EU ACHO …

SHAKESPEARE NA PANDEMIA

O perigo iminente sempre foi à fonte do grande drama explorado em suas peças

Em maio de 2020, Robert De Niro, em conversa no programa Newsnight, da BBC TV, parecia incapaz de descrever a política norte-americana. Finalmente, ele exclamou: “É como Shakespeare, a coisa toda”, para resumir sua visão da crise. “Tão shakespeariano”, uma abreviatura cultural não verificada, tornou-se agora uma certeza estranhamente reconfortante que diz: “Você não está sozinho”. Para alguns leitores contemporâneos, as obras coletadas no First Folio de Shakespeare realmente formam um “livro da vida”.

Shakespeare deleita-se com o presente dramático. Ao menos três de suas peças começam com “Agora”. Ele sempre enfrentará as questões mais avassaladoras e virá em nosso socorro sob muitos disfarces, mas a influência é a sua posição-padrão. Isso é elisabetano: a era de Shakespeare vivia no “agora”, do nascer ao pôr do sol. ”A prontidão é tudo”, diz Hamlet. Tudo ou nada é um desafio que o dramaturgo celebra em suas antíteses ressonantes. “Ser ou não ser”, sua famosa oposição dramática, é ao mesmo tempo anglo-saxã, existencial e direta.

Foi o acaso de seu nascimento no Warwickshire elisabetano que o despertou para o drama da vida cotidiana? Foi aqui que ele aprendeu a extrair tantas nuances de significado dos detalhes cotidianos do mundo a girar? Em algum momento, em Stratford ou quando se mudou para Londres, ele descobriu a fonte do grande drama: o perigo iminente. Em sua imaginação, isso desabrocharia em um diálogo vitalício entre risco e originalidade, uma troca criativa que o escritor parece ter guardado para si mesmo. Nunca saberemos. Nas palavras de Jorge Luís Borges, o homem permanece um enigma, ao mesmo tempo” muitos e ninguém”.

Como era ele? Esta pergunta, tão importante no século XXI, teve pouca atração no XVII. Apesar das escassas evidências, há unanimidade impressionante entre as testemunhas contemporâneas. Quase todas as referências a “Shakespeare, o homem” concordam sobre sua decência, tratamento simples, discrição e polidez, nenhuma das quais sugere o lado sombrio que nos ajudaria a compreender peças como Ricardo III, Macbeth ou Rei Lear.

Podemos, entretanto, colocar essa figura indescritível em uma paisagem histórica. O Shakespeare que atingiu a maioridade durante décadas de crise, pavor e desordem fala a cada geração que se encontra inextremis. Qual é o segredo de sua empatia estranha e misteriosa, e onde está a chave para seus insights? Como e por que seu trabalho é tão perene?

De acordo com o diretor de teatro britânico Adrian Noble, uma pista para entender Shakespeare é que ele não é apenas “um grande visionário”, mas um “homem prático do teatro”. Escreveu peças para serem representadas “para um público que consistia de um amplo corte da sociedade: dos mais instruídos e lidos até os analfabetos”. Noble continua: “O público multifacetado que se amontoava entre as paredes do Teatro Globe era difícil de agradar e bastante volátil. Shakespeare tinha de chamar sua atenção e mantê-la”. Cortar uma mão, arrancar um olho, trazer um urso selvagem, derrubar uma floresta, cortar uma artéria: Shakespeare fará qualquer coisa para chamar a atenção do público.

Quatro séculos depois, o rapper britânico Storruzy, defensor dos estudantes negros desfavorecidos, usou um eco shakespeariano em seu disco de 2019 que liderou ,as paradas, Heavy

Is the Head (Pesada é a Cabeça), uma homenagem a Henrique IV. Nesse sentido, o ator Andrew Scott vê seu trabalho como ”eletrizar” o público. Ele também diz que encontrou seu próprio caminho no texto de Hamlet por meio do rap. “Eu odeio a ideia de Shakespeare colocado em uma caixa de vidro, como algo que está morto”.

Assim como Every Third Thought (Cada Terceiro Pensamento) patrocinou uma reconciliação com questões de vida e morte, a redescoberta de Shakespeare pode ser uma revelação. Em qualquer releitura, alguns de seus versos mais diretos e poderosos vêm em simples monossílabos antigos. “Ser ou não ser” é igualado por “Não me deixes enlouquecer” (Let men ot bemad), de Rei Lear, e a despedida de Iras (em Antônio e Cleópatra): “Nós somos para as trevas” (We are for the dark:). Eu também estava familiarizado com “as trevas”. O animal humano vive no epicentro de sua própria vida, principalmente quando adoece.

Nessa condição, a misteriosa introdução de Shakespeare é profundamente consoladora. Numa longa convalescença, quando cada dia se torna um lembrete da fragilidade humana, o poder extraordinário de Shakespeare de se conectar com a perplexidade de seu público e evocar uma emocionante sensação de mistério na provação humana inspira uma mistura de reverência, admiração e fascínio. Para mim, isso se tornou um longo diálogo interno. Se eu não pudesse mais viajar, ou me mover à vontade, como antes, ao menos poderia fazer viagens da mente, no “livro da vida” de Shakespeare. A palavra-chave da minha recuperação foi “plasticidade”. Uma definição de “plasticidade” descreve o fenômeno como “a capacidade de alteração contínua das vias neurais é sinapses do cérebro vivo e do sistema nervoso em resposta à experiência ou lesão”. De outra forma, “plasticidade” tem a ver com adaptabilidade cerebral, o tipo de resposta inconsciente que ocorre em qualquer releitura de Shakespeare. Hoje tenho três edições das Obras Completas, e cada uma traz as impressões de muito estudo: manchas de café e vinho, páginas rasgadas, marcas fantasmagóricas de lápis e cantos dobrados.

Na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, a devoção à memória do poeta encontra vários tipos de expressão, desde a comédia cult da tevê Upstart Crow ao sombrio tributo quadricentenário de Kenneth Branagh, All Is True (2018). Na virada do milênio, uma parada de sucessos de Grandes Britânicos da BBC fez de Shakespeare sua quinta escolha (à frente da Rainha Elizabeth e de Isaac Newton, mas atrás de Diana, a princesa de Gales, e de sir Winston Churchill, que liderou a votação).

Ocasionalmente, a tensão liberada de uma história shakespeariana cria uma onda de poder retórico capaz de inverter a razão, desafiar a lógica e transcender o significado. Diante de algumas guerras culturais fervilhantes, o desafio de Hamlet (“Quem vai lá?) é um chamado às ruínas, uma questão para mobilizar qualquer um preocupado com a defesa da cultura global entendida no sentido mais amplo. Foi possivelmente por isso que, na “desgraça geral” (palavras de Shakespeare) que irrompeu durante e após a eleição presidencial de 2016, muitos norte-americanos recorreram a Shakespeare em sua angústia.

OUTROS OLHARES

FILÉ A JATO

Startups criam máquinas capazes de imprimir carne a partir de plantas e moléculas de animais e podem iniciar uma revolução na indústria de alimentos

Em 1984, um estudante de engenharia perguntou ao americano Chuck Hull, inventor da impressora 3D, qual seria o futuro da máquina que, àquela altura, reproduzia formas rudimentares de resinas. “Vai chegar o dia em que seremos capazes de imprimir qualquer coisa, até mesmo um automóvel”, disse Hull. Ele estava certo, mas nem tanto. Na verdade, as máquinas foram muito além do que a sua imaginação pôde conceber. Atualmente, a tecnologia, de fato, é capaz de produzir qualquer tipo de objetivo inanimado – qualquer um mesmo. De barcos a casas. De próteses a armas. Isso, porém, não é exatamente novidade. A mais recente aplicação das impressoras 3D é ainda mais surpreendente e pode levar a caminhos inesperados. Os cientistas descobriram que os aparelhos são capazes de dar vida a suculentas carnes sintéticas, desde que sejam utilizados os ingredientes corretos.

A iniciativa é liderada pela empresa israelense Redefine Meat, que apresentou recentemente ao mercado a sua inédita impressora. As máquinas devem ser alimentadas com uma combinação de plantas e moléculas bovinas. Alguns minutos depois, elas imprimem filés que, pelo menos visualmente, são idênticos aos bifes tradicionais. Segundo a Redefine, startup criada em 2018 com a ambição de revolucionar o setor de alimentos, o sabor remete a carnes de verdade, nem de longe lembrando um produto sintético. “Conseguimos obter a mesma consistência de um bife convencional, inclusive imitando músculos e gorduras”, diz Alexey Tomsov, engenheiro da companhia. As máquinas foram concebidas para imprimir 20 quilos por hora, o suficiente para abastecer um restaurante de porte médio. A ideia é inicialmente levar a novidade para pequenos bistrôs ainda em 2020, e oferecer o equipamento ao mercado, para qualquer um que quiser comprá-lo, no começo de 2021. O preço não foi definido.

As grandes empresas estão atentas ao novo segmento. A rede americana de fast food KFC, uma das maiores do mundo, vai testar no mercado russo, em parceria com a startup 3D Bioprinting Solutions, nuggets feitos por impressoras. Assim como o equipamento da Redefine Meat, as máquinas usam como ingredientes plantas e, nesse caso, moléculas de frango. Em poucos minutos, imprime-se um balde cheio de nuggets, com a vantagem adicional de que nenhum animal precisou ser sacrificado. Eis aí o fator que encanta ambientalistas: as carnes fake, obviamente, têm potencial para preservar milhões devidas. “Sempre haverá pessoas criando e comendo animais”, disse em uma palestra nos Estados Unidos o cardiologista Uma Valeti, fundador da startup Memphis Meats, uma das principais empresas de carnes sintéticas do mundo. “Mas, pela primeira vez na história da humanidade, estamos perto de oferecer em larga escala um bife suculento, igualzinho à carne da vaca que estava pastando no campo, mas que foi 100% criado em laboratório.”

As carnes produzidas em laboratório podem levar a uma radical transformação na indústria de alimentos. Uma pesquisa feita pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, identificou trinta empresas que tentam recriar em laboratório carnes idênticas às consumidas hoje em dia. Antes das impressoras 3D, porém, os projetos eram caros e demorados, o que inviabiliza a execução. Com os equipamentos de impressão, espera-se que o setor ganhe novo dinamismo, e provavelmente não vai demorar para que as carnes fake fabricadas por uma máquina instalada no fundo de uma cozinha constem no cardápio de restaurantes estrelados. Não à toa, jovens companhias como a Memphis Meats, uma das maiores do ramo, contam com investidores pesos-pesados. Entre eles, Bill Gates, fundador da Microsoft, e Richard Branson, criador da Virgin. Uma das principais empresas de alimentos do mundo, a americana Cargill desembolsou dezenas de milhões de dólares para alavancar a Memphis Meats.

O avanço das impressoras pode levar à impressão de carne de verdade. Um artigo publicado pela revista científica Science apresentou detalhes de um experimento realizado na Estação Espacial Internacional. O cosmonauta russo Oleg Kononenko imprimiu no espaço células de cartilagem humana usando um equipamento criado pela empresa russa de biotecnologia Bioprinting Solutions. O método baseia-se em imitar o processo natural de regeneração do tecido muscular, mas sob condições controladas. Segundo Kononenko, a máquina 3D também foi capaz de produzir no espaço glândulas tireoides de ratos. Trata-se de algo realmente espetacular. Significa que, no futuro, as tripulações poderão imprimir seus próprios alimentos, incluindo carnes de laboratório. Se tudo der certo, elas serão tão saborosas quanto um belo pedaço de picanha.

EM TRÊS DIMENSÕES

O que esses equipamentos são capazes de fazer

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 30 DE SETEMBRO

A BACIA E A TOALHA

Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois (João 13.7).

Jesus é o Senhor e o Mestre, mas lavou os pés dos seus discípulos. Jesus não é apenas um senhor entre tantos; é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Não é apenas um mestre entre uma legião de sábios; é o Mestre por excelência, pela pureza do seu caráter, pela excelsitude de seus métodos e pela singularidade de seu conteúdo. Jesus é o Senhor que criou e governa o universo e o Mestre que nos revelou o próprio Deus. Ele é a verdade. Ele é a luz. Mas esse Senhor e Mestre não arrogou para si grandes coisas. Ao contrário, mesmo sendo Deus, fez-se homem; mesmo sendo Senhor, fez-se servo; mesmo sendo Santo, fez-se pecado. Esvaziou-se da sua glória, vestiu pele humana e humilhou-se até a morte, e morte de cruz. Quando os discípulos, no cenáculo, discutiam sobre quem deles era o maior no reino dos céus, Jesus levantou-se, cingiu-se com uma toalha, colocou água na bacia e lavou os pés dos discípulos. Depois, voltou à mesa e disse: Vós me chamais o Senhor e o Mestre e dizeis bem; porque eu o sou (v. 13). Jesus nos deu o exemplo de que a bacia e a toalha são os símbolos do seu reino. Quem quiser ser grande deve ser servo de todos. Aqueles que se humilham serão exaltados. Num mundo que valoriza tanto o poder e a força, Jesus nos ensina que a bacia e a toalha se constituem nas poderosas armas daqueles que são verdadeiramente grandes.

GESTÃO E CARREIRA

FRANGO SEM ESTRESSE

De uns tempos para cá, muito se fala em processos produtivos sustentáveis, com uso de energias limpas e renováveis, que protejam os recursos naturais necessários para a manutenção da vida na Terra. Dentro dessa nova mentalidade, até mesmo a forma de criar animais para abate passa por mudanças. A Netto Alimentos, empresa paulista especializada em ovos, com fábricas em Araçariguama e Iacri, no interior do Estado, embora não tenha granja própria, tem certificação para atuar dentro das normas do modelo cage free, que é a criação de galinhas fora das pequenas gaiolas. Além de ser cruel, o confinamento em gaiolas prejudica a qualidade, pois o estresse causado pelo aperto e pela temperatura ambiente contribui para que as aves botem ovos de cascas finas com presença de trincas, o que não é normal. A certificação é feita dentro do programa Certified Humane, cujos padrões são estabelecidos pela Humane Farm Animal Care (HFAC), que exige biosseguridade na granja, proibição do uso de antibióticos preventivos, entre outras medidas. A política da Netto Alimentos segue uma tendência mundial. Os ovos são comprados de granjas certificadas, o que garante completa rastreabilidade.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

TORMENTOS DA IRA

Ao longo dos séculos, estudiosos do comportamento tentam responder uma questão crucial: é possível controlar o que sentimos?

Alegria ou irritação, medo ou surpresa, pesar ou orgulho: os acontecimentos mais banais despertam múltiplas emoções. Elas acompanham cada instante do nosso cotidiano, onipresentes como o ar que respiramos. No entanto, empenhamo-nos quase sempre em conter nossos sentimentos ou em mantê-los dentro de limites toleráveis. Assim, quase nenhuma emoção escapa ao crivo da consciência.

Por que, afinal, buscamos controlá-las? Elas não são valiosas demais para ser reprimidas? Afinal, sem o afeto dificilmente ajudaríamos outro ser humano ou criaríamos nossos filhos; e, sem nos roer de raiva, talvez jamais criássemos coragem para pôr o vizinho no seu devido lugar. Portanto, para que o esforço de reprimir esses sentimentos?

Outra questão: como conseguimos conter nossas emoções? Profundamente enraizado em nossa herança biológica, o animal dentro de nós parece muito mais forte que qualquer mecanismo mental de mediação.

Esses temas estão no centro de uma área de pesquisa na qual psicólogos, sociólogos, antropólogos e, mais recentemente, neurocientistas têm adquirido valiosos conhecimentos. Tradicionalmente, aquela primeira questão – se o homem pode de fato controlar emoções – sempre foi respondida afirmativamente. Os estoicos já o postulavam. Marco Aurélio (120-180 d.C.), por exemplo, escreveu em suas Meditações, “Livre da paixão, a mente humana torna-se mais forte”. E, quase 2 mil anos depois, em O mal-estar na civilização, de 1929, Sigmund Freud explicou por que emoções transbordantes seriam inconciliáveis com o convívio social.

Com certeza, elas nem sempre trazem à tona apenas o que há de bom em nós. A raiva pode transfigurar-se em violência; reações fóbicas e depressão, por vezes, conduzem ao suicídio. Se uma pessoa armada ou um motorista enfurecido resolve dar livre vazão a sua raiva, é fácil prever a catástrofe. A capacidade de regular as próprias emoções parece, portanto, constituir necessidade vital para a sobrevivência do Homo sapiens.

Acreditar que temos nossos sentimentos sob controle está longe de significar que isso de fato aconteça. Talvez eles continuem borbulhando sob a superfície da consciência. Essa era a opinião de Freud, que introduziu na psicologia o conceito de recalque, sentimentos muito dolorosos ou incompatíveis com o ideal que temos de nós mesmos são exilados sem maiores delongas no inconsciente. Mas a energia própria das nossas emoções precisa de escape – como uma panela de pressão -, e acaba se manifestando, por exemplo, sob a forma de perturbações neuróticas ou mesmo físicas.

Outros pesquisadores mais tarde sustentaram a hipótese de Freud. Na década de 30, Franz Alexander (1891-1964), psicanalista e um dos fundadores da medicina psicossomática, descobriu que a pressão sanguínea tende a subir de forma constante nas pessoas que reprimem sistematicamente suas emoções. Não era apenas de parâmetros confiáveis para as emoções e o seu controle que Alexander carecia. Na verdade, suas descobertas baseavam-se em meros dados estatísticos, e não na experimentação. Por isso, ele não conseguiu elucidar a possível relação de causa e efeito existente entre o controle das emoções e a saúde de um indivíduo.

De lá para cá, no entanto, os estudos sobre o tema foram aprofundados. Isso abre caminho para que o modo como os seres humanos regulam seus sentimentos seja estudado. O psicólogo James Cross, professor da Universidade Stanford, na Califórnia, coordena uma equipe que investiga estratégias para controlar os sentimentos e a forma como isso afeta o bem-estar psíquico e a saúde.

De início, urna surpresa desagradável aguardava os voluntários no laboratório de Cross: eles deveriam assistir a filmes chocantes, gravações em vídeo que despertam repulsa, como a amputação de um braço ou rituais africanos exibindo a prática da circuncisão. Sem virar o rosto.

Num desses experimentos, Cross solicitou a metade de seus voluntários que, na medida do possível, não fizessem caretas ao assistir às cenas. Eles deveriam se concentrar em manter expressão neutra, de modo que ninguém pudesse ver o que estavam sentindo. Esse tipo de autocontrole é chamado de “supressão” pelos psicólogos.

A outra metade não recebeu instrução alguma. Cross filmou as expressões faciais do grupo e registrou reações fisiológicas como condutibilidade elétrica da pele e frequência e intensidade dos batimentos cardíacos. Todos os participantes responderam a um questionário sobre o que haviam sentido durante a exibição dos vídeos.

A maioria dos participantes solicitados a manter expressão neutra conseguiu esconder sinais de suas emoções. Nem por isso, no entanto, eles sentiram menos repugnância, nojo ou até medo – conforme se verificou pelas respostas ao questionário – do que aqueles que haviam assistido às mesmas cenas sem ter recebido instruções específicas. Mas um dado chamou a atenção: apesar da suposta impassibilidade, o sistema nervoso autônomo reagiu com particular intensidade nos que haviam reprimido a emoção, o que permite inferir uma reação veemente de stress. Esse dado fortalece a noção de que controlar emoções fortes pode ser nocivo à saúde.

EM DESVANTAGEM

Todavia, o efeito negativo do controle da expressão emocional não se restringe ao aumento do stress. Como demonstram em vários estudos os psicólogos Roy Baumeister e Dianne Tice, ambos da Universidade Estadual da Flórida, em Tallahassee, pessoas que reprimem suas emoções são menos capazes de resolver desafios intelectuais. Jane Richards, da Universidade do Texas, em Austin, descobriu que os repressores de sentimentos têm mais dificuldade em memorizar detalhes de experiências emocionalmente significativas. Tampouco no relacionamento interpessoal eles se saem tão bem, como demonstrou Emily Butler, da Universidade do Arizona, em Tucson. Em questionários com respostas anônimas, pessoas que não deixam transparecer nenhum sentimento em conversa com seus interlocutores foram consideradas por estes menos simpáticas – e também menos interessantes.

Está claro que, além dos efeitos físicos de curta duração, o controle das emoções acarreta consequências duradouras. Num estudo publicado em 2003, James Cross e Oliver John, da Universidade Berkeley, perguntaram a estudantes em que medida eles controlavam seus sentimentos no dia a dia. Com base nas respostas, os voluntários foram divididos em dois grupos: o daqueles que davam expressão mais frequente a suas e moções e o dos “repressores”.

A comparação resultou numa série de diferenças significativas. Quem preferia engolir a raiva, o medo ou o pesar revelou-se, em média, mais pessimista, com tendência à depressão e mais inseguro. Além disso, essas pessoas fazem menos amizades e suas relações tendem a ser superficiais. Temperamentos mais frios, portanto, parecem já de início em desvantagem, e em diversos aspectos.

Um estudo do pesquisador belga Johan Denollet, médico do Hospital Universitário de Antuérpia, deu ainda um último empurrãozinho nessa conclusão preocupante. Ele perguntou a pessoas que haviam sofrido infarto quais eram seus “hábitos emocionais”. Denollet queria saber desses pacientes com que frequência eles tinham mau humor ou outras emoções negativas, tais como medo, raiva ou remorso, e se compartilhavam seus estados de espírito com os outros ou preferiam guardá-los para si. Quando, dez anos depois, Denollet tornou a contatar os mesmos pacientes, com o intuito de repetir as perguntas, cerca de 5%deles haviam morrido. Mas tanto entre os que haviam relatado ter emoções negativas com frequência acima da média como entre os que tinham demonstrado tendência à repressão emocional, os mortos perfaziam um total de 25%. Ou seja, uma taxa de mortalidade cinco vezes maior. Dar vazão aos sentimentos parece, portanto, não apenas humano como também – e literalmente – de importância vital.

BASTA OBSERVAR

As descobertas de Denollet nos deixam num dilema. A psicologia diz que, sem adequar nossas emoções, não podemos ir adiante; mas, dependendo da forma como fazemos isso, nos tornamos indivíduos mais solitários e fisicamente doentes. Felizmente, pesquisas mais recentes apontam uma possível saída. Controlar demonstrações do que sentimos não tem necessariamente consequências ruins: basta fazermos uso saudável dessa habilidade.

Nos estudos mencionados, os voluntários controlavam apenas seu comportamento, e não os sentimentos em si. Mas outra modalidade de controle das emoções tem por alvo menos o comportamento visível que a experiência interior, subjetiva.

A vida cotidiana nos mostra que isso é possível. Somos capazes de ver a mesma situação sob diferentes ângulos e, mediante uma alteração no modo de pensar, de exercer influência sobre nossas emoções. Um garçom lento, por exemplo, é capaz de nos fazer ferver o sangue. Em geral, porém, basta observar que o pobre homem está apenas atarantado com o grande afluxo de fregueses que nossa irritação se dissipa.

Diversos pesquisadores investigaram o controle cognitivo das emoções – e se ele é capaz de evitar as consequências negativas já descritas. Mas como ensinar voluntários a se sentir, com a força do pensamento, menos mal diante de cenas horripilantes? Solicitando a eles, por exemplo, que reflitam sobre as sequências em vídeo com a máxima objetividade, ou seja, que contemplem as cenas de uma amputação, por exemplo, com os olhos de um médico. Voluntários que se valem dessa estratégia de racionalização não apenas deixam transparecer mais raramente sentimentos negativos em seu comportamento como também dizem experimentar menos mal-estar e repulsa. Além disso, nesses experimentos, verificou-se menor ativação do sistema nervoso autônomo.

É possível, portanto, que certas estratégias ajudem bastante no controle das emoções. Se podemos manipular nossos sentimentos de acordo com o modo como avaliamos uma situação, então isso deve ser passível de verificação no cérebro. Assim pensaram também Kevin Ochsner e Sílvia Bunge, hoje pesquisadores da Universidade Colúmbia, em Nova York, e da Universidade da Califórnia, em Davis, respectivamente.

SOLENE CONTROLE

Os neuropsicólogos examinaram voluntários com o auxílio da tomografia por ressonância magnética funcional (fMRI). Esse método torna visível a atividade em diferentes regiões cerebrais por meio do teor de oxigênio no sangue. Durante a tomografia, Ochsner e seus colegas exibiram imagens chocantes de cirurgias, de crianças com doenças fatais e de cães bravos mostrando os dentes. Eles ora pediam aos participantes que apenas as contemplassem, ora que se distanciassem delas o máximo possível, empregando para tanto uma estratégia específica, treinada de antemão. Essa estratégia consistia na reelaboração cognitiva da “história por trás da imagem”. Por exemplo: “Imagine que o bebê da imagem logo estará curado”. Ou: “O cachorro está bem longe de você, contido por uma cerca alta”.

Deu certo. Quando os voluntários seguiram o conselho de refletir sobre a imagem com distanciamento, o córtex pré-frontal revelou nítido aumento de atividade. Essa região cerebral é responsável pelo chamado controle executivo – isto é, por quase tudo que tenha a ver com planejamento, decisão e execução de ações. Quanto mais ativas se revelavam as células nervosas dessa região, maior era a calmaria em regiões do sistema límbico e sobretudo na amígdala, que, como se sabe, tem participação no modo como se lida com emoções negativas. Estratégias de pensamento podem, portanto, balizar reações emocionais com eficácia. Ou seja, as coisas em si não são nem boas nem ruins: é o pensamento que as faz assim. As pessoas que se saíram bem com a estratégia de reelaboração cognitiva disseram ter tido menos náusea e nojo e demonstraram atividade reduzida em seu sistema nervoso autônomo.

A grande questão, no entanto, é se esse método é de alguma valia também na vida cotidiana, ou seja, em situações reais. Foi com o intuito de examinar essa questão que Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin, em Madison, partiu ao encontro dos mestres do controle emocional: os monges tibetanos. Meta importante dos budistas é se desligar de todos os sentimentos negativos e pensar sempre de forma positiva. Vistos de fora, os monges de fato aparentam impassibilidade admirável. Declaram sentir muito menos medo, pesar ou raiva. Mantêm, ao contrário, uma inclinação para a calma e a passividade. Mesmo em situações nas quais outros morrem de medo, os monges tibetanos exibem solene autocontrole mental. Literalmente: ameaçados de tortura pela ocupação chinesa, alguns preferiram a auto imolação pelo fogo – com um sorriso nos lábios, conta-se.

DUELO DESIGUAL

Para o estudo do controle emocional humano, a meditação dos monges seria o objeto de pesquisa ideal, afirma Davidson. Para sorte do pesquisador, o Dalai Lama, supremo representante do budismo tibetano, é bastante aberto às neurociências e já estimulou em diversas ocasiões encontros entre budistas, psicólogos e neurocientistas.

Davidson, portanto, pôs mãos à obra. Por meio da eletroencefalografia (EEC), registrou as ondas cerebrais de oito monges enquanto estavam mergulhados em práticas meditativas. Os participantes de seu estudo tinham de 10 mil a 50 mil horas de meditação – não eram, portanto, iniciantes. Os padrões de EECs desses monges foram comparados aos de novatos em meditação que tinham passado por treinamento de apenas uma semana.

OUTRAS CULTURAS

Resultado desse duelo desigual: durante a meditação, os monges apresentaram maior porcentagem das chamadas ondas gama – padrões velozes, de frequência entre 25 e 42 hertz -, que acompanham estados elevados de atenção. As ocorrências revelaram-se especialmente pronunciadas em duas regiões do lobo frontal, ambas envolvidas no controle das emoções. De acordo com Davidson, a atividade gama dos monges está entre as mais intensas já descritas na literatura não-patológica. Na opinião do pesquisador, esses modelos neuronais expressam a capacidade dos monges de controlar pensamentos e sentimentos, exercitada durante anos.

No final da década de 60, por exemplo, a antropóloga americana Jean Briggs viveu vários meses entre os utkus, tribo inuíte do ártico canadense. A pesquisadora espantou-se sobretudo com a raridade de conflitos entre eles. Submeteu seus anfitriões a questionários pormenorizados e observou seu dia a dia. Ao fazê-lo, constatou que a manifestação de emoções, como irritação e raiva, era extremamente malvista. Até mesmo os bebês eram ignorados pelos utkus quando começavam a berrar. Adultos que, furiosos, levantassem a voz eram tidos ou por idiotas ou um perigo para a comunidade – o que a própria antropóloga teve o desprazer de experimentar na pele, quando certa vez perdeu o controle diante da família que a hospedava: precisou de imediato encontrar novas acomodações.

Ainda assim, Briggs ficou tão fascinada com o convívio pacífico da tribo que descreveu suas pesquisas de campo num livro que se tornou clássico: Never is anger. Nele, recomendava tomar os utkus como exemplo no controle eficaz de emoções negativas. Nos anos seguintes, outros pesquisadores classificaram as conclusões da antropóloga como parciais. Ela teria, por exemplo, se deixado levar apenas pela expressão emocional que os urkus demonstravam, e não por relatos da vida emocional interior. Seria, portanto, possível supor que eles pertencessem à categoria dos repressores de sentimentos.

PAPÉIS MENTAIS

Voltemos ao garçom atrapalhado: um método de controle emocional interessante para não explodir com o pobre homem consistiria, digamos, em nos colocar por um momento na pele dele. Essa mudança de perspectiva tenderá a suscitar compreensão: um pequeno atraso já não parece coisa tão dramática; afinal, não estamos com pressa, e a comida vai acabar chegando, mais cedo ou mais tarde. Graças a tal estratégia, podemos modificar impulsos negativos. E, com algum treino, ela nos permite ver as coisas com outros olhos, sem que a consciência se veja obrigada a volta e meia nos repreender para que o façamos.

Todavia, muitas questões permanecem abertas. Por que algumas pessoas têm mais dificuldade em controlar as próprias emoções? Que estratégias de controle são mais eficazes? Como se pode aprendê-las?  O que podemos assimilar de outras culturas? Seja como for, o balanço provisório dos pesquisadores é esperançoso. Não estamos simplesmente à mercê dos nossos sentimentos. O ser humano deve – e pode – se tornar senhor das próprias emoções.

EU ACHO …

PRIVACIDADE E PROTEÇÃO NO 5G

O impacto da Lei de Proteção de Dados na escolha do novo sistema

O Brasil, provavelmente no ano que vem, definirá o modelo que vai utilizar para implantar o sistema 5Gde telefonia móvel em seu território. Estabelecidos os parâmetros tecnológicos, serão oferecidas às operadoras quatro bandas de frequência para transmissão de dados.

Devido ao impacto gigantesco da adoção do 5Gnas telecomunicações, a questão tem despertado preocupação. Tanto a velocidade quanto a qualidade da transmissão de informações terão decisiva influência na vida dos indivíduos e no mundo dos negócios.

Muitos países, apreensivos quanto à possibilidade de a nova tecnologia facilitar a captura de dados pessoais e empresariais, estão estabelecendo regras rigorosas para a implementação do sistema. Até mesmo pelo fato de que o tema também se relaciona com a propriedade intelectual, a concorrência empresarial e com a segurança nacional.

No plano interno, pouco se falou da relação entre a escolha da tecnologia 5G e a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que, entre outras coisas, define normas sobre coleta, armazenamento e tratamento de informações pessoais.

De forma clara, contudo, a nova lei tem forte influência no processo de escolha da tecnologia 5G a ser adotada no Brasil. Nada poderá ser feito sem que se atente para os pilares da LGPD. Sobretudo para que o uso de dados do cidadão aconteça apenas com o seu consentimento.

Não importa se a empresa que coleta os dados está no Brasil ou no exterior. Além disso, o compartilhamento de informações de brasileiros, desde que consentido, só poderá ocorrer com países que adotem legislação de igual rigor. A execução da lei contará com a supervisão da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que fiscalizará e punirá, caso haja violações. Falhas de segurança podem gerar multas de até 2% do faturamento anual da empresa infratora – e, no limite, de 50 milhões de reais por infração.

A questão, porém, deverá ir além. As informações que transitarão pelo sistema 5G, como disse Rafa Santos, em reportagem sobre o assunto no site Conjur, representam o poder econômico, tecnológico e militar do país.

O Brasil, por ser uma das maiores economias do mundo, o segundo maior produtor de alimentos e líder em commodities, deve ter especial preocupação com a proteção de informações estratégicas.

Nesse sentido, vale lembrar que a Lei de Segurança Nacional também influencia a escolha, ao prever as punições para os crimes que lesam ou expõem a riscos tanto a integridade territorial e a soberania nacional quanto o regime representativo e democrático.

Quem oferece a nova tecnologia deve se comprometer com a proteção e a integridade dos dados que transitarão pelo sistema. No entanto, o compromisso se estende também às práticas internacionais de compliance e transparência na relação de seus acionistas com o mercado e as autoridades em geral.

Dada a evidente relevância da tecnologia 5G e seu impacto no futuro do Brasil, fica claro que múltiplos aspectos devem ser considerados na escolha final.

***MURILLO DE ARAGÃO

OUTROS OLHARES

É OU NÃO É?

Níveis de testosterona são usados de forma preconceituosa para banir as atletas. A campanha ”Let Her Run” quer mudar as coisas

A atleta sul-africana Caster Semenya tem dois ouros olímpicos, três mundiais, o quarto melhor tempo da história na provados 800 metros e, desde 8 de setembro, a obrigação de se medicar caso queira defender seu título nas Olimpíadas de Tóquio, reagendadas para 2021. Com altos níveis de testosterona no sangue, condição natural em algumas mulheres chamada de hiperandrogenismo, a imposição das autoridades esportivas a Semenya reacendeu um antigo debate nos esportes que envolve preconceito, estereótipos, intolerância e um vergonhoso histórico de testes abusivos feitos em atletas do sexo feminino. A pergunta que move a discussão, ainda longe de acabar após a decisão do Tribunal Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês, baseado na Suíça), pode ser resumida em uma frase: o que significa ser mulher no esporte?

Semenya é negra, musculosa, tem voz grossa e é abertamente homossexual, características que a afastam do estereótipo de feminilidade normalmente imposto. Começou a ser observada pela Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) ainda no início da carreira, quando levantou suspeitas sobre seu sexo depois de colher ótimos resultados num período curto e conquistar o primeiro lugar no campeonato mundial de atletismo de 2009. Com diferentes acusações de que Semenya não seria mulher, a IAAF a submeteu a um teste de verificação de sexo disfarçado de antidoping e chegou a barrá-la de competições até o ano seguinte – um acordo da associação internacional com a federação sul-africana de atletismo permitiu seu retorno.

Em diferentes formatos por décadas, testes para verificar o sexo de mulheres que “geravam suspeitas” são antigos no esporte e chegaram ao absurdo de, na década de 1960, terem o aspecto humilhante das chamadas nude parades. De frente para médicos homens, elas eram obrigadas a tirara roupa e mostrar suas genitálias, procedimento que evoluiu para práticas diferentes com os anos: agora são sorteadas para passar por testes que não envolviam nudez, mas exames parecidos com os de antidoping.

Em 2011, a IAFF decidiu acabar com o teste de verificação de sexo e instituiu um novo exame específico para mulheres com o cromossomo XY – combinação padrão para homens e verificado em atletas com uma condição intersexual, o que, supõe-se, seria a situação de Semenya. Chamada “46XYDSD”, ela provoca o crescimento de testículos internos no lugar de ovários, o que resulta na produção de testosterona acima da quantidade considerada “normal” pela IAAF entre as mulheres, ou 5nmol/L. O novo procedimento teria por base identificar a concentração no sangue a partir da dedução de que o hormônio dá vantagens desleais às hiperandrogênicas, especificamente nas provas entre 400 e 1,5 mil metros. Nos casos em que a concentração for maior que o limite, a organização estipula o uso de medicamentos para diminuir a produção natural da testosterona.

Com as idas e vindas do caso, incluída a concordância de Semenya em diminuir sua concentração de testosterona no passado, além de uma suspensão dos testes em 2015 após a suspeita de que o hormônio não era tão definidor nos resultados, a IAAF voltou a aplicá-los a partir de 2018. Nesse meio-tempo, a atleta sul-africana levou o ouro na prova dos 800 metros nas olimpíadas de Londres, em 2012, e do Rio, em 2016 – nesta última sob desconfiança declarada das colegas de prova.

A renovação na obrigatoriedade do exame dois anos atrás, depois de um estudo detalhado que mediu a influência do hormônio nas provas, foi contestada pela atleta em apelações. Após a última contestação, negada pelo CAS, ela publicou em suas redes sociais: “Recuso-me a permitir que a IAAF me drogue ou me impeça de ser quem eu sou. Excluir atletas do sexo feminino ou pôr nossa saúde em risco apenas por causa de nossas habilidades naturais coloca o atletismo mundial no lado errado da história”. Semenya não é a única prejudicada pela decisão. Francine Niyosaba (Burundi), Margaret Wambui (Quênia), Dutee Chand e Santi Soundarajan (ambas da Índia) enfrentam a mesma imposição.

“Alguém vai pedir para um atleta de basquete parar de jogar porque ele é alto além da conta?”, pergunta Guilherme Artioli, professor na Escola de Educação Física e Esportes da USP. “Chamamos isso de seleção natural do esporte e é normal que vantagens estruturais específicas aconteçam, ainda que isso torne um determinado biótipo mais predominante naquela prova.” O argumento contrário normalmente usado pelos defensores das exigências da IAAF é de que o nível de testosterona é capaz de oferecer vantagens maiores nas provas de atletismo do que diferenças corporais em outros esportes. Mas pedir para as atletas reduzirem artificialmente seus níveis de testosterona, afirma Artioli, contraria o discurso antidoping, que prega a não alteração dos níveis hormonais. “Isso não é condizente com o que ouvimos das organizações e impedi-la de correr por esses termos é cruel.”

O mesmo posicionamento tem o jornalista e especialista em Olimpíadas Guilherme Costa, que aponta o preconceito na postura da organização. Defensores das atletas prejudicadas costumam afirmar que a questão seria tratada diferentemente caso elas fossem europeias, viessem de países mais tradicionais no esporte e competissem em provas com maior destaque, além de pertencerem a um padrão de feminilidade esperado. Há ainda a comparação com homens, que não têm nenhuma limitação imposta nos níveis naturais de testosterona. “O caso de Semenya não chama tanta atenção porque ela é negra e africana, e provavelmente teríamos mais manifestações a seu favor se não fosse o preconceito”, avalia Costa.

Até o momento, o Comitê Olímpico Internacional não se pronunciou sobre o assunto. Sintomático, diz o jornalista. “Não se posicionar, nesses casos, é se posicionar a favor do que está sendo feito.” Desde o início da controvérsia, há mais de uma década, diversas personalidades saíram em defesa das atletas prejudicadas pela decisão da IAAF. O caso de Semenya estimulou a campanha “Let Her Run”, apoiada por atletas do mundo inteiro. Apesar da decisão do início do mês, Semenya continua a treinar e a tentar reverter por vias legais a imposição de tomar os remédios. Conta com o apoio do governo sul-africano. “Vou continuar a lutar pelos direitos humanos de atletas mulheres, tanto dentro quanto fora da pista, até que nós todas possamos correr livres e do jeito, que nascemos”, escreveu no Twitter. É um direito básico.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 29 DE SETEMBRO

UMA MESA NO DESERTO

Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-o entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam (João 6.1).

Os discípulos estavam em férias. Por estarem muito cansados, tinham ido a um lugar deserto para renovarem suas forças. Mas, quando chegaram, uma multidão já havia descoberto o plano e aguardava Jesus. Ao ver aquela numerosa multidão, Jesus sentiu compaixão, porque as pessoas estavam exaustas e eram como ovelhas sem pastor. Além das férias frustradas, Jesus ainda diz a seus discípulos: Dai-lhes vós mesmos de comer (Lucas 9.13). Os discípulos, olhando as circunstâncias pelos óculos da razão, alegaram que o lugar era ermo e além disso não tinham dinheiro. No meio da multidão havia um garoto prevenido. Trazia cinco pães e dois peixinhos. Jesus tomou aquela pequena provisão, ergueu os olhos aos céus e deu graças. Imediatamente cestos e mais cestos cheios de pães e peixes eram multiplicados, e toda a multidão comeu e se fartou, sobejando ainda doze cestos. Jesus ainda hoje faz milagres. Em suas mãos, o nosso pouco pode alimentar uma multidão. Ele ainda hoje alimenta os famintos. Jesus é o Pão da Vida, a provisão divina para a nossa alma, e só ele pode saciar a fome do nosso coração. O que você tem nas mãos? Deus usou o cajado de Moisés para libertar Israel do cativeiro. Usou a funda de Davi para derrubar o gigante Golias. Usou duas pequenas moedas doadas pela viúva para ensinar sobre ofertas e usou cinco pães e dois peixinhos para alimentar uma multidão.

GESTÃO E CARREIRA

A TEORIA SUPERA A PRÁTICA?

Nem sempre os que conseguem sucesso no mundo são os que possuem mais diplomas

Vivemos a época do conhecimento, do capital intelectual. Mas, de onde vem o conteúdo? É uma questão a ser debatida. Até que ponto a teoria supera a prática? Dos mosteiros à primeira universidade, criada em 1150, em Bolonha na Itália aos nossos dias, o que mudou?

No Brasil ainda discutimos escolas sem ideologia. O polêmico filósofo Olavo de Carvalho defende que a questão da ideologia não é fato de ela existir ou não, mas sim existir apenas uma. Nisso, concordamos com ele. Não há crescimento sem debates. Do conflito entre teses e antíteses, temos a síntese. Não podemos acreditar que existe apenas uma cor, até porque a mesma cor é percebida de formas diferentes por diversas pessoas. E as teses têm perdido a validade em pouco tempo.

Hoje assistimos, com certo ceticismo, à história se repetindo: as universidades recheadas de livros e alunos se abastecendo nas redes sociais, onde 70% são dados fake. As empresas criando universidades corporativas, com visão setorial e pouco global. Na área da Administração há um vai e vem entre generalistas e especialistas. Não se percebe uma busca por conceitos universais.

Há fatos muito interessantes: nem sempre os que conseguem sucesso no mundo são os que possuem mais diplomas – não que estes não sejam importantes, mas é algo que acontece. Há uma distância entre o conhecimento e a prática. Sempre existiu, porém é pouco questionada. Temos que ser mais conclusivos, porque tem aumentado a distância entre a teoria e a prática, ou melhor, entre a teoria e a realidade.

HÉLIO MENDES – é professor e consultor de Planejamento Estratégico e Gestão nas áreas privada e pública. www.institutolatino.com.br

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO SURGEM AS GRANDES IDEIAS?

É nos momentos de pausa contemplativa, quando nos livramos dos repetidos pensamentos sobre questões não resolvidas, que damos chance para os insights surgirem

Transitar por diferentes áreas do conhecimento nos garante a matéria-prima da criatividade: informações diversificadas e aparentemente desconexas que conseguimos combinar de forma única. Toda solução original nasce de uma combinação de fontes e, portanto, de uma mente aberta a novos conhecimentos da forma mais indiscriminada possível.

