cintilam outros modelos digitais de sucesso, como a delicada Imma e o despojado Blawko22. A primeira é apresentada como uma jovem japonesa que, segundo ela mesma, “pode desfrutar a mais alta tecnologia de simulação virtual”. Suas fotos, não se duvida, esbanjam realidade. Imma tem, atualmente, 175.000 seguidores. Blawko22, modelo negro “nascido” na Califórnia, se destaca por ir além das fotografias. Ele também é youtuber. Em seu canal, discute comportamento, corpo e sexo – já fez, inclusive, um vídeo sobre “como contar a seus pais que você se sente atraído por robôs”.

Lil Miquela e Blawko22 são “assessorados” pela mesma “agência”, a Brud, que na verdade é uma empresa de tecnologia do Vale do Silício envolvida em uma aura de segredos. Seu site, por exemplo, traz apenas um documento, no qual a Brud se descreve como “um grupo de solucionadores de problemas em robótica, inteligência artificial e seu uso para empresas de comunicação”. Em janeiro do ano passado, o site especializado em tecnologia TechCrunch informou que os criadores de Lil Miquela haviam conseguido 125 milhões de dólares do fundo Spark Capital, que investe em startups. O negócio com “pessoas digitais” já despertou a atenção de grandes companhias. Um projeto chamado Neon, por exemplo, da Star Labs, subsidiária da Samsung, apresentou, no início deste ano, os “humanos artificiais”, como a empresa chama os avatares gerados por computação gráfica em tempo real, dotados de IA e capazes de entender o contexto das interações de que participam. A proposta, segundo o gigante sul-coreano, é criar “representantes de serviços, consultores financeiros, profissionais de saúde ou concierges”. Com o tempo, eles também estarão aptos a substituir “âncoras de TV, atores, porta-vozes ou mesmo ser nossos amigos e companheiros”. A ideia é oferecer ao público uma interface mais humana, que tenha expressões genuínas, consiga demonstrar emoções e até reagir diante de determinadas situações – uma sala de conferências cheia de gente como a gente, para citar uma possibilidade. O próprio nome Neon é uma espécie de acrônimo de “NEO humaN”, ou “novos humanos”.

Quando se estuda o impacto provocado por criaturas virtuais como essas esbarra-se, invariavelmente, em um sentimento: temor. Ele é explicado pela teoria do “Vale da Estranheza”, desenvolvida nos anos 1970 pelo roboticista japonês Masahiro Mori. De acordo com Mori, os humanos tendem a apresentar maior repulsa em relação a androides que se assemelham a eles; isso depois de uma simpatia inicial. Em 2010, um estudo da Universidade Harvard confirmou a tese ao analisar a reação de pessoas a seres digitais que gradualmente ganhavam feições humanas. Constatou-se que, quanto mais parecidos conosco, maior é o medo que os robôs nos provocam. Se as novas gerações continuarem a reagir assim, a fama de Lil Miquela e companhia poderá ser tão efêmera quanto a de certas ex-celebridades do mundo real.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 27 DE JANEIRO

LONGEVIDADE ABENÇOADA

O temor do Senhor prolonga os dias da vida, mas os anos dos perversos serão abreviados (Provérbios 10.27).

O temor do Senhor é um freio contra o mal. É o princípio da sabedoria. Nada pode deter o homem de praticar o mal senão o temor do Senhor. Haverá momentos em que você estará longe dos pais, dos filhos, do cônjuge, dos amigos, da pátria, e nessas horas de solidão e isolamento a tentação baterá à porta do seu coração com ímpeto ou com manhosa sedução. Nessas horas o único freio moral é o temor do Senhor. Ele é a sirene que acorda a consciência. O temor do Senhor impediu José do Egito de se deitar com a mulher de Potifar. O temor do Senhor impediu Neemias de ser um político corrupto. O temor do Senhor nos livra de lugares perigosos, atitudes suspeitas e pessoas sedutoras. O temor do Senhor prolonga os dias da vida. Por outro lado, os anos do perverso, que não anda no temor do Senhor, são abreviados. Isso porque ele não conhece a Deus, a fonte da vida. Por não andar no temor do Senhor, ele se envereda pelos caminhos sinuosos do pecado. Por desprezar os conselhos divinos, envolve-se em tramas de morte e encurta seus dias sobre a terra. O temor do Senhor, porém, é o elixir da vida. Quando andamos por esse caminho, desfrutamos de abençoada longevidade.

GESTÃO E CARREIRA

DINHEIRO VELHO, ATITUDE NOVA

Os jovens herdeiros não estão interessados apenas em multiplicar a fortuna da família. Querem usar o dinheiro para transformar o mundo

Ao longo das próximas duas décadas, será feita a maior transferência de riqueza (e poder) da história da humanidade. Cerca de US$ 30 trilhões passarão para as mãos da próxima geração de herdeiros. Mais conscientes, globalizados e engajados, esses jovens querem mudar (e salvar) o mundo. Que ninguém os confunda com filantropos, como fora muitos de seus pais e avós. Eles são mais. Querem usar o dinheiro sobre o qual têm influência para fomentar a construção de um futuro próspero, sustentável e socialmente justo. Estão de olho em ativos e títulos atrelados a negócios e países preocupados com o meio ambiente, com garantia dos direitos humanos, combate à corrupção, boa governança corporativa e desenvolvimento econômico e social – aspectos aglutinados na sigla ESG, do inglês environmental, social and governance. Nesse contexto, retorno significa rentabilidade combinada à mitigação de danos ambientais e ganhos sociais. “Investir e dedicar tempo a causas filantrópicas é de extrema importância. Mas é só uma parte do que podemos fazer pela sociedade”, diz

Marina Cançado, uma das herdeiras do grupo de farmácias Drogai, do interior paulista, é uma das vozes mais ativas dos futuros líderes.

Com interesse pela área de políticas públicas, a jovem se formou em administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), fez pós-graduação em Washington e se engajou no programa de formação para jovens herdeiros ministrado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Também participou de projetos destinados ao programa Bolsa Família, quando circulou pelas periferias para conhecer a realidade dos beneficiários. Aos 31 anos, Marina é o espelho de uma juventude bem-preparada, informada e engajada. “Se você é jovem e tem acesso a capital, precisa se tornar protagonista na construção de um futuro melhor”, defende ela. Quando percebeu que não há filantropia que dê conta das demandas ambientais, sociais e econômicas, Marina viajou o mundo em busca de conhecimento. “Quis entender o que, de fato, eram os investimentos de impacto. Estudei iniciativas na Ásia, Europa e América do Norte”, lembra. Juntou-se então a uma rede global, o The ImPact, um clube exclusivo que reúne famílias com fortuna superior a US$ 700 milhões. Entre os “sócios” estão: Justin Rockefeller, 40 anos, tataraneto do magnata do petróleo John D. Rockefeller; Liesel Pritzker Simmons, 35 anos, herdeira da fortuna dos Hotéis Hyatt; e Jason Ingle, tataraneto de Henry Ford.

O grupo almeja mudar as bases dos negócios e dos mercados de capitais, alinhando a forma como as famílias ultra ricas investem seu dinheiro às métricas ESG, compatíveis com os objetivos de desenvolvimento sustentável propostos pela Organização das Nações Unidas. Em 2015, a ONU propôs que seus 193 países-membros assinassem a Agenda 2030, um programa global composto por 17 objetivos, nos âmbitos econômico, social e ambiental, a ser alcançado até 2030. Entre as metas sugeridas. estão a erradicação da pobreza e da fome, a promoção da agricultura sustentável e sociedades pacificas e inclusivas, entre outras. Cofundador do The lmPact, em um vídeo para a entidade Justin Rockfeller conta que seu tataravô passou metade da vida fazendo dinheiro e outra metade doando. A família segue com a tradição filantrópica, mas Justin entende que é preciso ir além. “Vejo nos investimentos de impacto a continuidade desses valores. O que cada um faz com seu dinheiro tem consequências, e eu me importo com um mundo pacífico e sustentável”, defende.

Não se trata de deixar dinheiro na mesa. A filantropia é parte da carteira de impacto – o montante que se investe a fundo perdido, sem retorno. Nos negócios, esses herdeiros querem fazer a fortuna crescer, claro, mas sem jamais abrir mão de seus ideais e propósitos. Buscam um novo capitalismo, de bases muito semelhantes às defendidas por Klaus Schwab, 81 anos, fundador do Fórum Econômico Mundial. No final de janeiro, o encontro anual da organização foi marcado por discussões sobre os desafios ambientais e sociais que nós enfrentamos atualmente. O senso de urgência tomou conta das palestras em Davos e a sigla ESG foi unia das mais ouvidas.     

Em um manifesto público, Klaus Schwab clamou por um novo tipo de capitalismo. No “capitalismo stakeholder”, os interesses das empresas estão voltados para qualquer um que dependa, diretamente ou não, do sucesso da companhia – acionistas, funcionários, clientes, a comunidade local e outras empresas naquela cadeia produtiva. Como bem definiu Marc Benioff, 55 anos, CEO e fundador da Salesforce, a terra é nosso maior stakeholder. E assim, o interesse coletivo entra na composição do lucro. “Passou a fase do capitalismo de acionistas”, sentenciou Klaus Schwab, na abertura do fórum. Cabe às empresas pagar sua parte justa dos impostos, mostrar tolerância zero à corrupção, lutar pelos direitos humanos em suas cadeias de suprimentos globais e defender igualdade nas condições de concorrência.

  E o mundo tem pressa. A solução das questões sociais e ambientais exige ação efetiva e investimentos. Há muito a ser feito na próxima década, de modo a cumprir a Agenda 2030, da ONU. Os países em desenvolvimento, por exemplo, demandam recursos em ramos como saneamento básico, energia, gestão de lixo, acesso à água, alimentação, habitação popular e educação. Segundo a Rede Global de Investimentos de Impacto (GIIN, na sigla em inglês), são necessários US$ 2,5 trilhões por ano para habilitar esses países a avançar em suas metas.  Definitivamente, não é um montante que virá da filantropia ou dos cofres públicos. “Os investidores estão aficionados pelas empresas de tecnologia. Mas há retorno concreto em negócios que resolvem necessidades básicas”, comenta Pedro Vilela, 36 anos, sócio da Rise Ventures. Ele já se aventurou em negócios ligados a essa “economia real” que renderam 200 % de retorno.

Os investimentos de impacto estão em fase probatória. De acordo com o GIIN, o volume investido em ativos engajados soma USS 502 bilhões. Entre os setores de alocação estão energia renovável, habitação, saúde, educação, microfinanças e agricultura sustentável. Relatórios da instituição mostram que o montante tem crescido, mas é preciso pressionar o mercado financeiro a ampliar a oferta de soluções.

Para Fernando Russo, 42 anos, herdeiro da fortuna dos laboratórios Fleury, um dos maiores desafios da sua geração é provar ser possível fazer negócios em parceria com a natureza. “Um modelo de prosperidade, em que todos ganham”, como define. Depois de vender a P2Com, empresa de eventos corporativos fundada por ele em 2016, Fernando encarou um mestrado no lnsead, em Fontaine Bleau, na França. Foi lá que ele teve o primeiro contato com os conceitos ESG. Em seguida, Fernando se dedicou ao trabalho voluntário, apoiando e transferindo conhecimento para empreendedores em Uganda, na África e em Camboja, na Ásia. “A minha vontade era trabalhar com empreendedorismo, mas seguindo meus propósitos”, lembra. Com seu próprio capital, começou a investir em negócios de impacto. A experiência culminou no que ele chama de filosofia de investimento. Fernando olha seu portfólio com lupa e dá preferência a negócios com preocupação ambiental e boas práticas de governança. Investe em segmentos como agroecologia e manejo florestal. Mas mantêm o foco ESG também em opções tidas como mais tradicionais. “Se vou investir em gado, por exemplo, analiso como a propriedade maneja o rebanho, se está integrando técnicas modernas e como atua para regenerar a natureza”, conta. Para ele, o momento é de transição, de adaptação das carteiras de investimento e de procura por empresas que estão na mesma toada, na busca por se tornarem sustentáveis.

A visão de negócios de Fernando agradou tanto ao pai, o médico Ewaldo Russo, que o jovem é responsável por cuidar da fortuna da família. A orientação é diversificar os investimentos, seguindo uma regra simples: buscar oportunidades com a mesma atenção às boas práticas que o pai sempre defendeu na rede Fleury. Fernando usa as métricas ESG na hora de comprar ações de empresas, letras de crédito ou títulos de países. “O compromisso é ter um portfólio 100% alinhado à visão de impacto”, explica. Segundo ele, a rentabilidade está dentro do esperado e, em alguns casos, os negócios alinhados à nova proposta superam os lucros médios do mercado tradicional.

Aos 31 anos, Fernando Scodro é outro jovem brasileiro com mandato para comandar os neg6cios de impacto da família – cuja fortuna veio com a fábrica de biscoitos Mabel, vendida para a PepsiCo em 2011. Ele despertou para as questões socioambientais quando trabalhou com uma startup do mercado de gestão de energia. O negócio tinha como objetivo reduzir o consumo energético nas empresas. “Nós éramos remunerados em uma atividade sustentável, lembra. No curso “Investimentos de Impacto para a Próxima Geração”, ministrado na Universidade Harvard, em 2014, Fernando foi formalmente apresentado nos conceitos de ESG. Entendeu que era possível trazer essa lógica de negócio para todas as classes de ativo: “Pensei: é tão óbvio, por que é que não estamos fazendo isso?”.

De volta em casa, animado com os novos conhecimentos, Fernando achou que seria fácil convencer a família. Ingenuidade, como ele mesmo define. “Há pouca informação no Brasil sobreo tema, e não adianta falar dos conceitos em inglês”, diz. O jovem decidiu traduzir o curso de Harvard, adaptar os conceitos à realidade brasileira e ministrá-lo para sua família. No processo, um colega de curso, o americano Samuel Bonsey, 31 anos, convidou Fernando para integrar o time de fundadores do The lmPact, oferecendo a ele um escritório na sede da organização, em Nova York. “Acabei me tornando responsável por trazer o grupo para o Brasil”, diz. Hoje Fernando mora em Londres, onde há mais informações e opções para o portfólio de impacto. No Brasil, os pais, Marcha e Sergio Scodro, estão à frente do The lmPact. Entre os negócios em que eles investem estão os de agricultura sustentável e manejo florestal.

Os investidores têm pressionado o mercado financeiro por mais opções na composição de uma carteira engajada. No mês passado, Larry Fink, 67 anos, CEO e presidente do conselho da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, com quase USS 7 trilhões de ativos sob sua administração, anunciou, em carta ao mercado, que vai colocar a sustentabilidade no centro de suas decisões de investimento. A meta é utilizar as métricas ESG como padrão na oferta de soluções financeiras. Segundo o executivo, os riscos climáticos estão forçando os investidores a reavaliar seus pressupostos de finanças, o que vai mudar a estrutura do mercado de capitais. “Instituições com compromisso de rentabilidade no longo prazo estão saindo do ramo de energia fóssil”, exemplifica Marina Cançado. Segundo dados da organização não governamental 350.org, 1.176 instituições, com a soma de USS 12 trilhões em ativos, não querem mais investir em negócios relacionados a carvão, petróleo e gás. Em Davos, o Fórum Econômico Mundial formou uma coalizão de investidores institucionais – com quase US$ 4 trilhões sob gestão. Eles se comprometeram a migrar suas carteiras para investimentos que buscam a neutralidade de emissões de carbono até 2050.

Uma semana depois da divulgação da carta de Larry Fink, o Citi lançou um fundo de impacto no valor de USS150 milhões, para investir em empresas do setor privado que querem dar retorno financeiro e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento da sociedade com seus negócios. A Microsoft revelou sua ambição de atingir emissões líquidas zero até 2030 ecompensar, até 2050, todas as emissões que produziu em sua história. Já a Nestlé pretende investir US$ 2 bilhões em embalagens sustentáveis. Essa resposta das instituições financeiras e empresas é o que os investidores querem. Não é uma questão de bondade. Mantidos o ritmo atual de degradação da natureza e os problemas sociais sem solução, todos nós seremos atingidos.

“É ruim para o sistema”, comenta Fabio Alperovitch, 48 anos, sócio da Fama Investimentos. Simples assim.

A Fama tem avaliado negócios de impacto e constatado que empresas mais preocupadas com a sustentabilidade apresentam menor risco ao investidor. “Há uma ideia errada de que elas não buscam retorno financeiro”, comenta Fabio. Na realidade, explica ele, companhias com esse perfil arriscam menos nos terrenos regulatórios e ambientais – reduzindo perdas financeiras com indenizações e processos. “Elas também agradam a nova geração de consumidores”, completa.

Negligenciar a natureza é um tiro no pé para os negócios. Estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, em parceria com a consultoria PwC, aponta: metade do produto interno bruto (PIB) global, ou US$ 44 trilhões, depende, em maior ou menor grau, da natureza – da polinização, da qualidade da água e da manifestação de doenças, por exemplo. O levantamento englobou 163 setores da indústria e suas cadeias de suprimentos. Estão mais expostos às intempéries e mudanças nos padrões naturais segmentos como o da construção, da agricultura e da indústria de alimentos e bebidas. De acordo com os resultados do trabalho, há ainda uma diversidade de negócios com a chamada “dependência oculta” da natureza. Essa denominação serve para a indústria química e de logística, entre outras. São setores que não dependem diretamente da natureza, mas que estão na cadeia produtiva dos que estão intrinsecamente ligados às alterações do tempo ou de pestes. Isso significa que, em um cenário de degradação socioambiental mais intensa, podem simplesmente desaparecer.

A pressão também recai sobre os países, que precisam vender títulos públicos e atrair investimentos. Em Davos, Úrsula Von der Leyen, 61 anos, presidente da Comissão Europeia, mandou um recado amargo para as nações usuárias pesadas de combustíveis fósseis, como a China. A União Europeia pode taxar os produtos desses países se eles não encontrarem alternativas para mitigar as emissões de CO2. A executiva cobra transparência no inventário de carbono e a precificação das emissões. Para ela, não faz sentido limpar a matriz europeia e continuar importando produtos de grandes emissores de gases do efeito estufa.

Para o Brasil, as queimadas na Amazônia, mantidas fora de controle, podem prejudicar acordos de comércio internacional. Outro problema, destacou Roberto Campos Neto, 50 anos, presidente do Banco Central, está no impacto que as questões ambientais exercem sobre o fluxo de capitais. Segundo ele, a política brasileira tem se baseado na capacidade de atrair investimento privado, e parte desse investimento vem de fora do país. “O investidor externo vai olhar esses critérios de governança ambiental. Precisamos estar em conformidade”, disse o presidente do BC.

Eugênio Mattar, 67 anos, cofundador e presidente da Localiza, lembra que o investidor não é ingênuo. Ele sempre vai procurar o investimento atrelado à sua expectativa de retorno económico. Parte do trabalho está em avaliar impactos sociais e ambientais, buscar dados que estão além dos prospectos e verificar se empresas e países são transparentes nas respostas. “Tem de pesar tudo na balança e ver se compensa”, diz. Para Eugênio, as empresas não podem se alienar de seu papel na sociedade. ”É algo que tem de estar no cerne do negócio. Todas as decisões que tomamos possuem impacto”, defende o executivo. Na Localiza, ele direcionou a renovação de frotas com a aquisição de veículos leves e menos poluentes. Também baixou o preço dos aluguéis, para oferecer uma solução de mobilidade capaz de desencorajar a compra de um automóvel próprio. Como efeito colateral positivo, a empresa caiu no gosto dos motoristas de aplicativo, que locam veículos a taxas de R$ 60 por dia e geram renda com esses ativos. “Os veículos são a ferramenta de trabalho de muitos desempregados”, completa Eugênio.

Para Roberta Goulart, 40 anos, sócia da Turim Family Office, a falta de métricas padronizadas para medir impacto é um gargalo relevante do setor e atrapalha a disseminação dos conceitos. “Gestores de fortunas ou fundos precisam dar retorno. O mercado tem metodologias disponíveis para medir o financeiro”, diz. De fato, uma das missões do encontro em Davos é o de costurar as propostas para criar uma métrica única, permitindo assim, mais transparência nas avaliações para os investidores e o nivelamento na concorrência. Do jeito que está hoje, é difícil separar o joio do trigo. “Tem produto que diz que é verde, mas não é”, completa Fabio Alperowitch, da Fama.

Outro desafio, no Brasil, está na falta de conhecimento sobre o tema. “Ainda é muito incipiente e há dificuldade em encontrar oferta de produtos ESG no mercado financeiro”, aponta Márcio Correia, 43 anos, sócio da JGP Investimentos. Segundo ele, nem mesmo os profissionais do setor sabem como avaliar e indicar negócios de impacto. ”A pressão virá dos investidores, que devem demandar essas soluções”, comenta. Roberta Goulart, da Turim, lembra que os estrangeiros já cobram opções de impacto quando querem investir no Brasil. Os dois especialistas admitem que temos muito trabalho pela frente para educar o mercado e fomentar negócios engajados.

Nesse contexto, Marina Cançado bate o pé sobre a importância de articular os herdeiros. “Temos de fazer pressão”, diz. Neste mês, ela vai reunir famílias ricas em um evento no Rio de Janeiro, o Converge Capital Conference 2020, para explicar os conceitos de impacto, demonstrar casos de sucesso e provocar ações para criar massa crítica no mercado financeiro nacional. O objetivo é expandir o olhar do investidor e estimular a criação de produtos financeiros. Com o resultado, ela espera iniciar um ciclo de transformação nas carteiras de investimento das fortunas brasileiras. ”Precisamos alinhar a aplicação de capital com as metas de futuro, pensando no desenvolvimento econômico sustentável do país, resume a jovem. O documento de apresentação da Converge Capital Conference 2020 instiga: “Qual é o nosso papel como indivíduos com grande patrimônio, ou como instituições financeiras brasileiras? Já paramos para pensar em que mundo estamos investindo? Afinal, no que investimos hoje determinará o mundo no qual iremos viver amanhã”.

– A história nos julgará pela diferença que fazemos no dia a dia das crianças.

A frase, de Nelson Mandela, foi citada por Bill Gates, 64 anos, durante evento da União Africana, realizado em 2018, em Adis-Abeba, Etiópia. No discurso, o executivo lembrou sua surpresa quando recebeu a ligação de Mandela pedindo ajuda para financiar a primeira eleição livre da África do Sul, há 26 anos. “Naquele tempo, eu passava a maior parte dos meus dias na Microsoft, pensando em softwares. Não sabia muito sobre a África. Mas admirava o Mandela, fiz a doação e prometi visitá-lo”, contou.

Além de cumprir a promessa, Gates adotou o continente como destino dos investimentos filantrópicos da Fundação Bill & Melinda Gates, que já aplicou mais de US$ 15 bilhões em iniciativas de saúde e erradicação da pobreza na região. Orientado pela matemática, o filantropo mede o impacto das iniciativas: para cada dólar investido, outros 20 são gerados em benefícios sociais e econômicos. A fundação financia de acesso a vacinas a empreendimentos em áreas como agricultura e energia renovável. Entre os exemplos, está o empréstimo inicial de US$ 5 milhões para uma startup queniana, a M-Kopa, que levou kits para produção de energia solar a mais de 750 mil clientes. A empresa vende os equipamentos, em prestações. Cerca de 80% de seus clientes vivem com menos de USS 2 por dia, e 75% dependem da agricultura de subsistência. São pessoas que antes dependiam do querosene e hoje se orgulham de suas lâmpadas.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FARTURA E FOME

Faltam evidências de muitos dos supostos benefícios do jejum intermitente

Um saudável controle de peso traz muitos benefícios comprovados: risco menor de diabetes, menos dores nas articulações, chances menores de certos tipos de câncer e um sistema cardiovascular mais equilibrado. Alguns regimes, em particular a dieta mediterrânea, parecem muito adequados para gerar essas vantagens, embora somente quando as pessoas conseguem evitar a sobre alimentação ao segui-los. Agora, novas pesquisas sugerem que outro regime pode oferecer benefícios ainda maiores. Pelo menos essa é a afirmação de alguns que estudam uma abordagem chamada jejum intermitente.

O jejum intermitente (Jl) tem suas raízes em décadas de estudos que mostram que, se alimentarmos roedores em dias alternados, eles não só ficam esguios como desenvolvem menos doenças relacionadas ao envelhecimento e vivem de 30% a 40% mais tempo. Em um artigo de 2019 no New England Journal of Medicine, o gerontologista Rafael de Cabo e o neurocientista Mark Mattson sintetizaram uma grande quantidade de descobertas feitas em animais e, em número menor, em pessoas. Em roedores, e até certo ponto em macacos, o JI reduz peso corporal, pressão arterial e os níveis de colesterol, e melhora o controle glicêmico, reduz inflamações sistêmicas, mantém a saúde cerebral e até aumenta a resistência e a coordenação. Em humanos, estudos mostrara m que várias formas de Jl podem ser eficazes para perder peso, controlar o açúcar no sangue e abaixar a pressão arterial. “Mas, muitos benefícios que vemos em animais não estão ocorrendo em humanos”, diz Krista Varady, professora de nutrição na Universidade de Illinois.

O JI ocorre de três maneiras principais: jejum em dias alternados, quando as pessoas alternam entre dias de fartura (comendo normalmente ou um pouco a mais) e dias de jejum, com uma refeição “magra”, de cerca de 500 calorias; o plano 5:2, que significa comer normalmente cinco dias na semana, mas ingerir uma refeição bem pouco calórica nos outros dois; e a alimentação de tempo restrito, quando a refeição se restringe a uma janela de oito horas (ou, em algumas versões, de seis ou 10 horas).

Cientistas atribuem muitos dos efeitos positivos do JI à chamada alternância metabólica; após 10 ou 12 horas de jejum, o corpo exaure seu suprimento de glicogênio e começa a queimar cetonas. Essa alternância afeta fatores de crescimento, sinais imunes e outras substâncias químicas. “Mas isso não explica tudo”, diz Mattson. “Esses períodos de jejum-comer-jejum-comer ativam genes e caminhos de sinalização que tornam os neurônios mais resilientes”, diz ele, baseado principalmente em pesquisas em animais. “Isso estimula um processo chamado autofagia: as células entram em um modo de resistência ao estresse e reciclagem no qual se livram de proteínas danificadas, diz.

Há boas evidências de que o JI ajuda a emagrecer. Dois estudos compararam o regime 5:2 com uma dieta que reduzia as calorias diárias em 25%; ambos constataram que os dois regimes levaram à mesma perda de peso ao longo de três a seis meses. Mas o JI trouxe um melhor controle do açúcar sanguíneo e uma maior redução em gordura corporal. E um estudo de 2019, feito pela equipe de Varady, mostrou que o jejum em dias alternados favoreceu uma melhora na resposta corporal à insulina mais de duas vezes superior à gerada pela dieta de redução calórica.

O JI também pode ter uma vantagem em reduzir a pressão arterial, diz Courtney Peterson. Em um estudo pequeno, porém rigoroso, com homens pré-diabéticos, o laboratório de Peterson mostrou que restringir refeições a uma janela de seis horas que terminava às 15h levava a uma melhor sensibilidade à insulina e pressão arterial, mesmo sem perda de peso. Quanto a outros benefícios, dezenas de ensaios humanos estão em andamento para testar o JI como uma forma de desacelerar o crescimento de um câncer e reduzir os sintomas de esclerose múltipla, acidente vascular cerebral, doença de Crohn e outras enfermidades.

No fim das contas, as únicas dietas bem-sucedidas – qualquer que seja a meta – envolvem mudanças permanentes em hábitos alimentares. O JI pode funcionar bem no longo prazo para quem gosta de pular refeições e detesta contar calorias. Mas Varady viu uma alta taxa de desistência em um estudo de um ano de duração e é cética quanto a janelas de tempo restrito que fecham muito cedo: “Ninguém quer pular o jantar”.

EU ACHO …

O QUE A CIÊNCIA TEM DE ESPECIAL

Paradoxalmente, o valor da ciência não está nas ideias ou no conhecimento objetivo, mas na atitude de quem a pratica.

Um dos principais efeitos da pandemia foi trazer a ciência para as manchetes e para o centro do debate público. De uma hora para outra, uma profusão de virologistas, infectologistas, epidemiologistas ou apenas curiosos se converteram em “divulgadores científicos”, receberam contas verificadas nas redes sociais, passaram a assinar colunas em jornais e revistas e a dar entrevistas diárias aos noticiários televisivos, tornaram-se protagonistas num debate que, de modo algo cru, poderia ser classificado como a “grande batalha da verdade contra a mentira”. Ninguém pode negar o poder da ciência. Só ela, por meio de vacinas seguras e eficazes, tirará a humanidade da enrascada em que o novo coronavírus a enfiou. A julgar, porém, pelo número de mortos que se empilham, pela dificuldade de lidar com novas ondas e linhagens, pelo aumento da resistência irracional à vacinação, ninguém pode negar também que, em que pese todo esse poder, a ciência e a verdade não têm se saído lá muito bem na briga.

Seria fácil atribuir a responsabilidade a este ou àquele governante – Donald Trump e Jair Bolsonaro certamente têm culpa em cartório. Fácil e errado. As dificuldades dos cientistas na arena política são bem anteriores à pandemia ou à eleição de qualquer um dos dois. Derivam de uma crise de identidade que, infelizmente, os cientistas foram até hoje incapazes de resolver; de uma visão incorreta – ou incompleta – que têm da própria atividade. “Enquanto seria confortável imaginar a ciência como uma longa série de passos rumo à verdade – com suas falhas causadas apenas pelos cabeças-duras e ignorantes – , tal visão é desmentida pela história, que está repleta de teorias que eram científicas, mas simplesmente se revelaram erradas”, escreve o filósofo da ciência Lee McIntyre em The scientific attitude (A atitude cientifica).

Lançado meses antes que a palavra coronavírus entrasse no vocabulário cotidiano, o livro é uma defesa da ciência diante dos ataques de negacionistas, religiosos ou políticos. McIntyre não tem a ingenuidade missionária que emana do discurso dos cientistas, nem a crença em que a verdade por si só bastará para convencer a todos. “O que deveríamos fazer com aqueles que simplesmente rejeitam os resultados da ciência?”, pergunta. “Podemos ser tentados a desmerecê-los como irracionais, mas fazemos isso por nossa conta e risco.” Quem estiver mesmo interessado em entender por que a ciência é especial, diz ele, tem muito a aprender com quem a rejeita ou a abandonou. “Uma coisa é discernir o que distingue a ciência examinando a transição de Newton para Einstein, outra bem diferente é enfiar as botas na lama das fraudes científicas, do negacionismo e das ciências sociais.”

É exatamente esse o caminho que Mclntyre percorre. Primeiro, destrincha as falhas nas teorias mais usadas para definir ciência – dos filósofos Karl Popper e Thomas Kuhn – e demonstra o tamanho da dificuldade. Em seguida, desfaz os equívocos sobre como a ciência funciona e desvela a contaminação ideológica do tema. Mergulha, por fim, nos pântanos das fraudes, das manipulações estatísticas, do negacionismo climático, do criacionismo e da resistência às vacinas. Em vez da versão oficial que defende um certo “método científico”, é mais modesto. Formula o que prefere chamar de “atitude científica”, uma espécie de armadura capaz de proteger o que os cientistas fazem de mais importante.

“O que é distintivo a respeito da ciência é que ela respeita as evidências e está disposta a mudar suas teorias com base nelas. Não o assunto ou o método de investigação, mas os valores e o comportamento tornam a ciência especial”, escreve. “O mais importante é que tentamos encontrar erros. O perigo real não vem dos erros, mas da enganação. Erros podem ser corrigidos, servem para aprendizado. A enganação costuma ser usada para encobri-los.” A ciência é verdadeira não porque sempre está certa, mas porque sabe se corrigir quando erra.

*** HELIO GUROVITZ – é jornalista, editor de opinião do jornal O Globo

OUTROS OLHARES

A QUEDA DOS ANJOS

Os padrões estéticos mudaram e evoluíram, a Victoria’s Secret ficou ultrapassada com suas mulheres altas, magras e inalcançáveis e teve de cancelar seu tradicional desfile de lingeries

Desde o início da década de 2000, as modelos da marca de lingerie Victoria’s Secret eram referência de sensualidade e de padrão de beleza para a mulher americana e, consequentemente, para a brasileira. Porém, esses ícones do comportamento perderam seu lugar. Este ano, pela primeira vez, não acontecerá o tradicional desfile das “angels” da marca. O evento tinha repercussão mundial: mulheres altas e magras surgiam vestindo asas e sutiãs cravejados com joias, transformando-se instantaneamente em “sex symbols” globais.

O que era considerado um dos maiores acontecimentos do ano na moda, responsável por turbinar a carreira das modelos que dele participavam, hoje perdeu seu sentido. O cancelamento do desfile significa uma mudança de paradigma do papel feminino na sociedade. Do ponto de vista comercial, revela a dificuldade da marca em administrar crises e acompanhar os novos tempos. “Estamos descobrindo como avançar com o posicionamento da marca e nos comunicar melhor com os clientes”, disse Stuart Burgdoerfer, diretor financeiro da L Brands, a holding bilionária que detém a grife, sobre a não realização do evento.

FEMINISMO

São diversos os fatores que contribuíram para a queda dessa que já foi uma das marcas mais fortes no mundo. Um dos principais é a sua demora da marca em rever a sua régua para definir o que é uma mulher bonita e sensual e que, portanto, merece estampar o seu material publicitário. Enquanto a Victoria’s Secret mantém em suas campanhas apenas mulheres magérrimas, revistas, jornais, redes sociais e marcas ligadas à beleza já as selecionam há anos com diferentes formatos de corpo em suas campanhas — vitória de campanhas feministas, entre elas a #MeToo. O novo padrão envolve os mais variados tipos estéticos. Empresas como Dove, por exemplo, foram pioneiras em enfatizar a importância da beleza natural. Além disso, há uma tendência de mulheres postarem em seus perfis no Instagram fotos de biquíni independentemente de seu padrão, conquistando milhares de seguidores e, portanto, mostrando que todos devem ter o seu espaço.

Para se ter ideia do tamanho da mudança cultural, o evento da Victoria’s Secret começou a ser televisionado em 1995 e logo ganhou projeção. Em 2001, atingiu o recorde de audiência, com 12,4 milhões de telespectadores. Com as transformações sociais, sua audiência foi caindo ano a ano. Em 2017, os números despencaram para 4,98 milhões de espectadores e, no ano seguinte, mais ainda: havia apenas 3,27 milhões de pessoas na audiência. Se nas telinhas o número de interessados caiu, não foi diferente nas vendas no varejo. No ano passado, elas caíram 40%. Além disso, 2018 foi um ano com um grande número de fechamento de lojas: 30 delas encerraram suas atividades, bem acima da média de 15 fechamentos que ocorriam anualmente. No início de 2019, a empresa anunciou um enxugamento ainda maior: 53 pontos eliminados na América do Norte. Mesmo com a aposta de reduzir o preço para atrair consumidores, estima-se que as vendas vão crescer apenas 1% anualmente nos próximos cinco anos, de acordo com a consultoria Ibisworld.

ESCÂNDALOS

Como se não bastasse, somou-se ao ultrapassado marketing da marca a infeliz frase do seu diretor de marketing, Ed Razek, no ano passado. Em entrevista, ele disse que seria melhor não incluir transexuais no desfile. Depois da repercussão negativa, o executivo pediu desculpas publicamente e deixou a empresa. Para contornar a crise, a companhia incluiu uma transexual no time, a top model brasileira Valentina Sampaio. Mesmo assim, a grife não recuperou sua reputação. Para manchar ainda mais sua imagem, veio à tona ainda a antiga amizade de Leslie Wexner, o fundador da marca, com Jeffrey Epstein, bilionário americano que foi detido por inúmeras acusações de tráfico sexual e pedofilia — ele cometeu suicídio esse ano, na prisão. Para se ter ideia, Epstein chegou a ser empregado como assessor da grife. É o pacote perfeito para se abalar o grande império que um dia foi a Victoria’s Secret.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 01 DE FEVEREIRO

HONESTIDADE NOS NEGÓCIOS, O PRAZER DE DEUS

Balança enganosa é abominação para o Senhor, mas o peso justo é o seu prazer (Provérbios 11.1).

A lei do levar vantagem em tudo está na moda. Vivemos a cultura da exploração desde a descoberta do Brasil. Nossos colonizadores vieram para cá a fim de explorar nossas riquezas, não para investir nesta terra. Essa tendência ainda permanece nas relações comerciais. A falta de integridade nos negócios é um mal crônico. A balança enganosa é um símbolo dessa desonestidade. Nos dias do profeta Amós, os ricos vendiam um produto inferior ao trigo por um peso menor e um preço maior, a fim de explorar os pobres e encher os seus cofres com riquezas mal adquiridas. Esquecem-se os avarentos que Deus abomina a balança enganosa. Deus não tolera a desonestidade nas transações comerciais, pois o peso justo é o seu prazer. A riqueza da impiedade, fruto da corrupção, produto do roubo e da exploração, granjeada sem trabalho honesto e sem a bênção de Deus, traz pesar e desgosto. Essas riquezas se tornarão combustível para a destruição daqueles que as acumularam. A bênção de Deus, porém, enriquece e com ela não traz desgosto. A honestidade nos negócios é o prazer de Deus. Aquele que é o dono de todas as coisas e a fonte de todo o bem requer dos seus filhos integridade em todas as áreas da vida.

GESTÃO E CARREIRA

PECADOS CAPITAIS DE UM LÍDER

Pesquisa da Talenses Executive mostra como os CEOs brasileiros se comportaram na crise

Centralizar decisões, guiar-se pela emoção, não enxergar a realidade como ela é ou ser conservador demais. Para 103 conselheiras e conselheiros ouvidos pela consultoria Talenses Executive, esses foram os principais erros dos CEOs nos primeiros meses de pandemia. “Em momentos de crise, as empresas não costumam tomar decisões drásticas e agem com o menor nível de ousadia e de investimento”, afirma João Marcio Souza, CEO da consultoria. É bem provável que nenhum CEO, diretor ou executivo brasileiro tivesse previsto em seu planejamento estratégico e de risco uma crise de saúde humana com efeitos sobrea economia global. A diferença foi como cada líder recebeu o impacto da covid-19, e como reagiu. “Uns foram rápidos, outros mais lentos, uns otimistas demais, outros tão pessimistas que demoraram a tomar atitude”, diz. Para os conselheiros, o que mais influencia positivamente uma organização em momento de turbulência é montar equipes multidisciplinares, comitês de gestão de crise e recorrer a conselhos consultivos. Inteligência emocional e coragem para tomar decisões são as duas principais habilidades comportamentais para enfrentar mares revoltos. Comunicação humanizada, ética e transparente com a companhia como um todo, para baixo e para os lados, aparece como uma alternativa para criar engajamento na organização. A crise traz oportunidade para economizar recursos, automatizar processos, digitalizar pessoas e, principalmente, repensar a estratégia do negócio, diz Souza.

COM A PALAVRA, OS CONSELHEIROS

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O ESTIGMA DO VÍCIO

Muitas pessoas ainda pensam que a dependência revela uma fraqueza moral

O abuso de drogas e bebidas alcoólicas gera dezenas de milhares de mortes todos os anos e afeta as vidas de muitas pessoas mais. Há tratamentos eficazes, incluindo medicações para distúrbios de uso de opioides e álcool, que poderiam evitar muitas mortes, mas não são suficientemente utilizados, e muitas vezes as pessoas que poderiam se beneficiar sequer os buscam. Um motivo é o estigma que cerca as pessoas que têm uma adição.

A estigmatização afeta pessoas com patologias que variam do câncer até diversas doenças mentais, mas ela é especialmente poderosa no contexto de problemas por uso de substâncias. Ainda que há muito a medicina tenha chegado ao consenso de que a adição é um complexo distúrbio cerebral, os adictos continuam a ser culpabilizados por suas condições. O público, assim como trabalhadores de saúde e do sistema judiciário, ainda veem a adição como fraqueza moral e falha de caráter.

A estigmatização por parte de profissionais de saúde, que culpam os próprios adictos por seus problemas com drogas ou álcool pode levar a cuidados menos eficientes ou até à rejeição de indivíduos que procuram tratamento. Atendentes em unidades de prontos-socorros (PS), por exemplo, podem desdenhar de adictos por não acharem que tratar de problemas ligados a drogas seja parte de suas funções. Como resultado, pacientes que exibem sinais de aguda intoxicação ou sintomas de abstinência às vezes são expulsos dos PS por funcionários que temem seus comportamentos ou que acham que eles só estão em busca de drogas. Adictos podem interiorizar este estigma, sentindo vergonha e recusando-se a procurar tratamento.

Há vários anos, visitei um sitio onde drogados podem se injetar, e conheci um homem que injetava heroína em sua perna. Ele estava infectado, e eu o instei a buscar um PS, mas ele fora maltratado em outras ocasiões e preferiu arriscar a vida, ou uma provável amputação, à perspectiva de reviver sua humilhação.

Além de impedir a busca por atendimento, o estigma pode levar adictos a continuar usando drogas. Uma pesquisa de Marco Venniro, do Instituto Nacional de Abuso de Drogas, mostrou que roedores dependentes de entorpecentes preferem a interação social à droga quando têm escolhas, mas quando essa escolha social é punida, os animais revertem ao uso da substância. Humanos também são seres sociais, e alguns de nós respondem tanto a castigos sociais como a físicos recorrendo a substâncias ilícitas para aliviar a nossa dor. A humilhante rejeição experienciada por aqueles que são estigmatizados por seu uso de drogas age como um poderoso castigo social, levando-os a continuar e talvez a intensificar seu consumo de substâncias.

A estigmatização de adictos pode ser ainda mais problemática na atual crise da Covid-19. Além do maior risco associado à falta de moradia e ao uso de drogas, o legítimo medo que cerca o contágio pode significar que os socorristas relutarão em ministrar Naloxona, uma droga que salva vidas, em pessoas que tiveram uma overdose. E há o risco de que hospitais ignorem aqueles que têm problemas com drogas ao tomarem decisões sobre para quem direcionar pessoal e recursos.

Aliviar o estigma não é fácil, em parte porque a rejeição a pessoas com problemas de adição ou doença mental brota da inquietação porque elas violam normas sociais. Até profissionais de saúde podem não saber como interagir com alguém que age ameaçadoramente devido à abstinência ou aos efeitos de certas drogas se não tiverem recebido treinamento adequado.

Tem de haver um reconhecimento de que a suscetibilidade às alterações cerebrais na adição é influenciada por fatores que estão fora do controle de um indivíduo, tais como a genética e o ambiente em que alguém nasceu e foi criado, e quais cuidados médicos são necessários para facilitar a recuperação, assim como para evitar os piores resultados. Quando pessoas com alguma adição são estigmatizadas e rejeitadas, isso só contribui para o vicioso ciclo que torna suas doenças tão arraigadas.

EU ACHO …

COMO REINVENTAR A POLÍCIA

Policiais se tornaram inimigos de comunidades que juraram proteger

Não foi só um joelho no pescoço que matou George Floyd. Ou só uma chave de braço que abateu Eric Garner. Foram também séculos do racismo sistêmico que fermenta na sociedade e nas instituições dos EUA, entre elas o sistema de polícia excessivamente punitivo. E os vídeos das mortes recentes não mostram o dano maior que as abordagens, revistas corporais, prisões arbitrárias e outras ações agressivas causaram às comunidades negras e outras minorias. Uma reforma policial de âmbito nacional já deveria ter sido implementada há muito tempo.

Desde o início das “guerras” declaradas nas últimas décadas pelo governo ao crime e às drogas, a polícia deu uma guinada para a violência, e as polícias muitas vezes são vistas como adversárias das comunidades que deveriam salvaguardar, diz o pesquisador Peter Kraska, da Universidade do Leste do Kentucky. Vários estudos mostram que a polícia é mais propensa a interceptar, prender e usar força contra negros e latinos do que contra brancos. Uma pesquisa de Monica Bell, da Universidade Yale, mostra que indivíduos submetidos a esse super policiamento não veem a polícia como uma entidade que os protege, nem quando ela se preocupa com a violência em suas comunidades.

Reformas graduais não irão resolver. Chaves de braço são proibidas em Nova York há décadas, e a Polícia de Minneapolis determina que policiais intervenham quando um colega usa de força excessiva, mas normas não impediram as mortes de Garner e Floyd. Nem a tecnologia mudará as coisas. As câmeras corporais tornaram o problema da brutalidade policial contra comunidades minoritárias difícil de ignorar, mas não a refrearam.

Em vez disso, precisamos repensar como a segurança pública pode abranger todas as comunidades. Um modo seria criar políticas que usem assistentes sociais para tirar certas questões das mãos de policiais despreparados e mal treinados para lidar com elas, tais como os sem-teto e os doentes mentais, e trabalhar com jovens para prevenir a violência. Os próprios policiais destacaram estes problemas. Grupos comunitários de prevenção à violência reduziram tiroteios e assassinatos em cidades como Bal onde têm operado como Baltimore e Filadélfia, de acordo com o pesquisador Alex Vitale, da Brooklyn College. E programas como o CAHOOTS, do Oregon – que direciona chamadas de emergência sobre doenças mentais para assistentes sociais em vez de para a polícia – e o DASHR, a aliança de Denver para respostas a crises e conflitos de rua, oferecem modelos para outras cidades. Menos de 1% dos milhares de chamadas atendidas pelo CAHOOTS em 2019 demandaram reforço policial. Ao projetarem essas políticas, as autoridades têm de envolver as comunidades – em particular as que mais sofrem com o super policiamento – para entender quais as questões de segurança mais importantes para elas.

Um passo necessário será abordar a militarização do policiamento. O uso de equipes da SWAT se espalhou muito além das situações com reféns ou atiradores para as quais foram concebidas. Estudos de Kraska e de outros mostram que equipes da SWAT são muito mais usadas para mandados de busca e que comunidades de cor são muito mais visadas. Voltar a usá-las de forma apropriada, e restringir o acesso das polícias ao armamento militar ou a cães treinados para atacar pessoas reduziria as chances de violência desnecessária e danos físicos.

Responsabilização é outro elemento-chave. Autoridades federais e locais precisam de vontade política para criar mecanismos independentes de supervisão. Mas a responsabilização também depende da disponibilização pública de dados sobre assassinatos, uso de força, registros disciplinares, alocações orçamentárias e outras áreas. As polícias resistem a divulgar tais dados, portanto o Congresso precisa aprovar leis obrigando-as a fazê-lo. Uma grande reforma da polícia exigirá perseverança e dinheiro. (Parte do custeio pode vir de uma redução de seus orçamentos.) Essas abordagens são um ponto de partida à medida que confrontamos o modo como perigosos vieses, especialmente o racismo, tornaram-se arraigados na polícia e em outras poderosas instituições. Precisamos trabalhar para erradicá-los.

OUTROS OLHARES

A VIDA NOS VIDEOGAMES

Com as aulas suspensas, crianças e adolescentes confinados procuram manter o contato social por meio de jogos que simulam o mundo real

Bastaram algumas semanas de quarentena para chegar a uma constatação rigorosamente incontornável: o novo coronavírus não está afetando só a saúde das populações. Ele já representa um dos choques mais impressionantes de que se tem notícia nas relações sociais. No âmbito dos surtos epidêmicos contemporâneos é, de longe, o de maior impacto. Há desde familiares e amigos lançando mão de apps para conseguir manter certas atividades conjuntas – de almoços de domingo a comemorações de aniversário – até bares que transmitem shows ao vivo a fim de que o cliente se sinta ali, numa mesa. Definitivamente, o “virtual” se tornou o “normal” neste mundo de socialização reconfigurada.

Surpreendidos de uma bora para outra coma suspensão das aulas, cerca de 45 milhões de crianças e adolescentes brasileiros se encontram atualmente dentro de casa. Para driblarem o rompimento abrupto de sua rotina – e, consequentemente, de parte substantiva de seus laços sociais -, eles têm recorrido a algo indissociável desta geração: os games que simulam o mundo real. Criando universos próprios, conseguem, por exemplo, ir ao colégio e até descobrir o que fazer ao suspeitarem estar com a Covid-19.

