VAMOS FALAR SOBRE O AUTISMO? – XI
PARA UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA
Terapias de diferentes áreas que favorecem o desenvolvimento do autista
Primeiramente, antes de iniciar qualquer terapia ou recorrer ao tratamento medicamentoso, a análise multidisciplinar para identificar o autismo é necessário. Após a confirmação do diagnóstico do TEA por diversos profissionais, é importante começar os tratamentos o quanto antes, visando amenizar o desenvolvimento dos sintomas.
POR QUE PROCURAR ESPECIALISTAS DE DIFERENTES ÁREAS?
O processo terapêutico pode variar de acordo com as necessidades e os interesses do paciente e conforme ocorrer a decisão da família. A definição da equipe de profissionais deve ser bastante estudada por meio de uma avaliação para elencar quais os cuidados necessários. O ideal é procurar especialistas experientes em terapias relacionadas ao TEA em diferentes áreas, como a psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, entre outros. Assim, cada um pode oferecer a sua visão do caso para que, em conjunto, a evolução do tratamento multidisciplinar seja positiva.
QUAL A IMPORTÂNCIA DO FONOAUDIÓLOGO PARA O AUTISTA?
Este profissional é fundamental nos primeiros cuidados com o autismo, levando em conta que a alteração na comunicação, tanto verbal como não verbal, é um dos principais sintomas no quadro clínico da pessoa dentro do espectro autista. Visto que o diagnóstico precoce e a intervenção imediata são extremamente importantes para uma melhor evolução do quadro da criança com autismo, “o fonoaudiólogo, na maioria das vezes, é o primeiro profissional, além do pediatra, que recebe e identifica os primeiros sinais e sintomas do TEA na criança”, explica a fonoaudióloga Andréa Misquiatti.
Além da parte do déficit de comunicação, esse profissional também pode trabalhar outras funções que são comprometidas pelo TEA, como a motricidade oral, ou seja, a respiração, deglutição (engolir) e mastigação. “Realizamos atividades com alimentos, proporcionando o reconhecimento de uma gama variada de texturas, cores e sabores”, complementa a fonoaudióloga e psicopedagoga Sheila Leal.
COMO TRABALHAR A FONOAUDIOLOGIA EM CASA?
Após a criança ter recebido o diagnóstico, ela precisa ser levada aos especialistas indicados para tratamento. Mas o processo não acaba por aí! Dar continuidade com exercícios simples em casa é fundamental para o melhor desenvolvimento da linguagem da criança. Para isso, existem atividades relacionadas à comunicação voltadas para cada quadro clínico. Em relação a uma criança que possua uma expressão verbal, as atividades mais indicadas por Sheila são voltadas para “o aumento de vocabulário, conquista de alguns fonemas (para que ela possa ser melhor entendida), trabalhos com fantoches (para criar turnos da comunicação), programas realizados por imitação (com jogos, figuras, músicas) atuando de forma lúdica e objetiva”. Já para crianças que tendem a se comunicar de um modo não verbal, como escrita e desenhos, a fonoaudióloga indica “as técnicas Picture Exchange Communication System (PECS – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras, em tradução livre). Assim, ela pode adquirir recursos para realizar sua comunicação e, com isso, ter estimulado também o desenvolvimento de sua fala”.
QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES APRESENTADOS PELO AUTISTA NO ÁREA FONOAUDIOLÓGICA?
Como distúrbios de linguagem são um dos sintomas mais recorrentes e evidentes, a pessoa com TEA pode apresentar variações dessas complicações dependendo da gravidade do seu quadro clínico,” por exemplo, quando emite ecolalia tardia e imediata (repetição de palavras ou frases inteiras) fora do contexto, inversão pronominal, discurso incoerente, alterações da prosódia (voz monótona), uso de palavras pouco usuais, discurso monotemático (falam sobre um único assunto) ou mesmo a falta de comunicação oral”, exemplifica a fonoaudióloga.
EXERCÍCIOS FÍSICOS SÃO RECOMENDADOS COMO TERAPIA PARA O TEA?
Terapeutas da Associação Cultural Educacional Social e Assistencial Capuava (Acesa Capuava) indicam a prática de exercícios físicos no processo de tratamento em casos de TEA, pois a coordenação motora e a cognição (raciocínio, memória, atenção, etc.) são dificuldades bastante presentes em pessoas com esse transtorno. E, além disso, atividades físicas, seja por meio da prática de esportes ou simples brincadeiras, são importantes para promover a socialização.
Os benefícios dessa terapia ultrapassam a melhora dos sintomas mais comuns do TEA. Ela também contribui para o gasto de calorias, o que é saudável para pessoas dentro ou fora do espectro autista, gera melhorias em quadros de agitação e, consequentemente, o sono, o humor e controla a ansiedade.
Outra recomendação dos especialistas é começar as atividades físicas com esportes individuais para, posteriormente, evoluir para os que trabalham com a coletividade. A natação é um exemplo de esporte que, além de poder ser praticado tanto individualmente como em grupo, utiliza o meio aquático, importante para o desenvolvimento motor.