Essa coleta de informações é necessária, mas não suficiente para que a mente, como uma máquina de caça-níquel faça uma série de combinações inconscientes até que, quando menos esperamos, acerta o jackpot. E uma solução inusitada surge como se nos atingisse, como se acontecesse conosco e não fosse resultado de esforço. Nós temos uma grande ideia – e não a formulamos.

Tanto é que, na Antiguidade acreditava-se que as pessoas eram escolhidas por entidades externas para executar trabalhos considerados geniais. Entendiam a criatividade como algo que vinha de fora para dentro, fora do nosso controle. Ideia sobre a qual a escritora Elizabeth Gilbert, autora de Criatividade, apresenta uma versão poética e, naturalmente, bastante criativa (em entrevista Debbie Milman, Design Matters): “Acredito que as ideias querem nascer; elas têm consciência e circulam pela Terra a procura de um ser humano para colaborar, para fazê-las nascer. (…) E para conseguir ouvi-las você precisa ter suas prioridades definidas, precisa ter seus limites, precisa de tempo e energia para escutar a ideia quando ela vem sussurrar em seu ouvido – e isso é magia. E você precisa se aproximar dela como se aproxima do supernatural. Toma-se um servo desta relação.

Como diamantes enterrados no fundo da mente, os insights dificilmente são revelados quando estamos concentrados em um problema tentando compreender algo complexo ou com a mente imersa em ocupações e preocupações. Aparecem quando conseguimos tirar as complexidades da vida do meio do caminho; quando nos dedicamos a atividades que livram a mente do desgaste que a elaboração de pensamentos exige.

Asideias costumam esperar para ser descobertas em um momento de descontraído. Basta lembrar da cena de Newton descansando sob a macieira quando teve o insight sobre a lei da gravidade. Manuscritos do cientista revelam que o ponto de partida para a descoberta da lei da gravidade ocorreu de fato, durante um estado contemplativo em seu quintal.

A história das invenções é repleta de exemplos semelhantes – como a forma como as famosas canetas estilo Bic foram criadas. Na década de 1930, ocorreu a Laszló Biró, um jornalista de Budapeste, que deveria existir uma ferramenta mais prática para escrever que as canetas tinteiro, que viviam vazando. Ao observar as prensas cilíndricas das gráficas rolando sobre os papéis, imaginou um sistema parecido, mas em miniatura e com a possibilidade de percorrer todas as direções.

Quebrou a cabeça pensando em soluções. Até que um dia, enquanto caminhava na rua, viu crianças brincando com bolinhas de gude e reparou no caminho de água deixado por uma que rolou por uma poça d’água. Foi assim, em um momento de pausa e descontração, que teve o insight que levou à criação da primeira caneta esferográfica.

Para que se deparasse com a solução que tanto buscava, Biró antes passou muito tempo pesquisando e refletindo – tanto antes quanto depois de ter tido a ideia. Sem o esforço dedicado ao problema, seu cérebro não estaria preparado para fazer uma associação brilhante. Mas essa associação aconteceu durante um momento contemplativo.

Ascaminhadas pela rua, como a que proporcionou a ele o encontro com as crianças brincando com asbolinhas, são famosos combustíveis para a criatividade. Elas nos incentivam a observar o mundo lá fora e tirar o foco dos próprios pensamentos. Como costumamos dispensar mais atenção ao novo, mudar de rota e buscar novos ambientes podem ser favoráveis” esse estado contemplativo. Grandes escritores relatam, com frequência, a importância das corridas e caminhadas ao ar livre para a formação das suas histórias.

Já Einstein costumava ter seus mais famosos insights durante pausas em que tocava violino. Ele visualizava uma solução quando não estava ativamente procurando e somente depois dedicava muita concentração para transformá-la em teoria. Tocar um instrumento (quando se é experiente), andar, correr, cuidar do jardim são atividades que mantém a mente alerta e livre tanto do excesso de distrações como do foco direcionado à resolução de um problema.

Ao afastar a mente dos diálogos interiores, afastamos também a ansiedade que os acompanha. E o estresse é um dos principais inimigos da criatividade. Quando nos ocupamos com repetidos pensamentos sobre questões não resolvidas, prevendo as possibilidades que cada escolha pode trazer, fazendo planos ou mesmo tentando assimilar novas informações, não deixamos lugar para o insight se manifestar.

Os momentos em que o pensamento flui livremente também nos permitem uma visão mais abrangente das situações. Nessas pausas, a informação transita pelas áreas subconscientes do cérebro e ganha a chance de se associar a outras informações aparentemente desconexas, formando um produto original. Pode ser uma história, um ponto de vista diferente para um problema, uma nova forma de abordar os clientes, uma estratégia original de vendas. Seja qual for o produto, ele surge não como um passe de mágica, mas como resultado de um processo subconsciente, que é revelado quando as preocupações lhe dão licença.

As ideias soam como um desenho na janela que só aparece quando o vidro é embaçado. O desenho está lá o tempo todo, mas é preciso o vapor para que ele se revele temporariamente. As pausas verdadeiras – sem celular, mídias sociais ou conversas interpessoais – são o vapor da mente. Por isso, a busca por momentos de introspecção deve ser ativa e diária quando se deseja uma vida mais criativa, quando se quer ouvir o sussurro da ideia, com a disposição para tornar-se seu servo e defensor.

MICHELE MULLER – é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site michelemuller.com.br

EU ACHO …

MÍDIAS SOCIAIS E SAÚDE MENTAL

Entre as plataformas avaliadas por jovens, só o YouTube obteve índices de aprovação

Dizem que as mídias sociais viciam mais os adolescentes do que o cigarro e o álcool. Paraavaliar o impacto das redes na saúde mental foi realizado o inquérito epidemiológico #StatusOfMind, publicado na United Kingdon’s Royal Society of Public Health.

A pesquisa entrevistou 1.479 jovens de 14 a 24 anos, no Reino Unido, no período de fevereiro a maio deste ano, para avaliar o impacto de 14 itens relacionados com a saúde mental e o bem-estar.

Foram eles:

1. Formas de entender as experiências de outros sobre a saúde.

2. Acesso a informações de saúde confiáveis.

3. Apoio emocional e empatia de familiares e amigos.

4.Ansiedade.

5. Depressão.

6. Sensação de solidão e infelicidade.

7. Qualidade do sono.

8. Capacidade de exprimir sentimentos, pensamentos ou ideias.

9. Autoidentidade – habilidade para definir quem você é.

10. Percepção da aparência física.

11. Relacionamento com a família e os amigos.

12. Relacionamento com a comunidade.

13. Bullying – ameaças e comportamentos abusivos.

14. Necessidade de permanecer conectado pelo medo de perder experiências importantes.

Com base nestas questões, os participantes atribuíram notas às plataformas mais populares: YouTube, Twitter, Facebook, Snapchat e Instagram.

As plataformas foram bem avaliadas nas questões referentes à autoidentidade, à autoexpressão, ao fortalecimento de laços comunitários e ao amparo emocional. Por outro, lado, os malefícios estiveram associados à qualidade do sono, ao bullying, à imagem corpórea, à necessidade de se manter conectado por medo de perder experiências vividas pelos amigos, à depressão e à ansiedade.

Os adolescentes entrevistados classificaram em ordem decrescente de feitos positivos as plataformas:

1. YouTube (a mais positiva).

2. Twitter.

3. Facebook.

4. Snapchat.

5. Instagram (a mais negativa).

O YouTube foi a única plataforma em que os benefícios para a saúde e o bem-estar foram considerados superiores aos malefícios. Obteve índices de aprovação mais elevados na percepção das experiências que afetam a saúde alheia, no acesso a informações de fontes confiáveis na área da saúde, na redução dos riscos de depressão e de ansiedade e na sensação de solidão.

É interessante que o Snapchat e o Instagram, duas plataformas centradas na imagem, tenham sido consideradas as mais nocivas. A autoimagem é um aspecto ligado a sentimentos de inadequação, de depressão e de ansiedade, muito prevalentes nesta fase da vida. O Instagram foi bem avaliado nos quesitos de autoexpressão e de autoidentidade, mas esteve associado a níveis mais elevados de ansiedade, depressão, bullying e do medo de perder oportunidades.

A Royal Society recomenda que as plataformas publiquem avisos pop up advertindo o usuário sobre o número de horas acessadas, que chamem a atenção quando as fotos sofreram manipulação digital para exibir corpos com aparência de perfeitos, para que desenvolvam algoritmos que ofereçam ajuda no anonimato aos adolescentes em sofrimento mental.

***DRAUZIO VARELLA

OUTROS OLHARES

SUBSTÂNCIA EXPLOSIVA

Desastre que devastou Beirute causa preocupação no Brasil e aumenta cuidados com o armazenamento de nitrato de amônio, matéria-prima de fertilizantes

O mundo inteiro ficou atordoado com a explosão gigantesca causada por uma substância estocada em condições precárias num armazém portuário em Beirute, no Líbano. Passado o susto, muitas questões ainda se levantam sobre o potencial explosivo do nitrato de amônio. Especialmente no Brasil, que é um dos maiores produtores agrícolas e um usuário intensivo do produto em suas lavouras. A preocupação é grande, em especial quando se sabe que só no Porto de Santos existe até 10 vezes mais quantidade do produto do que havia no Líbano, conforme levantamento recente. Hoje, o consumo brasileiro chega a 1,9 milhão de toneladas de nitrato de amônio por ano. Deste total, 500 mil toneladas são produzidas no País e 1,4 milhão de toneladas são importadas, a maior parte da Rússia.

Conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), o nitrato de amônio é muito usado na elaboração de fertilizantes porque contém o nitrogênio na forma nítrica e amoniacal, que é menos volátil e, assim, menos agressiva ao meio ambiente. A substância é a preferida nas plantações de cana, combinada com fósforo e potássio, conhecido NPK. “Assim como os humanos precisam se alimentar, as plantas precisam de nutrientes para crescer. E o nitrogênio, o fósforo e o potássio são essenciais”, explica Renato Tavares, diretor de projetos da norueguesa Yara, uma das maiores fabricantes de fertilizantes do mundo e que produz nitrato de amônio em Cubatão, na Baixada Santista. Apesar de inofensiva em condições normais, a substância exige cuidados. Ela não pega fogo sozinha e é considerada bastante estável. Exige apenas algumas regras de manuseio e armazenamento, para não ficar exposta a altas temperaturas, uma vez que a 200 graus centígrados ela pode explodir, como aconteceu no Líbano.

PODER DE FOGO

A potência do nitrato de amônio o coloca também como item fundamental na indústria de explosivos civis, para detonações de rochas e outros usos. Essa indústria, segundo a ANDA, utiliza boa parte do que é importado. Mas o controle é alto. Além de registro no Exército, a empresa autorizada a trabalhar com nitrato passa também por uma fiscalização de seus armazéns, que têm regras rígidas de estocagem em locais longe de fios elétricos, madeira ou qualquer produto que possa gerar fogo. O composto é fundamental também como matéria-prima para fabricação de gases anestésicos e tratamento de esgotos. Seja qual for sua utilização, porém, todo cuidado é pouco.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 28 DE SETEMBRO

A FAMÍLIA DEBAIXO DO SANGUE

O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós… (Êxodo 12.12a).

Israel gemia debaixo de um amargo cativeiro no Egito. A chibata do inimigo, o trabalho forçado e a falta de esperança tornavam a vida desse povo um pesadelo. Deus viu a aflição do povo, ouviu seu clamor e desceu para libertá-lo. Por intermédio de Moisés, Deus demonstrou seu poder àquela terra eivada de deuses, desbancando do panteão egípcio suas divindades pagãs. As dez pragas que acometeram os egípcios foram ações do juízo divino sobre aquelas divindades. A libertação, entretanto, deu-se somente na noite da Páscoa. Um cordeiro tinha de ser imolado e seu sangue devia ser passado nos batentes das portas. Onde não houvesse o sangue do cordeiro, o primogênito seria ceifado. Todos os hebreus obedeceram à risca a ordem de Deus e, naquela noite, quando o anjo de Deus passou pelo Egito, a morte não entrou nas casas que estavam debaixo do sangue. Os hebreus foram salvos não por suas virtudes, mas pelo sangue. De igual modo, ainda hoje, somos salvos não pelas nossas obras, nem pelos nossos predicados morais, mas pelo sangue do Cordeiro imaculado que tira o pecado do mundo. Sua família já está debaixo do sangue de Jesus? Sua família já foi resgatada pelo Cordeiro de Deus? Sua família já saiu do cativeiro? Hoje é dia de libertação. Jesus veio proclamar libertação aos cativos.

GESTÃO E CARREIRA

JOGO DE EQUILÍBRIO

Contabilizar despesas e receitas é muito importante para planejar o futuro e identificar eventuais gastos desnecessários e/ou exagerados no fluxo de caixa

Receitas E Despesas, sazonalidade, investimentos… Ser empreendedor é, além de ter boas ideias, saber colocar no papel tudo o que recebe versus o que precisa gastar/investir para manter o funcionamento do negócio, considerando diversas variáveis. É uma tarefa diária, extremamente importante, e que exige um controle e planejamento para manter a saúde do fluxo de caixa, que nada mais é do que o planilhamento de todos os custos e receitas da empresa.

É ele o dia a dia financeiro do negócio, no qual o empresário deve basear-se para a tomada de decisões financeiras, tanto de emergência como de planejamento. É nada mais nada menos que a conta corrente da empresa. Se faltar, a empresa falha. “Apesar da boa gestão financeira, o fluxo de caixa acaba sendo um dos principais gargalos, porque investir demanda de capital imediato e muitas vezes mexer no fluxo de caixa acaba sendo prejudicial ao negócio”, diz o sócio- fundador da BizCapital, Francisco Ferreira.

Além disso, a contabilidade da empresa é um processo de controle e análise do desempenho. É com base nos resultados apontados por ela que o gestor financeiro deve se programar para o futuro e estabelecer regras para o fluxo de caixa. “A forma como a contabilidade organiza as informações é justamente o método que se utilizará para a leitura correta e a organização do fluxo de caixa financeiro da empresa”, complementa o coordenador dos cursos de Gestão Financeira do Centro Universitário Internacional Uninter, Daniel Cavagnari.

O fluxo de caixa é uma ferramenta simples e, portanto, qualquer dificuldade encontrada em resolução de problemas que ocorram no dia a dia pode estar justamente na forma como as informações são inseridas na ferramenta de controle, seja uma planilha simples de Excel, seja um app moderno. O equilíbrio é essencial: sintetizar demais as informações pode fazer com que a leitura do fluxo de caixa fique falha, enquanto o excesso de detalhamento pode esconder resultados importantes, principalmente para as leituras diárias.

Não existe uma receita pronta. “O importante é conseguir analisar todos os dados, saber encontrar os furos e, a partir dessas informações, direcionar e planejar estrategicamente sua empresa”, indica o diretor financeiro do Asaas, Jeferson L. Kortbein. “Para ter sua contabilidade em dia, vale atentar em passar as informações corretas ao contador e, com as informações consolidadas, saber analisar seus números para tomar as decisões corretas para planejar o futuro da sua empresa, de como gastar e onde”, completa.

NO DIA A DIA

De acordo com o docente da Uninter, o fluxo de caixa possui diversas formas, que variam desde a análise do resultado (baseados no DRE) até a apuração do valor financeiro da empresa. “No dia a dia, os modelos mais utilizados são o direto e o projetado. O primeiro tem relação com a visão diária do caixa da empresa, como uma conta corrente. O projetado considero como um dos mais importantes, porque não só apresenta dados regulares que se consolidarão, mas informações que ocorrerão no curto e no longo prazo”, afirma

Por isso, ele diz que para listar o fluxo de caixa a partir do dia seguinte até meses à frente, o gestor financeiro deve programar informações comuns e até mesmo riscos. “Como exemplo, digamos que há um recebimento programado para 15 dias, dado o faturamento de um cliente, vendido pelo prazo de 30 dias. Esse cliente, digamos que costuma atrasar os pagamentos em até 15 dias, então já programamos o fluxo de caixa projetado como o não recebimento no esperado, mas com um atraso previsto”, indica o especialista da Uninter.

Apesar de simples, o principal desafio de um pequeno empreendedor é entender a diferença entre o fluxo de caixa e as demonstrações contábeis. Receita, custo e lucro, por exemplo, são métricas de contabilidade, mas muitas vezes são encaradas como métricas de caixa. “Uma empresa pode estar gerando caixa sem saber que está no prejuízo, pois vai ter contas para pagar no futuro. Para um empreendedor, é importante ter um bom assessor financeiro ou contador, que auxilia nas decisões do dia a dia e ajuda a montar os demonstrativos financeiros”, sugere Ferreira, da BizCapital.

DESAFIOS

Manter uma margem de lucro saudável em todos os momentos é um dos meios de medir se o planejamento feito está sendo bem executado ou não. “Quando se faz uma análise de fluxos de caixa passados, os compara com os mais atuais e realiza o planejamento financeiro com recorrência, cria-se bases comparativas para verificar a evolução da empresa. De forma clara, passa a comparar a performance passada com a atual e planeja-se o futuro. Dessa forma, fica mais fácil gerenciar a empresa, saber quais os rumos que estão sendo tomados e onde estão os eventuais pontos de atenção”, indica o COO/ CFO da Adianta, André Buchaim.

Para o CEO da Vhsys, Reginaldo Stocco, quando se trata de gestão de tesouraria, o dinheiro sempre tem custo, seja para tomá-lo por empréstimo ou deixando-o parado. “É sempre importante estar preparado para quando o plano não funcionar e ter em mente que, às vezes, é mais barato você tomar dinheiro no mercado do que deixá-lo parado no banco. Para isso, é importante saber qual é o WACC (Custo Ponderado de Capital) na estrutura financeira da empresa e definir os cenários dentro da estratégia do negócio”, lembra.

O mesmo caso ocorre para períodos sazonais. “O fluxo de caixa projetado geralmente é programado para um ano, com revisões constantes. Por isso, é possível projetar até mesmo pagamentos e recebimentos futuros, dentro da experiência anterior revista. Parece complicado, mas é mais simples do que se imagina”, diz Cavagnari.

ESTABILIDADE E PLANEJAMENTO

Sazonalidades acontecem, principalmente para quem trabalha diretamente com varejo, por exemplo. Quando se tem um fluxo de caixa controlado, consegue guardar dinheiro em momentos bons e usar para cobrir despesas em momentos mais desafiadores.

Para chegar a esse ponto, existem alguns erros bem comuns. O primeiro é misturar as despesas pessoais com as empresariais, pois costumam confundir o fluxo de caixa, tornando difícil a identificação dos valores das entradas e saídas. “Outro erro comum de gestão é considerar valores que ainda não foram recebidos e gastá-los antecipadamente, ação que prejudica o controle e a organização do caixa. Há também um ajuste simples que pode ser feito para melhorar a organização, que é a separação dos gastos por categoria, por exemplo. Entender de maneira fácil para onde está indo o dinheiro ajuda muito a controlá-lo e a fazer cortes quando necessário”, sugere o fundador da BizCapital.

Entre outras medidas a tomar cuidado, o consultor tributário e presidente do Grupo Fradema Consultores Tributários, Francisco Arrighi, indica que as retiradas dos sócios em pró-labore ou distribuição de resultados de forma antecipada podem ser danosas ao fluxo. “Compras ou aquisições mal­feitas, nas quais a empresa passa a ser obrigada a tomar dinheiro emprestado para superar os momentos de crise, e estes juros no futuro acabam, comprometendo o negócio, também devem ser evitadas”, aconselha.

AUXÍLIO IMPORTANTE

A fim de diminuir erros nas contas e desiquilíbrio financeiro, hoje há inúmeras facilidades devido à difusão dos sistemas de gestão financeira, os famosos ERPs, que auxiliam na composição do fluxo de caixa de forma direta, ou seja, através da utilização dos extratos bancários da empresa. Assim, para quem tem dificuldade com esse processo, fica mais fácil a construção do fluxo de caixa e a classificação de contas.

André Buchaim, da fintech Adianta, explica que além dos sistemas de gestão, atualmente a tecnologia pode auxiliar na busca de notas emitidas contra a empresa, por exemplo. “Existe uma vasta gama de soluções para cada tipo de negócio, que variam de R$49 a R$1.000 aproximadamente, depende muito da necessidade da empresa, números e tipos de usuário do sistema e do tamanho do negócio”, afirma.

Um sistema de gestão simples e objetivo vai centralizar todas as informações, vai apresentar relatórios precisos, vai passar informações em tempo real. Além disso, não vai cometer falhas que uma pessoa cometeria, como erro de cálculos ou digitação. A tecnologia é uma ótima aliada para quem quer fazer uma boa gestão de caixa, indica Stocco, da Vhsys. O importante é entender que cada empresa funciona de uma maneira – vale pesquisar e decidir qual a melhor opção para cada realidade.

COMO ENCONTRAR A FERRAMENTA PERFEITA?

Para encontrar o sistema ERP, vale as seguintes dicas:

•  Classifique todas as áreas da sua empresa que o sistema controlará.

•  Divida os setores que são ligados e os que não são. Por exemplo, sua pequena empresa controla a produção, mas não controla a contabilidade, pois essa é feita por um escritório contábil.

•  Muitas das áreas são de simples controle. Exemplo: Você registra as vendas no caixa, que dá baixa no estoque e faz o registro financeiro. Isso pode ser parte de um sistema simples e dotado desses diversos controles.

•  Não procure os mais caros e, em caso de pequenas empresas, teste os diversos sistemas existentes. A maioria deles possui versões triais para uso de 30 a 90 dias, tempo suficiente para testar o sistema. Não tenha pressa acima de tudo.

•  Para empresas um pouco maiores, busque os distribuidores e representantes especializados. Peça demonstrações, propostas e referências.

•  Cuidado, principalmente, para as empresas que vendem seus sistemas e cobram mensalidades descabidas, ou seja, que oferecem suportes inexistentes e desnecessários ou atualizações corretivas e cobram por isso. Algumas empresas têm um hábito estranho de cobrar por manutenções de sistemas que são apenas correções, e não melhoramentos. Fique atento aos contratos para não gerar custos financeiros extras e insustentáveis.

•  Também fique atento à operação geral do sistema, desde relatórios, que devem ser claros e fazerem sentido para sua análise, bem como se a operação não é passível de falhas ou tenha excesso de cliques que atrapalhem os registros.

•  Por fim, tenha certeza. em qualquer sistema, se há um registro de totalizadores ou centros de custo que facilitem a observação financeira dos resultados e de forma clara e objetiva. Há muitos sistemas que oferecem plataformas práticas, bem desenhadas, mas falham em alguns princípios de organização financeira.

FONTE: Uninter.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CASAMENTO E CRESCIMENTO

Para muitos homens a independência feminina ainda representa uma liberdade sem proteção ou garantias.

Grandes paixões, profundos vínculos amorosos ou ligações patológicas são circunstâncias que nos permitem uma abordagem daquilo que liga duas pessoas num casamento. Entretanto, é importante observar que nessa desejável união existe algo que esconde o fato desse vínculo prestar-se a estas uniões alimentam um interesse inconfesso de independência e dominação, quando a monotonia transformo este sonho dourado em um viver por viver. A independência pessoal arrefece e, com isso, os novos desejos pedem novos acordos para que o prazer da convivência se torne um bem comum. Quando isso não acontece, os desacordos desenvolvem os primeiros sinais das incompatibilidades pessoais, divergências constantes, machismos desnecessários e dominação. Divididos entre o desejo e o medo, o casal convive com a impossibilidade de saberem­ se donos do seu destino. Este é o “perfeito” casamento de dois condenados à mútua dependência de um amor sem garantias. Nesta situação, o casamento servirá para sustentar os aspectos neuróticos de suas personalidades e assim permanecerá até que um deles, ou ambos, se neguem a viver a farsa do casal perfeito.

No passado, admitia-se a hipocrisia da moral vigente em favor de casamentos, sem questionar se o desejo humano era considerado um bem natural. Casava-se por amor, por interesses pessoais, sociais e econômicos. Todo comportamento que saísse deste controle era punido como uma agressão aos bons costumes. Hoje isso continua acontecendo e se resolve nas violências domésticas ou na construção de mulheres independentes economicamente nos lares e no mercado de trabalho. Nesta situação a vida social e profissional da mulher cresceu em múltiplas responsabilidades no lar e no trabalho. Entretanto, para muitos homens, casados ou não, a independência feminina ainda representa uma liberdade sem proteção ou garantias. Esta concepção machista vê essa mulher disponível e aberta a múltiplos envolvimentos. Raramente pensam ou aceitam esse direito como uma conquista pessoal e profissional. A vida social da mulher se amplia com múltiplas responsabilidades no lar e no trabalho, e quando o casal se encontra, o diálogo amoroso se fortalece ou é abandonado, porque ambos estão cansados. É neste crescimento e desenvolvimento de personalidades autonômicas que o casal se respeita e busca na realização pessoal a confiança e segurança de tornarem sujeitos do próprio crescimento.

DR. JORGE PFEIFER – é psicólogo, psicanalista e articulista.

EU ACHO …

QUE ÓDIO É ESTE?

Os ataques à menina de 10 anos, estuprada e grávida, reflete o medo que o Brasil tem de si mesmo. É um país doente

O espetáculo de horror faz o seu caminho para o silêncio. Emudecemos perante as imagens. A menina de 10 anos, novamente agredida, desta vez por aquelas mulheres, por aqueles homens que se manifestam com gestos de violência à porta do hospital. Lá dentro, a vítima, de novo impotente, de novo “Silenciosa suporta nova violação. Felizmente, alguém estava lá com ela, umas quantas mulheres, para que soubesse que não está só. Para os outros, os infelizes que a amaldiçoavam, ela é a culpada. Sim, culpada por existir e por nos fazer lembrar a face sórdida de um país doente. Culpada. Para exorcizar os seus fantasmas, a turba precisa de uma vingança que dure e persista, como o executante terrorista goza o lento e doce estrangulamento do seu refém. No fim, o Estado usa o programa de proteção a testemunhas, seu último recurso. Terá novo nome, nova vida, nova cidade. De certa forma, os arruaceiros conseguiram o que queriam. No plano civil, a primeira menina deixou de existir.

A ativista política, que gosta de ser fotografada com armas imitando o presidente que apoia havia revelado ao público o seu nome, o do médico que iria fazer a intervenção e o do hospital onde seria assistida. Certamente, não o fez sem informação e apoio institucional. Por sua vez, o primeiro hospital a quem a família pediu socorro negou a assistência que a lei determina, colocando-se no mais ignominioso lagar que a história reserva aos covardes – lavar as mãos é alimentar a sujeira moral. Depois vem o bispo, aquele que usa a autoridade eclesiástica para legitimar a barbárie e promover a equivalência moral – a violência do aborto é tão terrível quanto o estupro. Depois vem ainda o padre o inacreditável padre que, cheio de amor no coração, declara que, se o estupro se fazia há quatro anos, então é claro que estava gostando, que gosta de dar. Fica assim claro que os manifestantes são apenas os executantes, a ponta da lança, a tropa de choque. Por detrás, oculta, fica a cadeia de comando institucional e moral. A pergunta que resta é esta – que ódio é este?

Este ódio só na aparência é novo. Bem-vistas as coisas, ele vem de longe. É um ódio histórico. Já o vimos antes, em várias ocasiões e sempre prometendo o paraíso e a salvação. Já ouvimos, aqui na Europa, contra o herege, contra o judeu, contra o estrangeiro. Vimo-lo nas guerras civis religiosas com a mesma ambição de unidade e de injunção divina com que se combate a blasfêmia protestante – um rei, uma lei uma fé. Vimo-lo no anfiteatro da Universidade de Sevilha, quando o general fascista grita viva a morte!

Convidam-nos a pensar este ódio com uma demência, ou alienação, ou qualquer outra patologia tão cara aos especialistas dos estados de alma. Não são como nós, dizem-nos. São doentes e, se são doentes, talvez este ódio se cure, o que nos permite ter esperança. Numa outra versão pedem-nos para o pensarmos como consequência social – miséria, desemprego, falha de identidade. Sim, só pode ser responsabilidade da sociedade e da falta de humanidade com que se organiza. Assim, talvez tudo isso tenha solução e possamos pensar numa nova engenharia social para resolver este ódio. Talvez. Talvez tudo isso seja verdade, mas quero dizer uma coisa – este ódio não nasceu ontem, ele é bem humano e bem antigo. Sartre diria assim sobre o homem que odeia o judeu, o antissemita: É um homem que tem medo. Não de judeus, certamente – dele mesmo, das suas responsabilidades da sua solidão, da mudança, da sociedade e do mundo, de tudo menos dos judeus. É um covarde que não quer confessar a sua covardia, o antissemitismo, numa palavra, é o medo diante da condição humana.

Foi este ódio que reconheci no comportamento daqueles manifestantes em fúria e dos religiosos que os apoiaram. O mesmo ódio vi-o igualmente quando os juízes (ou juíza, não sei mas parece-me que foram mulheres) proibiram o presidente Lula de enterrar o irmão. Este ódio não é ódio ao PT coisa nenhuma, é um ódio ao Brasil a si próprio, ou, se quiserem, a metade de si próprio, o que vai dar no mesmo. O ódio que esconde o medo. Medo da sua própria história escravocrata. Medo da igualdade. Medo dos novos direitos. Medo da contingência, medo do acaso, medo da diversidade, medo da alegria e medo, ainda, de que essa alegria que não está longe, seja lembrada. O Brasil com medo de si próprio.

Para um eloquente ministro do Supremo Tribunal Federal, a ameaça democrática é meramente “retórica”. Os acontecimentos, diz, estão ocorrendo como devem ocorrer. O ministro precisa se explicar, acalmar alguns seguidores e ajustar contas consigo próprio e com os acontecimentos que ele mesmo fez acontecer. Comporta-se como o eterno otimista que, tendo caído da varanda do 20° andar, ao passar no oitavo decide fazer o ponto da situação – até aqui tudo bem. Sim, senhor Ministro, tudo bem, é só retórica. Acontece que todas as desgraças começaram assim, com retórica. O Brasil ou melhor dito, uma parte do Brasil, está doente.

OUTROS OLHARES

POR UM FIO DE CABELO

Sem precisarem aparecer em público, envergonhados, os calvos procuraram tratamento na quarentena. Com uma boa-nova: as técnicas estão cada vez mais eficazes

A preocupação com a calvície é um drama recorrente e imemorial dos homens – drama só comparável ao desconforto de aparecer em público depois de uma intervenção cirúrgica para reposição dos fios. Salvos durante a pandemia por poder ficar em casa, longe dos olhos de outras pessoas, escondidos pela má iluminação das chamadas de videoconferência, os calvos procuraram maciçamente os consultórios de dermatologia em meio à quarentena, sobretudo nas últimas semanas. Encontraram, enfim, no confinamento, um modo mais aceitável, menos público, de tratar o incômodo estético. Especialistas no Brasil confirmam a intensa movimentação. Os números mostram que esse público não é nada reduzido. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, metade do universo masculino de até 50 anos tem calvície. E a boa. nova é que há bons tratamentos, cada vez mais sofisticados.

O procedimento mais eficaz é a cirurgia. O mercado de transplantes capilares, que nasceu nos Estados Unidos nos anos 1950, hoje é gigantesco. Cresceu mais de 150% na última década. No ano passado, foram realizadas mais de 735.000 intervenções em todo o mundo. “O sucesso tem base no avanço da técnica, que acabou com o antigo estigma de “cabelo de boneca”, diz o cirurgião Márcio Crisóstomo, um dos especialistas que mais fazem o procedimento no país – cerca de 300 cirurgias por ano em sua clínica em Fortaleza. As mais sofisticadas (e caras) consistem em transferir fios de outras regiões do corpo, como da nuca do próprio paciente (veja no quadro abaixo). O tratamento custa, em média, 20.000 a 40.000 reais. Há ainda os métodos convencionais, nada invasivos, como a ingestão de finasterida, medicamento que atua no couro cabeludo bloqueando a ação de uma substância envolvida no afinamento doca-belo antes da queda; e o minoxidil, um vasodilatador, que estimula a circulação sanguínea e permite que mais oxigênio e nutrientes cheguem à raiz dos cabelos. “Podem ser interessantes para calvícies leves, mas perdem o efeito se o uso dos remédios for interrompido”, diz o dermatologista Ademir Leite, diretor da Academia Brasileira de Tricologia. Há outros caminhos de esperança. Estudo recente publicado pela reputada revista científica Nature indicou o sucesso promissor da utilização de células tronco para fazer crescer as madeixas. A técnica foi bem-sucedida em ratos de laboratório – há, portanto, estrada pela frente.

A genética explica o fato de o problema acometer majoritariamente os homens. O gene da calvície é dominante no sexo masculino. Ou seja, manifesta-se mesmo quando herdado somente do pai ou apenas da mãe. E, ainda assim, a herança brota na presença de hormônios masculinos, como a testosterona, que costumam ser muito baixos nas mulheres. Teoricamente, para prevenir a calvície bastaria inibir a ação da testosterona. No entanto, há relatos de que tal recurso provocaria efeitos danosos, como redução da libido.

Desde a Antiguidade já se tentava resolver a calvície. Papiros egípcios de 4.000 a.C. recomendavam a aplicação no couro cabeludo de uma mistura de gorduras do corpo de animais, como leão, jacaré e cobra. Júlio César (100 a.C.-44 a.C.), o imperador romano, apelava para receitas que incluíam ratos queimados. Curiosamente, a calvície é menos rejeitada onde é menos frequente. Nas culturas orientais, os monges rezavam para ficar calvos – a queda dos cabelos era interpretada como o desprendimento dos sentimentos mundanos. Do ponto de vista funcional, nada precisaria ser feito, ressalve-se. Os cabelos são praticamente supérfluos. Os humanos sobreviveriam. se todas as pessoas fossem carecas. Os fios servem para proteger a cabeça contra o excesso de frio ou de calor. Um simples chapéu, em tese, poderia substituí-los. Apesar da pouca utilidade, o cabelo ganhou o status de item essencial da beleza. “E uma das questões culturais mais enraizadas na cultura ocidental ligada à autoestima”, diz o cirurgião plástico Luiz Paulo Barbosa, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. De mãos dadas com preocupações estéticas, a ciência avança. Virá o dia, que pode não estar muito distante, em que ser ou não ser calvo será uma mera escolha.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 27 DE SETEMBRO

ESTÁ ENFERMO AQUELE A QUEM AMAS

… Senhor, está enfermo aquele a quem amas (João 1 .3b).

Lázaro, amigo de Jesus, estava enfermo na aldeia de Betânia. Suas irmãs enviaram um recado urgente para Jesus: Está enfermo aquele a quem amas. Elas estavam certas de que Jesus atenderia prontamente a esse pedido. Ao receber a mensagem, porém, Jesus disse: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus (v. 4). Em vez de seguir imediatamente para Betânia, Jesus permaneceu mais dois dias onde estava. Quando foi ao encontro daquela família amada, Lázaro já estava morto e sepultado havia quatro dias. Os judeus questionaram o amor de Jesus, sobretudo em virtude de sua demora. Ainda hoje temos dificuldade de conjugar o amor de Deus com sua demora. Mas o Senhor nunca chega atrasado. Ele é o Senhor do tempo e faz tudo perfeitamente. A ressurreição de um morto é um milagre maior que a cura de um enfermo. A ressurreição de um morto de quatro dias, essa só o Messias poderia realizar, segundo a crença dos rabinos. Quando Marta interceptou Jesus no túmulo de Lázaro, alegando que já se haviam passado quatro dias e agora o milagre seria impossível, Jesus respondeu: Se creres, verás a glória de Deus (v. 40). Jesus chamou Lázaro da morte para a vida, a glória de Deus se manifestou e aquela família amiga foi consolada. Jesus ama você e cuida de você em suas dores, angústias e necessidades.

GESTÃO E CARREIRA

EM BUSCA DE NOVOS ARES

Com passivo de RS 340 milhões em ações trabalhistas e de fornecedores e RS1 bilhão em dívidas tributárias, a Viação Itapemirim recebe aporte de RS 2,1 bilhões para lançar companhia aérea. Será que decola?

Há anos, o mercado brasileiro da aviação comercial tem atravessado ciclos constantes de turbulência. Enquanto busca assimilar o fim das operações da Avianca Brasil, no ano passado, o setor assiste à disputa de Latam, Gol e Azul para ampliar espaços e reduzir o endividamento de aproximadamente R$ 75 bilhões. O trio sofre a concorrência de empresas de baixo custo – as chamadas low cost – e acompanha, dos bastidores, as tratativas para a chegada de mais um concorrente: o Grupo Itapemirim. A companhia de transporte rodoviário pretende seguir o caminho da Gol, também originária das estradas e, com aporte de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) do fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, lançar a própria empresa área. Seu presidente, Sidnei Piva, prevê iniciar as atividades em meados de 2021, mas a empreitada desafia projeções mais otimistas e depende do aval da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “Acho um pouco mais complicado do que estão vendendo”, afirma Thiago Carvalho, membro da Comissão de Direito Aeronáutico da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e sócio do escritório D’Andrea Vera, Barão e Carvalho Advogados.

Em viagem ao país árabe para missão de negócios ao lado do governador de São Paulo, João Doria, Piva revelou ter encomendado 35 aeronaves. São 15 unidades do modelo Q400, com capacidade para 80 pessoas e fabricados pela canadense Bombardier, e 20 do tipo CRJ 1000, que transporta até 100 passageiros e são produzidas pela Mitsubishi. O preço estimado dessa compra gira em torno de US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 6,1 bilhão). Seja como for, a iniciativa da companhia chama atenção. Fundada em Cachoeiro de Itapemirim (ES), em 1953, e adquirida por empresários paulistas em 2017, a companhia está em recuperação judicial desde março de 2016, o que põe em dúvida sua capacidade de operar. INVESTIDAS Com passivo de R$ 340 milhões em ações trabalhistas e de fornecedores, além de R$ 1 bilhão em dívidas tributárias, a Itapemirim enfrenta briga nos tribunais por seu comando. “Um cenário que assusta qualquer investidor”, observa Carvalho.

A Itapemirim trabalha com a ideia de integrar o modal aéreo de voos regionais com o terrestre, utilizando os ônibus do grupo. O dinheiro aplicado pelos árabes seria utilizado, ainda, para obter concessão de aeroportos pelo interior do Brasil e para a renovação da frota, que hoje é de 500 coletivos. “Houve uma tentativa de integração avião-ônibus com a BRA (Brasil Rodo Aéreo), no final dos anos 1990 e meados de 2000. A Varig chegou a participar, mas a situação da própria companhia comprometeu todo o projeto”, destaca Carvalho. Apesar do momento sombrio pelo qual passa a Itapemirim, o especialista mostra-se favorável à entrada da empresa no mercado nacional da aviação. Ele diz não ver problemas, caso sejam cumpridas todas as exigências da Anac que garantam condições de segurança e demais protocolos para a operação. “Há espaço para novas empresas no mercado brasileiro. Isso é desejável e bem-vindo. Melhora a concorrência e, assim, teremos tarifas mais competitivas”, declara Carvalho.

INVESTIDAS

Não é a primeira vez que a companhia se arrisca na aviação. Nos anos 1990, criou a Itapemirim Cargo, empresa de transporte de cargas que encerrou as atividades por causa da crise cambial enfrentada pelo País em 1999. Em março de 2017, chegou a anunciar a compra da Passaredo Linhas Aéreas, mas o negócio foi desfeito meses depois, segundo informações, pelo não cumprimento de cláusulas contratuais por parte da Itapemirim. A Anac diz não ter protocolado pedido da companhia para constituição de empresa aérea. Segundo a Agência, o fato de o Grupo estar em recuperação judicial não impede a outorga da concessão, mas pode dificultar a obtenção de certidões que comprovem a regularidade fiscal, previdenciária e trabalhista exigidas para a aprovação. Por enquanto, a Itapemirim está só taxiando. E ninguém sabe quando – e se – vai decolar.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SINGULARES E PLURAIS

Como as emoções positivas geradas a partir das relações cotidianas podem estimular o convívio e gerar mais bem-estar e florescimento

Respondemos a estímulos sociais desde o primeiro instante após o nascimento, e esses estímulos, com o decorrer dos anos, moldam nossa mente. Para tanto, as emoções positivas decorrentes dos mais variados tipos de relacionamento humano são essenciais na arte do bom convívio social.

Etimologicamente, conviver engloba uma série de significados: viverem proximidade; ter relações cordiais; adaptar-se ou habituar-se a condições extrínsecas; ou, ainda, compartilhar do mesmo espaço. Da mesma forma, a convivência pode dizer respeito ao indivíduo em suas relações próximas com familiares, amigos, colegas de trabalho, mas também a grupos de pessoas que tecem relações entre si, como é o caso das relações diplomáticas entre países ou mesmo das torcidas organizadas nos estádios. Seja no nível micro ou macro, permanece a noção de construção e manutenção constante de uma relação – com quem você quer viver, como você quer conviver, as melhorias e os resultados que quer ver no modo pelo qual você se relaciona e, também, a contribuição que você quer dar ao mundo por meio de sua forma de relacionar-se com os outros.

No contexto dos estudos em Psicologia Positiva, o florescimento humano tem ligação direta com essas noções de convívio e as emoções positivas decorrentes. Segundo Roy Baumeister e Mark Leary, psicólogos sociais e pesquisadores, com base em um estudo pioneiro da década de 1990 no qual abordaram o anseio por vinculação como uma necessidade básica altamente motivadora das ações humanas, todos nós temos uma necessidade inata de estabelecer e manter uma quantidade mínima e valorosa de relacionamentos interpessoais, assim como de satisfazer o desejo de pertencimento.

Isso não significa, contudo, que seja fácil aprofundar a convivência com as pessoas ao nosso redor. De acordo com uma enquete do instituto Galup, por exemplo, apenas 30% das pessoas afirmam ter amigos próximos no ambiente de trabalho. Em seu benefício, esses funcionários são muito mais inclinados a se engajar, a ter mais bem-estar e melhor performance.

Independentemente do contexto, os benefícios da coexistência positiva ultrapassam a mera ideia de traquejo social ou de realização colaborativa. O impacto também é sentido no corpo.

Depois de analisar uma série de estudos sobre relacionamentos e saúde, Debra Umberson e Jennifer Montez, pesquisadoras da Universidade do Texas, concluíram que há evidências científicas concretas do impacto das relações sociais sobre uma série de indicadores de saúde, incluindo a saúde mental e física, hábitos saudáveis e mortalidade. Adultos mais conectados socialmente são mais saudáveis e vivem mais, afirmam.