Coronavírus em um videogame? E por que o espanto se a ideia é mesmo mimetizar a realidade? Um dos exemplos desse, digamos assim, novo modo de viver é apresentado pelo youtuber Ricardo Dinata, que tem 1,54 milhão de inscritos em seu canal no site de vídeos. Nele, Dinata faz gravações de uma prática do universo dos games conhecida como “roleplay”, que consiste exatamente em viver num mundo virtual o cotidiano do mundo real, imitando atividades e interações comuns deste lado de cá da existência – a vida como ela é.

Em uma modificação feita por fãs do jogo Grand Thaft Auto 5 (GTA), no qual se escolhe o desafio que se deseja enfrentar o youtuber mostra a saga do personagem que ele interpreta para saber se tem Covid-19 – com direito a hospital lotado e orientações dos órgãos de saúde. O episódio acaba retratando uma cidade tomada pelo pânico.

Em sua residência, os seguidores do canal podem viver uma aventura semelhante ao instalar a mesma versão do videogame de Dinata. “Poder recriar temas específicos em jogos ajuda as crianças a entender melhor o mundo em que vivem”, diz o youtuber.

O peso dos games no atual cenário de pandemia está, é claro, longe de se limitar ao Brasil. Tome-se o caso do Japão como exemplo. Lá, por causa do novo coronavírus, as escolas não puderam realizar suas tradicionais for­ maturas, que ocorrem entre os meses de março e abril. Alguns estudantes, no entanto, encontraram uma solução: recriaram o auditório de eventos do colégio no popular Minecraft, famoso entre a garotada. O pai de uma das crianças postou no Twitter o vídeo de seu filho – um aluno do que seria o nosso ensino fundamental – participando da formatura dentro do jogo e recebendo o canudo da conclusão de sua série. Tudo virtual, obviamente. “Agora, ele está todo dia se reunindo com os amigos, rindo e se divertindo. Isso me parece bom”, escreveu o pai em sua conta na rede social

Há, contudo, uma preocupação diante do novo hábito. O tempo maior que crianças e adolescentes passaram a ficar entretidos com os videogames alertou os fabricantes deque poderiam, naturalmente, faturar mais com isso. Com a adição de novos itens virtuais, que podem melhorar os jogos, como ocorre no GTA, eles estimulam o público a investir no game. Recentemente, a estratégia deu problema. Em 2018, um garoto do País de Gales gastou o equivalente a 6.000 reais com extras da atração Fortnite – tudo pago com o cartão da mãe. Nada menos virtual.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 25 DE JANEIRO

FIRME FUNDAMENTO

Como passa a tempestade, assim desaparece o perverso, mas o justo tem perpétuo fundamento (Provérbios 10.25).

A tempestade é intensa, perigosa e provoca grandes desastres por onde passa, mas passa e desaparece. Depois que ela se vai, deixa um rastro de destruição e lembranças amargas. Em janeiro de 2011, as cidades serranas do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, foram devastadas por uma terrível tempestade. Essa foi rápida, mas deixou marcas indeléveis. Mais de mil pessoas foram soterradas debaixo de um montão de lama, e suas casas foram arrastadas por enxurradas violentas. É assim a vida do perverso: ele passa como a tempestade. Sua passagem, entretanto, deixa marcas devastadoras. Se o perverso é levado pela avalanche da tempestade, o justo tem fundamento perpétuo. Ele é como uma árvore plantada junto à corrente das águas. Está firmado na rocha dos séculos, que nunca se abala. Ele é como um edifício, cujo fundamento perpétuo é Cristo. Sua vida é inabalável. Sua estabilidade é constante. Sua memória é abençoada na terra. Mesmo que a tempestade venha, o justo não é desarraigado, porque sua confiança não está na força do seu braço, nem na sua riqueza ou sabedoria, mas no Deus Todo-Poderoso, criador e sustentador do universo.

GESTÃO E CARREIRA

UMA NOVA ERA DAS COMPRAS

Com a adesão de milhões de clientes, o comércio eletrônico se consolida no Brasil e no mundo, mudando o capitalismo para sempre

O homem mais rico do mundo é o americano Jeff Bezos, fundador da Amazon. Na China, não há fortuna que rivalize com a de Jack Ma, criador do Alibaba. No Brasil, nenhuma mulher tem tanto dinheiro quanto Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza. Há um fator em comum que os une, além da conta bancária generosa: todos estão à frente de empresas que têm o comércio eletrônico como vertente principal de negócios. Não é preciso muito esforço para entender por que suas companhias são geradoras inesgotáveis de caixa: o e-commerce representa hoje, sob diversos aspectos, o que o petróleo significou para os desbravadores do fim do século XIX. Poucos ramos de atividade – talvez nenhum – produzem tantos recursos monetários em velocidade tão rápida, quase imediata. As vendas on-line são o grande fenômeno do capitalismo moderno, mas isso é apenas o começo.

O varejo eletrônico é uma realidade global por uma razão óbvia: comodidade. Um cidadão no interior do Brasil pode encomendar peças de automóvel de um fabricante japonês e recebê-las na porta de casa, sem sustos nem inconveniências. Na mesma medida, um pequeno empreendedor americano que constrói armações de óculos as envia para qualquer canto do mundo, até para ilhas desertas, se for o caso. O comércio eletrônico atende a todas as pontas do negócio, e isso explica seu avanço avassalador. Ele funciona para quem vende, para quem compra e para as empresas que fornecem as plataformas – as Amazons e os Alibabas da vida – capazes de viabilizar com segurança as transações.

O que já era tendência tornou-se um fenômeno consolidado na pandemia do coronavírus. Com as restrições de circulação em diversas partes do mundo, a saída mais segura para abastecer a casa e saciar os desejos consumistas era a tela da internet – bastavam alguns cliques e pronto. O Brasil, como não poderia deixar de ser, entrou na onda. Segundo dados da Ebit/Nielsen, o faturamento do comércio eletrônico nos seis primeiros meses de 2020 chegou a 38,8 bilhões de reais, um aumento de 47% em relação a 2019. Outro estudo, da empresa de inteligência de mercado Neotrust/Compre&Confie, calcula que o segmento chegou até a dobrar de tamanho nos meses de pico do ano, entre abril e junho (os números definitivos ainda não foram consolidados). “Pelo menos 12 milhões de novos consumidores fizeram compras virtuais pela primeira vez”, diz André Dias, fundador da instituição. “Quem já tinha o hábito, aumentou a frequência.” De fato, o mercado brasileiro tem imenso potencial. Estima-se que, ao fim de 2021, as compras virtuais representem 15% do varejo nacional. Na China a participação é de 30%. Não à toa, as empresas têm planos ambiciosos para o país. A Amazon abriu centros de distribuição no Norte para evitar a dependência logística do Sudeste. Outros serão inaugurados em breve. O Magazine Luiza está utilizando suas próprias lojas físicas em áreas mais remotas para armazenar os produtos. A nova era do e-commerce é um caminho sem volta, e isso é ótimo para empresas e consumidores.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SEU CEREBRO É O QUE VOCÊ COME

A alimentação saudável estimula sua memória e outras funções cerebrais a trabalharem melhor

Você já deve ter escutado que uma boa alimentação é fundamental ao se adotar um estilo de vida mais saudável. E olha que isso não é apenas conversa de mãe para você comer verduras, legumes e frutas. Um cardápio variado, que ofereça todos os nutrientes que o corpo precisa, ajuda o organismo e até mesmo o cérebro a trabalhar melhor. Tudo cientificamente comprovado.

O QUE É?

Uma alimentação saudável não significa encher o seu prato de coisas verdes e esquecer de vez aquele lanchinho do fim de semana. Um bom cardápio é conhecido por sua diversidade. “Alimentação saudável é aquela que atende a todas as necessidades nutricionais do indivíduo. Deve ter variedade na sua composição para oferecer todos os nutrientes de forma equilibrada”, explica a nutricionista Patrícia Cruz.

É por conta disso que cada indivíduo precisa de uma alimentação mais adequada e específica para o seu tipo de organismo. Mas, não só isso; ingerir a quantia adequada de cada alimento é outro aspecto fundamental. “Uma alimentação saudável é responsável por prevenir muitas doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, diabetes mellitus, dislipidemias (distúrbios do nível de lipídios no sangue), câncer, hipertensão arterial -, entre outras”, complementa a especialista.

INIMIGOS DA SUA MENTE

Apesar de compor apenas 2% da massa total do nosso corpo, o cérebro consome 20% da energia absorvida. Não é por menos, afinal, esse órgão comanda muitas funções pelo organismo e trabalha em tempo integral: nem mesmo quando estamos dormindo, ele para de funcionar.

O cérebro é composto por uma grade quantidade de células, que estão em constante reorganização. “Quanto melhor for a alimentação, evitando açucares, doces, frituras e álcool, maior a possibilidade de nascerem novas células”, comenta a nutróloga Sylvana Braga.

Sendo assim, ao se adotar uma alimentação adequada, você fornece a energia e os nutrientes que ele precisa para funcionar com tudo em ordem, além de garantir que seu cérebro fique jovem e saudável por mais tempo, evitando o desenvolvimento de muitas doenças. “Uma alimentação equilibrada pode reduzir o impacto dos radicais livres, diminuindo o envelhecimento das células nervosas. Além disso, ajuda a prevenir algumas doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson”, aponta Patrícia.

Confira algumas dicas preciosas na hora de fazer suas refeições:

1. NÃO FIQUE SEM COMER

Não passe longos períodos sem se alimentar. É importante que você faça pequenos lanches entre as refeições principais. Além de poupar um gasto de elevado de energia, evita que você busque alimentos mais gordurosos na próxima refeição.

2. EVITE ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS

Procure consumir alimentos naturais, pois os industrializados possuem muitas substâncias que podem ser nocivas ao organismo. Corantes e conservantes, por exemplo, são ricos em sódio, podendo levar a um quadro de hipertensão.

3. COMA DE TUDO

Uma boa alimentação contém a combinação de todos os nutrientes que o organismo precisa (carboidratos, gorduras, vitaminas, proteínas, fibra, água, minerais). O intuito não é deixar de fora nenhum tipo de alimento, mas consumi-los na quantidade adequada. Por isso, busque fazer combinações e variar o cardápio.

4. SINTA PRAZER

Mais do que fornecer energia, o hábito de alimentar- se é fonte de prazer. Por isso, torna-se muito importante que o indivíduo não vire escravo de nenhuma dieta e da quantidade de colorias dos alimentos. Procure estar bem consigo mesmo e esteja aberto a novos hábitos.

5. PERSISTA

A mudança para uma alimentação saudável não ocorre de uma hora para outra. Além de consumir tempo, você precisa estar ciente de que terá que mudar o seu cardápio, tendo que comer alimentos que nunca experimentou ou que nem gosta tanto assim. A dica é não desistir na primeira barreira que encontrar.

EU ACHO …

COMO DESAPRENDER O RACISMO?

Simples treinamentos contra o preconceito implícito não bastam. O que realmente funciona?

Em fevereiro de 2016, eu estava sentada em uma sala de conferências no elegante bairro de Upper East Side junto com outras 35 pessoas tentando responder a o que parecia ser uma pergunta bem direta: O que é racismo?

Eu – uma mulher branca, fisicamente capaz e cisgênera na faixa dos 30 anos – pensava que racismo era preconceito contra um indivíduo devido à raça ou etnia. Era por isso que eu tinha me inscrito para o workshop Desmontando o Racismo, um treinamento antirracista de dois dias e meio que analisa estruturas de raça e poder nos EUA: eu queria conseguir entender melhor por que algumas pessoas sentem tanto desprezo em relação àqueles que são diferentes delas. Meu anseio por respostas derivou de minha experiência pessoal com a discriminação como uma mulher judia e filha de imigrantes; meus pais fugiram da ex-União Soviética para os EUA em 1979. Tendo crescido numa pequena cidade ao norte de Nova York, seguida por uma cidadezinha ainda menor e mais rural na Geórgia, fui espezinhada e muitas vezes me senti excluída.

O workshop foi promovido pelo People’s lnstitute for Survival and Beyond (PISAB), uma entidade de colaboração social fundada há 40 anos por líderes comunitários que queriam criar uma sociedade mais equitativa abordando as raízes do racismo. Nossos professores – um homem negro, uma mulher branca e uma latina – nos convidaram a compartilhar nossas definições de racismo. Asrespostas variaram desde “um jeito maldoso e obtuso de pensar” a uma “discriminação baseada na cor da pele ou origem étnica de alguém”. Os professores validaram todas antes de destacarem sua variedade e explicarem que poucos tinham identificado o racismo como uma teia de poder institucional e opressão baseada na cor da pele. A falta de uma definição simples para o racismo ajuda a mantê-lo vivo. Para desfazer o segregacionismo, disseram eles, precisamos de uma linguagem comum que vincule fatores individuais e sistémicos. Escutar o racismo sendo descrito como uma hierarquia de Poder foi revelador para mim. Tendo sido marginalizada pessoalmente, eu pensava ser sensível a outros grupos que enfrentavam discriminação. Achei que tinha entendido.

Ao longo de muitos meses, os EUA vêm lidando com o racismo numa intensidade não vista desde o movimento pelos direitos civis. Os assassinatos de George Floyd, Ahmaud Arbery, Breonna Taylor e outros foram gatilhos de protestos contra a segregação sistêmica e a violência policial que atraíram uma participação multirracial. Alguns brancos participaram de manifestações do movimento Black Lives Matter pela primeira vez – ele está ativo desde 2013 – e viram de perto a brutalidade policial que antes só conheciam por leitura ou vídeos de celular. Essas experiências foram uma minúscula janela para a realidade da violência e opressão que pessoas negras sofrem. A pandemia enfatiza ainda mais as disparidades raciais contra as quais as pessoas estão protestando, com comunidades negras, latinas e indígenas sendo afetadas desproporcionalmente. Espalhou-se a discussão de que a violência policial e as mortes pelo vírus não são questões separadas: ambas estão enraizadas em um vasto sistema de segregação.

A definição de racismo do PISAB (que é similar à de outras organizações antirracistas, tais como o Instituto de Equidade Racial) é preconceito racial mais poder. Ela descreve como o racismo individual e o sistêmico estão interligados. Todos nós temos algum viés racial individual: qualquer um pode prejulgar uma pessoa somente com base em sua raça ou cor. Mas o que diferencia o racismo do preconceito individual é quem detém o poder institucional. Pessoas brancas controlam nossos sistemas e instituições governamentais em todos os setores, de órgãos encarregados do cumprimento das leis e da ordem a instituições educacionais aos cuidados para a saúde e a mídia, levando a leis e políticas que podem favorecer pessoas brancas, prejudicando todas as outras.

A dominância de pessoas brancas em nossos sistemas é a razão pela qual algumas pessoas recentemente têm se referido aos EUA como uma sociedade supremacista branca. Nesse contexto, a supremacia branca não se refere a grupos de ódio, tais como os neonazistas e o Ku Klux Klan, mas sim a todo um sistema no qual um único grupo tem todas as vantagens. “Racismo é supremacia branca, diz Joseph Baradt, um organizador e destacado treinador no PISAB. “É empoderar um suposto grupo racial em detrimento de outro e criar sistemas para reforçar isso”.’

À medida que mais pessoas brancas procuram confrontar e desfazer o racismo em suas próprias vidas, elas estão descobrindo o que fazer. Em anos recentes, os workshops sobre preconceito implícito, que visam expor as pessoas às associações e estereótipos negativos que elas nutrem e expressam inconscientemente, têm sido usados para a conscientização sobre o segregacionismo em ambientes de trabalho. Mas falar de preconceitos não basta para confrontar os sistemas, ideias e legados racistas presentes em nossas vidas cotidianas. Não existe uma solução única ideal e adequada para todos, mas pesquisas mostram que desfazer o preconceito muitas vezes começa por entender o que raça e racismo de fato são. Também é crucial desenvolver uma identidade racial positiva; sentir – e não só intelectualizar – como o racismo prejudica a todos nós e, por fim, aprender como romper hábitos preconceituosos e se tornar uma pessoa ativamente antirracista. Mas isso não se alcança em um único fim de semana Para mim, um dos primeiros passos foi desaprender algumas falsas noções sobre a base das categorias raciais.

A BRANQUITUDE NAS ORIGENS DAS RAÇAS

o conceito de raça está profundamente arraigado em nossa sociedade, e, no entanto, ele é entendido erradamente como sendo de ordem biológica em vez de cultural. A noção de categorias raciais é, na realidade, bastante moderna, explica Crystal Fleming, professora de sociologia na Universidade Stony Brook: “Se pensarmos sobre o fato de a nossa espécie existir há pelo menos algumas centenas de milhares de anos, foi somente nos últimos vários séculos que vimos o surgimento histórico da ideia de raça”. Esta é uma história que a maioria dos americanos não aprende na escola.

As falsas classificações de humanos, que mais tarde seriam chamadas “raças”, surgiram nos séculos 16 e 17 quando o clero cristão começou a questionar se “negros” e “índios” eram humanos. À medida que a expansão colonial e a escravidão aumentaram, a religião foi usada para justificar a classificação de negros e outras pessoas de cor como “pagãos e seres destituídos de alma”. Mas, à medida que muitos deles foram convertidos ao Cristianismo e a Era do Iluminismo se instaurou   nos anos 1700, a religião perdeu sua faceta legitimadora.

Em vez disso, a “ciência” foi usada para justificar a escravização de africanos e o genocídio de povos nativos indígenas, que já vinha ocorrendo em colónias britânicas por mais de um século. Johann Friedrich Blumenbach, antropólogo e anatomista alemão, é conhecido por propor uma das primeiras classificações da raça humana, sobre a qual escreveu no final dos anos 1700.

Sua medição de crânios oriundos de vários lugares do mundo o levou a dividir os humanos em cinco grupos, que mais tarde foram simplificados por antropólogos em três categorias: caucasoides, mongoloides e negroides. Parecia não importar que alguns proeminentes cientistas, incluindo Charles Darwin, rejeitassem uma base biológica para raça ao longo do século seguinte. Muitos cientistas se dedicaram a provar uma falsa hierarquia racial na qual os “caucasianos” eram superiores a outras raças.

Nos EUA, líderes políticos e intelectuais reforçaram a falsa ideologia de que os africanos eram biologicamente inferiores a outras raças e, portanto, muito mais adequados para a escravidão. Depois da Rebelião de Bacon, em 1676, que havia unido servos brancos e negros no sistema de servidão por contrato, legisladores da Virgínia começaram a fazer distinções legais entre pessoas ”brancas” e “negras”. Servos brancos pobres que cumprissem suas obrigações ou contratos até o fim podiam ser libertos e adquirir/possuir terras; negros eram obrigados a uma servidão vitalícia. Com a Lei de Naturalização de 1790, o Congresso americano codificou a vantagem racial branca em lei ao limitar a cidadania por naturalização a “pessoas brancas livres” mais exatamente, homens brancos. Mulheres, pessoas de cor e servos vinculados a contratos foram excluídos.

Com a superioridade branca cimentada em lei, nasceu o poder social e político da branquitude. Como categoria, ela foi associada a recursos e poder: leis e práticas explícitas que criaram a branquitude como um requisito para ser capaz de viver em certos bairros, poder votar, possuir terras, testemunhar em tribunal perante um júri. O legado do racismo “científico” persiste até hoje.

Embora a biologia tenha mostrado que não existem raças geneticamente distintas, a identidade racial – o modo como você e os outros percebem ou entendem sua raça – é muito real, assim como são as suas ramificações. Em uma sociedade predominantemente branca como a América, pessoas brancas tendem a não estar cientes de sua identidade e podem se considerar neutras, não pertencendo a raça alguma. Segundo o trabalho da psicóloga Janet Helms, que publicou seis estágios do desenvolvimento da identidade racial branca em 1999, o primeiro é definido por uma falta de consciência no que tange o racismo cultural e institucional. Este estágio também é caracterizado por ser “daltônico” – imaginar que não vemos as diferenças entre as pessoas e considerar isso como um traço positivo ao qual outros deveriam aspirar.

Como a acadêmica e ativista Peggy Macintosh observa em um artigo de 1989, essa falta de consciência é comum. Ela descreve o privilégio branco como um “invisível pacote de vantagens desmerecidas, porém garantidas, das quais posso me beneficiar todos os dias, mas sobre as quais eu ‘teoricamente deveria’ permanecer inconsciente e alheio.  Privilégio branco é como uma mochila invisível cheia de provisões especiais, mapas, passaportes, livros de códigos, vistos, roupas, ferramentas e cheques em branco”.

Então, para desaprender o racismo, pessoas brancas precisam primeiro examinar sua identidade racial. Estudiosos e escritores negros sabem disso há mais de um século; sua sobrevivência dependeu disso. Frederick Douglass, W.E.B. Du Bois, James Baldwin, André Lorde, Ângela Davis, Ta-Nehisi Coates e muitos outros observaram, analisaram e escreveram sobre a branquitude por gerações. Du Bois fez observações sobre a branquitude em 1899 com seu estudo sociológico, e Philadelphia Negro e em 1935 com seu livro Black Reconstruction in America. Recentemente, Ijeoma Oluo, autora de So You Want to Talk about Race, escreveu em um popular artigo na plataforma Medium: “Eu conheço a cultura branca melhor do que a maioria das pessoas brancas conhece a cultura branca”

Foi somente nas últimas poucas décadas que estudiosos brancos direcionaram as lentes para si mesmos com o nascimento dos chamados Estudos Críticos da Branquitude (CWS, em inglês), um campo acadêmico que visa examinar as estruturas da supremacia e privilégio brancos e investigar se conectam ao racismo. De acordo com Barbara Applebaum, professora de filosofia e pedagogia na Universidade de Syracuse, os CWS alteraram o foco, e, portanto, a culpa, das vítimas de racismo para os perpetradores. Como ela explica, “eles dão nome ao elefante na sala – a construção e manutenção da branquitude”.

WORKSHOPS NÃO BASTAM

Ao longo dos últimos 20 anos, as iniciativas para lidar com o racismo têm se concentrado bastante em workshops de preconceito implícito. Um volume crescente de pesquisas cognitivas demonstra como esses vieses ocultos impactam nossas atitudes e ações, que resultam em consequências no mundo real.

Esses seminários, que muitas vezes são patrocinados por departamentos de recursos humanos, porém ministrados a funcionários por empresas de consultoria externas, podem consistirem módulos que apresentam ou explicam às pessoas o que é preconceito inconsciente e sua origem como ele surge no ambiente de trabalho, como é mensurado (em geral através do Teste de Associação implícita) e como reduzi-lo. Na década passada, foram muito usados entre instituições ligadas à lei, assim como na indústria de tecnologia, e empresas como Facebook e Google inscreveram milhares de funcionários nesses seminários. Mais recentemente, workshops antipreconceito têm ocorrido em escolas para professores.

Embora os seminários possam ser úteis para expor preconceitos inconscientes, não geram mudanças comportamentais de longo prazo individuais ou sistêmicas. Num artigo de 2018, publicado em Anthropology Now, o sociólogo Frank Dobbin, da Universidade Harvard, escreve: “Centenas de estudos remontando aos anos 1930 sugerem que o treinamento antipreconceito não reduz vieses, altera comportamentos ou muda o ambiente de trabalho”.

Uma recente meta análise de 492 estudos (com um total de 87.418 participantes) sobre a eficácia do treinamento de preconceito implícito constatou efeitos fracos. Os autores observam que “a maioria dos estudos focou em produzir mudanças de curto prazo com manipulações breves e em uma única sessão” e que a maioria das sessões “produziu mudanças triviais de comportamento”. E concluem que uma mudança num preconceito inconsciente é possível, mas não se traduz, necessariamente em mudanças no viés ou comportamento explícito, e que existe uma grande falta de pesquisas sobre os efeitos de longo prazo.

“Treinamentos contra preconceito implícito aumentam a conscientização, mas eles também dizem às pessoas: “O cérebro funciona assim”, diz Rachel Godsil, cofundadora e codiretora do Instituto Perception, uma organização que busca avaliar a eficácia de intervenções para lidar com vieses implícitos, ansiedade racial e os efeitos de estereótipos. “Isso meio que deixa as pessoas com a sensação de estarem livres de culpa ou responsabilidade”. “Não é que o cérebro esteja programado para ser racista, mas ele é programado para colocar pessoas em categorias. E as categorias que foram construídas nos EUA, explica Godsil, têm significados que tendem a ser negativos para pessoas de grupos marginalizados. Ela enfatiza que parte do que significa desaprender racismo é desvincular os estereótipos de identidades e verdades absolutas: “não é uma questão de tornar daltônico ou fazer de conta que essas categorias não existem, mas presumir saber algo a respeito de uma pessoa com base em sua identidade”.

Treinamentos antirracismo, tais como o workshop Desfazendo o Racismo, diferem significativamente de seminários de preconceito implícito por serem mais intensos tanto no nível intelectual como no emocional. Uma vez. que não são feitos no ambiente corporativo, as discussões tendem a ser mais francas. No treinamento do PISAB de que participei, fizemos uma avaliação dura e enérgica da supremacia branca e do nosso papel em sustenta-la. Depois de revisarem a história do racismo nos EUA, os professores discutiram atitudes segregacionistas individuais e institucionais, opressão e privilégio, e como as instituições perpetuam o racismo implícita ou explicitamente. Fomos empoderados para sermos “guardiões” – líderes que são capazes de afetar mudanças em nossos locais de trabalho e comunidades.

A metodologia do PISAB está enraizada em princípios organizacionais comunitários que os fundadores do grupo aprimoraram por décadas. Sua abordagem se baseia na pedagogia do filósofo Paulo Freire, que se concentra em associar conhecimento e ação, para que as pessoas possam fazer mudanças reais em suas comunidades. Outros treinamentos antirracistas, tais como o promovido pela organização Crossroads Antiracism Organizing & Training, oferecem uma abordagem similar. Em contrapartida, Robin DiAngelo, autora de White Fragility:  Way lts So Hard for White People to Talk about Racism, faz palestras que destacam uma ideia central, e exploram alguns pontos mais focados em preconceito individual e privilégio branco.

Embora tais treinamentos possam ser impactantes de muitas maneiras, não está claro até que ponto têm eficácia – e, se tiverem, como e por que funcionam. Um estudo de 2015, publicado em Race and Social Problems, visou mensurar o impacto do treinamento do PISAB e descobriu que aproximadamente 60% dos participantes se envolveram em trabalhos de equidade racial depois de concluírem o workshop Desfazendo o Racismo. “Esses treinamentos são bem intencionados, mas não sabemos se eles funcionam, porque não existem experimentos randomizados controlados para provar que sim”, diz Patrícia Devine, professora de psicologia que estuda preconceito na Universidade de Wisconsin-Madison.

Seminários de preconceito implícito, diversidade e antirracismo podem ter eficácia limitada em parte porque em geral são eventos breves e pontuais. Uma pesquisa de Devine, em 2013, mostrou que preconceitos e vieses podem ser desaprendidos com mais sucesso através de intervenções mais longas. Seu estudo de 12 semanas baseou-se na premissa de que o viés implícito é como um hábito que pode ser rompido por meio dos seguintes passos: conscientizar-se do preconceito inconsciente, desenvolver preocupação com os efeitos desse viés e usar estratégias para reduzir preconceitos. Especificamente, os que substituem reações tendenciosas por respostas que refletem metas do indivíduo de superar preconceitos.

Os pesquisadores argumentam que a motivação para “romper o hábito preconceituoso” vem de duas fontes: Primeiro, é preciso estar ciente de seus vieses. Segundo, é preciso estar preocupado com as consequências desses vieses, a fim de encontrar a motivação para fazer o esforço necessário para eliminá-los. Pesquisas recentes mostraram que interagir com uma ampla variedade de grupos raciais pode ajudar as pessoas a se importar em mais com a justiça racial. Uma revisão crítica de 2018, por exemplo, sugeriu que um maior contato entre grupos raciais aprofunda o investimento psicológico em igualdade ao tornar as pessoas mais empáticas.

Para Fleming, que instruiu milhares de estudantes universitários, ensinar preconceito implícito dentro do contexto de um curso de três meses “é muito mais eficaz do que ser arrastado para um treinamento de diversidade por uma tarde, diz ela. “As pessoas têm de se sentir inspiradas. Elas têm de sentir desejo de refletir criticamente não só sobre seus vieses, mas também sobre sua socialização e condicionamento, e sobre fazer parte de uma transformação social positiva. Não se pode impor isso a ninguém.”

SENTINDO OS DANOS DO RACISMO

A inspiração à qual Fleming se refere é o que me motiva a desaprender o racismo e a abrir meus olhos para a branquitude e a supremacia branca. Mas o processo de desaprender só é o primeiro passo, e ele precisa se traduzir em um compromisso com práticas, tais corno romper o silêncio dos brancos e trazer urna lente antirracista para o meu trabalho. Isso só é possível, e sustentável, ao se desenvolver e fortalecer a empatia e sentir as formas pelas quais o racismo não é apenas prejudicial para pessoas de cor – ele fere pessoas brancas, também.

Essa compreensão não me veio até que participei do workshop do PISAB pela segunda vez, em 2019. Eu tinha me inscrito devido ao insistente estímulo de Stoop Nilsson, instrutor de reeducação racial que mostra a pessoas brancas como se tornarem líderes antirracistas em suas comunidades. Durante o workshop, Barndt, um dos professores, destacou como pode ser fácil para brancos pensarem que o racimo não os prejudica. Mas “a verdade é que, com o racismo, nós perdemos, também disse ele. “Toda a humanidade perde. Com o fim do racismo, nós reconquistamos nossas vidas.

H. Shella e Verscy, professor a de psicologia na Universidade Fordham, estuda como a cultura da supremacia branca impacta a saúde mental tanto de populações brancas como de não brancas. Em um artigo de 2019, ela e seus coautores explicam como pessoas brancas são prejudicadas pelo mito da meritocracia – a ideia de que trabalhar duro e avançar na carreira por esforço próprio, sem ajuda externa, leva ao sucesso. Quando isso não acontece (por exemplo, se você não obtém uma promoção pela qual trabalhou arduamente), sua visão de mundo é ameaçada, o que gera um grande estresse, mostram as pesquisas.

Versey observa que muitos brancos se opõem a programas de saúde sociais que na verdade os beneficiariam, tais como o Obama­care, em parte por acreditarem que esses programas são desenvolvidos para beneficiar pessoas de cor. Em seu livro Dying of Whiteness, o médico Jonathan Metzl descreve como alguns brancos apoiam políticos que promovem políticas que aumentam seus riscos de doença e morte. Outra maneira pela qual todos somos prejudicados cotidianamente é através da cultura da supremacia branca. Como Kenneth Jones e Tema Okun escreveram no livro Dismantling Racism: A Workbook for Social Change Groups, as características dessa cultura supremacista incluem perfeccionismo, senso de urgência, atitude defensiva, quantidade acima de qualidade, paternalismo, um raciocínio do tipo “isso ou aquilo”; acúmulo de poder, individualismo e mais.

Entender e sentir como o racismo me fere ou prejudica – mesmo que seja apenas com uma mera fração da dor que as pessoas de cor experienciam – faz parte do que me ajuda a internalizar a motivação de que preciso para trabalhar para desmontá-lo. Me pergunto se a cultura supremacista branca contribui para meus elevados níveis de ansiedade. Estou associando a cultura supremacista branca mais claramente ao negacionismo das mudanças climáticas, assim como ao paternalismo e ao pensamento excessivamente rígido que vivi em vários empregos.

Trabalhar com Nilsson está me ajudando a criar uma identidade racial positiva só minha, tanto como pessoa branca corno judia russa. Nosso país se orgulha de ser um grande caldeirão multicultural e multirracial, mas muito se perde na assimilação à branquitude e à supremacia branca. Marcadores de identidade étnica, tais como idioma, culinária, cultura e música, são desencorajados; pessoas descendentes de uma herança não europeia ocidental são muitas vezes vilipendiadas. Na minha família, meus pais eram tão determinados a aprender inglês que quase nunca falavam russo em casa. Eu nunca aprendi o idioma. Me entristece o fato de não poder falar com meus próprios pais na língua nativa deles e saber tão pouco sobre a nossa herança cultural.

A combinação da Covid-19 com uma temporada eleitoral complicada e com movimentos de protestos raciais que iluminam questões que afetam a todos nós está fazendo muitos americanos reavaliarem o que é importante. Pessoas brancas podem estar despertando para domínios de suas vidas que antes lhes eram inacessíveis e para histórias, literatura e legados que por muito tempo foram excluídos dos currículos escolares. Esse despertar pode levar as pessoas a trabalharem na criação de uma identidade racial positiva, longe do supremacismo branco, baseada no reconhecimento do poder da branquitude em nossa sociedade e no emprego desse conhecimento para buscar igualdade e justiça para todos. Pular essa etapa corre o risco de levar a uma desistência ou causar ainda mais danos; os sentimentos de vergonha e autodesprezo não são motivadores eficazes e podem inibir a força e energia necessárias para pressionar por uma mudança sistêmica.

Vivendo esse processo há vários anos, só estou certa de uma coisa: o antirracismo é uma prática para toda a vida Em seu livro Why Are All the Black Kids Sitting Together in the Cafeteria?, a psicóloga Beverly Daniel Tatum compara o racismo a um nevoeiro de fumaça, pois é algo que todos inspiramos e a que ninguém está imune. Desaprender o racismo é conscientizar-se de cada inalação, e individualmente fazer o possível para expirá-lo em menor quantidade.

*** ABIGAIL LIBERS – é jornalista freelancer e editora baseada em Nova York.

OUTROS OLHARES

DE CASA PARA O TRABALHO

Com mais gente em home office, prédios de escritórios devem perder relevância e poderiam intercalar apartamentos entre locais de trabalho no pós-pandemia

Os edifícios de escritórios, símbolos da metrópole do século XX, se apresentam como uma herança quase obsoleta diante da voracidade de um inimigo oculto que nos obriga a buscar refúgio em nossa casa. Os distritos financeiros, os grandes centros comerciais com seus arranha-céus de vidro, estão pálidos, irreconhecíveis sem o único elemento que lhes dá significado: as pessoas. Mesmo após a retomada das atividades e de uma certa estabilidade, possivelmente nossas relações de trabalho sofrerão mudanças profundas que impactarão na demanda por espaços de escritórios. Com mais gente trabalhando remotamente, há uma tendência de que os edifícios comerciais percam uma parcela de sua relevância, fazendo com que algumas empresas reduzam a necessidade de área para acomodar os funcionários.

Diante disso, qual será o futuro dos edifícios de escritórios nos centros urbanos? Nossa proposta conceitual procura imaginar novas tipologias e como podemos repensar nossas cidades no mundo pós-pandemia transformando radicalmente os edifícios comerciais convencionais. A ideia é intensificar o uso misto, promovendo uma simbiose direta entre a habitação e o escritório. Utilizamos como exemplo o edifício onde mantemos o nosso escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, reconhecido eixo de serviços e sedes de empresas da capital, com predominância de prédios comerciais. Mesmo antes da epidemia, a monofunção já era considerada um conceito obsoleto para as cidades contemporâneas por não promover a flexibilidade de usos e atividades ao longo de todo o período diário em uma mesma vizinhança. Durante o dia a avenida é testemunha da congestão urbana, porém à noite e nos fins de semana sofre com o esvaziamento e a falta de dinamismo.

Na tentativa de dar novo significado a esses espaços, seriam mantidos alguns pavimentos de escritórios intercalados entre novos andares residenciais. A partir disso, criamos um sistema de encaixe de diferentes tipos de apartamento que se conectam verticalmente a pelo menos um módulo de escritório. Alguns vazios resultantes dessa operação seriam saudáveis para configurar pequenas áreas de convívio e descompressão sem risco de aglomerações. Os moradores garantem, assim, um local de trabalho adequado, livre das interferências domésticas, mas com ligação direta ao lar. Em contrapartida, os escritórios podem permanecer funcionando com acesso independente em seus pavimentos exclusivos, mantendo uma atmosfera adequada às relações profissionais com eventuais clientes e pequenas equipes externas. Desse modo, atingimos o nível de proximidade ideal entre casa e trabalho.

Na cobertura desses edifícios seria essencial a criação de uma área verde de convivência e lazer para suprir nossa necessidade de contato com o ambiente externo, um ativo precioso e raro para todos que sentiram a artificialidade do espaço compartimentado dos apartamentos atuais durante o isolamento. Esse novo conceito de uso misto poderia ser uma alternativa para gerar mais dinamismo em outras regiões com predominância de edifícios comerciais, como o Centro e a Avenida Paulista. A inserção da tipologia habitacional diretamente conectada comunidades de escritório garantiria uma cidade mais compacta e densa, o que diminuiria os deslocamentos e o esvaziamento dessas áreas após o horário comercial.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 24 DE JANEIRO

PRESSÁGIOS PERIGOSOS

Aquilo que teme o perverso, isso lhe sobrevém, mas o anelo dos justos Deus o cumpre (Provérbios 10.24).

O perverso tem presságio, o justo, esperança. O perverso teme o mal, e este lhe sobrevém; o justo busca o bem, e Deus atende ao seu desejo. A grande pergunta é: Por que aquilo que o perverso teme lhe sobrevém? É porque ele colhe o que planta. O perverso semeia vento e colhe tempestade. Ele semeia na carne e da carne colhe corrupção. Ele bebe o refluxo do seu próprio fluxo. Ceifa os frutos de sua própria semeadura insensata. Assim como há uma lei natural, há também uma lei moral. Assim como é impossível colher figos de espinheiros, também é impossível colher da semeadura da maldade o fruto da felicidade. O perverso faz o mal com a pretensão de receber o bem. Ele faz o mal para os outros, mas tem medo de que o mal caia sobre sua própria cabeça. Aquilo, porém, que ele teme, isso lhe acontece. Não é assim a vida do justo. Seus anelos são santos, e suas motivações são puras. O justo deleita-se em Deus e ama o próximo. O justo promove o bem aos outros, e Deus mesmo lhe devolve o bem feito aos outros. A Bíblia diz: Certos de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor (Efésios 6.8). Deus cumpre o desejo do justo. Ampara-o na aflição, sustenta-o nas provas, fortalece-o na caminhada, dá-lhe vitória nas lutas e depois o recebe na glória.

GESTÃO E CARREIRA

EU SOU O MEU PATRÃO

As mudanças do mercado e o desejo de liberdade fazem com que mais trabalhadores optem por ser os próprios chefes

De tempos em tempos, o mundo do trabalho passa por grandes rupturas. Na Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX, os operários começaram a dar expediente nas fabricas em troca de salário regular e as relações entre patrão e empregado eram estabelecidas por contrato. No início do século XX, países como Alemanha e México introduziram as primeiras leis trabalhistas que limitavam abusos e garantiam direitos e proteções. Logo após a crise de 1929, o desemprego elevado obrigou nações como Estados Unidos e Inglaterra a diminuir a jornada laboral, o que acabaria abrindo espaço para que novas contratações fossem feitas. Nas últimas décadas, pouca coisa mudou. De maneira geral, o trabalho para a maioria das pessoas consiste em dar expediente de segunda a sexta-feira, em períodos de oito a dez horas diárias e mediante uma série de regras definidas pelo Estado e pelas empresas. Agora, uma nova revolução está em curso – talvez a mais radical da história. Trata-se da ascensão do trabalho independente, livre das amarras das relações formais, e que abre um imenso campo de possibilidades para profissionais de diversas áreas. Cada vez mais o indivíduo será seu próprio patrão.

As transformações são resultado principalmente do avanço tecnológico e do surgimento de uma nova geração de empresas e trabalhadores que estão dispostos a romper com o passado, custe o que custar. Inovações como a inteligência artificial associada a sistemas eficientes de comunicação permitiram, por exemplo, que boa parte dos ofícios pudesse ser feita a distância. Na indústria 4.0, robôs controlados por mentes pensantes posicionadas em cidades longínquas conseguem restaurar equipamentos, construir máquinas fabris e até controlar uma planta industrial inteira – e tudo isso a uma velocidade impressionante. Processos mais ágeis liberam os funcionários para exercer outras atividades, inclusive a prestação de serviços a terceiros. “Cada vez mais, haverá menos emprego e mais trabalho”, afirma o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

As empresas, por seu lado, perceberam que colaboradores livres podem ser mais produtivos. Nenhuma levou a máxima tão a sério quanto a americana Netflix. Os funcionários da líder global dos serviços de streaming tiram o tempo de férias que desejarem e quando bem entenderem. “Muito antes da Netflix, eu já acreditava que o valor de um trabalho criativo não devia ser medido por horas de trabalho”, escreveu Reed Hastings, fundador da companhia, no livro A Regra É Não Ter Regras. “Esse tipo de pensamento é uma relíquia da era industrial, quando os funcionários executavam tarefas que agora são feitas por máquinas.” Outros gigantes, como a também americana Microsoft e a britânica Unilever, ensaiam a introdução da semana de quatro dias para que os funcionários possam usufruir o tempo da maneira que acharem melhor – eles, afinal, mandam na própria carreira.

No Brasil, a reforma trabalhista de 2017 foi um importante passo para tornar as relações entre empregados e patrões mais flexíveis, aproximando o sistema brasileiro dos países desenvolvidos. É pouco diante da brutal transformação que está porvir. De certa forma, a pandemia acelerou as mudanças. Com as restrições de circulação, o home office tornou-se uma realidade possível para milhões de pessoas. Empresas como Facebook e Twitter e a brasileira XP estão entre as que pretendem adotar o trabalho a distância permanente, pelo menos para parte de seus funcionários. Em casam ressalte-se, dividir o trabalho entre vários clientes – ou vários patrões – pode ser mais fácil.

Como a história ensina, crises profundas como a de 2020 são desencadeadoras de revoluções. Sem emprego, muitas pessoas foram obrigadas a buscar caminhos por conta própria, antecipando processos que, cedo ou tarde, chegariam. Há vinte anos no ramo de pet shops, José Nilton Cerqueira viu o movimento da empresa onde trabalhava cair a praticamente zero durante a pandemia. A necessidade de manter alguma renda fez com que buscasse alternativas. Em maio, lançou uma pet shop móvel, que vai até a casa dos clientes para prestar o serviço de banho e tosa. “Minhas despesas foram reduzidas e consegui continuar trabalhando em uma condição que me dá maior flexibilidade”, afirma. “Agora, dependo apenas do meu trabalho. Essa liberdade não tem preço.” As grandes rupturas sempre trazem desafios. Para ser o próprio chefe, é preciso desfrutar boa reputação e ser capaz de promover o que os especialistas chamam de autogestão. Em outras palavras: administrar bem o tempo, buscar incessantemente novos clientes e manter reservas financeiras. Se fizer tudo isso, o trabalhador individual estará pronto para os novos tempos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A PESQUISA E AS MÁS COMPANHIAS

Como o criminoso Jeffrey Epstein comprou influência em Harvard

Em maio passado, a Universidade Harvard (onde leciono) divulgou um relatório sobre seu relacionamento com o criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein. Foi um mea-culpa franco e direto, destacando três áreas. A primeira foi a contradição entre tratar de agressão e assédio sexual no campus enquanto aceitava dinheiro de um abusador de menores. A segunda foi a mofa dos padrões acadêmicos quando, depois de doar US$ 200 mil para o departamento de psicologia, Epstein foi indicado como pesquisador visitante, apesar da falta de qualificação acadêmica. A terceira foi sua ligação com o Programa para Dinâmica Evolutiva (PED) de Harvard. Mesmo depois de sair da prisão, Epstein se manteve um visitante frequente: já um criminoso sexual fichado, ele foi aos escritórios do PED mais de 40 vezes entre 2010 e 2018. Ele tinha um escritório no campus, um cartão-chave e uma senha com a qual podia entrar nos prédios fora do expediente.

A vida acadêmica é dura em parte porque pesquisadores com boas ideias têm de competir por fundos. Quando a revisão por pares funciona bem, ela identifica as melhores ideias para apoiar, normalmente usando painéis e não indivíduos, para assegurar que diversas opiniões sejam representadas. O processo é imperfeito, mas mulheres, pessoas de cor, acadêmicos jovens, pesquisadores de universidades que não são de elite e pessoas que defendem ideias não convencionais pelo menos têm uma chance. Porém, mais de dois terços das doações de Epstein – US$ 6,5milhões – foram para o diretor do PED, Martin Nowak. Epstein encorajou outros a doar outros US$ 2 milhões ao geneticista George Church. Ambos já eram bem estabelecidos e financiados; Epstein ajudou os endinheirados a ficarem mais endinheirados.

Para piorar, Epstein era um moderno eugenista, cujos interesses estavam atrelados a uma louca noção de semear a raça humana com seu próprio DNA. Dada essa postura, é perturbador que ele concentrasse sua generosidade em pesquisas sobre a base genética do comportamento humano. A genética humana é um domínio eticamente sensível e intelectualmente contestado, e devemos garantir que os mais elevados padrões de rigor científico estejam em vigor e que explicações não genéticas para o comportamento recebam uma chance justa para competir.

Cientistas podem alegar que o dinheiro de Epstein não os fez abaixar seus padrões, mas temos amplas evidências de que os interesses de financiadores muitas vezes influenciam a pesquisa. O New York Times concluiu que, neste caso, ele levou os pesquisadores “a dar crédito a algumas das equivocadas ideias científicas do Sr. Epstein”. Verdadeiro ou não, deveria nos preocupar que um homem corrupto tomasse decisões que afetavam as pesquisas em uma das mais renomadas universidades dos EUA. Ele não tinha competência acadêmica, mas fez escolhas sobre quais propostas de pesquisa eram promissoras.

Além disso, quando Epstein se encrencou, vários docentes o defenderam e até o visitaram na prisão. Quando seu advogado, o professor de Harvard Alan Dershowitz precisou de ajuda para argumentar (por razões semânticas) que Epstein não era culpado, ele procurou o psicólogo de Harvard, Steven Pinker. Este diz que não sabia como seu conselho era usado e só ajudou Dershowitz como “um favor a um amigo e colega”. Mas este é o ponto: Epstein comprou amigos influentes, e esses amigos tinham amigos que o ajudaram, mesmo que inadvertidamente.

Essas questões vieram à tona porque Epstein era um criminoso, mas Harvard não é a única a aceitar dinheiro contaminado. Universidades precisam desenvolver políticas para garantir que o financiamento à pesquisa se baseie em mérito, não em nepotismo, e pesquisadores que buscam confiança pública têm de ser capazes de mostrar que suas próprias bússolas éticas não se desviam pelo magnetismo do dinheiro.

*** NAOMI ORESKE – é professora de história da ciência da Universidade Harvard. É autora de WhyTrust Science? (Editora da Universidade Princeton, 2019) e coautora de Disceming Expens (Universidade de Chicago,2019).

EU ACHO …

PODEMOS MUDAR A HISTÓRIA

Para quem tem dúvida sobre a inexorabilidade do combate ao racismo estrutural e para os que nunca tiveram dúvidas que a igualdade de oportunidades amplia a diversidade dos insumos e eleva a qualidade do resultado final, o encerramento da seleção dos dez e depois dezenove jovens negros do programa de trainees do Magazine Luiza, apresenta de forma inédita uma oportunidade extraordinária de inflexão, estímulo e entusiasmo. Da mesma forma, desafia aqueles que têm poder de voz e de intervenção, sobretudo os líderes empresariais a realizarem um mergulho profundo num Brasil que sempre esteve aí, mas que agora, desnudado e potencializado pelas novas agendas social e política, global e local, revela para todos os sentidos a estridência de uma realidade insustentável e a potência de uma verdade escamoteada: o discurso e prática racista desiguala os iguais, e o mérito racializado exclui e interdita o acesso isonômico dos talentos e das capacidades, desconsidera e ignora outras dimensões humanas dos indivíduos.

No tempo em que conhecimento é elemento estratégico de competitividade e progresso econômico e social, por conta do racismo estrutural, temos operado na contramão, desperdiçando talentos e deixando de fazer uso inteligente de recursos humanos de extrema qualidade e de altíssimo custo social. Logo, além de irracional e injustificável, tem se constituído numa prática terrivelmente prejudicial à produtividade e desenvolvimento econômico; e, profundamente injusta com os talentosos, esforçados e resilientes jovens negros.