A TERAPIA OCUPACIONAL AJUDA NO TRATAMENTO DO AUTISMO?
Outra área a ser levada em conta na busca da melhor qualidade de vida é a terapia ocupacional. Essa especialidade tem como objetivo trabalhar as questões voltadas à integração sensorial dessas pessoas. Segundo Sheila, “este trabalho é fundamental para o desenvolvimento de várias habilidades, como ficar descalço, ter contato com areia, grama, subir em objetos e balançar.”
O ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO DO AUTISTA É NECESSÁRIO?
Sim, é importante que tanto o portador do TEA quanto os pais participem de um trabalho psicológico. Além do auxílio com a característica reclusão social e outros déficits cognitivos, a psicoterapia ajuda em possíveis comportamentos agressivos e compulsivos, que podem interferir no convívio em família, na escola e na sociedade em geral. “Conheço, acredito e aplico as técnicas do Método ABA – Análise do Comportamento Aplicada – e observo intensas modificações nos comportamentos das crianças com TEA”, indica Sheila. Alguns pais podem relutar em aceitar o diagnóstico de autismo, parte fundamental do processo terapêutico para que possam dar continuidade ao mesmo e, assim, ajudar a criança a obter alguma evolução. Segundo a psicopedagoga, “os pais, quando orientados por psicólogos, passam a entender quais são os comportamentos que devem ser reforçados ou ignorados, e essas condutas têm reflexos imediatos na vida da criança”.
E QUANTO À FISIOTERAPIA, É INDICADO PARA CRIANÇAS COM TEA?
Essa é mais uma área fundamental a ser trabalhada, principalmente nos primeiros anos de vida de crianças que apresentem um atraso nas funções motoras, estimulando ações básicas como engatinhar, sentar, ficar em pé, andar sem ajuda e brincar com as mãos. Mais adiante, é possível que apareçam dificuldades em relação à coordenação motora e noções espaciais, que também podem ser trabalhadas com a fisioterapia por meio da integração sensorial, psicomotricidade (relação entre as funções psíquicas e motoras), circuitos motores e relaxamentos.
Com o passar do tempo, nas fases adolescente e adulta, é possível que apareçam outros obstáculos a serem trabalhados pela fisioterapia, como postura e mudanças comportamentais, que podem ser exercitados com o RPG (reeducação postural global), alongamentos e controle da respiração, por exemplo.
A PARTIR DE QUAL PONTO O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO É RECOMENDADO?
O uso de medicamentos para o tratamento não só do TEA, como de outros transtornos neurológicos, é sempre alvo de polêmicas quanto em que momentos deve ou não ser indicado. Segundo a neuropediatra Solange da Costa Silva, “algumas vezes, é necessário o uso de neurolépticos (risperidona, quetiapina, haloperidol) para as alterações comportamentais, como agressividade, e uso de anticonvulsivantes para casos de epilepsia ou de distúrbios do humor. Para os que possuem transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), está indicado o uso de metilfenidato” – vale lembrar que está fora de cogitação o uso de remédios sem a prescrição de um médico especializado. Além da indicação, é importante ter em mente que nem todo individuo dentro do espectro autista irá precisar recorrer a um tratamento medicamentoso algum dia. “Para autistas ansiosos, agitados, hiperativos, com muitas manias e estereotipias, são recomendados remédios da linha psicológica e psiquiátrica para isso. Mas existem autistas que não tomam remédios e não precisam deles”, ressalta o neuropediatra Paulo Breinis.
Esses medicamentos são indicados para o controle de sintomas provenientes do autismo. Quanto a uma cura para o transtorno, ela ainda não existe e é o que a genética tanto trabalha para encontrar. Como citado anteriormente, o neurocientista e geneticista Alysson Muotri, alguns anos atrás, fez parte de um grupo, nos Estados Unidos, que conseguiu reverter o gene autista da Síndrome de Rett, feito que impulsiona a descoberta de uma solução para a cura do TEA. Porém, Muotri explica que os laboratórios dedicados a encontra-la são poucos, mesmo com evidências de que o autismo seja curável, tanto em “minicérebros” (derivados de células-tronco de pessoas dentro do espectro autista) como em animais. Segundo Muotri, “existem algumas drogas em fase pré-clínicas, e não se sabe quando os testes clínicos começarão. O principal obstáculo da pesquisa atualmente é a falta de financiamento. É difícil prever efeitos colaterais com novos medicamentos; para isso, servem os testes clínicos.”
A EQUOTERAPIA É EFICIENTE NO TRATAMENTO DO TEA?
No equoterapia, assim como no diagnóstico e em todo o tratamento do autismo, é necessária uma equipe com diferentes profissionais especialistas, como fisioterapeuta, psicólogo, terapeuta ocupacional e, principalmente, um equitador para garantir a segurança no trabalho com o cavalo. Dessa forma, com técnicas relacionadas cada uma à sua área, a equoterapia pode proporcionar a melhora de danos motores, comportamentais, sensoriais motores, cognitivos e emocionais. Outra característica interessante dessa terapia é a realização ao ar livre, sem a limitação física de um consultório e o barulho da cidade.