 Por outro lado, segundo vários pesquisadores, a quantidade e a qualidade de relacionamentos próximos estão intimamente relacionadas à felicidade. Segundo Jonathan Haidt, professor de Psicologia da Universidade da Virgínia, a noção de felicidade está intrinsecamente conectada às relações com nossos entes mais próximos. De forma direta ou indireta, sempre há alguém envolvido em nossos prazeres e comemorações, bem como na maneira como os aproveitamos e relatamos – estudos indicam que as pessoas compartilham com outra pessoa seu evento mais positivo do dia, no mesmo dia, 80% do tempo.

A boa convivência em grande parte depende de uma boa comunicação. Ao pensar sobre relacionamentos, convivência e emoções positivas, a pesquisadora e professora de Psicologia Shelly Gable, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, parte dos seguintes questionamentos: o que as pessoas fazem quando as coisas dão certo? Elas capitalizam (ou seja, compartilham eventos positivos umas com as outras)? E mais: a forma como os outros respondem importa para o indivíduo e seus relacionamentos e a convivência social entre os sujeitos?

Sua conclusão foi a criação do framework ACR (Aclive Constructive Responding, ou resposta ativa-construtiva), que indica que a forma como respondemos às pessoas pode ajudar a construir ou a prejudicar nossos relacionamentos. Para Shelly, há quatro tipos possíveis de resposta quando alguém se aproxima de nós com uma boa notícia:

1) podemos parecer entusiasmados e oferecer apoio;

2) apenas escutar o que é dito;

3) desqualificar a notícia ou ignorar o que foi dito; e

4) mudar de assunto.

A primeira opção, claro, é a idealizada do ponto de vista de quem compartilha algo com alguém.

De forma correlata, Christopher Peterson, em seu livro Pursuing the Good Life: 100 Reflections Positive Psychology (Perseguindo a boa vida: 100 reflexões sobre Psicologia Positiva, em tradução livre), propõe um exercício de linguagem ligado à ideia do ACR de Gable: o “dia livre de poréns”. Quando alguém lhe contar alguma boa notícia, a ideia é responder sem usar a palavra “porém”. A versão mais geral dessa intervenção é chegar ao final de um dia inteiro sem usar essa palavra ou qualquer outra similar, como “mas”, “entretanto”, “ainda assim”, “por outro lado”, entre outras. Você acha isso possível?

Assim, a relevância de observações como as das pesquisas acima confirma que não somos reféns do discurso alheio e que podemos utilizar meios mais efetivos de comunicação para tornar nossos vínculos verdadeiramente construtivos, o que na prática é uma alavanca para que possamos nos proporcionar e proporcionar aos outros, conscientemente, uma convivência mais enriquecedora e orientada à felicidade.

FLORA VICTÓRIA- é presidente da SBCoaching. Training, mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela Universidade da Pensilvânia, especialista em Psicologia Positiva aplicada ao coaching. Autorade obras acadêmicas de referência, ganhou o título de embaixadora oficial da Felicidade no Brasil por Martin Seligman. É fundadora da SBCoaching Social.

EU ACHO …

SOBRE OS GASTOS COM EDUCAÇÃO

O investimento por aluno não pode ser o mesmo de países ricos

Com a aprovação do novo Fundeb, passou-se a debater a questão dos gastos públicos em educação, renovando a crença equivocada de que aumentar despesas é o que garante a melhoria da qualidade do ensino. Vem daí, em parte, a expansão dos gastos, que passaram de insuficiente 1,4% nos anos 1950 para os atuais 6,2% do PIB. O Brasil despende para a área, proporcionalmente, mais do que a média dos países ricos, que fica em 5% do PIB. Apesar disso, a qualidade da educação continua lamentável. No teste do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil está na posição 57 entre os 77 países participantes. Regiões da China ocupam a primeira, a terceira e a quarta colocações. Singapura figura na segunda. A China aplica em educação 4% do PIB; Singapura, 2,9%.

Mais uma iniciativa para elevar as despesas com o ensino, o novo Fundeb, o fundo de desenvolvimento da educação básica, foi recebido com entusiasmo pela opinião pública. Entidades que lutam por mais investimentos em educação aproveitaram para reviver antiga reivindicação. Teria chegado a hora de realizar novo esforço de modo que os gastos por aluno sejam iguais aos do mundo desenvolvido. Outra ideia equivocada.

Comparações internacionais não podem ser feitas com valores absolutos. O correto é fazê-las em termos relativos. É por aí que se mede o esforço de cada país em diferentes áreas. Na educação, por exemplo, adota-se a relação entre os gastos e o PIB. Isso nos permite perceber que países asiáticos, mais bem-sucedidos em relação ao Brasil, gastam proporcionalmente muito menos do que nós. Em muitos outros campos o padrão é o mesmo, isto é, comparam-se grandezas em relação ao PIB. É assim que são expressos os investimentos, as finanças públicas – carga tributária, dívida e déficit ou superávit – e a conta- corrente do balanço de pagamentos. Na área da defesa nacional, a metodologia é igual. É por isso que o Ministério da Defesa do Brasil reivindicou recentemente a elevação dos seus gastos para 2% do PIB.

Segundo a última edição da publicação Education at a Glance, da OCDE, de 2019, os países ricos dessa organização gastavam 10.581 dólares por aluno. Na Suíça, o país campeão, o valor chega a 16.090 dólares. Os Estados Unidos atingem 15.345 dólares. No Brasil, utilizando o mesmo parâmetro, gastamos 3.066 dólares por aluno.

Se coubesse igualar nossa situação à média dos países ricos, os gastos com educação precisariam ser multiplicados por um fator 3,4. Alcançariam 21,1% do PIB. Caso o padrão escolhido fosse a Suíça, o fator seria 5,2. Catapultaria tais gastos para 32,2% do PIB. Nessa hipótese, a carga tributária do país se destinaria exclusivamente à educação, não sobrando dinheiro para despesas com saúde, servidores públicos, aposentados, pensionistas, investimentos, pesquisas, serviço da dívida pública e manutenção da máquina pública. Não precisa pensar muito. Seria impossível fazer isso.

O Brasil pode um dia gastar por aluno tanto quanto os países desenvolvidos, mas para isso teremos de atingir o PIB das nações ricas. Estamos longe, muito longe disso.

***MAILSON DA NÓBREGA

OUTROS OLHARES

ISTO, SIM, É SELF-SERVICE

Mercados autônomos, sem a necessidade de atendentes nem caixas, avançam no Brasil e trazem a tecnologia para o centro da vida dos consumidores

Quando a Amazon lançou seu primeiro mercado físico 100% autônomo, o Amazon Go, em 2018, o mundo ficou espantado: graças a tecnologias de ponta, uma pessoa podia pegar um produto na prateleira, pô-lo direto na bolsa e ir embora, sem perder tempo em filas no caixa – tudo, claro, devidamente registrado no cartão de crédito. A loja da Amazon é a mais chamativa, mas não é a única. Também nos Estados Unidos, as startups AiFi e Grabango entraram no ramo de cashier-less stores (lojas sem caixa, em tradução literal) e planejam uma expansão agressiva. Na China, o Fresh Hippo, rede de mercados do gigante Alibaba, garante uma experiência de compra similar, mas com um diferencial: o aplicativo avisa, por exemplo, onde e quando a lagosta disponível no freezer foi pescada e dá sugestões sobre os vinhos que harmonizam com o prato. Após certo atraso, o Brasil começa a receber investimentos no setor e, por isso mesmo, o número de mercados autônomos cresce de forma surpreendente.

A pioneira Zaitt iniciou 2020 com duas lojas, uma em Vitória e outra em São Paulo, mas deve encerrar o ano com doze. Não há funcionários nos mercados. O cliente acessa a unidade após a leitura de um QR code pelo smartphone, seleciona os produtos usando o aparelho para a leitura do código de barras e finaliza a compra pelo aplicativo. “Ajustamos o nosso modelo de negócios, entendemos o gosto dos clientes e agora estamos prontos para crescer”, diz Rodrigo Miranda, presidente da Zaitt, rede comprada recentemente pela empresa de restaurantes corporativos Sapore. A companhia não revela o faturamento, mas o executivo diz que, durante a quarentena, as vendas subiram 50%.

É nos prédios e condomínios residenciais que os mercados autônomos mais crescem no país, o que pode ser atribuído ao distanciamento social imposto pela pandemia. Para evitar o risco de circular em lugares públicos, muitas pessoas recorreram às compras literalmente na esquina de casa. Estima-se que pelo menos 500 condomínios contam com o serviço. Um dos maiores representantes do setor é o paranaense market4u. Criado no ano passado por três sócios em Curitiba, o market4u começou a pandemia com dezesseis lojas. Atualmente, são 269 em 35 cidades de vinte estados, além de contratos assinados para outras 1.000 unidades. “No ano que vem, queremos abrir 1.000 mercados por mês e, em três anos, estaremos em 50.000 prédios ou condomínios”, diz Eduardo Palu de Cordova, presidente do market4u. Um estudo contratado pela empresa listou que, só na cidade de São Paulo, há 55.556 condomínios com capacidade para receber as unidades autônomas.

No início, a estratégia da empresa estava baseada na comodidade. O objetivo principal era capturar as compras por impulso ou necessidade. Por exemplo: espera-se que quem organiza um churrasco compre a carne e as bebidas num mercado tradicional. E se a cerveja acabar? Nesse caso, basta descer e comprar na loja instalada dentro do prédio. Ainda que esteja longe do modelo da Amazon Go, há bastante tecnologia envolvida. O market4u trabalha com cerca de 5.000 itens, mas cada unidade

vende um décimo desse número e é customizada de acordo com os hábitos dos consumidores. A análise é feita por um software de inteligência artificial. Na versão mais hi-tech, as gôndolas são fechadas e o acesso é feito a partir do aplicativo instalado no smartphone. Há trava de proteção para impedir que menores de idade comprem bebidas alcoólicas.

Para as grandes companhias, o maior ativo desse tipo de mercado está nas informações sobre os hábitos de consumo, que valem ouro hoje em dia. Não à toa, marcas como a cervejaria Ambev, a empresa de bens de consumo Unilever e o frigorífico Seara pagam ao market4u para ter seus produtos expostos nas prateleiras. “Os mercados de condomínio servem como laboratórios para conhecer os gostos de nossos consumidores”, diz Manoela Victal, diretora de Novos Canais da Seara. A empresa entrou nesse filão em maio. Atualmente, está presente em oitenta unidades, com planos de atingir 2.000 até o fim de 2021. Um dos obstáculos à viabilidade do negócio são os furtos. No começo, o índice de perdas no market4u era próximo de 10%. Após o reforço em tecnologia e campanhas de conscientização com condôminos, o índice chegou próximo a 3%. Apesar dos entraves brasileiros, os mercados autônomos são uma boa novidade.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 26 DE SETEMBRO

SIMPLESMENTE OBEDEÇA

… [Jesus] disse ao homem [com a mão ressequida]: Estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada (Marcos 3.5b).

A marca distintiva de um cristão é a obediência. A falta de obediência nos priva de grandes bênçãos, enquanto a desobediência nos coloca na larga estrada da condenação. A rebeldia, ou a indisposição para obedecer, é como o pecado da feitiçaria. É conspiração contra a autoridade de Deus.  Nem sempre, porém, obedecer é coisa fácil. Nossa obediência precisa ser completa e imediata. Certa feita, Jesus estava na sinagoga e ali havia também um homem com a mão direita mirrada. Jesus lhe disse: Levanta-te e vem para o meio (Lucas 6.8) e Estende a mão (Marcos 3.5). Aquele homem poderia retrucar, dizendo que isso era impossível. Mas o mesmo Jesus que dá a ordem também dá o poder para que a ordem se cumpra. O homem estendeu a mão e ficou curado imediatamente. De outra feita, Jesus estava no tanque de Betesda e viu ali um paralítico adoecido havia 38 anos. Jesus perguntou-lhe: Queres ser curado? (João 5.6). O homem respondeu com uma evasiva: Não tenho ninguém (v. 7). Aquilo que era absolutamente impossível para o homem aconteceu no exato momento em que Jesus lhe ordenou: Levanta-te, toma o teu leito e anda (v. 8). O homem levantou-se curado. Jesus chegou a Betânia, e seu amigo Lázaro já estava sepultado havia quatro dias. Jesus gritou da boca do túmulo: Lázaro, vem para fora! (João 11.43). O morto ouviu sua voz e saiu! A ordem de Jesus é poderosa. Quando obedecemos à sua voz, o impossível acontece. Não duvide; simplesmente obedeça!

GESTÃO E CARREIRA

EMPREENDER SEM GASTAR UM TOSTÃO!

Ninguém nasce empreendedor, o ser humano torna-se um empreendedor ao longo da vida. Mas será que é possível aprender a empreender sem custo?

Se você deseja ser um empreendedor, mas não tem preparo, nem dinheiro, muito menos como investir nisso, não se desespere. Nesta Seção comprovaremos que isso é totalmente possível e mostraremos que muitos empreendedores tiveram sucesso no negócio apenas fazendo cursos gratuitos, frequentando palestras ou lendo livros da área.

Nesta matéria contaremos o caso de uma empreendedora que começou o seu negócio na cozinha de casa, criou uma franquia e se preparou para o mundo dos negócios com os cursos on-line gratuitos.

Para não deixar dúvidas, resolvemos experimentar tais cursos oferecidos por várias instituições conhecidas e referências no assunto empreendedorismo. Começamos por uma delas, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que oferece mais de 45 cursos on-line gratuitos, com duração de uma a cinco horas, com direito a apostilas e certificados.

A instituição oferece várias opções de temas dentro da categoria empreendedorismo, que vai desde como desenvolver um comportamento empreendedor até como iniciar um pequeno negócio. Para o especialista em inovação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Arthur Igreja, a dica principal é saber selecionar o curso. E a forma mais rápida de fazer isso é conversando com outras pessoas que já consumiram esse conteúdo. “É importante não perder tempo, o segredo está em saber selecionar o que é relevante e o que tem qualidade”; lembra o especialista.

CAPACITAÇÃO SEM CUSTOS

Foi o que fez a sócia-fundadora da rede de franquias Tio Coxinha, Elizabete Monteiro. Ela selecionou os cursos on-line egratuitos e presenciais do Sebrae que mais se encaixavam em seu negócio e se capacitou como empreendedora. Deu tão certo, que ela está abrindo uma rede de franquias do Tio Coxinha.

A história da empreendedora ilustra a de milhares de pessoas que também começaram o seu negócio na cozinha de casa. Em 2012, ela enfrentava uma situação difícil e, como sabia fazer coxinhas, resolveu fazê-las no aniversário da filha. A partir daí as encomendas começaram, ela não parou mais. Nasceu assim o Tio Coxinha. “Quando você está à frente de um negócio, é importante ter conhecimento amplo para tomada de decisões e construir seu legado com diretrizes”, conta.

Cada curso que faz agrega não só no lado profissional, mas também no pessoal. “Tenho aprendido muito sobre liderança e gestão de pessoas, por exemplo, área que hoje é muito desafiadora”, lembra a empresária.

Atualmente as maiores dificuldades do empreendedor, que decide se capacitar, são realmente o tempo e o dinheiro. “Durante esses seis anos em que eu empreendo, fiz muitos cursos gratuitos on-line e presenciais. Cheguei a fazer Gestão de Pessoas e Marketing. Participei também do Empretec, do Sebrae, além de alguns cursos para desenvolvimento de pessoal, como imersões sobre liderança. Geralmente todos eles através do Sebrae. Os cursos ajudam muito o empreendedor atualmente, pois, além do conteúdo, são disponibilizadas por lá diversas ferramentas que podem auxiliar o empresário em sua empresa no dia a dia”, conta Elizabete.

CURSOS, LIVROS, PALESTRAS

Nem só de cursos vivem os empreendedores, boas dicas podem ser tiradas de livros, e-books e até podcasts. A Founder e CEO da SPUTNIK, Mari Achutti, indica os sites reconhecidos, como TED, Podcasts e as plataformas de empreendedorismo que sejam bem ranqueadas em suas buscas. ”Certifique-se de que a fonte que você está pesquisando é de boa qualidade e mergulhe nesse universo em busca de informação”, diz ela.

É preciso aprender além do setor de seu negócio, lembra também o fundador da DocLuz Consultoria e CEO da TOTVS Virtua, Tiago DocLuz. Ele acredita ser fundamental o empreendedor buscar os cursos direcionados para marketing digital, conversão, ROI e Adwords.

Quem deseja entrar no mundo dos negócios precisa adquirir conhecimento também em como manusear uma rede social e engajar seus clientes. “Costumo falar que o empreendedor, o de verdade, aquele que acredita no sonho, precisa saber de tudo um pouco”, relata a CEO da Francisca Joias, Sabrina Nunes.

Portanto, “os cursos on-line gratuitos podem ser complementados com leituras”, reforça o presidente do grupo Encontre Sua Franquia, Henrique Mol. Sem eles, o empresário diz que não teria desenvolvido a visão empreendedora que tem hoje. “Foi um livro de empreendedorismo que falava sobre cortar gastos desnecessários que me deu um norte sobre como eu poderia aplicar dentro da franqueadora para evitar desperdícios”, completa.

Ele conta que a leitura já proporcionou que ele criasse inúmeras estratégias dentro dos negócios. “A leitura possibilita ainda desenvolvermos um senso crítico melhor e mais apurado, sem nos levar pela opinião alheia, e ainda desenvolver a capacidade de persuasão”, afirma

O CEO da HeroSpark – solução para empreendedores digitais -, Rafael Carvalho, explica e reforça que esse material pode ser uma boa opção para quem deseja se tornar empreendedor, mas não tem como investir nisso. “Atualmente, oferecer um conteúdo de qualidade, um material rico como te e-book, por exemplo, pode ser a principal porta de entrada de uma pessoa em uma empresa”, indica e lembra que é bom avaliar criticamente todos os conteúdos gratuitos disponíveis. Faça comparações, critique e consuma os conteúdos.

LEITURA PARA EMPREENDER

• Busque sempre livros que contenham palavras­ chaves e que podem ser usados em diferentes contextos e situações.

• Crie o hábito diário de separar alguns minutinhos do seu dia para se dedicar à leitura.

• Crie proximidades com todos os tipos de veículos: jornais, portais, revistas, e-books, entre tantos outros meios que possam contribuir para o seu crescimento pessoal e profissional oferecendo pontos de vistas distintos.

FONTE: Henrique Mol, presidente do grupo Encontre Sua Franquia.

NA PRÁTICA!

A nossa repórter foi atrás desses cursos gratuitos do Sebrae. Ela conta o que aprendeu e se vale a pena. Confira!

COMO SE TORNAR EMPREENDEDORA COM OS CURSOS ON-LINE GRATUITOS DO SEBRAE?

Não basta desejar empreender, é preciso se preparar e se capacitar parai isso. Antes de criar um negócio é importante tomar algumas medidas, escolher um produto ou serviço do qual goste ou conheça, pesquisar sobre ele, observar se há necessidade dele no mercado e montar um planejamento.

Para não atirar no escuro, é fundamental se capacitar, e isso só é possível fazendo cursos, lendo livros e agregando conhecimentos.

Com a crise no mercado do jornalismo e as mudanças na minha profissão, resolvi começar uma trajetória no mundo do empreendedorismo. E desde então tenho buscado caminhos gratuitamente para me capacitar.

Assim como milhares de novos empreendedores, eu não disponho nem de tempo nem de dinheiro para pagar cursos e graduações. Por isso, comecei a pesquisar cursos on-line gratuitos e fiz grandes descobertas.

Descobri que instituições bacanas como Sebrae, Senai, FGV, Endeavor, Unicamp e USP oferecem vários cursos on-line gratuitos de empreendedorismo.

Então fiz um planejamento, começaria pelos cursos do Sebrae, cujo envolvimento sobre o assunto é crescente, e depois seguiria para as outras Instituições.

O mais interessante desses cursos é que eles fornecem certificados e materiais de apoios, como e-books e livros em pdf. E o melhor: tudo gratuitamente.

Decidi fazer o primeiro curso do Sebrae, comecei pelo início do empreendedorismo. Eu queria saber os conceitos e o básico do tema. Acredito que é importante entender bem o conceito, para depois mergulhar nos temas mais específicos.

A minha ideia é trabalhar com marketing digital, marketing da web, SEO, Copy. Pretendo empreender nessa área, que é muito concorrida, por isso é fundamental a minha capacitação e encontrar um diferencial de negócio.

O primeiro passo para fazer os cursos do Sebrae é entrar no site deles: www.sebrae.com.br/ sites/ PortalSebrae/ cursosonline.

Para se inscrever e começar os cursos on-line gratuitamente, eu precisei criar uma conta no gmail. Com ela eu me cadastrei no site e escolhi um curso de empreendedorismo, com duração de duas horas.

O primeiro curso que fiz foi: Como agir de forma empreendedora. www.sebrae.com.br/ sites/PortalSebrae/cursosonline/como-agir-de-maneira­empreendedora,2ac0b8a6a28bb610 VgnVCM1000004c00210aRCRD.

O curso é uma introdução ao empreendedorismo. Ele vai tratar de assuntos mais básicos, por exemplo, como agir de maneira empreendedora, como se tornar um empreendedor de sucesso e quais são as atitudes necessárias para se desenvolver como empreendedor.

VAMOS A ELE!

O curso é dividido em quatro unidades: O que é empreender, Características do empreendedor, Fatores de sucesso e Definindo planos e metas. Comecei a fazer o curso no dia 25 de novembro às 23h20 e terminei pouco depois, à Oh49. Demorei um pouco mais, porque fui anotando os tópicos, mas o curso é bem rápido e nada cansativo. Mistura vídeos, histórias de empreendedores, conceitos sobre o que é ser empreendedor, quais características um empreendedor deve ter e alguns testes no final de cada seção. Testes bem simples também que ajudam a fixar o conteúdo de cada unidade.

Esse primeiro curso foi fundamental para me introduzir no assunto de empreendedorismo. Na introdução, ele já levanta algumas questões relevantes, como”Quais são as atitudes fundamentais para quem deseja empreender?”. Fala também sobre as ações do empreendedor, a descoberta de seus objetivos, a necessidade de se manter bem informado, estar aberto às oportunidades, entre outros fatores.

Logo no início, observei que o meu notebook estava lento. Para resolver o problema, cliquei na ajuda e fiz um teste de desempenho, solicitado por eles. Por fim, o computador melhorou e consegui fazer os cursos tranquilamente.

Após a pequena introdução, entramos na Unidade 1, que começa levantando várias perguntas sobre o empreendedorismo, por exemplo: É possível aprender a empreender? Sim, é, porque empreender é um padrão de comportamento. O empreendedor interfere no meio em que vive? Sim, ele é um ser social. E, por fim, uma das perguntas mais importantes para quem está entrando nessa área: Como transformar uma ideia em um negócio e fazê-la dar certo?

O empreendedor deve ver as adversidades e o insucesso como parte do sucesso, como um aprendizado. Por fim, a Unidade 7 define os três comportamentos do empreendedor: A ação, a razão e a emoção.

No final dessa unidade, para ilustrar as informações contidas, o empreendedor Carlos Magno conta um pouco da sua vida, de como saiu da informalidade e se tornou uma referência em empreendedorismo em sua cidade.

Para fechar, fiz os testes, que são bem fáceis e gerais. Eles fixam bem o conteúdo

APROFUNDANDO

Nessa unidade tratamos das características do empreendedor. Fica claro que ninguém nasce um empreendedor pronto, mas é preparado para isso por meio de capacitações e estratégias. Uma das partes mais interessantes são as características que um empreendedor precisa ter e, se não tiver, deve desenvolver. São elas: estabelecer metas; ser persistente; ter visão clara; criar objetivos mensuráveis; buscar oportunidades de produtos e serviços; buscar possibilidade de se expandir; buscar informações, ou seja, investigar sempre, conquistar pessoas por meio de uma rede de contatos, obtendo apoios; manter a qualidade de seus produtos; planejar e criar suas estratégias; trazer para si a responsabilidade; correr riscos calculados; ser independente e autoconfiante.

A grande questão que me fiz após essas informações é: quais características dessas eu tenho? Quais empreendedores que você conhece têm essas características? O que você pode fazer para desenvolver essas características? Novamente, após essa unidade, fiz outro teste, que ajuda a fixar o conteúdo.

Na unidade 3, o tema foi sobre Fatores de Sucesso. Essa parte do curso já começa contando as histórias de dois pipoqueiros, considerados sucessos em suas áreas. Um atua no sul do País e o outro no Rio de Janeiro. As histórias desses dois empreendedores demonstram que não basta ter as características de um empreendedor, mas é necessário uni-las aos fatores de sucesso. E quais seriam os fatores de sucesso? São o investimento no negócio, o preço, o serviço, a qualidade, se ele é uma novidade, entre outros.

Nessa unidade, uma das partes mais interessantes são as dez dicas relevantes para o sucesso do seu negócio: Dedicar-se totalmente ao seu negócio, pelo menos nos dois primeiros anos, como Administrar custos, Criar facilidade para os clientes, Entrar em um negócio que você conheça, Treinar os funcionários, Cobrar o preço justo, Criar parcerias, Participar de programas de capacitação, Manter relação estreita com os clientes, Oferecer um produto de qualidade.

Antes de terminar essa seção, algumas perguntas são feitas para a reflexão: O que você considera um empreendedor de sucesso?

Você tem algo em comum com os pipoqueiros da história? Como você aplicaria os Fatores de Sucesso no seu negócio? De que maneira os Fatores de Sucesso complementam as características do empreendedor?

Na Unidade 4, que é a última do curso, o assunto é Definindo Planos e Metas. Ele começa explicando a diferença entre objetivo e metas. O primeiro é aonde se quer chegar, e o segundo é a maneira concreta como se chega lá.

Para alcançar o sucesso, o empreendedor precisa ter objetos e metas claras. Então a pergunta é: Você tem metas claras? Não basta dizer que tem, é preciso definir com clareza o que se pretende e até quantificar e colocar prazos para alcançar isso.

Para complementar o curso, são fornecidos uma cartilha com mais detalhes sobre cada unidade e um audiolivro.

O curso foi bem interessante justamente porque ele introduz quem deseja empreender no tema por meio de conceitos e reflexões. O mais importante do curso é compreender que empreender é um aprendizado, e ele precisa ser desenvolvido em cada um de nós. Você toma consciência das características que um empreendedor precisa ter, e se não tiver algumas delas pode desenvolver.

Fora isso, faz com que você compreenda que não basta ter as características de um empreendedor, é preciso partir para a ação, correr atrás dos Fatores de Sucesso. O empreendedor precisa estar aberto às oportunidades, se arriscar, confiar em si e compreender que sua trajetória não será linear. Muitas vezes as coisas não darão certo e isso também será uma forma de aprendizado – e evolução.

Espero que você tenha gostado.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MORRER E PARTIR…

“Partir é morrer um pouco e morrer é uma grande partida”.

Existe uma citação antiga que me chama a atenção, “partir é morrer um pouco e morrer é uma grande partida”. De certa maneira, partir é poder dizer que somos da imobilidade, de perto dos familiares para ir atrás de qualquer coisa que seja supostamente estranha a si. Existe também a ideia de um estado fronteiriço que mistura o risco da perda e sua ultrapassagem. Partir é morrer, portanto é aceitar a ideia de que qualquer coisa em si morre, para renascer sendo transformado. A morte, como uma partida, é uma prática diária. O grão de trigo precisa morrer para frutificar. Nosso corpo inicia seu processo de morte quando nasce. Jesus morreu para que tivéssemos vida. Partir é de fato morrer, mas morrer não significa necessariamente partir. Quando alguém que amamos morre, se mantém viva em nossos corações pelos momentos vividos e ensinamentos deixados.

A citação parece nos dizer que por mais irremediável que seja, a morte é atenuada um pouco pela sugestão de que felizmente existe um eterno recomeço e por isso um renovo. Acho que isso acontece pelo legado que cada um pode deixar. É mais difícil nos despedirmos dos amigos, enfrentar a ausência de jantares regados a muitas risadas, mas, cremos na ressurreição. Existem aqueles que por mais que partam e morem longe sempre serão enraizados e outros que se sentem sem raízes, sem nunca terem partido.

Tudo depende do que se deixa. Se por morte, não sentimos o impacto de nossa morte, então nos resta a esperança de que existe uma eternidade em que passaremos com nosso Criador. Mas se é uma partida de mudança, a morte se faz para aquilo que deixamos para trás e o momento mais interessante será quando nos debruçarmos sobre a nossa história, muitas vezes é lá que encontraremos a chave. Essa chave nos dirá se se trata de morte ou de vida. Para nós é dada ao homem uma só morte e essa morte se dá na carne, posto que nosso espírito voltará ao Pai, nosso Criador, quem nos deu.

CÁSSIA DE FIGUEIREDO FREITAS – é uma desenraizada, porém frutífera. Este paradoxo só se dá mediante a Graça de Deus!

cassiafreitas7@gmail.com

EU ACHO …

NAQUELA MESA

Memórias afetivas que permanecem por toda a vida

A mesa tem um quê de sagrado. Em torno do alimento que ela oferta, familiares e amigos se reúnem, estreitando vínculos e criando um repertório de memórias afetivas que poderão ser acessadas por toda a vida. Num almoço de domingo, um simples molho de tomate feito no passe vite trará de volta o elogio de sempre. Num lanche em dia de semana, o biscoito champanhe lembrará a avó. Assim como a textura macia e consistente de um pudim nos devolverá a infância já remota.

Qualquer comida é melhor quando compartilhada. À mesa, o ritual de fazer a refeição em conjunto requer o avesso da pressa. Assim a conversa evolui solta e pode tomar rumos inesperados. Na melhor tradição latina, que valoriza o falatório entrecruzado, um comentário casual sobre o ponto da massa ou um pedido para passar o azeite podem dar origem a reflexão, piada, ensinamento, nunca se sabe. Podem terminar também em desavenças, se bem que essas tendem a se dissolver logo, em meio a aromas agradáveis.

Guardo na retina e na alma as cenas banais e marcantes dos jantares semanais de terça-feira em casa. Meus pais nas cabeceiras, os seis filhos entre eles. Minha mãe provavelmente não entenderia o sentido de “gluten free”. Portuguesa típica, gostava de um bom bacalhau e mergulhava o pão no vinho. Adorava ainda a água portuguesa Pedras Salgadas, bicarbonatada e naturalmente gaseificada, indicada por ela para “anular” alguns exageros à mesa. Minha mãe dizia ainda que água boa deve ser rica em minerais, e jamais purificada – que só serviria para expelir os minerais do nosso organismo. Mamãe também não queria saber se alguém não gostava de cebola ou maçã, como era o caso do Abílio, o mais velho dos seis irmãos. Embates passageiros sobre esses ingredientes, aliás, fazem parte do folclore familiar, da mesma maneira que a superstição de minha mãe, que se recusava a pôr treze pessoas na mesa (mas isso só seria um problema quando a nós se juntaram genros e noras). Diz o ditado popular que, para conhecer uma pessoa, é preciso antes comer um saco de sal com ela. Famílias que comem unidas batem a marca proverbial com folga.

Hoje, aqueles que podem ficar em casa estão tendo a oportunidade de resgatar um hábito – de ouvir e falar entre goles e garfadas – que emprestou leveza de espírito, inteligência e charme à própria civilização.

É inevitável que a mesa também nos faça sentir saudade daqueles que já não se sentam mais ao nosso lado. A cadeira vazia é uma metáfora pungente da partida de um ente querido. “Naquela mesa ele sentava sempre/ E me dizia sempre o que é viver melhor”, diz o samba clássico que o filho de Jacob do Bandolim fez para o pai. Em meio à nostalgia vazada em tom menor, o que ficam, para mim, é o elogio do convívio e as boas lembranças, que logo se sobrepõem ao vácuo. Ficam ainda as histórias divertidas, os argumentos afiados, as lições pertinentes, o exemplo de vida. E fica também, como que embaçada nos vapores que sobem das travessas, a cena agitada e alegre embalada pelo tilintar de copos e talheres.

P.S.: a todos aqueles que perderam seus entes queridos pela Covid-19 neste ano tão difícil e doloroso eu dedico este artigo.

***LUCÍLIA DINIZ

OUTROS OLHARES

A CINTURA COMO MANIFESTO

A volta da calça que deixa um palmo abaixo do umbigo à mostra desafia os quilos ganhos na quarentena. Há nela um quê de protesto adequado a novos tempos

Nos anos 2000, as calças de cintura baixa vieram ao mundo com estardalhaço para destacar um ativo valiosíssimo entre as mulheres: a barriga chapada. A maior das musas era a cantora americana Britney Spears, que começava a se destacar, na antessala dos atuais tempos das redes sociais, e não vacilou um segundo em abandonar o visual adolescente com que começara sua carreira. Suas exibições públicas foram valorizadas com os jeans justíssimos e zíperes de poucos centímetros – e uma imensidão de abdômen à mostra. O tempo passou, o recato se impôs e tudo ficou mais discreto. Mas como a moda vive de redescobertas, uma das novidades, agora, é o retorno dos modelos de vinte anos atrás.

Fashionistas de primeira hora como as modelos americanas Bella Hadid e Hailey Bieber já aderiram ao estilo, assim como marcas de prestígio, entre as quais Gucci, Tom Ford e Versace. O renascimento embute algum paradoxo. O item ressurgiu em plena quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, período inglório, que parece estar chegando ao fim, no qual as mulheres (e homens também, é claro) ganharam quilinhos a mais. A modelagem que aperta as ancas, alertam os especialistas em moda, ressalta a gordura localizada no local, dando a aparência de duas cinturas. Ou seja, era costumeiramente usada por silhuetas secas. Hoje, portanto, não deveria emplacar.

Mas, como a dificuldade é a mãe da invenção, deu-se um jeito de fazer as calças mais larguinhas, em sua maioria, mesmo atreladas a corpos sem um pingo de gordura sobrando. “Hoje em dia conforto é fundamental para a moda vingar, ninguém mais acha aceitável sofrer para caber em uma tendência”, diz a consultora de moda e estilo Mônica Boaventura, dona de um badalado ateliê que leva seu nome em São Paulo.

Há poucos anos, outro item do vestuário feminino passou por uma adaptação semelhante, a chamada blusa cropped, curtinha, com medidas que normalmente chegam, no máximo, à altura do umbigo. Feitas em variados manequins e usadas em sobreposições, se adaptaram a todos os corpos.

Como moda também é manifesto, a calça de cintura baixa, readaptada aos dias de confinamento, ganhou força por refletir, de algum modo, os humores deste 2020 tão especial. Não há espaço para machismo, as mulheres impõem suas vontades, exigem igualdade e não cansam de informar que seu corpo lhes pertence. Simples assim. Tratam de exibi-lo do jeito que bem desejam, grito que ecoa os ruidosos anos 1960, com o nascimento da revolução sexual. Naquele momento, a peça, em sua primeira versão, era chamada de Saint-Tropez, em referência ao sensual balneário francês frequentado pela sensualíssima Brigitte Bardot. “A cintura baixa surge num momento de libertação feminina, com um teor de contestação e rebeldia”, diz a historiadora de moda Laura Ferrazza. A quebra de paradigma na época foi tamanha que Carlos Drummond de Andrade escreveria uma crônica, espantado com os umbigos em evidência: “Se na praia eles nem são percebidos, porque se inserem no quadro global, na rua, no coletivo, na loja, no escritório, são uma presença nova, uma graça diferente acrescentada ao espetáculo feminino”. Já não há mais espanto, mas o espetáculo precisa continuar.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 25 DE SETEMBRO

O CORDEIRO SALVADOR

Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (João 1.29b).

João Batista foi o precursor do Messias. Apresentou-o como noivo. Chegou a dizer que não era digno de desatar-lhe as correias da sandália. Afirmou que Jesus era maior que ele, pois batizaria com o Espírito Santo e com fogo. Mas, de todas as afirmações de João Batista, esta foi a mais direta: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! Todos os rituais do Antigo Testamento apontavam para Jesus. Eram um símbolo do Cordeiro imaculado que seria imolado na cruz. Todas as festas, todos os rituais e todas as cerimônias judaicas não passavam de sombra da realidade em Cristo. Quando o sol desponta, não precisamos mais recorrer a luz de velas. Hoje temos Cristo, e ele nos basta. Ele é o cumprimento das promessas. Nele todas as coisas convergem no tempo e na eternidade. Cristo é o centro da história e da eternidade, do céu e da terra. Por nos amar com amor eterno, Deus entregou seu próprio Filho para morrer por nós, sendo nós ainda pecadores. Jesus é o Cordeiro de Deus, providenciado por Deus, para ser imolado pelo próprio Deus. Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Deus lançou sobre ele a iniquidade de todos nós. Ele foi ferido e traspassado pelas nossas transgressões. Carregou o fardo dos nossos pecados sobre a cruz. Morreu pelos nossos pecados e cancelou o escrito de dívida que era contra nós. Pagou por completo a nossa dívida e nos reconciliou com Deus, dando-nos perdão e vida eterna.

GESTÃO E CARREIRA

DESCUBRA O SEU LUGAR NO MUNDO CORPORATIVO

Definir, estruturar e findar o core business é o norte que dará direcionamento ao negócio – mesmo que ele mude no meio do caminho

Ao estruturar um negócio, define-se o que será e seu campo de atuação, além da delimitação de um público-alvo.

Assim origina-se o core business: uma linha mestra para se dedicar, estudar e aprofundar cada vez mais os conhecimentos, que logo passam a se tornar know-how. Em tradução livre, a expressão refere-se ao negócio central da empresa, que a sustenta e determina a maneira como ela é percebida pelo mercado e por todos os seus stakeholders. Uma indústria automobilística, por exemplo, tem como foco principal do seu negócio o design e a fabricação de carros (a maioria apenas a “montagem” dos autos).

Não é um limitador, mas um eixo. “A consciência do próprio core business por parte da empresa e todas as reflexões a respeito têm que acompanhá-la desde o momento em que começou a realizar as suas atividades de forma um pouco mais contínua e estruturada”, diz o head de Supply Chain da AGR Consultores, Ricardo Rodrigues.

Defini-lo é importante para que se possa alinhar os recursos da organização (pessoas, financeiro, capacidade) a fim de se dedicarem aos negócios e clientes essenciais que a empresa quer focar para alcançar os resultados. Nenhuma empresa hoje pode se dar ao luxo de ter capacidade e recursos para atender linhas de negócio que não são realmente chave para o alcance dos resultados.

Fundamenta-se para se provar que economicamente não vale mais a pena dispender energia interna da corporação em atividades que não agregam valor ao produto. “Essa definição torna claro para os clientes e para o mercado o posicionamento da empresa e seus diferenciais competitivos. Se o core business está bem definido, fica evidente, tanto internamente quanto aos clientes, em quais negócios a empresa atua e se destaca”, afirma o consultor.

NO DECORRER DO CAMINHO

Apesar de ser um caminho traçado desde a fundação da empresa, é possível mudá-lo, em determinado momento, devendo essa alteração ser tratada como um projeto amplo e estruturado, que envolve a grande maioria das áreas da empresa, e especialmente clientes e fornecedores. “Mesmo adaptações vistas como pequenas ou simples precisam de uma reflexão e de um planejamento prévio para serem efetivadas”, reforça o consultor.

O estúdio de arquitetura e design urbano Plantar Ideias, dos arquitetos e designers Luciana Pitombo e Felipe Stracci, por exemplo, percebeu que precisava redefinir seus caminhos.

Com quase três anos de trajetória, o escritório começou com a criação de peças para áreas externas. Participaram de três edições da Casa Cor em São Paulo e hoje contam com peças que estão no Parque do Ibirapuera, por exemplo. Com essa evolução dos negócios, os sócios optaram por fazer uma divisão de core: Luciana segue à frente das peças que criam e comercializam por meio de parceiros, enquanto Felipe Stracci passa a se dedicar aos projetos de urbanismo – outra paixão da Plantar. “Quando decidimos que íamos ser um escritório de arquitetura, sabíamos que fazíamos projetos, porém, dentro de cada atendimento, buscamos entender qual é a essência da empresa e como atender cada cliente e optamos por absorver diversas capacidades de gerar valor para a empresa”, diz a arquiteta e designer, sócia do negócio, Luciana Pitombo.

A mudança se fez necessária pelo dinamismo do mercado. Na opinião de Luciana, a instabilidade econômica do País faz com que os empreendedores se sintam desconfortáveis ou vendo novas demandas que necessitariam de grandes mudanças do core business, entretanto, o eixo de uma empresa está pautado nas expertises que ela possui, e fazer grandes mudanças pode acabar por enfraquecer a entrega por falta de domínio de assuntos que fogem ao eixo central de trabalho.

Durante as ações de planejamento empresarial, a revisitação no Plano de Negócios, avaliação de canais de projeto e demandas são questões que podem se transformar ao longo dos anos, por isso, é fundamental que toda empresa se encare como um organismo vivo que se adapta e transforma. “Mesmo porque existem fatores internos e fatores externos que influenciam no sucesso de uma empresa, sendo assim, tudo que foge ao nosso controle pode acabar por estimular transformações na empresa que desviem do planejamento inicial, não sendo de forma alguma uma inconsequência, desde que o planejamento seja um processo constantemente atualizado. Apesar das mudanças de entregas, o core business se mantém, amplia ou restringe, mas a expertise permanece, fortalecendo a marca”, opina.

CAMINHOS ALTERNATIVOS

Para entender se a empresa está mudando seu negócio central é preciso ficar muito atento ao mercado, acompanhando de perto seus clientes através dos dados e informações que chegam diariamente à empresa. Para tanto, é vital que os empreendedores e executivos entendam quais são os índices e métricas mais importantes para seus produtos e/ou serviços e acompanhem de perto – o que se chama de “Inteligência de Mercado”. “É necessário ir para a rua, interagir com o cliente, pois é nesse contato que se tem a noção real do que realmente importa (valida seu foco no core business). Por fim, é fundamental ler, acompanhar pesquisas de tendências e estar sempre atualizado das principais novidades do seu respectivo mercado para não perder o passo e ficar para trás”, indica o professor de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Afonso Carlos Braga.

E, apesar de poder parecer inconsistência ou falta de planejamento, a mudança do core business não deve ser encarada como falha. “Tudo está mudando e cada vez mais velozmente. Delimitar-se não deve ser confundido com limitar-se. A exemplo das startups que estão crescendo e ganhando espaço, pois desenvolvem projetos e/ou produtos pilotos, aprende-se com os erros etc. (“pivotar”), ao invés de se prender a longos processos de desenvolvimento de novos projetos. Deve-se, portanto, acelerar (com método, não aleatoriamente) e testar rapidamente em áreas controladas, corrigir e partir para escala maior após aprender com o piloto”, exemplifica Braga.