Os mais de 22 mil candidatos negros que apresentaram as credenciais para competirem no programa, demonstraram à sociedade que os negros sempre estiveram prontos e qualificados, e, principalmente, sempre estiveram acessíveis àqueles que verdadeiramente quiseram encontrá-los. Demonstraram mais, que em nenhum momento seria preciso baixar a régua ou nivelar por baixo para permitir a competição justa e equitativa seja para cumprir o direito à isonomia, seja para alcançar os propósitos da diversidade corporativa.

O presidente Frederico Trajano foi inspirador: “há mais de quinze anos eu sempre faço entrevistas com os finalistas. Esta foi a que mais emocionou, estou radiante, contagiado com as histórias das pessoas. Um de nossos defeitos é que, infelizmente, no passado, não conseguimos formar líderes negros. E é isso que pragmaticamente queremos resolver”. Ou seja, podemos construir o país que quisermos, e, nem o racismo estrutural pode limitar a nossa vontade de promover o justo, prestigiar o talento, fazer a coisa certa, e mudar a história.

OUTROS OLHARES

A CRENÇA COMO REMÉDIO

Novo documento lançado por médicos brasileiros ratifica e detalha a importância da espiritualidade no tratamento de doenças

Você tem fé? Frequenta cultos religiosos? Costuma superar rapidamente a tristeza quando alguém machuca seus sentimentos? Perguntas assim, digamos, não propriamente científicas, podem se tornar comuns na rotina dos consultórios médicos do país. A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), referência na medicina brasileira, publicou o mais completo documento sobre a relevância da espiritualidade e de atributos como a compaixão e o perdão no tratamento de diversas doenças. A ideia é que, ao investigar a vida do paciente, o profissional dê a mesma dimensão para questões clássicas, como hábitos alimentares, e aquelas associadas à espiritualidade. “É uma abordagem que pode prevenir problemas e capaz também de detectar causas de enfermidades que não são rastreadas por exames convencionais, como dores crônicas, insônia e até depressão”, diz Álvaro Avezum, diretor da Socesp e cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

O levantamento brasileiro traz 368 referências de estudos internacionais sobre o assunto feitos nos últimos anos. Um dos trabalhos mais interessantes foi desenvolvido pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com cristãos. Ele atestou que ir à igreja ao menos uma vez por semana pode reduzir a mortalidade de 20% a 30% em um período de até quinze anos. O ponto básico para explicar o papel da fé na saúde é associá-lo ao modo de ver a vida. “Esses pacientes costumam ser mais otimistas e aderir ativamente às terapias”, diz Sidnei Epelman, oncologista pediátrico do Hospital Infantil Sabará e presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer. Uma das possíveis explicações lógicas é a associação que a crença pode ter com hormônios. A prática religiosa está ligada a secreção de endorfina e dopamina, substâncias do prazer e bem-estar.

A espiritualidade é uma questão essencial para a maioria das pessoas: cerca de 80% da população mundial está ligada a alguma religião ou acredita em um poder superior. O ponto do novo documento é ajudar os profissionais de saúde na identificação dos pacientes que desejam ou precisem dessa nova abordagem. O trabalho sugere questionários de aferição de comportamento. Um deles aborda especificamente a questão da capacidade de perdoar, forte característica dos que têm fé. A postura faz bem ao coração – a mágoa gerada pelo ressentimento deflagra stress crônico. Por defesa, o organismo estimula a quantidade de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que, em excesso, são nocivos. Eles aceleram uma reação que eleva a atividade inflamatória do corpo. O resultado podem ser doenças como arteriosclerose, trombose, infartos, derrames e problemas autoimunes.

Há mais de um século, o canadense William Osler (1849-1919), pensador da medicina moderna, cunhou uma frase inspiradora: “A fé despeja uma inesgotável torrente de energia”. Contudo, até muito recentemente, medicina e espiritualidade não conversavam. Hoje, nove em cada dez universidades médicas nos Estados Unidos incluíram na grade curricular o tema espiritualidade e saúde. No Brasil, ainda engatinha. Convém, portanto, deixar de lado os preconceitos, mas também os exageros religiosos, e crer.

A RELIGIÃO NA PONTA DO LÁPIS

Sucintas e de fácil aplicação, as perguntas presentes na revisão da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo avaliam o envolvimento religioso do paciente

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 23 DE JANEIRO

DIVERSÃO PERIGOSA

Para o insensato, praticar a maldade é divertimento; para o homem inteligente, o ser sábio (Provérbios 10.23).

Qual é a sua diversão? O que você mais gosta de fazer? O que lhe dá prazer? A Bíblia diz que o insensato se diverte praticando a maldade. Há muitos programas humorísticos, telenovelas, shows musicais, peças de teatro, rodas de happy hour que não passam de diversão frívola, de maldade travestida de diversão. Aqueles que encontram no mal um prazer mórbido e se divertem revolvendo a lama infecta dos porões sujos da obscenidade são insensatos. O verdadeiro prazer e o sentido da vida não estão na prática da maldade, mas na busca da sabedoria. O inteligente não se imiscui nessa roda dos escarnecedores. Não chafurda nesse pântano pestilento. O inteligente busca reger sua vida pela sabedoria. Não oferece seus ouvidos ao lixo do mundo. Não põe diante dos seus olhos coisas imundas. Não coloca seus pés na estrada do mal nem lança suas mãos naquilo que é uma desonra para sua alma. O inteligente não tem prazer no pecado; antes, o seu deleite está em conhecer a Deus e viver para a glória do Senhor. Ele não busca sua diversão nas sucursais do pecado, mas nos celeiros da sabedoria. Seu prazer não está nos banquetes da terra, mas nas delícias do céu.

GESTÃO E CARREIRA

ELAS MANDAM CADA VEZ MAIS

Ampliar a presença de mulheres é um desafio no mundo corporativo, e ainda mais no mercado financeiro. Mas um grupo crescente de bancos e gestoras tem mais executivas. A diversidade ajuda a atrair mais clientes

Elas são majoritariamente mulheres. e cuidam da fortuna de… mulheres. Cerca de 70% do quadro da gestora de patrimônio Alocc, com 5,5 bilhões de reais na carteira, é composto de funcionárias. Elas são 35 num grupo de 50. Além disso, entre os clientes as mulheres respondem por 55% do patrimônio sob gestão no Rio de Janeiro, onde fica a sede da Alocc. Até no quadro societário elas são maioria: cinco entre nove. As sócias fundadoras apresentam algo em com um: todas têm alguma história de preconceito no trabalho para contar e resolveram empreender para ter mais flexibilidade, inclusive na vida familiar. A Alocc foi criada em 2011 como uma junção da gestora de patrimônio TNA, de Ricardo Taboaço, ex-sócio da seguradora Icatu, e de sua mulher e sócia, Veronica Nieckle, com a Integra Consultoria, de Sigrid Guimarães, ex-executiva das Organizações Globo. Na visão de Sigrid, o tratamento acolhedor, que escuta o cliente e analisa seus objetivos de vida, pode ter contribuído para atrair clientes do sexo feminino. Já no caso das funcionárias, segundo ela, o ambiente no qual homens e mulheres são tratados de forma igual pode ter influenciado na atração. “Contratamos os funcionários mais adequados aos cargos”, diz Sigrid.

Se a inclusão de mulheres é um desafio em todos os setores, no mercado financeiro chega a ser maior. É um ambiente conhecido, ainda hoje, pelas altas doses de truculência e machismo, cristalizadas em personagens como os do filme O Lobo de Wall Street e em expressões como buli market e bearmarket – o “touro” e o “urso”, respectivamente, representam as tendências de alta e baixa do mercado. Uma pesquisa feita pela consultoria de recursos humanos americana Russell Reynolds com 339 executivos do setor financeiro em mais de 20 países, inclusive o Brasil, mostra que apenas metade deles acredita que seus líderes reconheçam políticas de diversidade. Em segmentos mais avançados no tema, como o setor governamental, o de ONGs e o de cultura, a proporção alcança até 87%. A pior pontuação do setor, no mercado financeiro, é a de reconhecimento e premiação de líderes inclusivos. Uma pesquisa da Betania Tanure Associados mostra que 26% das mulheres em cargos de liderança no setor financeiro veem que suas empresas estão iniciando a divulgação de esforços para inclusão e avanço da equidade de gênero, e 21% delas acreditam que essa já seja uma prática incorporada no dia a dia corporativo. Sobre equilíbrio em cargos de liderança, 15% acreditam que a empresa esteja iniciando essa prática, e 35% dizem que isso já é praticado.

Preocupados com a possibilidade de perda de talentos, os bancos vêm lançando iniciativas para atração e retenção de mulheres. O objetivo é obter melhores resultados financeiros com os melhores profissionais. Esse ganho trazido por um ambiente mais heterogêneo é comprovado por pesquisas como a da consultoria McKinsey, que conclui que empresas que investem mais em diversidade de gênero tendem a ter resultados 15% acima da média dos concorrentes diretos. Uma das razões para que essas empresas se saiam melhor é que o maior equilíbrio de cargos entre homens e mulheres diminui em 20% a rotatividade dos  funcionários, ao mesmo tempo que amplia a produtividade em 12%, segundo um levantamento da Organização das Nações Unidas. A evolução feminina no mercado financeiro do Brasil nos últimos anos é visível em cargos da base da pirâmide. De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais 2018, divulgada em novembro, o número de mulheres em cargos como analista de crédito, analista financeiro e corretor de valores somava 33.700, ante 24.000 homens. Mas, quando se olham posições gerenciais, há um longo caminho a ser percorrido, segundo mostra a pesquisa Gender 3000, do banco Credit Suisse. No setor, globalmente, elas ocupam apenas 20% dos cargos gerenciais. No Brasil, em todos os segmentos, o número cai para 8%. Ter mulheres na liderança é, portanto, duplamente importante porque o fomento de uma cultura de diversidade tem de vir, necessariamente, de uma liderança mais inclusiva. “É a forma mais efetiva de mudar a cultura”, afirma Fernando Machado, sócio e consultor da Russell Reynolds.

Em pelo menos quatro bancos de investimento estrangeiro no país, as mulheres já estão à frente do negócio ou em posições executivas. Maria Silvia Bastos Marques é presidente do conselho consultivo do Goldman Sachs; Maite Leite é presidente do Deutsche Bank; Sylvia Brasil Coutinho é presidente do UBS; e Sandrine Ferdane é presidente do BNP Paribas. Esses bancos não fazem feio quando se trata da participação feminina em sua estrutura como um todo. No UBS, as mulheres representam metade do comitê executivo, enquanto ocupam 30% dos cargos de diretoria. No BNP Paribas, as mulheres são 30% do comitê executivo e do time de gestores. Mas ainda há muito espaço para aumentar a participação. Para atrair, reter e desenvolver talentos, as quatro executivas se juntaram e criaram neste ano o Dn’AWomen, um curso gratuito de desenvolvimento pessoal e profissional para estudantes universitárias de todas as áreas, com duração de quatro meses. Há aulas de matemática e de autoconhecimento. O objetivo é que as estudantes ganhem confiança já no início da carreira para assumir cargos de liderança no futuro. Ao longo dos anos criou-se a reputação de que o mercado financeiro é mais duro e exigente. Queremos mostrar que o setor tem apelo para elas”, diz Maite. Na visão de Maria Silvia, o tema da diversidade vem ganhando força principalmente por causa de uma demanda da sociedade. “Hoje, fornecedores e consumidores levam isso em consideração.”

Entre os bancos de varejo, o Santander já tem maioria feminina no quadro. Mas o banco reconhece que precisa buscar a equidade de gênero em posições de liderança. Para encorajar as mulheres, criou um grupo de liderança feminina com 30 participantes e capitaneado por quatro executivas de áreas distintas. As integrantes participam de encontros com vice-presidentes para ganhar mais desenvoltura e visibilidade. Para o ano que vem, a meta é ampliar de 26% para 30% a participação de mulheres em posições executivas. Em 2017, a proporção era de 24%. No Banco do Brasil, o compromisso de aumentar a presença feminina em cargos de gerência faz parte da agenda para o triênio 2019-2021.

O maior objetivo dessas ações é ampliar o número de mulheres para atrair um público estratégico para o setor: as próprias mulheres. Uma das conclusões de uma pesquisa da consultoria americana Center for Talent Innovation é que funcionárias podem inovar um modelo de negócios para conectá-lo a mulheres, e investidoras estão mais inclinadas a aplicar dinheiro em empresas com diversidade no time de liderança sênior. Segundo a consultoria, 67% das mulheres com um consultor financeiro não se sentem compreendidas por esse profissional. Estima-se que 44% das mulheres brasileiras já sejam a fonte primária de renda da família. Em 2007, eram 31%. No entanto, elas ainda são 20% dos investidores da bolsa de valores e 31% dos aplicadores em títulos públicos. De olho no potencial de elevar essa participação foi lançado no mês passado o Ella’s, primeiro escritório de agentes autônomos de investimento dedicado a mulheres. “Não dá para falar em empoderamento feminino sem falar de finanças”, diz Rebeca Nevares, uma das sócias. Uma pesquisa da gestora Franklin Templeton mostra que, enquanto 40% das mulheres acham que sabem menos do que um investidor médio, 23% dos homens têm essa opinião. Para driblar a insegurança, corretoras como a Guide começaram a realizar cursos voltados para o público feminino, além de eventos exclusivos para elas em todo o país. A impressão é que sem homens, e em um formato de bate-papo, as mulheres se sentem mais confortáveis para fazer perguntas. Já o Women in Finance Summit, promovido pela Franklin Templeton em outubro, teve como objetivo inspirar mulheres e mostrar casos de carreiras no setor financeiro. O evento foi pensado para 80 pessoas, mas recebeu 800 inscrições. Interesse das mulheres por finanças não falta.

EM SEGUNDO PLANO

Comparadas a empresas consideradas diversas e inclusivas, as gestoras de serviços financeiros ainda não valorizam a diversidade

CRESCENDO JUNTO

O percentual de mulheres que investem na bolsa brasileira se mantém, seguindo o aumento do número total de investidores

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

AGORA, TODOS JUNTOS

Atividades sincronizadas, como dança e ginástica em grupo, promovem laços sociais surpreendentemente fortes. A causa provável são alterações químicas no cérebro

Para salvar qualquer um de seus companheiros da fanfarra, diz Steve Marx, ele seria capaz de se jogar em meio ao trânsito pesado sem hesitar. Essa fala é comum entre antigos colegas de Exército, não entre músicos. Mas Marx evoca essa cena para mostrar a força de seus sentimentos pelo grupo. O diretor da fanfarra do Gettysburg College, na Pensilvânia, participa de grupos musicais há mais de 20 anos, desde o ensino médio, e diz que “esse tipo de laço que formamos é extremamente forte. Somos como uma família”. Todos usam uniformes combinados e trazem instrumentos musicais nas mãos. Caminham em perfeita harmonia, perna esquerda, perna direita; movimentos e música tão sincronizados que os indivíduos se confundem no grupo maior. O fascínio nem tem tanto a ver com a música, ele admite. Marchar, para ele, está mais relacionado   ao senso de afinidade.

Muitas atividades em grupos estimulam nosso senso de pertencimento, e a pesquisa mostra que fazer coisas em sincronia pode fortalecer laços sociais e criar um sentimento de bem-estar. Remar em equipe, dançar em linha, cantar em coro ou simplesmente tamborilar em sincronia aumenta a generosidade, confiança e tolerância com os outros, muitas vezes mais do que os efeitos vistos em atividades mais desordenadas. Pode até aumentar a tolerância das pessoas à dor. Agora estamos começando a entender por que os movimentos simultâneos e coordenados propiciam essa dose extra de afinidade, diz Laura Cirelli, psicóloga e pesquisadora de sincronia na Universidade de Toronto. Os efeitos poderosos desse fenômeno em nós resultam da combinação de fatores neuro-hormonais, cognitivos e perceptivos.

“É uma interação complexa”, explica ela. Há também evidências de que temos uma propensão à sincronia que pode ter sido selecionada durante o curso da evolução humana, em parte porque nos permite uma ligação com um número maior de pessoas ao mesmo tempo, proporcionando uma vantagem para a sobrevivência.

A capacidade de sincronizar atividades não é exclusivamente humana: certos animais também o fazem. Golfinhos nariz-de-garrafa podem se mover pela água em uníssono, por exemplo, e os machos de algumas espécies de vagalumes harmonizam seus lampejos. Especialistas em comportamento animal teorizam que, como com os humanos, esses movimentos coordenados promovem vários benefícios sociais positivos, como atrair um companheiro. O que nos diferencia é que nossa sincronia abrange uma variedade ampla de comportamentos.

Alguns são organizados: pense em grupos de oração, corais de canto, paradas militares e flash mobs. Alguns são espontâneos: pense em frequentadores de concertos aplaudindo uma música no momento certo ou em um casal caminhando no parque, com seus pés tocando o solo exatamente ao mesmo tempo. Se duas pessoas se sentam lado a lado em cadeiras de balanço, elas impulsivamente começarão a ir para frente e para trás em paralelo, mostram estudos.

Marx atribui sua devoção aos colegas de fanfarra à sincronia, e experimentos psicológicos mostraram que esse tipo de coordenação de fato aprofunda o sentimento de grupo. Em um estudo, pesquisadores da Universidade de Oxford dividiram jovens alunos em dois grupos. Um usou roupa laranja e o outro, verde. Esses figurinos podiam incitar divisões entre as crianças. Os pesquisadores, no entanto, pediram que as crianças passassem um tempo dançando juntas em sincronia. Depois disso, os verdes e os laranjas se uniram mais e brincaram mais próximos do que crianças divididas de forma similar que dançavam de maneira não coordenada.

AFINIDADE APRIMORADA

Não se trata só de brincadeira de criança. Uma série de experimentos na Hungria, publicada em 2019, sugere que andar em sincronia com uma pessoa de uma minoria étnica pode reduzir o preconceito. Na Hungria, predominam os estereótipos negativos sobre os ciganos. Quando os pesquisadores pediram que não ciganos atribuíssem palavras positivas ou negativas a imagens de pessoas tradicionalmente vestidas como ciganos, eles usaram mais palavras negativas. Quando o mesmo grupo olhou para imagens de pessoas com trajes húngaros tradicionais, foram atribuídas mais palavras positivas. Os pesquisadores pediram então que os não ciganos dessem voltas em um salão em sincronia ou não com alguém apresentado como cigano. Quando depois os pesquisadores perguntaram sobre os sentimentos dos voluntários em relação aos ciganos, os que andaram em sincronia manifestaram um maior senso de proximidade e indicaram mais desejo de ver seus parceiros novamente.

Os cientistas não sabem quanto tempo esses efeitos podem durar. Por isso, a coordenação pode não ser um reflexo permanente para o antagonismo. Mas ela parece minimizar o preconceito em algumas situações. Uma possível razão pode ser porque simples mente nos torne mais parecidos uns com os outros. Em um estudo publicado em 2009 em Social Cognition, participantes bateram os dedos em ritmo com um metrônomo e, em alguns momentos, foram acompanhados por um pesquisador que batia no mesmo ritmo ou em ritmo diferente. Os resultados mostraram que os voluntários que estiveram em coordenação com o pesquisador posteriormente tenderam mais a dizer que o acharam agradável.

Esses sentimentos de afinidade se traduzem em comportamentos mais positivos em relação aos outros. Bater os dedos de forma sincronizada, por exemplo, pode levar pessoas a serem mais generosas ao doarem dinheiro. Em uma série de experimentos publicados em 2017em Basic and Applied Social Psychology, pesquisadores dividiram voluntários em grupos de seis, que foram então divididos em subgrupos de três pessoas. Depois de trabalhar brevemente em uma atividade de grupo, os membros receberam vários cenários para dividir dinheiro entre eles e foram perguntados a quem o dariam. Se eles tivessem passado algum tempo tamborilando em sincronia apenas com seu pequeno trio, tendiam a doar para essas pessoas. Mas, se dois desses trios tivessem agido em sincronia, formando um grupo de seis por uns poucos minutos, os membros tinham maior probabilidade de doar para todos os seis. Tocas em sincronia, porém, não ajudou a estimular a generosidade. Uma meta-análise de 2017 de 42 estudos confirmou que atividades sincronizadas, desde correr em sincronia até cadeiras de balanço no mesmo ritmo, incitam o comportamento pró-social das pessoas.

Psicólogos e neurocientistas explicam a forma como a sincronia aproxima as pessoas com um termo seco: fundir-se com o outro. “É um enfraquecimento dos limites entre o eu e o outro. Quando entramos em sintonia com os atos de outras pessoas, seja conscientemente ou não, nós os integramos com os nossos”, diz lvana Konvalinka, neurocientista cognitiva da Universidade Técnica da Dinamarca. Mesmo crianças muito pequenas tendem a ser mais prestativas após agirem em sincronia. Bebês não podem ser orientados a agir em sincronia, evidentemente, portanto os pesquisadores tiveram de desenvolver meios criativos para examinar o efeito. Em um experimento publicado em 20l7 em Music Perception, uma pessoa levava uma criança de 14 meses em um carregador preso ao peito, diante de outra pessoa. Os dois adultos começavam a saltar, algumas vezes em perfeita sincronia, outras vezes, não. Isso fez os bebês saltarem também. Psicólogos conduziram experimentos usando essa concepção. Depois de uma sessão de pulos em uníssono, se o segundo adulto deixasse cair urna bola ou outro objeto, os bebês ficavam ávidos para pegá-los e devolvê-los.

EVOLUINDO EM UNÍSSONO

O psicólogo Robin Dunbar, de Oxford, acredita que, ao facilitar comportamentos pró-sociais e cooperação, a sincronia poderia encorajar a ligação em grupos primordiais de humanos enquanto a população crescia. Ele pesquisa a sincronia há anos, um fascínio que começou em uma conferência sobre arqueologia de música. Uma das sessões vespertinas foi incomum. Um músico da África do Sul convidou Dunbar e outros presentes a participarem do que parecia ser uma tradicional dança zulu. Ele pediu que ficassem em um círculo, distribuiu tubos de plástico de diferentes comprimentos e os instruiu a soprarem no topo dos tubos, fazendo sons ao acaso, e solicitou que começassem a andar em torno do círculo. Primeiramente, conta Dunbar, o ruído era horrível, mas, depois de uns poucos minutos, os sons e movimentos mudaram sem qualquer esforço em particular e os cientistas entraram em sincronia fazendo música em uma afinação adequada uns com os outros. “Todos tiveram esse sentimento de pertencimento, de ser parte do grupo. Eu percebi que era um efeito extraordinário”, relembra.

Dunbar teoriza agora que, ao longo da evolução humana, a sincronia pode ter estimulado o asseio como um importante mecanismo de união. Primatas não humanos asseiam uns aos outros para remover pulgas e outros parasitas, e o tempo gasto em fazer isso promove a coesão grupal. A atividade leva mais tempo e esforço quando o número de indivíduos asseados cresce, e Dunbar argumenta que determina um limite máximo no tamanho de um grupo unido. Quando ele determinou o tempo que diversas espécies de primatas gastam limpando uns aos outros em relação ao tamanho típico do grupo, pareceu haver uma relação direta. O limite máximo correspondente a um grupo de 50 primatas. Nenhuma espécie de macaco forma grupos que sejam, na média, maiores do que isso. Mas humanos, sim. Dunbar calcula que uma comunidade natural para nós seja em torno de 150 pessoas. Ele chegou a esse número com base no tamanho do neocórtex humano comparado com o de outros primatas, assim como as populações de cidades em sociedades em pequena escala e o número de amigos e familiares que as pessoas em sociedades em larga escala tendem a ter. Esse número bate com os primeiros registros históricos: era o tamanho da cidade média na Inglaterra em 1086 d.C. quando Guilherme, o Conquistador, inspecionou seu novo reino. (Nem todos acham que 150 seja um número definitivo; alguns cientistas alegam que esse estudo se baseia em dados excessivamente eletivos.)

Dunbar sugere que uma razão para que os primeiros humanos conseguissem sustentar um grupo com o triplo do tamanho de um agrupamento médio de macacos é que eles chegaram a uma forma de “assear” várias pessoas ao mesmo tempo, usando vozes ou movimentos do corpo em vez de catar parasitas com os dedos. O tamanho maior oferecia proteção ao grupo contra ataques de outros humanos, aumentando sua capacidade de sobrevivência e reprodução. Isso, por sua vez, permitiu que a propensão à sincronia fosse passada por seleção natural para gerações futuras, diz Dunbar.

A adoção desse comportamento com frequência tem bases biológicas. Em primatas não humanos, a ação de assear desencadeia a liberação de substâncias neuroquímicas chamadas endorfinas, que parecem aumentar as sensações boas, diz Dunbar. E a pesquisa sugere que as endorfinas, que o corpo produz para reforçar o prazer e aliviar a dor, podem estar entre os mecanismos que permitiram ao canto e à dança substituírem o asseio como ligação entre pessoas. Alguns pesquisadores os chamam de ”cola neuroquímica” das relações humanas.

CÉREBROS E MOVIMENTO

Um senso de ligação e compromisso infundido pela endorfina tem ficado claro em diversos experimentos, alguns executados no laboratório de Dunbar. Um dos primeiros estudos mostrou não só que comportamentos sincronizados provavelmente acionam os sistemas de endorfinas, mas que isso se dá para além dos efeitos produzidos pela própria atividade física (o famoso “bem-estar dos corredores”). Em um dos estudos de Dunbar, atletas do sexo masculino do Clube de Barco da Universidade de Oxford foram convidados a treinar em máquinas de remo de forma independente e depois a trabalharem em sincronia. Após o exercício, os pesquisadores mediram o nível de dor que cada um dos remadores podia sentir, inflando braçadeiras de pressão arterial em seus braços, até que não pudessem mais suportar o desconforto. (Medir os níveis de endorfina diretamente é difícil, então a percepção de dor breve é comumente usada como um substituto.) Dunbar e seus colegas constataram que os atletas que treinaram em sincronia com outros eram posteriormente muito mais resistentes à dor, e os cientistas calcularam que sua produção de endorfina basicamente cresceu 100%.

Uma série semelhante de experimentos mostrou que, quando se trata de dança, a sincronia estimula os efeitos da endorfina muito mais do que movimentos dissonantes sobreo solo. Os voluntários primeiramente aprenderam passos básicos de dança, tais como “dirigindo”(uma mão é estendida como se descansasse sobre uma direção, cruzando da esquerda para a direita e voltando, enquanto a outra mão permanece relaxada ao longo do corpo) ou “nadando” (joelhos dobrados ritmicamente, braços alternando de lado a lado como se estivessem fazendo nado crawl). Em seguida, os participantes foram divididos em grupos de quatro e foram para a pista de dança onde todos receberam fones de ouvido pelos quais ouviriam a música. O truque, no entanto, era que, em alguns grupos, todos os quatro voluntários ouviam exatamente a mesma música e eram instruídos a fazer a mesma coreografia, resultando em sincronia. Mas em outros grupos de quatro, os membros ouviam sons diferentes ou recebiam instruções para coreografias diferentes – causando uma dança silenciosa estranha e descoordenada. Quando a dança acabou, entraram os   medidores de pressão arterial e a mensuração começou. Mais uma vez, os que estavam em sincronia se mostraram mais resistentes à dor, confirmando que os efeitos não são meramente causados por dançar com outros, mas sim por dançar com outros em sincronia. Os cientistas responsáveis pelos experimentos, que foram publicados em 2016 em  Evolution and Human Behavior, também checaram o grau de ligação entre os participantes. Como em outros estudos de reações emocionais, os que bailaram em sincronia disseram que se sentiram mais próximos dos outros participantes dos que aqueles que dançaram separadamente.

Embora as endorfinas ofereçam uma explicação neuroquímica para os efeitos da sincronia, outros mecanismos biológicos podem estar em ação também. No que tange aos padrões de atividade cerebral, a sincronia parece desencadear efeitos diferentes daqueles gerados por cantar ou dançar sem coordenação. Um estudo de 2020 usando espectroscopia de infravermelho próximo – uma técnica não invasiva que mede quanto oxigênio uma determinada região do cérebro está usando, o que indica o nível de esforço para funcionar – mostrou que, enquanto movimentos sem sincronia ativam apenas o hemisfério esquerdo do cérebro, a sincronia envolve a ativação dos hemisférios esquerdo e direito. Isso sugere que a sincronia é algo bem mais complexo do que apenas executar movimentos.

 RECOMPENSA COORDENADA

Outra pesquisa sugeriu que o sistema de recompensa do cérebro, o qual inclui as estruturas neurais envolvidas no desejo e na motivação, também contribui para o poder da sincronia ao criar um loop de feedback positivo. Uma série de experimentos que usou de imagens obtidas por ressonância magnética funcional – outro meio de medir a atividade cerebral – revelou que, para os que acham fácil tocar em sincronia eleva a atividade no caudado direito, uma área relacionada à recompensa que por sua vez, aumenta a probabilidade de as pessoas ajudarem alguém com quem tenham tocado bateria. “Nós acreditamos que, durante a bateria sincronizada, a atividade do caudado reflete a natureza recompensadora da experiência”, diz Christian Keysers, um neurocientista do Instituto da Holanda para a Neurociência, e principal autor do estudo. “Os participantes terão então maior probabilidade de se engajarem em ações conjuntas com aquela pessoa no futuro”. As pessoas entram em sincronia, nossas áreas de recompensa do cérebro são ativadas e isso nos leva a fazer mais para ajudar nossos parceiros.

 Embora nem todos experimentem os efeitos da sincronia com igual força, a experiência de se movimentar no ritmo com outros ou de harmonizar vozes parece desempenhar um papel importante nas sociedades humanas. É provavelmente por isso que vemos sincronia em tudo, em grandes concertos sinfônicos, em grupos de dança e em performances cerimoniais nas pequenas cidades. Quando estamos em sincronia, nossos hormônios e a atividade de nosso cérebro ajudam a aliviar as rusgas sociais, nos mantendo unidos. Entrar para uma fanfarra pode não ser o caminho para a paz mundial, mas comportamentos como esse podem ajudar a nos tornarmos mais tolerantes e capazes de ver o bem maior em comunidades mais amplas.

*** MARTA ZARASKA – é escritora freelancer residente na França. É autora de Growing Young How friendship. Optimism and Kindness Can Help You live to 100 (Penguin Random House, 2020).

EU ACHO …

ENCONTROS E DESENCONTROS

Com os exames em mãos e devidamente imunizados, Manu e André decidem finalmente se ver

“Tô limpa.” “Eu também.”

Os dois mostraram o resultado do PGR de Covid pela tela do computador. As chamadas de vídeo se tomaram diárias depois de duas semanas falando pelo WhatsApp. Se conheceram no Tinder e não desgrudaram mais.

Manu e André tinham pessoas em comum. Ela tinha estudado com um amigo dele na faculdade, portanto tinham o antecedente de relações passadas minimamente checado, mas até o ponto que não incomoda, porque saber demais é sempre ruim. Ela detestava quando começava a sair com alguém novo e um dos amigos puxava a ficha corrida do cidadão. Torcia para o date não ter sido babaca com nenhuma menina, porque se soubesse disso não ia conseguir continuar. Mas desta vez parecia seguro seguir.

Ambos tinham gosto por corrida, praia e cinema, mas divergiam no quesito musical e séries de TV. Manu sublimou algumas coisas, pensou no que a astróloga comentou do posicionamento de Vênus no mapa astral e disse para si mesma que era exigente demais. “Às vezes a graça está no oposto”, e seguiu dando papo.

Um dia Manu entrou no elevador com o vizinho do apartamento ao lado que estava levando uma garrafa de champanhe “para comemorar 30 anos de casados com a esposa”, disse orgulhoso, e à noite Manu contou do encontro para André. Ficaram comentando o que fazia um relacionamento durar, ambos concordaram que era ter assunto por horas, e riram de felicidade e nervoso da possibilidade de um encontro. De manhã, Manu deixou um bolo na porta dos vizinhos com um cartão bonito que celebrava o amor.

Com os exames de PCR em mãos e devidamente imunizados, decidiram finalmente se encontrar. André chegou trazendo uma garrafa de vinho, “tão boa quanto a champanhe do vizinho, espero”, e Manu pediu para que ele deixasse em cima da pia e tirasse toda a roupa na área enquanto ela desinfetava a garrafa.

Ficou nu antes de chegar na sala, e quando achou que iam transar ali mesmo, ela pediu que ele entrasse no banho. Avisou que tinha toalha limpa e sabonete antisséptico no banheiro, e deixou também um roupão para ele não ter que vestir a roupa que veio da rua.

Quando André chegou na sala, Manu já esperava sem máscara. O roupão de florzinha que usava na natação atrapalhou um pouco o sex appeal dele, mas ela decidiu focar no papo. Pessoalmente não conseguiram reproduzir a cumplicidade das ligações de vídeo, e enquanto André falava, Manu pensava que a internet realmente produz um lugar de intimidade onde é possível falar tudo, mas que no presencial nem sempre era assim. Quando ele chamou sua atenção, ela voltou a cabeça para o momento presente como pedia a analista, e partiu para um beijo.

Tirou o roupão de André e pensou que já estava na hora de trocar, a toalha que revestia a peça já não era mais gostosa assim. Voltou para o momento presente mais uma vez quando ele enfiou a língua em sua orelha. Transaram no chão da sala mais porque ela tinha medo de infectar o quarto do que por tesão. O sexo teve aquela timidez das primeiras vezes, mas ela conseguiu gozar. “Qualquer coisa me faria gozar agora” pensou. Estava tão cansada das reuniões de Zoom – aliás, tinha a impressão de que estava trabalhando mais on-line do que antes presencialmente – que apagou no peito dele sem perceber.

Quanto acordou, André não estava mais lá. Foi embora sem se despedir, deixou um bilhete na geladeira agradecendo o encontro e dizendo que ele precisava ir embora pois tinha compromisso cedo. Manu gelou a espinha pensando aonde ele andava indo na pandemia, e ficou chateada pela fuga e pelo risco. Demorou para perceber, mas caiu a ficha de que tinha forçado a barra esse tempo todo, o cara não gostava de O Poderoso Chefão e nunca tinha escutado Alcione, não podia dar certo.

Procurou o vinho que ele tinha trazido para embalar o sono na madrugada, veria o primeiro da icônica trilogia do Coppola pela décima vez só de teimosia. André não sabia o que estava perdendo. Foi até a bancada da cozinha onde ele tinha deixado, mas não achou a garrafa. Andou a casa inteira, mas nenhum sinal, até que ela se tocou que ele tinha ido embora e levado o vinho junto.

No dia seguinte, puta e frustrada, Manu desinstalou o Tinder pela segunda vez. Na hora que desceu para ir ao mercado, encontrou a vizinha no elevador com uma mala enorme e quis saber se eles estavam indo viajar. “Ter alguém para fugir da cidade na pandemia deve ser maravilhoso”, comentou e perguntou se os dois tinham gostado do bolo. A vizinha agradeceu, disse que comeu tudo sozinha e que, na verdade, aquela mala era parte da mudança do marido. Depois de 30 anos tinha percebido que convivia com um chato intolerante e sem assunto e que, na verdade, esse tempo todo de pandemia ela se sentiu em cárcere privado com o mala.

Aliviada com o fato de estar sozinha, Manu comprou o melhor vinho do supermercado e à noite bebeu fazendo um Facetime com as amigas. Torceu para não ter que passar os próximos 30 anos detestando alguém, e escreveu uma mensagem para a astróloga dizendo que na verdade ela estava muito satisfeita com a posição de Vênus sim.

*** PAULA GICOVATE

OUTROS OLHARES

CHÁS EMAGRECEDORES

Aproveite e também inclua os chás nas suas refeições

Os chás para emagrecer são um ótimo recurso para completar a dieta, para quem pretende não só emagrecer, como também desinchar e perder barriga, além de serem uma ótima opção caseira e natural. O chá de gengibre, o chá mate com limão e o chá verde são alguns dos indicados, pois ajudam na retenção de líquidos, a saciar o apetite e a aumentar o metabolismo, ajudando na queima de gorduras.

CHÁ VERDE: é termogênico e ajuda a aumentar o metabolismo, ajudando o corpo a gastar energia mesmo quando parado.

CHÁ PRETO: além de ser termogênico é um chá antioxidante, ajuda a eliminar radicais livres pelo corpo e aumenta a queima de gordura.

CHÁ BRANCO: tem mais ação antioxidante do que a cafeína presente nas flores, porque as flores não passam pelo processo de fermentação e são colhidas antes mesmo de abrirem.

CHÁ DE CAVALINHA: muito indicado para quem tem retenção de líquido.

CHÁ DE HIBISCO: utilizado para queimar gordura, reduzir o inchaço, melhorar o funcionamento intestinal e controlar o colesterol. Como é diurético, serve para baixar a pressão arterial e proteger as funções dos rins e fígado.

CHIMARRÃO: muito consumido, principalmente na região Sul, é uma erva que ajuda a acelerar metabolismo e inibir o sono, dando mais energia e disposição durante o dia.

TERERÊ: diferente do chimarrão, o Tererê é consumido gelado, tendo os mesmos benefícios do chimarrão.

CHÁ MATE: é um alimento que acelera o metabolismo, ajuda na queima de gordura, reduz colesterol e é um bom estimulante para o dia a dia.

Estes são os chás mais comuns e indicados para consumo quando se quer emagrecer. Atenção às grávidas, lactantes, hipertensos, cardiopatas ou qualquer outra pessoa que tenha restrição na dieta, verifique sempre antes com seu nutricionista ou médico sobre a liberação do consumo. Para preparar flores e folhas deve esquentar a água, antes de subir fervura, colocar as flores e folhas e deixar no máximo 3 minutos em infusão, depois coar e consumir quente ou frio. Já para os chás de raiz deve deixar a água ferver, colocar as raízes e manter em infusão por até 10 minutos e depois coar.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 22 DE JANEIRO

A BÊNÇÃO DE DEUS ENRIQUECE

A bênção de Deus enriquece, e, com ela, não traz desgosto (Provérbios 10.22).

A teologia da prosperidade está em alta. Muitos pregadores rendem-se a essa visão, movidos pela ganância, e prometem aos fiéis mundos e fundos em nome de Deus. Ensinam que a evidência da bênção divina é a prosperidade material. Essa interpretação, entretanto, está em desacordo com a Palavra de Deus. Há ricos pobres e pobres ricos. John Rockefeller disse que o homem mais pobre que conhecia era aquele que só tinha dinheiro. Os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, pois o amor do dinheiro é a raiz de todos os males. Não postulamos a teologia da prosperidade nem a teologia da miséria. A pobreza não é uma virtude, nem a riqueza, um pecado. A Bíblia é categórica em afirmar que a bênção de Deus enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto (Provérbios 10.22). Deus é a fonte de todo bem. Dele procede toda boa dádiva. É Deus quem fortalece as nossas mãos para adquirirmos riqueza. Riquezas e glórias vêm das mãos de Deus. A riqueza que Deus dá não é fruto da desonestidade. Não é produto do roubo nem da corrupção. A riqueza que Deus dá é fruto da bênção que vem do céu e do trabalho honrado feito na terra. Essa é uma riqueza que não traz desgosto nem tira o sono. Sua fonte é limpa, sua natureza é santa, seu propósito é sublime.

GESTÃO E CARREIRA

ENTREVISTA DE EMPREGO: COMO CONQUISTAR A VAGA DOS SONHOS

Do início ao fim, o guia completo da entrevista de emprego do Na Prática traz tudo o que você precisa saber para mandar bem nessa etapa, decisiva em todos os processos seletivos.

A entrevista de emprego é um dos momentos mais temidos dos processos seletivos. Não por acaso: o candidato fica frente a frente com o recrutador e tem pouco tempo para impressionar. Além disso, precisa controlar o nervosismo, se atentar à forma com que fala, à postura, e responder as perguntas objetivamente.

Dar atenção a esses aspectos, no entanto, pode não ser o bastante para cativar. Destacar-se em uma entrevista de emprego também requer que o perfil, objetivo e habilidades do profissional estejam alinhadas ao que empresa busca.

Com tantas preocupações, se você quer a oportunidade, não vale a pena ir sem se preparar. Siga esse guia completo da entrevista de emprego do Na Prática para não só dominar os pontos básicos como mostrar seu valor e conquistar o entrevistador. Não tem erro!

COMO SE SAIR BEM EM UMA ENTREVISTA DE EMPREGO

Para mandar bem nessa etapa, o candidato precisa se preparar. São muitos detalhes e pontos a desenvolver – deixar tudo para a última hora, ou “improvisar”, é arriscado.

Essa preparação não deve começar na véspera. Na realidade, ela começa com o currículo, que guiará a conversa com o recrutador. Nele, procure apresentar resultados, além das habilidades e conhecimentos. Treine contar e explicar cada um dos pontos que você descreve no documento.

E também saiba resumir a sua trajetória em poucos minutos, sem esquecer de passar pelos momentos ou fatos mais relevantes.

Não deixe de pesquisar a empresa. Além de, na maior parte das entrevistas, os recrutadores perguntarem sobre o que o profissional sabe, aprender sobre a companhia ajuda a entender de quem ela precisa em seu quadro de funcionários. É de alguém que lida bem com autonomia e rapidez? Ou de quem trabalha muito bem em equipe?

Outra coisa a ser trabalhada é a confiança. Tudo bem estar nervoso, mas controle os sinais e os substitua com sinais de segurança e autoconfiança (o que é diferente de arrogância, cuidado!).

A seguir, confira tudo o que é preciso – desde à preparação, até o que fazer depois da entrevista de emprego.

COMO SE PREPARAR PARA UMA ENTREVISTA DE EMPREGO

O autoconhecimento é um dos pontos mais relevantes, porque influencia diretamente em como a pessoa conta a sua história. Segundo Leonardo Gomes, coordenador de seleção da Fundação Estudar, é importante ter clareza sobre a trajetória, experiências anteriores relevantes, pontos a desenvolver, erros do passado, limitações e ter um plano, pelo menos de curto prazo, para a carreira.

Também é possível treinar para os testes online, como os de capacidade analítica, inteligência espacial, análise crítica de texto e até resolução de cases. Busque referências na internet! O Na Prática já destrinchou os testes de lógica, os de inglês e os desafios de cases, entre outros.

Não basta só se conhecer, você precisa saber contar a sua história. Afine sua habilidade de storytelling. Se tem uma frase que com certeza será dita durante a entrevista de emprego é: “Me fale sobre você”. Por isso, saiba narrar sua trajetória de forma “curta”, tenha uma versão de 5 minutos, e “longa”, com cerca de 8 minutos.

Utilize o método STAR, um jeito de estruturar que ajuda na hora de narrar suas conquistas. STAR é um acrônimo para Situação, Tarefa, Ações e Resultado. Basicamente, é só seguir essa ordem ao narrar seus feitos. Assim, garante que nenhum ponto importante ficará de fora.

Atualmente, as companhias buscam candidatos que se adequem à sua cultura – o famoso “fit cultural” -, por isso é muito importante estudar sobre a organização para a qual se aplica. Além disso, é bom saber sobre o contexto da indústria, em específico. Estude os seguintes pontos:

MACROECONOMIA: Você não precisa ser um expert, mas é bom saber como anda a situação política e econômica do Brasil. Qual a situação mundial? Qual é a aposta para ser a nova superpotência mundial?

INDÚSTRIA: Quem são os principais clientes no setor da empresa? E os principais concorrentes? Quem domina o mercado?

EMPRESA: Como é a cultura da empresa? Sua missão, visão e valores? Como ela se comporta nas redes sociais? Como sua marca se posiciona? Quais seus principais produtos?

ÁREA/FUNÇÃO: O que a área para qual você está se candidatando faz? Como se encaixa na empresa como um todo? Qual é o perfil dos profissionais? Como você pode contribuir para essa área?

Por fim – e, definitivamente, não menos importante – estude as perguntas mais básicas, sem se esquecer de se preparar para as mais difíceis. Não dá para prever as questões mais originais que o recrutador fará. Mas, tendo pesquisado sobre a empresa, você pode tentar se preparar para responder pontos que surjam.

Por exemplo, se autonomia é um foco da organização, pense em como explicaria como você lida com esse valor durante o dia a dia. E assim por diante.

COMO ESCAPAR DE “SAIAS JUSTAS”

Algumas “saias justas” podem ser evitadas. Por exemplo: atrasos. Quem mora em lugares que têm trânsito diariamente, precisa sair mais cedo. Mas se acontecer, ligue para o recrutador quando perceber que não vai conseguir cumprir o horário e explique honestamente a situação. Dê espaço para ele decidir se espera você chegar, ou se remarca a entrevista de emprego.

Quando o entrevistador pergunta algo com que você não está confortável em responder, como sobre sua idade, avalie o contexto e responde com sinceridade.

“Se for muito mais velho do que a média dos profissionais da empresa, diga que isso não interfere na sua disposição para aprender. Se for muito mais jovem, deixe claro que tem maturidade suficiente para assumir a posição”, explica Isis Borge, gerente de divisão da consultoria Robert Half.

Já no começo da conversa, você pode perceber que o entrevistador está sendo meio “frio”, ou mal-humorado. Lembre-se que ter dias ruins é comum e pode acontecer com todo mundo. Não encare como uma questão pessoal, relacionada a você, nem deixe que seu nervosismo aumente por conta disso.

Avalie o clima: tente “quebrar o gelo” com assuntos amenos no início da conversa e, se o interlocutor se mostrar fechado, foque em ser objetivo e dar respostas diretas.

COMO FAZER UM VÍDEO DE ENTREVISTA DE EMPREGO

Se nas etapas previstas no processo seletivo, um dos requisitos é que o candidato grave um vídeo, o ideal é seguir as normas previstas. Preste atenção em quantos minutos o vídeo precisa ter e até sobre seu formato.

Essa etapa está se tornando mais comum, e, na realidade, trata-se de mais uma forma que os recrutadores têm de conhecer você. Utilize a oportunidade para despertar interesse sobre você e sua trajetória.

ASPECTOS TÉCNICOS

Primeiro, separe o equipamento em que irá gravar e o prepare. Pode ser uma câmera, um celular, ou até uma webcam. O importante é que ele seja feito no formato horizontal e gravado durante o dia, para aproveitar a luz natural.

Em câmeras ou smartphones, tente estabilizar a imagem utilizando apoios ou tripés. Lembre-se também de verificar (antes!) como está a captação do áudio.

AMBIENTE

Escolha um lugar silencioso e organizado para gravar sua apresentação. Qualquer barulho exterior pode dificultar a captação do som. Certifique-se de que não haja distrações ao seu redor – tanto para você, quanto para o espectador.

APARÊNCIA

Vista-se como se você fosse a uma entrevista presencial. Baseado na sua pesquisa sobre a empresa e a vaga, escolha entre uma roupa mais formal ou mais casual. É importante que o traje não fuja do contexto ou se destaque mais do que o conteúdo.

CONTEÚDO

Por mais que seja um vídeo curto, na maioria das vezes, serve para instigar o recrutador. Por isso, aparecer lendo não é uma boa ideia. Escreva um roteiro simples e objetivo, que resuma bem quem você é, ao menos profissionalmente. Leia várias vezes até que consiga falar para a câmera com segurança.

Não decore palavra por palavra, porque pode não parecer sincero no relato. Também evite tocar nos pontos exatos do seu currículo, porque o recrutador já tem acesso a ele. Foque em explicar os movimentos da trajetória.

Por exemplo, por que escolheu migrar para outra área? Que habilidades desenvolveu em tal etapa da carreira? O que fez para se desenvolver nos meses em que esteve desempregado?

Contar por ordem cronológica, nesse caso, é sempre uma boa ideia. Mas se você quer se diferenciar ainda mais, trace a história de uma forma criativa, que faça sentido e tenha coerência.

Tome cuidado para não deixar o vídeo relaxado ou descontraído demais. Guie-se pela formalidade exigida pela vaga.

COMO SE COMPORTAR EM UMA ENTREVISTA DE EMPREGO

Como cativar de início

CUIDAR DO VISUAL

Escolha seu vestuário com atenção e tente adequar ao tipo de empresa a que se aplica. Na dúvida, aposte em roupas sóbrias e clássicas.

SER GENTIL

A cordialidade é uma das formas de conquistar. Seja gentil com todos que encontrar na empresa, desde a hora em que entrar. “Já liguei várias vezes para a recepcionista para saber como o profissional tinha se comportado diante dela, quando chegou ao prédio”, explica Raphael Falcão, diretor da consultoria Hays. “Se é grosseiro com ela, não adianta nada ser extremamente educado depois.”

