NECESSIDADES PSICOLÓGICAS E EMOCIONAIS NA GESTAÇÃO – II
O MÊS QUE ANTECEDE o PARTO
Quando o dia da chegada do bebê estiver próximo, as gestantes precisam aceitar que já não podem realizar todas as tarefas, muito menos com a mesma rapidez que executavam antes de a barriga estar avantajada
No mês anterior ao parto, a ansiedade da gestante e, geralmente, da família toda, pela chegada do bebê, associada ao desconforto físico do final da gravidez (barriga bem grande e pesada, dor na coluna, inchaço de pés e pernas, falta de posição confortável para dormir etc.), faz a mãe querer mais ainda que o momento do parto chegue logo.
Contudo, as futuras mamães acabam se esquecendo de seguir um conselho antigo e frequentemente recebido pelas gestantes que é aproveitar para dormir e descansar antes da chegada do bebê. Algumas mamães ativas enfrentam dificuldades nesta reta final da gestação, que envolvem desde a inaceitação da sua limitação física até a autopermissão para um cochilo no meio da tarde.
Embora o dia da chegada do bebê esteja próximo e, por vezes, os afazeres ainda sejam muitos, as gestantes precisam aceitar que já não podem realizar todas as tarefas, muito menos com a mesma rapidez com que as executavam antes de a barriga estar avantajada. O barrigão impede que elas possam subir em bancos com a mesma segurança e equilíbrio e que executem movimentos, às vezes bem simples, como cortar as unhas dos pés. Além disso, faz com que se sintam mais cansadas, por vezes inchadas pelo peso que carregam, aliado à dificuldade de circulação do sangue. Em seu abdome, todos os outros órgãos são espremidos pelo útero aumentado, e alguns têm seu funcionamento comprometido, causando azia, enjoo, falta de ar, necessidade de ir ao banheiro inúmeras vezes durante noite e dia etc.
Nosso corpo, retrato fiel da natureza, nos indica que talvez este seja o momento de limitar as tarefas e dar lugar às necessidades da mãe e do bebê. Seria muito bom se a mamãe conseguisse simplesmente deitar e dormir no meio do dia. Descansar! Mesmo que isso signifique comprometer o restante do funcionamento da casa ou o atraso na entrega dos trabalhos, por exemplo.
Ali, dentro dela, há um ser terminando de ser formado, recebendo toda a nutrição de que ele necessita (alimento, oxigênio, segurança emocional) e depositando, de volta, tudo que não lhe serve mais e precisa ser liberado ou renovado. É a mãe também funcionando como um grande filtro para o bebê. Nesse período, pode até faltar algo para a mãe, como cálcio ou ferro, mas, impressionantemente, ao examinar o bebê, muitos médicos atestam que ele está devidamente abastecido.
Não se julguem preguiçosas, futuras mamães! Mesmo com a aparente baixa produção do lado de fora, lá dentro, o trabalho é contínuo e árduo. Tornem-se conscientes disso a fim de se permitirem momentos de “preguiça” e descanso de seus corpos e mentes. Isso também é fundamental para o bom desenvolvimento do bebê! Uma mãe tranquila, descansada e equilibrada, emocionalmente, é fundamental para o desenvolvimento de um bebê sadio. E mais do que uma casa impecável, uma mãe supercompetente ou qualquer outra exigência que uma futura mamãe possa se impor, seu bebê necessita de uma mãe consciente, presente e tranquila.
MUDANÇAS
Quando a hora chega, a grande mudança está para acontecer. Se até ali o bebê veio se desenvolvendo de forma tranquila, de maneira que a mãe tenha podido continuar a cumprir toda a sua rotina diária, normalmente, sem alterações consideráveis de humor, ansiedade ou estresse, a partir do nascimento essa mudança será sentida. A começar pelo simples fato de antes da ida para a maternidade saírem dois integrantes de casa e retornarem três… (ou saem três e voltam quatro, e por aí vai…) E ao retornar para casa com mais um membro na família muitas mudanças se farão necessárias.
Geralmente, somente nesse momento as mães compreendem o conselho, sabiamente dado, de descansar e aproveitar para dormir enquanto o bebê estava na barriga. Porque a rotina de sono acaba sendo alterada pelas mamadas e/ ou possíveis cólicas e trocas de fralda.
A arrumação da casa também pode ficar bastante comprometida com a chegada do bebê. Para facilitar o dia a dia atarefado das mamães, nos deparamos com trocadores, mamadeiras e fraldas espalhados em pontos diferentes e estratégicos da casa, uma almofada de amamentação horrorosa bem no meio da sala de estar, móveis e objetos de decoração começam a ser suspensos ou escondidos, a fim de assegurar que o novo integrante da casa esteja seguro ali.