RENOVAÇÃO CONSTANTE

No mundo de hoje, as condições competitivas, regras de negócio e demandas do consumidor mudam muito rapidamente. Aos empresários, é importante sempre reavaliar seus modelos de negócio, a cada ciclo de planejamento estratégico da empresa, encarando essa revisitação da maneira mais simples possível, especialmente no início: vale a pena testar bastante os novos modelos que resultarão em mudanças no modelo de negócio para confirmar se é a direção certa, e ter coragem de decidir e fazer mudanças mais certeiras depois desses aprendizados ao longo do tempo. “Em alguns casos, pode-se justificar criar uma empresa ou ainda uma nova divisão separada para experimentar o novo modelo de negócio, sem trazer impactos ao atual. Porém, mesmo neste caso, a comunicação clara e transparente é fundamental”, diz Ricardo Rodrigues.

É recomendável também que a empresa se apoie em especialistas e consultorias para ajudá-la a entender o momento de fazer mudanças complexas e o melhor planejamento. Vale, por exemplo, a máxima de que o negócio que cresce sustentadamente com rentabilidade é aquele que de fato coloca o cliente e suas necessidades/experiência no centro, desenvolvendo seus produtos, serviços e modelagem de negócio sob esta ótica. “Em paralelo, vale repartir os recursos da empresa, alinhados e direcionados para o core business selecionado, com metas claras e desafiadoras, e sem desperdício de energia com o que não é o foco”, sugere o especialista da AGR Consultores.

O crescimento de todo negócio é um dos objetivos, potenciais, da grande parte dos empreendedores, sendo natural querer expandir produtos e serviços ofertados. Sendo assim, a opção de um core business “amplo” ou pelo menos de entendimento generalista faz com que a diversificação se torne possível e alinhada com o eixo fundamental.

A Plantar Ideias, por exemplo, possui mais de cinco canais de projetos, com potencial de ampliação desses canais que hoje não são explorados, mas que possuem alinhamento intrínseco ao core business de entrega de soluções criativas para áreas externas, campos e demandas que surgirão ao longo dos próximos anos e que exigirão mudanças constantes para atender às demandas do momento. Para a sócia da Plantar Ideias, o grande desafio é entender esta entrega de valor do negócio, alinhado com uma visão de futuro coerente, não só com as demandas atuais, mas também com soluções mais arrojadas e sustentáveis para a sociedade.

De acordo com o docente Afonso Carlos Braga, esse caminho pode ser conquistado ao tirar a “missão” e a “visão” do papel, estendendo aos colaboradores qual é o seu propósito, como ela atende e gera clientes satisfeitos e, não menos importante, para onde a empresa quer chegar. “Estratégia é essa jornada: como sair da missão e chegar à visão e, mesmo com desvios e percalços, resistir e buscar aquele objetivo maior traçado. Só se mantém firme na jornada as empresas que entendem seu core business!”, indica o professor do Instituto Mauá.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

OLHAR A MORTE NO HORIZONTE

Em O Velho e o Mar, Santiago e Manolin resumem a relação “puer-senex”, tão importante para simbolizar e compensar no idoso o fato de que há no seu horizonte o deixar de viver

Enquanto um homem diminui suas funções em relação ao que antes era capaz, outro inicia sua aprendizagem quando começa a dispor de toda vitalidade que a natureza proporciona. Esse é o tema que aprendemos por meio dos interstícios da obra O Velho e o Mar.

Ernest Hemingway, contemplado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1954, elabora nessa obra uma metáfora que descortina o palco da vida para contemplarmos a luta entre o homem e sua própria natureza.

A novela escrita em 1951, durante o período em que o autor morava em Cuba, conta a história do velho Santiago e do adolescente Manolin, seu aprendiz. Depois de 81 dias semconseguir pescar nenhum peixe, os pais de Manolin entenderam que o velho tinha má sorte afastaram o garoto desse convívio em que o idoso e o jovem pareciam unir o começo da vida com o final. O grande círculo que gira em torno de um centro, chamado sentido da vida. Os pais de adolescentes sempre acham que sabem o que é melhor para eles, por isso não os escutam. Entretanto, mesmo impedido de pescar com o amigo, o jovem nunca deixou de visitá-lo e de ajudá-lo em algumas tarefas.

Saudoso, porém com determinação, Santiago sai para pescar e logo alcança uma corrente em alto-mar. É aí que o destino o arrasta por meio de um grande peixe que fisga. Homem e peixe lutam por três dias até o velho conseguir matá-lo e amarrá-lo à lateral de sua canoa. “Tal qual Jonas, que foi engolido pela baleia e lá permaneceu durante três dias e três noites, simbolizando um profundo mergulho no inconsciente, também Santiago, com os seus diálogos consigo mesmo, traz a sabedoria resgatada do tesouro oculto sepultado no inconsciente dos homens.

Enquanto volta para a terra, os tubarões atacam para se alimentar do peixe abatido. Santiago consegue matar o primeiro, depois de uma batalha que foi um combate sem trégua. Naquele momento. ele recorre à imagem do seu ídolo, um jogador americano de beisebol. DiMaggio, tido como grande campeão de sua época. O velho imagina como seria a luta desse jovem atleta se estivesse em seu lugar naquele momento. Pensa na doença do seu herói, uma “espora de um galo de briga” no calcanhar, e questiona se ele conseguiria fazer tudo com perfeição tendo alguma limitação. Pergunta a si mesmo como quem revela que os jovens também podem carregar as suas barreiras, talvez aquelas de suas experiências de vida. Para o velho, o homem não vale muito, comparando aos grandes pássaros e animais. Ele mesmo gostaria de ser aquele peixe lá embaixo, na escuridão do mar.

A batalha de Santiago continua cada vez mais difícil para vencer o vigor dos tubarões, com o seu corpo esgotado, como descreve Hemingway: “Tudo o que nele existia era velho, com exceção dos olhos, que eram da cor do mar, alegres e indomáveis”. O velho, com as suas mãos feridas pela luta, navegava de volta à medida que apreciava seu peixe gigante tornar-se apenas esqueleto, tal qual acontece quando terminamos de viver. Agora era um velho, um barco e o esqueleto de um grande peixe amarrado em sua lateral. Como acontece aos heróis, aqueles que são capazes de encontrar a redenção onde não parece haver qualquer esperança. Para Santiago “um homem pode ser destruído, porém não derrotado”.

O velho, muito ferido em sua batalha solitária, aproxima-se até ser visto por Manolin, que passou aqueles dias com os olhos observando o horizonte, à procura do seu mestre. Finalmente o garoto pôde tratar das dores do físico e da alma do seu herói. Para Jung, o herói é aquele que desce para depois subir.

Na praia o barco com a carcaça do peixe torna-se um troféu para que olhem o velho com algum valor. São as marcas de sua luta por uma existência digna de quem sabe estar próximo do fim e busca a transcendência. Os turistas passam admirando aquele cenário, com uma enorme cabeça de peixe e um velho dormindo em sua cabana, vigiado por um menino. Santiago consegue então o respeito e admiração dos colegas.

Tomando essa história como uma metáfora da nossa existência, assistimos a luta de um idoso com a natureza que aos poucos vai causando “pequenas mortes”, diminuindo seu vigor, sua autonomia, aceitando o combate sem trégua contra um adversário implacável que tem como horizonte a “grande morte” com a consciência de que  envelhecer é viver e aceitar a cada dia, essas “pequenas mortes”. É diferente da concepção errônea de que envelhecer é morrer.

Ao Ruirmos no mar da vida, precisamos desse contato com o jovem que já experimentamos ter sido e, nessa relação, ressignificamos algumas experiências ao tomarmos o garoto como um espelho que nos ajuda a fazer contato com esse menino que ainda nos habita. Por outro lado, para o garoto, é salutar buscar fora da família, um mentor que possa ajudá-lo nessa separação da matriz familiar, a fim de que consiga sua própria individualidade. Os conhecimentos adquiridos na juventude precisam de um solo fértil para construir um sentimento sólido do eu. Podemos conseguir essa condição quando os pais estão dispostos a compartilhar suas experiências com franqueza.

Hemingway encerra sua novela com o velho sendo cuidado pelo menino. Como conviver com um corpo que, de vigoroso e jovem, torna-se vagaroso, modificado em sua aparência, abandonando a beleza da juventude e cansado, desajeitado? Para isso, precisamos encontrar o caminho da transcendência. Não podemos abandonar o barco que dá sentido à vida. Vamos poder olhar a morte no horizonte, acolhê-la como parte do viver e simbolizar o morrer para extrair alguma graça da experiência, pois qualquer experiência pode gerar alguma satisfação.

CARLOS SÃO PAULO- é médico e psicoterapeuta jungiano. É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia. carlos@ijba.com.br/ www.ijba.com.br

EU ACHO …

A NOSSA COTA DE PACIÊNCIA

Vírus novo vira assunto velho: é mecanismo de autoproteção

O coronavírus já foi precificado e seu custo cruel, em doenças e fatalidades, absorvido. Basta olhar qualquer grande publicação nos países onde ele ainda persiste ou tentar rebrotar. Só com muito esforço os jornalistas conseguem “empurrar” o assunto para as manchetes. Fora, evidentemente, a expectativa em relação à vacina, ou vacinas, o público já está em outra. Os motivos principais são dois: uma espécie de ressaca emocional com uma doença que só traz más notícias e os mecanismos de proteção psicológica acionados por grandes crises. “O homem é uma criatura que se acostuma com tudo e acho que esta é a sua melhor definição”, resumiu Dostoiévski ao retratar, de forma tão genial e tão dolorosa, a teia de relações humanas num campo de trabalhos forçados na Sibéria, onde ele próprio penou durante quatro anos.

Quando os grandes números são colocados em contexto, a praga viral também tem um impacto menos chocante. Os mortos pelo vírus em todo o mundo já embicavam para 900.000 no mesmo dia da semana em que as fatalidades por todas as causas se aproximavam de 40 milhões. Ou seja, mais de 39 milhões de pessoas morreram neste ano por motivos alheios ao novo coronavírus.

Se as vítimas fossem jovens e crianças, obviamente o horror estaria em outro patamar. Nos Estados Unidos, o campeão em números absolutos, com as vítimas na casa dos 200.000, as mortes de doentes de zero a 14 anos foram sessenta. Uma única morte de criança, tragédia que abala toda a sociedade, já seria chocante, mas os temores dos pais e outros adultos jovens são, com razão, direcionados mais a seus antecessores do que aos sucessores no grande rio da vida.

Ter vontade de sair, passear, ir a um restaurante, cortar o cabelo – ou dar uma levantadinha no visual: clínicas de Londres registraram até 40% de aumento na procura por Botox, resultado direto de horas e horas de autocontemplação em reuniões por Zoom ou Skype – é um ato de reafirmação da vida e não de desprezo pelos mortos. Acostumar-se às diversidades também.

“Eu no momento não estou comendo peixe”, escreveu uma certa Winifred Graville a uma prima nos Estados Unidos, a quem enviava cartas regulares durante a Blitz, os bombardeios alemães constantes contra Londres ao longo de oito infernais meses da II Guerra Mundial. “Tem tantos alemães mortos pegos nas redes de pesca aparecendo nas nossas praias que perdi um pouco a vontade”. A autora das cartas descobertas por um pesquisador e transformadas em livro é um exemplo do estilo queixo para cima, a teimosia em não se deixar abalar por adversidades, que se tornou em estereótipo nacional – e positivo – dos ingleses.

Seria absurdo comparar uma doença com letalidade relativamente baixa à Batalha da Inglaterra, tendo esta uma peculiaridade em comum com epidemia: os combates aéreos eram transmitidos ao vivo pela BBC. A cobertura, minuto a minuto, inclusive pelas redes sociais, da disseminação do vírus e seus efeitos deletérios criou uma epidemia paralela, a do medo. Tão intenso que virou um desafio aos governos que entendem a catástrofe da catatonia econômica. Nesse sentido, perder a paciência com tanta notícia ruim pode ser uma coisa boa.

***VILMA GRYZINSKI 

OUTROS OLHARES

A CHANCE DE NÃO PERDER O ANO

Havendo segurança sanitária e liberdade de opção para os pais, faz sentido reabrir as salas de aula no Brasil, a exemplo de outros países. Quanto mais longa a parada, maiores os danos no futuro

A pandemia não acabou, e seria irresponsabilidade acreditar que ela esteja chegando ao fim. Mas, passados nove meses deste ano diferente de todos os outros, o mundo começa a se abrir para uma vida relativamente normal, cumprindo um protocolo de segurança – máscaras, luvas, mãos lavadas, testes, distanciamento – focado nos conhecimentos adquiridos ao longo da inédita convivência com o inimigo invisível e insidioso. À medida que contágio e mortes registram recuo constante, o comercio volta a funcionar, bares e restaurantes reabrem, serviços são reativados e, nos fins de semana deste inverno ensolarado, as praias se enchem de gente. Em meio à movimentação, uma atividade crucial permanece suspensa em quase todo o Brasil: o ensino presencial nas escolas. É compreensível que pais e mães se angustiem com os riscos da saída dos filhos do restrito círculo familiar. Mas cada dia que um aluno passa sem aprender estica sua defasagem de conhecimentos lá na frente, quando estiver construindo o futuro dele e do país. Sob esse ponto de vista, com os cuidados sanitários necessários garantidos, já está na hora de as escolas brasileiras tocarem a campainha e começarem a aula.

Em março, todos os 47,9 milhões de crianças matriculadas nas redes pública e privada do Brasil deixaram de ir ao colégio e entraram em um regime de ensino on-line reconhecidamente precário – sem falar nos 12% que não têm acesso à internet. Dois estados, Amazonas e Pará, liberaram a reabertura das escolas particulares em todos os municípios e outros cinco, incluindo São Paulo, em parte deles. Nos demais, é nítida a disposição dos colégios de pôr fim aos meses de portas fechadas. Consultamos 120 escolas particulares do país, classificadas entre as melhores, de acordo com o ranking do Enem, para conhecer seus planos de retomada. Delas, 10% já estavam em atividade e, entre as demais, a maioria absoluta – 77% – disse que só aguarda a liberação das autoridades para abrir as portas. Do total, 89% consideram essencial a presença das crianças na sala de aula. O Pueri Domus, onde estudam os gêmeos Gabriel e Maria Eduarda, de 13 anos, ainda não pode reabrir, e a mãe deles, a psicóloga Ana Paula Costa, lamenta. “Não considero este um ano perdido. O ensino remoto estimulou o amadurecimento e o senso de responsabilidade dos dois. Mas, em vez de um dia inteiro de atividade, hoje o máximo que fazem é andar de bicicleta no condomínio. O convívio com os amigos tem feito muita falta”, diz.

A retomada oficial depende das autoridades estaduais e municipais. Pois o que deveria ser uma decisão técnica, levando em conta o cenário epidemiológico da região, muitas vezes descamba para a vala comum das diferenças políticas, com confrontos entre governadores e prefeitos. A proximidade das eleições municipais não ajuda – os candidatos querem distância de medidas impopulares e do risco de escolas virarem focos de contágio. Algumas associações de professores também resistem à volta, alegando questões de segurança. As divergências costumam parar nos tribunais, alimentando uma guerra de liminares. O vai-vém na Justiça propicia absurdos com o acontecido no Rio de Janeiro, onde, na primeira semana de setembro, os alunos puseram a mochila nas costas, foram à escola um dia e acabou – aulas estão suspensas até segunda ordem.

Cada colégio que reabre deixa a critério dos pais aceitar ou não a volta dos filhos, e, por enquanto, a maior parte, compreensivelmente, se mostra temerosa. Em um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Escolas Particulares com mais de 14.000 pais e responsáveis, 73% disseram preferir manter os filhos em casa, por medo da Covid-19. Já os filhos, quem diria, estão loucos para sair. A carioca Emanuele, 12 anos, aluna do Colégio Santa Terezinha, não vê a hora de voltar, mas sua mãe, Karla Ribeiro, diretora de uma ONG, é contra. “Se comigo, quando saímos, a Emanuele esquece os protocolos, toca em objetos e leva as mãos aos olhos e à boca, quem garante que isso não se repetirá no colégio? Enquanto não houver vacina ou remédio eficaz, ela vai estudar em casa, mesmo a contragosto”, afirma.

Embora esse tipo de preocupação seja recorrente, tanto a Organização Mundial da Saúde quanto o Unicef, que atende crianças, e a Unesco, que trata da cultura, recomendam que as escolas sejam reabertas até antes das demais atividades. Ainda que se tenha comprovado recentemente que sua capacidade de transmissão do vírus é igual à dos adultos, as crianças totalizam apenas 8,5% dos casos de Covid-19 no mundo. No Brasil, entre mais de 4,4 milhões de pessoas infectadas, só 8.332 têm menos de 19 anos. E, embora uma só carregue o peso de uma tragédia, as mortes foram raríssimas. “Quando as medidas sanitárias são respeitadas, o risco de contágio é infinitamente menor nas escolas do que em shoppings e bares”, afirma o infectopediatra Marcelo Otsuka. Em Fortaleza, onde a reabertura se deu no dia 8 de setembro, Michelle de Oliveira, 37 anos, sente enorme satisfação em levar Stella, 4 anos, e Beatriz, 2, para a pré-escola, de máscara e passando pelo ritual de higienização das mochilas. “No primeiro dia, chorei ao ver a felicidade das meninas por estarem naquele ambiente, gastando a energia acumulada durante a quarentena”, relata.

A chave, enquanto a vacina não vem, é manter os protocolos. Hospitais renomados como Sírio-Libanês e Einstein, em São Paulo, e a Rede D’Or, do Rio, foram contratados para dar consultoria sobre segurança sanitária a muitas das escolas ouvidas. As recomendações vão do básico – higienização constante dos ambientes e das mãos, uso de máscaras, garrafas de água individuais e distanciamento de pelo menos 1 metro entre as carteiras – até mudanças que exigem esforço da comunidade escolar, como escalonamento no horário de entrada dos alunos, diminuição das turmas e formação de “bolhas” nas quais os estudantes convivem com um número restrito de colegas. Também é preciso identificar integrantes de grupos de risco e disponibilizar testes para casos suspeitos. Havendo contágio, recomenda-se fechar por duas semanas.

Aos pais e alunos que não se sentem seguros em voltar, as escolas se dispõem a oferecer um ensino on-line de maior qualidade do que a improvisação que prevaleceu no isolamento social. No levantamento, praticamente todas – 99% -, quando reabrirem, terão um sistema híbrido, com aulas presenciais e remotas. Em média, o plano é de que as escolas acolham apenas 30% dos alunos por vez, o que pode ajudar a tranquilizar os pais reticentes. “Abrir com pouca gente ajuda a quebrar um ciclo de inércia. Serve para testar as novas regras, os novos protocolos, e incentiva os outros, que vão perdendo o medo, no processo gradual que a situação exige”, diz Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV-RJ.

Entre os modelos pedagógicos a ser utilizados no ensino híbrido, um separa os alunos em duas turmas, a presencial e a remota, com horários e conteúdos diversos, o outro alterna aulas com e sem professor – nessas últimas, o aluno tem metas a cumprir. Também se contempla, para estudantes mais velhos, a transmissão simultânea das aulas em sala para a audiência remota, que poderão inclusive interagir com colegas e professores. Entusiasta do ensino digital, o professor de física Raphael Barbosa, 35 anos, do Colégio pH, do Rio, investiu 500 reais em equipamentos e montou um miniestúdio em casa para ensinar a distância. “Sei que a física não é a matéria preferida deles e me esforcei para tornar o conteúdo aprazível e interessante. Acho que consegui”, diz.

Os novos tempos vão continuar exigindo flexibilização. A volta à escola terá, necessariamente, de passar por um encolhimento do currículo, dando prioridade às matérias essenciais para o avanço do aprendizado. Alguns conteúdos serão adiados para 2021 e acumulados com a programação normal. Cerca de 70% das instituições ouvidas informaram que aplicarão testes para avaliar possíveis defasagens de aprendizado durante o período de ensino remoto, e 87% deixarão o aluno escolher se fará a prova em casa ou no colégio. Os testes remotos, explicam, serão mais dissertativos e espera-se que os pais colaborem, para impedir pesquisas e conversas via aplicativo.

Os especialistas advertem, no entanto, que mesmo para uma geração que nasceu conectada a redução do contato com a escola a uma tela de computador pode trazer dificuldades na l1ora da readaptação. “As crianças enfrentarão o desafio de recuperar o hábito do estudo, já que passaram muito tempo com a rotina virada do avesso”, avalia o matemático americano Salman Khan, um dos mais famosos do mundo e cujas aulas virtuais são seguidas por milhões de estudantes ao redor do globo. A empresária Sania Dornelas, 42 anos, está preocupada com o rendimento escolar da filha Lorena, de 9, quando for a hora de rever a sala de aula. “Além de não assimilar novos conteúdos integralmente, ela desaprendeu alguns, como a tabuada”, diz. Moradora do Distrito Federal, onde as aulas presenciais continuam suspensas, Sania diz que nem sempre se sente capacitada para ajudar a filha nos trabalhos escolares. “A única forma de este não ser um ano perdido é a reabertura”, afirma.

Outro motivo de preocupação dos educadores, decorrente da interrupção do convívio e do isolamento, é a pequena familiaridade dos alunos com habilidades que as escolas modernas vêm se esforçando para desenvolver neles, como trabalhar em grupo, respeitar diferenças e tomar decisões. A equipe pedagógica terá também de saber lidar com manifestações de depressão e irritabilidade, potencializadas na quarentena. O caminho é gradual, mas precisa ser iniciado. A volta deverá ser feita em fases, sendo a primeira delas direcionada para uma espécie de despressurização. “O aluno precisa ser testado para saber quanto aprendeu de verdade e receber atendimento personalizado, de modo a entrar no ritmo que a quarentena comprometeu”, ressalta Claudia Costin.

O novo coronavírus provocou o fechamento de escolas em 190 países e afetou diretamente a rotina de 1,6 bilhão de estudantes, dos quais se estima que 24 milhões não voltarão aos bancos escolares. Além dos prejuízos em termos de conhecimento e dos danos à saúde das crianças confinadas, deixar de ir ao colégio também resultará em enorme impacto econômico. Um estudo da OCDE, a organização dos países mais desenvolvidos, calcula que a defasagem de aprendizado nos meses de isolamento social deve causar perdas da ordem de 1,5% do PIB mundial até o fim do século. “Devido ao atraso educacional, em um país como o Brasil pode haver diminuição de até 3% na renda que essa geração vai acumular ao longo da vida. Além de reabrir as escolas, é preciso acelerar a melhoria do ensino para reverter essa previsão”, frisa o físico alemão Andreas Schleicher, diretor da área de educação da OCDE.

Lá fora, esse processo tem sido vitorioso. Mais de trinta países já retomaram a rotina escolar com sucesso, mesmo tendo de cerrar os portões de novo, temporariamente, ao detectar casos de contaminação – na França, setenta das 3.600 escolas já passaram por isso. A China, com a facilidade da obediência a ordens de cima que o sistema ditatorial impõe, recolocou neste mês mais de 100 milhões de alunos nos bancos escolares. Alemanha, Dinamarca e Coreia do Sul também estão com os colégios funcionando normalmente. “Um fator em comum na volta. bem-sucedida é a presença de diretores capazes de envolver toda a comunidade escolar na tarefa de virar a página”, ressalta Schleicher. Enquanto o mundo avançado se mexe, o Brasil permanece empacado na faixa mais alta de dias sem escola, segundo a OCDE, deixando para trás o recorde de vinte semanas registrado durante a gripe espanhola, no início do século XX. Faz sentido prolongar isso até o ano que vem?

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 24 DE SETEMBRO

DESCANSA NO SENHOR E ESPERA NELE

Descansa no SENHOR e espera nele… (Salmos 37.7a).

Temos mais dificuldade para descansar que para agir. Temos mais dificuldade para entregar nosso caminho ao Senhor que para tomar o destino em nossas próprias mãos. O segredo de uma vida vitoriosa, porém, não está na destreza do nosso braço nem no poder do nosso dinheiro. As colunas que erigimos são torres frágeis. As fortalezas que edificamos são vulneráveis. Não é sensato gloriar-se no conhecimento, na riqueza e na força. Devemos gloriar-nos em conhecer a Deus. Ele é o refúgio verdadeiro. Dele vem o nosso socorro. Nosso trabalho é descansar nele. A vida muitas vezes é como uma viagem num mar revolto. A fúria das ondas e a agitação do mar arrancam das nossas mãos o controle do barco. Nessas horas, precisamos cessar a manobra e nos deixar levar. Foi assim que aconteceu com o apóstolo Paulo em sua viagem para Roma. Quando as circunstâncias são maiores que nossas forças, precisamos entender que ainda há solução. Nessas horas, precisamos acima de tudo descansar no Senhor e esperar nele. Precisamos aquietar-nos e saber que ele é Deus. A fé vê o invisível, toca o intangível e apropria-se do impossível. Não porque seja inconsequente, mas porque descansa na onipotência daquele que está assentado no alto e sublime trono e tem nas mãos as rédeas da história.

GESTÃO E CARREIRA

O PONTO DE VENDA DO FUTURO

Mais do que vender, as lojas precisam oferecer um diferencial competitivo para convencer o cliente a ir ao PDV, que pode ser atendimento personalizado, consultorias, entrega expressa, trocas facilitadas, entre outros

Falamos sempre que o perfil do consumidor mudou – e está mudando ainda mais. Com acesso a informações on e off­line, a quantidade de lojas, produtos e serviços que ele tem à disposição é enorme, mas seu tempo, mais restrito. Hoje, ele não precisa sair de casa para pesquisar reputação de empresas, qualidade, indicações, comparar preços etc. Então, por que se deslocar a um ponto de venda para adquirir um produto?

Para a diretora executiva elo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), Patrícia Cotti, a loja física deve ser entendida dentro de um contexto maior, que é o de oferecimento de uma solução para o consumidor. “Os canais de venda (físico, e-commerce, porta a porta) nada mais são do que pontos de contato e venda com o consumidor, devendo ser entendidos de maneira integrada, de acordo com a conveniência buscada”, diz a especialista. Na prática, por mais que haja preferência por um tipo de canal ou de outro, o consumidor vai efetuar sua compra de acordo com a conveniência momentânea.

É o conjunto de percepções que o consumidor desenvolve ao interagir com uma marca durante a fase de pesquisa, compra e pós-venda que o faz visitar a loja, tendo em mente que essas percepções compõem a imagem que o cliente adquiriu desta marca ou loja, e vão determinar, por exemplo, no caso de experiência positiva, se o cliente voltará a comprar e  se recomendará a marca aos amigos. “A transformação digital no varejo não é mais uma tendência, e sim uma necessidade do mercado. Houve uma mudança de comportamento  dos consumidores, que cada vez mais encontram no smartphone um parceiro fiel para seus  relacionamentos com marcas, produtos e serviços, o que  muda, totalmente, a regra do  jogo”, opina o COO e cofundador da Propz, empresa que oferece soluções de CRM, inteligência analítica e big data, Israel Nacaxe.

Por isso, apesar de parecer – e ser uma realidade – que o consumidor está fazendo mais compras on-line, o varejo físico pesa nas suas decisões e não será substituído pelo on-line. Dados do levantamento Panorama do Comércio Móvel realizado pelo Mobile Time em parceria com a Opinion Box no Brasil apontam que 85% dos brasileiros que possuem smartphone compram on-line. Atualmente, a população brasileira com acesso a smartphone é de 60% do total, representando 90% do potencial de compra do País.

Por outro lado, estudo realizado no primeiro semestre de 2019 pela Lett, plataforma de trade marketing digital, e pelo Opinion Box, plataforma mineira de pesquisas, mostram que 64% das pessoas preferem comprar em lojas físicas, contra 36% em lojas virtuais, quando as condições de preços e benefícios são as mesmas. Apesar do número de pessoas que preferem comprar on-line ser bem inferior àquelas que optam pelo varejo físico, 28,5% dos entrevistados sempre pesquisam os preços on-line mesmo quando estão em uma loja física e 35,2%, sempre que realizam compras em varejos físicos, buscam informações do produto na internet

O consumidor atual não quer apenas encontrar um produto que atenda às suas necessidades, ele busca também se conectar a marcas com valores e propósitos alinhados aos seus. “É na loja física que o consumidor manuseia o produto e tem contato presencial. Entendendo isso, muitas marcas que iniciaram no digital, como a Amazon, Amaro e Casper.com, já abriram as suas lojas físicas tanto para o consumidor conhecer os produtos quanto para ajudar na visibilidade e construção de marca”, diz o sócio e CEO do estúdio de design e tecnologia HUIA, Alessandro Canduro.

ALÉM DA VENDA

Em resposta, empresas de todos os portes precisam integrar processos e soluções tecnológicas para aumentar sua eficiência operacional, trazer inovações e entregar experiências de consumo realmente relevantes. O fato é que o ambiente de varejo precisa evoluir e tornar­ se muito mais do que um lugar para comprar produtos. Os clientes passaram a demandar mais conveniência, opções de escolha, acesso facilitado, simplificação dos pontos de contato e, principalmente, personalização.

O sócio da Forebrain, Billy Nascimento, acredita que a discussão precisa estar no entendimento da jornada do consumidor, em suas preferências e necessidades e no modo como construir os elementos corretos para criar maior facilidade, economia, conveniência, emoção e valor.

Na opinião do sócio e head de Tecnologias Imersivas da More Than Real, startup de realidade aumentada, Marcos Trinca, as lojas estão virando, cada vez mais, pontos de experiência. ”Existem lojas da Nike, por exemplo, que hoje não têm estoque, o consumidor vai até lá testar o produto. Acontece que na loja tem uma cesta de basquete, e o consumidor escolhe um par de tênis, coloca no pé e vai jogar basquete com os amigos dentro da loja. A partir da experiência, se ele gostar do calçado, pode comprá-lo por meio de um totem ou pelo celular e o produto será entregue na casa dele em poucos dias”, exemplifica.

Outro motivo, na opinião de Trinca, que atrai o consumidor até uma loja física é ter o produto em mãos. Apesar disso, Patrícia, do Ibevar, ressalta que é errado, por exemplo, considerar que o papel da loja física é a entrega imediata. “Nem sempre o consumidor está em busca de um produto com entrega imediata. Sair com sacolas, no meio do horário do almoço, por exemplo, pode ser um entrave. O que o consumidor quer é saber que ele vai ter o produto na hora que ele precisa usar. O imediatismo da entrega é a segurança de que aquele produto vai estar lá disponível quando ele chegar em casa à noite ou quando ele precisar usar. Se a empresa tiver um sistema eficiente de entrega (O que no atual cenário é facilitado em, muito pelos aplicativos de ”entrega de tudo”), esta ideia da entrega imediata pode ser quebrada”, pontua a especialista.

NA PRÁTICA

Para o gerente de varejo da tradicional varejista de calçados infantis Bibi Calçados, Júlio César Hannel Mattos, o digital vem crescendo, mas a experiência presencial da loja ainda é fundamental para os consumidores. ”Na loja física, o atendimento pode ser aprimorado por meio do uso de ferramentas digitais no sentido de facilitar o processo de compra e orientar os consumidores. O fator humano, o olho no olho, ainda é um diferencial que torna a experiência presencial insubstituível”, afirma.

Para tornar a experiência mais relevante, os vendedores precisam estar preparados para oferecer as informações que os consumidores buscam mesmo que a venda não ocorra. Para Mattos, essa orientação faz parte do processo de atração e conquista do cliente. “Quanto melhor a loja atender o consumidor, quanto mais ela ajudá-lo, fornecendo informações e saciando suas dúvidas, melhor será o relacionamento e a experiência. E, dessa forma, maiores serão as chances de conversão, recomendação e fidelização”, ressalta o representante da Bibi.

A rede de franquias e pelúcias personalizáveis Criamigos aposta no ponto de venda como sua chave para conversão. Para isso, as sócias Natiele Krassmann e Veronicah Sella desenvolveram um trajeto de compra das pelúcias que envolve cinco etapas: escolher o tipo de bicho (entre vacas, cachorros, zebras, unicórnios, dinossauros, entre outros), encher a pelúcia com espuma (processo do qual o cliente participa), gravar uma mensagem para colocar no brinquedo, escolher acessórios e roupas e, por fim, fazer a certidão de nascimento, na qual o cliente preenche seus dados e dá nome à pelúcia, coletando também informações para ações no futuro. “Nossa proposta é oferecer amor, então há um intenso treinamento da equipe de vendas e atendimento para passar diferenciação, olho no olho, carinho e personalização a cada atendimento, tanto para crianças como para adultos. E tem dado certo”, pontua Natiele Krassmann.

A More Than Real, que desenvolve ações diferenciadas para varejistas de realidade   aumentada, também trabalha na diferenciação para o engajamento do consumidor. “Um exemplo de ação bem bacana que fizemos foi o game de realidade aumentada (AR) “ache os ovos” para a Páscoa em parceria com o Extra. Na ação, por meio do aplicativo do Extra, os clientes percorreriam a loja para encontrar as tags do game e, com ela, experimentar a AR do coelhinho da Páscoa Extra, que dançava e poderia dar um prêmio através de um banner na tela do celular desse consumidor. Com isso, o cliente fazia um print / fotografia dessa tela, pegava o produto na gôndola e mostrava a foto no caixa, pagando o produto com o preço da promoção. Com a ação, mais de 50% das pessoas que usaram a realidade aumentada de faro realizaram a compra do produto, e isso gerou uma venda incremental de quase R$1 milhão”, exemplifica Marcos Trinca.

Para o diretor de inovação da rede Hortifruti Natural da Terra, Felipe Feldens, o que se vê no mundo inteiro é que o cliente cada vez mais deseja ter uma experiência descomplicada entre diversos canais. “Os cases de maior sucesso são exatamente aqueles nos quais a jornada do consumidor passa entre diferentes ambientes sem nenhum tipo de barreira e de maneira fluida combinando o melhor de cada um. As lojas físicas oferecem melhor experiência e atendimento humanizado, enquanto nos canais digitais temos conveniência, velocidade e praticidade. O cliente não quer um ou outro, ele quer tudo”, opina.

A rede inaugurou, recentemente, a Vila, um lugar para as pessoas terem mais contato com a terra, em um espaço multifuncional com objetivo de ser uma ocupação feita pela comunidade, onde é possível encontrar horta e escola, que além de ter aulas de jardinagem, plantio, entre outras coisas, também ensinam todo o processo de compostagem e todo o ciclo vivo para redução do lixo.

MIX DE ON E OFF

Nesse sentido, o omnichannel consolida a mudança de mindset no comportamento do consumidor, uma vez que ele já não compra exclusivamente de um único canal (como ocorria no passado com a fidelização de uma loja específica). Nos dias atuais, ele tem acesso a informações de forma na on-line e transita entre os mundos digitais e físicos no simples toque no celular.

Dessa forma, pode optar por consumir produtos onde eleger a melhor experiência naquele determinado momento e compra de acordo com a sua necessidade instantânea. “Há diversas lojas que já integram tecnologias para interagir com os clientes, como beacons (um gps que localiza com precisão por qual corredor um cliente passa em uma loja de   departamento), realidade aumentada, robótica, self check-out, carteira digital, entre outras. Claro que tudo isso faz parte do que este consumidor moderno espera receber nas suas idas às lojas, porém o atendimento passa a ser o principal diferencial no ponto de venda e não poderá ser substituído nunca. A loja física tem o papel de criar experimentação visual, algo que a internet não consegue transmitir”, reforça o fundador e CEO da Umclube, Thiago Monsores, retail tech que atua na fidelização de clientes e caminha para ser o superapp dos shopping centers.

O varejo do futuro deve usar a tecnologia a seu favor: em virtude da dificuldade logística do País, passa a servir também como um ponto de entrega e coleta dos produtos, facilitando projetos como “Clique e Retire” e “entrega expressa”, com o intuito de minimizar a espera do consumidor pelo produto – um atrito que pode ser contornado com a utilização da tecnologia e integração.

TENDÊNCIAS PARA O FUTURO DA LOJA FÍSICA

•   Mudança no perfil do consumidor.

•   Uso de dispositivos móveis.

•   Integração da loja física e on-line.

•   Colaboração na cadeia de abastecimento.

•   Tecnologias como realidade virtual, inteligência artificial e internet das coisas.

•   Experiência imersiva.

•   Personalização. AR/VR.

•   Reconhecimento facial.

•   Captação e análise de dados do consumidor em tempo real.

•   Oferecimento de cestas únicas.

•   Digital Visual Merchadising.

•   Logistic Store, Omnichannel e New Retail.

•   Delivery de tudo.

•   Compartilhamento e economia compartilhada.

•   Guideshops, Lockers e formatos alternativos de entrega.

4 PASSOS DE UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA

Consumimos experiências de forma passiva e ativa, absorvendo-as ou imergindo nelas. Pensar, portanto, em:

1.  ENTRETENIMENTO: criar um ambiente de experiência. pensando em um consumo passivo de absorção, ou conteúdos on-line.

2.  EDUCAÇÃO: pensar em um consumo ativo de absorção ou informação.

3. ESTÉTICA: pensar em um consumo passivo imersivo para criar efeito WOW.

4. ESCAPISTA: ativar um consumo ativo imersivo, que favoreça a interação dos produtos ali oferecidos.

FONTE: FOREBRAIN.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PRESCRIÇÃO: BRINCAR

A aprovação de um videogame para o tratamento de crianças com déficit de atenção abre caminho para o uso da realidade virtual no tratamento de distúrbios mentais

Em decisão inédita, a FDA, a agência dos Estados Unidos que regula os remédios, aprovou um jogo de videogame para o tratamento médico de crianças. Desenvolvida pela empresa de medicina digital americana Akili Interactive Labs com o nome comercial de Endeavor Rx, a diversão é recomendada para o controle de um transtorno psíquico infantil, o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O distúrbio é diagnosticado em torno dos 7 e 8 anos de idade e, por uma razão ainda desconhecida, acomete sobretudo os meninos. A prevalência global é de 5%. Os sintomas são desatenção, impulsividade e hiperatividade. A vida escolar é afetada. Quem sofre do problema e não é acompanhado tem notas baixas e é tachado de preguiçoso, malcriado e aéreo injustamente.

O pulo do gato do videogame é conseguir prendera atenção da criança e exigir que ela monitore duas tarefas simultaneamente, melhorando a capacidade de atenção. “Esse produto mostra o impacto que a tecnologia pode ter no funcionamento cerebral, sobretudo na infância”, diz o psiquiatra Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da infância e adolescência da Universidade de São Paulo.

Na brincadeira, o usuário conduz uma nave voadora por um percurso cheio de obstáculos, em que precisa evitar riscos como fogueiras ou minas subaquáticas. Ao mesmo tempo, coleciona alvos ao longo do caminho. O game tem ainda algoritmos que podem se adaptar em tempo real para ajustar o nível de dificuldade, dependendo de quem está no comando, e assim personalizar o tratamento. A região do cérebro estimulada pelo enredo é o córtex pré-frontal, área com maior impacto no TDAH. É por meio dela que se desenvolvem a concentração, o controle de impulsos, o planejamento, a tomada de decisão e a conscientização. Diz o psiquiatra Luiz Rohde, professor de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do programa de déficit de atenção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre: “É promissor, mas ainda é cedo para ser definido como um recurso terapêutico definitivo”.

O tratamento do TDAH é feito tradicionalmente com anfetaminas, como a Ritalina e o Adderall. Elas acalmam e são celebradas por isso. Trata-se, contudo, de substâncias viciantes que, em excesso, podem desencadear problemas respiratórios, taquicardia, depressão e ansiedade. Os games também têm efeitos colaterais, que incluem dor de cabeça e sensação forte de frustração, mas são claramente mais leves. Nos Estados Unidos, é preciso receita médica para baixar o jogo. No Brasil, ele ainda não foi aprovado pelas autoridades de saúde.

No passado recente, jogos eletrônicos têm sido usados em crianças com outros tipos de problemas psíquicos, em especial o autismo, e com bons resultados. A realidade virtual treina o contato olho no olho e estimula a interação social. Mas é a primeira vez que o uso tem um aval oficial.

EU ACHO …

ELAS LUCRAM COM SUA ATENÇÃO

Um documentário da Netflix expõe por que as redes sociais viciam

Ao acordar, qual é a primeira coisa que você faz? Se a resposta for “pegar o celular”, seja para olhar e-mails e o WhatsApp, seja para zapear no Instagram e no Facebook, então o documentário O Dilema das Redes, recém-lançado na Netflix, é para você. Se, ao longo do dia, a cada minutinho que sua mente viaja, seu gesto inconsciente é checar as atualizações, curtir fotos e interagir com amigos virtuais, então esse filme é para você. Se você tem firmes ideais políticos, de direita ou de esquerda, e tem certeza de que está do lado certo na polarização em que vivemos, então esse filme é definitivamente para você.

A partir de entrevistas com profissionais do Vale do Silício que criaram diversas ferramentas que usamos hoje, o longa apresenta um panorama sobre o funcionamento das redes sociais e como somos levados a depender delas. A costura com o drama ficcional de uma família, para “exemplificar” o problema, é desnecessária e às vezes atrapalha, mas o assunto é tão pertinente que o deslize é perdoado. Afinal, não é sempre que vemos ex-funcionários do Facebook, Twitter, Pinterest e Instagram explicando uma tecnologia persuasiva, que enreda o usuário e determina ações, pensamentos e comportamentos. O objetivo é sempre o mesmo: extrair sua atenção pelo máximo de tempo e lucrar com ela. Não somos os clientes, somos o produto. Quanto você vale?

Tristan Harris, presidente da Center for Humane Technology, trabalhou por anos no Google. Lá, ele e sua equipe se esforçavam para deixar a caixa de entrada do Gmail o mais “viciante” possível – cores atraentes, notificações chamativas. Sabe a sensação gostosa quando alguém curte ou comenta seu post? É a dopamina no seu corpo como recompensa. Sabe quando você concorda com as “pessoas certas” da sua rede? É a seleção cuidadosa feita pela inteligência artificial do que você deve ver na tela para seguir conectado. Sua chupeta digital para acalmá-lo.

Em certo ponto, Harris conta que sempre foi apaixonado por mágicas. Segundo ele, o trabalho do ilusionista é acessar uma parte da mente das pessoas da qual elas mesmas não têm noção. Logo me lembrei de outro especial da Netflix, ThePush. Nele, o ilusionista Derren Brown cria situações de lógica da obediência e da conformidade social para pressionar um desconhecido a cometer um assassinato. O poder da informação -, é enorme, e as consequências podem ser devastadoras.

Atual, O Dilema das Redes comenta como o rumo de eleições foi manipulado em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, e como as fake news ameaçam democracias. Nesse sentido, a pandemia surge como metáfora potente da desinformação – vide a série de remédios e soluções miraculosas espalhadas virtualmente e a negação da existência do coronavírus.