IDENTIFICAR O ESTILO DO ENTREVISTADOR 

A ciência já provou, diversas vezes, que a similaridade tem papel forte no quanto “agradamos” alguém. Não é diferente nos processos seletivos. Dessa forma, é indicado ao candidato avaliar a forma com o outro se porta e “imitar”. Isso não é o mesmo que mentir ou mudar sua personalidade. Há um tempo, Felipe Brunieri, na consultoria Talenses, deu a dica:

“Cada recrutador tem uma personalidade diferente: alguns são mais sisudos e formais, enquanto outros preferem uma abordagem mais coloquial e descontraída. Identificar rapidamente esse estilo, e se adaptar a ele, conta muitos pontos ao seu favor.”

O QUE RESPONDER EM UMA ENTREVISTA DE EMPREGO

A técnica de storytelling pode ser bastante útil em uma entrevista de emprego, principalmente se o objetivo é ser lembrado pelo recrutador entre dezenas de candidatos. Storytelling, basicamente, é a arte de contar boas histórias. No contexto do processo seletivo, quatro perguntas podem te ajudar a montar o seu discurso de apresentação.

1. QUEM SOU EU?

A importância do autoconhecimento, aqui, é dobrada. Identifique o que será o centro da sua história, com base na mensagem que você quer passar. Você é extremamente dedicado e entrega bons resultados? Busque mostrar isso. 

O que você destacaria em sua trajetória? O que faz muito sentido para você? O que quer reforçar que represente quem você é como profissional?

2. PARA QUEM VOU CONTAR MINHA HISTÓRIA?

A forma com que alguém conta uma história costuma mudar de acordo com quem a ouve. A mesma lógica se aplica ao entrevistador: é preciso reforçar o que você vai contar de acordo com quem você está falando e a oportunidade que aquela pessoa representa. 

Imagine que você participou da associação atlética durante sua faculdade. Se é uma vaga que lida com aspecto financeiro, você pode destacar experiências com fluxo de caixa e administração de finanças. Se for algo voltado para marketing e comunicação, pode, em vez disso, resgatar seus aprendizados ao divulgar eventos para milhares de pessoas. Não se trata de mudar toda a narrativa, mas ajustar os detalhes. 

Use números quando for possível – métricas concretas ajudam sua história a ser mais marcante.

Escreva sua apresentação com base nessas perguntas, mas tenha uma versão curta e uma mais longa, para escolher dependendo do que o entrevistador pede, ou demonstra querer.

Treine contar a história o bastante para que consiga fazer isso com naturalidade. No entanto, tome cuidado para não narrá-la mecanicamente.

3. O QUE ME DIFERENCIA?

Muitos jovens têm experiências similares no papel: faculdade, estágio, intercâmbio, empresa júnior, etc. O esforço aqui deve ser direcionado para contar o que você fez de diferente. Como enfrentou um desafio ou mudou algum processo? Como buscou e aproveitou as oportunidades? De que forma realizou algo além do previsto?

4. MINHA HISTÓRIA É CONGRUENTE?

As mensagens ambíguas que uma história incongruente transmite podem levar um recrutador a assumir que você está inventando aquele interesse na hora ou que ele não é verdadeiro, por exemplo. Caso sua apresentação pessoal contenha focos de interesse, garanta que eles encontrem respaldo no que você está falando.

Se você não tem background congruente com seus interesses, não invente. Em vez disso, corra atrás de ter uma experiência alinhada, que traga a fundamentação necessária para a mensagem que você quer passar. Seja um curso (inclusive, online), um trabalho voluntário relacionado à causa que te move, etc.

COMO DEMONSTRAR INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Em tempos de automação intensa do trabalho, a inteligência emocional vem sendo cada vez mais valorizada nos processos seletivos. Em suma, ter um alto nível de inteligência emocional significa ter capacidade de gerenciar seus sentimentos, de modo que eles sejam expressos de maneira apropriada e eficaz.

Ela é muito útil pessoalmente, mas também profissionalmente – e para a empresa. Significa que você lidará bem com conflitos, por exemplo.

QUAL SEU NÍVEL DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL? FAÇA O TESTE!

Compilamos sete passos para mostrar essa habilidade em uma entrevista de emprego.

  1. Ouça ativamente
  2. Mostre emoções
  3. Compartilhe o crédito por suas conquistas
  4. Mostre como você está tentando melhorar
  5. Não tenha medo de falar sobre conflitos
  6. Pergunte sobre a cultura e valores
  7. Mostre que você pode aprender com seus erros

O QUE RESPONDER EM UMA ENTREVISTA DE EMPREGO: PERGUNTAS E RESPOSTAS

1. “Me fale sobre você…”

2. “Quais são seus pontos fortes e fracos?”

3. “Como você se vê daqui a 10 anos?”

4. “Por que devo te contratar?”

5. “Por que não devo te contratar?”

PERGUNTAS QUE VOCÊ PODE FAZER

Toda entrevista de emprego tem aquele momento em que o entrevistador pergunta se o candidato tem alguma questão. Esse é o momento ideal para tirar dúvidas que tenham ficado. Como quão flexíveis são os horários, como se dá a interação entre as equipes, qual seria sua principal responsabilidade se conseguisse o cargo.

Porém, se não tenha nenhuma dúvida na cabeça e, mesmo assim, queira aproveitar a oportunidade para se destacar ainda mais, tenha algumas perguntas na manga. A seguir, alguns exemplos:

  1. Como a empresa vai estar daqui a um ano? De todas e quaisquer perspectivas – produto, pessoas, equipes, receita.
  2. O que significa sucesso para funcionários em posições iniciais nessa empresa?
  3. Como você descreveria a equipe e o gerente do time em que eu trabalharia?
  4. Se você me oferecesse o emprego, o que recomendaria que eu fizesse para começar com o pé direito?
  5. O que preciso realizar nos primeiros 90 a 120 dias para ser um sucesso e causar impacto?

REDAÇÃO PARA ENTREVISTA DE EMPREGO

Em algumas entrevistas, o recrutador pede uma redação. O tema pode variar, mas em geral é sobre a empresa ou o candidato, sua trajetória. Para o primeiro assunto, o objetivo é entender o que o profissional sabe sobre a companhia, se pesquisou, se preparou, e se compreende o negócio. No segundo, ele busca sinais de que o candidato tem noção sobre seus objetivos e se suas ações mostram autoconhecimento, vontade de se desenvolver e alinhamento com suas metas.

Não importa o tema, alguns pontos de atenção são indispensáveis. Por exemplo, gramática correta, já que os recrutadores avaliam isso também. Evite gírias, abreviações e, se conseguir, varie o vocabulário. A repetição de palavras, principalmente próximas, pode deixar o texto cansativo.

Porém, tenha cuidado ao usar com frequência palavras muito complexas: o material pode se tornar confuso e perder a coesão, que é um dos quesitos mais valiosos para quem avalia nesse contexto.

Estruture o texto em uma linha de pensamento que faça sentido. Por exemplo, introdução, desenvolvimento do tema e conclusão. Não se esqueça de um título relacionado, que não exponha todo o conteúdo da redação, mas que deixe claro seu teor.

COMO SABER SE FUI BEM NA ENTREVISTA?

O que fazer depois da entrevista de emprego é uma dúvida entre muitos candidatos. Se você sentir que a conversa fluiu bem e a oportunidade te interessar bastante, pode mandar um e-mail de agradecimento pela disposição do recrutador.

Durante a conversa, se o entrevistador pediu que você solucionasse um problema, envie um e-mail aprofundando sua proposta. Ou envie os trabalhos que mencionou.

Mostrar interesse é importante para conseguir a vaga, no entanto, tenha cuidado e perceba se ele deixou espaço ou não para um novo contato.

No caso de ter sido recomendado por alguém, mesmo que não seja de dentro da empresa, é importante ressaltar isso no e-mail de agradecimento. Converse com a pessoa que te recomendou e demonstre interesse na vaga, o feedback positivo pode acabar chegando aos ouvidos do recrutador.

Não tem como ter certeza de ter ido bem ou mal depois de uma entrevista. Existem sinais, mas eles são subjetivos e, ao mesmo tempo, pode ser difícil percebê-los. Ainda que o ideal não seja focar nisso durante a entrevista, se o entrevistador parecer estar gostando da conversa, pode ser que você tenha impressionado.

Se as próximas etapas foram discutidas, ou se o tempo da entrevista foi maior do que o previsto, também podem ser bons sinais. Outro é se o recrutador tentou “vender” a empresa e a vaga para você.

De qualquer forma, a “falta” desses sinais não é decisiva, por isso não se desanime se não lembrar de nenhum deles.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O RACISMO DOS EXAMES MÉDICOS

Muitos diagnósticos são inerentemente tendenciosos contra os não brancos

A Covid-19 causou danos a negros, indígenas e a outras comunidades não brancas, e as instituições médicas nos EUA deveriam fazer todo o possível para eliminar as desigualdades raciais arraigadas. Mas muitos dos sistemas de avaliação por imagens usados no tratamento médico estão exacerbando o racismo na medicina. Eles automaticamente alteram os resultados dos exames de pessoas não brancas, gerando erros e podendo resultar na não prescrição do tratamento necessário. Na medicina moderna, são comuns esses ajustes dos resultados das avaliações com base étnica, sobretudo nos EUA. Para determinar as chances de morte de um paciente com insuficiência cardíaca, por exemplo, um médico que siga diretrizes da Associação de Cardiologia Americana usa fatores como idade, frequência cardíaca e pressão arterial sistólica para calcular uma pontuação de risco, que ajuda a determinar o tratamento. Mas, por razões que a AHA não explica, o algoritmo automaticamente adiciona três pontos na marca de pacientes não negros, fazendo parecer que negros têm menor risco de morrer por problemas cardíacos simplesmente em virtude da raça. Isso não é verdade.

Um recente estudo publicado no New England Journal of Medicine apresentou 13 exemplos de algoritmos que usam a etnia como um fator. Em cada caso, o ajuste resulta em potencial prejuízo para pacientes identificados como não brancos. Negros, latinos, indígenas e asiáticos, todos são afetados, em diversos graus, por cálculos diferentes. Essas “correções” são supostamente baseadas em premissas, há muito desmentidas, de diferenças biológicas inatas entre as etnias. Essa ideia persiste apesar de muitas evidências de que raça, que é uma construção social, não é um substituto confiável para a genética. Cada grupo étnico possui grande diversidade em seus genes. É verdade que algumas populações são geneticamente predispostas a determinadas condições médicas – as mutações BRCA associadas com câncer de mama, por exemplo, ocorrem com mais frequência entre descendentes de judeus asquenazes. Mas esses exemplos são raros e não se aplicam a categorias étnicas como “negros” ou “brancos”. A confluência equivocada entre etnia e genética é em geral composta por ideias ultrapassadas que as autoridades médicas (em sua maioria, brancas) perpetuaram a respeito dos não brancos. Por exemplo: um teste renal inclui um ajuste par a pacientes negros que pode prejudicar um diagnóstico preciso. Ele avalia a taxa de filtração glomerular (TFG), que é calculada medindo-se a creatinina, uma proteína associada com degradação muscular que é depurada nos rins. Os resultados dos pacientes negros são automaticamente ajustados por causa de uma teoria, agora desacreditada, de que uma massa muscular maior “inerente” aos negros produz níveis mais altos da proteína. Isso infla o valor total de TFG e pode potencialmente mascarar problemas renais reais. Os resultados podem impedir que eles recebam tratamentos vitais, inclusive transplantes. Ao citar essas questões no início deste ano, a estudante de medicina Naomi Nkinsi conseguiu fazer a Escola de Medicina da Universidade de Washington abandonar o ajuste no TFG. Mas ele continua sendo amplamente utilizado em outros lugares.

Um novo estudo publicado na Science examinou um algoritmo usado no sistema de saúde dos EUA para prever riscos de saúde em geral. Os pesquisadores estudaram um grande hospital que usava esse algoritmo e descobriram que, com base em registros médicos individuais, os pacientes brancos eram, de fato, mais saudáveis do que os negros com o mesmo nível de risco. Isso porque o algoritmo usava custos de saúde como um substituto para necessidades de saúde, mas a desigualdade racial sistêmica significa que os gastos com tratamentos de saúde são mais altos para os brancos em geral, portanto as necessidades dos negros estavam subestimadas. Em uma análise dessas descobertas, a socióloga Ruha Benjamin, que estuda raça, tecnologia e medicina, observa que “a desigualdade codificada de hoje é perpetuada precisamente porque aqueles que projetam e adotam essas ferramentas não estão pensando cuidadosamente sobre o racismo sistêmico”.

Os algoritmos que estão prejudicando pessoas não brancas poderiam facilmente se tornar mais imparciais, seja corrigindo os pressupostos racialmente preconceituosos que possuem ou removendo a raça como um fator, quando ela não auxilia no diagnóstico ou no tratamento. O mesmo vale para aparelhos como o oxímetro de pulso, que é calibrado para a pele branca – uma situação particularmente perigosa na pandemia de COVID, em que pacientes não brancos correm risco maior de infecções pulmonares perigosas. Os gestores da medicina precisam priorizar essas questões agora, para oferecer recursos justos e que, com frequência, possam salvar as vidas de pessoas que ficam numa situação mais vulnerável por um sistema inerentemente racista.

EU ACHO …

O AMOR NOS TEMPOS DO CORONA (E DO HOME OFFICE)

Com “All We Need Is Love”, os Beatles cantaram, em 1967, que tudo o que precisamos é de amor. Era o auge da Guerra do Vietnã. A verdade é que o amor, de um jeito ou de outro, sempre é assunto quando passamos por fases ruins da vida – e está aí a maior pandemia de nossa era para não nos deixar mentir.

Nos quatro cantos do mundo, os divórcios aumentaram consideravelmente desde que casais passaram a conviver durante mais tempo juntos em razão da quarentena que o novo coronavírus impôs. E dados recentemente divulgados pela Agência Brasil indicam que o Brasil não ficou ileso a esse fenômeno: por aqui também foi grande o aumento do número de pedidos oficiais de fim de casamento nos últimos meses. Por outro lado, pesquisas recentes ainda mostram que um outro tipo de amor que nos move – aquele que nutrimos por nossos trabalhos e no mercado chamamos de “foco” – resultou em um considerável aumento de produtividade.

Ainda falta uma pesquisa qualitativa para saber o porquê de o trabalho em casa gerar resultados mais positivos do que a convivência doméstica entre casais. Mas para Fran Katsoudas, diretora de pessoal da gigante tech americana Cisco, o fato de que pessoas em home office têm a oportunidade de focar naquilo que realmente gostam sem a interferência de terceiros é um dos possíveis segredos do sucesso para isso.

Ironicamente, uma das profissões que bombou na pandemia é a dos que atuam no atendimento remoto a consumidores. Seja por telefone ou pela internet, esse contato, que no passado recente não tinha a menor graça, agora levou as partes dos dois lados da linha a gostarem mais dessa interação, um indício de que no isolamento social total ninguém nutre muitos amores.

Trabalhar com amor e gostar do que se faz sempre foram fundamentos para a satisfação em qualquer carreira – que, aliás, não deixa de ser um casamento. Aqueles que se dedicam mais ao que fazem geralmente agem assim porque se sentem bem em suas funções, e esse é também um dos segredos de sucesso para qualquer união, neste caso a nossa com nossos empregos. Amar em excesso, no entanto, tem lá seus percalços.

O verdadeiro segredo, diriam os sábios afetivos, está em saber balancear as coisas, amar demais ou de menos. Dedicação excessiva ao trabalho pode gerar conflitos em outras áreas, sem falar nos problemas de saúde. E pensar em ser a mulher ideal ou o marido perfeito em tempo integral pode resultar no exato oposto disso, como talvez tenham aprendido os casais recém-separados pela Covid-19. Tudo o que precisamos é mesmo mais amor, como John e Paul cantavam. Mas é bom saber que “You Can’t Always Get What You Want” (“Você Não Pode Ter Sempre o que Quer”, em tradução livre), para citar os conterrâneos Rolling Stones, pode nos livrar de decepções, seja na carreira ou na vida amorosa.

***ANDERSON ANTUNES – é jornalista e observador da vida cotidiana (na pandemia ou não

OUTROS OLHARES

A DANÇA ANTIESTUPRO

Vídeo de música e coreografia criadas por militantes chilenas viraliza, inspira mulheres em várias capitais do mundo e deflagra manifestações globais contra o estupro e a violência machista

Foi de arrepiar. Tudo começou com um pequeno grupo de mulheres com roupas irreverentes, olhos cobertos por vendas pretas, marchando firmemente pela rua de Valparaíso, no litoral do Chile, e cantando uma canção de denúncia: “a culpa não era minha, nem onde eu estava, nem como eu me vestia. O estuprador era você. O estuprador é você”. A sincronia da coreografia, estrategicamente pensada, e as vozes em uníssono mostraram que as mulheres são realmente poderosas e capazes de enfrentar os abusos masculinos. A apresentação foi gravada em vídeo e viralizou, tornando-se um hino antiestupro em vários lugares. Alguns dias depois, dez mil pessoas repetiram o canto em frente ao Estádio Nacional em Santiago, capital do país. Em menos de 48 horas, passou a ser ouvida em Buenos Aires, na Cidade do México, Paris, Madri e Sidney. O que era um protesto local ganhou dimensão planetária. No Brasil, elas marcharam por todas as partes. Em São Paulo, centenas de mulheres entoaram o hino no vão do Masp e no Largo da Batata. No Rio de Janeiro, a manifestação aconteceu na Cinelândia e, em Porto Alegre, na Redenção e no Largo Expedicionário, com apoio de um Centro Acadêmico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A música se chama “El violador eres tu” (“O estuprador é você”) e foi apresentada pela primeira vez na cidade chilena no dia 20 de novembro por militantes feministas. Foi criada pelo coletivo interdisciplinar “Las Tesis”, que traduz em linguagem acessível e artística estudos acadêmicos sobre a violência contra a mulher. A princípio, a letra e a coreografia tinham como objetivo apenas fazer uma apresentação local em meio a uma série de outros eventos realizados no Chile. Mas o grito isolado ganhou força. “Não pensamos nisso como uma música de protesto, era parte do nosso espetáculo performático”, disse Paula Cometa, desenhista, uma das quatro artistas que compõem o grupo. Ao lado dela, fazem parte do coletivo a figurinista Lea Cáceres e as artistas Sibila Sotomayor e Dafne Valdés, todas com 31 anos. A ideia das artistas de criar um hino surgiu quando, em meio aos temas estudados, encontraram a tese de Rita Segato, antropóloga argentina que estuda a desmistificação do estuprador como um sujeito que comete a agressão em busca de prazer sexual e não como uma exibição de poder. Ao se depararem com o tema, o quarteto se impressionou com os altos índices de violência sexual no Chile. E ainda descobriu que as denúncias não são devidamente punidas pela Justiça. A partir daí, vários fatores deram força ao movimento. A manifestação feminista se somou aos protestos sociais que tomam o Chile. O espetáculo de dança, programado para acontecer em um contexto acadêmico no dia 24 de outubro, foi cancelado. Depois, a ideia era fazer a apresentação no dia 25 de novembro, Dia Internacional do Combate à Violência Contra a Mulher. Mas as denúncias de abusos nos protestos no país foram tantas que elas resolveram antecipá-la.

Apesar de fazer referência ao contexto político específico do Chile (em determinado momento, a coreografia se refere à posição que as mulheres devem ficar para serem revistadas pelos policiais e aos abusos que sofrem nessas situações), a música encontrou identificação feminina em todo o mundo. A força estratosférica com a qual cresceu é um reflexo do quanto a mulher se sente oprimida e tem a necessidade de expressar sua indignação através da arte. “Quando o vídeo se torna viral, provavelmente é porque a violência sistemática que os seres-humanos sofrem a partir de estruturas do Estado moderno é viral. E se torna internacional porque, finalmente, é como um grito que cabe a todas nós dar”, diz Patrícia.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 21 DE JANEIRO

APASCENTE COM SUA LÍNGUA

Os lábios do justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos (Provérbios 10.21).

Há muitas bombas que têm grande poder de destruição. Hiroshima e Nagasaki foram destruídas pelo poder devastador da bomba atômica. Hoje, fala-se na bomba de nêutrons e na bomba de hidrogênio. Mesmo com uma política internacional de desarmamento nuclear, o arsenal de que dispomos hoje pode destruir nosso planeta várias vezes. Mas a bomba mais poderosa não é a atômica nem a de hidrogênio, mas a bomba das ideias, que são veiculadas pela língua. Adolf Hitler, com o poder da sua eloquência, enfeitiçou uma nação e provocou a Segunda Guerra Mundial. A Bíblia diz, porém, que os lábios do justo apascentam a muitos (Provérbios 10.21). A língua do justo é um pastor de almas, um ministro fiel, um conselheiro sábio que conduz a muitos pelas veredas da justiça. Suas palavras apontam o caminho certo para os errantes e consolam os tristes. Vivificam os abatidos e fortalecem os fracos. Curam os doentes e colocam de pé os trôpegos. O justo apascenta com a língua. Contudo, os tolos, por falta de senso, não conseguem sequer apascentar a si mesmos. Os tolos não encontram orientação para si e por isso tombam vencidos na jornada da vida. Sua morte se torna o monumento inglório de sua tolice. Por desprezar o conhecimento de Deus, o tolo perde a própria vida. Por tapar os ouvidos à instrução, perece para sempre.

GESTÃO E CARREIRA

DE QUAL LÍDER PRECISAMOS AGORA?

As habilidades necessárias para liderar durante esta crise são mais humanas do que imaginamos. Descubra por que é hora de deixar o comando e controle de lado e abraçar a sensibilidade

“A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafio.” Essa frase, dita pelo ganhador do Nobel da Paz de 1964 e ativista contra o racismo nos Estados Unidos, Martin Luther King Jr. pode ser aplicada com exatidão ao mundo do trabalho de hoje. A crise tão profunda do coronavírus gera insegurança quanto ao futuro e exige um rápido poder de adaptação das empresas e dos profissionais. E quem precisa absorver os impactos da pandemia e conseguir transformar os negócios são as lideranças. Mas qual é o tipo de líder que se destaca neste momento de caos e incerteza? Será que apenas os super-heróis têm a capacidade de aguentar o baque e direcionar os esforços para o futuro?

Segundo os especialistas, não é necessário ter poderes sobrenaturais para gerenciar neste momento. As habilidades requisitadas são essencialmente humanas. “O líder é mortal e consegue assumir suas fragilidades, não tem medo de dizer que não tem todas as respostas, mas se mantém próximo, cria saídas novas junto com o time e passa a tranquilidade de que fará o que tiver de ser feito”, afirma Márcio Fernandes, sócio fundador da Thutor, consultoria especializada em formação de lideranças.

Aos gestores que estão na linha de frente, o mundo está pedindo protagonismo – e essa é uma grande chance para mostrar valor e se desenvolver. “A faceta mais importante da liderança é, sem dúvida, a de que mais precisamos agora: a capacidade de promover a mudança”, dizTatiana lwai, professora de comportamento organizacional e liderança no Insper. E, para Delphine Gibassier, professora especializada em sustentabilidade na universidade francesa Audencia Business School, as transformações só poderão ser conduz idas por gestores diferentes dos tradicionais. ”As características dos líderes de que precisamos agora são distintas daquelas que nos foram apresentadas no passado. É preciso demonstrar ânimo e ter paixão; ter coragem e resiliência, mas também humanidade e humildade.”

COMPORTAMENTOS FUNDAMENTAIS

Neste contexto que exige, em uma mão, equilibrar a sobrevivência do negócio e a necessidade de transformação e, na outra, as demandas e os anseios dos times, três linhas de liderança se destacam: a positiva, a compassiva e a situacional. Embora tenham suas especificidades, todas possuem algo em comum – a defesa de gestores mais próximos, mais humanos e que usam a empatia (ou seja, a perspectiva do outro) para tomar decisões.

Os traços foram mapeados como fundamentais para momentos de crise no estudo Liderando em Tempos de Trauma (Leading in Times of Trauma), da americana Western Washingion University. A motivação para os professores conduzirem a pesquisa, que começou em 2002, veio dos atentados ao World Trade Center, em 2001. Os cinco professores responsáveis pelo estudo acompanharam, ao longo de dois anos, funcionários e líderes de companhias impactadas pelo ataque terrorista. O objetivo era entender como as empresas podem incentivar ou acelerar a cura. E a resposta foi a compaixão. A publicação conta, entre outras, a história de Edmond English, presidente do grupo TJX, detentor das marcas Marshalls e HomeGoods, que perdeu sete funcionários que estavam a bordo de um dos aviões que atingiu as Torres Gêmeas. Logo após os ataques, o executivo reuniu sua equipe para confirmar o nome das vítimas, ligou, aos prantos, para os conselheiros da empresa e fretou um avião para trazer os parentes das vítimas do Canadá e da Europa à sede americana em Massachusetts. Ele fez questão de receber as famílias pessoalmente quando chegaram ao estacionamento da sede, à meia-noite de 15 de setembro.

Segundo a publicação, um gesto como esse é sinal de uma liderança compassiva, aquela que não só é empática, entendendo a dor do outro, mas que também sente a mesma dor, não teme demonstrá-la e age na tentativa de ajudar seus funcionários. A compaixão, ainda de acordo com os professores, ajuda as pessoas a se curar mais rapidamente, tendo resiliência para se recuperar de futuros reveses com mais facilidade, e também aumenta o apego dos profissionais aos colegas e à própria empresa. “Descobrimos que a capacidade de um líder de permitir sua compaixão afeta a capacidade da organização de manter alto desempenho em situações difíceis. Promove a capacidade de uma empresa de curar, aprender, adaptar-se e se sobressair”, dizem os pesquisadores no estudo. Jason M. Kanov, um dos autores, lidou recentemente com a própria dor quando descobriu um problema no coração que o levou a uma cirurgia aos 40 anos, e pôde experimentar o resultado da pesquisa na pele. “Embora a experiência tenha sido desestabilizadora, o reconhecimento dela por aqueles com quem trabalho foi profundamente humanizante e, em última análise, curativo”, detalhou o professor de administração na Faculdade de Negócios e Economia da Western Washington University no artigo escrito para o Journal of Management Inquiry. “Isso transformou a maneira como eu me relacionava com outras pessoas, possibilitando conexões mais profundas e significativas, e influenciou o modo como eu abordava meu trabalho, me levando, por exemplo, a uma mudança nas prioridades profissionais. (…) Para ser claro, há um tremendo valor nas pessoas que respondem ao sofrimento com compaixão.”

CORAGEM E SENSIBILIDADE

Coragem e sensibilidade têm sido as habilidades das quais Cristina Palmaka, de 51 anos, presidente da SAP no Brasil, tem lançado mão para liderar na pandemia. Todos os 2.200 profissionais da empresa de tecnologia, inclusive os do laboratório, estão em home office. O resultado financeiro neste ano não será como o esperado, pois projetos foram paralisados ou postergados, mas Cristina assinou o manifesto Não Demita, que prega a preservação de empregos durante a crise. “Nosso maior ativo é o capital intelectual das pessoas e fazemos de tudo para preservá-las.” Como estratégia, neste momento, a presidente tem se cercado de uma equipe com olhar multidisciplinar para agilizar o processo decisório. “Às vezes é mais importante tomar decisões rápidas do que perfeitas. É preciso ter muita humildade para dizer que não tem as respostas, mas mesmo assim ter coragem de tentar. E, se errar, corrigir o curso.” Todo esse processo intensificou o olhar da empresa para questões de saúde mental. Cristina faz mensalmente o Chá com a Presidente, uma videoconferência para discutir especialmente essa questão, e fica de olho naqueles que precisam de uma atenção especial. “Esses dias percebi que um de meus líderes estava precisando de um cuidado. Desliguei a ligação e mandei entregar chocolates na casa dele. Não é o chocolate em si, é o gesto de presença. Ter sensibilidade é muito importante.” A SAP está oferecendo aulas online ele ioga, disponibilizou terapia por teleatendimento, e alguns funcionários têm se oferecido para fazer lives contando suas experiências no isolamento. “Estamos ficando mais humanos, porque estamos mais próximos e entrando na casa das pessoas.”

COERÊNCIA E PRESENÇA

A presidente do Grupo Sabin, Lídia Abdalla, de 46 anos, entrou como trainee há 21 anos na instituição e trilhou uma carreira na área técnica até chegar ao cargo atual, em 2014. Mas nunca deixou a paixão pela operação e, por isso, é reconhecida por se fazer presente e passar muito tempo circulando entre as pessoas. Lídia participa até hoje das entrevistas de recrutamento para as áreas de pesquisa. “Gosto de ouvir, de conhecer e de entender. Dessa forma eu erro menos, formo uma visão do todo.” Com o fechamento das cidades desde março, ela, que tem 5.400 empregados, sendo 70% na linha de frente, reestruturou as operações: treinou pessoas, triplicou o atendimento em coleta domiciliar e montou um drive-thru, em que as pacientes pagam e agendam os exames pelo aplicativo e só vão até o local fazer a coleta no próprio carro. Mesmo assim, a demanda por exames eletivos caiu. 30% das unidades foram fechadas e 30% das equipes foram colocadas em férias compulsórias. Cerca de 15% do quadro total foi para home office. Nesse momento, Lídia convocou a liderança a refletir sobre seu papel. “Dei a possibilidade de home office a todos, mas disse que ficaria na linha de frente com nossos times, e os executivos me acompanharam. Temos de ser coerentes, e nossa missão como área de saúde, que é servir os outros, nunca esteve tão próxima de nós”, diz Lídia, que disponibiliza seu número de celular para todos. “Nosso propósito é inspirar nossas pessoas a cuidar de pessoas. Eu estou aqui cuidando deles para que eles continuem cuidando de nossos pacientes.” Em maio, a própria presidente fez uma videochamada para 100% da empresa e ela tem gravado vídeos curtos com mensagens importantes que são transmitidos via WhatsApp para os times espalhados em 53 cidades do Brasil todo.

Para Jason, na crise do coronavírus, em que líderes e liderados estão, salvo os contextos socioeconômicos, vivendo na mesma seara de medo e incertezas, há uma oportunidade para aprofundar as conexões. Isso poderia ser feito por meio do reconhecimento e da aceitação do sofrimento alheio ­ o que tornaria os líderes mais humanos e mais próximos e, consequentemente, aprofundaria as conexões. “Apoiar um ao outro durante tempos dolorosos. Esse é um tipo de liderança que desejamos, aquela que nutre a própria humanidade e que torna pessoas – e organizações – excelentes”, conclui o artigo Liderando em Tempos de Trauma.

PEQUENAS CONQUISTAS

De acordo com os autores, compaixão é agir na empatia. Ou seja, é dar um passo à frente, mostrando-se vulnerável e tomando uma atitude para diminuir o desconforto do time. “Compartilhar sentimentos e a própria vulnerabilidade pode aproximar muito as pessoas e, como consequência, produzir resultados extraordinários para a organização e para todos que compartilham daquele mesmo propósito”, diz João Mareio Souza, fundador do Talenses Group e CEO da Talenses Executive na América Latina.

Para fazer isso, é preciso começar a demonstrar que você, como líder, também sofre, como escrevem os autores do artigo da Western Washington University: “Comece dando o exemplo, revelando abertamente sua própria humanidade. Quando as pessoas sabem que podem trazer sua dor ao escritório, elas não precisam mais gastar energia tentando ignorá-la e podem eficazmente se concentrar no trabalho”.

Tais conceitos se assemelham muito aos da liderança positiva, que prega que o líder cultive a empatia e enalteça os pontos fortes de cada membro do time, liderando-os na busca por resultados. Baseada nos conceitos da psicologia positiva, criada pelo psicólogo norte-americano Martin Seligman, a teoria diz que o chefe que enxerga as fortalezas dos liderados e comemora pequenas conquistas no dia a dia (mesmo em um ambiente de trabalho remoto e em circunstâncias difíceis) consegue se conectar e é capaz de encorajar, orientar e inspirar. Sendo valorizados, os profissionais se sentem mais engajados e, consequentemente, produzem melhor. “Os sensos de gratidão e motivação para seguir em frente ficam a inda mais evidentes quando o líder ajuda outras pessoas”, afirma Minoru Ueda, master coach e autor do livro Liderança Positive, (Qualitymark, edição esgotada).

ESPERANÇA E GRATIDÃO

“Flexibilidade para mudar de direção com frequência porque vivemos um momento fluido.” Esse é o lema de Otto Von Sothen, de 58 anos, presidente do Grupo Tigre, fabricante de tintas e materiais de construção. Para sentir a temperatura do time e compartilhar informações, ele tem feito reuniões remotas diárias com toda a liderança e videoconferência para se aproximar dos mais de 6.000 funcionários espalhados pelo Brasil, pela América Latina e pelos Estados Unidos. Além disso, conduz conversas individuais com aqueles que necessitam de ajuda. “Em momentos como este, precisamos ser transparentes e assertivos, mas, principalmente, saber comunicar esperança.” Isso foi algo que Otto aprendeu quando presidia a subsidiária venezuelana da Pepsico, durante o governo de Hugo Chávez. “Minha missão era resgatar a esperança das pessoas no próprio país para que continuassem produzindo.” Para fazer isso hoje, ele fala abertamente sobre o contexto, o que a Tigre está fazendo em relação à prorrogação de pagamento de clientes, como estão reforçando o caixa e os cuidados que estão tomando. “É preciso tratar as pessoas como adultos, admitindo que não tem todas as respostas, mas compartilhando os passos. Isso diminui incertezas e dá um pouco de tranquilidade.” As medidas tomadas nos diferentes países estão oscilando entre redução e suspensão de jornada, evitando ao máximo demissões. No Brasil, Otto adotou a diminuição de salários com percentual variando de acordo com a senioridade. “Os cargos mais altos tiveram maior percentual de redução, e o meu foi um dos maiores cortes. O exemplo tem de vir de mim.” A gratidão também tem sido uma arma poderosa no combate a esta crise. “Não há sequer um dia em que eu deixe de agradecer a eles por segurarem as pontas.”

Segundo Minoru, a inteligência emocional e as soft skills dos gestores nunca foram tão requisitadas. “Quando a economia está girando, você alcança os resultados apesar de suas competências emocionais. Em um cenário como este, essas habilidades são o diferencial no resultado da liderança”, diz o coach. Ao mesmo tempo, por líderes e liderados estarem presenciando situações parecidas durante a pandemia, desenvolver a empatia parece mais fácil agora. “Todo mundo viveu uma perda, seja de contato, seja de liberdade. Além disso, as pessoas se sentem isoladas, receosas e acumulando tarefas. Os líderes estão reencontrando a própria humanidade nas outras pessoas e se saem melhor quando conseguem mostrar essa vulnerabilidade sem perder a autenticidade, assumindo ainda seu papel de condutor”, afirma Minoru. Desenvolver tais habilidades durante a pandemia, mesmo liderando remotamente, também é possível. A liderança positiva sugere, inclusive, uma fórmula: a razão três para um, de Barbara L. Fredrickson, professora do Departamento de Psicologia e Neurociência da Universidade da Carolina do Norte. Segundo ela, o bom gestor deve fazer três interações positivas para cada referência negativa. “Observando os profissionais em suas pesquisas, ela concluiu que aqueles que recebiam esse tratamento formavam equipes de alta performance”, diz Minoru.

LONGE, MAS PERTO

Ouvir ativamente os problemas e desafios dos funcionários e validar aqueles sentimentos, além de pontuar e enaltecer o esforço que cada um está fazendo, apontando o que realiza para merecer o elogio, são práticas importantes e que podem facilmente ser aplicadas nas videoconferências.

“Faça um bate-papo com as pessoas pelo menos uma vez por semana. Ao fim da reunião, ligue para um ou dois que estejam precisando de sua atenção especial. Tente captar quem está mais deprimido, quem não está lidando bem com isso. Não equalize as pessoas”, sugere Márcio, da Thutor.

Outra competência requerida a qualquer bom líder e que, neste momento, está sendo ainda mais requisitada é a fala assertiva e transparente, que transmite informações do presente, mostra quais são as expectativas em relação ao trabalho e compartilha os panoramas futuros. “É por meio da comunicação efetiva que eu engajo as pessoas, as mobilizo e as inspiro para o mesmo caminho. É preciso ter a capacidade de influenciar e de manejar bem as mudanças”, diz Tatiana, do lnsper.

TRANSPARÊNCIA E CUIDADO

Sérgio Ribas, de 54 anos, é presidente do Grupo HabitaSul, que reúne a Irani Papel e Embalagem e a Companhia HabitaSul de Participações, rede de hotéis e shopping na praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis. Sob sua liderança estão 2.500 pessoas, que vivem a realidade de setores bem diferentes. Enquanto as atividades hoteleiras e do shopping foram paralisadas, a demanda por embalagens se manteve em alta, já que as caixas são destinadas à indústria alimentícia e à exportação. “Nosso desafio foi manter a produção garantindo a saúde de nossas pessoas e fazendo com que se sentissem seguras para ir ao trabalho. E, ao mesmo tempo, reduzir salários na outra empresa sem perder a confiança do time.” Um comitê de crise formado pela diretoria das duas companhias com reuniões diárias deliberava sobre tudo, e também havia reuniões semanais com gerentes e mensais com coordenadores. “Tomamos algumas medidas proativas em benefício das pessoas por nos colocarmos no lugar delas e entendermos a situação, e isso fez brilhar os olhos de todos.” Por exemplo, envio de cadeiras dos escritórios para a casa dos funcionários ou um comodato para a compra de cadeiras novas e auxílio de 100 reais retroativos ao mês de março para pagar despesa de internet e conta de luz. E, desde junho, os salários cortados já foram restabelecidos. “Entendemos que já era possível e que era justo. E o cuidado e o respeito que demonstramos pelos times fazem com que o engajamento aumente. Eles estão dando o melhor porque querem o melhor para a empresa que cuida deles também.” A festa de 79 anos da companhia aconteceu por webinar, com palestra da atriz Denise Praga sobre gentileza. Para manter a proximidade entre as pessoas e a empresa, todos receberam em casa um kit com nécessaire, álcool em gel, máscaras e um brownie. “São pequenas coisas que fazem o sentimento de pertencimento se fortalecer, inclusive nesses momentos.”

Em um cenário de constantes mudanças, em que os gestores estão tendo a necessidade de tomar rápidas e importantes decisões a todo momento, lidando com novas e diferentes informações dia após dia, outra escola de gestão se torna uma aliada: a liderança situacional, teoria desenvolvida por Paul Hersey e Kenneth Blanchard. ‘Trata-se de um modelo em que o gestor adapta seus comportamentos de acordo com o cenário e o nível de maturidade de cada membro da equipe. “Quando as pessoas estão pressionadas, sentem menos confiança em suas competências, perdem maturidade e ficam paralisadas. Nessa hora, a liderança tem de mudar seu estilo. Se não passa decisões claras e estruturadas, os liderados não conseguem agir. É preciso ser mais pedagógico do que antes”, afirma Luiz Carlos Cabrera, fundador da consultoria de recrutamento LCabrera e professor na FGV – Eaesp.

De acordo com a teoria, os líderes devem transitar situacionalmente da seguinte forma: quando alguém da equipe perde a confiança, o gestor adota o estilo direcionador e dá um a ordem estruturada, basicamente um passo a passo. Quando a confiança e a maturidade diante do problema melhoram um pouco, ele passa a ser o orientador, aquele que apresenta opções e sugere caminhos aos liderados. Depois, torna-se o apoiador, que se mostra disponível para o que a equipe precisar, dá sugestões, mas deixa o time livre para decidir. A última atitude é delegar, quando tanto a confiança do profissional em relação a si mesmo quanto a do líder em relação a seu time são restabelecidas. E os níveis de maturidade podem variar de empregado para empregado e de tempos em tempos durante a crise. ”Estamos no momento em que todos, inclusive os gestores, podem estar com a confiança e a maturidade abaladas, mas as pessoas não podem ficar sem rumo. Assim, os líderes têm de ter mais agilidade em recuperar sua confiança para assumir o papel de direcionadores”, diz Luiz Carlos. Recuperar a confiança tem a ver com retornar a coragem – algo essencial neste momento. Por isso, é hora de os líderes vencerem o receio de tomar as rédeas da situação e usarem esse arsenal de práticas que compartilhamos para tentar, falhar, aprender com os erros e começar tudo de novo. “Em meio ao caos, você é capaz de desenvolver muitos recursos: priorizar rotas, ter empatia, agilidade e humildade. O autoconhecimento é importante. Tenha consciência de seus próprios limites, seja modesto e reflita sobre o que você pode ou não fazer”, diz Delphine, da francesa Audencia Business School. O momento não é para super-heróis, mas para humanos corajosos, que agem apesar do medo e das circunstâncias.

OS MODELOS FUNDAMENTAIS

Conheça os estilos de gestão que, segundo os especialistas ouvidos nesta reportagem, são os mais eficientes agora

LIDERANÇA POSITIVA

O pilar desse estilo está na psicologia positiva, criada pelo psicólogo americano Martin Seligman, que prega que o líder precisa estimular os pontos fortes dos times e comemorar as conquistas – mesmo as pequenas.

LIDERANÇA COMPASSIVA

O primeiro passo, nesse modelo de gestão, é ter empatia para entender a dor e a dificuldade dos outros. Mas não pode parar por aí: é necessário demonstrar o sentimento de compaixão e pesar, e agir para ajudar os liderados a resolver o problema.

LIDERANÇA SITUACIONAL

A teoria foi criada pelos americanos Paul Hersey (empreendedor e cientista comportamental) e Kenneth Blanchard (especialista em gestão) e afirma que o gestor deve adaptar seus comportamentos de comando de acordo com o contexto vivido e com o nível de maturidade de cada liderado – esses níveis, segundo os autores, devem ser os direcionadores das ações do chefe.

SÍNDROME DE SUPER-HERÓI

Embora demonstrar fraquezas seja importante para criar laços nas equipes, a maior parte dos líderes brasileiros ainda sente dificuldade de fazer isso, como mostra uma pesquisa da consultoria Talenses Executive feita com 400 gestores em maio. veja os resultados

100% Dos líderes estão sentindo ansiedade, medo e angústia

78% Dos executivos se sentem pressionados a tomar decisões ágeis e difíceis por causa da crise

71% Nunca dividem, ou dividem raramente, seus sentimentos com os colegas de trabalho

46% Acreditam estar conseguindo equilibrar bem as emoções, apesar das circunstâncias

30% Escondem o que sentem por vergonha ou medo do que os outros vão pensar

O QUE ELAS TÊM?

Por que países comandados por mulheres se saíram melhor na luta contra a covid-19?

Os países com melhor desempenho no combate ao novo coronavírus têm uma coisa em comum: mulheres no comando. Islândia, Taiwan, Finlândia, Dinamarca, Nova Zelândia e o maior deles, Alemanha, são liderados por gestoras que impressionam na maneira de exercer o poder.

Todas levaram à sério o problema que tinham em mãos e adotaram, rapidamente, estratégias para proteger a população de seu país. “mulheres são boas administrando crises, pois são capazes de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, como gerir adversidades no cotidiano “, afirma Minoru Ueda, master coach.

Tsai Ing-wen, de Tai Wan, por exemplo, ao primeiro sinal da doença, em janeiro, adotou 124 medidas sem ter de decretar isolamento. A Islândia, sob o comando de Katrin Jakobsdottir, está oferecendo testes gratuitos a todos os cidadãos. Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, impôs o auto isolamento às pessoas quando havia apenas seis casos em todo o país e fez pronunciamentos constantes, na televisão e nas redes sociais, reforçando a importância das medidas tomadas.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A SAÚDE MENTAL E A COVID-19

Crescimento da depressão e da ansiedade é pior do que se esperava

Não era preciso uma bola de cristal para prever que a pandemia de Covid-19 seria devastadora para a saúde mental. A doença ou o temor da doença, o isolamento social, a insegurança econômica, a ruptura da rotina e a perda de pessoas queridas são fatores de risco para a depressão e a ansiedade. Agora, estudos confirmaram as previsões, mas também trazem surpresas quanto a grande escala do impacto sobre a saúde mental, sobre a forma como o consumo de mídia exacerba esse impacto e a intensidade desse problema sobre os jovens.

Um relatório publicado em agosto pelos Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, por exemplo, constatou que os sintomas de ansiedade triplicaram e a depressão quadruplicou entre 5.470 adultos pesquisados na comparação com uma amostragem de 2019. Também duas pesquisas nacionais, feitas por pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston e da Universidade Johns Hopkins, descobriram que a prevalência de sintomas depressivos (Universidade de Boston) e de “distúrbios psicológicos graves” (Hopkins) havia triplicado em relação a levantamentos de 2018. “Essas taxas superaram as registradas em outros grandes traumas como o 11 de setembro, o furacão Katrina e os tumultos em Hong Kong”, diz Catherine Ettman, principal autora do estudo da Universidade de Boston. Alguns dos grupos mais afetados nesses estudos eram de pessoas que tinham problemas preexistentes de saúde mental, indivíduos de baixa renda, pessoas não brancas e aqueles próximos a alguém que sofreu ou morreu de Covid-19. Mas, no estudo de Ettman, o grupo nos EUA que registrou o maior aumento em depressão (uma alta de cinco vezes) foi o de etnia asiática. A psiquiatra Ruth Shim sugere que o crescimento pode refletir o impacto do racismo e injúrias relacionados à origem da pandemia na China.

Um achado inesperado nas três pesquisas foi o efeito descomunal sobre jovens adultos. No estudo dos CDC, 62,9% das pessoas de 18 a 24 anos relataram ansiedade ou distúrbio depressivo, 25% contaram usar mais drogas e álcool para lidar como estresse ligado à pandemia, e 25%disseram ter “seriamente considerado suicídio” nos 30 dias anteriores. Jovens adultos também integram o grupo etário mais afetado em um raro estudo em tempo real, que monitorou o rápido aumento da “angústia aguda” e da depressão em três pontos entre meados de março e meados de abril. “Esperávamos o oposto, porque estava claro que os mais velhos enfrentavam riscos maiores do vírus’ diz a autora sênior Roxane Cohen Silver. Silver suspeita que os jovens “podem ter sofrido mais rupturas: formaturas, casamentos, o ano final do segundo grau e da faculdade. ”Todas essas transições foram interrompidas, assim como contatos sociais e escolares, que são muito importantes para os jovens”.

O estudo dela, que envolveu 6.500 pessoas, aponta para um grande fator para a ansiedade em todas as idades: a maior cobertura da mídia sobre o surto. Especialmente problemática é a exposição à informação conflitante. Silver, que estudou as consequências psicológicas de eventos como o 11 de setembro e o atentado à maratona de Boston em 2013, afirma que a fixação na cobertura da mídia é um conhecido fator de risco. “Se as pessoas estão muito ligadas na mídia, elas têm mais chances de exibir e relatar distúrbios, mas esse distúrbio parece atraí-las mais para a mídia. É um ciclo do qual é difícil se desvencilhar.” Silver e outros que investigam traumas em massa têm sugestões para se manter o equilíbrio mental em tempos desafiadores. Limitar o consumo de mídia e evitar os relatos sensacionalistas são alguns deles. Manter contatos sociais via Zoom, telefone e outros métodos seguros contra a Covid também é vital, diz o psicólogo James Pennebaker, da Universidade do Texas. “Diferentemente de outros desastres, as pessoas estão mais distantes dos amigos e da comunidade”, diz Pennebaker, que está examinando o impacto da pandemia na saúde mental pela análise de posts na plataforma de mídia social Reddit.

Pennebaker pensa que menos abraços e menos oportunidade de compartilhar o luto podem ajudara explicar porque as pessoas não parecem estar se ajustando ao novo cotidiano. “Não é como foi o 11 de setembro ou um terremoto, em que algo grande acontece, e todos voltam ao normal rapidamente.” Seus outros conselhos são manter hábitos saudáveis de sono, exercício, alimentação e bebidas. E um diário também.

A pesquisa mostra que a escrita ajuda as pessoas a processarem emoções difíceis e encontrarem significados. “Se você está muito preocupado com a Covid, tente escrever a respeito.”

CLAUDIAWALLIS – é uma premiada jornalista de ciência com trabalhos publicados em The New York Times. Times, Fortune e New Republic. Ela foi editora de ciência de Time e editora-chefe de Scientific American Mind.