Devido a isso, nos casos em que o casal mantém alguma rigidez ou autocobrança no sentido de manter o ambiente organizado da mesma forma que costumava ficar antes, seja pelo motivo que for, ainda poderá sofrer demais momentos de ansiedade, estresse e/ou depressão. Os horários todos se modificam, ajustando-se aos horários das mamadas e do soninho do bebê. Assim como as saídas do casal. Passam a ser escolhidos locais mais tranquilos, com infraestrutura mais adequada para a permanência e os cuidados do bebê. Com o passar do tempo são priorizados locais que possuem áreas destinadas a crianças, de forma que sejam combinados momentos de lazer de pais e filhos, na busca de minimizar o sacrifício de ambas as partes. Outros casais escolhem abrir mão temporariamente de seu lazer em função do bem-estar do bebê. O que não pode deixar de ser considerado é o bem-estar psicológico de todos os envolvidos, para que a escolha seja a mais adequada para cada família. Cada caso é um caso único, e a escolha mais acertada varia de acordo com isso. Permitam-se abrir mão de conceitos predefinidos e de decisões ansiosas e precipitadas que não poderão ser modificadas no dia a dia do casal com base na cobrança rígida de ter decidido o “melhor” pelo seu filho. De nada adianta o casal abrir mão, radicalmente, de seus momentos de lazer, em nome do bem-estar do filho, se algum dos pais se ressentir disso e isso significar alguma forma de prejuízo ao casal. Tudo deve ser analisado com calma, levando em consideração todos os fatores. Às vezes, mais vale expor uma criança a um ambiente barulhento e agitado do que uma mãe, diariamente, deprimida ou estressada, por exemplo.
É muito legal quando as mães conseguem curtir essa fase que envolve muitas tarefas e cuidados com os bebês, tais como mamadas, sono, troca de fraldas, umbigo a cair, banho de sol, primeiras consultas, vacinas do bebê etc. E, também, com elas mesmas, como os cuidados com os seios, a limpeza e retirada dos pontos do parto, alimentação, sono etc.
Apesar de tantas coisas a fazer, há mães que conseguem aproveitar o momento de ter seu tão sonhado bebê nos braços e sentir prazer e satisfação nas tarefas diárias. Como, por exemplo, poder contemplar as diferentes expressões do bebê durante uma mamada ou um sono gostoso, que vão do biquinho de choro a um largo sorriso.
É um momento fascinante em que a mãe é tudo para o bebê! A responsável por identificar e saciar todas as demandas dele. E o vínculo materno se fortalece mais ainda aqui do lado de fora. A cada mamada, cada olhar e em cada momento que a mãe se empenha em descobrir a causa do choro de seu bebê, por exemplo. Será frio, fome, cólica ou qualquer outra coisa? Elas chegam a se tornar experts em reconhecer a necessidade de seu filho pela “qualidade” do seu choro em cada momento. Diferenciam, inigualavelmente, o choro de fome do choro de dor, por exemplo.
Há mães que se sentem preenchidas e extasiadas nesse momento pós-parto. Alguns pais e demais filhos do casal chegam a se ressentir, pois ela passa a se dedicar quase exclusivamente ao novo bebê. Parece que nada mais lhe interessa. Tal reação acaba gerando casos nos quais os irmãos mais velhos passam a adotar um comportamento atípico, tornando-se rebeldes, depressivos ou agressivos, alimentando na mãe uma necessidade ainda maior de resumir seu mundo a ela e ao novo bebê, que só demanda elogios e paparicos de sua parte. Em outros casos, vemos maridos se envolverem mais em seu trabalho ou ocuparem seu tempo com TV, jogos ou qualquer outra coisa que lhes ocupe a mente e lhes traga algum conforto naquele momento.
COMPLEXIDADE
Muitas são as mudanças presentes nesse período pós-parto. Essas mudanças significativas e, por vezes, complexas, somadas à alteração hormonal, que ainda se mantém presente, e a muitos outros fatores sociais, culturais, genéticos e biográficos (como a bagagem de vida resultando em traumas e habilidades) vão fazer com que cada mulher sinta e reaja de forma diferente em cada gestação.
Há casos em que mães que sonharam com essa realização a vida inteira percebem não conseguir curtir o momento diante de complicações de ordem emocional ou física. Outras, portadoras de problemas psiquiátricos severos, relatam que apesar de necessitarem suspender ou diminuir sua dose de medicação, a fim de não afetar o desenvolvimento do bebê, se recordam de terem vivido os momentos mais sãos e prazerosos de suas vidas. Percebemos assim que, infelizmente ou não, não há receita a ser seguida.
Não só as futuras mamães mas também os que as cercam devem estar alertas para poder lidar com isso de forma compreensiva e coerente. Lembrando sempre que essa é apenas uma fase que passará bem rápido e logo acabará. Poderá deixar saudade, frustração, alegria ou tristeza, dependendo da forma que for vivida.
Permitam-se abrir mão de fazer e serem “perfeitos” e cuidem de fazer o melhor que puderem fazer enquanto pais. A única qualidade inexistente na maternidade é a perfeição. As mães erram sempre! E posso afirmar mais. Erram, muitas vezes, acreditando fazer o melhor para seus filhos.
Por isso, permitam-se ser mães com seus acertos e erros e ensinem seus filhos a serem falíveis também. Pois pior do que fazer errado é não se permitir tentar por medo de falhar.
Ser mãe é se permitir ser quem é e ser um exemplo vivo para o seu filho de tudo o que você deseja que ele se torne um dia. Se você não pretende cobrar que seu filho seja perfeito, se pretende admitir seus erros e falhas e ensiná-lo que o erro nada mais é do que uma tentativa equivocada de acertar, por que viver algo diferente disso? Seja complacente e generosa com você, para que seu filho amanhã possa fazer o mesmo com ele e com os demais.
Se notar que errou ao longo dessa caminhada junto dele, por que não ensinar a ele a forma adequada de se desculpar e reparar seu erro? Afinal, ser mãe envolve aprendizado para ambas as partes. E caso o seu erro não tenha como ser reparado, posteriormente, permita-se recomeçar e tentar modificar o rumo de sua história. Isso é permitido a todo instante. O ser humano é sábio e criativo. Precisa se permitir. Apenas isso.