Diante do cenário catastrófico, fica a pergunta: o que podemos fazer? Ter consciência é um primeiro passo. Mas não é o bastante. Se possível, diminua o uso das redes. Se conseguir, saia delas. Desinstale aplicativos que só tomam seu tempo. Desative notificações. Antes de compartilhar notícias, cheque informações. E, bem, assista ao documentário. Garanto que a relação com seu celular nunca mais será a mesma.

***RAPHAEL MONTES

OUTROS OLHARES

CRISE? QUE CRISE?

Pouca rentabilidade das aplicações de renda fixa e adoção definitiva do home office provocam um boom sem precedente no mercado imobiliário de alto padrão

O mercado brasileiro de imóveis de luxo tem algumas características peculiares. Ele independe do crescimento do país e, de tempos em tempos, apresenta forte expansão mesmo se os indicadores econômicos estiverem no caminho oposto. É isso o que se vê agora. Há alguns dias, a Coelho da Fonseca, uma das principais imobiliárias desse segmento, vendeu um apartamento de 900 metros quadrados no bairro dos Jardins, em São Paulo, por 31,5 milhões de reais. Por mais que o valor seja assombroso para a maioria esmagadora dos brasileiros, negócios desse tipo não são exatamente uma raridade, pelo menos em 2020. “O mercado está superaquecido”, diz a private broker (termo em inglês para designar os profissionais qualificados para vender ao público vip) Renata Firpo, uma das principais especialistas do mercado de imóveis de alto padrão do país. “Praticamente toda semana vendemos residências de valor elevado.”

A executiva relata que há vendedores negando ofertas antes vistas como irrecusáveis. “O proprietário de uma casa de 15 milhões não está tão interessado em negociá-la, porque considera que depois não terá onde investir a quantia”, afirma a especialista. Essa é uma das explicações que justificam a intensa procura por imóveis de altíssimo padrão. Com a taxa Selic nos níveis mais baixos da história, aplicações tradicionais de renda fixa deixaram de ser atrativas. Na renda variável, o risco é elevado, especialmente em um cenário de pandemia e com incertezas sobre a capacidade de recuperação da economia no futuro próximo. Sem ter para onde correr, os muito ricos compram, portanto, imóveis. As fronteiras fechadas, que bloquearam viagens e dificultaram investimentos no exterior, também estimularam o segmento. Um terceiro fator é o avanço irrefreável do home office. Com a perspectiva de trabalhar em casa, profissionais bem-sucedidos – aqueles obviamente que ganham mais – resolveram investir em moradias. Junte tudo isso e o resultado é um mercado em ascensão como poucas vezes se viu no Brasil.

O home office desencadeou outro fenômeno: a busca por casas de campo ou até mesmo no litoral. Segundo a imobiliária Lopes, também com forte presença no segmento de luxo, a procura por imóveis desse tipo acelerou 63% durante a pandemia. Recentemente, a empresa fechou a sua maior venda durante a crise de coronavírus, uma mansão de 14 milhões de reais localizada na paradisíaca Jericoacoara, no Ceará. Corretores relatam que, na região de Campinas, Valinhos e Indaiatuba, cidades próximas de São Paulo, é quase impossível encontrar casas disponíveis em condomínios de luxo. “O coronavírus despertou a necessidade de conforto”, diz Matheus de Souza Fabrício, diretor executivo da Rede Lopes. “Essa tendência se intensificou ainda mais no alto padrão”, reforça Basílio Jafet, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais e Residenciais de São Paulo (Secovi). “É o executivo, ou empresário, que mal parava em casa e hoje descobriu que pode curtir o espaço doméstico e ainda trabalhar ali.”

Dados consolidados mostram que a tendência das moradias maiores começou em 2019, quando foram negociadas 3.300 unidades acima de 1,5 milhão de reais na cidade de São Paulo, muito acima das 2.200 do ano anterior. Em 2020, o mercado como um todo cresceu. Segundo a Secovi-SP, em julho foram vendidas na capital paulista 4.300 unidades residenciais novas, resultado 45,5% acima do mês anterior. No Brasil, de acordo com informações da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), os contratos fechados avançaram 10,5% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2019. A alta expressiva da demanda resulta na valorização dos imóveis. A depender da região do país, os preços subiram entre 5% e 10%. Não à toa, empresas como Coelho da Fonseca e Lopes esperam por balanços positivos no terceiro trimestre. O luxo é chique, desde que tratado com modéstia e respeito, mas, acima de tudo, pode ser extremamente rentável.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 23 DE SETEMBRO

ANDANDO EM BOA COMPANHIA

Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre (Salmos 23.6).

Eu estava de férias em Fortaleza quando uma cigana se aproximou com a intenção de ler a minha mão e decifrar o meu futuro. Olhei nos seus olhos e disse: “O meu destino já está traçado e a minha sorte já está definida”. Então, citei para ela o Salmo acima. Na jornada da vida, temos duas companheiras inseparáveis: bondade e misericórdia. Bondade é o que Deus nos dá, apesar de não merecermos; misericórdia é o que Deus não nos dá, apesar de merecermos. Não merecemos a salvação, e de Deus a recebemos graciosamente; isso é bondade. Merecemos o castigo dos nossos pecados, mas Deus o suspende e nos perdoa; isso é misericórdia. Em todo tempo, em todo lugar e em toda circunstância jamais estaremos sozinhos. O Senhor caminha conosco pelos vales escuros da sombra da morte. Ele supre as nossas necessidades, pois é o nosso provedor e a nossa provisão. Entre as provisões benditas que ele nos deu, estão a bondade e a misericórdia, que nos acompanharão todos os dias da nossa vida. E, quando a jornada terminar, habitaremos na Casa do Senhor para todo o sempre. Quando as cortinas da terra se fecharem no palco da nossa vida, encerrando aqui nossa jornada, a porta do céu se abrirá para nos dar boas-vindas à Casa do Pai.

GESTÃO E CARREIRA

ARRUME SUA CAMA!

”Pare tudo e inicie o dia vencendo um desafio simples. Pequenas tarefas não feitas viram pendências. Pendências viram lixo cerebral, ocupam espaço, tomam a atenção e incomodam”

Tive a oportunidade de assistir a uma palestra de Rodrigo Pimentel. Brasileiro, carioca, conhecido como Capitão Pimentel devido à sua carreira militar, mas especialmente conhecido por ser o autor dos filmes Tropa de Elite 1 e 2. Filmes estes que dividem opiniões por se disporem a mostrar abertamente como é o treinamento e a rotina de um policial de elite. Fiquei intrigada no quanto o universo de segurança, de salvar vidas, de evitar riscos, de enfrentar perigos tem total correlação com o mundo dos negócios e por incrível que pareça: com criatividade.

Esta palestra especificamente tinha como tema “Construindo Tropas de Elite” e aconteceu em uma Semana de Segurança de uma grande indústria de celulose e papel, na qual realizo um trabalho de desenvolvimento de performance de resultados com os membros da área de segurança. O palestrante constrói a lógica da relação entre liderança e times de elite e traz a reflexão de atitudes e estratégias baseada no que viveu nos seus anos à frente do BOPE e envolvido em diversas operações policiais.

O insight que virou este artigo veio quando Pimentel deu uma dica, para a qual posso até usar – primariamente – o adjetivo boba. Sim, uma dica boba de como fazer o seu dia ser mais produtivo e você ter desempenho de elite. Ele sugere que após cumprir esta tarefa. todas as outras que vêm pela frente podem ser realizadas com mais performance: Arrumar sua cama. Simples assim. Não passe para a tarefa seguinte sem antes arrumar a cama. Não saia, não vá para o trânsito. Pare tudo e inicie o dia vencendo um desafio simples. Pequenas tarefas não feitas viram pendências. Pendências viram lixo cerebral, ocupam espaço, tomam a atenção e incomodam. E quando você não quer fazer esta tal pendência? Aí é que ela rouba energia criativa mesmo.

Preciso confessar que naquele milésimo de segundo minha memória me mostrou exatamente como eu havia deixado a cama, antes de ir para aquele trabalho. Vixe, totalmente revirada… lençóis sem dobrar, do jeito que eu acordei, ela ficou. A memória era tão nítida que eu fiquei até enrubescida. Gente, quanta performance eu já perdi? – boa parte das vezes, na correria, eu não arrumo a minha cama antes de sair.

Arrumar a cama tem a ver com parar, estar presente. Arrumar a cama é provavelmente a tarefa mais simples que você terá no dia. Se você vencer a si. com disciplina e arrumar a sua cama, está focado. E cérebro oxigenado faz sinapses mais facilmente, resolve, encontra meios, vê não obviedades mais rapidamente Cérebro oxigenado é criativo.

Em seu livro A Essencial Arte de Parar, Dr. David Kundtz diz que a razão pela qual tantos dos nossos projetos bem-intencionados fracassam não é falta de boa vontade nem falta de força de vontade, muito menos fraqueza moral ou falha de caráter. Isso acontece porque iniciamos esses projetos partindo de uma posição muito atarefada e distraída.

Assim como procedimentos de segurança são inegociáveis, estar emocionalmente bem para criar soluções e ter ideias nos negócios é também inegociável. Então vamos para o mês que vem? Criativos, solucionadores e dispostos? Vá e vença. Vá, vença, volte vitorioso e vivo. Ah, e arrume sua cama. ok?

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

NA SALA DE AULA

Problemas de aprendizagem são mais comuns em garotos; mais que diferenças cognitivas, refletem projeções sociais

Nos últimos anos, alguns psicólogos e educadores têm chamado a atenção para o baixo rendimento escolar dos meninos em relação às meninas. Dados mostram que na Austrália, em 2001, 80% das meninas que iniciavam os estudos os concluíam; entre os meninos, esse número caía para 68%. Já nos Estados Unidos, 56% dos alunos que chegam ao fim do ensino superior são mulheres. Cerca de 30% a mais dos garotos estão propensos a repetir ou deixar a escola, segundo o Centro Nacional para Estatísticas Educacionais dos EUA.

Para diminuir as discrepâncias, especialistas, principalmente americanos, sugeriram a ampliação de escolas não mistas (para que os alunos não se sintam inferiorizados em relação às colegas) e o ingresso na escola cerca de um ano após as garotas. Embora seja precipitado afirmar a relação direta entre gênero e capacidade intelectual, essa proposta tem como base teorias sobre imaturidade psicoemocional e cognitiva dos meninos (inclusive do ponto de vista cerebral), segundo as quais eles precisariam de mais tempo para amadurecer e controlar a impulsividade antes de poder usufruir da convivência em pé de igualdade com elas.

Levantamentos estatísticos brasileiros também apontam aumento do rendimento escolar das alunas em relação aos alunos nos últimos anos. Segundo a doutora em educação Cláudia Vianna, da Universidade de São Paulo, e a socióloga Sandra Unbehaum, da Fundação Carlos Chagas, nas últimas quatro décadas as mulheres brasileiras passaram a ter mais tempo de estudo que os homens, e isso merece devida atenção.

Em que pese a importância decisiva da emancipação feminina, em curso na maioria das sociedades modernas, é preciso cuidado para não incorrerem erros passados: transformar os meninos de hoje nas meninas de ontem, considerando-os inferiores às mulheres do ponto de vista cognitivo.

Há na história da humanidade muitos enganos que nos levam a questionar a validade de algumas afirmações. Comprovações científicas se revelaram verdadeiros desastres do ponto de vista humano e social. Entre elas, as afirmações da inferioridade da raça judaica por parte de cientistas ale mães, durante a Segunda Guerra Mundial, ou a incapacidade intelectual de negros, por parte de pesquisadores americanos – afirmações que condenaram povos inteiros à discriminação e à morte. Nos dois casos, há visível dificuldade de convivência com o diferente, permeada por preconceitos e intolerâncias.

DIFERENÇAS SUSPEITAS

No caso do desempenho escolar há, contudo, um fato verificado: o baixo rendimento escolar dos meninos é uma realidade que chama a atenção de pais e profissionais. Essa situação seria mesmo sinônimo de imaturidade e inferioridade intelectual? Se assim o fosse, tais insuficiências não estariam presentes também em outras esferas da vida, além da escola? E as soluções não deveriam ser transpostas para a sociedade em geral? Caso isso se confirmasse, os homens começariam a trabalhar mais tarde e em ambientes diferentes dos das mulheres.

A questão, no entanto, é bem mais complexa. O desafio aqui é entender a transposição feita entre uma constatação quantitativa (o número de fracassos escolares masculinos) e uma afirmação qualitativa (a superioridade do desempenho feminino).

Entre os estudos brasileiros sobre o desempenho escolar de meninos há o levantamento etnográfico feito em 2006 pela pedagoga Rosemeire dos Santos Brito, mestre em educação pela Universidade de São Paulo. A pesquisa, realizada com alunos paulistas da segunda série do ensino fundamental, baseia-se na constatação de que o rendimento escolar das garotas é superior ao dos meninos. A autora, entretanto, refuta trabalhos que dizem ser mais fácil educar meninas, mais dóceis, passivas e obedientes que os meninos.

Segundo ela, docentes se incomodam menos com os alunos indisciplinados (independentemente do sexo) do que com os mais dependentes. Um estudante indisciplinado, mas com bom aproveitamento escolar, seria autônomo, participativo e crítico e mais bem considerado por eles que aquele que vai mal, não tem concentração e é igualmente agitado. A autonomia valorizada pelo professor extrapola a sua área de atuação profissional, pois o aluno de certo modo é considerado por ele um autodidata, que “já vem sabendo de casa” ou “aprende apesar da escola”. O bom aluno, crítico e autônomo, é respaldado pela família e tem sua bagagem cultural valorizada pela escola.

FORÇA FÍSICA

Pesquisas australianas citadas por Brito apontam dois modelos de masculinidade na escola. Um vinculado às classes trabalhadoras: a forma de afirmar a identidade de gênero entre os meninos se daria pelas atividades físicas e agressivas, mais que pelas intelectuais. Nesse grupo haveria maior índice de alunos com baixo rendimento escolar; a inferioridade no aproveitamento seria compensada pela força física. O outro modelo se aplica a famílias mais intelectualizadas, em que o homem é bem-sucedido e a competitividade se dá no campo do conhecimento – cânone mais compatível com a rotina escolar.

Voltamos então à questão sociológica do capital cultural diferenciado. Permanece a pergunta sobre sua interferência na formação dos diversos referenciais de masculinidade e feminilidade e sua relação com o rendimento escolar. Há distintos modelos conferidos por nossa sociedade; resta investigar quais são e como têm sido abordados nas escolas.

Assim como há um padrão ideal feminino para a relação ensino/aprendizagem, também o há para os meninos. Seria saudável que os garotos pudessem aderir à instituição de ensino, sem se tornar submissos a ela – mas qualquer exagero em uma ou outra ponta dessa balança deriva para a imagem do aluno agressivo ou desleixado.

Aos olhos dos professores, as ações dos alunos são avaliadas de formas distintas, conforme o gênero sexual. A apatia, no caso nas meninas, costuma ser interpretada como excesso de submissão; para os meninos, é tomada por descompromisso e desleixo com os estudos. Vários são os exemplos que evidenciam como os educadores concebem a masculinidade e a feminilidade. Todo professor cria os próprios modelos de bom e mau aluno: caderno limpo e caprichado é coisa de menina e de bom aluno; já material desorganizado e sujo é de menino.

A disciplina está sempre sob o jugo do corpo docente. Do ponto de vista subjetivo, a avaliação se dá com base nos repertórios pessoais de cada professor, que só parcialmente tem consciência dessa trama imaginária de valores, segundo a qual as crianças têm de buscar um ponto que garanta equilíbrio e bom rendimento. Pesquisas americanas, mencionadas pela pedagoga Marília Pinto de Carvalho, da Faculdade de Educação da USP, indicam que o comportamento de um menino só será avaliado da mesma forma que o de uma menina se o professor for objetivo. A questão é que a subjetividade e o imaginário social entram sempre em cena, e os garotos acabam recebendo avaliações mais negativas que as garotas para os mesmos gestos e atitudes. A avaliação do aluno responde então às relações sociais e de gênero.

A educação se dá, portanto, dentro de um contexto mais amplo que o da aquisição de conteúdos, pois comporta as relações subjetivas em jogo entre educadores e educandos. Além disso, há a questão da sexualidade das crianças. E também a dos adultos/professores.

Do ponto de vista psicanalítico, as angústias humanas orbitam a sexualidade. O aspecto sexual não é um dado natural, associado necessariamente ao substrato biológico – é fruto de um engendramento psíquico que tem início desde o nascimento do bebê. Subjaz um complexo processo subjetivo em que os dois sexos se organizam em torno de um mesmo centro: a questão fálica. Para o psiquismo, a diferença sexual reside no modo de posicionar-se diante desse tema.

O ser humano exerce a sexualidade de formas variadas e não predeterminadas, pois os objetos de interesse são infinitos. O próprio corpo do bebê é alvo de libidinização materna. Par a que se torne um sujeito, pleno de desejos, o recém-nascido precisa ser amado, olhado, decifrado, falado, contornado por imagens e símbolos caros à mãe (ou por quem ocupa essa função). Desse modo, a criança, objeto passivo das investidas maternas, é aos poucos colocada na posição que Freud denominou bissexual (que nada tem a ver com orientação sexual adulta), na qual alterna passividade (relacionada ao sexo feminino) com atividade (típica do sexo masculino).

O desfecho dessa ambiguidade se dá na confrontação com a questão edípica, por volta dos 3 ou 4 anos. O falo é a instância psíquica que mais sofre investimentos imaginários e simbólicos. Representação construída em torno da anatomia masculina – embora não seja o pênis em si -, o falo é o organizador da sexualidade. Após explorar os objetos com a boca e descobrir que pode sentar, andar, manipular objetos com as mãos, a criança passa a se interessar pelo seu órgão genital e também a tocá-lo.

RENÚNCIA AO NARCISISMO

O primeiro “lugar” de conhecimento, portanto, é o próprio corpo. É a partir dele que os conteúdos e objetos do mundo serão buscados e incorporados. Mas para isso é preciso renunciar ao narcisismo o que se dará com a castração, ao final do complexo de Édipo. Embora meninos e meninas lidem de formas diferentes com a descoberta da diferença anatômica sexual, inclusive com processos de identificação diversos, para ambos os gêneros todo objeto de conhecimento torna-se sexual, pois virá no lugar da sexualidade infantil renunciada (cujos objetos, por volta dos 3 ou 4 anos, eram pai e mãe). Assim, as maneiras de conhecer são subjetivas, e o sujeito aprendiz é sempre um ser desejante.

A escola transmite valores e ideais e serve de espelho da sociedade em que se insere, mostrando sob qual código ético se tecem as relações inter e intra – subjetivas. Ela também representa a cultura no espaço e no tempo físico em que a criança permanece fora de seu lugar primordial – a família, agente primeiro na incorporação das dinâmicas socioculturais e proporciona a passagem do indivíduo para o grupo. Para isso é fundamental que cada membro da escola encontre espaço para expressar sua individualidade: professores e alunos ensinam e aprendem, mas cada um de forma totalmente única. A subjetividade não é mera coadjuvante no processo de aquisição e transmissão de conhecimento; a sexualidade, conforme concebida pela psicanálise, permeia o tempo todo as relações de ensino e aprendizagem, bem como as forças de identificação entre os agentes envolvidos.

Mas, afinal, como essa sexualidade inerente aos humanos e particular a cada um se relaciona ao atual rebaixamento do rendimento escolar dos meninos?

Primeiro, parece estranho afirmar qualquer prejuízo intelectual com base na avaliação por gênero, seja de homens ou de mulheres, já que os primeiros foram os responsáveis por quase toda produção intelectual que trouxe a humanidade até os séculos XVIII e XIX – a partir de quando as mulheres passaram a contribuir significativamente nesse processo. Segundo, embora haja de fato mais meninos com baixo rendimento escolar do que meninas, outros tantos têm bom desempenho. Não se trata de uma questão de capacidade intelectual e cognitiva, portanto. Terceiro, quando o professor é levado a deixar de lado os critérios objetivos (nas avaliações subjetivas ou pessoais), os garotos saem prejudicados. Isso indica que algo se coloca nessa construção imaginária da figura do aluno, algo que diz respeito à posição do gênero masculino na sociedade de hoje. Quarto, professores têm dificuldade de lidar com a sexualidade de crianças e jovens, indicando que algo importante na relação docente/discente se perde.

A questão, parece estar mais no lugar social que nos gêneros que a sexualidade ocupa (especialmente a masculina). Convém investigar como o aspecto cultural contribui para a formação das diversas subjetividades.

A sexualidade se interpõe nas relações humanas, ora como mote de disputa, ora em processos de conciliação. Se as mulheres vêm se modificando ao longo dos séculos em busca de novos espaços de atuação, em decorrência também os homens se viram obrigados a mudanças, porém a redefinição dos papéis sociais ainda não parece clara. O que se pode levantar como hipótese nessas transformações são as novas formas de identificação e sexualidade postas no âmbito social.

 Vale relembrar que, para a psicanálise, as formas de identificação seguem duas vertentes, uma imaginária e outra simbólica. Pensemos essas identificações na escola: no campo do imaginário, se o professor se coloca como modelo de identificação ideal, o fará de modo autoritário e narcísico, restando à criança ou adolescente adequar-se a ele sem possibilidade de exercer a própria subjetividade. Diferente disso é a identificação regida pela lei simbólica, que serve igualmente ao professor e ao aluno – de qualquer gênero – e regula as relações do ponto de vista ético. Nesse segundo caso é o lugar de autoridade que serve como modelo de identificação e não o professor autoritário que o ocupa. Portanto, o educador ético é aquele que se presta a ser modelo sem realmente sê-lo: ele estará disponível, mas não exigirá do aluno uma única forma de posicionar-se, igual à sua, mas apontará caminhos possíveis. Essa diferença sutil permitirá à criança ocupar o próprio espaço com relação ao conhecimento, tendo respeitado o seu ritmo de aprendizagem e amadurecimento. O professor não pode ser o representante absoluto da verdade do aluno – seja ele menino ou menina.

PADRÃO DE MULHER

Para a pesquisadora Marília Pinto de Carvalho, da Faculdade de Educação da USP, vários fatores interferem no baixo rendimento escolar dos meninos. Entre eles, as relações que as crianças estabelecem entre si e com a cultura e como lidam com a diferença de gênero; as expectativas das famílias; e o fato de haver muito mais docentes do sexo feminino que do masculino nas salas de aula, principalmente nas primeiras séries. Segundo levantamento da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), de 2002, 94% dos professores brasileiros da primeira à sexta série são mulheres.

No estudo “Mau aluno, boa aluna? Como as professoras avaliam meninos e meninas”, Carvalho investiga como os alunos são avaliados e como as educadoras vêm as diferenças de gênero e lidam com elas. A pesquisa qualitativa foi desenvolvida com professoras da quarta série do ensino fundamental.

Normalmente, as diferenças de atitude entre meninos e meninas são de imediato associadas ao rendimento escolar, mas há certa neutralidade no discurso docente quando se confronta diferença social com aproveitamento nos estudos. Na avaliação geral das professoras, o bom aluno (ou aluna) é aquele curioso, que demonstra iniciativa – constatação feita também pela pedagoga Rosemeire dos Santos Brito, que contradiz a suposição de que as meninas têm tido melhor desempenho que os meninos porque são mais dóceis e tranquilas. A obediência às normas, a docilidade e a submissão causam desconforto entre as docentes.

Para as pesquisadoras, quando uma menina demonstra esses comportamentos, configura-se o modelo da “feminilidade silenciosa”, – típica da aluna que enfeita o caderno com desenhos feitos com canetinhas coloridas -, que diverge do ideal feminino evocado pelas docentes. Carvalho aborda a queda de rendimento escolar das boas alunas e conclui que as professoras a associam ao despertar da “feminilidade sedutora” (quando as garotas passam a pensar mais em paquera, maquiagem e roupas que nos estudos). Para as educadoras ouvidas, sensualidade e sedução são termos de caráter pejorativo. Essas associações vão ao encontro do trabalho da etnógrafa americana Barrie Thorne, professora de sociologia e de estudos da mulher da Universidade da Califórnia, para quem o docente teria dificuldade em lidar com a sexualidade infantil e seus diferentes ritmos de desenvolvimento.

Mas há um padrão de feminilidade valorizado pelas professoras: nas palavras de Brito, é aquele que “rejeita a afirmação exacerbada das diferenças de gênero e propõe um padrão de mulher mais independente que submissa e mais assertiva que sensual”. O problema é que as alunas nem sempre estão de acordo com ele.

NO BRASIL

O PNE (Plano Nacional de Educação) de 2002 ressalta que a distribuição de matrículas quanto ao gênero, no início do ciclo escolar ensino fundamental 1 (EFI), é equilibrada em todo o território nacional, sendo 49,5% de meninas e 50,5% de meninos. Esses números sofrem alterações importantes ao longo dos anos de escolarização. Levantamentos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) de 2003 revelam que 47,7% das matrículas no EFI são de meninas e 52,3% de meninos. Essa proporção sofre inversão já no ensino fundamental II, com 50,4 % de meninas, contra 49,6% de meninos, e ao final do ensino médio, 54,1% dos alunos que concluem o curso são do sexo feminino, enquanto 45,9% são do sexo masculino.

Outros dados que chamam a atenção são os relativos ao analfabetismo entre os jovens. Em 2000, os analfabetos funcionais de 15 a 24 anos somavam 18,5% de rapazes mais 12,8% de moças. Segundo Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), de 1999, os absolutos encontravam-se na faixa de 5% para jovens do sexo masculino de 15 a 19 anos contra 2,5% para o sexo feminino da mesma faixa etária.

EU ACHO …

O TERROR DO ENSINO ESCOLAR

A volta às aulas não é simples: implica em reflexão e planejamento

Um garoto de 13 anos que conheço acorda todos os dias às 6 da manhã. Às 7 começam suas aulas digitais, de um dos melhores estabelecimentos de ensino particular de São Paulo. Duram seis horas seguidas. Dá para imaginar maior terror? Recentemente, eu tive uma reunião por Zoom que demorou uma hora e meia. Terminei exausto. Imagine os estudantes, grudados horas e horas numa tela, assistindo às performances de professores, muitos dos quais não têm o menor talento para digital influencers. Quando estudante – podem me criticar – cheguei a dormir em aulas de mestres tediosos. Se fosse hoje, eu desmaiava! Por saber da atual dificuldade do ensino a distância (quando isso não foi uma opção), a escola lota o aluno de trabalhos. Depois das seis horas on-line, ele passa mais seis fazendo exercícios, redações, respondendo a questões. Notem bem, esse é o retrato de um aluno privilegiado. Muitas escolas não têm como ensinar a distância, inclusive porque os alunos não possuem meios de acesso digitais. Há tentativas de solução, como atividades via televisão, ou fornecimento de material impresso. Obviamente, os estudantes mais pobres sofrem duplamente, porque nem a opção de aulas incrivelmente chatas eles têm.

A escola deve ser também um local de interação com outros alunos e professores. O relacionamento pessoal não pode ser substituído. Em outros países, onde já voltaram as aulas presenciais, o distanciamento social continua a ser mantido. Ninguém cresce, ninguém se transforma sem o outro. Fiz uma live esses dias com os deputados avaliados como os Top 3 da educação: Luísa Canziani (PTB-PR), Tábata Amaral (PDT-SP) e Israel Batista (PV-DF). Eles ocupam posições-chave na Frente Parlamentar Mista da Educação, que reúne mais de 100 políticos. Durante a conversa, ficou claro: serão necessários de dois a três anos para absorver o impacto causado na educação pelas aulas não presenciais na pandemia – e também simplesmente pela falta de aula, no caso de inúmeras escolas públicas.

Nós todos queremos amenizar a situação porque faz bem para a consciência. Achamos que os estudantes têm de aprender desse jeito, porque é a realidade. Muito interessante em um país que abriu shoppings e restaurantes rapidamente, mas manteve escolas, teatros e centros culturais fechados. Qual é a lógica dessas prioridades?

Muitos teóricos analisam os processos de ensino a distância. Mas a realidade é que eu mesmo fugia aterrorizado das aulas de matemática quando adolescente, um amigo tinha horror a literatura. Imagine hoje em dia! Faço um desafio. Acorde às 6 da manhã, sente-se às 7 em frente ao computador e ouça palestras. Pode fazer perguntas, mas não o tempo todo. Você se sente motivado para aprender?

A pandemia é uma realidade, o distanciamento social deixará marcas. Muito se resolve por vias digitais, mas nem tudo. Agora, não bastará reabrir as escolas e cobrar resultados dos estudantes. Nem simplesmente impor uma data. A volta às aulas implica em reflexão e planejamento. Em muitos aspectos, é preciso reinventar a educação.

***WALCYR CARRASCO

OUTROS OLHARES

O FUTURO SEM O VÍRUS

Levantamento exclusivo do instituto Locomotiva quantifica o impacto da doença na vida das pessoas e os temores pós-pandemia dos brasileiros

Há seis meses a rotina do país começou a sofrer uma mudança radical devido ao enfrentamento do novo coronavírus. Alguns indicadores importantes, como o da redução das curvas da doença, mostram hoje que o pior pode ter ficado para trás, mas foi enorme o custo para chegar até a esta fase, que permite certas doses de alívio e de otimismo. A conta altíssima se materializou em uma catástrofe humanitária que já ceifou mais de 120.000 vidas. Fatores como a postura negacionista do presidente e a falta de disciplina das pessoas contribuíram para criar uma quarentena à brasileira. Essa paralisação confusa e menos rigorosa do que a necessária provocou estragos na economia sem trazer os benefícios de desacelerar suficientemente as contaminações. As projeções do mercado financeiro para o encolhimento do PIB têm variado de 5% a 6%, enquanto o desemprego poderá atingir 18%. Embora o ritmo de retorno às rotinas normais esteja acelerando em todo o país, a população carrega ainda mais traumas e cicatrizes do que se imaginava em relação ao sufoco enfrentado nesse passado recente, conforme mostra uma pesquisa exclusiva feita pelo instituto Locomotiva. O mesmo estudo mediu também as expectativas dos brasileiros quanto ao futuro. Nesse aspecto, parafraseando o escritor Ariano Suassuna, o sentimento é de um realismo esperançoso: vislumbram-se dias melhores, mas ninguém acredita em milagres. “A única certeza é que nada será como antes”, afirma Renato Meirelles, presidente do Locomotiva. “Há um grande freio de arrumação civilizatório em curso.”

No levantamento do instituto feito por telefone com 2.432 pessoas em 72 cidades do Brasil, entre os dias 14 e 16 de agosto, 65% dos entrevistados disseram acreditar que ainda estamos no meio da pandemia, um porcentual semelhante espera a chegada da vacina apenas para 2021 e a maioria relatou sérios desfalques no bolso provocados pela crise. Em média, seis em cada dez afirmam que sofreram impacto negativo na renda. Questionados sobre o pagamento de contas no período, quase metade disse que está com os boletos atrasados. A inadimplência atinge 34% das pessoas das classes A e B, mas já alcança 70% dos brasileiros que integram as classes D e E. “Um período muito grande e longo de pandemia desestruturou o tecido econômico do país, seja do lado produtivo, seja do lado dos trabalhadores”, diz Hélio Mattar, diretor do Instituto Akatu de promoção do consumo consciente. Só no estado de São Paulo, o índice de calote nas mensalidades de escolas privadas está há três meses acima de 20%, um acréscimo de 12% em relação ao mesmo período no ano passado. No setor de serviços, as perdas chegaram perto de 80%.

A falta de dinheiro e de confiança da população continua se materializando em prejuízos, como demonstra a realidade verificada nos corredores ainda vazios dos centros de compras. No fim de agosto, o Brasil voltou a ter 100% dos shopping centers abertos no país. Os estabelecimentos, no entanto, acumulam sucessivas decepções desde a retomada. Na semana do Dia dos Pais, por exemplo, as vendas registraram uma queda de 28,4% em relação ao período equivalente na pré-pandemia. Representantes do setor apostam numa recuperação gradual, mas, a julgar pelo temor do brasileiro em relação ao novo coronavírus, a retomada não será tão imediata. O Locomotiva constatou que 81% das pessoas pretendem comprar menos em shoppings. Outras 67% vão investir menos em roupas, em comparação com o passado, enquanto 73% querem gastar menos em calçados. Um percentual equivalente a 64 milhões de brasileiros respondeu que está determinado a adquirir menos produtos do que antes.

Em boa parte, a política de fechar o bolso se justifica pela desconfiança no ritmo da retomada da economia. Segundo a pesquisa, 49% das pessoas acham que o país só vai se recuperar em 2022 (ante 41% que esperam uma virada já no próximo ano). Em momentos de desesperança, uma ideia recorrente é a da porta de saída: entre os entrevistados, 51 % manifestam o desejo de morar no exterior se tiverem condições. É um número impressionante e, em outros levantamentos, jamais havia passado da faixa de 40%. Não por coincidência, o governo de Portugal comunicou recentemente que o número de estudantes brasileiros que entraram com pedido de visto no país aumentou 18%, na comparação com 2019. “Vivemos uma sucessão de crises há muito tempo. Essa crença de que teremos um novo período de dificuldades tão longo e tão profundo que colocará em risco o futuro do país e das condições de emprego acelera as percepções de saída”, analisa o economista Sérgio Vale, da consultoria MB Associados.

No campo político, o pagamento do auxílio emergencial a 67,2 milhões de pessoas (32% da população) aumentou a popularidade de Jair Bolsonaro durante a crise da Covid-19, como mostram as últimas pesquisas de opinião. Mas o pessimismo escancarado dos brasileiros deixa dúvidas sobre como vão reagir em relação ao presidente quando a degradação da economia ficar mais evidente com o aumento dos níveis de desemprego. Segundo o estudo do Locomotiva, Bolsonaro, que ainda sofre com uma rejeição elevada, terá de lidar com 67% dos brasileiros que estão insatisfeitos com a política do país e com 58% que se mostram descrentes em relação ao futuro do Brasil nessa área. O trauma provocado pela Covid-19, portanto, irá muito além da tragédia humanitária que a nação enfrenta desde março. Administrar um rombo econômico diante de uma população tão desiludida deixa evidente o tamanho do desafio que o governo terá de enfrentar.

No entanto, embora muitos aspectos do futuro ainda estejam cercados de uma grande zona cinzenta, o vírus parece ter trazido a certeza de mudanças profundas no comportamento social e de lazer dos brasileiros daqui para a frente. De acordo com a pesquisa, mesmo quando a quarentena acabar, 53% afirmam que continuarão evitando praias e parques, 43% não irão a comércios de rua e 40% não pretendem frequentar restaurantes. Por mais que a pandemia tenha provocado um rastro de desilusão, as pessoas entrevistadas também enxergam alguns sinais positivos para a sociedade após o fim do surto. A maioria diz que os brasileiros estarão mais solidários, terão maior cuidado com a higiene e ficarão mais abertos à tecnologia. “A alfabetização digital aconteceu a fórceps para parte da população. Agora temos um consumidor mais conectado, mais consciente e disposto a gastar menos do que antes”, afirma Meirelles.

Em um sinal contraditório, os entrevistados também se mostram otimistas em relação ao próprio futuro e a uma melhora na sua situação financeira, como se isso fosse dissociável dos desafios econômicos do país. ”As pessoas ainda mantêm essa percepção de que vão conseguir vencer se batalharem e se esforçarem, a despeito das condições externas adversas”, afirma a socióloga da Unicamp Mariana Chaguri. Quando olha para o próprio umbigo, o brasileiro revela-se um realista esperançoso.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 22 DE SETEMBRO

A NOITE EM QUE O SOL NASCEU

Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas… (Malaquias 4.2a).

Deus moveu o império romano para que a profecia do nascimento de Jesus se cumprisse. O profeta Miqueias havia anunciado que Jesus nasceria em Belém da Judeia, mas José e Maria moravam em Nazaré da Galileia. O recenseamento exigido pelo imperador César Augusto desabala José e Maria do norte para o sul. Ao alcançarem Belém, não havia mais lugar para eles nas pensões da cidade. Como chegara o dia de Maria dar à luz seu filho primogênito, o único lugar que encontraram foi uma manjedoura. Ali no campo, entre os animais, nasceu o Filho de Deus, o Salvador do mundo, o Cordeiro imaculado. Ele não nasceu num palácio, mas numa estrebaria; não num berço de ouro, mas num berço de palha; não sob os holofotes da fama, mas em pobreza extrema. Quando Jesus nasceu em Belém, houve luz à meia-noite. Nascia o Sol da Justiça. Os céus festejaram efusivamente, e a terra celebrou esse glorioso acontecimento. Os céus se cobriram de anjos que proclamavam: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem (Lucas 2.14). Na noite em que o sol nasceu, Deus foi exaltado no céu, e os homens se alegraram na terra.

GESTÃO E CARREIRA

ATRAIR E FIDELIZAR

Inspirado no Inbound Marketing método de atração e fidelização de clientes, a área de Recursos Humanos começa a usar o mesmo processo para recrutar, selecionar e reter talentos nas empresas. É o chamado Ibound Recruiting

Para quem não sabe, o Inbound Recruiting é um conceito oriundo do Marketing, adaptado ao processo de recrutamento e seleção da área de Recursos Humanos.

A ideia é que a empresa consiga atrair pessoas, educá-las sobre o produto ou serviço e transformá-las em suas promotoras e de seus processos seletivos, por meio de uma experiência positiva, independentemente de serem contratados ou não no final.

A consultora de Recursos Humanos, master coach e CEO da Sociedade Brasileira de Coaching unidade Macaé, com MBA em Gestão Estratégica de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas, Dilza Taranto, explica que esse método tem o objetivo de atrair o candidato ideal e fazer com que ele opte por trabalhar na empresa.

O processo de recrutamento nesse método não começa com a abertura e divulgação de vagas, mas sim com uma série de esforços que o time de RH realiza por meio de ações de fortalecimento da marca da empresa. “O ideal é começar assim que a companhia precisar de novos colaboradores, porque a metodologia surte efeito principalmente em médio prazo. Um bom ponto de partida é se unir com o time de Marketing para a construção de um bom planejamento do projeto”, aconselha o CMO e cofundador da Gupy, Guilherme Dias.

A gestora de RH e advogada trabalhista Deborah Vasques menciona algumas vantagens: “Com certeza é um processo que facilita a adaptação do colaborador à organização, ajuda a diminuir o turnover e ter mais uma mão de obra engajada com os objetivos da empresa”.

No entanto, é fundamental ir com muito cuidado na implantação deste sistema de recrutamento. E preciso ter um time de marketing e social media eficaz.

O sócio-diretor da Dinâmica Treinamentos, Lucas Rana, ressalta a importância de ter alguém no time que entenda de análise de dados, para não investir rios de dinheiro sem o devido retorno.

A empresa que deseja implantar esta ferramenta precisa ter em mente alguns elementos. “É fundamental analisar o público-alvo, definir o objetivo e quais serão os conteúdos para atrair os talentos desejados”, diz a gerente de RH do Grupo PLL, Juliana Ornellas.

AS QUATRO FASES

O processo funciona em quatro etapas: atração, conversão, fechamento e encantamento.

Na primeira fase, a da ATRAÇÃO, o candidato tem o primeiro contato com a marca empregadora, seja visitando o site, seja conversando com colaboradores em eventos focados em atração.

A CONVERSÃO é o momento em que visitantes transformam-se em pessoas que passaram a considerar fazer parte da empresa (leads), mediante visitas recorrentes em suas páginas.

FECHAMENTO é o momento em que os leads tornam-se candidatos, inscrevendo-se em uma vaga ou participando do processo. “A grande maioria dos processos seletivos concentra-se na etapa de fechamento, porém, no Inbound, há muitas ações anteriores”, explica Dilza.

Na etapa de ENCANTAMENTO, o candidato pode se tornar colaborador da empresa ou não. Seja qual for o caso, o processo seletivo pode ser tão positivamente impactante que ele mesmo pode indicar a empresa a amigos.

ESTRATÉGIA INOVADORA

Os processos de recrutamento e seleção convencionais focam apenas a etapa de fechamento. O Inbound Recrutiting inclui mais três etapas, fazendo do candidato mais uma forma de promoção da marca e da empresa.

É fácil encontrar as diferenças entre o método tradicional e o Inbound Recruiting. No segundo, a estratégia é que há um trabalho de construção de relacionamento. “Esta estratégia pode ser usada para vagas mais recorrentes ou quando é necessário que o seu segmento seja visto com maior relevância”, lembra a professora do MBA em Recursos Humanos do IAG Escola de Negócios da PUC­ Rio, Alessandra Nogueira.

Qualquer empresa, seja qual for o porte, pode optar por contratar esses serviços especializados ou capacitar os funcionários da área de recrutamento e seleção do RH local.

O envolvimento e engajamento da liderança da empresa é fator crítico de sucesso. Trata-se de uma nova forma de captar os melhores profissionais no mercado e transformá-los em promotores, independentemente da admissão desses candidatos.

Empresas que usam a metodologia estão construindo valor de forma mais leve e mais duradoura, elas estão contribuindo para a formação de opinião e atingindo ainda mais pessoas do que atingiriam com seus processos seletivos convencionais.

É essencial que o RH seja transparente com o seu público e tenha certeza de que a decisão de um candidato de participar de seus processos seletivos foi uma decisão informada. Isso vai garantir participantes mais satisfeitos e processos seletivos mais rápidos, alinhados e com um menor turnover.

O Inbound Recruiting chegou para ficar porque traz diversos benefícios para o processo de recrutamento e seleção, tais como maior probabilidade de conseguir atrair talentos que se encaixam na vaga e estão de acordo com a cultura da empresa, o que resulta em contratações mais assertivas, diminuição das taxas de turnover, colaboradores mais motivados com o trabalho e otimização do tempo, pois os candidatos já chegam mais educados e preparados para a vaga.

Além disso, como já falamos no decorrer da matéria e talvez seja o mais atrativo para as organizações, é que ele ajuda a promover a empresa no mercado, contribuindo para que elas ganhem mais visibilidade e seja cada vez mais procurada por outros profissionais.

PASSO A PASSO PARA A IMPLANTAÇÃO

1.  Especifique o perfil dos candidatos ideais: Reúna-se com a alta administração e líderes das equipes para pensar, em conjunto, sobre o que os novos candidatos precisam ter em relação às competências técnicas e comportamentais.

2.  Elabore estratégias para atrair e captar os candidatos: Crie materiais, como e-books. vídeos, podcasts, entre outros.

3.  Mantenha uma relação com os candidatos e contratados: Para isso, você pode enviar e-mails com artigos e outros materiais, por exemplo. Isso pode acontecer mesmo se a empresa não tiver vagas abertas, porque ajudará a fixar a organização na memória do candidato.