EU ACHO …

QUANDO O NINHO FICA VAZIO

Eles foram embora e agora ela é uma menina solta. Em pleno 2021, com o mundo de ponta-cabeça, mas que segue girando, como lidar com essa coisa que ela é? Se sente uma menina, cheia de vontades, cheia de querer, cheia de energia, toda criativa, saudável, que se acha importante, mas não é mais a peça principal do “game”. Foi substituída pelo jogo da vida, das vidas de quem ela achou que seria insubstituível.

Poxa vida, onde foi que ela errou, tanta gente avisou, deu tanta volta na vida por causa da responsabilidade afetiva e deu tanto amor, mas o jogo virou e sozinha ela tem tempo para pensar.

O que era interessante já não é, tudo fica sem significado, mas ao mesmo tempo é um sinal de vitória, sinal de que tudo está bem, de que tudo saiu como planejado.

Mas poxa, como é difícil ficar sozinha porque os rebentos foram embora de casa.

Como viver, seguir sendo essa mulher múltipla, sem a mola propulsora chamada filhos, aqueles que ela perdeu para o jogo da vida. Onde buscar motivos para preencher o espaço de uma vida inteira? Fica o sentimento de tristeza e desânimo junto com essa longevidade tão desejada, com a “skin” em dia, porque ninguém fala desse novo “lifestyle”.

Não tem ninguém que fale, mas tem uma galera que faz. Já que os filhos deram no pé, agora é fazer o que antes não se fazia. E vale namorar – mas tentar não se apaixonar -, estudar (tem faculdades que nem cobram alguns cursos), ser estagiária sênior, ir para a academia, ser baiana de escola de samba, ver o que tem para os 50+ e 60+ – aliás, a pirâmide populacional do Brasil já sofreu grande mudança e as empresas que não focarem na mulher 60 + estarão bem desatualizadas.

Tem um desconforto chato no ar, mas vai ter que superar…

*** ELIANE DIASé empresária do show business, advogada e mãe do Jorge e da Domênica

OUTROS OLHARES

A REVOLUÇÃO MUSICAL DO 8D

Com a nova tecnologia, é possível “sentir” os sons de maneira espacial, em vez de apenas ouvi-los

O professor de teoria musical do Conservatório de Milão, Pasquale Bona (1808-1878), definiu a música como “a arte de manifestar os mais diversos afetos da nossa alma mediante o som”. Apreciada nas mais diversas situações, as melodias musicais nos envolvem de forma tão intensa que acabam nos remetendo a personagens e memórias afetivas. Do ponto de vista da física, no entanto, a música nada mais é do que um padrão de ondas sonoras que se propagam no espaço. Sob esse prisma, uma nova tecnologia promete uma revolução na experiência de ouvir música e sons de maneira geral: o 8D.

Estamos acostumados a escutar sons de maneira linear, ou seja, em um formato onde o som é dividido em dois canais, o esquerdo e o direito. É o chamado efeito “estéreo”, uma simulação do sistema de percepção dos nossos ouvidos. No caso do áudio em 8D a manipulação das ondas dá a impressão de que o som surge de vários lugares e percorre diversos caminhos neurológicos, não apenas a partir de dois emissores. É uma experiência mais próxima do impacto acústico que sentimos em uma sala de cinema, por exemplo. Com fones de ouvido, o som 8D cria uma sensação imersiva onde é possível sentir a música, não apenas ouvi-la. Para o Para o engenheiro de som Maurício Gargel, o som 8D é uma nova fronteira na maneira como pensamos em áudio. “O sistema altera os elementos da reverberação das ondas e a forma como elas chegam aos ouvidos, dando sensação de que o som ocupa um espaço físico”, afirma. “A mixagem 8D envolve a cabeça do ouvinte, formando uma ambiência própria”, diz Rodolfo Marcial, DJ dos estúdios Kondzilla Records. O DJ ressalta a importância da utilização de um equipamento adequado para aproveitar todas as nuances. “Só é possível aproveitar todo o efeito com um sistema de som surround que proporciona melhor ambientação ou um fone de ouvido do tipo que envolve toda a orelha,”, explica.

ORIGEM

O som multidimensional foi inventado em 1980 pelo engenheiro de som argentino Hugo Zuccarelli. Ele acredita que escapou da morte na infância graças à boa audição, que o levou a desviar de um carro em alta velocidade. Após sua graduação na Politécnica de Milão, estudou a fisiologia humana para criar um tímpano artificial que funcionasse como microfone. A partir daí, criou uma espécie de “cabeça-microfone” e batizou a engenhoca de “Ringo”. A homenagem não foi ao baterista dos Beatles, como era de se esperar, mas ao compatriota Óscar “Ringo” Bonavena, pugilista e ídolo na juventude. O engenheiro se aventurou pela indústria da música e o mercado cinematográfico até chegar à NASA, a agência espacial americana.

Artistas utilizam sistemas de som em formato 8D em estúdio há anos, como é o caso de “The Final Cut”, lançado pelo Pink Floyd em 1983. Na música que batiza o álbum, é possível ouvir tiros e latidos de cachorro que soam “fora” da gravação, efeito sonoro que chamou a atenção do público. Um tipo de gravação semelhante, chamada de “binaural”, foi utilizada pelos Rolling Stones no álbum ao vivo “Flashpoint”, de 1991. O efeito dá a impressão de que o ouvinte está no show, bem no meio do público. A grande diferença é que agora, com o avanço da tecnologia dos videogames e sistemas de áudio, o formato 8D está acessível a todos, não apenas aos artistas que gastavam milhões para simular o efeito em estúdio. Na internet, é possível testar a experiência no Youtube, em canais como 8D Tunes, Era e Soundee. O músico mineiro Pedro Baapz lançou a música “Viajante do Tempo” no formato 8D porque queria envolver o ouvinte. “Tentei criar uma maneira para que o som ficasse circulando ao seu redor”, diz. Para sentir o que essa experiência sensorial pode proporcionar, é só escolher um ambiente silencioso, uma cadeira confortável e um bom par de fones de ouvido. O único problema é que, depois de ouvir o áudio do futuro, será difícil se acostumar com os sons do presente.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 20 DE JANEIRO

QUANTO VALEM AS SUAS PALAVRAS?

Prata escolhida é a língua do justo, mas o coração dos perversos vale mui pouco (Provérbios 10.20).

As palavras de um justo são mais preciosas do que os metais mais nobres. A língua do justo é prata escolhida: tem beleza e valor. Quando o justo fala, as pessoas são edificadas, consoladas e encorajadas. Quando o justo abre a boca, uma torrente de sabedoria jorra de seus lábios. Suas palavras são medicina para o corpo e bálsamo para a alma. A língua do justo é como a luz que aponta a direção, é como o sal que dá sabor, é como o perfume que inebria a todos com sua fragrância. Quem ouve o justo não anda em trevas, mas na luz; não caminha por trilhas incertas, mas segue por caminho seguro; não cruza os desertos tórridos e inóspitos, mas atravessa os campos férteis da prosperidade. Quem acolhe as palavras do justo segue o caminho perfeito de Deus, é sustentado pelo braço onipotente de Deus, até chegar à cidade de Deus, para reinar com o Filho de Deus. Se a língua do justo tem palavras tão belas e preciosas, o coração do perverso, de onde fluem suas palavras, vale muito pouco, pois é um poço de perdição, um laboratório de engano, uma usina de mentiras, um território onde domina a maldade. É tempo de avaliarmos o valor das nossas palavras: elas são prata ou escória? São belas e atraentes ou feias e repugnantes? Têm valor como a prata escolhida ou valem muito pouco como o coração do perverso?

GESTÃO E CARREIRA

COMO SE COMUNICAR MELHOR

Problemas de comunicação geram prejuízos milionários para as companhias e aumentam o estresse dos profissionais. Aprenda a dominar essa competência que se torna ainda mais importante em crises como a atual.

Momento é difícil. Talvez precisemos fazer uma reestruturação no time”. A frase, dita por um líder de uma empresa de tecnologia, tinha o objetivo de informar a equipe sobre as medidas que a companhia tomaria para enfrentar a pandemia de coronavírus, que se intensificou no último mês em todo o país. O gestor em questão tentou ser transparente, mas sua fala sem detalhamento soou precipitada e se transformou em pânico no time. Resultado: baixa produtividade, fofocas sobre demissões e reduções de salários e boataria sobre fechamento de unidades. Cada um entendeu – e repassou – a mensagem de um jeito. Tudo se tornou um telefone sem fio, no qual a informação inicial é distorcida ao pular de pessoa em pessoa.

Problemas de comunicação como esse são graves e se tomam altamente preocupantes nas crises, quando os discursos precisam de mais clareza, efetividade e rapidez. Uma comunicação malfeita – no caos ou na bonança – gera perdas milionárias às companhias e acaba com a produtividade. Um estudo feito nos Estados Unidos e no Reino Unido pela Holmes, consultoria de relações públicas americana, descobriu que as empresas perdem, em média, 62,4 milhões de dólares ao ano devido a falas mal interpretadas, que levam os funcionários a cometer erros e falhar nas decisões. “É por meio da comunicação que qualquer ideia, filosofia ou situação é transmitida aos profissionais. E, sem a devida clareza e cuidado, tudo pode ruir”, afirma Diogo Arrais, professor de língua portuguesa, consultor e criador do canal de YouTube Mesma Língua.

Importante para todos os cargos, a competência deve ser trabalhada ao longo da trajetória, pois é com base nela que alguns dos pilares mais importantes para crescer (como sua reputação e rede de contatos) são desenvolvidos. “A comunicação deve ser clara e positiva, sem ameaças que possam gerar desconforto e baixa produtividade”, diz Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira. Segundo ele, é essencial olhá-la estrategicamente e cultivá-la em todos os momentos, não apenas nas crises.

FORÇA DO HÁBITO

Para se comunicar melhor é preciso dedicação. Realizar apenas um curso de fim de semana ou treinamentos isolados, sem praticar constantemente nem se aperfeiçoar não surte os efeitos desejados. “A comunicação assertiva é um hábito”, afirma Diogo. Para começar nessa jornada, o professor sugere a tríade ler-se, ouvir-se, ver-se. Essas três atitudes ajudam a mapear os pontos fortes e fracos, a se conscientizar sobre sua postura diante de uma plateia e a fazer reavaliações constantes sobre seu desempenho comunicacional. Porém, ainda mais importante do que dominar teorias, técnicas e metodologias é praticar. “Ninguém desenvolve a comunicação apenas em sala de aula. É preciso se expor e se observar para evoluir”, afirma Fernando Ladeira, diretor de gente e gestão da Falconi, consultoria de gestão.

Por isso, quanto antes você começar a se preocupar com o modo como se comunica, melhor. Se o estagiário não souber falar sobre suas expectativas, desejos e aflições com seu chefe, por exemplo, correrá o risco de não conquistar o desenvolvimento que almeja. Foi com esse raciocínio que a analista de negócios Amanda Destefani das Neves, de 26 anos, conquistou mais espaço na Vulpi, startup de recrutamento para a área de TI. Ela sempre viu a comunicação como um pilar importante na carreira. Seu primeiro emprego, aos 16 anos, foi no Sebrae ­ MG. Na época, ela já precisava conversar com as pessoas, pois atendia os empreendedores durante os eventos da instituição. “Sempre me comuniquei muito, mas não conhecia as técnicas, diz. Com isso em mente, passou a atentar às oportunidades. Até que, ao buscar um MBA em gestão de projetos, encontrou um curso com um módulo de comunicação e oratória. “Isso me chamou muita atenção, pois eu precisava desenvolver essa habilidade.” Gostou tanto do tema que procurou aulas de programação neurolinguística (PNL), que usa a comunicação para ajudar na busca pelo autoconhecimento. Depois disso, ela passou a sermais valorizada na empresa – e se tornou até uma referência na área. “As pessoas me procuram para pedir dicas e conhecer mais sobre as técnicas. Cheguei a dar um curso sobre isso à equipe”, diz Amanda. Para a analista, que passa boa parte do dia em reuniões com executivos seniores, a capacidade de estabelecer relacionamentos e passar confiabilidade por meio da conversa é essencial em seu trabalho. “Há diversas técnicas para isso, como entender o modelo mental do outro e estabelecer uma comunicação a partir disso. Nesse sentido, tudo conta: a maneira como você fala, a velocidade do discurso e o ritmo da respiração.”

COMEÇO, MEIO E FIM

Um dos deslizes mais comuns que cometemos nos diversos momentos de comunicação – de um e-mail a uma palestra – é não ter clareza sobre o que (e como) queremos transmitir. Por isso, fazer um planejamento prévio é tão importante. “Não pensar em um roteiro é um dos erros mais graves, pois sem ele as ideias podem ser jogadas aleatoriamente ao público, dificultando a compreensão da mensagem”, explica Osório Antônio Cândido da Silva, especialista em comunicação verbal. Quando não temos clareza sobre o passo a passo das informações, corremos o risco de fazer com que o nervosismo se imponha e de esquecer alguma ideia importante. Não precisa decorar nada, mas ter clareza sobre todos os assuntos a ser abordados faz diferença. Ouvir feedbacks sinceros também ajuda. Essa é uma das estratégias de Leo De Biase, de 47 anos, cofundador da BBL, holding de entretenimento especializada em games e e-sports. “Todo mundo tem um vício de linguagem ou acaba usando muito uma palavra. Estar aberto a ouvir é essencial para melhorar”, afirma o empreendedor, que costuma palestrar no Brasil e no exterior e sempre pede que a plateia lhe dê feedbacks. “Gosto de conversar com as pessoas que estavam na apresentação, tanto para saber se conseguiram absorver bem o conhecimento quanto para identificar os aspectos que posso melhorar”, afirma o fundador, que tem um coach de apresentações que acompanha todas as suas palestras e conduz treinamentos semanais. Leo tem mais uma arma que usa quando a audiência é mais informal: o humor. “Antes de qualquer apresentação, pesquiso sobre o público para saber qual linha seguir, se mais formal ou com um pouco de graça.” Segundo o professor Osório, o humor é mesmo um ótimo aliado, principalmente em uma auditório lotado, em que o contato visual fica prejudicado. “O recurso ajuda a se manter cm sintonia com o público e passa uma imagem agradável”, diz.

PILAR DA LIDERANÇA

Os líderes têm uma responsabilidade fortíssima sobre a comunicação. Afinal, se não souberem passar, com clareza, qual é a estratégia da empresa e como cada funcionário pode ajudar a companhia no curto, médio e longo prazo, a engrenagem não vai girar bem. Quando sabem se comunicar com eficácia, os gestores fazem com que as companhias em que trabalham conquistem

retornos 47% mais altos para os acionistas, segundo a pesquisa da consultoria Holmes PR feita com 400 empresas nos Estados Unidos e no Reino Unido. Além de melhorar os indicadores econômicos, essa competência dos chefes também ajuda no clima organizacional.

Alguns gestores compreendem bem a importância dessa competência. Um deles é Nelson Campelo, que não revela a idade e é presidente da Atos, empresa de tecnologia. “Comunicação e liderança caminham lado a lado. É muito difícil ser um líder se você não se comunica adequadamente e para diferentes públicos”, diz o executivo. Sua preocupação com a competência começou cedo – e estava relacionada a um traço de sua personalidade: a timidez. Para se desafiar e perder o receio de falar em público, começou a dar aulas de estrutura de dados em universidades, quando ainda estava no início da carreira. “Sabia que, se quisesse crescer, precisaria aperfeiçoar a comunicação.” Além de praticar nas aulas, Nelson criou uma rotina de leitura em voz alta em frente ao espelho e participou de diversos cursos de oratória. Um dos que mais o marcaram foi conduzido pelo ator Richard Olivier, que usa ensinamentos do teatro para melhorar as técnicas de apresentação. “À medida que você evolui na carreira e tem mais responsabilidade, como gestão de clientes e equipes, a comunicação vai se tornando ainda mais importante”, diz. Por isso, Nelson tem uma agenda focada nos encontros com os times. Semanalmente, ele conduz reuniões com os diretores do comitê executivo da Atos na América do Sul e está sempre aberto a ouvir os empregados da companhia.

Para continuar próximo das equipes em meio à crise do coronavírus, que colocou grande parte da força de trabalho em home office, Nelson faz um bate-papo online com os funcionários no qual conversam sobre as novidades e a adaptação ao trabalho remoto.

Outra vantagem de líderes que são bons comunicadores é que eles ajudam a disseminar uma cultura de transparência, baseada na confiança e no compartilhamento de informações. “A qualidade de diálogo da alta liderança estabelece um padrão na empresa”, diz Marco Tulio Zanini, professor e consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele explica que é importante ter em mente que não se trata apenas de uma competência que facilita o trabalho em equipe – também tem uma relação direta com a produtividade. “Um time bem informado dá muito mais resultados. Além disso, um diálogo que soma inteligências, ou seja, que se baseia em diversos pontos de vista, é essencial para a tomada de decisões inteligentes.”

INTERESSE GENUÍNO

Quando Fabio Ribeiro, de 39 anos, gerente geral de marketing da Panasonic do Brasil e autor do livro A que Causa Dedicar a sua Vida, ainda era estagiário, teve de lidar com um grande desafio: dar uma aula para 50 pessoas sobre informática. A tarefa em uma solicitação de seu chefe e ele não podia negar. “Foi difícil, mas, apesar das mãos suando e das pernas trêmulas, decidi encarar o desafio, independentemente de meus sentimentos”, diz Fabio. O conhecimento técnico ele possuía, o problema era a falta de expertise para apresentar. Resultado: ele desembestou a falar, sem pausa nem preocupação com a entonação da voz ou a postura corporal.

Mas o episódio serviu como um alerta: era hora de se desenvolver. Assim, fez um curso de aperfeiçoamento da expressão verbal e corporal e começou a estudar a psicologia da comunicação. Vinte e cinco anos depois de sua primeira experiência em frente a uma plateia, Fábio é agora um experiente palestrante e líder de workshops. “Nos 3 minutos iniciais ainda fico nervoso, mas hoje sei como me preparar e conheço técnicas que me ajudam a transmitir bem a mensagem”, afirma. Entre os recursos, ele cita o entendimento sobre o público, a atenção à entonação da voz e à linguagem corporal, e o olhar atento aos ouvintes. “Em torno de 30% do tempo aposto no improviso e adapto a apresentação à forma como as pessoas estão reagindo. Isso gera mais conexão.” Perceber como os outros estão se sentindo, aliás, é uma das coisas mais importantes para quem quer se comunicar melhor – afinal, a maior parte dos problemas de comunicação acontece porque, simplesmente, não entendemos como nossas mensagens são recebidas. Na visão da psicóloga Bela Fernandes, sócia da Aylmer Desenvolvimento Humano, reconhecer o impacto que produzimos com nosso estilo de expressão gera a oportunidade de entender como estamos afetando a vida do colega, do chefe ou do subordinado. “Sem esse entendimento, as ferramentas de desenvolvimento, como o feedback, causam mais toxicidade do que colaboração”, afirma.

É por isso que Stella Guillaumon, de 43 anos, gerente geral da Magenta, desenvolvedora de plataformas para e-commerce, tem entre suas estratégias a empatia. A executiva, que fez treinamentos de comunicação e de oratória, finalizou recentemente uma especialização em inteligência emocional – a capacidade de administrar as próprias emoções e usá-las a seu favor, além de compreender as emoções dos outros, construindo relações saudáveis. “Em uma equipe, as pessoas são diferentes, e é preciso entender o perfil de cada uma para, desse modo, saber qual é a melhor forma de se comunicar”, diz. Mas isso não foi sempre assim. Stella conta que, no início da carreira, algumas pessoas diziam que ela parecia um pouco agressiva no trato – o que acendeu o sinal de alerta. “Passei a me observar e a ficar mais atenta ao meu tom de voz e à escolha das palavras. Hoje é algo natural.”

Mais do que falar bem, a comunicação é uma habilidade que exige sensibilidade para entender de que maneira a mensagem que você quer passar está sendo realmente absorvida. Um interlocutor loquaz, mas que não perceba quais são os sentimentos da plateia, não vai comunicar com eficiência. Em sua jornada de desenvolvimento dessa competência, lembre-se sempre de uma frase do consultor de liderança Simon Sinek: “Comunicação não é sobre falar o que pensamos. É sobre garantir que os outros compreendam o que queremos dizer”.

NA CORDA BAMBA

Os cinco principais erros de expressão

1. DESATENÇÃO COM A POSTURA

Ao se comunicar é importante definir seu objetivo – se é persuadir, emocionar ou apenas informar.

2. AMBIGUIDADE

A mensagem precisa ser formulada para atingir um resultado. Sem direção, fica difícil produzir um conteúdo relevante

3. PROLIXIDADE

A comunicação exige começo, meio e fim. Falar demais, sem nenhum norte, não surte efeito e pode queimar sua imagem

4. DESCUIDO COM A LINGUA PORTUGUESA

Palavras escritas e faladas da maneira errada podem colocar tudo a perder.

5. FALTA DE ORIGINALIDADE

Para se destacar dos demais é preciso contar uma história de forma original. Senão, será só mais um conteúdo do mesmo.

CONTA CARA

62,4 Milhões de dólares ao ano é o prejuízo que as companhias sofrem em decorrência de mal­ entendidos entre os funcionários

26.041 Dólares é a perda anual de produtividade por funcionário resultante de barreiras de comunicação

DISCURSO AFINADO

Dicas para se sair bem em diferentes meios – de reuniões a mensagens

E- MAILS

A escrita correta e fluida é essencial na hora de elaborar um e-mail. Para isso, é importante ter bom domínio da gramática, além de atentar a repetições, conhecendo bem sinônimos e antônimos. Também é necessário ter habilidade com conjunções (que servem para ligar elementos dentro de uma frase) e preposições (que estabelecem relação entre dois ou mais termos da oração). Mas lembre-se: esse meio é usado para a comunicação rápida. Evite textos muito longos e, caso haja   necessidade de se aprofundar, aposte no anexo ou marque uma reunião.                                                                                                                                                    

REUNIÕES DE EQUIPE

O ponto central aqui é o cuidado com o tempo. fuja da prolixidade. Para isso, é essencial contar com um roteiro que contenha a hora de começar e a de acabar. Além de conteúdo e objetivo quem lidera o encontro precisa ter em mente que o discurso deve ser direcionado ao grupo, e não apenas a uma pessoa. A postura é     outro elemento importante, pois é o que transmite segurança. Fale sempre com objetividade e evite piadas fora de hora.

MENSAGENS

Não é por se tratar de um meio mais informal e rápido de se comunicar que você pode se descuidar da gramática. Antes de apertar o “enter”, reveja o que escreveu. É importante, ainda, não cobrar presença com frases como “cadê você”. Isso gera ansiedade desnecessária. Evite áudios muito longos, pois podem ser inconvenientes, e respeite o horário de trabalho. Também preste atenção na fotografia e na frase do perfil.

PROCESSOS DE FEEDBACK

Quem conduz a reunião deve ter uma postura empática. Prefira começar pelos pontos positivos para, depois, entrar no que deve ser melhorado. E sempre que possível dê exemplos práticos. quem recebe o feedback precisa deixar o ego de lado e demonstrar interesse pelo que está sendo dito também. O segredo é saber ouvir e não ficar, na defensiva, dando desculpas impulsivas. E para os pontos negativos, ouça, anote as questões e esteja aberto a melhorar

PALESTRA DE SUCESSO

Os sete pilares para uma excelente apresentação em público

1 – ROTEIRO BEM ESTRUTURADO

Sem planejamento, você corre o risco de soltar aleatoriamente as ideias, por isso, faça uma lista de tudo o que deseja falar e crie um roteiro, seguindo uma lógica     simples, por exemplo, mostre um cenário instigante, proponha uma solução para o caso, construa sua argumentação em cima disso e finalize com uma proposta de ação.                                                                                                                 

2 – ABERTURA DE IMPACTO

Os primeiros minutos da apresentação são para atrair a atenção de quem está ouvindo você. Para deixar o público curioso, use o chamado “ima da atenção”, que pode ser uma citação, uma pergunta instigante, uma história motivadora, um vídeo ou um desafio.

3 – CUIDADO COM A VOZ E A GRAMÁTICA

Treine e atente a pontos como entonação, volume da voz, velocidade e dicção. Procure não ser monocórdio e altere a intensidade e a rapidez. erros gramaticais também prejudicam a imagem profissional. Ler é o melhor exercício nesse caso, para aperfeiçoar tanto a gramática quanto o vocabulário.                                                                                     

4 – EXPRESSÃO CORPORAL EM PRIMEIRO PLANO

Estima-se que 55% da comunicação seja feita sem palavras. Procure desenvolver uma dinâmica corporal condizente com seu estilo, gesticulando com moderação e de forma coerente em relação ao que está sendo dito. Os gestos, sem excesso, reforçam ideia do que está sendo passado.                                                                                                             

5 – CONEXÃO COM A PLATEIA

Nosso cérebro perde a conexão com o que está sendo dito em cerca de 10 minutos. Por isso, uma apresentação, mesmo que curta, precisa contar com os tais “ímãs da atenção”. De tempos em tempos, interaja com a plateia e use recursos para atraí-la. O humor pode ser um aliado. Por meio dele você mantêm a sintonia com o público, se mostra mais agradável e sustenta a atenção.                                                                                                                  

6 – TERMOS TÉCNICOS E JARGÕES SÓ EM ÚLTIMO CASO

Em todas as áreas existem siglas e expressões especificas. Evite esses termos em auditórios que não estejam familiarizados com eles. Se o uso for indispensável, explique imediatamente o significado para não causar desconforto.

7 – IMAGENS FORTES

Apoiar o discurso com imagens é explorar uma característica forte da percepção humana: a capacidade de retenção da memória visual muito maior do que a da memória auditiva. Associe os trechos importantes de sua fala a imagens de impacto. Se for usar slides, tenha cuidado na apresentação e no texto.

QUAL É O SEU ESTILO?

O americano Mark Murphy, fundador da consultoria Leadership IQ, definiu as maneiras mais comuns de se comunicar. Saber qual é o seu jeito e compreender qual é o dos chefes, colegas e clientes ajuda a alinhar o discurso e a ter sucesso na comunicação

PESSOAL

  • Ênfase no relacionamento humano
  • Necessidade de estabelecer conexões emocionais
  • Prazer em ouvir o outro
  • Tendência a diplomacia

ANAÍITICO

  • Argumentos baseados em fatos e dados
  • Linguagem objetiva
  • Tendência à autonomia

FUNCIONAL

  • Foco no processo
  • Pensamento passo a passo
  • Tendência ao controle

INTUITIVO

  • Foco no contexto geral
  • Pouca paciência para os detalhes
  • Tendência ao follow-up

Faça o teste para descobrir qual é o seu estilo de comunicação aqui: bit.ly/34l mVSc

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ATENÇÃO PREMATURA

Estudo finlandês revela que crianças que nascem antes dos nove meses de gestação têm maior probabilidade de desenvolver depressão

Além de todas os cuidados habituais com a gravidez, um levantamento realizado na Finlândia aponta que há uma nova fonte de preocupação para os pais e familiares. Já é de conhecimento geral que o parto prematuro pode favorecer o surgimento de algumas doenças, como o transtorno do déficit de atenção e a hiperatividade. Esse novo estudo, porém, vai mais longe: aponta uma relação entre os bebês que nascem antes dos nove meses e a depressão. O grupo de cientistas finlandeses da Universidade de Turku observou o desenvolvimento gestacional de recém-nascidos e fez uma comparação com o estado psíquico dessas crianças e adolescentes ao longo dos anos.

No estudo, os pesquisadores analisaram dados de 37.682 bebês nascidos no país nórdico entre janeiro de 1987 e dezembro de 2007, todas diagnosticadas como depressivas. Foi feita uma análise então com 148.795 crianças que nasceram no mesmo período, mas que não eram portadoras do transtorno. Segundo Alfredo Maluf, psiquiatra do hospital Albert Einstein, os dados permitem uma avaliação adequada. “Quanto mais trabalhos desse tipo tivermos, melhor será nossa compreensão sobre a doença”, afirma. O médico explica que a depressão pode ser desencadeada por fatores externos e biológicos, como as deficiências neurológicas, por exemplo. Em crianças que nasceram prematuras, no entanto, a doença está mais relacionada aos fatores de risco da mãe. “Ao nascerem antes da hora, os cérebros dos bebês não estão suficientemente prontos, por isso há relação com problemas biológicos”, explica. Os resultados da pesquisa apontaram que as meninas nascidas prematuramente, com menos de 28 semanas de idade gestacional, têm três vezes mais chances de desenvolver depressão. Mas essa condição também pode ser observada em bebês de ambos os sexos com baixo crescimento fetal. A depressão atinge de 1% a 2% das crianças e de 3% a 8% dos adolescentes no mundo. No Brasil, não há números exatos, mas há indícios de que cerca de 10% dos adolescentes sofram desse mal.

ESTILO DE VIDA

A psicóloga Joviana Quintes Avanci, pesquisadora da ENSP/Fiocruz, analisou o estudo sob as características das mães brasileiras, uma vez que são distintas das europeias. “No Brasil os fatores mais relevantes são os relacionados com os atritos familiares”, afirma.

A especialista acredita que, quanto mais precoce for a intervenção, mais adequado será o diagnóstico, uma vez que, em crianças, ele é mais difícil de ser feito. Ao acender a luz amarela sobre essa relação, esse estudo pioneiro permite que os pais possam acompanhar o desenvolvimento psicológico dos filhos desde cedo – e intervir com mais assertividade quando necessário.

EU ACHO …

UMA VACINA PARA A BURRICE

Neste final de ano uma notícia muito importante passou despercebida da grande mídia, que estava ocupada entre as festas de Reveillon e a natação do presidente.

É que cientistas de uma prestigiada universidade europeia acabam de publicar um estudo na revista Mind & Science, onde revelam que conseguiram isolar o vírus de uma doença terrível.

A Burrice.

Sim.

O estudo comprovou o que muitos especialistas já desconfiavam: a Burrice é uma doença contagiosa causada por um vírus.

Um vírus que não só atinge o indivíduo infectado, mas que muitas vezes causa uma mutação genética que pode transmitir a doença para todos os seus descendentes, segundo casos registrados, mas que os cientistas mantiveram em sigilo.

Pior.

Os cientistas revelaram que, na última década estamos enfrentando uma pandemia de Burrice cujas consequências podem ser até mais grave do que as do coronavírus.

Os primeiros sinais da pandemia de Burrice surgiram quando grupos de terraplanistas começaram a se reunir em todo mundo para divulgar suas ideias.

– Ali percebemos que alguma coisa estava acontecendo…ou era uma brincadeira ou estávamos diante deum perigo iminente, declarou o cientista líder do estudo.

Não era uma brincadeira.

O cientista continua:

– Quando começamos a estudar o que se passava no cérebro dos terraplanistas, várias mutações do vírus começaram a surgir culminando com a eleição do Donald Trump. Era Burrice para tudo quanto é lado.

Os cientistas, com intensa dedicação, conseguiram isolar o vírus.

Uma vez identificado, analisando sua composição genética, os pesquisadores traçaram a origem do Burrice-vírus há centenas de milhares de anos.

Comprovaram que quando o primeiro primata se apoiou apenas sobre duas patas, um Burropata a seu lado disse:

– Calma gentem que isso é modinha de verão! – e postou no Instagram com emojis de risadinha.

Mas foi a matemática, na Grécia antiga, o vetor de contaminação que levou a doença para todos os continentes.

O estudo é muito importante porque trouxe luz a um assunto tabu já que, como ocorre com diversas doenças neurológicas, o indivíduo que sofre de Burrice não se dá conta, ou não admite sua condição.

– Aceitar a doença é o primeiro passo para a cura – afirma um dos autores do estudo.

Se você está preocupado se está contaminado, faça um teste: se está compreendendo este texto, principalmente as entrelinhas, então pode ficar tranquilo.

Você ainda não se contaminou.

Mas é importante compreender sua forma de propagação.

O Burrice-vírus, é transmitido pela boca e contamina através do ouvido. Isso mesmo.

Um doente fala daqui e se você estiver distraído, e contamina daí.

E nem é necessário estar no mesmo ambiente.

A transmissão pode se dar pelo rádio ou pela televisão, caso inédito nos anais da Ciência.

O estudo informa ainda que o Burrice-vírus pode ficar hospedado, latente, por muitos anos sem que o indivíduo apresente sintomas.

No entanto, determinadas condições como a educação, o convívio com outros infectados, o poder, as eleições ou mesmo a ambição podem despertar o vírus adormecido. E aí, adeus.

A descoberta do vírus é uma notícia muito importante, porque dispara a corrida entre todos os grandes laboratórios para iniciarem as pesquisas por uma vacina.

Um famoso laboratório já está em contato com os pesquisadores para conseguir o material genético do vírus, matéria prima indispensável para a criação de uma vacina.

Ao menos começamos 202l com as esperanças renovadas para, em pouco tempo, o mundo todo conseguir exterminar um dos maiores males da humanidade.

Ou melhor, o mundo todo fora o Brasil afinal, vacina por aqui é assunto polêmico.

Se é que vocês me entendem.

MENTOR NETO – é escritor e cronista

OUTROS OLHARES

A PRAIA INCLUSIVA

Programas adotados em diversas cidades do litoral brasileiro garantem que pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida tomem um banho de mar pela primeira vez e até pratiquem surfe com apoio de voluntários e total segurança

Em Fortaleza, a praia de Iracema, além de ser centralizada e muito movimentada, conta com a equipe do programa Praia Acessível, que utiliza cadeiras anfíbias e esteiras de acesso para garantir que pessoas com dificuldade de movimentação consigam se banhar no mar. Todo serviço é acompanhado por instrutores e voluntários, além de ser gratuito. Nas praias do Rio de Janeiro, a acessibilidade é oferecida em mais de uma praia. Além dos serviços que auxiliam as pessoas com dificuldade de locomoção a tomar banho no mar, a ONG Adaptsurf dá aulas de surf adaptado, tanto teóricas quanto práticas. A equipe de voluntários é capacitada e conta com fisioterapeutas e profissionais de educação física. A procura é sempre alta.

Tratam-se de iniciativas altamente louváveis. Muita gente não conhece o mar, e nem é pela distância da praia. É pela dificuldade de se locomover em segurança pela areia e entrar na água, problema enfrentado por pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, de crianças até idosos. Nesse contexto é que projetos públicos e de ONGs se propõem a oferecer o serviço a essa faixa da população, garantindo que muitos tenham o direito de aproveitar a praia como qualquer cidadão. Iniciativas de acessibilidades nas praias estão se multiplicando pelo País e podem ser encontradas hoje, por exemplo, em Maceió, Natal, Bertioga, Guarujá, Santos, Balneário Rincão, entre outras.

Na praia dos Crushs, faixa da Praia de Iracema em Fortaleza, o programa Praia Acessível é sucesso desde que foi implantado em 2016. Até outubro de 2019, o serviço, fruto de parceria entre a prefeitura da cidade e o governo do Estado do Ceará, é gratuito e já atendeu mais de 7,5 mil pessoas. Ele funciona na maior parte da semana e todos os dias durante os meses de verão e de férias de meio de ano, além de ser sucesso de avaliação do público. Tais credenciais garantiram o primeiro lugar no Prêmio Nacional de Turismo em 2019, organizado pelo Ministério do Turismo. Suas cadeiras anfíbias podem ser utilizadas tanto na areia quanto na água, e a grande esteira de acesso leva do calçadão até a margem. Há também um grupo profissionais especializados que auxiliam os banhistas.

SURFE ACESSÍVEL

O secretário de Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, afirma que a satisfação com o trabalho garante o sucesso Programa Praia Acessível, tanto que a equipe de funcionários, cerca de 15, é praticamente a mesma desde o início. “Eu mesmo sempre vou lá quando posso, é um alimento da alma. Não só a pessoa fica feliz, mas a família também”, diz ele para descrever a sensação de ver as pessoas com mobilidade reduzida tomando um banho de mar pela primeira vez.

No Rio de Janeiro, a ONG Adaptsurf vai além: aliado aos serviços de acessibilidade do banho de mar, também reúne turmas de interessados em participar de aulas de surfe adaptado na Barra da Tijuca e no Leblon. Há também aulas de bodyboard e stand up paddle acessíveis. Desde 2007, já foram mais de quatro mil aulas de surfe oferecidas à população. O grupo trabalha com turmas de 25 alunos, aumentando a oferta em função da procura nos meses de verão e aceitando turistas para aulas experimentais. O fisioterapeuta e sócio fundador da Adaptsurf, Luiz Phelipe Nobre, ajudou a dar início ao projeto pelos benefícios físicos e mentais que tais atividades proporcionam às pessoas com deficiência. “Num mesmo espaço há várias pessoas, com ou sem deficiência, usufruindo das ondas e da praia – isso é inclusão social”, afirma. Ambos os programas, tanto o de Fortaleza como o do Rio, além de sucessos locais, atraem pessoas de outras regiões e estimulam o turismo. Pereira conta que percebeu um aumento no fluxo de visitantes na Praia de Iracema e Nobre afirma já ter recebido alunos para as aulas de surfe de diversos estados e até de outros países. Praias mais acessíveis são realmente uma excelente ideia.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 19 DE JANEIRO

VIGIE A PORTA DOS SEUS LÁBIOS

No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente (Provérbios 10.19).

Quem fala muito erra muito. Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio (Provérbios 17.28). A Palavra de Deus é categórica: Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar (Tiago 1.19). Muito transgride quem fala para depois pensar, fala sem refletir e fala mais do que o necessário. Devemos falar a verdade em amor. A verdade é o conteúdo, e o amor é a forma. A verdade sem o amor agride; o amor sem a verdade engana. Só devemos falar o que é bom e oportuno. Só devemos abrir a boca para transmitir graça aos que ouvem. O tolo fala muito e pensa pouco; fala muito e comunica pouco; fala muito e acerta pouco. O prudente, porém, modera os lábios e amplia sua influência. Fala pouco e reflete muito; fala pouco e comunica muito; fala pouco e abençoa muito. Devemos ser cautelosos em nossa fala, pois a vida e a morte estão no poder da língua. Podemos vivificar ou matar um relacionamento dependendo da maneira como nos comunicamos. A comunicação é o oxigênio que nutre nossos relacionamentos. Nossa língua, portanto, precisa ser fonte de vida, e não cova de morte; precisa ser medicina, e não veneno; precisa ser bálsamo que consola, e não fogo que destrói.

GESTÃO E CARREIRA

#TAMO JUNTO?

A sociedade no mundo do franchising pode ser – como diz o ditado – uma faca de dois gumes. Por isso, é importante conhecer bem com quem você vai dividir os seus sonhos empresariais. Executivos de redes brasileiras com partilham experiências que podem servir de exemplo para quem pensa em ter um sócio para chamar de seu.

Pode ser uma parceria de sucesso ou um encontro entre empreendedores que mais se parece um pesadelo. A tão temida – ou amada – sociedade no mundo dos negócios está presente em grande parte das empresas. Por um lado, pessoas podem somar vivências, conhecimentos e capital, mas, por outro, podem juntar visões opostas e níveis de comprometimento diferentes.

É importante pontuar os dois lados, pois nada é mais cercado de singularidades do que uma sociedade empresarial. Por isso, antes de qualquer coisa, é importante pesquisar a fundo o histórico de um potencial sócio para seus negócios. ”Além de conhecer o perfil, nos aspectos pessoais mesmo, é importante fazer o levantamento sobre a idoneidade dessa pessoa, se tem dívidas contra ela e como ela está nesse ponto de vista”, comenta o advogado especialista em franchising e sócio do escritório Cerveira, Bloch, Goettems, Hansen e Longo Advogados Associados, Daniel Cerveira.

Quando o assunto entra no mundo do franchising, os cuidados precisam ser ainda maiores. É muito comum os contratos de franquia terem restrições relacionadas à mudança da composição societária. “Há contratos que estabelecem um sócio como sócio operador, aquele que vai precisar estar diretamente ligado ao negócio, no dia a dia da sua condução”’, destaca Cerveira.

Então é importante, antes de assinar qualquer documento com a franqueadora, analisar e solicitar ajustes para que você não cometa nenhuma infração contratual com a entrada e saída de sócios.

TUDO EM CASA

Na rede de franquias Tio Coxinha, a formação societária já surge na própria franqueadora que é formada por dois casais de tios e sobrinhos. É algo familiar e que surgiu pela conjuntura e não foi pensada para ser assim. “A necessidade financeira e a vontade de montar o próprio negócio impulsionou a mim e a meu esposo a procurar os sócios. Fizemos a proposta a eles e hoje, além do financeiro, dividimos também as responsabilidades, preocupações e resultados”, revela a sócia-fundadora da marca, Elizabete Monteiro.

Para a receita dar certo, Elizabete e o marido, Jeferson, apostaram na jovialidade e no interesse em aprender que o sobrinho Tiago e sua esposa, Nayara, têm. A diferença de idades entre os casais é de mais de uma década. “Em uma sociedade, todos têm que estar de acordo para que as novas ideias aconteçam. São quatro cabeças diferentes pensando e com visões distintas, então esse processo de convencimento, não só meu, mas deles também, é o mais desafiador no dia a dia”, revela Elizabete.

MUDANÇAS

Mas o sucesso que Elizabete teve na sociedade logo de cara não foi o mesmo para o empresário da rede de franquias de segurança eletrônica Castseg, Márcio Castilho.

O empresário já teve alguns sócios na rede. “Comecei com o meu pai e depois tive outros que deram muito certo e outros que não deram tão certo. Estava decidido a não querer mais trabalhar em sociedade”, lembra o executivo.

Ele estava em busca de uma empresa de consultoria financeira. Ao conversar com um consultor de empresas focado em franquias, Castilho recebeu a indicação de Leandro Moura, que estava disposto a entrar em sociedade e dedicar o tempo para trabalhar. “Eu confesso que relutei, mas encontrei nele o sócio e a ajuda nas finanças que precisava, e está dando muito certo”, afirma Castilho.

A união tem dado certo, tanto que a rede está com mais de 200 lojas em 22 estados brasileiros e planeja crescer 25% em número de unidades até o fim de 2020.

CAMINHOS DIFERENTES

No entanto, nem sempre uma sociedade termina por motivos negativos, às vezes pode ser apenas uma mudança de rota. Foi o que aconteceu com o Grupo Haguanaboka, formado pelas marcas Torteria Haguanaboka e La Torta By Haguanaboka.

Valéria Verdi chegou a ter um sócio que estava no seu ciclo social. As famílias deles são amigas. Em um dos papos, decidiram que a expansão da marca poderia ser o momento certo para assinarem a sociedade. Ele tinha acabado de deixar uma multinacional. Ela queria deixar o legado do que criou. “Deu tudo muito certo por quase três anos, porém em 2018 decidimos romper a sociedade por motivos pessoais da parte dele, que foi apresentado a novos desafios profissionais, em outra cidade, mas em sua área de formação”, conta Valéria.

Foi um rompimento tranquilo, afinal, tudo entre eles era muito bem acertado: cada um tinha o seu espaço. Valéria cuidava do operacional das marcas e o ex-sócio era quem cuidava da burocracia. “Eu tinha 52% e ele 48%, então, eu tinha uma maior autonomia em decisões finais. Ele era mais tranquilo, e eu sempre mais agitada, com muitas ideias. Acredito que um completava o outro”, diz.

QUESTÃO DE DIVISÃO

Enquanto a sociedade de Valéria durou, as obrigações estavam bem distribuídas. Essa, inclusive, é uma das dicas mais importantes, segundo a consultora de franquias e coordenadora do Curso de Gestão Estratégica de Franquias, do IAG – Escola de Negócios da PUC Rio, Leila Toledo Martinho.

Leila reforça que existe m dois papéis distintos: o papel do investidor e o papel do operador. Ambos os sócios podem desempenhar os dois papéis, mas devem estar claras quais são as atribuições de cada um não apenas na sociedade, mas também na gestão do negócio. “Um pode ficar responsável pelas compras e pelo financeiro, coordenando a administração, e o outro pela gestão de pessoas e pelo comercial, lidando com a equipe e com os clientes”, exemplifica a especialista que conhece o mundo do franchising, afinal, foi executiva do Grupo Boticário e também sócia-franqueada de uma rede com 12 unidades O Boticário no Rio de Janeiro.

IDEIAS QUE NÃO BATEM

É recomendado que a empresa tenha processos e se estabeleçam pontos de controle para que ambos saibam o que vem sendo feito e possam tomar as decisões de forma conjunta. Reuniões de acompanhamento entre os sócios devem ser frequentes.

Entretanto, pode haver decisões divergentes, especialmente porque estamos falando de pessoas, e pessoas pensam e agem de forma diferente, aí, talvez, seja preciso discutir a relação. “Um sinal claro é quando os sócios evitam encontros, não conversam mais entre si, as reuniões vão ficando escassas. Outro sinal é o desinteresse. Um dos sócios passa a estar menos presente, não ter mais disponibilidade para o negócio, enfraquecendo a relação”, diz Leila.

Outro momento que justifica uma DR (discutir a relação) é quando se instala uma crise. A recomendação aqui é se concentrar no entendimento da situação e na busca de alternativas para sair da crise.

QUESTÃO DE EMPATIA

Na rede de alimentação Boali, não só o cardápio é saudável, a relação entre os sócios também. As DRs quase não existem, afinal, Rodrigo Barros, Victor Giansante e Fernando Bueno se dão bem enquanto sócios por uma questão de empatia. Eles têm o hábito de se colocar no lugar do outro. “A transparência e o respeito na relação é a força potencializadora da nossa sociedade”, comenta o CEO da Boali, Rodrigo Barros.

Nas raras vezes que entram em um embate percebem que o desacordo sempre traz aprendizado. Outro ponto determinante para os sócios da rede que oferece cinco modelos de negócios é a estrutura interna bem definida: é importante deixar claro quem está no comando e eles sabem bem disso. “O perfil dos sócios é do tipo complementar, sendo o Victor um apaixonado por gastronomia, o Fernando é mais analítico e cuida de toda a parte financeira, já eu sou mais de execução e comunicação”, descreve Barros.

AMIGOS NOS NEGÓCIOS

A empatia entre os sócios da rede Boali é semelhante à dos sócios da rede de prestação de serviços de limpeza Maria Brasileira. Felipe Buranello e Eduardo Pirré se conheceram em uma franqueadora no ramo de construção civil. De colegas de trabalho viraram bons amigos e, mais tarde, sócios na rede que é uma das maiores da América Latina no âmbito residencial.

Pirré fica muito à frente do mindset digital, como a implantação do e-commerce. Ele comanda a Maria Brasileira digital porque gosta de tecnologia, é muito focado nisso. Já Felipe é mais tradicional, cuida da parte institucional, contato com franqueados, consultoria, operacional, coordena a parte financeira e o jurídico, ou seja, a parte burocrática. Ele é daqueles que anda com uma agenda debaixo do braço.

Para os dois empresários, a sociedade é praticamente um casamento. “Tem que ter uma visão igualitária em um ponto específico: colocar sempre o bem-estar da empresa em primeiro lugar”, opinam os sócios que tem um trato: não trabalham com parentes, afinal, defendem que nunca se deve contratar quem não se possa demitir.

Eles são famosos entre os franqueados da Maria Brasileira por terem uma relação próxima até mesmo no escritório. Não existem salas separadas, sentam-se juntos no mesmo espaço.

QUESTÃO DE FAMA

Já na rede Saladenha, a fama dos sócios se dá por outro motivo. Os empresários Renato Flora e Pedro Almeida contam com um novo e ilustre sócio: o chef de cozinha, empresário e apresentador de TV Edu Guedes. ”Um sócio ‘famoso’ abre muitas portas, tem uma rede de relacionamento fora da curva, e isso faz com que aceleremos os processos, diminuindo a curva de aprendizado”, pontua o sócio-diretor da marca, Pedro Almeida. Atualmente, com nove unidades espalhadas entre a capital e o interior paulista, além dos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, a chegada de Guedes ao comando da Saladenha intensifica os trabalhos de expansão da marca pelo País projetados para os próximos dois anos, com previsão de abertura de 60 novas unidades até 2021.

NOS TRILHOS?

Independentemente se você é franqueador ou franqueado, o especialista em franquias do IAG da Puc Rio, Marcos Caiado, diz que a melhor forma de se evitar conflitos é trabalhar antes, ou seja, na prevenção. “Quando os sócios sentem que suas expectativas não estão sendo alcançadas, é preciso entender o porquê. O diagnóstico é fundamental”, complementa Caiado.

Se os sócios não conseguirem equacionar o problema, o ideal seria compartilhar esta informação com quem tem mais experiência

Nesse caso, se falarmos de sócios franqueados, a dica é ir atrás de ajuda do franqueador. “Este poderá oferecer algumas propostas de solução. Uma delas é auxiliar os sócios na reorganização das ações de cada um no negócio. Outra hipótese seria um dos sócios comprar a parte do outro ou ainda passar o negócio para um outro franqueado”, elenca o especialista.

Ao chegar a esse ponto, o melhor a se fazer é procurar um advogado. O sócio do Urbano Vitalino Advogados, especialista em Direito Contratual e Administrativo, Hermes de Assis, lembra que contratos de franquia são instrumentos usualmente pesados e que merecem atenção, ainda que muitas vezes não haja grande espaço para negociações. “A alteração costuma precisar da concordância de todos. Este é o primeiro ponto. No caso das franquias, acrescenta-se a necessidade de anuência do franqueador. Supridos esses dois requisitos, a mudança dos sócios se dará mediante a alteração do contrato social da empresa, com o respectivo registro na junta comercial competente”, finaliza Assis.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MANDA NUDES?

O sexting, que se tornou a única alternativa para muitos solteiros nesta quarentena, tem servido para aplacar a solidão, aprofundar o autoconhecimento e despertar novos sentidos

Vestindo apenas uma lingerie preta de renda e uma correntinha dourada no pescoço, Carolina Costa, de 36 anos, começa um ritual que vem se tornando cada vez mais frequente na vida da engenheira paulistana, que vive hoje na Alemanha. À meia-luz e com o celular apoiado em um suporte na cabeceira, ela solta o sutiã e aperta os seios com as mãos, em uma performance que é assistida em tempo real por seu crush paulista, a quase 10 mil quilômetros de distância. Os dois se conheceram pelo Instagram naquela sequência conhecida de curtição de fotos e papinho nos Stories até engatar uma conversa mais intensa via Direct.

“Já tinha feito sexo virtual alguma vezes, mas acontecia mais quando estava com insônia, conversando com algum contatinho. Na pandemia, como não tive alternativa, comecei a praticar”, diz Carolina. Isolada no período da quarentena europeia e fazendo home office, o meio virtual se tornou o único cenário possível para o sexo. “A parte chata é a técnica. Às vezes, estou no clima, mas preciso ajustar a luz ou fazer testes para checar se estou no meu melhor ângulo”, confessa.

Na opinião da psicóloga e sexóloga Ana Canosa, as formas com que nos relacionamos precisaram se reinventar durante o isolamento. “O sexting, que consiste na troca de mensagens picantes pelo WhatsApp, o envio de nudes e as orgias pelo Zoom acabaram se tornando uma maneira de o ser humano resolver suas limitações. As práticas já faziam parte do mundo, mas foram se intensificado na pandemia”, diz.

No caso da publicitária Maria Clara*, de 33 anos, foguinho e gotinhas d’água na lista de emojis preferidos no WhatsApp simbolizam bem este período. “Funciona assim: você conversa com a pessoa e, se curtir minimamente, faz [sexo virtual]. Começa com uns nudes, engata a primeira foto e vai”, resume. Ela conheceu a maioria dos seus affairs no aplicativo OkCupid, que conecta os candidatos de acordo com estilo de vida, gostos e espectros políticos – a seleção inclui até a pergunta “Bolsonaro sim ou não?”. “Diria que é o meio do caminho entre se masturbar sozinha e trepar com alguém na vida real”, explica. Ela toma o cuidado de não mostrar o rosto nas trocas de vídeos e imagens, mas não esconde as diversas tatuagens espalhadas pelo corpo. “Não tenho vergonha de nada.

Quem compartilha é que deve ter.” Os conteúdos prediletos enviados por ela são fotografias dos seios e vídeos em que se masturba, além de áudios gemendo: “Nossa, isso funciona muito, mas já os caras não têm muita criatividade”, ela diz. E confessa que, no mundo virtual, sente-se bem mais à vontade para falar o que presencialmente não teria coragem.” Não sei ser vulgar transando com alguém na vida real.”

A vantagem das relações on-line, segundo a psicóloga Ana Canosa, é poder escolher como se mostrar para o mundo, já que o sexo presencial envolve certo medo do julgamento do outro. Para ela, o fenômeno do slow love, que é a chegada do amor mais tardiamente, faz com que os jovens tenham relacionamentos com menos profundidade no decorrer da vida. “Claro que as pessoas que gostam de envolvimento vão sentir muita falta, mas outras não”, explica. De acordo com enquete realizada em maio deste ano dentro do aplicativo Happn, 31% dos usuários brasileiros praticaram sexting durante a quarentena – deste total, 16% enviaram mensagens eróticas, 10% compartilharam fotos e 5% trocaram vídeos. A série Emily em Paris, da Netflix, promete apimentar ainda mais esse universo. A trama, do mesmo criador de Sex and the City, narra as peripécias sexuais contemporâneas a partir da personagem interpretada por Lily Collins, filha do cantor Phil Collins.

A educadora sexual Gaia Qav, de 38 anos, criadora do perfil Meu Clitóris, Minhas Regras no Instagram (@meuclitorisminhasregras), acredita que o contato virtual traz à tona a forma como você se olha e aceita o seu corpo. “Quando a gente transa presencialmente, não está se vendo, mas sim a outra pessoa. Já no sexo virtual é preciso se confrontar. E como é que você se enxerga? Está gostando do que vê ou escolhe o melhor ângulo e coloca um filtro?”, questiona. Com mais de 120 mil seguidores, Gaia já está na 10ª edição de seu curso on-line de masturbação para mulheres e homens trans. O maior problema, para ela, ainda é a falta de conhecimento próprio. “A grande maioria nunca olhou suas partes íntimas no espelho. A referência que as mulheres têm ainda é a dos filmes pornôs, com vulvas perfeitas, sem pelos encravados e manchas, corrigidas com edição”, diz. Ela ainda lembra que desde pequenas somos proibidas de nos tocar: “Já reparou como chamam nossa vagina? De aranha, perereca, sempre algum animal nojento”. O primeiro exercício proposto nas suas aulas é que os participantes olhem no espelho e teçam cinco elogios a si mesmos. “Muitos não conseguem, mas se você não pode se olhar e lacrar que é foda, como vai aceitar seu corpo e entender que merece sentir um orgasmo?”, pergunta a educadora. A tarefa seguinte é abrir as pernas, também na frente de um espelho, e examinar tudo, identificando cada parte e experimentando o toque sem pudores. Gaia tem uma companheira há mais de dois anos que mora perto de sua casa, em São Paulo, mas elas só se viram presencialmente duas vezes desde o início da quarentena, em março. “Moro sozinha, mas minha namorada tem dois filhos, então, esperamos alguns meses para ver como a situação ia ficar. São muitas fotos, áudios, vídeos e telefonemas, tudo o que a tecnologia proporciona. É uma forma diferente de despertar os sentidos.”

Os encontros virtuais também foram a maneira que a carioca Bruna Lanza, de 22 anos, encontrou para manter seu relacionamento ativo. Estudante de cinema e estagiária de um canal de televisão, ela conheceu seu novo namorado no Carnaval, pouco antes da pandemia se alastrar pelo país. “A irmã dele não queria de jeito nenhum que ninguém entrasse nem saísse de casa, então ficamos um tempão sem nos ver”, conta. O jeito foi intensificar o costume que os dois já tinham de trocar nudes e mensagens picantes, principalmente pelo Direct do Instagram. “Ao vivo, não sou de falar putarias, mas, virtualmente, falo bastante. O legal é que posso assumir um novo papel.” No seu caso, o hábito de se filmar e se ver nas fotografias elevou a autoestima: “A gente não tem o costume de se olhar e, com as imagens e vídeos, acabei me sentindo mais sexy”.

Algo parecido aconteceu com o pesquisador de tendências João Pacca, de 36 anos, que consegue agora expor sua “persona erótica de dentro do quarto e sem correr riscos”. Para ele, que está isolado e trabalhando de casa, o sexo virtual, que antes era coadjuvante, ocupou o protagonismo nesse filme que se chamou 2020. As chamadas em vídeo, também, permitiram uma interação em outra camada da realidade, articulando novas representações e fetiches. Ele pondera, no entanto, que os grandes desejos são construídos com a intimidade, o que leva tempo. “Na internet, sinto que os encontros são orgásticos, rápidos e pequenos, mas não sei se estou tendo algum preconceito.”

Para evitar a superficialidade que às vezes parece regra nas redes sociais, o fotógrafo e artista Thiago Castro, de 31 anos, faz questão de ir além do sexo. “Tento mostrar preocupação pela pessoa que está por trás da tela, porque não quero seguir com a normatividade de ‘gozou, acabou o interesse’. Nunca gostei disso nem presencialmente”, explica. Após a separação da mãe de seu filho pequeno, ele ingressou no Tinder para encontrar mulheres fora de sua bolha. “Conheci uma pessoa que despertou um desejo diferente do que estava acostumado – que era basicamente troca de imagens de órgãos sexuais -, e começamos a construir narrativas com a escrita e com a imagem, quase como se fosse uma obra de arte”, compara. Thiago também aproveita seu conhecimento artístico para criar, nas fotografias e nos vídeos que compartilha, composições repletas de poesia que brincam, inclusive, com os jogos de luz e sombra. O sexo, assim, passou a ser muito mais prazeroso.

GESTÃO E CARREIRA

BOMBE SUAS FINANÇAS

Descubra 12 estratégias que vão ajudar você a ter um ano com o bolso cheio

Da máxima que dinheiro não traz felicidade. Verdade ou não, nos cinco últimos anos, para muitos brasileiros, ele trouxe coisa pior: dor de cabeça. Além de faltar educação financeira por aqui, o país experimentou uma de suas piores crises da história recente. Hoje, o Brasil tem 12,5 milhões de desempregados e 62 milhões de pessoas endividadas, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Com as dificuldades batendo à porta, controle de orçamento, planejamento financeiro e investimentos ficaram em segundo plano.

Mas, aos poucos, a economia dá sinais de melhora. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil, o número de brasileiros registrados em cadastros de inadimplentes recuou 0,27% em novembro ante o mesmo período de 2018 – foi a primeira vez em dois anos que esse indicador apresentou recuo. Fatores como a liberação de saques no FGTS ajudaram, é fato, mas para muitos especialistas o cenário está melhor do que em anos anteriores. ”A economia vive de ciclos de expansão e retração. Entre 2015 e 2017, tivemos retração acumulada de 8,5%, mesmo nível de uma nação em guerra. Nessa situação, empresas reduzem de tamanho e pessoas perdem o emprego. Agora estamos na retomada”, diz Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos. “Aprovando as reformas e melhorando o resultado fiscal, o crescimento do PIB deve chegar a 2% [em 2019 ficou em 0,8%]”, completa Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Se os juros se mantiverem no patamar atual, 4,5%, e as mudanças propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, avançarem no Congresso, a expectativa é que o mercado se reaqueça. Mostramos, a seguir, 12 estratégias para você aproveitar o clima de otimismo e mudar sua relação com o dinheiro em 2020. A hora é agora.

PASSO 1 – OR6ANIZAR O ORÇAMENTO ANUAL

O primeiro passo para colocar a casa em ordem é mapear quais são os gastos fixos, os variáveis e os pontuais e infalíveis, que surgem todo começo de ano, como IPVA, IPTU e material escolar. Comece 2020 fazendo um prognóstico de despesas e receitas de janeiro a dezembro. Seja detalhista e inclua até mesmo as previsões de compras de presentes em datas comemorativas, como Dia das Mães, dos Pais, dos Namorados, das Crianças, Páscoa e Natal. “Vale muito a pena fazer isso. Se você sabe que terá um gasto, começa a se planejar com antecedência e aproveita melhor datas como a Black Friday”, diz Renatta Gomes, consultora financeira. Outra orientação é dividir o valor integral de taxas como IPVA e IPTU por 12 para entender o impacto dessas contas no orçamento anual – prática que ajuda a prever quanto deve economizar mês a mês para não iniciar o ano desprovido de recursos. Os exercícios podem parecer óbvios demais, mas a realidade é que o brasileiro não chega nem perto disso. Dados do SPC e da CNDL mostram que 46% das pessoas não sabem o valor exato de suas contas básicas, como água, energia, telefone, aluguel, plano de saúde e condomínio; 53% desconhecem a própria renda mensal; e 52% não têm a menor ideia de quantas parcelas de compras realizadas no crédito ainda faltam ser pagas.

PASSO 2 – COLOCAR METAS PARA GASTOS NO DIA A DIA

Organizar o orçamento, conforme sugerido no passo anterior, não é sinônimo de fazer planejamento financeiro. São etapas diferentes. “O orçamento serve para ter clareza sobre quanto entra e quanto sai, enquanto o planejamento é o que você fará com o dinheiro”, diz Renatta. Seja no caderno, seja na planilha de Excel, seja no aplicativo de celular, as únicas regras inegociáveis são colocar metas para despesas variáveis do dia a dia, como alimentação, roupa e lazer, e registrar tudo, do chiclete ao sapato parcelado. Só assim é possível identificar as compras fantasmas que corroem o orçamento. Valéria Meirelles, especialista em psicologia financeira, reforça que o hábito de anotar leva ao autocontrole. Ao registrar o que gastou, a pessoa percebe os próprios excessos e identifica quando, como e por que perde a linha. Ou seja, planejar gera um importante mecanismo mental: o de racionalizar o ato da compra, conscientizando-se de que a escolha de um item pressupõe a renúncia de outro para não extrapolar o orçamento.

PASSO 3 – RENEGOCIAR DÍVIDAS

Com o planejamento desenhado, o pagamento de dívidas vira prioridade. Olhe para os gastos com calma e veja tudo o que pode ser cortado sem prejuízo. A ideia é usar toda e qualquer sobra de receita para a quitação dos débitos. Nesse processo, troque dívidas caras por baratas. Um exemplo? Você entrou no cheque especial, com taxas que chegam a 100% ao ano. Nesse caso, é melhor fazer um empréstimo consignado, com tarifas anuais de cerca de 25%, e cobrir o limite. Outro truque eficiente é unificar as dívidas, o que torna seu gerenciamento mais simples. Acordos e renegociações também são úteis, desde que estejam adequados à sua capacidade de pagamento. “Tenha atenção ao valor do parcelamento para não se enrolar de novo”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil. A dívida precisa caber com folga no orçamento mensal. Apesar de cada caso ser um caso, especialistas não indicam comprometer mais de 30% do salário com prestações.

PASSO 4 – FAZER UMA RESERVA DE LIQUIDEZ DIÁRIA

Bernardo Pascowitch, fundador da plataforma Yubb, marketplace de investimentos, pontua que a primeira medida assim que começa a sobrar algum dinheiro é constituir um fundo de emergência, composto de ativos de liquidez diária. “Por mais arrojado que seja, o investidor precisa ter uma reserva de liquidez para situações de demissão, doença e redução do poder de compra”, diz. Para isso, ele indica o Tesouro Selic, os CDBs e as Letras de Câmbio (LCs), emitidas por financeiras para o custeio de empréstimos.

PASSO 5 – COMEÇAR A INVESTIR EM RENDA VARIÁVEL

Uma vez constituída a reserva de emergência, com o equivalente a seis meses de salário, trace metas mais ousadas para o dinheiro que pretende aplicar. Isso porque o cenário de juros baixos exige diversificação. “A Selic não só está baixa como também muito perto da inflação. Hoje, você instala um aplicativo e já começa a investir. O acesso é muito fácil”, afirma Thiago Salomão, da Rico Investimentos. Entre as opções indicadas pelos experts estão os fundos multimercado, os fundos imobiliários e as ações. Apesar do risco, o momento não é ruim para a renda variável. Ao longo de 2019, a bolsa de valores B3 atingiu resultados históricos, fechando o ano em mais de 100.000 pontos. De acordo com o relatório da Rico, papéis como os da varejista Magazine Luiza (MGLU3) e de empresas alimentícias como Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) valorizaram 96%, 106% e 128%, respectivamente. Mas, como o sobe e desce oscila com o humor do mercado, não custa tomar cuidado. Felipe Paiva, diretor de relacionamento com o cliente da B3, ressalta a importância de o investidor se manter atualizado em relação ao desempenho das companhias listadas na bolsa. No site da B3 é possível acompanhar a curva dos ativos negociados e verificar em tempo real as cinco ações que mais subiram e caíram no dia. Algumas apostas do mercado para 2020: espera-se que o segmento de varejo continue expandindo, turbinando os papéis de companhias como Magazine Luiza, Via Varejo (VVAR3) e B2W (BTOW3) – grupo composto de Submarino, Shoptime e Americanas.com. A área de infraestrutura também promete, com destaque para EcoRodovias (ECOR3) e Taesa (TAEE11). Vale ficar de olho ainda nas small caps, cujo índice acumulou alta de 30% em 2019 e que contêm títulos de empresas como Movida (MOV13), Totvs (TOTS3) e Arezzo (ARZZ3).

PASSO 6 – APRENDER A LER O CENÁRIO

Saber analisar os sinais que a economia emite é uma característica elementar do bom investidor. Para desenvolver essa competência, é essencial pesquisar indicadores e apontamentos de mercado. Vamos analisar o caso do setor imobiliário. Nos últimos anos, essa área foi afetada pela recessão. Com a lenta retomada, no entanto, voltou a aquecer. Numa busca rápida na internet é possível encontrar a informação de que o número de imóveis comercializados na cidade de São Paulo aumentou 46,6% entre 2015 e 2019. Mas isso não significa que investir neles seja um bom negócio agora. “Há muito imóvel vago, e quem está pensando em comprar uma propriedade como forma de investimento deve pensar bem. Isso porque corre o risco de ficar com o imóvel parado e ainda perder dinheiro com IPTU e condomínio”, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A sugestão para ganhar dinheiro é buscar um fundo imobiliário, que reúne ativos de shopping centers, complexos empresariais, prédios hospitalares e hotéis. Fabio Carvalho, sócio da gestora de recursos focada em investimentos imobiliários Alianza, afirma que esse tipo de aplicação vive uma “fase de ouro”. “O lfix [Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários] está em alta histórica. E, como os contratos de aluguel ainda estão com os valores baixos por causa da crise e se acredita que serão substituídos por acordos melhores, a previsão é de melhoria nos dividendos”, diz Fabio. Até outubro, o lfix havia acumulado 18,7% no ano. Além disso, um levantamento da Colliers lnternational Brasil, realizado no terceiro trimestre de 2019, indica que a taxa de vacância nos escritórios de alto padrão na capital paulista atingiu o índice de 14%, o menor em seis anos. Mas, de novo, é importante fazer avaliações criteriosas. “Há fundo que subiu 200%, mas a rentabilidade caiu 3% ao ano. Outros têm um único imóvel, o que é arriscado”, alerta. Hoje, as principais corretoras do país oferecem esse tipo de renda variável a partir de 100 reais. Embora envolva risco, tem a vantagem de ser isenta de IR.

PASSO 7 – RESERVAR 13º, RESTITUIÇÃO NO IR E OUTROS “EXTRAS”

O sucesso financeiro depende, em boa medida, da capacidade de economizar. Por isso, coloque como meta para 2020 poupar integral ou parcialmente o 13º salário, a restituição do imposto de renda e qualquer outro ganho extra. Se for utilizar esses recursos, que seja com inteligência, pagando aquelas contas pesadas de janeiro, como IPTU, IPVA e material escolar. “Reserve com antecedência parte do 13º salário, do saque do FGTS e de outros adicionais para cobrir esses custos”, orienta Michael Viriato, coordenador do Laboratório de finanças do lnsper. A Serasa indica também utilizar esses valores para pagar dívidas à vista ou, então, para adiantar parcelas de empréstimos ou financiamentos, obtendo descontos. Se for tirar o dinheiro de seu FGTS autorizado pelo governo (até 998 reais) ou fazer o Saque­ Aniversário (opção que permite retirar uma quantia pré-estipulada do fundo no mês de nascimento), não torre com supérfluos. Se não for usado para pagar dívidas, esse montante deve virar investimento, com um rendimento superior aos 3% anuais do fundo previdenciário.

PASSO 8 – FAZER AS PAZES COM O CARTÃO DE CRÉDITO

Ao contrário do que muitos acreditam, o cartão de crédito não precisa ser vilão. De acordo com a consultora Renatta, quando usado com consciência, ele é um parceiro. “Se você tem um Limite diário ou semanal preestabelecido em seu planejamento, consegue pagar tudo e ainda aproveitar os descontos dos programas de fidelidade”, explica. Embora cada banco e bandeira tenha o próprio plano de milhagem, há opções em que, a cada dólar gasto, o consumidor recebe até 2,5 pontos, que podem ser trocados por passagens aéreas, hospedagens em hotéis e até eletrodomésticos. A dica para usar bem o cartão é não comprometer mais do que 30% da renda mensal com a fatura. Se você utiliza esse método para pagar aplicativos de carona, serviços de streaming e compras pela internet, lance esses gastos em seu controle mensal. E esteja atento ao prazo de vencimento da fatura – afinal, os juros rotativos no Brasil chegam a absurdos 300% ao ano.

PASSO 9 – CALCULAR IMPOSTOS COM ANTECEDÊNCIA

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) revelou que, no ano passado, os brasileiros pagaram em tributos para os governos federal, estadual e municipal o equivalente a 153 dias de trabalho – ou cinco meses de salário. É como se o dinheiro começasse a entrar na conta, de fato, em junho. E só a organização é capaz de reduzir os impactos dessa mordida gigante do Leão. “Separe todos os documentos de transações financeiras e patrimoniais numa pasta chamada IR”, orienta Bernardo Sermenho, gerente sênior da consultoria de contabilidade Mazars. O hábito de guardar tudo num mesmo lugar, de maneira ordenada, ajuda na hora de prestar contas. Todos os anos, a Receita Federal divulga quais gastos podem ser abatidos e o Limite de cada um. Em 2019, os valores gastos com pensão alimentícia, contribuição da previdência social e despesas de saúde podiam ser abatidos integralmente. Já gastos com educação são limitados a 3.561,50 reais, sendo que as despesas são restritas ao ensino infantil, fundamental, médio, superior e profissional – cursos extracurriculares, como o de idioma, não são aceitos pelo Fisco. Ainda é possível abater 2.275,08 reais por dependente informado na declaração e 1.200,32 reais em despesas com empregado doméstico. Já quem opta pela declaração simplificada garante um abatimento de 20º limitado ao teto de 16.754,34 reais. Se estiver na dúvida sobre qual modelo é mais vantajoso, a dica é preencher toda a declaração como se fosse fazer a versão completa. Ao final, o próprio programa da Receita indica qual modelo gerará menos imposto. E aqui vai uma informação: segundo o SPC Brasil, só vale pagar à vista o IPTU se o desconto for maior do que 1,5%; e o IPVA, se for maior do que 0,5%. Caso contrário, parcele e deixe o resto do dinheiro rendendo em alguma aplicação de alta liquidez.

PASSO 10 –   BUSCAR TAXAS MAIS BARATAS

De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (ldec), de abril de 2017 a março de 2019, os grandes bancos elevaram em média 14% o preço das cestas de serviços de conta- corrente, quase o dobro da inflação no período (7,45%). Para quem busca economizar, os serviços digitais são uma opção. “Dá para escolher o banco pensando em suas necessidades e seu estilo de vida”, diz Ingrid Barth, diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). Só fique de olho na questão da anuidade. Mesmo que o valor seja “zero”, avalie os demais encargos cobrados, como saques em Banco 24 Horas, transferência de recursos para terceiros e segunda via de cartão. “Se ficar atenta a taxas como as de TED e de manutenção de conta, a pessoa chega a economizar, em 12 meses, até 500 reais”, alerta Michael, do lnsper.

PASSO 11 – DEFINIR PROJETOS DE VIDA

Quais são os sonhos que gostaria de realizar a partir de 2020? Uma viagem internacional, um MBA, aquela festa de casamento? Especialistas recomendam escrever os principais objetivos no papel, definindo o prazo e o preço de cada um deles. Anote e cole na geladeira ou no painel de recados do escritório – para ter sempre próximo à visão. A economia comportamental mostra que esse tipo de exercício ajuda a programar o cérebro para guardar rendimentos em vez de gastá-los no impulso. “Economizar é algo que requer um incentivo. E esse incentivo são os sonhos”, diz Renatta. Mapear os objetivos de vida, para além da aposentadoria, também possibilita melhorar a estratégia de investimento, com aplicações mais inteligentes. Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, recomenda para o curto prazo, até dois anos, as Letras de Crédito Imobiliário (LCls) prefixadas, isentas de IR.

PASSO 12 – INICIAR O PLANO DE APOSENTADORIA

Em vigor desde novembro, a reforma da Previdência aumentou a idade mínima de aposentadoria das mulheres de 60 para 62 anos e manteve a dos homens em 65 anos. Além disso, o tempo de contribuição aumentou de 15 para 20 anos. Quando o segurado atinge os requisitos mínimos, tem direito a 60% do valor integral da aposentadoria, acrescido de 1% a cada ano excedente de trabalho – até então tinha direito a 70%. As mudanças evidenciam a necessidade de um plano B para complementar a renda no futuro. Miguel, diretor da Anefac, lembra ainda que os gastos aumentam na velhice, sobretudo por causa de custos com médicos e planos de saúde. “Todo mundo tem de fazer um pé-de-meia, porque esse dinheiro vai complementar o benefício. Lá na frente. Aconselho buscar uma previdência privada e fundos, tanto de renda fixa quanto variável. Quanto antes começar ajuntar dinheiro, menor será o esforço e o sacrifício mensal”, diz. Embora não exista uma receita de bolo na hora de decidir quanto poupar para o futuro, os parâmetros mais usados são 15% do salário até os 40 anos e 30% depois. Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Lembra ainda que quem não é CLT consegue contribuir em paralelo ao INSS. “Donas de casa, estudantes e pessoas com atividades remuneradas, sem carteira assinada, podem depositar facultativamente”, afirma. Para isso, basta se cadastrar no INSS e gerar todo mês a guia de pagamento de Contribuinte Facultativo. Nesse caso, existem quatro opções de valores: 5%, 11% e 20% do salário mínimo, ou então o teto, de 1.167,89 reais.

EU ACHO …

O MACHISMO NA LINGUAGEM

É urgente adaptar a gramática às questões de gênero atuais

Tenho uma história para contar. A questão de gênero vem ganhando espaço, e na linguagem essa batalha anda intensa (não vou nem falar naquela bobagem de que menina veste rosa e garoto veste azul, dita pela ministra). A questão toca fundo quando se usa o plural. Um conhecido fazia aula de balé, lá pelos 16 anos. Era o único rapaz entre vinte garotas. A professora até tentou dizer “meus alunos”. Mas estava tão acostumada que chamava: “Meninas!”. Ele estranhou. Depois, acostumou-se. Impedir a professora como? Monteiro Lobato, por meio da boneca Emília, já observava: numa maioria absolutamente feminina, por que usar o masculino? Sem ser aquele tipo de radical que só sabe vociferar, reconheço que a gente fala de um jeito machista. A linguagem evoca uma supremacia masculina, em que o feminino sempre ocupa o segundo lugar. A mudança começa a acontecer. Várias pessoas que conheço não falam mais todos ou todas. Mas todxs (não me perguntem como se pronuncia, tentei dizer e engasguei). Não é bobagem. Através da linguagem as pessoas formulam, incorporam conceitos, maneiras de ver a vida e de lidar com o próximo. Se a mulher for inferiorizada no modo de falar, as pessoas acreditarão que ela é inferior. Mas a linguagem é mutável, flexível, as palavras vêm e vão. Nossa língua, o português, não surgiu do latim? Qual o problema da mudança, se novos tempos requerem uma nova maneira de falar?

Parece lógico. Mas virou uma discussão político-ideológica que não sei aonde vai parar. Em novembro do ano passado, a direção pedagógica do Colégio Franco – Brasileiro, do Rio de Janeiro, enviou uma circular propondo que se adotasse a “neutralização” da linguagem. Em vez de “queridos alunos”, poderia ser dito “querides alunes”. Ou “queridos alunos e alunas”. Dizia: “A neutralização do gênero gramatical consiste em um conjunto de operações linguísticas voltadas tanto ao enfrentamento do machismo ou do sexismo no discurso quanto à inclusão de pessoas não identificadas com o sistema binário de gênero”. Veja bem, não era obrigatório. Mas veio uma revoada de pais. Enviaram um manifesto com 85 assinaturas, revoltados, com um anexo repleto de ironias. O colégio voltou atrás. Uma lástima, porque a Terra continua girando. Não é porque os pais são contra a questão de gênero que deixarão de existir alunos (alunes?) trans…

A Associação Brasileira de Autores Roteiristas (Abra), em seu novo estatuto, também mexeu nesse vespeiro. Optou pelo abandono da linguagem tradicional, em que o masculino predomina. Adotou a referência a pessoas. Foi o suficiente para vários autores se retirarem, acreditando que seriam chamados de autoras-roteiristas. Ainda há um burburinho em cima disso. Não me importa. A mudança é permanente, acredito nela. Se me chamarem de autor, autora, autore, autorx, tudo bem. Continuo escrevendo do mesmo jeito. Que venham os novos tempos.

*** WALCYR CARRASCO             

OUTROS OLHARES

A OUVIDORIA DO ABUSO

Arquidioceses brasileiras instalam as primeiras comissões para apurar denúncias de crimes sexuais cometidos por padres e religiosos

Depois de 17 longos anos desde a explosão de denúncias de abusos sexuais por parte de padres e religiosos nos Estados Unidos e no mundo, a Igreja Católica começa agora a estruturar canais específicos para receber essas acusações e investigar mais a fundo todas elas. O processo foi lento e a ação só começou após a determinação clara e direta feita pelo Papa Francisco, em agosto do ano passado, na Carta Apostólica denominada “Vós sois a luz do mundo”, que obrigou todas as dioceses espalhadas pelo planeta a implementar sistemas para apuração dos casos. No Brasil, Porto Alegre foi a primeira diocese a implantar uma ouvidoria específica para receber denúncias de abuso. Foi seguida por São Paulo e outras devem surgir. Desde 2003, a Igreja vem tentando administrar um problema que só cresce. Mas só com essa determinação para que se organizassem para receber e, principalmente, investigar os casos de abuso é que se iniciou o movimento. Segundo o padre Fabiano Schwanck Colares, coordenador da Comissão Arquidiocesana Especial de Tutela de Criança, Adolescente e Pessoa Vulnerável de Porto Alegre, a demora ocorreu porque foi preciso, inicialmente, estabelecer as regras, respeitando tanto o Direito Canônico como o Direito Civil e definir, junto com o Ministério Público (MP), quais as formas de se apurar as denúncias feitas.

Especialista em Direito Canônico, Colares foi o primeiro representante da Igreja brasileira a manter contato com a comissão de apuração de casos de abuso formada em Boston, que deu origem a todas as investigações após o escândalo provocado pela descoberta dos casos nos Estados Unidos. “Queríamos formatar uma comissão multidisciplinar como foi feito pelos norte-americanos, que tivesse psicopedagogos, psiquiatras, assistentes sociais, representantes do Ministério Público, da polícia, da igreja e todos os especialistas que pudessem ajudar na apuração dos casos e na assistência aos envolvidos”, explica o padre. Anunciada no dia 26 de fevereiro, a comissão de Porto Alegre obedece às normas do Vaticano atuando em duas frentes. A primeira é preventiva, para evitar que novos casos ocorram, oferecendo esclarecimentos tanto para os religiosos como para a população que frequenta igrejas e colégios católicos. A segunda frente é a do acolhimento e apuração das denúncias.

TRABALHO PREVENTIVO

A equipe segue um regulamento próprio que delimita o funcionamento e diz o que compete a cada um. A comissão terá reuniões ordinárias e sempre com uma pauta específica. “Até agora só recebemos alguns telefonemas que ainda não se tornaram denúncias formalizadas. Precisamos levantar informações para ver a consistência das denúncias, conforme nos orientou o MP”, diz Colares. As igrejas também estão iniciando o trabalho preventivo, começando a falar de assuntos tabus, o que inclui os casos que já existem de pedofilia. O segundo ponto é auxiliar tanto funcionários como as próprias crianças a identificarem o que é um abuso para que possam detectar o problema mais cedo. A comissão vai apurar casos nos 29 municípios de abrangência da Arquidiocese de Porto Alegre. Se a denúncia se confirmar, tudo é notificado ao Vaticano que vai julgar e dar o poder de emitir sentença ou encaminhar para o Tribunal Eclesiástico, que tem estrutura interna para discutir, como explica Colares, acrescentando que o processo todo, desde a denúncia até a apuração, deve levar no máximo 90 dias. A pena máxima para um padre que cometeu crime vai desde demissão clerical até o desligamento religioso. “Não vamos conseguir voltar no tempo, mas o tempo de silêncio não acontecerá mais”, diz taxativo o representante da igreja.

Em São Paulo, a arquidiocese também lançou seu canal de denúncias contra os abusos. As denúncias poderão ser apresentadas de modo presencial, por e-mail ou por carta, mas não serão aceitas informações anônimas. Elas deverão fornecer de forma detalhada dados sobre o caso, com o nome e contatos dos denunciantes, datas e locais em que ocorreram os supostos abusos. Também é recomendada a apresentação de fotos e gravações, além do contato de testemunhas. Na carta “Vós sois a luz do mundo”, o Papa torna obrigatório também a padres e religiosos denunciarem suspeitas de abusos sexuais. O decreto deu prazo até junho deste ano para que todas as arquidioceses do mundo criassem sistemas simples de notificação de denúncias. O Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler reconhece o avanço por parte da Igreja Católica. “Temos que reconhecer que não se deu a devida atenção ao longo do tempo a esses casos de abuso.”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 18 DE JANEIRO

NÃO ARMAZENE ÓDIO

O que retém o ódio é de lábios falsos, e o que difama é insensato (Provérbios 10.18).

Há duas maneiras erradas de lidar com o ódio. A primeira é a explosão da ira, quando o indivíduo, como um vulcão em efervescência, desanda a boca para difamar o próximo. Essa explosão começa com a agressão verbal e culmina na violência física. Pessoas destemperadas emocionalmente transtornam a vida de todos à sua volta. A segunda maneira errada de lidar com a ira é retê-la e armazená-la. A pessoa não explode, não provoca um escândalo público e até mantém as aparências, mas azeda o coração e destila falsidade com os lábios. Muitas pessoas vivem uma mentira. Os lábios produzem palavras macias, mas o coração é duro como uma pedra. Os lábios tecem elogios, mas no coração trama-se a morte. Há um descompasso entre o que se sente e o que se fala, um abismo entre a boca e o coração. Tanto a explosão da ira como a sua retenção são atitudes incompatíveis com a vida cristã. Não podemos apontar essa arma de grosso calibre contra os outros ou contra nós mesmos. A solução não é ferir os outros nem a nós mesmos, mas perdoar-nos mutuamente, como Deus em Cristo nos perdoou. Em vez de escondermos o veneno da maldade debaixo da língua, devemos nos abençoar e preferir em honra uns aos outros. Só assim desfrutaremos de uma vida verdadeiramente feliz.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A REINVENÇÃO DAS REGRAS DO PRAZER

Jovens têm e terão menos relações sexuais, mas isso não tem a ver com conservadorismo. Eles apenas mudaram as suas prioridades

Dois gênios separados por 1600 anos opinaram, com humor e sutil ironia, sobrea ausência de sexo na vida cotidiana. “De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência”, disse o escritor e cronista Millôr Fernandes na década de 70, naquela que se tornaria uma de suas frases mais conhecidas. No século V, o teólogo Santo Agostinho reconheceu, ao seu modo e para o provável espanto de seus pares, os prazeres advindos da conjugação carnal. “Dai-me castidade e continência, mas não agora”, escreveu o autor de Confissões. O que ambos não poderiam supor, evidentemente, é que, muito tempo depois, quando todas as repressões já deveriam ter sido superadas, uma nova geração demonstraria pouca disposição para o ato sexual. A recente castidade, ao que tudo indica, poderá ser uma tendência para o futuro, embora muita gente – a maioria, ressalte-se- vá continuar praticando freneticamente o livre prazer.

Os psicólogos até criaram uma expressão para definir a nova realidade: apagão sexual. Ela é comprovada por números. Segundo estudo realizado em 2020 pelo Instituto Karolinska, de Estocolmo, na Suécia, e que contou com a participação 9.500 pessoas, o total de homens com idade entre 18 e 24 anos que não fizeram sexo nos últimos doze meses chegou à surpreendente marca de 30,9%. Ou seja: um e cada três não se deitaram com ninguém em um período de um ano. Basta dar uma espiada em estudos anteriores para detectar a mudança. Em 2002, a abstinência era de 18,9%. Entre as mulheres, a inatividade saltou de 15,1% para 19,1% no mesmo período e na mesma faixa etária. Elas, portanto, também diminuíram a frequência sexual, mas para eles a transformação foi mais intensa.

Ainda que seja irresistível sugerir uma revolução conservadora, a nova onda não marca o retorno dos jovens a velhos preconceitos. Segundo especialistas, a abstinência é resultado de mudanças de atenção e do desejo de orientar a energia vital para outros assuntos, como o mercado de trabalho cada vez mais competitivo ou, quem sabe, o sonho de passar no vestibular. A tendência ganhou impulso graças a um evento ao mesmo tempo inesperado e avassalador: a pandemia do novo coronavírus. Com as restrições de circulação e as intermináveis quarentenas, os solteiros saíram menos, o que passou a ser um impeditivo para que pudessem encontrar um parceiro considerado adequado. “Surgiu assim uma nova barreira para os que já não eram tão afeitos ao sexo”, diz Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa dos Estudos em Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas.

Há fatores que transcendem o contexto atual e que provavelmente serão duradouros. A tecnologia é um deles. Com o acesso fácil ao sexo a distância, e diante da onipresença das redes sociais, muitas pessoas se sentem desestimuladas a conhecer o outro em toda a sua totalidade. Preferem, de certa forma, se esconder na segurança da internet. O fenômeno foi comprovado por inúmeros estudos. Até as conversas telefônicas, fonte de paquera para outras gerações, sumiram do mapa – tudo agora se dá nas mensagens frias de WhatsApp. Os jovens seguirão fazendo sexo, mas talvez de um jeito diferente.

EU ACHO …

A VACINA PARTICULAR É ÉTICA

E serve de exemplo, se não interferir em programas públicos

O que mais convenceria os ressabiados com a vacinação contra a Covid-19 do que ver pessoas mais ricas tirando dinheiro do bolso para pagar pela própria imunização? “Se é bom para eles, deve ser bom para mim também” é uma das alavancas lógicas mais comuns de equalização social em todos os terrenos. Esse é apenas um dos argumentos a favor das vacinas pagas administradas por instituições particulares. Desde que não interfiram em absolutamente nada nos programas públicos (nos países que os têm, é claro) e não provenham do es­ toque destinado a eles, as “vacinas dos ricos” contribuiriam, ainda que esparsamente, para desafogá-los e desaguariam no objetivo comum, o de vacinar pelo menos 70 % da população e mostrar para esse vírus reincidente quem pode mais, ele ou nós.

As questões éticas desencadeadas pela pandemia são provocativas, quando não de arrancar cabelos metafóricos, principalmente quando envolvem disparidades de riqueza. Harald Schmidt, professor de ética na Universidade da Pensilvânia, conseguiu sair da obscuridade acadêmica quando defendeu a ideia de que a vacinação nos Estados Unidos privilegiasse negros e outras minorias para “equilibrar o jogo”, considerando-se que são desproporcionalmente atingidos pela doença. Schmidt se encrencou – ou fez bonito para os colegas, dependendo do ângulo – ao dizer que as pessoas mais velhas, prioritárias em todas as hierarquias de vacinação por estar no grupo de maior risco (com 80% a 90% das mortes por Covid-19 na faixa de pacientes acima de 65 anos), são “mais brancas” por pertencerem ao grupo com maior acesso a tratamentos de saúde.

No plano macro, a natural desconfiança dos humanos com os que têm muito, em especial quando operam numa esfera em que outros têm pouco demais, aumentou com a informação de que a concentração de riqueza deu mais um salto quase incompreensível para nós, mortais comuns. As 500 pessoas mais ricas do mundo aumentaram sua fortuna em 1,8 trilhão de dólares no miserável 2020 que acabamos de encerrar. Cinco pessoas têm hoje mais de 100 bilhões de dólares (Jeff Bezos, Elon Musk, Bill Gates, Bernard Arnault e Mark Zuckerberg). Todos fazem extensivas contribuições de combate à pandemia, especialmente Bill Gates. Pobrezinho: em vez de ser reconhecido como grande benemérito, é o acusado número 1 pelos conspiracionistas de ter os mais sinistros propósitos com o vírus e a vacina. Gates com a manga levantada tomando a vacina dificilmente convenceria os que a veem com suspeição. Em 1956, quando um erro de fabricação de laboratório inoculou milhares com o vírus ativo da poliomielite, provocando uma natural rejeição, Elvis Presley, no furor dos 21 anos, foi convocado para uma vacinação pública, para dar exemplo. Não é inconcebível que uma fila de influencers tomando a vacina paga tivesse efeito parecido agora. Estabelecendo-se, por motivos autoexplicativos, que todos os políticos abririam voluntariamente mão do privilégio desde o início.

  *** VILMA GRYZINSKI                

OUTROS OLHARES

AMIGOS DE TODAS AS HORAS

Os bichos domésticos, tradicionais companheiros do ser humano, ganharam ainda mais destaque como apoio psicológico em tempos de isolamento

Quando a pandemia de coronavírus passar – e ela há de passar – os livros de história e um lote de trabalhos científicos dedicarão bom espaço aos efeitos psicológicos provocados pelo isolamento social forçado – e, na quarentena, um grupo especial de moradores habituados a permanecer em casa tem chamado atenção: os animais de estimação. Há um duplo olhar, o dos bichos como companhia para seres humanos, os melhores amigos de gente isolada, e os cuidados com os próprios cães e gatos.

O primeiro reflexo pode ser medido pelo interesse, nos últimos dias, por centros de adoção. Não existe estatística oficial, mas um grupo de ONGs dedicadas à fauna acredita ter crescido 50% a procura no Brasil por cachorros, sobretudo, desde o início do confinamento – embora exista um movimento na contramão, ode pessoas que abandonaram os pets, supostamente incapazes de oferecer atenção. O movimento poderia ser ainda maior, não fossem as evidentes (e necessárias) dificuldades de circulação. “Não conseguimos realizar grandes feiras de adoção”, diz Luísa Mell, uma das mais respeitadas ativistas de direitos animais no Brasil, ela mesma recentemente recuperada da Covid-19. Numa outra ponta, como contrapartida, crescem os negócios virtuais. Os proprietários do canil Levy Buli, em Ibiúna (SP), que vende cães de raças enrugadas e “da moda” (pugs e buldogues franceses e ingleses) a preços que vão de 2.500 a 12.000 reais, já perceberam mudanças consistentes. “Nossas vendas pela internet cresceram de 30% a 40% nas últimas semanas”, diz o dono, Charles Levy. Outro canil, o Pomerânias, de Porto Alegre, está entregando os cachorros por via terrestre, sem o uso de aviões, meio de transporte habitual. Grandes redes, como a Petz e a Cobasi, revelam ter venda inédita, embora não apresentem cifras, com reforço na entrega de rações e acessórios por delivery.

Os efeitos positivos da aproximação entre humanos e bichos são conhecidos desde a Antiguidade – uma espécie evoluída de lobo teria sido o primeiro animal domesticado, entre 20.000 e 40.000 anos atrás, na Europa. A relação, no entanto, se desenvolveu exponencialmente nas últimas décadas. “Antes, os cachorros viviam presos em correntes, comiam restos da comida dos donos. Hoje, há humanização, o cachorro é tratado como um filho”, diz Fernando Baiardi, especialista em comportamento animal. De acordo com dados do Instituto Pet Brasil, o país tem 139,3 milhões de bichos caseiros, em sua maioria, cães. São terapêuticos, sem dúvida, como sempre foram, especialmente para pessoas solitárias – condição que agora abraçou o mundo. “Sentia a casa vazia, as meninas tristes, debruçadas no celular”, diz o gerente de vendas paulistano Marco Baúso. “O Thobias trouxe a alegria e a união familiar de volta.” Thobias é um adorável vira-lata adotado na semana passada, o novo ímã das filhas, Giovanna e Natalie, e da mulher, Solange. A publicitária Samila Ximendes e seu namorado, o editor de vídeos Paulo Goulart, recorreram à mesma artimanha para aliviar o desânimo. “Sentimos que era o momento ideal para incluir um cachorro em nossa vida”, diz ela, que batizou a cadelinha de Marrom. “Podemos educá-la com mais tempo e calma.”

Estabelecido, por experiências próprias, o benefício comportamental de cães e gatos para nós, impõe-se outra preocupação: e os bichos durante a pandemia? Não há evidência científica de que possam pegar o vírus (embora uma tigresa do zoológico do Bronx, em Nova York, tenha testado positivo). Os pelos dos animais, porém, podem ser depositários de microrganismos, como um corrimão ou uma maçaneta. Sabe-se que precisam de exercício. “Passear em matilha faz parte de sua programação genética, é um de seus instintos mais primitivos, e isso é algo que nem sempre é levado em conta”, diz Fernando Baiardi. “O cachorro precisa realizar atividades físicas e, se isso não acontece, essa energia pode ser transformada em ansiedade e incômodo e traduzida em latidos ou destruição de objetos.” É necessário, portanto, “cansar” o animal para manter seu bem-estar, embora a atual condição imponha restrições. Gatos, nesse aspecto, são mais fáceis. Os felinos, por serem mais independentes e territoriais, tendem a ter uma adaptação mais tranquila à quarentena. E, desde já, é preciso olhar para a frente, para quando as portas se abrirem. “O coronavírus vai passar, mas os bichos ficam”, diz Glauce Castilho, idealizadora do projeto Adotados e Amados, de São Paulo. Ou seja, nada de tratá-los como brinquedos infantis.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 17 DE JANEIRO

A OBEDIÊNCIA TEM UMA LINDA RECOMPENSA

O caminho para a vida é de quem guarda o ensino, mas o que abandona a repreensão anda errado (Provérbios 10.17).

Há muitos caminhos que são espaçosos, largos e sem nenhum muro, mas esses caminhos com tantos atrativos e nenhum obstáculo desembocam na escravidão e na morte. A Bíblia chega a dizer: Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte (Provérbios 14.12). O sábio é categórico em dizer que o caminho para a vida é de quem guarda o ensino. A obediência ao ensino da Palavra de Deus livra os nossos pés da queda e a nossa alma do inferno. A rebeldia, porém, é como o pecado da feitiçaria, é uma rebelião contra Deus. Tapar os ouvidos à repreensão de Deus é colocar o pé na estrada do erro, é marchar célere para o abismo, é chegar ao destino inglório da condenação eterna. Só os insensatos vivem às cegas, despercebidos, sem nenhum senso de perigo. Uma vida sem reflexão é uma vida construída para o desastre. O caminho seguro da vida é a estrada da obediência. Obedecer a Deus e andar conforme os seus conselhos é o caminho seguro na estrada da vida. Essa estrada é estreita e apertada. Não são muitos os que andam por ela. Mas seu destino é a glória, a bem-aventurança eterna. Aqueles que andam pelas veredas da obediência receberão uma linda recompensa.

GESTÃO E CARREIRA

CLÁSSICOS RENOVADOS

Com inteligência artificial, o Globoplay melhora a resolução de imagem das novelas que fizeram história

Durante a quarentena, os serviços de streaming mostraram ainda mais sua força. Tentando se destacar em meio a gigantes internacionais, como Netflix e HBO, o Globoplay aposta nas obras-primas da teledramaturgia brasileira. O Grupo Globo está desenvolvendo um projeto de melhoria da resolução da imagem das novelas de seu acervo por meio de inteligência artificial e processamento em equipamentos de digitalização, recuperação e edição audiovisual. ”O uso da inteligência artificial para a melhoria de resolução de imagem é um processo ainda experimental, porém promissor na indústria audiovisual”, afirma Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo. Segundo o executivo, embora o avanço alcançado nesse estágio de desenvolvimento não seja equivalente ao HD (alta definição), a nova tecnologia vai se aproximar de uma qualidade bastante satisfatória, considerando as limitações do formato existente na época das gravações dos clássicos da emissora.