FONTE: Dilza Taranto

10 DICAS PARA ACERTAR NO INBOUND RECRUITING COM SUCESSO

1.  Trabalhar sempre em conjunto com a área de Marketing.

2.  Tomar cuidado com as publicações nas redes sociais e seus impactos.

3.  Estar sempre em eventos de sua atividade principal, divulgando a marca e fazendo networking.

4.  Fazer uma boa divulgação de vagas em aberto.

5.  Acolher o candidato.

6.  Fazê-lo sentir-se parte da empresa mesmo no processo seletivo.

7.  Dar feedbacks durante o processo seletivo.

8.  Mostrar todas as vantagens em fazer parte da empresa.

9.  Quando aprovado para a vaga, fazer uma boa ambientação.

10. Acompanhá-lo no processo de adaptação/experiência.

FIQUE ATENTO

•  Tenha uma forte marca empregadora.

•  Na gestão de pessoas, é possível falar da marca empregadora.

•  Transforme os empregados em promotores.

•  Elabore uma página de carreiras.

•  Conte com a ajuda da tecnologia.

FONTE: Dilza Taranto

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SABORES SAUDÁVEIS

Compostos que intensificam sabores doces e salgados dos alimentos ajudam a desvendar mecanismos do paladar e enganam o cérebro com o propósito de combater obesidade e doenças cardíacas

Os humanos foram feitos para gostar das comidas saborosas que fornecem energia, proteínas e eletrólitos. Em uma época em que é tão comum consumir produtos carregados de açúcar e sal, no entanto, nossas tendências gustativas podem resultar em obesidade, doença cardíaca e diabetes do tipo 2, que estão entre os principais problemas de saúde pública.

Mas e se um grupo de pequenos componentes pudesse enganar nosso cérebro para comermos de forma diferente? É essa a ideia por trás da nova ciência de modulação do gosto. Cientistas estão desenvolvendo compostos baratos, mas poderosos, que tornam os alimentos mais doces, salgados, saborosos – e saudáveis – do que realmente são. Adicionando pequenas quantidades desses moduladores a comidas tradicionais, é possível reduzir a quantidade de açúcar, sal e glutamato monossódico (MSG) necessária para gerar satisfação, o que resultaria em produtos mais saudáveis.

A Senomyx, empresa líder na utilização de tecnologias para descobrir e produzir ingredientes com sabores inovadores para a indústria de alimentos e bebidas, com sede em San Diego, está na fronteira dessa nova tecnologia, e grandes empresas como a Coca-Cola e a Cadbury têm se interessado pelas descobertas. A Senomyx está desenvolvendo também bloqueadores de gosto amargo para que alimentos menos palatáveis tenham melhor sabor, o que ampliaria as fontes de nutrientes disponíveis no mundo. As empresas, por exemplo, poderiam usar mais a proteína da soja, potencialmente alimentando mais pessoas, se conseguissem disfarçar seu gosto amargo residual. Esses bloqueadores seriam capazes de melhorar o gosto também de medicamentos, o que encorajaria as pessoas a usá-los.

Enganando nossos processos gustativos, seria possível economizar grande quantia em dinheiro com a substituição de açúcar, sal e outros ingredientes por minúsculas quantidades de compostos mais baratos.

A busca pelos moduladores de sabor começou em 1996, quando o pesquisador Charles Zucker, professor de biologia da Universidade da Califórnia, San Diego, percebeu que a literatura existente sobre a biologia da gustação abordava mecanismos de forma potencialmente errada. Os humanos sentem cinco tipos de gosto: doce, salgado, amargo, azedo e saboroso – também chamado umami, que pode ser aproximadamente traduzido do japonês como “sabor delicioso”. A maioria das crianças aprendeu que a língua é dividida em regiões que detectam, cada uma, um tipo de sabor. Mas, ao mesmo tempo, trabalhos mostravam que os botões gustativos em toda a boca (e não só na língua) contêm pequenos grupos de células que permitem que cada botão detecte todos os sabores. Zucker concordava, mas duvidava que toda célula gustativa era sempre capaz de distinguir entre os cinco sabores.

Para Zucker não fazia sentido evolutivo que uma célula fosse responsável por detectar a presença de algo teoricamente bom, como o açúcar e algo ruim, como um veneno amargo. Muitas células sensitivas são capazes de diferenciar estímulos opostos, mas cada um de nossos domínios sensoriais inclui também estruturas cuja função primária é responder a um tipo de estímulo, como as células da pele que reagem apenas a uma dada faixa de temperatura. Zucker não conseguia conciliar a noção de que uma única célula gustativa “pudesse evocar comportamentos diametralmente opostos. Em vez disso, supunha que a existência de um botão gustativo reunisse células para identificar doce, salgado, amargo e assim por diante.

Se as células gustativas fossem tão específicas seria mais fácil manipulá-las – o que teria enormes implicações para o setor alimentício. Zucker considerou que as células gustativas teriam sensores específicos em suas membranas. Um receptor de sal se ligaria a uma molécula de sal, mas não a uma doce ou amarga. Mas o pesquisador não tinha evidências para sustentar sua teoria.

O primeiro passo de Zucker deveria isolar os receptores, o que ninguém jamais havia feito. Ele e seus colegas da UCSD removeram células gustativas da língua de camundongos de laboratório e compararam os genes que davam origem a proteínas em cada célula. Por fim, seis pesquisadores encontraram genes que codificavam duas proteínas pela primeira vez. Zucker conseguiu inferir que as duas estruturas ficavam na superfície da célula e provavelmente funcionavam como receptores, e as chamou de TIR1 e TIR2.

Mas quando Zucker tentou entender o que as duas proteínas faziam, chegou a um beco sem saída. Nenhuma delas funcionava sozinha como um receptor gustativo completo. O biólogo se lembrou de que os camundongos variam suas preferências por comidas doces – alguns quase não gostam delas. Estudos anteriores haviam mostrado que esses roedores apáticos apresentavam um defeito genético. Zucker os estudou e acabou encontrando outro candidato a receptor. E o gene que dá origem a essa proteína, a TIR3, de fato diferia entre os camundongos em geral e os que não gostavam de doce. Quando ele introduziu uma cópia funcional do gene relacionado nas células gustativas de um dos ratos, a alteração desencadeou uma forte predileção por açúcar.

SACARINA E REFRIGERANTE

Com alguns outros experimentos Zucker e seus colegas revelaram a estrutura e a função dos receptores gustativos para doce e para saboroso. Cada tipo de receptor continha duas partes. O primeiro consistia na combinação de TIR2 e TIR3; o de saboroso, de TIR1 e TIR3. Em seguida, Zucker identificou também as unidades do receptor de amargo – todas as 25 -, bem como o receptor responsável pela detecção do azedo. Cada célula gustativa possuía os receptores para apenas um gosto. Zucker percebeu que, além de contribuir para a biologia básica, suas descobertas permitiriam aos cientistas projetar compostos que interagissem, por exemplo, apenas com o receptor de doce ou de salgado, afetando a percepção de gosto de formas específicas. “As ferramentas básicas para modular experimentalmente como o sistema gustativo funciona se tomaram factíveis”, diz. Em 1998, Zucker e alguns outros pesquisadores criaram uma empresa que se tornou a Senomix. No passado, as empresas de alimentos identificavam novos sabores por tentativa e erro, com humanos provando um resultado de cada vez. O processo era tedioso, e as empresas conseguiam testar no máximo alguns milhares de compostos anualmente.

Mas a utilização da estrutura dos receptores gustativos de Zucker possibilitou que novos moduladores de sabor fossem rapidamente identificados. Inspirando-se nas matrizes de plástico com vários pequenos receptáculos que as empresas farmacêuticas utilizam para testar novas drogas, Zucker elaborou matrizes de milhares de “células gustativas” artificiais, cada receptáculo contendo um tipo de receptor gustativo. Ele então introduzia milhares de compostos potencialmente moduladores de sabor a esses “testadores-robôs” de alto rendimento para ver quais interagiam com quais células.

Desenvolver adoçantes melhores é um dos principais objetivos dos pesquisadores. Os substitutos do açúcar de baixa caloria disponíveis hoje, como o aspartame, sucralose e sacarina, frequentemente deixam um gosto residual amargo por causa das altas concentrações. “Do ponto de vista sensorial, não são ideais”, diz Gary Beauchamp, diretor do Monell Chemical Senses Center em Filadélfia. Refrigerantes dietéticos, por exemplo, não têm gosto tão bom quanto os originais, porque o sabor residual amargo altera a percepção do cérebro. Se as empresas de alimentos pudessem usar quantidades menores dos substitutos, a via de captação de gostos amargos seria menos ativada.

Ao testar tantos compostos, Zucker percebeu que seria possível identificar moléculas que não tinham nenhum sabor em si, mas podiam interagir com os adoçantes e receptores de doce para aumentar a percepção. “Pensamos: talvez possamos encontrar meios inteligentes de fazer com que pouco açúcar pareça muito”, relata ele.

Depois de analisar 200 mil compostos, os pesquisadores da Senomyx identificaram um que faz com que a sacarose seja quatro vezes mais doce. O modulador começou a ser adicionado a produtos em 2009. O mercado potencial é enorme: estima-se que 5 mil produtos no varejo atualmente contenham sucralose. Também foi descoberto um modulador de açúcar que faz com que a sacarose, ou açúcar de mesa, tenha um gosto duas vezes mais doce. Desse modo, seria possível cortar calorias de alimentos e manter o mesmo gosto. E as comidas dietéticas poderiam ser ainda mais saborosas do que são hoje.

AMARGO E SALGADO

Estão em andamento estudos sobre bloqueadores de gosto amargo para proteínas da soja, os quais ajudariam a livrar o cacau de seu gosto residual amargo, diminuindo a quantidade de açúcar que os fabricantes adicionam aos produtos feitos dessa semente. Essas substâncias contribuiriam para a criação de medicamentos, “plantações orgânicas”, como de arroz e soja, que contivessem vacinas orais contra hepatite B e outras doenças. Esses alimentos seriam cultivados em países em desenvolvimento onde o acesso à vacinação é limitado, mas se os componentes medicinais fizessem com que eles tivessem um gosto ruim, a população local não iria consumi-los. Um bloqueador tornaria o produto palatável, mas naturalmente o preço teria de ser acessível.

Outra empresa, a Redpoint Bio, em Ewing, Nova Jersey, está pesquisando bloqueadores de gosto amargo que utilizam uma abordagem levemente diferente. Em vez de vetarem produtos que afetam os receptores da superfície de uma célula gustativa, cientistas buscam substâncias que interajam com as vias de sinalização das células. Um alvo é o canal iônico comum chamado TRPM5; a Redpoint procura compostos capazes de bloqueá-lo ou ativá-lo. A empresa está colaborando com a Coca-Cola e com a Givaudan, companhia suíça de sabores e fragrâncias, e prevê que alimentos contendo seus compostos estarão nas prateleiras dos supermercados em poucos anos.

Em 2008, a Senomyx identificou o receptor primário responsável pela percepção do sal: um poro ou uma cânula que atravessa a membrana de uma célula gustativa, permitindo que íons de sódio e hidrogênio entrem nela. Os compostos que interagem com o canal aumentariam a potência do efeito do sal. “Reduzir a ingestão, mesmo em pequena proporção, poderia ter um impacto significativo tanto na saúde quanto na qualidade de vida”, diz Zucker, que permanece na UCSD, ao mesmo tempo que atua como consultor científico da Senomyx. “Se é tão difícil mudar o hábito das pessoas então faz sentido mudar sua percepção”, afirma. Em poucos anos, os consumidores poderão ingerir alimentos com apenas uma fração das calorias e do sal que já tiveram, sem notar a diferença. Mas ainda é preciso saber se eles passarão a ingerir menos calorias se a alimentação for mais saborosa.

EU ACHO …

O XIS DA QUESTÃO

Voltar à escola envolve equação complexa – que deve ser encarada

Jamais quis mandar na nossa educação. Agora, muito menos, pois há que decidir a volta às aulas presenciais, assunto delicado e cercado de nuances. Com toda franqueza, temo oferecer conselhos nesse duelo entre permanecer ignorante e aumentar o risco de contaminação e a ruína econômica. Apenas posso definir melhor os contornos do problema. A maior probabilidade de contágio é em um ambiente fechado, com muita gente, onde a permanência é longa. Exatamente assim é uma sala de aula tradicional. Daí a necessidade de ajustá-la a estes tempos. A mortalidade entre jovens é muito baixa. Mas é do nosso conhecimento também que eles contraem o vírus e podem transmiti-lo, mesmo assintomáticos. Serão uma ameaça para pais e avós, professores e funcionários, todos em idades menos blindadas? Na dúvida, os cuidados devem ser redobrados.

Hoje, sabemos, pegar na maçaneta e depois botar o dedo na boca é uma forma possível, mas muito infrequente, de contrair a doença. E que os tais aerossóis se revelaram poderosos vetores do vírus, ainda que uma boa máscara reduza drasticamente o risco. Muito se pode fazer para minimizar os casos da doença dentro das escolas. Mas exige recursos e vontade férrea na implementação. Infelizmente, a disciplina não é o nosso forte. Precisamos aprender a lapidar essa habilidade.

As aulas voltarão, resta decidir quando e como. A pior política seria uma data única para retornarem todos. Alguns lugares, afinal, domaram a pandemia melhor que outros, portanto podem se antecipar com menos risco. E, para cada nível de educação, um calendário próprio para o retorno faz todo o sentido. O ensino superior tem experiência no ensino a distância. Sendo assim, vale arriscar? Em certas universidades americanas, no regresso, os casos explodiram. Ainda assim, em carreiras com muitas atividades práticas, torna-se razoável abrir laboratórios.

No ensino básico, a educação a distância sempre foi desaconselhada. Se existe agora, é por falta de alternativas. Logo, essa turma precisa voltar antes. Muita gente, aliás, se espanta com o péssimo rendimento de metade dos alunos nessa modalidade de ensino. Eu me espanto, isso sim, com o fato de a outra metade estar aprendendo, apesar da improvisação e da falta de meios. Temos, é bom que se frise, uma ótima chance de melhorar a educação, com as lições agora assimiladas. Quanto mais jovem, mais essencial é o contato pessoal. Por isso, as séries iniciais devem voltar mais cedo. Os mais velhos ficam para depois. Seja como for, escolas e alunos mais desprovidos são os grandes perdedores e merecem prioridade no retorno. Algumas crianças, quase sempre as mais pobres, enfrentam imensas dificuldades no ensino a distância. Faltam-lhes organização de estudo, motivação e apoio eficaz das famílias. Isso é agravado pela precariedade do que é oferecido. Para elas, voltar é vital. Soma-se ainda aí o argumento econômico, pois as mães poderão trabalhar fora enquanto seus filhos estiverem no colégio.

Quantos jovens e adultos estarão sob mais riscos ao regressar às aulas? Não há como estimar tais                   números, mas é inevitável que cresçam, por tudo o que sabemos. Abrir os portões para oferecer melhor educação e permitir o trabalho das mães se faz à custa de mais exposição da garotada. Mas há ganhos nessa equação. Enfim, não gostaria de estar na pele de quem toma essas decisões.

*** CLÁUDIO MOURA CASTRO   

OUTROS OLHARES

TIRE A ROUPA E RESPIRE FUNDO

Um famoso nutrólogo de São Paulo é condenado por abuso sexual, outras denúncias aparecem, mas ele continua solto e atendendo novas pacientes

A partir da iniciativa corajosa de um grupo de pacientes que se uniram para revelar publicamente os horrores sofridos durante as consultas, Roger Abdelmassih trocou o expediente em uma das clínicas de reprodução assistida mais renomadas do país pela rotina de uma penitenciária. Condenado a mais de 270 anos de prisão por abusar sexualmente de 39 mulheres, ele tenta reaver o direito ao cumprimento da pena em casa. Infelizmente, o triste episódio pode não ter sido uma exceção. Um caso com novos desdobramentos em São Paulo guarda várias semelhanças com essa história chocante. A exemplo do doutor Abdelmassih, o nutrólogo Abib Maldaun Neto era uma celebridade em sua área até ter sua conduta revelada por uma grave e consistente acusação. Pior. Depois da primeira denúncia, confirmada em duas instâncias judiciais, começaram a surgir vários outros relatos de abuso.

Bem relacionado com celebridades e políticos, o trabalho de Maldaun Neto com a medicina ortomolecular lhe rendeu reconhecimento internacional e honrarias como a Medalha Anchieta, a maior condecoração concedida em São Paulo. No seu Instagram, constam participações em programas de televisão e fotos com personagens conhecidos, como os apresentadores Celso Portiolli e Ratinho. Famoso, bem-sucedido, o especialista teve sua conduta questionada a partir de uma acusação feita em 2014. Segundo a denúncia, Maldaun Neto perguntou sobre a vida sexual da paciente durante a consulta, pediu a mulher que tirasse as roupas e introduziu os dedos em sua vagina. Ao final, abraçou a vítima e disse que ela que poderia considera-lo como um amigo. “Quando cheguei em casa, esfregava o meu corpo com muita força no banho e repetia em voz alta que aquilo não tinha acontecido”, afirmou a acusadora, que não quis se identificar. O processo ocorreu de forma morosa nos tribunais, mas está perto de um desfecho. No dia 25 de agosto, a Justiça publicou o acordão que ratificou em segunda instância, por 3 votos a O, a sentença de dois anos e oito meses de prisão em regime semiaberto por violação sexual mediante fraude.

Como a defesa de Maldaun apresentou recursos no STJ e no STF, o mandado de prisão ainda não poderá ser cumprido – e, por incrível que pareça, ele continua trabalhando normalmente. Existe um esforço das vítimas para mudar essa situação (até aqui sem sucesso). Duas delas estão há seis anos com ações paradas no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para cassar a licença do profissional. Nesta semana, duas novas vítimas seguiram o mesmo caminho. Uma das mulheres tinha 17 anos quando foi à clínica particular de Maldaun Neto para uma consulta sobre perda de peso. Segundo a acusação, o pai, que era amigo do nutrólogo, ficou na sala de espera, enquanto ela era atendida sozinha pelo médico. Após perguntar sobre os hábitos alimentares e a vida sexual da paciente, que era virgem, ele pediu à garota que tirasse a calcinha e se deitasse na maca. Em seguida, enfiou os dedos na vagina da paciente para estimular o clitóris. “Eu lembro que ele disse: ‘É, dá para ver que você é virgem’. Ele não avisou o que ia fazer nem pediu permissão. Tive de pedir mais de uma vez para parar”, afirmou ela. De acordo com mais um relato, o nutrólogo repetiu o método com uma mulher que à época tinha 23 anos. Depois de apalpar os seios e os mamilos da paciente para ver se as próteses de silicone estavam “bem posicionadas”, conforme ele justificou à vítima, Maldaun Neto enfiou dois dedos na vagina dela e estimulou o clitóris por cerca de um minuto. Assim como nos outros casos, não havia uma enfermeira acompanhando a consulta. “Ele é um predador”, disse a vítima. A reportagem localizou ainda uma quinta mulher que diz ter sido abusada pelo médico, mas que não decidiu se vai processá-lo.

Segundo o advogado Fernando Castello Branco, que representa três das vítimas de Maldaun Neto, as ações no Cremesp são importantes para impedir que outras pessoas sejam ludibriadas por médicos que se valem da lentidão da Justiça para seguir em atividade mesmo diante de graves acusações. “É uma realidade muito mais comum do que se imagina ou do que se quer falar”, diz. Procurada, a defesa de Maldaun Neto alega que só vai se pronunciar nos autos do processo e que “a presunção de inocência do acusado prevalece até o trânsito em julgado da sentença condenatória, o que no caso não ocorreu”. O Cremesp, alvo de críticas por supostamente adotar uma postura corporativista em casos desse tipo, também não retornou um pedido de entrevista. Enquanto isso, a vida segue. A agenda de Maldaun Neto está cheia para setembro – só aceita encaixes. A consulta inicial sai por 730 reais.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 21 DE SETEMBRO

CONHECER A DEUS, NOSSA MAIOR NECESSIDADE

Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR… (Oseias 6.3a).

O povo de Israel caminhava a passos largos rumo à apostasia. Seguia após outros deuses, levantando altares a ídolos pagãos. Nesse momento, o profeta Oseias conclama o povo a voltar-se para Deus. Deus precisa ser conhecido. Não podemos amar quem não conhecemos. No entanto, o povo que conhece a Deus é um povo forte. O conhecimento de Deus não é algo estático, mas dinâmico. Não é teórico, mas relacional. O profeta diz: Conheçamos e prossigamos em conhecer. Nossa fraqueza decorre de não conhecermos a Deus o suficiente. O conhecimento de Deus é a própria essência da vida eterna. Quando conhecemos a Deus, nosso peito se enche de doçura, pois ele é a fonte de todo bem. Quando conhecemos a Deus, passamos a adorá-lo por quem ele é. Passamos a servi-lo com integridade pelo seu caráter, e não apenas pelos seus feitos. Hoje, muitas pessoas servem a Deus por interesses egoístas. Aproximam-se de Deus como pedintes e fazem de Deus apenas um servidor celestial. Deus deve ser amado por quem ele é, mais que por aquilo que ele dá. Deus é melhor que suas dádivas. O abençoador é melhor que suas bênçãos. Nossa maior necessidade não é de coisas, mas de Deus. Só ele satisfaz nossa alma. Só ele é a razão da nossa vida. Portanto, conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor.

GESTÃO E CARREIRA

LEILÕES NA ERA DO BLOCKCHAIN

Para garantir maior transparência e segurança nos arremates, a Rede Bom Valor aposta em nova tecnologia que pode movimentar R$ 100 bilhões em cinco anos.

O empresário Ronaldo Sodré Santoro surpreendeu o mercado de leilões há pouco mais de duas décadas, ao trocar o trabalho na tradicional Casa Sodré Santoro, da sua família, por um projeto de pregões na internet. À época, chegou a ser desacreditado por outros profissionais do setor. Com apoio financeiro do Unibanco, no ano 2000 ele fundou o Superbid, que veio a se tornar um dos maiores portais do segmento na América Latina.
Passados 18 anos, ele deixou a Superbid para desenvolver uma rede colaborativa de leilões, a Bom Valor. Com investimento inicial de R$ 8 milhões, a plataforma se apresenta como a maior disrupção do setor, por aplicar a tecnologia blockchain, a mesma usada nas criptomoedas, com códigos gerados digitalmente para tornar a transações seguras, rastreáveis e transparentes. “Com o crescimento da plataforma, nossa meta é, em cinco anos, atingir R$ 100 bilhões em transações de mercadorias entre bens móveis e imóveis provenientes de alienação judicial, fiduciária ou patrimônio, sendo público ou privado”, disse Santoro.

Na Bom Valor, todo o processo para a realização do leilão é ambarcado na plataforma, que controla desde a etapa de identificação do vendedor e do produto até o arremate final e o pagamento por parte do comprador. “É como se fosse um grande cartório de registro com a fé pública do leiloeiro para documentar as transações”, disse Santoro. Segundo ele, todos conseguem visualizar cada etapa. “Isso passa mais segurança aos envolvidos.”

“NÃO FUI EU”

Santoro afirmou que uma das primeiras iniciativas após o lançamento da plataforma foi a criação de uma identidade digital blockchain (ID Bom Valor) que pode ser baixada no celular pelo consumidor, pelo leiloeiro e pelos demais envolvidos no processo. Todos são obrigados a utilizar a identidade do celular para entrar no sistema. “Essa identidade é um algoritmo único. Consigo comprovar a sua entrada no sistema. Isso garante a segurança das operações. Não dá para dizer “não fui eu”.

Inicialmente, o empresário pretende agregar ao projeto os cerca de 1,6 mil leiloeiros oficiais no Brasil, mas estima que o número possa “crescer bastante”. Cerca de 50 deles já estão inseridos na Bom Valor e devem movimentar cerca de R$ 4 bilhões em negócios em três anos — em 2020, já foram R$ 700 milhões. “É transacionado cerca de R$ 1 bilhão por ano com o leilão de aproximadamente 60 mil itens”, disse Santoro, que mira transformar a profissão do leiloeiro. “Eles terão mais força e poderão alcançar níveis nunca atingidos.”

Para Vicente de Paulo Albuquerque, bacharel em direito e leiloeiro oficial há 25 anos, o uso da nova tecnologia é positivo para o setor. “Vejo com bons olhos a iniciativa da Rede Bom Valor. Traz segurança ao processo e inovação ao segmento”, disse Albuquerque, que preside a Associação da Leiloaria Oficial do Brasil (Aleibras). Dados da entidade revelam que, desde o início da pandemia, houve um aumento expressivo das transações por meio de leilão. Apenas no segmento automotivo, as transações saltaram 50% no número nos últimos meses. “Nunca se vendeu tanto carro como agora. O objetivo é garantir liquidez”, afirmou, revelando que, em alguns casos, os veículos têm sido comercializados a preços até superiores aos praticados no mercado. “Normalmente, se o carro está em bom estado de conservação, o valor praticado corresponde a 80% da tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Mas há casos em que foram pagos valores acima da tabela.”

O leilão de veículos movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano, segundo o executivo. Devido aos protocolos de segurança adotados em decorrência da Covid-19, muitas pessoas que utilizavam transporte por aplicativo optaram pela compra do primeiro ou até do segundo carro. Apesar da procura em alta, Albuquerque afirmou que o número de aquisições de veículos em leilões no Brasil é muito baixo em comparação a outros países, como os Estados Unidos. “Lá, 95% dos carros usados circulam por leilões. No Brasil, esse índice é de 6%.” Segundo o presidente da Aleibras, a pandemia não prejudicou o setor, que há dez anos já estava digitalizado. “Mesmo antes do coronavírus, 95% dos leilões já aconteciam on-line e apenas 5% de maneira presencial.” Nesse cenário digital, a Bom Valor pode definir o futuro dos leilões.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

Antes de mergulhar no curioso mundo das personalidades duplas ou múltiplas, é preciso saber como se dá a formação e as mudanças da personalidade de cada pessoa

Várias abordagens psicológicas podem ser descritas quando se trata desse assunto: a personalidade humana, o jeito de ser de cada um. Segundo Luís Orione, professor coordenador do curso de Psicologia da Anhanguera Brasília, “basicamente existe uma série de traços de personalidade, comportamentos básicos que a pessoa tem diante de uma situação específica. Por exemplo: a pessoa que é explosiva, uma pessoa mais recatada, uma pessoa que sente raiva quando quer consertar uma situação…Todos são traços que vão formando a pessoa de acordo com os acontecimentos que ela vai vivenciando. Situações traumáticas ou prazerosas ditariam esse comportamento, formando uma estrutura básica de personalidade.

DIFERENTES, PORÉM, ÚNICOS

A palavra persona tem origem no grego e quer dizer máscara. Todos são diferentes e únicos e se mostram ao mundo através da personalidade. Mesmo que sejam filhos do mesmo pai e da mesma mãe, mesmo que sejam criados exatamente da mesma maneira, ou até que sejam gêmeos: sempre haverá diferenças psicológicas, de opinião e de atitude. O que nos torna realmente únicos. Trata-se, porém, de um conceito bastante amplo e muito estudado até aqui por grandes observadores do comportamento humano.

FREUD EXPLICA! MAS NÃO SÓ ELE!

Para Sigmund Freud, neurologista austríaco considerado o pai da psicanálise, o inconsciente tem um papel pra lá de importante na formação da base da personalidade e muitas vezes está até mesmo ligado à origem de alguns distúrbios mentais. A infância pode ser a origem de muitos desses traumas e base da personalidade, mesmo que alguns eventos sejam esquecidos ou apagados da mente da pessoa. De acordo com suas teses e experiências clínicas, a fonte das perturbações emocionais dos indivíduos está ligada aos traumas reprimidos na primeira infância. Acessando esse inconsciente seria possível analisar e descobrir detalhes. A sexualidade e a libido são partes imprescindíveis dos estudos e das conclusões de Freud.

Já Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço discordou dessa questão onde tudo gira em torno da sexualidade (reprimida ou não) e ampliou as bases de formação da personalidade. Desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, do arquétipo e do inconsciente coletivo, entre outros que continuam a exercer grande influência em pesquisas e estudos até os dias de hoje. Jung acreditou, por muito tempo, possuir dentro dele duas personalidades diferentes: o ego, que se mostrava a todas as pessoas, incluindo seus familiares e um eu interno, que se aproximava de Deus. Desde muito cedo propôs que o atendimento a pacientes psiquiátricos fosse mais humanizado, coisa que não existia naquela época. Quando conheceu as ideias e conceitos “desbravadores” de Freud, enviou para ele seus trabalhos mais importantes. Durante muitos anos trocaram cartas e estudos. Naturalmente, com o tempo vieram as divergências. Mas a importância deles é inquestionável.

Por outro lado, para o médico e psicanalista francês Jacques Lacan, as manifestações humanas ligadas à personalidade estão vinculadas à história pessoal de cada um, a uma compreensão que o indivíduo possui de si mesmo, além das tensões dentro das relações com as outras pessoas. Lacan foi um dos discípulos e pós-estudiosos da obra de Freud e Jung. Suas maiores contribuições se deram através da linguística e da lógica para reconfigurar a teoria do inconsciente. O ego não seria a força dominante na estrutura psíquica da personalidade da pessoa. Ele seria, sim, impotente quando confrontado com o inconsciente. Para Lacam, o indivíduo vive em conflito eterno, mantendo a situação “sustentável” através de artifícios, entre eles a alienação.

TUDO NO MUNDO

O que podemos perceber com certeza é que todo tipo de acontecimento (inusitado, triste, feliz…) mexe com a cabeça de praticamente todo tipo de pessoa neste mundo! E as reações podem ser as mais diversas. Um exemplo: diante da notícia da chegada de um bebê. Quem recebe a notícia, dependendo do momento que estiver vivendo, das suas emoções com relação à outra pessoa, se já tem filhos ou não, pode rir, chorar, festejar ou sugerir que se interrompa a gravidez! O caráter dos acontecimentos é o de transformar. Dificilmente diante das “coisas da vida” os indivíduos que possuem as personalidades mais distintas vão ficar inertes. Há sempre a fagulha da transformação.

TRANSFORMAR-­SE SEMPRE?

A transformação das pessoas de uma maneira geral não é ruim. Com o amadurecimento, com as experiências a pessoa tende a mudar, sua personalidade vai acompanhando isso tudo. Cada momento que se ressignifica na infância, por exemplo, a pessoa se transforma, sua personalidade vai evoluindo. Por outro lado, se ela passa por muitos traumas ou conflitos, ela também pode ir se fechando e acabar com algum tipo de transtorno.

“Então, o ideal é se conhecer, ficar tento a essas mudanças e caso perceba as quebras de limites, procurar ajuda profissional”, afirma o neurocientista Aristides Brito.

EU ACHO …

DIABRURAS DA DIDÁTICA

os professores precisam aprender seu ofício para poder ensinar

Eis uma seleção de dúvidas inocentes, com respostas curiosas:

1. “Senta aí e estuda até aprender o ponto.” Sábio conselho? Péssimo! Aprendemos muito mais dedicando igual tempo a estudar um pouquinho hoje e outros pouquinhos amanhã e depois.

2. Um professor passou cinquenta exercícios de equações do 1º grau, depois cinquenta do 2º e mais cinquenta de exponenciais. Outro passou os mesmos 150, mas todos embaralhados. Qual está certo? Na prova, logo em seguida, o primeiro grupo obteve notas maiores. Em outra, porém, meses depois, o segundo grupo mostrou melhores resultados. Ou seja, misturando as questões o aprendizado é mais efetivo e dura mais.

3. Gastar bom tempo com matemática, depois com física, e assim por diante? Melhor que saltitar rapidamente entre as matérias, confundindo a cabeça do aluno? Curiosamente, intercalar os assuntos dá melhores resultados.

4. “Fiz anotações cuidadosas na aula, mas sumiu o papel.” Tudo perdido? Quase nada, pois o ganho vem do esforço de selecionar o que anotar. Consultar o papel, mais adiante, quase não ajuda.

5. Após uma pergunta, quanto tempo até os professores cobrarem a resposta? Um segundo depois. Se esperassem cinco, a resposta seria 300% melhor.

6. Provas frequentes subtraem o tempo de aula? Não, provas inteligentes são uma das melhores maneiras de fixar o conhecimento. É tempo ganho e não perdido.

Diabruras da didática! Alguns desses resultados são inesperados, outros parecem amalucados. Mas não são devaneios, estão confirmados por pesquisas sólidas. São os esplêndidos frutos da aplicação da ciência rigorosa à sala de aula. Conhecemos hoje a eficácia de dezenas de procedimentos e fórmulas de uso frequente nela. E estão sendo inventadas outras tantas, desconhecidas no passado. Em um país de ensino tão ruinzinho, utilizar esses resultados traria uma bela contribuição.

Os livros que sugerem essas regras estão por aí (muitos em português), e até eu escrevi um. Por que não são usados nas faculdades de educação? Por que, em vez de formas práticas de atuar em

sala de aula, se inunda a cabeça dos futuros mestres com uma torrente de teorias intergalácticas? Pior, repete-se a dose nos cursos de reciclagem. Não são ideias erradas, mas não ajudam quando toca a campainha e começa a aula. Ensino bom requer professores bons. Eles não nascem sabendo. De fato, precisam que lhes seja ensinado o seu ofício.

Em meus contatos com professores, entendi que os mestres desejam ajudas práticas para facilitar e tornar mais eficazes as suas aulas. Os apaixonados pelas teorias complicadas são os doutores, encarregados da formação daqueles que militam em sala de aula. Em Tristes Trópicos, Lévi-Strauss fala de sua experiência em uma universidade brasileira, onde via todos enamorados de teorias da moda, abstratas e complicadas. Não se davam conta de que tudo começa entendendo o simples em profundidade. Será que hoje ainda seria verdade?

*** CLAUDIO DE MOURA CASTRO

OUTROS OLHARES

SINAIS DE ALÍVIO

Depois de seis meses, finalmente o número de mortes em decorrência da Covid-19 começa a diminuir. É o início de uma nova etapa, que traz os primeiros sinais de alívio, mas a cautela ainda é necessária

A Praia de Ipanema lotada, em um fim de semana de feriado, foi sempre uma cena de celebração, a cara mais adorável e calorosa de um Rio de Janeiro tão frequentemente ferido. Neste ano, contudo, em plena pandemia do novo coronavírus, houve quem relacionasse a aglomeração a boa dose de irresponsabilidade. Evidentemente, havia ali quem pouco se incomodasse com as recomendações de saúde – mas uma boa parcela das pessoas desceu para a areia no último fim de semana, debaixo de sol forte, apenas porque, munida de informações reais, atenta às curvas de casos e mortes de Covid-19, e depois de seis meses de confinamento, viu no horizonte sinais de alívio. Não se trata, de modo algum, de esquecer as trágicas mais de 135.000 mortes deste 2020 interminável, marca pesada e triste de um país que não soube lidar com a mais agressiva crise sanitária de nosso tempo. As perdas precisam ser lembradas e relembradas, para que não se multipliquem ou sumam, e nada é mais constrangedor do que saber que o Brasil ocupa o terrível segundo lugar em óbitos em decorrência do vírus, atrás apenas dos Estados Unidos. Mas há, sim, janelas de esperança traduzidas em estatística.

Desde a notificação da morte número 1, em março, e depois de três meses de permanência em um platô incômodo, com média móvel superior a 1.000 óbitos diários, o país alcançou, finalmente, uma queda consistente nas mortes por Covid-19. No sábado 5 de setembro, a média de mortes no Brasil foi de 820, variação negativa de 18% em relação às duas semanas anteriores. Os epidemiologistas trabalham com redução na casa dos 15% para considerar o movimento de queda consistente. Ela chegou. Outro indicador do recuo da pandemia no Brasil é a taxa de transmissão da doença. Em agosto, o país conseguiu reduzir o índice para abaixo de 1, nível considerado de controle, segundo as balizas do rígido Imperial College, de Londres. O número indica para quantas pessoas cada infectado transmite o vírus. Nesta semana, a taxa teve uma leve piora, subindo para 1, mas está a anos-luz do número registrado no auge da disseminação, quando chegou a 3. Mesmo com o leve aumento, o Brasil tem taxa menor que a de outros países sul-americanos e europeus, como Venezuela, Chile, Argentina, Paraguai, Reino Unido, Portugal, Itália e Espanha. Na quarta-feira 9, as mortes recuaram em dezenove estados da Federação. Em sete, houve manutenção dos números. Apenas em Roraima deu-se aumento da média móvel. Pode-se dizer, enfim, que a epidemia oferece indícios mais do que razoáveis de perder força no Brasil.

A inclinação na curva de óbitos por Covid-19 é creditada ao aprendizado adquirido em relação ao tratamento e acompanhamento dos pacientes. Ao longo de oito meses de pandemia no mundo, descobriu-se quem são os grupos de risco, a importância do diagnóstico e acompanhamento precoce dos infectados, além de tratamentos eficazes contra a doença. As evidências mais recentes comprovaram que corticoides comuns reduzem a mortalidade de doentes graves quando aplicados no sétimo dia, por exemplo. Diz o infectologista e epidemiologista Bruno Scarpellini, da PUC do Rio de Janeiro: “Saber que a dexametasona faz diferença em pacientes graves é um divisor de águas”. Outra hipótese é a possibilidade de o vírus ter se tornado menos virulento, ou seja, ter evoluído de forma a causar uma enfermidade menos agressiva. “Os médicos têm observado casos mais leves. Mesmo nos pacientes internados, o quadro não é tão grave quanto era em abril”, diz Scarpellini. O fenômeno também é percebido na Europa. Muitos países enfrentam um aumento no número de casos, o que indica uma segunda onda, mas não no número de óbitos.

A inexorável movimentação, que tende a ganhar ímpeto, embora nunca se deve subtrair a possibilidade de alguma reviravolta e recuo, é avenida aberta para a introdução da peça tão ansiosamente esperada: a vacina, cuja procura rapidamente se transformou em alimento da diplomacia internacional e de governos em busca de votos. Nos Estados Unidos, a corrida pelo imunizante virou retórica eleitoral. O presidente Donald Trump, que briga pela reeleição, insinuou poder anunciar, antes mesmo de 3 de novembro, data da eleição presidencial, a boa-nova. “Teremos em breve essa incrível vacina, com velocidade nunca vista antes”, disse. Trump, é claro, acusou seu adversário, o democrata Joe Biden, de estar trabalhando contra a maré e fez do hipotético anúncio uma bandeira de campanha. Causou espanto, contudo, a revelação de que, no mesmíssimo dia em que Trump proferiu o discurso de confirmação da candidatura, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) remeteu aos departamentos de saúde dos 51 estados americanos diretrizes para o preparo de ambientes refrigerados de modo a armazenar dois tipos de imunizantes contra o novo coronavírus e indicações de quem deveria receber primeiro a vacina – profissionais de instituições hospitalares. Embora o presidente americano seja conhecido pelas suas bravatas, e esteja ansioso para usar politicamente o anúncio de uma vacina, as instituições nos EUA são sérias e parecem estar se preparando para o grande dia. Tomara que seja logo.

Há, na mesa dos laboratórios, ao menos 180 vacinas sendo testadas – nove delas já estão na derradeira etapa, a fase clínica 3, submetidas a dezenas de milhares de testes em seres humanos (veja no quadro ao lado). Quatro delas atraíram voluntários no Brasil: as da Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica britânica AstraZeneca, a chinesa Sinovac Biotech e as americanas da Pfizer e da Johnson & Johnson. Existem percalços, e não é prudente desdenhá-los. Na terça-feira 8, a AstraZeneca suspendeu, temporariamente, os testes com a vacina em todo o mundo, inclusive no Brasil, em parceria com a Unifesp e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. O motivo: evento adverso imprevisto em uma voluntária do Reino Unido. Houve espanto, as ações da empresa nas bolsas de valores despencaram, mas essa foi uma medida de segurança. Tudo indica que os trabalhos serão retomados, depois da compreensão exata do que ocorreu – é zelo natural de qualquer iniciativa científica, sobretudo atrelada à vida das pessoas. Trata-se de uma freada, não uma interrupção. “A ação da AstraZeneca de interromper de forma ética e sem hesitar o processo de pesquisa ao mais remoto sinal de que algo pode estar errado, mesmo que tudo esteja certo, foi correta e exemplar”, diz o geneticista Salmo Raskin, diretor do Genetika, Centro de Aconselhamento e Laboratório de Genética, em Curitiba.

Essa é a diferença entre política e ciência. Em nome de mais votos ou aprovação popular, os processos não podem ser antecipados nem se pode fazer uma aposta em medicamentos que ainda não tiveram sua comprovação atestada. Não é prudente, por exemplo, ao arrepio de informações concretas, agir como o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, que anunciou em alto e bom som depois de uma reunião ministerial: “Em janeiro do ano que vem a gente começa a vacinar todo mundo”. Tomara, mas e se houver atrasos, como pode acontecer com o produto de Oxford e da AstraZeneca? As duas partes da frase de Pazuello carregam problemas. A chegada das doses em janeiro é, por ora, uma possibilidade e uma imensa vontade – os laboratórios correm, têm pressa, a velocidade é fascinante, mas nenhum deles marcou oficialmente datas no calendário. Oferecer vacina a todo mundo, e aqui entramos na segunda porção do comentário de Pazuello, é uma dificuldade colossal, que exige dinheiro e inteligência, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil. Depois de aprovada uma substância, o nó será distribuí-la, numa inescapável operação de guerra.

Para antecipar o esforço logístico que promete ser o maior e o mais amplo de toda uma geração, a operadora de entregas DHL Logistics e a consultoria McKinsey apresentaram um estudo com números superlativos. A projeção -, é que serão necessários 15.000 aviões e 15 milhões de caixas térmicas com barras de gelo para distribuir 10 bilhões de doses de vacina por todo o planeta. Mas, para imunizar 90% da população global, pode ser preciso produzir mais de 17 bilhões de doses. Não, esse número não está superestimado, em um planeta com 7,8 bilhões de pessoas. Calcula-se que entre 20% e 30% das doses se percam durante o transporte, danificadas por temperaturas além do desejado, e o momento da aplicação. No Brasil, contudo, o Ministério da Saúde prevê apenas 10% de perdas no processo, em virtude da experiência do país na distribuição de vacinas. “Nossa capacidade é histórica, distribuímos mais de 300 milhões de doses de vacina por ano, temos competência balizada e comprovada com relação à capacidade logística e de capilaridade”, disse o secretário em Vigilância de Saúde, Arnaldo Medeiros. “São 37.000 postos de vacinação no país. A vacina contra a Covid-19 não tende a ser tão diferente de qualquer outra.”

A boa notícia é que teremos o produto por aqui, logo que a sua eficácia científica ficar comprovada. O governo de São Paulo fechou acordo para a produção de 120 milhões de doses da vacina de origem chinesa. No Rio, a Fiocruz está se preparando para produzir 30 milhões de unidades. Há dois meses, vinte pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio, têm reuniões diárias com representantes da farmacêutica AstraZeneca para discutir aspectos técnicos e começar a produção, em dezembro e janeiro. Há, ainda, um acordo com o Ministério da Saúde para a fabricação de outros 70 milhões de doses. Maior produtor mundial da vacina contra a febre amarela e fabricante de outros sete imunizantes (tríplice viral, pálio e rotavírus, entre eles), o complexo de Bio-Manguinhos, a unidade fabril da Fiocruz, foi escolhido para desempenhar esse papel por possuir uma robusta linha de produção montada. “Tudo está acontecendo em ritmo acelerado porque nesta primeira fase, quando o insumo será importado, só precisaremos fazer ajustes na nossa estrutura”, diz Maurício Zuma, diretor de Bio-Manguinhos.