AOS NOVELEIROS DE PLANTÃO

O relançamento de clássicos da teledramaturgia na plataforma começou em 25 de maio

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MINDFULNESS – V

HORA DE PRATICAR

Dicas que irão ajudar na hora de começar a meditação

Depois de regular a alimentação, escolher o horário adequado, um local tranquilo, vestimentas confortáveis e acessórios apropriados, é hora de realmente meditar. Por isso, separamos dicas para lidar da melhor forma com os pontos mais importantes, como a respiração, o controle dos pensamentos e as melhores posturas.

POSICIONAMENTO

A forma clássica de meditar é em posição de lótus – pernas cruzadas e braços apoiados nos joelhos, com as costas eretas. “Fique sentado de forma que não cause dores ou desconfortos e deixe a coluna alinhada”, ensina a professora de yoga Vivian Shoji. Porém a posição de lótus não é uma regra para quem deseja meditar. Outra maneira é usar uma cadeira. Para isso, primeiro alongue-se começando com a coluna para depois, alinhar a cabeça e o pescoço, antes de repousar no local em que irá meditar. Sente-se na cadeira com os pés apoiados no chão e as mãos no colo, uma sobre a outra.

RESPIRAÇÃO

Respire profundamente durante todo o tempo em que estiver meditando. Inspire lentamente, contando até cinco segundos e expire em três segundos. Sinta o ar entrando e saindo do seu corpo, sem alterar o ritmo. ‘Durante a inspiração, mentalize a paz e, ao expirar, imagine-se eliminando a ansiedade. Faça isso, inicialmente, contando um minuto e aumente aos poucos, estimulando-se e gerando prazer e paz interior”, explica a terapeuta Comportamental Nara Louzada. A respiração é parte fundamental na meditação, é ela que ajuda a relaxar.

DURAÇÃO

Não vá pensando em ficar meia hora meditando logo na primeira vez. Se você ficou um minuto, mas conseguiu se manter em um estado de aquietamento, valorize. O mais importante é conseguir reservar esse momento para você, pelo menos uma vez ao dia. Quando estiver mais confortável e confiante, você pode aumentar a duração e prolongar a prática. Para ajudar marque um temporizador ou um aplicativo que avise a hora de retornar. Vale ressaltar que o tempo de cada momento de meditação depende de pessoa para pessoa. Um minuto já é válido, porém, são necessários pelo menos cinco minutos para garantir os benefícios. “Para iniciantes, a meditação deve variar de 10 a 30 minutos. O importante é respeitar seus limites e adicionar os períodos gradativamente”, explica a professora de meditação Denise Dourado.

PENSAMENTOS

No início, os pensamentos virão, mas não tente dominá-los. Deixe os passarem por você. Com o tempo, esse barulho interior cessará e você experimentará uma paz inigualável”, explica Denise. Uma maneira de afastar as ideias é focando na respiração. Outra opção é prestar atenção aos sons e aos aromas ao seu redor para se assegurar de que você está plenamente presente ou seja, o passado já foi, o futuro ainda não chegou e o que importa é o agora. Essas atitudes farão com que sua mente entre em harmonia com o ambiente, tornando o dia a dia (mesmo com o estresse rotineiro) mais leve e calmo.

AUTOANÁLISE

Após completar o processo, meditativo, não se levante de imediato. Abra os olhos, perceba o local, analise a sua prática e assimile o que ela proporcionou. Mexa braços e pernas devagar, alongue-se e aos poucos, volte a sua rotina, completa a terapeuta holística Patrícia Cândido. Você saberá se a prática foi boa conforme a sua disposição ao retornar. Se estiver mais tranquilo e concentrado, o exercício foi um instrumento positivo de bem-estar e de alto conhecimento.

PASSO A PASSO

Para aqueles que, apesar de estarem cientes dos benefícios e terem tentado todos as dicas, não conseguiram meditar, existe uma alternativa: associar a atividade à caminhada. “É uma meditação ativa. Devemos perceber os passos, o movimento das pernas, a respiração, os pés tocando o chão e se alternando nas passadas. Todos estes são chamados de âncoras e facilitam a atenção e a concentração. A junção das duas atividades favorece os que não conseguem ficar parados, aprimora o condicionamento físico e melhora a capacidade respiratória”, explica o psicólogo Roberto Debski.

EU ACHO …

PEQUENA ENCICLOPÉDIA DOS SERES HÍBRIDOS

CÁGADO-TIGRE-D’ÁGUA (Trachemys Dorbigni)

É um réptil que os humanos insistem em levar para casa, como se fosse adestrável. Mesmo não sendo peixe, sente-se à vontade nos rios, lagos e açudes. O que não o impede de também gostar de terras áridas. Cresce com certa rapidez, logo perdendo o ar de bichinho pet, que atrai a criançada. Seu lado tigre está na cor e nas listras, embora, às vezes, o amarelo rajado da cabeça se aparente com o da abóbora. Agora há pouco, vi um na vitrine de uma loja. Boquiaberto, não tinha a mínima ideia do que fazia ali, naquele cárcere.

FLOR-LEOPARDO (Belancanda cinensis)

Embora rústica, é uma planta de ar versátil. Originária da Asia, tem folhas espessas verde-azuladas, que se dão a ver como um leque sobre a haste. As flores têm forma de estrela, cujas pétalas pintadas se parecem, em cor e textura, com o pelo de um leopardo. Não suporta ficar encharcada e, por isso, se irrita na época das águas. Também fica brava se os gatos intrusos vêm cheirar suas folhas achatadas, ou quando os insetos confundem suas sementes com amoras em cachos. Tem uma beleza selvagem, mesmo quando é plantada em canteiros e vasos.

FORMIGA-LEÃO (Myrmeleon anbiguus)

Atende pelos nomes de cachorrinho-do-mato, piolho-de-urubu, joão-torrão, furão e tatuzinho. Porém, não é formiga, não é leão, nem nenhum desses outros bichos. Tampouco é o mirmecoleão – animal filho de pai leão e mãe formiga, catalogado nos bestiários antigos. Ambígua, ora é uma coisa, ora é outra, mas não é nenhuma ou é todas juntas. Sua larva tem uma mandíbula feroz de mamífero, cheia de pinças e espinhos, com a qual escava um buraco na areia para capturar possíveis vítimas. Sua vida adulta é breve: vai do fim da primavera até os primeiros dias do outono.

GAZELA-GIRAFA (Litocranius walleri)

É um antílope que vive nas regiões áridas da África. Seu pescoço longo e fino compete com o comprimento das pernas delgadas. Tem pelagem castanha, que se torna ruiva quando vista sob o sol da tarde. Suas orelhas enormes, em forma de asas, destacam-se na cabeça miúda. Olhuda, detesta ser observada. E, pelo que se diz, raramente bebe água. Seu alimento favorito são as acácias, com as quais se delicia ao lado de seus pares. O macho tem chifres curvos; a fêmea, um olhar sábio.

ORQUÍDEA-MACACO (Dracula Simia)

Essa orquídea com cara de macaco é um híbrido de extraordinária sutileza. Pode ter expressões variadas, que vãode alegria a perplexidade. Gosta de umidade e altura, embora já esteja quase acostumada à realidade dos jardins e dos vasos. Um dado interessante sobre ela é que as pontas de suas sépalas lembram os dentes caninos do Conde Drácula. Além disso, possui um aroma impreciso de laranja madura, que confunde quem nela busca algum cheiro menos ácido. Sabe-se, inclusive, que ela tem o dom de provocar o riso de quem flagra seu rosto símio em situações inesperadas.

PEIXE-BOI-DA-AMAZÔNIA (Trichechus inunguis)

É um adorável mamífero de água doce. Vegetariano, possui traços bovinos e corpo de morsa. Por emitir sons que evocam o canto das sereias, os zoólogos o chamam de sirênio, ao lado de outros mamíferos aquáticos, como o peixe-boi-marinho e o dugongo. Sabe-se que é muito dorminhoco: em vigília, fica alguns minutos fora d’água, para um respiro, mas passa a maior parte do tempo submerso, em sono espesso. Seus olhos pequenos discernem cores e enxergam tudo de longe, e um pouco atrás deles se encontram os ouvidos sem orelhas. Com os bigodes sensíveis do focinho, percebe as intenções de quem dele se aproxima. Encontra-se, mais do que nunca, sob perigo extremo. Não só pela cobiça de pescadores intrusos, mas sobretudo pelas sucessivas queimadas que devastam a Amazônia.

PEIXE-CACHORRO (Hydrolycus armatus)

Também se chama cachorra e não tem nada a ver como peixe-cadela (Cynopotamus humeralis). Gosta das águas rápidas, vivendo em canais e na mata inundada. Suas escamas mínimas combinam com o corpo comprimido. Na boca oblíqua, a mandíbula (de feição canina) se distingue, e nela se veem compridas presas. Não à toa, sua maxila de cima tem dois buracos para alojar esses dentes quando a boca se fecha e o peixe se ensimesma. Não é fácil de ser fisgado, dada sua rapidez em se livrar do anzol, ao puxar a isca. As piranhas apreciam suas nadadeiras como petiscos e ficam sempre à espreita, por saberem que ele é, de fato, muito arisco.

SOCÓ-JARARACA (Tigrisoma fasciatum)

Dizem que é uma ave muito tímida. Ela atende também pelo apelido socó-boi-escuro, o que acontece porque tem o abdômen em formato levemente bovino. Já o lado ofídico está no pescoço longo, de um cinza-escuro, com toques de marrom e canela. Sua íris é amarela. Habita florestas com rios límpidos, mas não recusa os lugares lúdricos do Cerrado goiano. Come peixes pequenos, larvas e insetos, sem prescindir de crustáceos, moluscos e anfíbios. Por ser reservada, ninguém imagina que possa ser, para outros seres, um desafio. Ama as folhas secas e cultiva a solidão como um privilégio. Os biólogos sabem que é de uma espécie ameaçada.

TARTARUGA-JACARÉ (Macrochelys temminckii)

Carrancuda, é avessa a piadas. Isso, no entanto, não impediu que seus conterrâneos – habitantes dos rios, lagos e pântanos norte-americanos – a apelidassem de “dinossauro”, em parte por conta das largas e pontudas escamas que formam o seu casco. Há de se admitir que ela tem uma certa beleza jurássica, mas ninguém lhe diz isso, por medo da potência aterradora de suas dentadas. Alimenta-se de peixes, patos, garças, sapos, cobras e lagartos. Se fosse bípede e soubesse manusear objetos, a tartaruga-jacaré seria, certamente, uma guerreira formidável.

TREPADEIRA-ELEFANTE (Argyreia nervosa)

É uma planta vigorosa. De ramagem longa e raízes profundas, sobe pelos caramanchões, muros e cercas. Uma fina penugem aveludada cobre seus ramos e a parte inferior de sua folhagem. Por isso o seu verde adquire um tom prateado. Dá flores em forma de sino, e suas folhas são como orelhas de elefante, o que legitima seu lado paquiderme. Mas o que nela mais atrai os humanos está nos efeitos alucinógenos de suas sementes, consideradas sagradas por conta de seus poderes xamânicos. Entretanto, como nem tudo é perfeito, ela está sempre com os nervos à flor da pele. Lenhosa e manhosa, odeia geadas e se aconchega ao calor úmido dos solos férteis.

*** MARIA ESTHER MACIEL – É escritora, diretora da revista 0lympio: Literatura e Arte e autora de Longe, Aqui, Poesia Incompleta 1998-2019

OUTROS OLHARES

A HUMANIDADE REFÉM DOS VÍRUS

Por maiores que sejam os avanços da medicina, inclusive com o desenvolvimento de vacinas, as inevitáveis mutações genéticas seguem sendo o gatilho para novas enfermidades infecciosas que nos ameaçam com pandemias

A medicina tem avançado cada vez mais nos últimos tempos e essa é uma excelente notícia. É inegável, por exemplo, o seu aprimoramento na eficácia da prevenção e do tratamento de enfermidades infecciosas causadas por vírus, e a constante descoberta de novas vacinas nos assegura menor risco de exposição a doenças e maior qualidade de vida. Agora, vamos à má e irremediável notícia desoladora: eles, os vírus, também avançam em suas mutações genéticas, o que impede que sejam definitivamente cercados. Assim, desde que o mundo é mundo, a humanidade foi, ainda é e sempre será refém desses insignificantes, mas perigosíssimos inimigos. Na semana passada, a história se repetiu. A ameaça de uma pandemia começou a assombrar o mundo, a ponto de a Organização Mundial da Saúde seguir cogitando sobre a decretação de “estado de emergência global”.

Trata-se de uma nova cepa do coronavírus, jamais vista pelos cientistas, que em menos de setenta e duas horas “voou” da China para o Japão, Taiwan, Tailândia, EUA, Arábia Saudita, Vietnã, Cingapura e Brasil. Como dito anteriormente, vírus são mutantes, ou seja, o coronavírus, em si, não é novo (já causou a epidemia de SARS que em 2002 matou quase mil pessoas). Nova é a atual cepa. Na China, até a quinta-feira, as autoridades contabilizavam dezessete mortes, quinhentas e quarenta e sete pessoas com a doença confirmada e outras mil e setecentas internadas. No Brasil, uma mulher foi diagnosticada com suspeita em Minas Gerais, após passar uma temporada em Shangai. “Não conhecemos o real potencial dessa variante do coronavírus, não temos vacina contra ela e nem tratamento específico”, disse à ISTOÉ Leonardo Weissmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia. “O vírus é um parasita intracelular obrigatório. Se agirmos em determinado ponto do vírus, podemos estar agindo em toda a célula”, afirmou a também infectologista Nancy Bellei. Ou seja, ele sempre dá um jeito de nos driblar.

RESISTÊNCIA MORTAL

Os vírus estão cada vez mais resistentes, seja pela ação da natureza ou pela mão do homem. Exemplifica essa situação a morte de um homem na cidade paulista de Sorocaba. Faleceu de febre hemorrágica brasileira, e vale lembrar que havia vinte anos que tal vírus não era constatado no País. Mesmo “quieto”, silenciosamente, ele foi mudando geneticamente, até que voltou a atacar. Para continuarmos a falar de Brasil, na quinta-feira divulgou-se a morte de quarenta macacos na região sul, e a importância disso é que tal animal funciona como sinalizador de que o vírus da febre amarela está de novo atuando – a mesma febre amarela que é transmitida ao homem pelo mosquito aedes aegypti, também vetor da dengue, entre outras doenças. De volta ao coronavírus, ele é transmitido pelo ar, pelo toque ou por objetos contaminados. Sintomas? Coriza, dor de garganta e febre. Nada diferente, portanto, do mais persistente dos vírus – o da gripe. Enquanto o HIV morre em segundos em contato com o ar, o da gripe sobrevive numa maçaneta de porta por quase um mês. É assustador. E mais assustador, ainda, é lembrar da tragicamente famosa “gripe espanhola”. Mutação do H1N1, ela dizimou entre 1918 e 1920 cerca de 40 milhões de pessoas (trinta e cinco mil no Brasil, entre elas o presidente Rodrigues Alves), cinco vezes mais do que as mortes ocorridas na Primeira Guerra Mundial. O vírus da gripe é, sim, o mais mutante dos sequestradores que nos mantêm como reféns.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 16 DE JANEIRO

O FRUTO DO SEU TRABALHO

A obra do justo conduz à vida, e o rendimento do perverso, ao pecado (Provérbios 10.16).

O que o homem semeia, isso ele colhe; as sementes que cultivamos determinam os frutos que colhemos. Quem semeia o bem colhe os frutos doces desse investimento; quem semeia o mal vê seu malfeito caindo sobre sua própria cabeça. Quem semeia vento colhe tempestade, e quem semeia na carne, da carne colhe corrupção. Nosso trabalho sempre trará resultados para o bem ou para o mal. A obra do justo conduz à vida. O que ele faz é abençoado e abençoador. Suas obras são movidas por Deus, feitas de acordo com a vontade de Deus e visam a glória de Deus. O justo não realiza suas obras com o propósito de alcançar o favor de Deus; ele as faz como gesto de gratidão pela graça recebida. Suas obras não são a causa de sua salvação, mas o resultado. Suas obras glorificam a Deus no céu e conduzem os homens à vida na terra. O rendimento do perverso, porém, conduz ao pecado. Suas obras não arruínam apenas a ele mesmo, mas transtornam os outros também. Porque o coração do perverso não é reto diante de Deus, suas obras incitam os homens ao pecado. Sua boca é um poço de lodo; seus pés se apressam para o mal, e suas mãos laboram para a perdição. Quem é você? Quais são os frutos do seu trabalho? Em que campo você está semeando? Quais sementes está espalhando? Que frutos está colhendo? É tempo de semear para a vida, e não para o pecado.

GESTÃO E CARREIRA

O MITO DA RESILIÊNCIA

O mantra de que ser resiliente é a melhor resposta para aguentar a pressão, encarar o excesso de trabalho e aturar chefes insensíveis traz sérias consequências físicas, mentais e motivacionais. Entenda por que abusar dessa característica é prejudicial

Saltar de novo. Em latim, esse é o significado literal da palavra “resiliência”. O termo vem sendo usado desde o século 19 para descrever, na física, a capacidade de os objetos voltarem ao normal depois de passarem por deformações – como uma mola que, após ser esticada ao extremo, se recompõe como se nada tivesse acontecido. Do ponto de vista psicológico, a resiliência se traduz na capacidade de se adaptar a circunstâncias estressantes e se recuperar de eventos adversos. Há alguns anos, a palavra se espalhou pelo mundo do trabalho a ponto de se tornar um jargão corporativo.

Não é raro encontrar vagas que exijam que o candidato tenha a resiliência corno uma de suas habilidades, ver a palavra estampando os valores de uma companhia ou achar cursos cujo objetivo seja tornar os negócios mais resilientes.

Em momentos de transformações rápidas e de crises profundas, corno a que estamos vivendo com o novo coronavírus, o interesse do mercado pelo tema se intensifica: a resiliência parece ser a resposta para que empresas e profissionais saiam a salvo lá na frente, quando tudo passar. Ouvimos que, se formos resilientes, conseguiremos nos adaptar às mudanças e ter força mental suficiente para seguir em frente e dar a volta por cima.

Mas não é bem assim. Se colocarmos todas as fichas nessa característica acreditando que aguentaremos cargas excessivas – e comprarmos o discurso que, infelizmente, ainda é altamente difundido de que ternos de suportar qualquer coisa para manter o emprego -, o risco de extrapolarmos os limites físicos e mentais será enorme. Se não conseguimos retornar à forma original depois de submetidos a tal deformação elástica, como diz a física, significa que algo está errado. Alguns estudos mostram que mesmo as competências adaptativas se tornam inadequadas quando levadas ao extremo. Uma pesquisa feita por Rob Kaiser, presidente da Kaiser Leadership Solutions, que atua na avaliação e no desenvolvimento de líderes, aponta que forças se tornam fraquezas quando submetidas ao extremo. Isso quer dizer que a resiliência tem, sim, seu lado prejudicial. “Pessoas com esse perfil podem, por exemplo, se tornar altamente persistentes com objetivos inatingíveis, ou tolerantes demais às adversidades”, diz Derek Lusk, Ph.D. em psicologia de negócios e chefe de avaliação executiva da AIIR Consulting, que atua no planejamento de sucessão, transformação de liderança e mudança de cultura. Entre os desfechos comuns está o esgotamento mental e físico. “Começa com resiliência em excesso e termina com burnout, diz Roberto Aylmer, professor na Fundação Dom Cabral, especialista em gestão estratégica de pessoas e diretor da consultoria Aylmer Desenvolvimento Humano.

SINAL VERMELHO

Derek ressalta que algumas análises científicas mostram que a maioria das pessoas perde muito tempo persistindo em objetivos irreais, um fenômeno chamado síndrome da falsa esperança. Mesmo quando comportamentos passados sugerem claramente que é improvável que as metas sejam atingidas, o excesso de confiança e um grau acima da média de otimismo fazem com que as pessoas desperdicem energia em tarefas inúteis. Isso, levado ao limite, gera problemas de saúde sérios.

Além disso, existe outro ponto: a confusão entre resiliência e subserviência, que é aceitar tudo calado. “Ser resiliente é, também, se posicionar, saber dizer não e negociar projetos”, diz a psicanalista Cláudia Cavallini, consultora e professora da HSM Educação Executiva. Segundo ela, uma pessoa resiliente na dose certa se adapta, mas consegue voltar ao seu estado original, que tem a ver com seus valores, sua personalidade e com as coisas de que não abre mão. “Ela sabe onde se reenergizar e se reequilibrar”, afirma. Para encontrar a medida certa, a professora reforça a importância do autoconhecimento e a atenção aos sinais do corpo. Se anda estressado ou ansioso demais, com hábitos alimentares ou físicos em excesso (como comer ou fazer exercícios demais) e reagindo de maneira fria ao que acontece, é hora de rever a postura (veja mais no quadro Por um Triz). Existe uma metáfora que exemplifica bem essa questão. Quando um lutador está no ringue e cai depois de um golpe, a resiliência é o tempo que ele leva para levantar e voltar ao jogo, que é medido na contagem do juiz. “Quando ele volta rapidamente mesmo muito ferido e pede mais, como se não sentisse os golpes, está sendo resiliente demais”, diz. A pessoa resiliente de maneira positiva demora um pouco: sente o impacto, o digere e volta fortalecida.

É preciso prestar atenção, também, no sentido do que está fazendo, como explica Maria Cândida Baurner, sócia da People & Results, especializada em carreira e cultura empresarial. Isso porque, quando a resiliência está desconectada do que tem significado para você, ela se torna tóxica. “Seguir no piloto automático – ‘se eu for resiliente chegarei ao outro lado’ – não se sustenta no longo prazo se não há significado”, diz.

DISCURSO ULTRAPASSADO

O grande problema é que muitos líderes confundem produtividade e otimismo desenfreado com resiliência. Esses ingredientes criam um ambiente de pressão por bons resultados e de produtividade a todo custo, que leva os funcionários a assumir riscos desnecessários, como ir ao escritório mesmo estando doente. Claro que a positividade tem benefícios, mas a obsessão pelo otimismo afasta os líderes da realidade de maneira semelhante ao excesso de confiança. “O otimismo é desejável quando alinhado com a verdade”, diz Derek.

Na visão de Anderson Sant’Anna, professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da FGV, hoje em dia há muitos mitos em torno de que precisamos ser bons e felizes o tempo todo – o que se torna uma ditadura da alegria. Uma das consequências é a sensação de que temos de suportar qualquer absurdo com um belo sorriso no rosto, senão não teremos vez. “Isso acaba virando jargões corporativos que mais prejudicam cio que contribuem. É impossível ser resiliente o tempo todo.” Segundo ele, o discurso da liderança e da própria companhia acabam, algumas vezes, exagerando no argumento de que é preciso aguentar sempre. “Muitos acham que, por meio de incentivos como ‘você é forte’ ou ‘você dá conta’, podem motivar o profissional. Mas, em determinados momentos, isso surte o efeito contrário”, afirma.

Por trás desse discurso de que é preciso aturar tudo pode existir uma ideia perigosa: a pressão para trabalhar o máximo possível. “A resiliência se torna exploração quando é mal definida dentro de uma organização tóxica”, diz Derek. Esse quadro costuma se instalar em empresas administradas por líderes que promovem uma cultura de alto desempenho às custas das pessoas. “Eles farão o que for preciso para atingir seus números, incluindo maus-tratos e exploração de funcionários”, afirma. Por isso, já passou da hora de muitas empresas repensarem o conceito de resiliência. “Não se trata de seguir sem pensar, com confiança e otimismo exacerbados para superar desafios, e sim de saber se adaptar da maneira correta, e dentro da capacidade de cada um, a situações de ameaça ou a adversidades”, diz. Se bem usada, a resiliência é se recompor em momentos de estresse para, de uma maneira humana e equilibrada, buscar objetivos alcançáveis e seguir em frente. Ela não pode ser usada por líderes e pelo mercado como uma desculpa para empurrar os profissionais para o excesso de trabalho e para o abuso psicológico. Resiliência não é saltar para o precipício.

POR UM TRIZ

Cinco indícios de ode você está extrapolando

  1. Apresentar sintomas físicos e emocionais, como muito estresse ou dores no corpo
  2. Insistir em objetivos inalcançáveis
  3. Desperdiçar tempo em tarefas sem sentido
  4. Ter tolerância demais e aceitar tudo sem contestar
  5. Ser mais duro e insensível

SEM PERDER A MÃO

Três pilares que ajudam a encontrar o equilíbrio

1. TENHA UMA REDE DE APOIO

Contar com pessoas de confiança que possam conversar com você é essencial. Por meio de outras perspectivas é possível refletir sobre as situações e ajustar o comportamento

2. APOSTE NO AUTOCONHECIMENTO

Ter clareza de quais são seus valores e objetivos de vida e saber o que traz realização ajuda a escolher caminhos mais conscientes. Quando estamos cientes daquilo que nos faz bem, fica mais fácil identificar o que é prejudicial e, assim, buscar outras alternativas

3. NÃO ESQUEÇA O QUE É RESILIÊNCIA

A resiliência é a capacidade de reagir da forma mais adequada possível – de acordo com a situação que você está vivendo – e, em seguida, voltar ao estado de equilíbrio. Quando vivemos algo ruim, é natural responder com emoções negativas, mas é importante compreender quando é o momento de deixar aquele sentimento ir embora e seguir adiante

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MINDFULNESS – IV

COMECE JÁ!

Os benefícios da atenção plena e da meditação são os mais diversos: a práticas traz melhorias para a saúde física e mental. Confira

As vantagens da meditação se estendem não apenas para a mente, mas para o corpo todo. A seguir, os 10 principais benefícios do hábito para uma maior qualidade de vida!

1. DEIXA VOCÊ MAIS FELIZ

“Como a psicóloga PhD em neurociências Sarah Roberts exemplifica, ‘é sublime poder sentir a água correr pelas costas durante o banho da manhã; é gratificante poder ouvir o filho descrever o seu dia sem ficar olhando para ele e pensando na lista de coisas a fazer. O exercício do foco no momento presente nos protege de passar o tempo todo no passado, ruminando sobre o futuro ou inventando situações hipotéticas provocadoras de ansiedade’”, indica o neurologista Martin Portner.

2. REDUZ O ENVELHECIMENTO

O encurtamento dos telômeros – estruturas na porção final dos cromossomos do DNA – acontece após cada divisão celular. “Na velhice, esse desgaste chega a um ponto em que não é mais possível que aconteçam divisões celulares sem falhas, o que pode desencadear doenças degenerativas. A prática regular de meditação aumenta o nível da enzima telomerase, que protege os telômeros dessa deterioração em cerca de 30%, reduzindo o processo de envelhecimento para graus menores”, destaca o psicólogo coach e trainer em programação neurolinguística Roberto Debski.

3. INFLUENCIA (POSITIVAMENTE) AS RELAÇÕES SOCIAIS

”Uma pesquisa realizada no Wake Forest Baptist Medical Center na Carolina do Norte, Estados Unidos, ensinou meditação a voluntários e suas atividades cerebrais foram monitoradas antes e depois das sessões. Foi constatada uma diminuição da ação da região denominada amígdala (cerebral), responsável por regular as emoções, e houve uma redução dos níveis de ansiedade em cerca de 39%”, comenta Roberto Debski. Tal fato comprova que a prática favorece o equilíbrio emocional, assim, a conexão com os outros acontece com menos interferências.

4. PROMOVE CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

Ao meditar regularmente, você amplia a consciência, traz a sensação de conexão e compaixão, não só com os outros, mas com o meio ambiente. Pessoas que meditam com frequência estão mais conectadas à natureza, inclusive sendo o local de escolha para as práticas”, salienta Roberto Debski.

5. DÁ MAIS ENERGIA

Lembra que a meditação ajuda a manter o foco? É dessa forma, direcionando o foco, que obtemos uma economia na energia e diminuímos o desperdício da mesma.

6. AUMENTA A IMUNIDADE

Sim, há conexão entre meditação e sistema alto imune. Uma prova disso é o estudo publicado na revista acadêmica americana Psychosomatic Medicine, que comparou um grupo de meditadores com outro de não-meditadores. “Ambos receberam uma vacina contra a gripe; mais tarde, quando os anticorpos furam mensurados, verificou-se que o primeiro grupo estava muito mais protegido contra a gripe quando comparados aos demais”, conta Martin Portner.

7. REDUZ PROBLEMAS DO CORAÇÃO

De acordo com a Associação Americana do Coração, meditar regularmente diminui em cerca de 47% o risco de infarto do miocárdio em adultos, que tinham, em média, 59 anos – acompanhados de 2000 a 2009.

8. AJUDA A ORGANIZAR MELHOR O TEMPO

“Meditar é educar a mente. Quando aprendemos que a consciência é parte da gente, mas não somos nós, conseguimos mergulhar num autoconhecimento profundo”, observa a terapeuta vibracional e mestre em Reiki, Andrezza Ferrari. Para a profissional, a partis desse momento, a prática leva ao domínio dos pensamentos ao ponto de trazer mais foco, afetando a forma como organizamos nosso tempo.

9. MELHORA O SONO

Seja para dormir melhor ou combater a insônia, a meditação diminui a tensão, relaxa o corpo e a mente. Dessa maneira, principalmente aquelas pessoas que praticam antes de dormir notam um efeito benéfico durante a noite, uma vez que a tranquilidade necessária para descansar é potencializada.

10. INCENTIVA A CRIATIVIDADE

Quando você se conecta consigo mesmo, toma consciência das suas potencialidades e expande sua consciência, a criatividade, assim como a produtividade.

EU ACHO …

PREVISÃO GAIATA

Os caprichos do tempo em idioma cearês

Oia aí, mah. Bem na beirinha. Torózim no fim de tarde seria bom, nera não?” Assim, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) avisou no dia 10 de novembro, no Twitter sobre as nuvens carregadas que avançavam pelo mar rumo ao estado. “Chuvinha, só você sabe agradar, fazer qualquer um se apaixonar”, comemorou o tuíte da fundação no dia seguinte. “Quem quer mais chuva levanta a mãozinha”, acrescentou. “Sexta com sol truando, hein. Pra hoje, não há expectativa de chuva em nenhuma das regiões. Haja mão na testa pra limpar suor”, noticiou, dois dias depois.

Quem entra na página da Funceme no Twitter não tem como evitar um sorriso, às vezes uma risada. Numa linguagem bem-humorada e sem receio de acrescentar às informações uma penca de regionalismos, memes e letras de música, os comunicados da fundação são uma novidade em previsão de tempo, quebrando a formalidade que em geral cerca as notícias meteorológicas. E faz isso sem dispensar os dados científicos, apresentando gráficos, mapas e imagens de satélite.

A Funceme é uma instituição estadual criada em 1972 com o objetivo não apenas de estudar o clima, mas auxiliar na busca de soluções para as estiagens e secas no Ceará, historicamente um dos estados mais afetados por esses problemas no Brasil. Por isso, ainda que não caia na forma de ”toró”, a chuva é sempre um “mimo” no Twítter da fundação. “Quartinha toda trabalhada no céu claro, viu? Porém, quinta e sexta deve rolar uns mimos, ó. Cedinho, chuva passageira entre os litorais de Fortaleza e Pecém”, anunciou o tuíte de 21 de outubro.

“Comunicação de qualidade não é só aquela coisa séria. As pessoas estão conseguindo entender mais as coisas quando elas são transmitidas com humor. O humor também é qualidade”, diz o jornalista Felipe Lima, assessor de Comunicação da Funceme, a pessoa por trás dos avisos gaiatos da fundação.

Felipe Lima, 33 anos, nasceu em Fortaleza, mas foi criado em Caucaia, na região metropolitana da capital, onde viveu por três décadas. Teve infância e adolescência modestas, ao lado da mãe, que trabalhava como enfermeira, e da irmã mais nova. Para ir à escola, precisava pegar dois ônibus. Quando não tinha dinheiro para as quatro conduções de ida e volta, percorria parte do trajeto a pé. De vez em quando, ficava por um fio de dar uma “pilôra” de fome na escola, ou seja, desmaiar.

Foi professor de reforço escolar pulando de casa em casa dos alunos. Prestou vestibular para odontologia, veterinária e química industrial. Em 2007, acabou entrando na faculdade de comunicação social, no turno da noite. De manhã e à tarde, dava aulas no ensino fundamental. Em 2009, arrumou um estágio no jornal O Povo e largou o ensino. Perdeu o salário de professor, mas realizou o sonho de entrar para uma redação.

Naquela época, a transição para o digital ainda deixava os jornais em polvorosa no Ceará. Martins foi convocado para trabalhar no portal do diário na internet, onde aprendeu a lidar com a pressa das informações e os novos modos de comunicação online. Mas ele gostava mesmo era de caminhar vagarosamente pelas ruas, onde encontrava as pautas para sugerir aos editores. “Jornalismo é mais sentimento do que teoria”, diz ele.

Formou-se em 2011, passou por outras redações e, depois de oito anos de trabalho como repórter tornou-se assessor de comunicação da Funceme. Não sabia a diferença entre clima e tempo. Mas tratou logo de se informar sobre tudo – “tempo” se refere à situação atmosférica de um local em dado momento; ”clima”, à média das variações de tempo num período de pelo menos trinta anos. Resolveu que deveria aproximar as pessoas da fundação e dos comunicados meteorológicos, recorrendo à sua experiência na imprensa. “As pessoas diziam que a Funceme errava tudo, mas meteorologia não é determinação, é probabilidade”, conta.

O erro talvez fosse apenas de comunicação. As redes sociais da fundação estavam desativadas, e o assessor quebrou tabus na Funceme ao defender que “estar nas redes às vezes é melhor que estar num jornal”. Em 2018, ele criou a página da instituição no Twitter e passou a fazer os comunicados sobre o “bichinho teimoso” – que é como o assessor define o tempo. Hoje, seu trabalho nas redes sociais é apreciado pela equipe da Funceme, que o estimula a dar as notícias sempre em linguagem simples, sem muitos termos científicos e, claro, em bom cearês.

No Ceará, tempo bom é quando o céu está com nuvens carregadas, ”bonito pra chover”, nas palavras de Lima. Para ele, um momento de felicidade é quando pode avisar pelo Twitter que nuvens carregadas estão se aproximando e parecem disposta despejar suas águas sobre o estado. “Principalmente no interior. É de extrema satisfação.” O jornalista compara a expectativa com que o sertanejo aguarda a chuva com a da mãe que espera pelo filho voltar da escola ou do trabalho.

Por isso, a mensagem dos sonhos de Lima é sempre uma variação deste tuíte ideal: “Prepara os baldes, gente. Tá tudo aprumado pra cair um toró amanhã e a cruviana vai truar! Tá só filé pra todas as regiões. Oia aí, mah. Cuida!”

*** LIANNE CEARÁ

OUTROS OLHARES

A ILUSÃO DA ABSTINÊNCIA

Para combater a gravidez precoce, a ministra Damares propõe que os jovens desistam de fazer sexo, em vez de conscientizá-los sobre os métodos conceptivos: um retrocesso inominável

Fernanda* nasceu e cresceu no reduto das igrejas neopentecostais, assim como 40% dos 18 milhões de adolescentes brasileiros com idades de 15 a 19 anos, de acordo com o IBGE. Foi dentro da igreja que ela aprendeu a dizer “não” quando o assunto era sexo. Ela chegou à idade adulta em um lugar onde mulheres e homens que estabelecem relações sexuais antes do casamento são uma espécie de decepção para Deus. A abstinência sexual era uma imposição religiosa. Mas, ainda que frequentasse um meio social em que os jovens só deveriam estabelecer relações íntimas após o matrimônio, Fernanda não seguiu as regras. Aos 20 anos, se tornou tudo o que os seus pais, a igreja e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que agora transformou a abstinência em “política pública em construção”, não queriam: uma jovem sexualmente ativa. Não só ela. Durante acampamentos evangélicos, ela relembra que os adolescentes acordavam com camisinhas usadas espalhadas pelo lugar. Abolir o tema sexualidade não fez com que adolescentes deixassem o sexo de lado. E eles faziam com pouca ou nenhuma orientação. Felizmente, no caso dos colegas de Fernanda, o preservativo era usado.

Por tudo isso, a jovem de 23 anos, não acredita no projeto retrógrado de Damares e que é de um obscurantismo total. “Me aterrorizaram, dizendo que ter relações sexuais antes do casamento eu não ia ganhar o céu, mas mesmo assim fiz sexo”. Para Fernanda, a intenção do governo de transformar a abstinência sexual em política pública para combater a gravidez precoce, como quer Damares, além de fundamentalista é ineficaz e não trará qualquer resultado positivo. Para Cristane Cabral, do Departamento de Saúde Pública da USP, adotar abstinência implica em deixar de desenvolver “habilidades afetivas e emocionais sobre como se relacionar com o próprio corpo”. E mais: se adolescentes são afastados de discussões científicas sobre o tema, como pretende o governo, a que tipo de informação eles terão acesso? A abstinência sexual da ministra Damares começa a ser implementada em fevereiro deste ano.

“Necessitamos de uma política pública que inclua um projeto de educação sexual na adolescência e não de incentivos à abstinência”, explica a psicóloga Lucinéia Nicolau Marques. Em sua visão, a proposta da ministra é “incompatível”, na medida em que ignora a diversidade cultural, social e religiosa do País. Lucinéia parte do pressuposto de que a adolescência é uma fase de construção mental e emocional, um período em que o jovem busca conhecimento e se organiza para a maturidade e, consequentemente, define sua identidade. “Quanto menos debate houver, maior o nível de fantasia e de ideias equivocadas. Isso, aliado a um movimento impulsivo próprio da fase, pode deixar os adolescentes mais expostos aos riscos de DSTs e até mesmo ao suicídio”, completa.

A gravidez precoce é, de fato, um problema sério no Brasil. Em cada 1.000 jovens entre 15 a 19 anos, 62 estão grávidas, segundo dados da ONU. No mundo, são 44 para cada 1.000. Uma boa forma de reduzir essas altas taxas brasileiras é com informação de boa qualidade, que leve a um uso maior de preservativos e métodos contraceptivos. As camisinhas são menos populares do que deveriam ser. Uma pesquisa do Ministério da Saúde mostra que somente 39% dos brasileiros entre 15 e 64 anos usaram preservativo na última relação sexual. Quando se tratam de parceiros fixos, por conta da segurança, a porcentagem cai para 20%. Ou seja, o tabu sexual e a falta e políticas públicas voltadas à sexualidade é uma questão cultural brasileira.

O Brasil precisa falar mais sobre educação sexual – e não o contrário. E a camisinha (e não a fantasiosa abstinência) continua sendo o melhor meio de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez precoce.

“UM PERÍODO DE TREVAS”

Há 20 anos envolvido em discussões sobre sexualidade, o presidente e fundador da Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual (Abrasex), Paulo Tessarioli, questiona a proposta da ministra Damares: “Quem dialoga com adolescentes sobre isso? Quem são os interlocutores?”. Ele considera a adolescência sem informação sexual “um período de trevas”. Entre outros problemas, Tessarioli acredita que se o adolescente não tiver acesso à informações científicas e médicas, ele buscará conhecimento na internet e tende a se envolver com a pornografia, que não é a melhor forma de evoluir na própria sexualidade. Em 2017, a Sociedade Americana pela Saúde e Medicina do Adolescente produziu um documento em que defendia a extinção de programas baseados na abstinência sexual por serem eticamente deficientes.

Grávida da pequena Elis há oito meses, a jovem Laís Oliveira, de 20 anos, manifesta indignação com o fato de a abstinência sexual ser tratada como política de governo. Mesmo que sua gravidez não tenha sido planejada, ela foi capaz de assimilar a notícia e teve apoio da família, que a acolheu plenamente. “A medidas do governo assustam e afastam”, diz Laís. “Nós queremos uma escola que nos deixe prontos para respeitar jovens que são abstinentes e para jovens que façam sexo, dependendo da opção de cada um, para que todos tenham a possibilidade de desenvolver sua sexualidade de forma mais segura”.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 15 DE JANEIRO

REFÚGIO TEMPORÁRIO

Os bens do rico são a sua cidade forte; a pobreza dos pobres é a sua ruína (Provérbios 10.15).

Há alguns mitos acerca do dinheiro. O primeiro deles é que o dinheiro produz segurança. Será isso verdade? Não, absolutamente não. A Bíblia nos ensina a não colocar a nossa confiança na instabilidade da riqueza. O dinheiro não pode nos livrar dos maiores perigos nem consegue nos dar as coisas mais importantes da vida. O dinheiro pode nos dar uma casa, mas não um lar; pode dar bajuladores, mas não amigos; pode dar favores sexuais, mas não amor. Pode dar uma cama confortável, mas não o sono; pode dar uma mesa farta, mas não apetite; pode dar remédios, mas não saúde; pode dar um lindo funeral, mas não a vida eterna. É bem verdade que o rico considera os bens a sua cidade forte, até que chega a tempestade, e seus bens são dissipados e arrastados pela rua como lama. O pobre, que nada tem, pensa que sua pobreza é sua própria ruína e lamenta. Quando chega a crise, contudo, perecem tanto o rico como o pobre, tanto o velho como o jovem, tanto o doutor como o iletrado. O rico não pode se gloriar na sua riqueza, o forte não pode se gloriar na sua força, nem o sábio na sua sabedoria. O único refúgio verdadeiro é Deus, a rocha dos séculos que jamais será abalada. Nele e só nele estamos seguros agora e eternamente.

GESTÃO E CARREIRA

DESPERTE SUA CRIATIVIDADE

Embora seja uma das três competências mais importantes para o trabalho em 2021, sete em cada dez pessoas não se consideram criativas. Descubra como desenvolver essa habilidade essencial para profissionais e empreendedores de todos os segmentos

Se existe uma competência cercada por uma aura de mistérios, é a criatividade. Ela é tão mitificada que parece que nós, meros mortais, nunca seremos bons o bastante para alcançá-la. E as histórias extraordinárias dos processos criativos de pessoas que revolucionaram suas áreas de atuação só reforçam nosso sentimento de impotência. Já ouvimos falar, por exemplo, que Wolfgang Amadeus Mozart não fazia esforço nenhum para compor e que suas obras apareciam prontinhas em sua cabeça nos momentos em que ele estava sozinho e de bom humor. Ou então que Albert Einstein concebeu a teoria da relatividade enquanto estava, simplesmente, conversando com um amigo. Ou ainda que o artista plástico Wassily Kandinsky criou uma de suas telas mais famosas, pintura com a borda branca, em apenas uma tarde.

Essas histórias são altamente românticas, mas, sinto informar, não passam de mitos – e são desvendadas no livro A História Secreta da Criatividade, de Kevin Ashton. Mozart, na verdade, era um assíduo estudante de composições, ensaiava suas obras ao piano e escrevia cartas para a família dizendo que estava enfrentando bloqueios criativos. Einstein só chegou à Teoria da Relatividade depois de muito tempo observando a natureza e estudando teorias de outros cientistas para ir, pouco a pouco, se aproximando de uma descoberta autêntica. Kandinsky levava dias em um método complexo de planejamento de suas pinturas antes de colocar as tintas na tela. Ou seja, até as mentes mais geniais sofrem e precisam trabalhar duro para criar algo inovador. E isso é ótimo, pois faz com que você e eu estejamos muito mais próximos dos gênios do que imaginávamos. Pelo menos quando se trata de criatividade.

NO TOPO

O que precisamos fazer é desenvolver essa competência – e ela pode ser lapidada, assim como qualquer outra. E quem se dedicar a isso terá grandes chances de se destacar no mercado. De acordo com o relatório Future of Work, publicado em 2018 pelo Fórum Econômico Mundial, a criatividade é a terceira habilidade mais importante para o trabalho em 2021 – atrás apenas da resolução de problemas complexos e do pensamento crítico. Em 2015, a criatividade aparecia em décimo lugar na lista do fórum. Além disso, um levantamento do LinkedIn mostrou que, em 2019, essa foi a soft skill mais procurada pelos recrutadores.

A alta demanda faz sentido. Afinal, para atuar num mercado globalizado, veloz e complexo, é preciso superar padrões e ir além das formas tradicionais. E isso não se trata simplesmente de inovação. A criatividade vem antes: tem a ver com a capacidade de enxergar o mundo de uma forma diferente e encontrar saídas não imaginadas até então. “É um diferencial competitivo que, em vez de alienar o humano, permite que ele seja o componente criativo dos processos”, diz Gabriela Viana, diretora de marketing da Adobe para a América Latina. Fabio Carvalho, gerente de inovação da Faber-Castell, que ministra workshops de criatividade, completa: “As empresas têm novos concorrentes, as startups surgem rapidamente e a velocidade da mudança é impressionante. Os profissionais criativos são mais preparados para lidar com o fluxo contínuo de novos problemas”.

O grande desafio é que a maioria das pessoas se sente impedida de criar no trabalho. É o que revela a pesquisa State of Create, da Adobe, feita com 5.000 adultos nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Japão. O estudo mostra que apenas uma em cada quatro pessoas acredita estar aproveitando seu potencial criativo e que 75% se sentem pressionados a ser mais produtivos do que inovadores no trabalho. E os pesquisadores descobriram algo interessante: os profissionais que se consideram criativos ganham, em média, 13% mais do que os demais colegas. Por isso, mesmo que seu ambiente não proporcione a criatividade, é melhor encontrar uma maneira de exercer essa competência – nem que seja para se preparar para um novo emprego ou para tocar um negócio próprio. Vai ser bom para sua carreira e para seu bolso.

NASÇO, LOGO CRIO

Mais do que uma habilidade, ser criativo é uma característica do ser humano. O problema é que ela perde força com o tempo. Um estudo conduzido pelo professor americano George Land com 1.600 crianças mostrou que, em 1968, ano em que nasceram, 98% delas eram criativas. Aos 10 anos de idade, o índice caiu para 30%. Aos 30 anos, desabou para 2%. Mas, se nascemos criativos, por que perdemos isso? “Somos condicionados a seguir padrões”, diz Denilson Shikako, diretor da consultoria Fábrica de Criatividade. Somos ensinados a acreditar que a melhor resposta é a correta e que, quanto mais rápido ela vier, melhor.

“A gente se limita e acaba fazendo tudo do mesmo jeito, não aprendemos de outra forma”, diz Denilson. Em muitas empresas, a situação se agrava. Afinal, várias ainda têm o ambiente de trabalho tradicional, com hierarquia rígida, competição acirrada e pouco espaço para se arriscar ou questionar. Estar estressado e pressionado para cumprir metas também mata qualquer impulso para fazer diferente.

E não é só isso: há muita confusão sobre o que é ser criativo. “As pessoas relacionam criatividade com produto ou tecnologia”, diz Jean Sigel, cofundador da Escola de Criatividade. Esse raciocínio faz com que ela pareça inatingível ou restrita a quem sabe usar determinadas ferramentas. “Aí vira algo muito complexo, e dizem que não dá para ser criativo sem recurso ou tecnologia.”

Na verdade, a criatividade não passa de uma forma de olhar para as coisas. “Ela é como você interage com o mundo”, diz Thiago Gringon, coordenador da pós-graduação em criatividade e ambiente complexo da ESPM. “A criatividade amplia a consciência para o que está acontecendo ao redor e capacita para o futuro, para aquilo que ainda não entendemos.”

SIM, VOCÊ PODE

Parece coisa de autoajuda, mas, para ser criativo, o primeiro passo é acreditar que você consegue. A vida toda deparamos com exemplos que colocam a criatividade em um pedestal, reservada somente a alguns afortunados – como falamos no começo desta reportagem. Quando essa percepção se combina a amarras como medo de rejeição e experiências negativas com erros, o resultado é a falta de confiança na própria capacidade de criar.