As salas para a formulação e as linhas de envase e embalagem da vacina já estão reservadas e os equipamentos passam por revisões e testes. Pelo contrato firmado entre o governo brasileiro e a farmacêutica do Reino Unido também será feita a transferência de tecnologia (o segredo industrial) para a Fiocruz. A instituição carioca tem o apoio de um grupo de empresas e organizações, entre elas a Fundação Lemann, que fizeram uma doação de 100 milhões de reais. “Saímos na frente porque já temos uma grande estrutura. Só para encomendar da Europa e montar o maquinário da derradeira etapa de produção, levaríamos uns dois anos”, estima Luiz Lima, vice-diretor de produção da Fiocruz.

No paulistano Instituto Butantan, o trabalho com a chinesa Sinovac Biotech anda a passos largos. A vacina, a Coronavac, está sendo testada em 9.000 voluntários de cinco estados brasileiros e o Distrito Federal. A estimativa inicial é que todos os pacientes recebam as duas doses do medicamento, ou placebo, até o fim deste mês. Não há relatos de problemas de rejeição entre os que já receberam o fármaco, somente dor no local da aplicação e quadros de indisposição, reações aguardadas nesse tipo de teste. O acordo é negociado inteiramente pelo Butantan direto com a farmacêutica chinesa por meio de ligações diárias em um aplicativo de vídeochamadas semelhante ao Zoom. “São duas sessões diárias, às 10 e às 22 horas, para atenuar o fuso horário entre os dois países”, diz o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. O que já foi combinado a distância é a entrega de 15 milhões de doses iniciais do fármaco pronto para aplicação, em seringas. O envio será feito em três lotes de 5 milhões de doses entre outubro e dezembro.

Há, enfim, muito otimismo. O pior momento, de fato, passou. Temos menos mortes, menos casos, as curvas exibem a nova realidade, a taxa de contágio chegou a patamares toleráveis. Ensaia-se o retorno às aulas presenciais, apesar do receio de pais e professores. Os cidadãos começam, enfim, a respirar, a ter coragem de sair do confinamento. A vida precisa continuar, sem jamais deixarmos de homenagear os mais de 135.000 brasileiros que partiram. 

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 20 DE SETEMBRO

O POVO MAIS FELIZ DA TERRA

Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus… (Mateus 5.12a).

O povo de Deus é o povo mais feliz da terra. O evangelho que o alcançou é boa-nova de grande alegria. O reino de Deus que está dentro dele é alegria no Espírito Santo. O fruto do Espírito é alegria e a ordem de Deus é: Alegrai-vos! Moisés, antes de concluir o livro de Deuteronômio, traz uma palavra ao povo de Israel nos seguintes termos: Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo SENHOR (Deuteronômio 33.29a). O povo de Deus é um povo feliz, muito feliz. E por várias razões. É feliz porque foi escolhido por Deus desde a eternidade. É feliz porque é o objeto do cuidado amoroso de Deus em todas as circunstâncias. É feliz porque, além das bênçãos da graça comum, também e sobretudo, é o povo salvo pelo Senhor. A salvação é a maior de todas as dádivas. É um presente de consequências eternas. É um presente caro que nem todo o ouro da terra poderia comprar. Esse presente custou tudo para Deus, custou a vida do seu Filho. Deus nos deu a salvação como um presente gratuito. Nada fazemos para conquistá-la e nada temos para merecê-la. Nós a recebemos graciosamente. Isso é graça bendita. É favor imerecido. É amor sem igual. A felicidade do povo de Deus decorre dessa verdade maiúscula: somos salvos pelo Senhor!

GESTÃO E CARREIRA

VAI DE ESFIHA OU LASANHA?

Rede que popularizou a comida árabe no Brasil tenta recuperar perdas da pandemia investindo em culinária italiana, unidades express e vendas pela internet.

Quem ler sobre a história de qualquer grande companhia de fast-food vai achar tudo perfeito. Uma ideia genial que deu certo, sucesso de público e cardápio (segundo eles) irresistível. No caso da rede Habib’s, não é diferente. Trinta e dois anos se passaram desde que a empresa abriu a primeira unidade em São Paulo. De 1988 até hoje, os restaurantes da marca popularizaram a culinária árabe entre as classes C e D e conquistaram consumidores fiéis pelo Brasil, principalmente no triângulo Rio-São Paulo-Minas. O sucesso da sua política de preços acessíveis, com esfihas custando centavos (hoje a R$ 1,25), logo ampliou a visão empreendedora do fundador e atual CEO, o empresário luso-brasileiro Alberto Saraiva, e inspirou a criação de outro braço de negócio – em 1991, apenas três anos depois, nascia o Ragazzo, especializado em cardápio italiano, em São Caetano do Sul (SP). Ano a ano, as marcas expandiram os horizontes, atingiram 628 unidades, sendo 340 do Habib’s e 288 do Ragazzo. No ano passado, com vendas estimadas em R$ 2,7 bilhões, o grupo ficou atrás apenas de Burger King (R$ 2,8 bilhões) e do líder do segmento, a McDonald’s (R$ 5,3 bilhões).

Mas, como na vida, a trajetória da empresa não é feita só de boas recordações. O sucesso da rede nas últimas décadas contrasta com o sufoco que a empresa vem enfrentando nos últimos meses. A exemplo do que ocorreu com todo o comércio não essencial, as lojas do Habib’s e do Ragazzo tiveram de fechar as portas em meados de março – atendendo apenas por delivery e retirada. Resultado: queda “acentuada” no faturamento, demissões nas áreas administrativas e em algumas lojas (os números são mantidos em sigilo), renegociação de contratos com fornecedores, com proprietários de imóveis, com bancos, além de cortes de salários sob o amparo da Medida Provisória 936. “Estamos sofrendo, mas acho que vamos sair fortalecidos”, disse o diretor de operações, Mauro Saraiva, primo do fundador e hoje principal executivo da companhia. “As empresas, de uma maneira geral, estão sofrendo também. Fazendo a lição de casa, com mais produtividade, e sair dessa.”

Após período de queda de mais de 90% no movimento, as vendas começam a apresentar crescimento gradual, embaladas pelo fato de 85% das unidades das marcas estarem situadas em ruas e, com os salões fechados, permitidas a fazer o atendimento via drive thru (ativado em 70 lojas que não possuíam) e delivery – ambos os serviços apresentaram crescimento de 50% na quarentena. “Hoje, estamos com 70% a 75% do volume de movimento pré-crise, no Habib’s e no Ragazzo.” A retomada das vendas, segundo Saraiva, se deve principalmente à ampliação dos canais digitais das marcas, além da abertura de novas unidades express do restaurante voltado à culinária italiana. Serão ao menos 100 entre as 120 inaugurações previstas para este ano. “Estamos andando cinco anos em cinco meses. Tudo o que estava no nosso roadmap de inovação, de novos modelos de negócios, de novas jornadas com o consumidor, foi posto à prova”, disse o executivo.

INICIATIVAS

No que depender do apetite do diretor de operações, a retomada seguirá forte. Considerando a máxima de que “nada será como antes, será melhor”, a organização criou um plano de ações intitulado Mais Atitude, Menos Crise com 41 oportunidades, como novos canais e modelos de atendimento, por exemplo, para que possa atravessar a pandemia da melhor maneira. “O foco esteve sempre em oferecer o melhor produto, com menor preço possível e qualidade no atendimento”, afirmou Saraiva.

As práticas têm ajudado a companhia a atenuar os efeitos da crise e a se fortalecer. As atitudes às quais o executivo faz referência englobam os diversos canais de relacionamento com os clientes. Além do drive thru e do delivery, o take away (para retirar) conquistou a clientela. O consumidor faz o pedido por meio dos aplicativos das duas bandeiras ou do parceiro iFood e realiza o agendamento para retirada em uma das lojas, sem precisar aguardar em fila de espera e a necessidade de sair do veículo. “Essa multicanalidade nos permitiu transitar por essa crise da melhor maneira e mais fortalecidos.” Ele estima investimento próprio de R$ 30 milhões nos próximos 12 meses na aquisição e na troca de sistemas, em hardware e em software. No montante, não estão incluídas a parte do budget anual e a que será subsidiada por parceiros para complementar o processo de digitalização dos atendimentos, além da modernização das lojas – os valores são mantidos em sigilo.

DIVERSIFICAÇÃO

Para o especialista em varejo Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese, a diversificação na forma de atendimento é essencial em momento de pandemia, com muitos salões de lojas ainda fechados. “Se você consegue aumentar a capilaridade, diversificar as formas de atender, ter uma loja mais versátil, isso tudo pode funcionar”, afirmou. No entanto, ele chama atenção ao fato de que, no ramo de food service, isso não basta. As lojas precisam estar perto do cliente e preparadas para recebê-lo. “Estamos em uma situação transitória. As pessoas vão voltar a consumir fora de casa.”

Com pensamento na segurança dos clientes nos salões, reabertos recentemente em muitos estados, as duas bandeiras realizaram uma série de mudanças para a retomada, como digitalização do cardápio – por QR Code e via tablet –, autoatendimento via Toten, disponibilização de utensílios descartáveis nas mesas, além da instalação de 27 pontos de álcool em gel no interior das lojas. “Temos alarme em todas as unidades que tocam de meia em meia hora para lembrar as equipes que chegou o momento de se dirigirem aos postos de higienização”, disse o executivo. Os salões representam cerca de 45% do volume de vendas de cada unidade.

ATENÇÃO ESPECIAL

Os franqueados atingidos pela proibição de funcionamento, principalmente os estabelecimentos em shoppings centers, receberam atenção especial. Entre as medidas adotadas pela organização para reduzir os impactos do isolamento social nas operações estão descontos em royalties e propaganda, nos produtos fornecidos pelas indústrias próprias, congelamentos de preços, redução no valor das taxas de intermediação dos pedidos do delivery, negociações com parceiros financeiros e de aluguéis, além do congelamento de dívidas vencidas.

Outra estratégia adotada pelas bandeiras para ampliar as vendas foi a introdução nas lojas da ghost kitchen (cozinha exclusivamente voltada ao delivery), o que permitiu ao Habib’s vender o cardápio do Ragazzo e vice-versa. “Complementamos a receita do franqueado que não tinha essa opção. E levamos ao público aquilo (marca e produto) que ele não conhecia ou que gostaria de pedir”, disse Saraiva. Para Serrentino, da Varese, as empresas estão testando mais. “Isso é muito saudável e positivo. Um pouco da cultura de uma startup. Ou seja, testa tudo, experimenta tudo e depois investe no que dá certo.” Um Habib’s à italiana pode ser a saída do imbróglio chamado quarentena.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A NOITE DE UM DIA DIFÍCIL

Um minucioso levantamento feito por algoritmo a partir de 24.000 relatos oníricos revela que os sonhos podem ser apenas uma continuidade do que ocorre no cotidiano

Os sonhos foram sempre uma ferramenta para tentar escrutar os desvãos recônditos da mente humana. Entendê-los seria um atalho para superar traumas ou, ao menos, um luminoso caminho de compreensão dos problemas do cotidiano. Em muitas culturas, serviram de peça de encaixe no quebra-cabeça de visões do futuro – no livro do Gênesis, da Bíblia, José, o filho de Jacó, interpreta os sonhos do faraó egípcio de vacas gordas ou vacas magras como predição de bonança ou tempestade. Há 500 anos, os chineses criaram um minucioso dicionário de relatos noturnos para ajudar a explicar o que acontecia durante o dia. Mas foi só na virada do século XIX para o século XX, com A Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud, que os filmes que ocupam as mentes durante o período de sono viraram assunto sério e científico. Para Freud, a grosso modo, os sonhos seriam a realização de desejos escondidos, desejos que, invariavelmente, não realizamos em decorrência das imposições sociais, quase sempre atreladas a impulsos sexuais ou violência. Não se trata, evidentemente, de negar a beleza do raciocínio freudiano, alicerce de nossa civilização, muito menos de negá-lo definitivamente, mas novas pesquisas começam a explicar, com precisão inédita, por que sonhamos. Trata-se, enfim, de interpretá-los mais modestamente.

Os sonhos, é o que se revela agora, talvez sejam apenas uma continuidade natural do dia, das horas que permanecemos acordados – dormir e estar acordado seriam condições semelhantes, uma na cama, de olhos fechados, outra na vigília, de olhos abertíssimos, mas sem grandes enigmas psicanalíticos. Um trabalho organizado por pesquisadores da Universidade Roma Tre, da Itália, publicado na semana passada na prestigiada revista Royal Society Open Science, chegou a essa conclusão depois de usar inéditos mecanismos de inteligência artificial associados a algoritmos para cruzar informações de um banco de dados dos Estados Unidos com o registro de 24.000 relatos oníricos divididos por idades, gêneros, classes sociais, períodos históricos e temas, anotados entre 1930 e 2017. “Os sonhos podem ser mero reflexo de como nos sentimos durante o dia ou em determinado momento de nossa vida, e por isso sonhamos frequentemente com algo relacionado a um episódio traumático”, disse Luca Maria Aiello, um dos autores do trabalho, pesquisador sênior do Nokia Bell Labs do Reino Unido. “O mundo onírico complementa a vida real. Por isso é importante prestar atenção aos sonhos, eles podem nos dar algumas informações valiosas.”

O lote de descobertas do trabalho é interessantíssimo ao definir pontos comuns em milhares de viagens na cama. Verificou-se, no levantamento, que mulheres têm sonhos menos violentos do que os homens. Dos 14 aos 17 anos há, invariavelmente, nos braços de Morfeu, interações sociais negativas e confrontação permanente. Dos 18 aos 25 anos, as interações passam a ser naturalmente mais dóceis e amigáveis. Veteranos da Guerra do Vietnã, expostos ao sangue do conflito, ainda sonham com agressões, com tiros e bombas. Os deficientes visuais, que usualmente têm o socorro diário e positivo de outras pessoas, sonham placidamente – e os totalmente cegos criam mais personagens imaginários do que os aptos. Esse pacote de experiências, para muito além da satisfação pessoal – a fascinante informação de que sonhos tendem a se repetir de uma pessoa para outra, em situações semelhantes de vida -, pode oferecer uso coletivo. “Como os sonhos refletem o que acontece na realidade, os eventos coletivos impactam a maneira como populações inteiras sonham”, afirma Aiello. Esse comportamento de rebanho já foi identificado em torno dos ataques terroristas de 11 de setembro e começa a ser investigado em relação à Covid-19. Há trabalhos de investigação na busca de algum padrão de resposta noturna ao medo do novo coronavírus. “Encontrar esse padrão, com a ajuda de modelos matemáticos, seria muito atraente para lidar com desafios globais com impacto na psique de todos, como são as guerras, as crises financeiras e as pandemias”, diz Aiello.

Os conflitos, ao alimentarem momentos de desconforto da realidade, são um poderoso fomento para os sonhos. No livro Sonhos no Terceiro Reich, a alemã Charlotte Beradt (1907-1986) foi atrás de uma indagação: seria ela a única a estar tendo pesadelos terríveis, misturando-os a personagens e leis estúpidas do nazismo? Charlote entrevistou 300 berlinenses entre 1933 e 1939 e descobriu que o horror era parte comum dos sonhos da população. Descobriu, enfim, que uma célebre frase de um oficial do Partido Nazista, Robert Ley, era uma verdade: “O único ser humano que ainda possui uma vida privada na Alemanha é aquele que está dormindo”. Os sonhos não autorizam privacidade. Tê-los é como estar acordado – e nem sempre são o inconfesso retrato de vontades disfarçadas. Convém deixar Freud um tantinho de lado e, quem sabe, ficar com o comentário melancólico das dores de amores de John Lennon e Paul McCartney no clássico e fácil rock A Hard Day’s Night, a “noite de um dia difícil”. Os sonhos costumam ser simples assim.

EU ACHO …

O MUNDO SERÁ 5G

As conexões 3G democratizaram o acesso às redes. O 4G ofereceu mais entretenimento e programas de mobilidade urbana. Mas nada se compara à nova era que começa agora

A imaginação é uma das mais valiosas características da civilização. Fonte de ideias e catalisadora da criatividade, permite ao ser humano ver além do tempo presente, vislumbrar e até mesmo criar o futuro. Pensando nisso, proponho aqui um exercício de reflexão: como você imagina que a tecnologia impactará sua rotina nos próximos dez anos? Em poucos segundos, sua imaginação oferecerá uma série de possibilidades para responder a essa pergunta. E, posso assegurar, a materialização de grande parte dessas ideias está intrinsecamente conectada a dois pontos: o aprimoramento e a expansão da rede 5G.

Para projetarmos o futuro, é indispensável um olhar atento ao presente. Com a intensificação da integração entre pessoas e tecnologia que vem ocorrendo nos últimos meses, é nítida a necessidade de desenvolvimento de plataformas capazes de oferecer mais velocidade, suporte a múltiplos usuários simultaneamente, sem perda de desempenho, e maior nível de confiabilidade, sempre levando em consideração as particularidades de privacidade e segurança de dados.

Nas gerações anteriores de conexão, o 3G teve papel fundamental na democratização do uso da internet móvel, facilitando a navegação em redes, o acesso a e-mails e o compartilhamento de fotos. O 4G, por sua vez, possibilitou a criação de novos serviços relacionados a mobilidade urbana, delivery e elevou o nível de entretenimento em dispositivos móveis, com plataformas de streaming de vídeo e áudio. Nada disso, porém, se compara ao que o 5G pode proporcionar.

Em constante evolução, o 5G é um pilar de transformação do mundo como o conhecemos. Por meio de sua capacidade de conexão e congruência com o conceito de Internet das Coisas, impactará diversos setores da indústria, como saúde, construção civil, mobilidade urbana, agronegócio, logística e telefonia. Modificará a arquitetura das cidades, casas e economia. Mais do que isso: mudará nossa vida.

A rede 5G é peça-chave na construção de veículos autônomos, fortalecendo a inteligência artificial (IA), gerando informações em tempo real e diminuindo o tempo de reação de acordo com cada situação. Na telemedicina, o 5G viabilizará a realização de alguns procedimentos mesmo com o médico a quilômetros de distância do paciente. Modelos de empresas, escritórios e fluxos de trabalho serão repensados. Além de otimizar as indústrias existentes, o 5G contribuirá para o surgimento de novos modelos de negócio e formas de relacionamento.

Um dos pontos mais relevantes do 5Gserá, justamente, a potencialização do desenvolvimento de dispositivos convergentes ao conceito de Internet das Coisas. Cada vez mais produtos, dos mais variados tipos, passarão a operar on-line, criando, assim, uma grande rede integrada. Casas automatizadas ganharão ainda mais força, com os equipamentos eletrônicos conectados a um único sistema, desde o smartphone até a televisão, o notebook, o refrigerador, o aspirador, o ar-condicionado e a lavadora.

Grandes companhias em todo o mundo já estão voltando seus investimentos para o desenvolvimento de soluções com base no 5G. A Samsung assumiu uma posição de liderança na busca pela ampliação de produtos que sejam integrados à nova rede. De acordo com estudo conduzido pela Universidade Técnica de Berlim e pela IPlytics, divulgado em janeiro deste ano, a empresa é a que mais registrou patentes para 5G no mundo (2.633), com diversas aplicações, inclusive, já existentes em equipamentos como smartphones. A implementação da rede 5G e a tangibilização de produtos que tenham o 5G como ponto central serão graduais, assim como ocorre com as principais e mais inovadoras tecnologias disponibilizadas no mercado. Em um primeiro momento, a mudança mais evidente será em atividades comuns do cotidiano, potencializadas pelo substancial aumento da velocidade de conexão e pelo nível de desempenho de dispositivos com essa rede de conexão.

Nos países em que a rede 5G começou a ser implementada, como Coreia do Sul, Estados Unidos, Emirados Árabes e Alemanha, já é evidente o avanço na comunicação e nas opções de entretenimento, por exemplo. A alta velocidade e o nível de performance garantem urna conexão estável e imagens de alta qualidade em videoconferências. O aumento da capacidade de desempenho melhora a experiência de consumir e baixar conteúdo em plataformas de streaming de vídeo. Oferece, também, a possibilidade de que as pessoas desfrutem, no smartphone, mais qualidade e variedade de games, que antes eram disponibilizados apenas em consoles ou computadores.

Na América Latina, a expectativa é que, conforme a rede 5G seja expandida, os países da região, principalmente Brasil e México, que estão entre as nações em que a população mais utiliza a internet no mundo, tenham essa tecnologia como ponto central do contínuo desenvolvimento social, diminuindo as barreiras de acesso à educação e saúde de qualidade. Pois, além de otimizar as indústrias existentes, contribuirá para o surgimento de novos modelos de negócio e formatos de relacionamento. E essa, talvez, seja uma das principais razões pelas quais eu acredito que sua implantação possa vir a ser mais rápida que as gerações de conexão anteriores.

O momento atual reforça um caminho sem volta, uma estrada inescapável já inaugurada: o futuro exigirá uma integração ainda mais ampla e acelerada entre humanidade e tecnologia. Mais do que isso, essa valorosa união será benéfica ao criar mais oportunidades e integração entre famílias e culturas, que estarão a apenas um clique de distância, e ao vencer os desafios que aparecerão no caminho da humanidade, proporcionando uma qualidade de vida superior. Afinal, a tecnologia deve sempre estar a serviço das pessoas.

**MÁRIO LAFFITTE – é vice-presidente de Relações Institucionais da Samsung na América Latina

OUTROS OLHARES

SUCESSOS DA QUARENTENA

A pandemia criou novos hábitos de consumo: o maior tempo em casa fez com que produtos como cadeiras e pijamas virassem campeões das vendas online

É difícil imaginar que um dia pijamas e quebra-cabeças seriam os itens com maior crescimento nas buscas do Google, mas aconteceu. Junto às fritadeiras elétricas, cadeiras de escritório, pantufas e aspiradores de pó, esses produtos são os maiores objetos de desejo da quarentena. Se não há festas, por que comprar um vestido? Para o especialista em consumo Renato Meirelles, responsável pelo Instituto Locomotiva, entidade que analisa padrões de comportamento e compra, o processo de escolhas é natural. “No início, as pessoas compraram o que era prático e necessário”, diz Meirelles. “A importância dada a um produto, porém, é diferente entre as camadas sociais. Há moradias na favela que valorizam TVs de alta de definição, porque são fontes de entretenimento nesse período.”

PANTUFAS E MOLETONS

O professor universitário Tiago Andrade aproveitou a quarentena para realizar uma mudança radical em seu apartamento. “Nas primeiras semanas, dei aulas online na mesa da cozinha. Quando vi que o vírus veio para ficar, percebi que precisava montar uma estação de trabalho melhor.” Tiago comprou um computador novo, uma mesa e uma cadeira “gamer”, modelo voltado para quem passa longas jornadas na frente da tela. “Essas cadeiras são ideias para quem passa horas jogando videogame. Tem ajustes até para o pescoço”, afirma o professor, que chega a ficar mais de 46 horas sentado à frente do computador por semana.

Segundo o Google Trends, plataforma que analisa os termos mais buscados no Google, os quebra-cabeças tiveram um aumento de 150% nas buscas em maio, algo inédito até em datas como Natal e Dia das Crianças. A estudante Giovana Cassoni, de 17 anos, aproveitou as férias para montar quatro quebra-cabeças. Adquiriu ainda um kit complementar, com tapete imantado e potes organizadores para as peças. “Montar quebra-cabeças foi bom para passar o tempo, além de ser tranquilizante. Também me ajudou a ter uma pequena meta a ser cumprida”, diz Giovana.

Antes da pandemia, as reuniões da assessora de comunicação Amanda Rinaldi com clientes exigiam um figurino elegante. Hoje, passando mais tempo em casa, ela investiu em roupas confortáveis. “Comprei três pijamas e dois casacos de moletom”, diz Amanda. Com aumento de 500% nas buscas na quarentena, o pijama virou a peça mais querida do guarda-roupa.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 19 DE SETEMBRO

MEMÓRIAS QUE TRAZEM ESPERANÇA

Quero trazer à memória o que me pode dar esperança (Lamentações 3.21).

Jeremias foi testemunha ocular da destruição de Jerusalém. Viu a cidade cercada pelos inimigos e saqueada de suas riquezas. Viu o templo queimado e o povo passado ao fio da espada. Houve pranto e dor; gemidos e lamentos. Os velhos eram pisados pelas botas dos soldados caldeus, e as crianças eram arrastadas pelas ruas como lama. As jovens eram forçadas, e as mães choravam por seus filhos. O quadro era de total desolação. O profeta chorou amargamente essa realidade sofrida. Chegou, porém, um momento em que ele resolveu estancar no peito sua dor. Deixou de alimentar sua alma de absinto e buscou nos arquivos da memória aquilo que lhe poderia dar esperança. Jeremias tomou a decisão de recomeçar. Aqueles que alimentam a alma apenas com lembranças amargas adoecem. Aqueles que não se libertam do passado e não colocam o pé na estrada do recomeço acabam sendo vencidos pela mágoa. Como Jeremias, é importante tomar uma decisão: trazer à nossa memória aquilo que nos pode dar esperança. A única esperança que temos é a mesma que consolou Jeremias: As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha  porção  é o  SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele (Lamentações 3.22- 24).

GESTÃO E CARREIRA

A BELEZA SEGUNDO JESUS

Empresário carioca Daniel Fonseca de Jesus, que fundou a Niely e a vendeu para a L’Oréal, deve superar R$ 100 milhões em vendas neste ano com sua nova empresa, a Duty Cosméticos.

Quando a fabricante brasileira de cosméticos Niely foi vendida para a francesa L’Oréal, em 2014, muitos imaginavam que o fundador da maior empresa de produtos de beleza para pele e cabelo afro, Daniel Fonseca de Jesus, se tornaria um nome fora no cenário em pouco tempo. Com R$ 1 bilhão no bolso, porém, ele decidiu começar de novo, e investiu R$ 200 milhões para lançar sua nova marca, a Duty Cosméticos. Assim, Jesus voltou ao promissor mercado nacional da beleza – e tem conseguido multiplicar seus resultados.

Com atenção voltada aos cabelos das mulheres das classes C e D, a companhia, sob gestão da filha, Danielle de Jesus, comercializa produtos para coloração, além de xampus e condicionadores, e calcula faturar R$ 100 milhões em 2020. O foco inicial está nos pontos de venda de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “O Brasil tem dimensões continentais e um mercado consumidor enorme que busca novidade, qualidade e preço justo. Estamos expandindo e vamos levar a marca para todos os cantos do País. Com o nosso e-commerce, já entregamos de Norte a Sul”, diz a vice-presidente Danielle, em entrevista à DINHEIRO.

A herdeira e empresária tem se mostrado satisfeita com a resposta dos consumidores aos produtos da empresa, apesar do curto tempo nas prateleiras – a comercialização começou em outubro, um mês após a apresentação da marca ao setor. “Estamos muito felizes com a aceitação do mercado. Sabemos que o ramo de cosméticos é maduro, com grandes marcas consolidadas. Conseguimos abrir os principais clientes do mercado conforme nosso plano de distribuição para 2019. Também batemos nossa meta de vendas no e-commerce”, afirma ela, sem revelar números.

Para a vice-presidente, a experiência do pai no ramo e a aposta da Duty nas classes C e D da população são essenciais para o fortalecimento da marca no País. “Daniel de Jesus possui anos de experiência no mercado, chegando a conquistar marcas inéditas no setor de cosméticos com uma empresa nacional e familiar”, diz ela, destacando os maiores legados de seu pai, como o conhecimento da consumidora brasileira e, principalmente, relacionamento com a malha de clientes de perfumaria, distribuidores, atacado e varejo. “A aposta nas camadas C e D se dá por causa da realidade no nosso País, onde a grande maioria da população se encontra nessas classes. É uma forma de chegar a todo o Brasil levando produtos de qualidade e a preço justo.”

MERCADO

O avanço da Duty no mercado brasileiro de cosméticos se dá em momento de transformações no ramo, que registrou crescimento real de apenas 0,69% em 2019. Para 2020, se estima avanço de 1,54%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal e Cosméticos (Abihpec). Aquisições ou fusões estão entre as estratégias traçadas pelas empresas para ampliar mercado e conquistar consumidores. A compra da Avon Products pela Natura &Co, no ano passado, aqueceu o setor, que já há alguns meses acompanha as negociações para comercialização da francesa Coty, dona de marcas como Monange, Risqué e Bozzano. A empresa prevê faturar entre US$ 8 bilhões (R$ 33 bilhões) e US$ 9 bilhões (R$ 37,1 bilhões) com as vendas da divisão de produtos profissionais para cabelo e unha, como Wella e Clairol, e da operação brasileira. Meta é reduzir dívida líquida de US$ 7,4 bilhões (R$ 30,5 bilhões), além de simplificar a estrutura.

O Grupo Boticário está entre os interessados no ativo da Coty, a exemplo do empresário Daniel de Jesus. Danielle, no entanto, não confirma a informação, mas admite futuras aquisições. “A Duty, no momento, está focada em desenvolver suas marcas próprias, mas tendo o objetivo de ser uma grande empresa de beleza. Porém, não descartamos a possibilidade de adquirir empresas do mercado”, afirma.

A empresa tem fortes aliados em busca da expansão. O empresário Jorge Paulo Lemann e os sócios Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira compraram participação na Duty Cosméticos ainda em 2019. Fatia adquirida e quantia desembolsada não foram reveladas pelas partes. “Temos contrato de confidencialidade com nossos sócios”, afirma a vice-presidente.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ELOGIO PODE, SIM, SER DEMAIS

A ciência mostra que enaltecer o tempo todo as conquistas e qualidades dos filhos tem o efeito de despregá-los da realidade e levar à insegurança e à aversão ao risco

Sai uma geração, entra outra e o debate sobre o ponto de equilíbrio entre o liberal e o severo na educação dos filhos segue firme. Cada família, imersa em sua própria cultura e modo de enxergar o mundo, envereda por uma trilha, num processo quase que intuitivo, à base de tentativa e erro. Mas já há boa ciência acumulada nesse terreno – um conhecimento capaz de derramar luz sobre os dilemas vividos por qualquer pai ou mãe e lhes dar algum norte sobre como agir. Uma nova frente de pesquisas vem se atendo a uma questão central, que atormenta progenitores de todo o planeta: até que ponto elogiar a criançada? Pois a conclusão colide com o velho ditado “Elogio nunca é demais” e sustenta que o excesso de manifestações positivas pode, sim, atrapalhar.

Uma das constatações a que os estudiosos chegaram reforça a ideia de que enaltecer o tempo todo os pequenos tende a gerar grandes bolhas, dentro das quais eles se percebem livres de defeitos e predestinados ao sucesso, conceitos naturalmente distorcidos. Outro efeito colateral do elogio em demasia é desencadear um ciclo movido a pressão, em que os filhos ficam constantemente tentando fazer frente às imensas expectativas depositadas neles. “Muitas vezes, avaliações generosas e abundantes sobre a habilidade da criança alimentam nela uma elevada ansiedade para corresponder”, frisa o holandês Eddie Brummelman, coautor de uma das relevantes pesquisas sobre o tema, liderada pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Ele e os colegas alertam ainda sobre um desdobramento na vida adulta daqueles que sempre recebem nota 10 dos pais (mesmo quando não merecem). “O choque de realidade pode levar à insegurança e à dificuldade de lidar com o fracasso. E a tendência acaba sendo a opção por caminhos mais fáceis com o objetivo de alcançar a sensação de vitória a qualquer custo”, diz Brummelman.

Capitaneada pela especialista Carol Dweck, autora do best-seller A Nova Psicologia do Sucesso, a pesquisa de Stanford mergulhou de forma qualitativa em um universo de 400 estudantes, entre 11 e 12 anos. De um lado, ficou a turma que recebia frequentes elogios de pais e professores acerca de suas notas e intelecto, e, do outro, um grupo exaltado pelo esforço envolvido na aquisição de saber na escola. Com todo o rigor científico, descobriu-se que aqueles que haviam sido sistematicamente valorizados pelo empenho se tornaram alunos mais interessados e abertos a desafios do que os que se acreditavam “brilhantes” – estes revelavam mais nervosismo antes das provas e preferiam explorar questões simples às mais complexas.

A ciência pode ajudar a tornar menos intuitivo o árduo exercício da maternidade, para o qual, como se sabe, não há gabarito. Pedagoga e também mãe, Maya Eigenmann, 33 anos, aprendeu a pisar no freio nos rasgados elogios que tecia à prole. “Fazia festa a cada pequena conquista, pois achava que essa era a melhor forma de incentivar e de demonstrar amor”, conta ela, que tem os filhos Luca, 5 anos, e Nina, 3, com quem vive na Inglaterra. Maya, que é adepta das teses de Dweck, acha que a mudança de rota funcionou: “Parei de celebrar tudo e sinto que hoje eles são mais independentes, demandando menos aplausos”, diz.

A ascensão do elogio como ferramenta para a educação data da década de 70, quando se popularizou nas universidades americanas o movimento “autoestima positiva”, em contraposição a uma rigidez então percebida como limitadora para o livre pensar. Daí nasceu a ideia, que viria a proliferar, de que professores e pais deveriam dar retornos favoráveis à turma jovem, como um estímulo para que eles não desistissem dos estudos. Esses novos ares foram ventilados também no ambiente familiar, logo suscitando correntes contrárias – e até hoje vivas – que se arvoram contra o que chamam de “aplauso tóxico”. Em 2010, o polêmico Grito de Guerra da Mãe Tigre, da escritora americana descendente de filipina Amy Chua, trouxe à baila, mais uma vez e com grande estrondo, a questão da disciplina na criação dos filhos, que fervorosamente defende – incluindo penalidades para os que não fazem a sua parte. Foi torpedeada por muita gente, mas propôs uma essencial reflexão sobre o equilíbrio na formação das novas gerações.

Outra que sacolejou o debate foi a americana Pamela Druckerman, que se mudou para Paris e percebeu no modo de educar francês um misto de autoridade e autonomia capaz de, segundo ela, produzir seres menos dependentes e mimados. Seu best-seller Crianças Francesas Não Fazem Manha concluiu que a chave estava em traçar limites sólidos, envolver as crianças na rotina da casa e jamais tornar a maternidade ou a paternidade o trabalho número 1 na vida de um adulto. Isso tudo não exclui o elogio quando ele bem couber. “Nunca reconhecer conquistas ou uma melhora de atitude descamba para o excesso oposto, podendo causar baixa autoestima”, pondera a psicóloga Ana Lídia Zerbinatti, ressaltando que aplauso tem hora e lugar (veja o quadro abaixo). Mãe de um quarteto, a professora Daniela Mazzarella, 33 anos, diz que tenta eleger de maneira racional o momento certo de bater palmas. “Aplaudo, principalmente, quando o resultado de meus filhos inclui uma mudança de postura”, explica ela, ciente de que não há resposta certa. Na dúvida, vale o bom senso: nunca exagere.

ENCORAJAR SEM ESTRAGAR

5 dicas para alcançar o tão delicado equilíbrio na educação dos filhos

EU ACHO …

LIVROS PARA QUEM?

Por que a proposta de um novo imposto sobre o produto é cruel

Eu tinha 15 anos quando falei à minha mãe que queria ser escritor. Ela me encarou entre a surpresa e a preocupação e disse: “Mas, meu filho, pra viver como escritor no Brasil só o Paulo Coelho!”. A rebeldia juvenil me fez continuar a escrever. Em 2010, aos 20 anos, lancei meu primeiro livro e, desde então, publiquei outros cinco, que foram traduzidos para o exterior e tiveram os direitos de adaptação vendidos ao cinema. Sei que tive (tenho) uma trajetória incomum. Por vezes, sou usado como exemplo de escritor best-seller. Apesar disso, posso garantir: eu não vivo dos direitos autorais dessas obras. Minha mãe estava certa. Talvez só o Paulo Coelho.

Faça as contas comigo: um livro custa, em média, 50 reais. Por contrato, o autor recebe 10% do preço de capa, o que dá 5 reais por exemplar. Considerando que os livros de um autor muito popular vendem 10.000 exemplares (número difícil de alcançar), o autor recebe 50.000 reais ao final do período que leva para vendê-los, ou seja, uns dois anos. Dá, em média, 2.000 por mês. Ajuda a pagar as contas? Ajuda. Mas está longe de garantir uma vida luxuosa.

Para onde vai o restante do dinheiro?, você me pergunta. O texto é só o primeiro passo. Depois vêm o editor, o revisor, o tradutor, o artista gráfico, o diagramador, a gráfica, o divulgador, o distribuidor e a livraria. Ninguém ganha muito no final das contas. Fazer literatura no Brasil é um trabalho hercúleo, só para apaixonados. Nos últimos anos, a recuperação judicial de duas redes, Saraiva e Cultura, prejudicou o mercado e fez com que editoras, especialmente as pequenas e médias, fechassem ou ficassem no vermelho.

Fiz questão de traçar um panorama porque, acredite, é sobre esse mercado em crise, com perspectivas tenebrosas, que o ministro da Economia, em sua proposta de reforma tributária, decidiu fazer incidir um imposto de 12%. Sim, a ideia é que o governo receba por livro mais que o próprio autor. A taxação também impactará no preço final. Questionado sobre a decisão, Guedes disse que deixar as obras mais caras não é um problema, já que o livro é um produto consumido pela classe alta. Mais uma vez, ele evidencia seu desconhecimento em relação aos livros e ao público leitor.

Em tempos normais, uma das principais atividades do escritor brasileiro é participar de eventos literários. Em 2019 estive em Joinville, Tocantins, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Garanhuns, Votuporanga, Brasília e Maceió. Com frequência recebo mensagens de leitores contando que vendem coxinha ou economizam dinheiro do lanche para comprar livros. O leitor médio do Brasil pertence às classes C e D, está fora dos grandes centros e conta cada centavo para obter o livro que deseja.

A proposta ainda será votada no Congresso Nacional. Se você ama os livros, o conhecimento, as boas histórias, pode fazer sua parte e pressionar nossos representantes para terem o bom senso de não aprovar a taxação. Além de assinar a petição on-line em defesa do livro (bit.ly/DefendaLivro), faça barulho, converse com os amigos, use a hashtag #defendaolivro em suas redes sociais e compartilhe posts contra a tributação. Tornar esses produtos ainda mais inacessíveis é vil e cruel, uma aberração.

*** RAPHAEL MONTES

OUTROS OLHARES

A FÚRIA NEGACIONISTAHá duas epidemias que se cruzam no Brasil: a de coronavírus e a de estupidez. Aos poucos e sob a persistente influência do presidente Jair Bolsonaro, uma onda de obscurantismo se abate sobre o País e faz cada vez mais pessoas desprezarem ou minimizarem a ciência e a medicina. Só isso explica que, em meio a mais grave crise sanitária do século, cresça o número de cidadãos que compartilha a tese falaciosa, propagada pelo governo, de que vacinas não devem ser obrigatórias e causam mais riscos à saúde do que benefícios

São ideias aterrorizantes e contra os fatos, que, se prosperarem, podem levar milhares ou até milhões de pessoas à morte ou à invalidez, nos próximos anos, por inúmeras enfermidades reconhecidamente erradicadas pela vacinação. Trata-se de um retrocesso civilizacional com os ares sombrios da Idade Média. Grupos de direita que se opõem à imunização em massa aproveitam a crise da Covid-19 para promover a resistência às vacinas, comportamento que ganhou força nos últimos anos e é considerado uma ameaça global pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ao mesmo tempo, tenta-se, a todo custo, politizar a doença, lançar teorias conspiratórias e incentivar a desobediência civil. A vacina contra o coronavírus nem existe e Bolsonaro já lançou uma campanha de descrédito contra ela.

Na segunda-feira 7, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) publicou no Twitter uma declaração do presidente dada na semana anterior: “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. No dia 8, Bolsonaro voltou ao assunto e disse que “não se pode injetar qualquer coisa nas pessoas e muito menos obrigar”. Foram afirmações levianas e sem respaldo científico ou legal, que feriram princípios éticos, já que a vacinação não é uma escolha e a imunização que será oferecida para a população não será “qualquer coisa”. Na verdade, a lei 6259/1975, que estabeleceu o Programa Nacional de Imunização, prevê a obrigatoriedade da vacinação. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, também estabelece a imunização compulsória para brasileiros de até 18 anos e sanções para pais e responsáveis que não cumprirem essa obrigação. E o próprio Bolsonaro sancionou uma lei, em fevereiro, que permite a vacinação compulsória no enfrentamento da pandemia.

“Quando a autoridade pública diz que a vacinação não é obrigatória, ela está prestando um desserviço enorme e mostrando desconhecimento da função das vacinas”, diz o hematologista Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e membro do Comitê de Contingência do Coronavírus, em São Paulo. “O papel da vacina é a proteção social, antes de tudo. Não é só a proteção individual, mas da comunidade”, afirma. Quem fala, como Bolsonaro, que a vacina não é obrigatória, coloca o interesse coletivo em segundo plano. Além disso, todas as vacinas estão sendo testadas sob rígidos protocolos de segurança, apesar da situação de urgência. Prova disso é a suspensão temporária dos testes da vacina desenvolvida pela AstraZeneca, que vinha fazendo ensaios clínicos com voluntários no Brasil (ver box). Outras quatro vacinas estão sendo testadas e só chegarão à população quando tiverem a eficácia e a segurança comprovadas.

INTERESSE COLETIVO

As declarações antivacina de Bolsonaro causaram assombro na OMS. A cientista-chefe do órgão, Soumya Swaminathan, chamou atenção para a eficácia das vacinas. “O primeiro aspecto a se considerar é que as vacinas erradicaram doenças como sarampo e varíola e fizeram muito pela humanidade”, disse. “Essas declarações mostram o quanto é necessário educação, transparência e informação pública sobre a importância das vacinas em geral e, em seguida, sobre a vacina contra a Covid-19.” O diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, também comentou o avanço do discurso negacionista. “As pessoas não devem ser confundidas por movimentos antivacinas, mas ver como o mundo usou a imunização para combater a mortalidade infantil e para erradicar doenças.” O fato é que as vacinas se revelaram uma das invenções mais salvadoras da humanidade. Segundo a OMS, a vacinação em massa evita, hoje, pelo menos 240 mortes por hora no mundo e causa uma economia de R$ 250 milhões por dia, diminuindo a pressão sobre os serviços de saúde. Esses cálculos incluem a imunização para doenças como difteria, sarampo, coqueluche, poliomielite, rotavírus, pneumonia, diarreia, rubéola e tétano. A OMS estima que as vacinas impeçam a morte de 2 a 3 milhões de pessoas por ano e poderiam salvar mais 1,5 milhão de vidas se a imunização fosse ampliada.