Não precisa ser assim. Não há certo ou errado, o importante é tentar – e relaxar. “A criatividade está ligada ao ócio, ao momento em que você se desloca do mundo real, faz uma viagem interna e usa suas memórias”, diz Sidarta Ribeiro, neurocientista diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e autor de O Oráculo da Noite. Portanto, se o dia for de estresse, não se cobre para ter ideias geniais. Mas também não encontre na correria a desculpa perfeita para não tentar nunca.

Na busca pela criatividade, dê um passo atrás: pense sobre quais são as amarras que impedem seu olhar inovador. Segundo Thiago, da ESPM, para cada uma das “atitudes criativas” existe um receio por trás [veja o quadro “Atitudes X Medos”. E é a aversão a esses desconfortos que nos torna menos propensos a experimentar coisas novas. Os medos sempre vão existir. O que precisamos aprender é a tolerá-los e tentar mesmo assim.

Como muitas competências, despertar a criatividade exige uma boa dose de autoconhecimento e perseverança. É possível, por exemplo, que você consiga ter ótimas ideias quando está em casa, mas trave em uma reunião com o cliente. Por isso é tão importante seguir em frente e ter paciência. É como quando você começa a academia. Até fortalecer os músculos e ganhar resistência, continuar se exercitando vai demandar altas doses de motivação interna. Para se estimular, preste atenção em seus pontos fortes. “Cada um vai desenvolver a criatividade com base nos talentos e tipos de inteligência que domina mais”, diz Jean Sigel, da Escola de Criatividade.

ARSENAL PARTICULAR

Não existe nada totalmente inovador. “Uma ideia nova é sempre uma mistura de ideias velhas”, diz o neurocientista Sidarta. Esse milk-shake de insights tem nome científico: reestruturação de memória, momento no qual o cérebro reorganiza conhecimentos e informações que já possui de maneira a produzir algo diferente. Portanto, um grande aliado para os criativos é ter conhecimentos, experiências e interesses diversos. “Quanto maior o seu repertório, maior a chance de você inventar uma coisa nova”, diz Sidarta.

Por isso, ampliar os horizontes (e sair da zona de conforto de sua área de atuação) é tão importante. “Busque temas que você normalmente não estudaria”, diz Jean Rosier, sócio e cofundador da escola e consultoria Sputnik. O conselho vale para leituras, filmes e até séries que você escolhe assistir. Liste seus hábitos comuns e procure conteúdos que vão na direção oposta. Faça isso deliberadamente: os algoritmos de seu streaming vão, sempre, sugerir as mesmas coisas para você. O que, na prática, será mais do mesmo para a sua mente. Essa atitude também pode ser usada para chacoalhar a rotina de trabalho. Se você fica o tempo todo em frente às telas, escreva alguns de seus processos no papel, por exemplo. Ou então desenhe sua lista de tarefas em vez de escrevê-la. “Isso faz seu cérebro gerar neurossinapses diferentes “, diz Mariana Achutti, CEO e fundadora da Sputnik.

Outro exercício interessante é perguntar a si mesmo o que pode ser feito de diferente para executar uma tarefa que você realiza todo dia. Não se assuste, pois, no começo, provavelmente nenhuma ideia surgirá. Esse bloqueio, no entanto, não é totalmente verdadeiro. As ideias ficam presas porque, antes de pensarmos nelas, costumamos acreditar que elas são ruins. Abstraia a autoavaliação. O exercício pede que você anote tudo o que vier à sua mente. Só depois a análise será feita. Lembre-se: não há certo ou errado, o processo é o que importa. Depois do primeiro momento, é importante ver em que medida as ideias podem ser, de fato, praticadas e transformadas em algo novo. Apenas dizer para a equipe que você quer reuniões mais rápidas, por exemplo, não é tangível. No lugar disso, pode-se pensar em mudar a sala e usar mesas altas sem cadeiras – o que faria com que as pessoas fossem mais objetivas e, consequentemente, as reuniões encurtassem.

MATÉRIAS-PRIMAS

Ser criativo não é se tomar um gênio solitário no alto da montanha com respostas para tudo. Criatividade tem a ver com empatia e colaboração: exige que nós saibamos escutar e olhar para o outro. Só assim conseguiremos criar algo que tenha valor para todos e que, de fato, seja uma resposta a uma necessidade real. Muitas vezes, é no contato com os demais que temos os melhores insights para alguma questão que já estava em nossa cabeça. “É preciso sair, conversar, ouvir e reunir pontos de vista diversos”, diz Jean Sigel.

Nesse sentido, vale voltar à infância – lembra que as crianças são muito mais criativas do que os adultos? Pois bem. Resgate o hábito de fazer perguntas. Quaisquer perguntas. “Mesmo que sejam impertinentes, as crianças sempre perguntam, sem esperar respostas prontas”, diz Jean. “Deixamos de fazer isso porque o questionamento nos tira do conforto.” Mas esse é um péssimo hábito para quem quer ser criativo.

Além de repertório e questionamento, é preciso haver motivação para criar. E ela está por todos os lados. “A matéria-prima da criatividade são os problemas”, diz Denilson, da Fábrica de Criatividade. A questão é que estamos acostumados a enxergar os problemas como males a ser eliminados rapidamente, e não como oportunidades de melhorias. Analisar problemas de forma estruturada permite encontrar novos caminhos – muitos impensáveis à primeira vista.

Como tudo no desenvolvimento da criatividade, tornar-se um bom caçador de abacaxis é um processo que leva tempo. Urna forma de analisar situações e, consequentemente, encontrar problemas é o sistema conhecido como Six Thinking Hats (algo como “seis chapéus para pensar”). Ele foi desenvolvido por Edward de Bono, professor na Universidade de Oxford. De acordo com a teoria, devemos ter seis perspectivas para uma questão: o chapéu vermelho (olhar para a situação com as emoções e entender como se sente), o chapéu branco (ver de forma objetiva quais são os fatos), o chapéu amarelo (ver o lado positivo: o que vai funcionar?), o chapéu preto (ver pelo lado negativo: o que não vai dar certo?), o chapéu verde (tentar pensar em ideias alternativas) e o chapéu azul (no cenário geral, qual seria a melhor solução?). E, se você está diante de um problema que parece não ter solução, às vezes o melhor a fazer é sair para dar uma volta – nem que seja para falar com os colegas em outra sala ou tomar uma água. Com tempo e dedicação, as ideias vêm.

Ferramentas como essa estimulam a criatividade de maneira estruturada, principalmente no trabalho. Mas o importante é lembrar que não há um único jeito de ser criativo. Cabe a cada um encontrar o método que mais funciona para si mesmo – e você só vai encontrá-lo quando se dedicar diariamente a essa habilidade. Começar agora é simples, pense: o que você pode fazer de diferente hoje?

ATITUDES X MEDOS

Thiago Gringon, coordenador da pós-graduação em criatividade e ambiente complexo da ESPM, estudou os comportamentos mais importantes para a mente inovadora e os contrapôs aos principais receios que essas atitudes geram. Ter receio é normal, mas é preciso combatê-lo. “O criativo é quem convive com esses medos, olha-os de frente e lida com eles”, diz Thiago.

ATITUDE: INICIATIVA

O momento em que saímos da zona de conforto e resolvemos ousar. É o primeiro passo da criatividade.

MEDO: EXPOSIÇÃO

Sair da bolha exige se tornar vulnerável, e isso causa apreensão. É natural se sentir exposto por não dominar um terreno novo.

ATITUDE: ENTUSIASMO

Não basta só ir a lugares diferentes, é preciso se entusiasmar, ter interesse pelo inéditoe desafiar seu ponto de vista.

MEDO: PERDA DE CONTROLE

Ao se colocar em situações novas, não dá para saber exatamente o que você vai vivenciar. Por isso, tente relaxar e experimentar o que está por vir.

ATITUDE: DETERMINAÇÃO

A criatividade exige trabalho constante e tranquilidade para entender que muitas tentativas serão fracassadas. Ter determinação é a chave para ser resiliente diante dos desafios e problemas.

MEDO: FRUSTRAÇÃO

Muitos dizem ter medo de que a criação falhe, mas no fundo isso é um tipo de proteção para não se frustrar depois de um esforço. A tolerância à frustração se constrói aos poucos, e para chegar a resultados de valor é preciso passar por percalços.

ATITUDE: AUTENTICIDADE

Tudo que criamos é extensão de nossa singularidade. Ou seja, para conseguirmos criar algo de impacto, precisamos saber quem somos e ser leais a isso.

MEDO: REJEIÇÃO

Quanto menos sabemos quem somos, mais medo temos de que não nos aceitem. Precisamos enfrentá-lo, saber o que nos trouxe até aqui e desapegar do que os outros pensam.

ATITUDE: FLUÊNCIA

Todas as criações contam uma história e é preciso ter repertório de linguagem para comunicá-la – seja por meio oral, seja pela escrita.

MEDO: INCOMPREENSÃO

Esse temor surge quando a ideia ainda não está totalmente desenhada e a pessoa não consegue se expressar do modo como gostaria. Trabalhe seu poder de comunicação para explicar quais são os objetivos da ideia no médio e no longo prazo – e saiba que nada, nunca, está 100 % pronto.

ATITUDE: INTUIÇÃO

É a sensibilidade para entender o que os outros desejam. A intuição surge do repertório acumulado e da inteligência emocional ­ características importantes para a leitura de sinais e cenários.

MEDO: O DESCONHECIDO

Na prática, precisamos aceitar que tudo pode acontecer – tudo mesmo, até as coisas saírem bem diferentes do que esperávamos. É normal sentir raiva ou se frustrar, mas entenda que o desconhecido faz parte do processo criativo.

CÍRCULO VIRTUOSO

No livro Libertando o poder criativo, o guru da criatividade, Ken Robinson, descreve como funciona o processo de inovação. Acontece assim:

A CRIATIVIDADE ESTÁ NO AR

Como transformar o ambiente de trabalho num local que proporcione novas ideias

TOLERE ERROS

Errar é parte importante do processo criativo. Mas, se a pessoa tiver medo de falhar, não vai conseguir se arriscar e ficará bloqueada. É importante estimular as conversas sobre os erros e encará-los como oportunidades de desenvolvimento.

JULGUE AS IDEIAS, NÃO AS PESSOAS

A competência de alguém não deve ser medida por suas ideias ruins. Ter insights cheios de problemas é natural, ainda mais em um momento de brainstorming. Toda ideia é válida – até as problemáticas, que podem levar a soluções surpreendentes. quando não fazemos julgamentos pessoais, todos se sentem mais à vontade para ousar.

ESTIMULE A COLABORAÇÃO

Juntar pessoas de áreas e perfis diferentes para falar sobre um tema em comum pode ser um grande estímulo para a criatividade. O ideal é que o clima seja de colaboração. Por isso, é preciso evitar a construção de culturas agressivas com alta competição interna.

USE JOGOS

A gamificação traz o lado lúdico das pessoas à tona. Além disso, essa tática ajuda os profissionais a relaxar, mesmo quando estão diante de problemas complexos de negócio. Brincar faz o cérebro encontrar novas soluções para abacaxis corporativos que pareciam totalmente sem saída.

DÊ CONFORTO

Quando o ambiente físico de trabalho é agradável, tem um clima amigável e permite que as pessoas se vistam como preferirem (e se sintam seguras para ser quem são), as ideias tendem a fluir com mais facilidade. Isso acontece porque, nesse contexto, os profissionais se sentem livres para arriscar.

QUAL É O SEU ESTILO?

A Adobe desenvolveu um teste que mapeia os perfis predominantes de criatividade. Nós costumamos ter um pouco de cada um, mas um deles se sobressai. Veja quais são:

ARTISTA

É movido pelo desejo de expressar a si mesmo e de transformar o que o cerca. Esse perfil vive entre o mundo interior e o exterior e se manifesta para os outros em níveis profundos.

PONTO DE ATENÇÃO: Pode sofrer com falta de confiança e com medo de julgamento.

PENSADOR

É um eterno estudante: o mundo é uma oportunidade sem fim para aprendizados e para a busca pela verdade. Essas pessoas são boas em detectar cenários e em encontrar significados por trás de contextos.

PONTO DE ATENÇÃO: Há certa dificuldade em aplicar as ideias na prática.

AVENTUREIRO

Curiosidade define esse perfil apaixonado por novidades. A inspiração vem de diversas fontes, razão pela qual esse pessoal costuma ter hobbies, projetos diversos e várias áreas de estudo.

PONTO DE ATENÇÃO: A falta de foco e de rotina pode se transformar em frustração.

REALIZADOR

Determinado, focado e dedicado ao processo criativo, o realizador domina a arte de concretizar ideias e visões. Essas pessoas desenvolvem sistemas, estruturas e ferramentas que, depois, são usadas coletivamente.

PONTO DE ATENÇÃO: A racionalização pode prejudicar a autenticidade. Por isso, é preciso ouvir também a intuição e as emoções.

PRODUTOR

Analítico, pragmático e dinâmico. Seu lado criativo é equilibrado pelo aspecto realista. Para esse perfil, uma ideia só tem valor quando pode se transformar em algo prático.

PONTO DE ATENÇÃO: O foco constante em resultados pode deixá-lo desconectado do propósito, o que prejudica os projetos.

SONHADOR

O mundo é cheio de beleza e mágica para quem tem esse estilo. Essas pessoas veem significados e símbolos onde outros só enxergam fatos e formas. Assim, conseguem dar voz a emoções universais, muitas vezes por meio da arte.

PONTO DE ATENÇÃO: Devaneios podem dificultar a compreensão do momento presente e a construção de ações disciplinadas para atingir um objetivo.

INOVADOR

Para o inovador, tudo é visto por meio das lentes da possibilidade. Os problemas são encarados como oportunidades excelentes para aplicar seus talentos intelectuais e criativos. Seu objetivo é melhorar a forma como as coisas são feitas.

PONTO DE ATENÇÃO: A ânsia por inovar o tempo todo pode fazer com que a pessoa se desconecte da progressão do projeto.

VISIONÁRIO

O mundo é cheio de possibilidades para o visionário, que vê as coisas como elas poderiam ser, e não como são. Por isso, uma das características desse perfil é ser questionador e romper barreiras.

PONTO DE ATENÇÃO: Transformar sua visão única em ações diárias, colocando em prática aquilo que só ele consegue enxergar.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MINDFULNESS – III

TRABALHE BEM!

A prática de atenção plena auxilia no bom desempenho corporativo, trazendo atenção, calma e criatividade

Quantas vezes em nosso dia sofremos antecipadamente por alguma coisa que ainda vai acontecer, imaginando as consequências que talvez nem ocorram? E aquele erro simples que você cometeu na semana passada, mas que já foi resolvido: ainda incomoda a ponto de perder um bom tempo pensando nele?

Se você vive mais o passado ou o futuro do que o momento presente, é bom rever seus conceitos. E uma das maneiras de focar no que está se passando agora é praticando a técnica mindfulness. Traduzido para o português como atenção plena, tem como objetivo induzir a concentração intencionalmente na experiência do momento presente, desprendida de julgamentos.

AMBIENTE PROFISSIONAL

A prática vem sendo, cada vez mais uma aliada na melhora da produtividade, do foco e do relacionamento dos empregados e empreendedores. Nos Estados Unidos, empresas como Google, Facebook, Samsung e eBay têm um momento para que seus colaboradores possam meditar. A técnica da atenção plena é a favorita dos executivos pois “feita diariamente, clareia ais ideias e amplia a ‘visão de águia’”, o que nos faz ter um panorama mais abrangente de qualquer assunto para tomar a melhor decisão nos negócios, explica o consultor empresarial Rafeek Albertoni. O método ainda aumenta a comunicação entre áreas do cérebro, trazendo a percepção e o foco para o momento.

TUDO COMEÇOU COM JOBS

Antes de fundar a Apple, comprar a empresa de animação Pixar e se tornar milionário aos 25 anos, Steve Jobs foi até a Índia atrás de um guru buscando iluminação espiritual. Ele percorreu diversas aldeias e voltou para os Estados Unidos determinado a continuar com a prática de meditação, que realizou até o fim da sua vida.

Em sua biografia autorizada, Jobs conta: ao altar depois de sete meses em aldeias indianas, vi a loucura do mundo ocidental bem como sua capacidade para o pensamento racional. Se você simplesmente sentar e observar, verá como sua mente é inquieta”. O último desejo do dono da Apple foi que em seu funeral todos os participantes recebessem o livro Autobiografia de um Iogue, do indiano Paramahansa Iogananda, que fala sobre autorrealização, e o seu pedido foi atendido.

Steve Jobs foi quem popularizou a prática de mindfulness ligada ao empreendedorismo, já que muitas de suas ideias e inovações vieram dos momentos em que o empresário esteve apenas consigo meditando. “Sua mente simplesmente fica mais lenta e você vê uma expansão tremenda do momento. Você enxerga tanta coisa que poderia ter visto antes. É uma disciplina, você tem     de praticá-la”, conta o livro Steve Jobs: A biografia.

E não parou por aí: com sua influência, outros grandes gestores seguiram a mesma linha, como Arianna Huffington, (fundadora do portal de notícia The Huffington Post), Jack Dorse (criador do Twitter), e o executivo da Apple, Craig Federighi, acompanhando os passos do fundador da empresa.

BENEFÍCIOS NA VIDA LABORAL

O dia a dia nas empresas, muitas vezes, sobrecarrega os funcionários e empreendedores por causa dos prazos, acúmulo de tarefas, mau relacionamento com colegas e chefias, consumo do tempo, entre outras causas. Com a popularização da atenção plena, muitas corporações relatam aumento na produtividade, foco e disposição dos empregados, além do melhor convívio com outras pessoas.

“O ambiente de trabalho determina a qualidade da empresa e dos funcionários que ela irá manter ou atrair. Quanto mais os colaboradores conseguem se livrar de comportamentos destrutivos, como surtos de raiva, inveja e a tendência para reclamação inútil, mais agradável se torna trabalhar nessa equipe”, explica o mestre espiritual Giridhari Das.

Além disso, os líderes das companhias também são beneficiados quando praticam o mindfulness, já que a técnica “faz uma conexão com os nossos sentimentos e nos ajuda a gerenciá-los com inteligência emocional, ampliando o conhecimento de nós mesmos e a maneira como lidamos com os problemas, com as outras pessoas e com o nosso trabalho”, conta Rafeek Albertoni.

FOCO NO DHARMA

Giridhari Das explica um conceito empregado na prática do yoga e da atenção plena chamado dharma, palavra em sânscrito, que significa “viver uma vida centrada em cumprir nosso dever”. Ou seja, são pequenas tarefas que devem ser realizadas no momento, como preparar uma refeição, divertir-se em uma recreação ou fazer um relatório do trabalho.

Ainda segundo o mestre espiritual, mesmo que seu dharma mude repentinamente com um incidente ou imprevisto a consciência não deve se dispersar; mas, pelo contrário entender o novo momento e aproveitá-lo aqui e agora.

“Se realizarmos nossas lições esperando pelos resultados ficaremos invariavelmente cheios de estresse e ansiedade. Não é necessária nem útil, se preocupar (ocupar a mente com o futuro) com o resultado no momento da ação. O planejamento e a construção de metas são por si só, atos, e devem ser feitos por quem possui este dever. Então não é que focar na ação implica em não planejar ou em não buscar objetivos”, esclarece o mestre espiritual.

A alteração bruta de dharmas pode deixar a mente inquieta, estressada e ansiosa. Contudo, a prática do mindfulness traz a resiliência, que é a capacidade de se adaptar às mudanças.

Melhorar essa habilidade é essencial para o mundo corporativo, já que é preciso resolver de modo prático os problemas e tomar decisões certas rapidamente.

SÍNDROME DE BURNOUT

Cansaço físico e mental, isolamento social, dificuldade de concentração, falta de energia, sentimento de não ser bom o suficiente e alterações repentinas de humor. Esses são alguns sintomas da síndrome de burnout, que significa “queimado por completo” em inglês. Contudo, a prática da atenção plena promete ajudar os pacientes com a síndrome ou com sintomas de exaustão laboral, já que “quando aprendemos a conviver e a relaxar profundamente dentro do aqui e do agora, o passado deixa de nos angustiar e o futuro já não nos causa mais ansiedade”, conta Rafeek Albertoni.

EU ACHO …

MONTEIRO LOBATO DA MINHA INFÂNCIA

Cresci sentindo imensa compaixão por Tia Nastácia

A polêmica obra de Monteiro Lobato voltou ao debate público porque sua bisneta acaba de lançar uma adaptação de Narizinho Arrebitado, uma das onze histórias que integram o livro Reinações de Narizinho. A iniciativa atualiza as ilustrações originais, dando à trama uma identidade visual mais próxima ao nosso tempo. Tia Nastácia, por exemplo, deixa seu habitual figurino para ser representada de turbante, bata e colar de búzios pelos traços de Rafael Sam. O principal motivo da adaptação de Cleo Monteiro Lobato é fazer com que seu bisavô seja descoberto pelos mais jovens. Para tanto, ela suprimiu da versão anterior trechos que hoje soam racistas. Assim, a frase “a boa negra deu uma risada gostosa, com a beiçaria inteira” virou apenas ”Nastácia deu uma risada gostosa”.

O racismo nas obras de Lobato tem sido alvo de intensa discussão nos últimos anos e atingiu seu ápice com o parecer técnico de 2010, do Conselho Nacional de Educação, sobre o outro livro do escritor, Caçadas de Pedrinho. O documento recomendava a sua utilização em sala de aula apenas ”quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil”, de modo a acolher os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, em especial os negros.

Ao ler a notícia sobre a adaptação, de imediato tentei recordar qual era a minha percepção, no passado, acerca das criações de Lobato. Interessei-me principalmente pelas referências que marcaram a minha infância, distantes do atual debate sobre o assunto. Ainda muito pequeno, assisti, com minha mãe e meu irmão mais novo, à primeira versão da série Sítio do Pica pau Amarelo, transmitida pela Globo entre 1977 e 1986. A obra audiovisual é uma adaptação dos inúmeros livros infantis de Lobato que tinham como paisagem o sítio de Dona Benta, onde se desenrolavam as tramas vividas por seus netos Pedrinho e Narizinho, Tia Nastácia, a boneca falante Emília, o Visconde de Sabugosa e demais personagens que povoam a imaginação de muitos brasileiros. Eu, particularmente, sentia uma atração especial por esse universo fantástico e ainda o tenho como referência dos momentos mais criativos de minha infância.

Foi só mais tarde que entrei em contato com a literatura de Lobato propriamente dita: primeiro, com textos avulsos contidos nos livros escolares; em seguida, com Reinações de Narizinho e Caçadas de Pedrinho. A leitura da obra e a série televisiva surtiram efeitos distintos sobre mim. Talvez por ter alcançado os escritos de Lobato poucos anos depois de ver a adaptação, seus textos não me encantaram tanto quanto a série, suavizada nas passagens de racismo explícito. As aventuras literárias da turma do Sítio não conseguiam competir com o brilho urbano dos livros infanto juvenis de Lúcia Machado de Almeida e Marcos Rey.

Na série, eu gostava especialmente de Dona Benta e Tia Nastácia, duas personagens que remetiam às mulheres da minha família, descendente de portugueses, tupinambás e negros escravizados oriundos da Nigéria e de Serra Leoa. Dona Benta, interpretada por Zilka Salaberry, era o estereótipo da boa avó, terna e carinhosa. Minha avó materna também tinha o cabelo branco, usava vestidos em casa e nutria grande afeição pelos trabalhos manuais, principalmente a costura. Por sua vez, Tia Nastácia me evocava parentes que usavam lenços para cobrir o cabelo crespo, sempre “por arrumar”, como elas mesmas diziam, considerando-os fora do padrão de beleza vigente. Exibindo uma bondade subserviente, a personagem transitava sobretudo pela cozinha, ambiente doméstico que foi meu lugar preferido durante muitos anos, em razão dos cheiros e sabores que ativavam os meus sentidos.

Tia Nastácia também era quem me despertava mais compaixão no Sítio, talvez por eu compreender que aquela não era a sua família e suspeitar de sua carência por vida própria. A ela só cabia servir, e uma vida de servidão parece muito triste, mesmo para uma criança que não sabe bem o porquê das coisas. Hoje percebo que não encontrei na Tia Nastácia literária o mesmo carisma que Jacira Sampaio emprestou à serviçal da tevê. A atriz, com sua sutil interpretação, conferiu humanidade à Tia Nastácia da série – atributo de que carecia a dos livros. Sempre alvo de chacotas e preconceito por parte de Emília, de Pedrinho e do narrador Lobato, a personagem foi desumanizada na literatura, destinada a um lugar de subserviência, comumente associado às mulheres negras de uma época.

Todas essas questões são indissociáveis do autor e mantêm. relação direta com minha própria história. A minha identificação racial tem sido vivida e formada desde que nasci em Salvador. Transitei do ”pardo” registrado na certidão de nascimento ao “moreno” que o projeto eugenista brasileiro, do qual Lobato foi divulgador, me destinou durante um tempo. Nem branco nem preto; a mestiçagem, símbolo de uma falsa democracia racial, era a justificativa para que eu permanecesse no limbo de minha própria existência. Enquanto a remota origem europeia, mesmo que se resumisse ao casal de imigrantes portugueses pobres e analfabetos que chegou aqui na década de 1910, era exaltada como algo a ser lembrado, o equivalente não ocorria com minha ascendência negra e indígena. O projeto de embranquecimento brasileiro culminou num apagamento brutal da minha memória familiar.

Aos poucos, fui descobrindo que há versões distintas sobre a existência de vários dos meus ancestrais. Embora uma prima mais velha garanta que minhas bisavós paternas eram negras – e isso seja evidente nos poucos registros fotográficos que temos -, muitos continuam a chamá-las de “morenas”. Meu bisavô José Alcino, o Seu Zeca, pai da minha avó que evocava os afetos que encontrei em Dona Benta, também é descrito como “mulato” por diversos descendentes. Insistir em denominá-lo negro, principalmente para os mais velhos, ainda soa ofensivo. Negro é o vocativo recorrente para descrever Tia Nastácia na obra de Lobato, sempre de maneira jocosa. Assumir-me negro-indígena, além de resgatar a origem da minha existência social em um país estruturalmente racista, se tornou um ato político diante do grande projeto eugenista que tentou e ainda tenta nos extinguir.

É impossível dissociar o escritor de sua obra, até mesmo porque o eugenismo do homem, Lobato se reflete na sua literatura.

Também é impossível imaginar como Lobato – figura contraditória, que editou Lima Barreto, um. autor negro, quando ninguém mais queria fazê-lo -, reagiria à leitura de seus próprios textos nos dias de hoje. A reedição de Narizinho Arrebitado, com a retirada de trechos racistas, não apaga a marca do preconceito na obra de Lobato, como o que está registrado em sua correspondência pessoal sobre a decepção com o fato de seu livro O Presidente Negro, por ser considerado racista, não ter encontrado editor nos Estados Unidos, onde o escritor era adido cultural: “[Eu] devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros.” Mesmo assim, não defendo qualquer censura à sua obra. Ela deve continuar disponível para ser lida como exemplo de uma época e de um país onde ainda precisamos lidar com a chaga do racismo.

*** ITAMAR VIEIRA JUNIOR – É escritor, geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA.

OUTROS OLHARES

A REINVENÇÃO DA GASTRONOMIA NACIONAL

Com a crise financeira e as demissões no setor, chefs e donos de restaurantes buscam uma nova receita para alimentar seus negócios

A gastronomia brasileira está em busca de uma receita para se reinventar. A pandemia provocou o fechamento de restaurantes, demissões em massa e uma série de incertezas no setor. Mesmo assim, chefs e donos de restaurantes tentam manter o otimismo e confiam que a proximidade do “novo normal” vai começar, pouco a pouco, a trazer os clientes de volta.

Segundo dados da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), 25% dos negócios do ramo fecharam as portas em definitivo diante da crise, um em cada quatro estabelecimentos. No total, já são mais de 1,2 milhão de empregos perdidos em um mercado que, antes do colapso, contabilizava seis milhões de vagas diretas. A estimativa é que o prejuízo do setor ultrapasse os R$ 50 bilhões, além de provocar um longo e lento processo de recuperação.

Dados apontam uma queda de 80% no faturamento dos empreendimentos que continuam de portas abertas. No Rio de Janeiro, tiveram que fechar as portas e demitir funcionários casas tradicionais como O Navegador, da chef Teresa Corção, fundado há 45 anos, e o badalado Angu do Gomes, inaugurado em 1955 e considerado um patrimônio cultural carioca. Apenas nesses dois restaurantes, foram 33 cortes. Enquanto isso, outros milhares de estabelecimentos correm risco de decretar falência. Planos de apoio a microempresas, como o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), oferecem suporte financeiro, mas é difícil que a ajuda chegue a todos pela demanda em excesso.

Apesar das incertezas, os empreendedores do setor não desanimam. O empresário Marcelo Fernandes, proprietário dos renomados Attimo e Kinoshita, entre outros restaurantes, afirma que a pandemia exigiu inovação e criatividade de sua equipe. “Acredito que os clientes vão retornar aos poucos. Seguiremos os padrões de distanciamento e esperamos que eles se sintam confortáveis. Sempre fomos especializados em alimentação fora de casa, o serviço de delivery nem fazia parte da nossa realidade. Tivemos que ser criativos para sobreviver a essa crise”, afirmou o empresário, que colaborou com programas de doações de alimentos para as vítimas da pandemia.

Rodrigo Oliveira, chef do premiado restaurante Mocotó, em São Paulo, é um dos poucos gestores que conseguiram evitar a demissão de funcionários. “A parte mais importante são as pessoas que trabalham conosco. Temos que preservá-las, aliás, porque elas são o negócio. Nosso mercado precisa se reinventar, se engana quem acha que nossa atividade consiste só em fazer arroz, macarrão. Trabalhamos com hospitalidade e o acolhimento de pessoas”, afirma o chef.

UM NOVO INGREDIENTE

A pandemia trouxe um novo ingrediente que hoje é essencial para a receita de transformação do setor da gastronomia: os entregadores. Sem eles, é impossível montar uma estratégia alternativa que inclua o delivery. Para a chef Morena Leite, do Grupo Capim Santo, o serviço de entregas é uma maneira de garantir a vida dos negócios, pelo menos no curto prazo. “A pandemia afetou muito a nossa operação, assim como a de outros colegas. Estamos fechados desde o dia 15 de março e não fazíamos serviços de delivery antes da pandemia. Hoje, essa é uma maneira de manter as coisas funcionando”, afirma. Alex Atala, empresário e um dos chefs mais conhecidos do País, acredita que ainda é cedo para saber exatamente como o setor será impactado. “Foram e estão sendo meses difíceis para todos. Vamos reabrir aos poucos os restaurantes, sempre tentando conter ao máximo os custos e ganhar o máximo de eficiência”, afirma o chef. “Esse recomeço será diferente, com menos gente, maior distanciamento. Mas vamos continuar buscando saídas para que o cliente continue tendo uma experiência única.”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 14 DE JANEIRO

CONHECIMENTO, A MELHOR POUPANÇA

Os sábios entesouram o conhecimento, mas a boca do néscio é uma ruína iminente (Provérbios 10.14).

O conhecimento é melhor do que o ouro, é mais seguro do que a moeda mais valorizada do mercado. Os ladrões podem roubar nossos tesouros, e as traças podem corroer nossas relíquias, mas o conhecimento é uma riqueza que ninguém nos pode tirar. Os sábios entesouram o conhecimento e, com ele, vêm a reboque as riquezas desta terra. O conhecimento é a melhor poupança, o mais lucrativo investimento. Ninguém, porém, entesoura conhecimento de uma hora para outra. Esse é um processo longo. Para entesourar conhecimento é preciso dedicação, esforço e muito trabalho. Os tolos e preguiçosos acharão muito custoso fazer esse investimento. Preferem o sono, o lazer e a diversão. Aqueles cuja mente é vazia de conhecimento têm a boca cheia de tolices. A boca do néscio é uma ruína iminente. Em vez de ajudar as pessoas a trilhar pelas sendas da justiça, desencaminha-as para os abismos da morte. A língua do néscio é um veneno mortífero. Seus lábios são laços traiçoeiros. Sua boca é uma cova de morte. O sábio que entesoura o conhecimento, não apenas supre a si mesmo com o melhor desta terra, mas também se torna uma fonte de bênção para quem vive à sua volta.

GESTÃO E CARREIRA

10 LIÇÕES DO ESPORTE PARA OS NEGÓCIOS

Executivos esportistas revelam as atitudes campeãs para o sucesso nas corporações.

Avaliar adversários, planejar melhor as ações, desafiar os limites, superar as derrotas e tomar decisões vencedoras são as cinco lições do mundo esportivo para o ambiente corporativo – desde sempre um ambiente igualmente competitivo. Para a professora de Administração Miriam Vale, do Ibmec SP, essa comparação com os esportes é inevitável há muito tempo, mas evoluiu na prática com os avanços no meio corporativo e a mudança de perfil da liderança. “Hoje, entre as competências de um líder que se espelha no universo esportivo estão o foco, a disciplina, a determinação e a capacidade de definir um propósito”, afirmou. E assim manter uma unidade de direção para todos. “E, se for o caso, remodelar o seu negócio.”
Dono de quatro medalhas olímpicas na natação (duas de prata e duas de bronze), Gustavo Borges – que mergulhou de cabeça no empreendedorismo – é outro que defende com conhecimento de causa os ensinamentos esportivos para uma gestão empresarial de alta performance. “Ensina a ter coragem e a seguir em frente”, afirmou. “Favorece ainda uma construção de cultura organizacional de time, bem como a atuação de uma liderança pelo exemplo e consenso.”

Formado em economia pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, o ex-nadador – proprietário da Academia GB e criador da Metodologia Gustavo Borges (MGB), que já capacitou mais de 400 estabelecimentos de natação no Brasil e no exterior – resumiu em três palavras as atitudes da sua carreira que guiaram os seus próprios negócios: excelência, consistência e persistência. “Quando você faz algo bem feito, com qualidade e por um bom tempo, e ainda se alia a pessoas positivas e que te levam para frente, o resultado acontece.” Com base na experiência vitoriosa de dez executivos renomados, listamos as principais lições aplicadas no âmbito dos negócios e que vêm das quadras, dos campos, dos tatames, dos mares, entre outros espaço esportivos pelo planeta.

1.NUNCA DESISTIR

O italiano Pietro Labriola pode ser considerado um empresário, ou melhor, um atleta que desafia qualquer limite. Aos 53 anos, tem no currículo a prática de esportes desde os tempos de universidade, quando disputava campeonatos de futebol. Já jogou squash para manter altos os níveis de adrenalina, iniciou o snowboard depois dos 40 anos e descobriu o skate recentemente. O CEO da TIM, formado em Administração, o esporte fortalece a disciplina pessoal, o autoconhecimento e o espírito de competição, ao servir de preparação para um mercado cada vez mais acirrado. “É com esportes e exercícios que conheço minhas potencialidades e meus limites, sem contar que são escapes para o estresse diário”, afirmou o CEO. O impacto da atividade esportiva no dia a dia dos negócios fica evidente em um aprendizado levado pelo italiano da prática da corrida para o escritório: “Never give up”. Lembra que não se deve desistir quando o resultado não chega, mas, sim, redobrar os esforços para colher os frutos. Labriola também cita a máxima “It’s never too late” ao destacar que nunca é tarde para investir em algo novo.

2.MANTER FOCO E DISCIPLINA

Se comandar uma empresa já não é tarefa das mais fáceis, imagine então controlar três bandeiras. Esse é o desafio da empresária Renata Moraes Vichi, CEO do Grupo CRM, controlador das marcas Kopenhagen (incluindo a rede de cafeterias Kop Koffee), Chocolates Brasil Cacau e Lindt Brasil. A executiva de 38 anos alia a prática de artes marciais mistas com treinamento funcional, musculação e spinning. A rotina diária de atividades esportivas tem duas sessões – uma pouco antes das 5h e a outra, no fim do dia. “Gosto de superar os meus limites e sempre com muito foco e disciplina”, afirmou. “Esses dois agentes combinados proporcionam resultados tantos nos treinos quanto nos negócios.” Formada em Administração e Publicidade, Vichi diz que o desejo latente de superação é outro elo importante entre os mundos esportivo e corporativo. “Permite estruturar o meu caminho até o objetivo final.”

3.EXERCER A RESILIÊNCIA

A rotina de Guilherme Benchimol é cheia de desafios. Aos 44 anos, o carioca é cofundador da XP Investimentos. Responsável por administrar R$ 412 bilhões em ativos de cerca de 2,2 milhões de clientes, o economista adotou a corrida à rotina. Treina cinco dias por semana – chega a percorrer 80km no período – e faz musculação em dois dias. Segundo ele, o esporte serve de terapia. “Toda vez que boto meu tênis, relógio no pulso, a impressão é que entrei em outra vida. Minha cabeça desconecta de tudo”, afirmou. Ele aponta a resiliência como ponto de convergência entre esporte e mundo corporativo. “É a capacidade de sacudir a poeira, levantar a cabeça e seguir em frente. O esporte ensina isso através das derrotas e das vitórias”, disse. Ele conta sobre uma ocasião no tênis quando ainda novo (sonhou ser profissional) virou uma partida contra o hoje lutador Victor Belfort e sagrou-se campeão. Benchimol já havia feito umas cinco ou seis finais contra Belfort e sempre era derrotado. “Segui um conselho do meu pai e venci. Sempre se deve acreditar, sempre há um caminho. É uma lição muito importante.”

4.TER HUMILDADE

Seja no Brasil, na França (onde já morou a trabalho) ou nas Ilhas Maldivas (em férias), o surfe tem acompanhado Ana Theresa Borsari, country manager da Peugeot, Citroën e DS no Brasil. Com apoio do marido, a executiva pegou a primeira onda há cerca de 20 anos e, agora, vê os dois filhos, de 13 e 15 anos, dia a dia compartilharem da mesma paixão pelo esporte na praia da Baleia, em São Sebastião (SP), onde estão desde o início da pandemia. Com o mesmo respeito dirigido à natureza – e típico dos surfistas que desafiam a força do mar – a executiva prega humildade no mundo corporativo. “Por mais sucesso que tenha na carreira profissional e no mundo corporativo, ninguém é sabedor de tudo”, afirmou. “Todos precisam ter uma postura humilde e de respeito, principalmente ouvindo os colaboradores para tomar a melhor decisão.” Praticante de meditação há mais de dois anos, Borsari conta que também já tirou lições preciosas de quando jogava handebol na época do colégio São Luís e na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Essa experiência com um esporte de alto contato físico – e que lhe rendeu inclusive o rompimento dos ligamentos dos joelhos – a ajudaria na carreira e na vida a nunca ter medo de enfrentar as situações e a seguir sempre adiante. “Acho que essa forma de se colocar é essencial no mundo dos negócios.”

5.SONHAR GRANDE

Aos 80 anos, o economista Jorge Paulo Lemann também levou ensinamentos do mundo do esporte, no caso o tênis, para o corporativo. Dono da maior cervejaria do planeta, a AB Inbev, e sócio da 3G Capital, controladora das marcas Burger King e Kraft-Heinz, o empresário sempre afirmou em entrevistas que “sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho”. A premissa, segundo ele, é válida na quadra e no escritório. Em depoimento no livro Como Fazer uma Empresa Dar Certo em um País Incerto (Elsevier), disse: “Estou sempre querendo chegar lá, conquistar mais alguma coisa. Essa é a graça. No dia em que eu tiver realizado o meu sonho, morri.” Homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em US$ 14,9 bilhões, pela lista da Forbes, o carioca iniciou a carreira no tênis aos 7 anos, no Country Club do Rio de Janeiro. Sagrou-se por cinco vezes campeão brasileiro e defendeu tanto o Brasil quanto a Suíça na Copa Davis, o mais renomado torneio entre nações. Teve ainda o privilégio de atuar em Roland Garros (França) e em Wimbledon (Inglaterra), dois dos quatro torneios do Grand Slam – ao lado do Aberto da Austrália e do Aberto dos Estados Unidos. Lemann chegou a liderar o ranking mundial na categoria veterano.

6.TRABALHAR EM EQUIPE

Com os mesmos ímpeto e habilidade com que supera dunas, rios, buracos e muitas outras adversidades nas pistas off-road pelo mundo, o empresário Reinaldo Varela, 61 anos, é contundente ao revelar o principal responsável pelo seu sucesso na carreira como piloto: o trabalho em equipe. Proprietário da rede Divino Fogão, especializada em culinária da fazenda, o paulistano tornou-se referência também fora da cozinha de uma das 180 unidades da franquia pelo Brasil. Tricampeão mundial de Rally Cross-Country (variação do rali de velocidade com o de regularidade), oito vezes vencedor do Rally dos Sertões e do Brasileiro, o administrador de empresas chegou ao topo no esporte em 2018, ao lado do navegador Gustavo Gugelmin, ao conquistar o título do tradicional Rally Dakar (categoria UTVs – intermediária entre o carro e o quadriciclo), disputado na América do Sul. Com a mesma estratégia, Varela levou o prêmio máximo do segmento em 2019 – o franqueador do ano. “Nunca se ganha sozinho, no rali ou nos negócios”, afirmou. “Nas pistas você só vence em equipe, composta por piloto, navegador, mecânicos e preparador. Todos são responsáveis pelo seu resultado. E no ambiente corporativo é a mesma coisa. Para Varela, quanto mais você dividir, mais você ganha. Porque todo mundo vai ter foco naquilo que está fazendo. “Outra coisa: só trabalha em equipe quem escuta. Quem não escuta, só manda. Tem que saber escutar, peneirar tudo o que ouve, ver as melhores ideias e colocar em prática. Isso é o que te faz ter grandes resultados em qualquer coisa.” O empresário, que chegou a ser campeão paulista de natação e praticou tênis em parte da vida, enumera outras lições do esporte que o guiam na jornada gastronômica: foco, persistência, dedicação para atingir a excelência, além de buscar os melhores equipamentos e profissionais.

7.APRENDER A SE ADAPTAR

O executivo Cícero Barreto, 46 anos, pode ser considerado um atleta fora de série. Desde 2009, disputa provas de ultramaratona em montanhas, o trail run, no Brasil e ao redor do mundo. Percorrer distâncias superiores a 100km tornou-se rotina na vida do diretor da Omint, operadora de saúde e seguradora. Formado em análise de sistemas, com pós-graduação e MBA em Marketing, aprendeu com o esporte que nenhuma prova é igual a outra. “O clima, a preparação e o planejamento mudam de acordo com o momento e isso tem tudo a ver com o mundo corporativo”, disse o sul-matogrossense, primeiro atleta sul-americano a ganhar a Sunrise to Sunset, ultramaratona com 100km na Mongólia, na Ásia. Outra lição que diz ter tirado do universo esportivo é exercer a cidadania. “O esporte agrega, promove congraçamento, inclusive em momentos delicados, como o que estamos passando”, afirmou. Em plena pandemia, ele lançou o #desafioaquecendoasruas. Cada quilômetro percorrido foi convertido em um cobertor doado a pessoas de situação de rua. “Batemos a meta de 1 mil cobertores doados”. Outros ensinamentos adotados por ele nos negócios são a resiliência (“Para estabelecer paz no meio do caos, se encontrar e conseguir performar”), senso de planejamento (“Para saber lidar com imprevistos”) e melhor gestão de recursos (“Não apenas físicos e financeiros, mas também de tempo, para obter resultados”).

8.SER DETERMINADO

Abílio Diniz, 83 anos, presidente do Conselho de Administração da Península Participações e membro do Conselho de Administração do Carrefour Global e do Carrefour Brasil, intercalou sua jornada nos esportes e na vida empresarial com atitudes campeãs como determinação e disciplina, que lhe renderam sucesso nas duas áreas. Como atleta, aos 6 anos já era goleiro. Aos 13, matriculou-se nas aulas de boxe e, ainda adolescente, aprendeu judô, capoeira, além de fazer musculação. Formado em Administração de Empresas, o executivo conciliou a voracidade e o arrojo à frente do grupo Pão de Açúcar à velocidade nas pistas, fossem na água ou nos autódromos. Em 1968, 1969 e 1970, conquistou o tricampeonato brasileiro de motonáutica e, ainda naquele último ano, no controle de um carro, ganhou a tradicional Mil Milhas de Interlagos, ao lado do irmão Alcides. Já nos anos 1990, Abílio aumentou o interesse pelas provas de longa distância e, em 1994, disputou a sua primeira maratona em Nova York, um de seus maiores orgulhos. “O esporte ainda faz parte da minha rotina, mas com o objetivo de me trazer longevidade com qualidade”, disse. “Há muitos anos dedico todos os dias duas horas da minha rotina para a prática de atividade física e tenho certeza de que ela é um dos pilares mais importantes para que eu tenha saúde aos 83 anos.”

9.SUPERAR LIMITES

Os desafios de um triatleta assustam apenas ao se enumerar. Nadar 3,8km, pedalar 180km e finalizar com uma corrida de 42km. Tudo em sequência. Um desafio e tanto para um seleto grupo de esportistas, mas que faz parte da vida de Eduardo Jurcevic há 22 anos. A paixão pelo triatlo começou aos 18 anos, quando assistiu a uma prova em Santos, sua cidade natal. “Entendi na mesma hora que era isso o que eu queria como hobby e lifestyle”, afirmou o CEO da Webmotors, plataforma de negócios e soluções para o mercado automotivo. Bacharel em Direito, com MBA em Gestão Empresarial, o executivo de 45 anos tem na carreira mais de 30 provas de IronMan (categoria top do esporte) e o título do Meio IronMan 70.3 de Foz de Iguaçu, além de participações em Mundiais. A proeza exige muita disciplina e até logística. A sessão de treinamento é diária, das 4h às 7h. Além de ser uma forma de “aliviar 100% o estresse nos negócios e favorecer o mindfullness [estado mental de controle da concentração]”, o maior aprendizado que Jurcevic leva para suas decisões e estratégias é a capacidade de superar todos os limites, até mesmo aqueles criados pela mente. E, para explicar isso, ele cita superações reais como o dia em que tudo aconteceu em uma única prova em Fortaleza. “Fiz um corte profundo em um dos joelhos em uma quina saindo da água, escorreguei na prova de bicicleta e perdi uma garrafinha de água e, já na corrida, para aliviar uma bolha em um dos pés, coloquei silver tape para continuar”, afirmou. “A recompensa foi uma vaga para o Mundial do Havaí.”

10.MANTER A CONCENTRAÇÃO

Contornar seis balizas e três tambores no menor tempo… Em cima de um cavalo. O hipismo rural, modalidade bastante difundida no interior do Brasil, exige relação harmoniosa entre o cavaleiro e o animal, destreza para percorrer o percurso pré-determinado na pista, além de garra e coragem para superar as adversidades. “Mas o principal é ter concentração”, afirmou Flávio Osso, 40 anos, CEO da Ubook, maior plataforma de conteúdo em áudio por streaming da América Latina. “Se você entrar na pista para correr ou na quadra para jogar tênis (outro esporte praticado por ele) sem concentração, não consegue resultado algum, a exemplo do que acontece nos negócios.” Esportista ao longo da vida, praticante de judô (aos 7 anos), jiu-jítsu (dos 12 aos 20), vôlei (dos 15 aos 17) e tênis (costumava jogar duas a três vezes por semana antes da pandemia), o empresário descobriu o hipismo rural há cerca de cinco anos e, quase todos os fins de semana, segue com a mulher e a filha para o rancho da família, nas cercanias no Rio de Janeiro, para aliviar o estresse da vida empresarial. “É uma válvula de escape. Não é só o que você traz do esporte para dentro da empresa. Você tira da empresa e joga na pista, na quadra, quebra a raquete. Isso não é uma via de mão única. É de mão dupla.”

ANA THERESA BORSARI 

Do handebol ao surfe, executiva da Peugeot, Citroên e DS no Brasil diz que mundo corporativo pede lições de humildade; 

RENATA MORAES VICHI 

CEO do Grupo CRM alia a prática de artes marciais a exercícios de musculação e spinning. Tira deles para os negócios foco e disciplina; 

GUILHERME BENCHIMOL 

Para o cofundador da XP, o esporte serve de terapia e também ensina a “sacudir a poeira, levantar a cabeça e seguir em frente”; 

EDUARDO JURCEVIC 

Para o CEO da Webmotor, que é triatleta, o maior aprendizado tirado das provas para o mundo corporativo é a superação de limites.