CAPITÃO CLOROQUINA

Uma evidente demonstração de que o pensamento antivacina prospera foi dada em uma manifestação na Boca Maldita, área no centro de Curitiba (PR), também no Dia da Independência, em que os participantes diziam em cartazes “não queremos a vacina, nós temos a cloroquina”. O grupo, que se autodenomina Curitiba Patriótica e marca seus atos pelas redes sociais, reuniu uma dezena de pessoas. “Organizamos o ato porque somos patriotas. Como não haveria o desfile cívico, nos prontificamos a fazer uma manifestação”, afirma o publicitário César Hamilko, um dos participantes do protesto. Ele costuma divulgar pelo Facebook vídeos com mensagens de incentivo ao tratamento precoce do coronavírus, nos quais defende o uso do vermífugo ivermectina, de vitaminas, especialmente a D, e da cloroquina. Segundo ele, quem faz o tratamento, a partir do mínimo sintoma, não tem chance de ficar doente. Hamilko acredita que “Bolsonaro foi eleito e tem legitimidade para dizer o que os brasileiros devem tomar para se precaver contra a Covid-19”. Quanto à vacina contra o coronavírus, ele declara que não vai tomar. “Não confio no que vem por aí”, diz.

Segundo o pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Akira Homma, as vacinas e o processo de vacinação são um binômio de alto custo-benefício para a sociedade e para a civilização e os ganhos dela decorrentes só são comparáveis aos da água potável, em termos de saúde pública. A vacinação em massa previne doenças e aumenta a qualidade de vida. Junto com o saneamento básico, foi a principal responsável pela diminuição da mortalidade infantil e pelo aumento da longevidade da população no século XX. “Os movimentos antivacinas são insidiosos, altamente prejudiciais à saúde”, afirma Homma. O discurso antivacina, o questionamento constante do isolamento social, a aversão às máscaras, a promoção de remédios milagrosos: tudo é parte de um mesmo pacote negacionista. Para os bolsonaristas de plantão, pouco importa se a recusa à imunização contribui para que as doenças se alastrem. Mais importante para esses grupos é promover a desinformação.

Enquanto coloca em dúvida a eficácia das vacinas e relativiza sua importância, Bolsonaro continua na sua saga particular na defesa da cloroquina e não perde uma oportunidade de promover o medicamento. É uma completa inversão de prioridades. O presidente tenta desacreditar a vacina e trata a cloroquina como a solução do problema, aumentando as compras do produto a níveis estratosféricos e pressionando médicos para que adotem o medicamento. Dessa forma, espalhando tolices por onde passa, ele coloca o Brasil numa posição de pária internacional, onde a imunização coletiva, que permitirá a retomada da atividade econômica e a volta da normalidade, será sempre colocada sob suspeita pelos observadores internacionais. A imagem do País que o presidente promove é de um lugar onde não existe responsabilidade no combate à doença e onde as pessoas acreditam em informações falsas e fazem o que querem, sem obedecer a qualquer planejamento governamental porque para o presidente o que importa é massacrar a verdade.

MOVIMENTO ANTIVAX

Entre os negacionistas há os que promovem a liberdade vacinal (só se vacina quem quer) e há os que rejeitam sumariamente qualquer imunização. De qualquer forma, a direita populista que ganha força em todo o mundo se apropriou desse discurso e passou a pregá-lo abertamente. Naturalistas também questionam o sistema de vacinação massificado, além de acusarem conspirações entre governos e a indústria farmacêutica. O movimento antivacina já se apresentava difusamente desde o início do século 20, quando campanhas de imunização enfrentavam a oposição de alguns setores da população – um caso clássico é o da Revolta da Vacina, em 1904, no Rio de Janeiro. Houve protestos contra a Lei de Vacinação Obrigatória e os serviços prestados pelos agentes de saúde. Pelo menos 30 pessoas morreram nos conflitos. Em 1998, um estudo publicado pelo médico britânico Andrew Wakefield na prestigiada revista Lancet vinculava a vacina tríplice viral a casos de autismo. Wakefield analisou a saúde de 12 crianças, das quais oito teriam manifestado o autismo duas semanas depois da aplicação da vacina. O pesquisador atribuiu esse fato a uma sobrecarga do sistema imunológico. Soube-se depois que as conclusões do trabalho de Wakefield foram fraudadas, mas o estrago já estava feito. Vinculou-se a vacinação a uma doença terrível e outras vacinas, além da tríplice viral, também foram estigmatizadas. Apesar de desmentida, a pesquisa deu munição para os negacionistas, que até hoje insistem nessa mentira, aumentou a crise de confiança em relação à imunização e levou muitos pais a deixarem de vacinar seus filhos.

Ao mesmo tempo em que lançam críticas, fake news e promovem mentiras para assustar a população, o problema da baixa imunização no Brasil se acentua ano a ano. Em 2019, atingiu proporções calamitosas. Segundo dados do Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, sete das nove vacinas normalmente dadas para bebês registraram no ano passado os piores índices de cobertura desde 2013. No caso da tuberculose e da poliomielite, o percentual de crianças vacinadas foi o pior em 20 anos. Pela primeira vez no século, o Brasil não alcançou a meta para nenhuma das principais vacinas indicadas a crianças de até um ano, segundo dados do PNI. No ano passado, metade das crianças brasileiras não recebeu todas as vacinas previstas no Calendário Nacional de Imunização. Para Bolsonaro, porém, a precariedade na imunização é uma opção.

Segundo dados do PNI, a cobertura vacinal média no Brasil está em 51,6% para as imunizações infantis. No caso da tríplice viral, o índice é de 60%. O ideal é que essa cobertura ficasse entre 90% e 95% para garantir proteção contra doenças como sarampo, coqueluche, meningite e poliomielite. Essas doenças, que haviam sido erradicadas, estão voltando por causa do abandono da prevenção. Cada indivíduo que deixa de tomar vacina por opção é um agente infeccioso em potencial. O ambiente de incerteza que envolve o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 só piora essa situação e favorece a proliferação de boatos e meias-verdades sobre a vacinação e a medicina. Testes estão sendo feitos para garantir num futuro próximo uma imunização eficaz e segura. Mas as ideias de Bolsonaro perturbam o ambiente e reforçam a insegurança que afeta a todos por causa da pandemia. Enquanto em todo o mundo só se fala em colaboração e ajuda mútua, para o presidente brasileiro, um promotor da ignorância, o que vale é o cada um por si.

A farmacêutica AstraZeneca anunciou,na semana passada, uma “pausa voluntária” nos testes clínicos de suavacina contra a Covid-19. A interrrupção temporária dos ensaios em todo o mundo mostra que a segurança é preocupação fundamental nos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento. A suspensão ocorreu porque foi detectada uma reação adversa grave em um voluntário inglês que participava da iniciativa e teria desenvolvido uma doença inflamatória. “Essa é uma medida de rotina”, disse um porta-voz da empresa, associada à universidade de Oxford no projeto. “Como parte dos testes globais controlados e randomizados em andamento, nosso protocolo de revisão padrão foi acionado e fizemos uma pausa voluntária na vacinação, para permitir a revisão dos dados de segurança”.

A decisão adia os planos do governo brasileiro, que, apesar do negacionismo de Bolsonaro, esperava lançar a vacina da AstraZeneca nos próximos meses. Na terça-feira 8, em uma entrevista para uma youtuber mirim, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que a intenção do governo era começar a vacinar as pessoas a partir de janeiro de 2021. “Esse é o plano. A gente está fazendo os contratos com quem está fazendo a vacina e, em janeiro do ano que vem, a gente começa a vacinar todo mundo”, disse o ministro. A vacina que deveria chegar, porém, é, a que teve os testes interrompidos. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), parceira da AstraZeneca no Brasil, prevê um atraso no estudo da vacina.

Há mais de 170 vacinas contra a Covid-19 em desenvolvimento, hoje, no mundo e 34 delas estão em fase de testes clínicos, sendo dez na fase 3, a penúltima. No Brasil, há quatro projetos em andamento. Um deles é o da vacina Sinovac, cujos estudos foram autorizados pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em junho. Essa vacina está sendo desenvolvida junto com o Instituto Butantan. Participam dos testes, que até agora não apresentaram qualquer imprevisto, nove mil pessoas. Outra iniciativa é da vacina Biontech e Wyeth/Pfizer. Deverão participar desse estudo 29 mil voluntários, sendo mil deles brasileiros. A Jansen-Cilag, divisão farmacêutica da Johnson & Johnson, também está desenvolvendo um estudo no Brasil que envolverá 60 mil voluntários.

A vacina russa Sputnik V desenvolvida pelo centro de pesquisas Gamaleya também está em fase 3 de testes. O estudo foi acolhido no Brasil pelos governos da Bahia e do Paraná. e os ensaios devem começar em outubro. Na quarta-feira 9, os laboratórios Dasa e a Covaxx, divisão da americana United Biomedical, anunciaram um novo projeto, o décimo do mundo a entrar na fase 3 e o quinto com testes clínicos no Brasil. Segundo Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, a rede de laboratórios usará sua base de dados para recrutar os pacientes para os testes.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 18 DE SETEMBRO

O EVANGELHO É PODEROSO

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê… (Romanos 1.16a).

Paulo se preparava para visitar Roma, a capital do império. Seguia para Jerusalém a fim de levar aos pobres da Judeia uma generosa oferta. De Corinto, escreve sua mais robusta epístola e, já no prólogo, faz a mais audaciosa afirmação: Não me envergonho do evangelho. Paulo se sentia devedor do evangelho. Estava pronto para pregar o evangelho e dele não se envergonhava. Há indivíduos que se envergonham do evangelho e outros que são a vergonha do evangelho. Não é o caso de Paulo, mesmo tendo sido preso e mesmo tendo suportado açoites e apedrejamento por causa dele. Paulo não se envergonha do evangelho porque este é onipotente. O evangelho é o poder de Deus. Seu poder não é para a destruição; é o poder de Deus para a salvação. Não a salvação de todos sem exceção, mas a salvação de todos sem acepção. Há um limite estabelecido aqui. O evangelho traz salvação apenas para os que creem. Os que permanecem na incredulidade não serão salvos, exatamente por rejeitarem a única oferta da graça, por se recusarem a entrar pela única porta da salvação, por deixarem de andar pelo único caminho que conduz a Deus. A porta da salvação está aberta para você agora mesmo. Esta porta é Jesus. Eis a voz do Evangelho!

GESTÃO E CARREIRA

A FACILIDADE DO CLIQUE

Contabilidade digital pode ser a solução para uma gestão bem-feita e econômica, especialmente para pequenos negócios

A contabilidade de uma empresa exige organização e muita confiança. Ao mesmo tempo, não é um setor que pode ser deixado para segundo plano, já que uma pequena falha pode causar grandes dores de cabeça. Hoje o Brasil conta com pelo menos cinco milhões de empresas cadastradas no Simples Nacional que precisam do apoio de uma contabilidade profissional, além de sete milhões de microempreendedores individuais que utilizam esse tipo de serviço. É nesse ponto que surge uma nova oportunidade de negócio para startups possibilitando economia de até 50% nos custos mensais de pequenos e médios empreendedores: a Contabilidade digital.

A solução já conta com algumas ferramentas práticas que cuidam da folha de pagamentos, fluxo de caixa, impostos e documentos, como o Razonet – aplicativo que se adapta ao enquadramento tributário do cliente e ao tamanho da empresa. E o Agilize, outro serviço que vem com esse mote. Lançada em 2013 e com mais de cinco mil clientes, a plataforma foca o setor de serviços, oferecendo cálculo na apuração dos impostos, envio das declarações contábeis e fiscais, balanço mensal, Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), informe de rendimentos, Imposto de Renda Pessoa Jurídica e suporte completo gratuito.

São apenas dois exemplos do que o mercado já oferece e que funciona nessa área. “A contabilidade digital possui vantagens na otimização dos processos e agilidade na prestação de serviços, contudo, se não caminhar em conjunto com a expertise e consultoria do contador, a prestação de serviços pode ser precária e incompleta”, afirma a executiva da área de Contabilidade e Auditoria da Crowe – rede global nas áreas contábeis, auditoria e consultoria, Juliana Brito.

A profissional diz que uma das principais vantagens é o custo, pois muitos softwares de contabilidade on-line oferecem um baixo custo comparado aos escritórios de contabilidade, porém ela adverte que há casos que não existem contato humanizado, tampouco uma central de relacionamento e/ou atendimento técnico. Juliana lembra que a contabilidade, atualmente, é utilizada muito mais com o enfoque de consultoria e gestão empresarial do que simplesmente no mero cumprimento de obrigações e prestação de contas ao Fisco. Por esse motivo, a relação de proximidade do contador com seus clientes permite o amplo conhecimento no negócio e assessoria para tomada de decisões. “Contudo, é extremamente importante que os contadores estejam cada vez mais focados em tecnologias para otimização de processos, eliminando muitas tarefas manuais e utilizando seu tempo mais na análise de dados do que na execução, praticando a consultoria contábil com o propósito de agregar valor ao seu cliente”, admite.

Por esse motivo, Juliana completa que o uso de plataformas digitais tem facilitado a dinâmica dos empresários de pequenas e médias empresas, permitindo a alocação maior de seu tempo aplicado ao negócio e, da mesma maneira, com a visão para os escritórios contábeis, a tecnologia propicia maior análise de dados e diminuição de trabalhos manuais.

PROCESSO DE CONTABILIZAÇÃO

A contabilidade digital surgiu com o objetivo de simplificar a relação do empresário com o processo de contabilização mensal da sua empresa. Como todo processo de digitalização, está alicerçada na automatização de atividades rotineiras (muito comum no mundo contábil) e na simplificação da comunicação entre o prestador de serviço e o cliente. Esta é a grande vantagem: desburocratizar e encurtar o processo de comunicação entre o cliente e o contador através de uma plataforma digital. “A desvantagem é que a contabilidade digital ainda é processo restrito para empresas de menor porte, cujas interações necessárias com a contabilidade são menos frequentes e podem ser padronizadas”, resume o co-founder da Accontfy – startup brasileira que visa simplificar o processo de análise dos balancetes financeiros das empresas, gerando relatórios de demonstrações financeiras em segundos – , João Pedro Mano.

Ele explica que o processo de contabilização de uma empresa se divide em três principais blocos: Organização das informações transacionais (pagamentos e recebimentos, emissão de notas fiscais, movimentação do estoque, entre outros), processamento dessas informações (efetivo processo de contabilização, apuração de impostos; processamento da folha de pagamento, cumprimento das obrigações principais e acessórias) e análise da performance da empresa.

A complexidade do processo de contabilização acaba variando muito conforme o tamanho e o segmento da empresa. “Por exemplo, empresas enquadradas no Simples Nacional possuem uma quantidade de obrigações junto à Receita Federal muito menor do que empresas optantes pelo Lucro Real. Da mesma forma, empresas de serviços como consultorias e escritórios de advocacia e pequenos comércios possuem um processo de apuração de resultado mais simples do que indústrias, por exemplo, que precisam controlar estoque de matéria-prima e mercadorias, realizar o processo de apuração de custos, criar um controle de depreciação, além de uma série de outras atividades necessárias para o adequado processo de contabilização. Por esse motivo, temos visto uma expansão da contabilidade digital ainda direcionada a negócios de menor complexidade como MEIs, empresas de serviço com baixa emissão de notas fiscais e franquias”, conta.

As plataformas digitais existentes oferecem vários tipos de serviços e vêm facilitando o processo de criação e contabilização de alguns segmentos de empresas. Elas oferecem planos que vão desde o processo de criação da nova empresa até o gerenciamento da folha de pagamento para empresa de menor porte. Com essas ferramentas é possível interagir on-line com contadores, o que agiliza a tratativa dos assuntos contábeis.

Pedro Mano destaca alguns dos cuidados necessários na hora de escolher a melhor plataforma. Para ele, o maior risco está mesmo no âmbito fiscal – algo que não está restrito somente às plataformas on-line, mas também ocorre na contabilidade tradicional. Por isso, a empresa precisa ter muito cuidado com a entrega das obrigações junto aos órgãos governamentais. “O Brasil ainda é um país muito burocrático e isso afeta diretamente as empresas. Comumente, elas são autuadas e multadas em grande parte dos casos por erro no processo de apuração e recolhimento de impostos. Por esses motivos, é essencial que as empresas acompanhem de perto esse assunto e cobrem controles que forneçam segurança de que as obrigações estão sendo devidamente entregues”, analisa.

A F360º é uma empresa paulista de gestão financeira completa indicada para franquias, já que permite gerir várias unidades ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Ela integra conciliação de cartões com fluxo de caixa, contas a pagar e a receber, DRE e outros. O sucesso dos serviços prestados desde 2013 colocou a marca no ranking das 100 Startups to Watch 2019, que reúne empresas inovadoras com potencial de impactar seus mercados.

SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 43% das micro e pequenas empresas ainda fazem a sua contabilidade no papel. Além disso, 53% dos empreendedores não fizeram nenhum curso para melhoria do conhecimento sobre como administrar um negócio. Esses dois valores mostram que ainda existe falta de conhecimento sobre as facilidades da tecnologia e até sobre como fazer isso de maneira segura. O co-founder da Accountfy lembra que, antigamente, existia receio em inserir dados na nuvem ou em utilizar sistemas SaaS – aqueles que a empresa paga mensalidade para utilizar um sistema cuja estrutura também está na nuvem. “Existia a falsa impressão de que os dados estavam expostos e desprotegidos. Esse receio foi reduzindo à medida que todos começaram a utilizar e-mail para transferência de qualquer tipo de informação e começaram a armazenar seus documentos na nuvem – principalmente para resguardá-los de perda ou dano. Além disso, as plataformas SaaS estão cada vez mais robustas, provando que os dados não precisam estar dentro do espaço físico da empresa para estarem seguros”, ressalta.

Mesmo assim, é importante certificar-se de alguns pontos. O primeiro passo é sempre buscar conhecer a política de segurança da plataforma que está prestes a adotar, incluindo informações sobre como é a política de backup da informação, se a plataforma possui certificações de segurança e outras. Além disso, o ponto principal a que os empreendedores precisam ficar atentos é com a política de uso da informação. Uma vez que a empresa é proprietária dos seus dados, deve certificar-se de que a política de uso da(s) plataforma(s) garanta que eles só poderão ser usados para outro fim caso ela tenha a sua autorização.

UM MERCADO DE TENDÊNCIAS

Uma coisa é certa independentemente do setor: as plataformas digitais estão rompendo com diversos modelos de negócio tradicionais. Há mudanças na forma de distribuir filmes e músicas, acessar transporte público, alugar imóvel, a maneira de se locomover pelas grandes cidades e tantas outras situações. “Com contabilidade e finanças não poderia ser diferente. As atividades rotineiras e manuais vêm sendo substituídas por plataformas que consigam automatizar partes do processo e assim entregar um serviço mais ágil e de menor custo do que o modelo tradicional. Com a utilização de plataformas digitais, as empresas cada vez mais delegarão essas atividades para plataformas digitais e se concentrarão na análise dos números a fim de definir estratégias que melhorem sua performance”, acrescenta Mano.

Considerando o fluxo necessário para a adequada contabilização, algumas plataformas e soluções têm se posicionado com o intuito de suportar as empresas em uma ou mais etapas do processo e na parte de análise, mas sempre de maneira robusta nas informações. Há sistemas como o Nibo, Conta Azul, Omie e outros, que atuam como sistemas financeiros para organização dos movimentos transacionais das empresas (pagamentos, recebimentos e emissão de notas fiscais) e organização dessas informações para envio ao contador. “Com essas informações, a contabilidade faz o processamento e gera o balancete contábil que sistemas como o Accountfy se propõem a organizar, ajudando as empresas a interpreta-las e utilizá-las de maneira a obter melhores resultados, além de conectar as informações geradas pela contabilidade para criar cenários de projeção futura, elaborar um orçamento para o próximo ano e acompanhar seus indicadores de desempenho”, completa e conclui o co­-founder da Accountfy.

COMO ESCOLHER A MELHOR PLATAFORMA?

•  Conheça muito bem seu negócio e suas necessidades.

•  Verifique se os serviços oferecidos pela plataforma suprem todas as demandas.

•  Avalie a reputação na internet, buscando comentários em lojas virtuais como Google e Aplle Store (no caso de Aplicativos) ou em sites como Reclame Aqui.

•  Lembre-se de que a ferramenta fará a gestão de seu dinheiro e, por isso, deve estar devidamente legalizada e registrada no órgão oficial da classe incluindo seus funcionários.

•  Analise com cuidado os critérios de segurança da informação, especialmente no que diz   respeito ao armazenamento de dados e garantias contra ataque de terceiros ou hackers. A dica é preferir um armazenamento em nuvem.•  Ainda no tópico segurança, assegure-se de que só terão acesso às informações pessoas autorizadas, de acordo com suas funções exercidas. Leia as linhas pequenas para ter certeza de que essas pessoas só podem utilizar seus dados até certo ponto. A guerra pela informação tem se tornado maior que a busca por petróleo, e todo

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FIQUE SABENDO!

Valorize a contabilidade e utilize-a. O “custo-Brasil” relacionado à burocratização contribuiu no tempo para construir a ideia de que a contabilidade serve apenas para entregar ao Governo as obrigações legais. Esse é um erro muito comum e muito prejudicial para qualquer tamanho de empresa. O pequeno e médio empreendedor precisa acreditar que os números contábeis são a melhor fonte de informação que ele pode obter para gerenciar o seu negócio. Para isso, ele precisa trabalhar a fim de garantir processos que permitam à sua contabilidade ter acesso às informações necessárias para realizar o processo de contabilização adequado e, principalmente, precisam cobrar do seu contador mensalmente a entrega do balancete em tempo hábil para ele analisar.

Portanto, é essencial que ele busque ferramentas digitais que o ajudem a organizar a entrada das informações transacionais e soluções que lhe possibilitem a análise das informações geradas pela contabilidade, de modo que consiga direcionar o seu negócio de maneira assertiva. O empreendedor precisa fazer com que os seus números contábeis reflitam a realidade da sua empresa. Somente assim conseguirá gerenciar melhor; identificar oportunidades de melhoria, prevenir-se de fraudes e acessar linhas de crédito mais estruturadas para sua empresa.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ENTRE MENINOS E MENINAS

Psicóloga americana estuda os primeiros indícios do pensamento em bebês. No início da vida, papel dos hormônios é maior que o da cultura

Se tivesse sido cego a vida inteira e de repente passasse a enxergar, será que você distinguiria pela visão o que já conhecia pelo toque – por exemplo, diferenciaria um cubo de uma esfera? As flores pareceriam com as flores tocadas e os rostos com os rostos, ou tudo seria uma grande confusão? De que forma começaria a dar sentido aos vários objetos apresentados imediatamente à sua vista? Se nascemos sem saber nada, como passamos a saber alguma coisa?

A psicóloga Elizabeth Spelke, professora da Universidade Harvard, leva essas questões àqueles que talvez sejam os mais habilitados para respondê-las: os bebês. No amplo laboratório do William James Hall, Spelke e seus colaboradores têm lidado com alguns dos mistérios mais insondáveis do conhecimento humano pesquisando seres que ainda não conseguem falar, andar ou mesmo engatinhar. Ela tem o que chama de “apetite insaciável” para estudá-los. Seus colegas de laboratório procuram voluntários por meio de páginas na internet, folhetos e cartas enviadas a berçários e consultórios de pediatria. Eles observam como os bebês sentam no colo de suas mães, procurando pelos sinais que permitem aferir suas primeiras compreensões de números, linguagem, percepção de objetos, espaço e movimento.

As descobertas de Spelke ajudaram a rever drasticamente nossos conceitos sobre a percepção humana nos primeiros dias, semanas e meses de vida. A pesquisadora forneceu algumas das evidências mais substanciais até hoje a respeito de questões como Natureza versus cultura e características inatas versus adquiridas. Suas constatações sobre aquilo de que um bebê é capaz se tornaram centrais para desvendar a cognição humana.

A partir de suas conclusões, a psicóloga construiu uma teoria audaciosa – se não polêmica – do core knowledge ou “conhecimento de base”, segundo a qual todos os humanos nascem com habilidades cognitivas que lhes permitem entender o mundo. Esse conhecimento básico, diz ela, fundamenta tudo que aprendemos ao longo da vida e tanto nos unifica como nos distingue enquanto espécie. A teoria levou a Associação Americana de Psicologia a laureá-la com o William James Fellow Award no ano 2000. E seu trabalho mostra que, apesar das diferenças entre as pessoas, todos temos mais em comum do que em geral reconhecemos.

CLAREZA, NÃO CONFUSÃO

O cerne da metodologia de Spelke é a observação do “olhar preferencial” – a tendência de bebês e crianças a examinar mais demoradamente aquilo que é novo, surpreendente ou diferente. Mostre repetidas vezes a um bebê um coelhinho de brinquedo e ele vai olhá-lo por um período cada vez mais curto. Mas experimente colocar quatro orelhas no coelhinho ao mostrá-lo, digamos, pela décima vez. Se o bebê detiver o olhar por mais tempo, você saberá que ele diferencia quatro de dois. A abordagem consegue contornar as incapacidades do bebê em falar ou em articular movimentos e tira o máximo da única coisa que ele controla bem: o tempo em que fixa os olhos em um objeto.

Spelke não inventou o método de estudo do olhar preferencial. O crédito é de Robert L. Fantz, psicólogo da Universidade Western Reserve, que na década de 50 e no começo da de 60 descobriu que chimpanzés e bebês olham por mais tempo para objetos inesperados. Um pesquisador conseguiria avaliar a capacidade de discernimento e percepção de um bebê ao lhe mostrar uma sequência de eventos diferentes e controlados, observando quais mudanças seriam percebidas como novidade.

Usando essa técnica básica, Fantz e outros descobriram que o mundo dos bebês não era, como supunha o psicólogo William James em 1890, uma “confusão cheia de movimentos e zumbidos”. Os bebês davam sentido ao mundo de imediato. Por exemplo, Fantz e outros descobriram que os recém-nascidos podiam diferenciar o vermelho do verde; com 2 meses discriminavam todas as cores primárias e, com 3, preferiam o amarelo e o vermelho ao azul e ao verde.

Eles constataram que um recém-nascido é capaz de distinguir o rosto da mãe do de um estranho (exceto quando ambos os adultos usavam um lenço sobre o cabelo), um bebê de 4 meses reconhece familiares e um de 6 pode interpretar expressões faciais. Na década de 70, os psicólogos reconheceram o primeiro ano de vida como um período de enorme desenvolvimento, muito mais agitado do que então se considerava.

SEM CAIR

Esse trabalho atraiu Spelke quando ela ainda era universitária na Faculdade Radcliffe. De 1967 a 1971, ela estudou com o psicólogo do desenvolvimento infantil Jerome Kagan, de Harvard, e se entusiasmou com a investigação das operações essenciais da cognição através da análise de crianças. Spelke prosseguiu com essa pesquisa quando trabalhou em seu doutorado em psicologia na Universidade Cornell, onde a famosa psicóloga do desenvolvimento Eleanor J. Gibson a orientou. Gibson, uma das poucas psicólogas premiadas com a Medalha Nacional de Ciência, revelou muito sobre a cognição infantil com alguns experimentos de alta qualidade. Sua experiência mais conhecida é a do “abismo visual”, em que faz uso de uma chapa de vidro sobre o tampo de uma mesa. Ao engatinhar sobre essa superfície escorregadia, os bebês evitariam uma provável queda, A maioria sim, descoberta que modificou as teorias sobre a percepção espacial dos bebês.

Inspirada por essas pesquisas, Spelke chegou à sua própria experiência inovadora. Quis investigar se quando os bebês olham e escutam percebem imagem e som como duas coisas separadas ou se reconhecem a relação entre ambos.  Ao se perguntar como averiguar isso, ela conta que imaginou dois eventos visuais lado a lado, como dois filmes, e um alto ­ falante onde se poderia alternar o som de cada um dos eventos. “O bebê viraria o olhar para o evento correspondente à trilha tocada pelo alto-falante: “Essa experiência virou minha tese de doutorado. Foi a primeira vez que fui capaz de começar com uma pergunta geral sobre como organizamos um universo unitário a partir de modalidades múltiplas e transformar a questão em um experimento de olhar preferencial simples – que se revelou bastante eficaz.”

VINCULAÇÃO INATA

Spelke descobriu que os bebês reconhecem a ligação entre som e visão, movimentando o olhar conforme a trilha sonora. Assim teve início a sua carreira de análise de grandes questões por meio de experimentos aplicados a crianças. A abordagem de modalidade mista tratou do mesmo “problema de vinculação” enfrentado pelos cegos que subitamente começam a ver, investigando como o cérebro decodifica os sinais de diferentes sentidos numa única impressão. Segundo Spelke, a abordagem não respondeu como essa habilidade parece ser inata.

Ao longo dos anos, a especialista conduziu outras investigações sobre o reconhecimento de objetos e rostos, movimento, navegação espacial e números (incluindo relações numéricas). Como é capaz de desenvolver testes simples, mas tão poderosos? “Penso como uma criança de 3 anos”, diz ela. Ao mostrar aos bebês objetos em movimento e depois interromper seu curso lógico ou a velocidade, ela descobriu que mesmo um bebê de 4 meses infere que um objeto em movimento deve se manter em movimento. Apesar disso, apenas aos 8 meses ele entende o princípio da inércia e espera que o trajeto do objeto seja constante.

Ao mostrar aos bebês diferentes séries de discos, ela descobriu que os de 6 meses conseguem distinguir 8 de 16 e 16 de 32 – mas não 8 de 12 ou 16 de 24. Spelke constatou que bebês de 1 ano de idade, ao observar uma pessoa escolher entre dois objetos, sabem pelo olhar do adulto qual objeto ele pegará, enquanto os de 8 meses não têm essa capacidade.

À medida que aumentavam os dados resultantes desses projetos, Spelke começou a desenvolver sua teoria do conhecimento de base, em boa parte feita em colaboração com colegas como o renomado linguista Noam Chomsky, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o matemático e neuropsicólogo cognitivo francês Stanislaus Dehaene e a psicóloga de Harvard Susan Carey. Os sistemas do conhecimento de base, diz Spelke, são “módulos ” neuronais presentes no nascimento para a construção das representações mentais de objetos, pessoas, relações espaciais e numéricas. Similar à “gramática profunda” que Chomsky acredita estar subjacente a toda linguagem humana, esses módulos de conhecimento básico permitem que todos os bebês organizem sua percepção.

TEORIA POLÊMICA

A sofisticação desses sistemas em bebês parece a dos módulos de primatas não-humanos, o que sugere um desenvolvimento antigo e evolucionário; um bebê de 6 meses tem a mesma compreensão de números, espaço, objetos e rostos que um macaco reso adulto. Spelke entende que esses instrumentos cognitivos são subjacentes a habilidades mais complexas e a conhecimentos que adquirimos ao longo do crescimento, como habilidade de falar novos idiomas, manipulação de números e outras operações mentais abstratas.

O conhecimento de base constitui o fundamento para um robusto aparato cognitivo que nos acompanha durante a vida, fato que pratica mente ignoramos. “Mesmo para os adultos”, afirma Spelke, “a maior parte das capacidades que nos permitem lidar com o mundo (guiar nossas escolhas através do ambiente, articular o que dizemos, calcular se um carro na rua pode nos atropelar ou se objetos em queda nos acertarão) é completamente inconsciente. Quantas coisas fazemos sem pensar direito nelas? Operamos com sistemas cognitivos complexos que em geral não estão acessíveis à simples introspecção. Para mim, esse é mais um sinal de que a maioria de nossas operações cognitivas é como as dos bebês – construídas sobre o conhecimento de base que temos desde pequenos.”

Essa visão de Spelke é o que os filósofos chamam de teoria “inatista” – a certeza de que nossas características são inatas. Elas são naturais e não construídas. Spelke sabe bem que isso a coloca em uma posição arriscada. Falar de habilidades naturais dá margem a especular sobre diferenças naturais para essas habilidades.

Há poucos anos, Spelke se viu envolvida em acalorada controvérsia sobre essas possíveis diferenças quando foi bastante questionada sobre a declaração do reitor de Harvard, Lawrence Summers, de que as disparidades biológicas podem ajudar a explicar por que as mulheres ocupam tão poucos postos nos departamentos de matemática e ciência daquela universidade.

É claro que Spelke foi a escolha natural para debater o assunto, não apenas por ser uma cientista altamente reconhecida da mesma universidade de Summers, mas também por ter estudado precisamente as habilidades inatas mencionadas pelo reitor. Embora não tenha inclinação para a briga, Spelke é espirituosa, engraçada, bem informada e dotada de habilidade argumentativa. Assim, cumpriu com elegância a tarefa de baixar a bola de Summers.

“Se você encarar as coisas de acordo com o ponto de vista de Summers,” diz ela com um leve sorriso, “pesquisar as habilidades cognitivas inatas, como eu faço, é um estudo das diferenças entre os sexos. Na verdade, eu não sabia que estudávamos diferenças de gênero, porque não encontramos nenhuma. Mas uma vez que o assunto apareceu, fiquei feliz em lhe contar sobre nosso trabalho.”

BRINCANDO DE ESCONDER

Spelke explicou em várias entrevistas e num debate público, bastante noticiado, com o colega e amigo Steven Pinker, psicólogo de Harvard, como o grande volume de evidências, reunidas depois de décadas de pesquisa, mostra pouca (ou quase nenhuma) diferença baseada no sexo de bebês ou de crianças pequenas. Nesses primeiros anos, quando a cultura exerce o mínimo de efeito e os níveis de hormônios sexuais estão extremamente altos, não apareceu nenhuma diferença determinada pelo sexo na enorme variedade de habilidades relacionadas ao pensamento matemático.

Por exemplo, coloque uma criança de 4 anos numa sala especialmente arrumada, esconda um bloco em um canto, faça a criança fechar os olhos e a gire, e então peça que ela procure o bloco. Algumas delas vão se reorientar rapidamente na sala e encontrar o objeto; outras não. A porcentagem de meninos e meninas que conseguem, no entanto, é idêntica. Portanto, embora “haja uma base biológica para o pensamento matemático e científico”, como Spelke lembrou no debate com Pinker, “esses sistemas se desenvolvem igualmente em homens e mulheres”.

Otimista inabalável, Spelke acredita que a compreensão crescente das habilidades cognitivas irá reduzir, e não alimentar, a discórdia sobre as qualidades humanas. “Algumas pessoas acham assustadora a ideia de termos habilidades naturais, porque isso parece estimular a noção de que alguns tipos podem nascer mais dotados que outros. Se você é um inatista no que se refere às capacidades cognitivas básicas, como eu, isso o leva a ser um inatista sobre, digamos, as diferenças entre os sexos?: Essas alegações de base biológica podem evoluir até o ponto de ser invocadas para explicar tudo. Mas você tem de ser muito cuidadoso sobre os dados que utiliza.”

A informação que parece indicar diferenças entre os sexos, afirma Spelke, vem de estudos problemáticos cujos resultados são distorcidos por influências culturais – como pais que respondem de modo diferente para meninas e meninos, departamentos de universidade que avaliam as mulheres com mais rigor. Summers deve ter levado o último ponto ao pé da letra: em maio, anunciou que Harvard gastaria US$ 50 milhões em dez anos para admitir e manter mulheres e minorias em sua faculdade.

Enquanto isso, as crescentes pilhas de informação sobre as crianças – pessoas ainda não contaminadas pela cultura – mostram uma paridade surpreendente entre os sexos e as raças. “Obtivemos evidência de um sistema intrincado e rico de conhecimento de base compartilhado por todos e que nos dá um fundamento comum”, declara Spelke. “Em um mundo com tantos conflitos, acho que isso é algo de que precisamos muito.”

EU ACHO …

FALA, WILSON

Situações de isolamento têm um limite, dependem de cada pessoa

Ninguém vive apartado da sociedade, dos amigos, dos parentes por um tempo que parece não ter fim. O limite é variável, depende de cada pessoa, de seu temperamento, das circunstâncias, do planejamento. No início da pandemia, houve quem projetasse cem dias de reclusão, achando talvez que estivesse arredondando para mais o período de confinamento. Hoje já estamos em cinco meses – e contando. É natural que assim seja. O ser humano é gregário por natureza. Lembro-me de Tom Hanks, em Náufrago, que, para amenizar os efeitos do isolamento numa ilha deserta do Pacífico, durante quatro anos conversou com uma bola de vôlei, a quem chamava de Wilson. Por fim, entre a perspectiva de continuar sobrevivendo sozinho à base de monólogos intermináveis e a possibilidade remota de voltar à civilização a bordo de uma jangada improvisada, ele não teve dúvida em arriscar tudo. Havia chegado ao seu limite.

Qual é o seu limite? Provavelmente depende de uma série de fatores. Limites são elásticos, vão sendo reconfigurados a partir da realidade que se impõe. O que ontem era inaceitável hoje pode ser perfeitamente possível. Outro dia recebi pelo WhatsApp uma mensagem que, lida em meio às incertezas atuais, provoca um riso nervoso: “O primeiro ano da quarentena sempre é o mais difícil”. Tenho reparado que o stress provocado pelo novo coronavírus está dividindo os brasileiros em dois estados de espírito: o perseverante e o ansioso. Não os vejo como categorias estanques. Elas estão presentes em cada um de nós. Convivemos, imagino, com um pouco de um e do outro. Um dia acordamos determinados a nos manter fiéis à rotina autoimposta, mas à tarde fraquejamos e ficamos afoitos para dar uma voltinha no quarteirão.

O perseverante e o ansioso que nos habitam são o anjo e o diabo da nossa consciência, dizendo o que devemos fazer ou o que estamos perdendo por agir assim. “Continue se preservando”, diz o primeiro. “Que nada! A vida não espera”, diz o segundo. Um apela à saúde física, o outro à sanidade mental. Percebo que o diabinho está sendo cada vez mais ouvido. Entre os que se mantêm no isolamento, há quem se sinta um idiota ao ver amigos levando uma vida normal.

A humanidade parece ter desenvolvido uma capacidade de subestimar o perigo. No começo da quarentena, li que o isolamento exigido por uma epidemia costuma acabar antes de a cura ser encontrada. Foi assim no fim da I Guerra Mundial, em 1918: após o anúncio do cessar-fogo, as pessoas saíram às ruas para comemorar, esquecendo-se que a gripe espanhola ainda não havia sido debelada.

Diante de tantas dúvidas sobre o que fazer, o meio-termo parece ser uma alternativa razoável. Sair às ruas, mas sem se expor. Ficar em casa, mas sem enlouquecer. Num cartum que vi recentemente um personagem comenta: “Fico me perguntando como seria minha vida se eu tivesse feito outras escolhas”. E o outro, com cara de tédio, responde: “Você estaria se perguntando como seria a sua vida se tivesse feito outras escolhas”. O importante, acredito, é que essas escolhas, quaisquer que possam ser, sejam conscientes.

O que você acha, Wilson?

*** LUCÍLIA DINIZ

OUTROS OLHARES

AS BICICLETAS PEDEM PASSAGEM

Vendas do setor mais do que duplicaram durante a pandemia e devem crescer ainda mais. Bikes elétricas conquistam adeptos

Abram alas para as bikes passarem. Reflexo do isolamento social causado pela pandemia, o setor teve um crescimento de 118% nas vendas entre os meses de junho e julho, em comparação com o mesmo período de 2019, segundo especialistas. Por conta das medidas restritivas adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e órgãos públicos, o veículo tornou-se uma alternativa eficaz na hora de driblar aglomerações. Segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), a quarentena impulsionou a comercialização do meio de transporte e houve uma explosão de demanda em maio.

“O aumento se deu especialmente porque a população procura soluções que evitem as viagens de transporte público”, afirma André Ribeiro, vice-presidente da Aliança Bike. O fator qualidade de vida também é visto como ponto importante na hora da escolha. E há um terceiro motivo para a febre das duas rodas: a ampliação da rede de ciclovias, algo que se verifica em várias cidades. “Comecei a andar de bicicleta para fugir do trânsito. Há ciclovias até a região do meu trabalho, então eu vou embora”, conta o galerista Tito Bertolucci, que mora na região do Itaim Bibi e trabalha na Vila Madalena, zona Oeste de São Paulo. “Durante a pandemia comprei uma bike elétrica. Ela é boa porque eu não chego suado no trabalho e não faço tanto esforço físico”.

A NOVA MODA

Com motor recarregável por meio de cabos ligados em tomadas simples (110v ou 220v), a bike elétrica atinge velocidade média de 25 km/h e pode ser comprada a partir de R$ 2 mil. De acordo com a Aliança Bike, a expansão na comercialização do produto foi de 34% ao ano entre 2016 e 2019. “Queria aumentar o uso de bike no meu dia a dia pra fugir do trânsito e do transporte público. O custo benefício é bom demais”, diz o videomaker Gabriel Nogueira, que após alugar uma bicicleta elétrica recentemente, se apaixonou e resolveu comprar a sua. “Com a pandemia, não troco minha bike por nada”, conclui. Tudo indica que as bicicletas terão um lugar cada vez mais importante no futuro pós-pandemia.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 17 DE SETEMBRO

FUJA E NÃO OLHE PARA TRÁS

… Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás… (Genesis 19.17b).

Ló havia levado sua família para Sodoma. Buscava as glórias da terra e as riquezas do mundo. Pensando dar o melhor para sua família, perdeu-a. A alma de Ló foi atormentada nessa cidade promíscua e violenta. Ele ganhou projeção na cidade, mas ali não viu nenhuma conversão. Investiu na cidade, mas ali perdeu seus bens e sua mulher. Quando Deus estava prestes a derramar fogo e enxofre sobre Sodoma, enviou dois anjos à casa de Ló, que lhe deram um ultimato: fugir da cidade, correr para as montanhas e não olhar para trás. Ló não conseguiu convencer seus genros a fugirem. Precisou ser arrastado pelos anjos com sua mulher e suas filhas. Quando estavam subindo as encostas, a mulher de Ló olhou para trás e tornou-se uma estátua de sal. Jesus, dois mil anos depois, alertou: Lembrai-vos da mulher de Ló (Lucas 17.32). Essa mulher tornou-se um monumento da incredulidade e do amor ao mundo. Cobiçou Sodoma e seus prazeres e pereceu com Sodoma. Desobedeceu às ordens de Deus e tornou-se uma estátua de sal. A Palavra de Deus é enfática em dizer que não podemos ser amigos do mundo, nem amar o mundo, menos ainda nos conformar a ele. Como Sodoma, o mundo passa, e só aqueles que fazem a vontade de Deus permanecem para sempre. A vida real, abundante e feliz não estava no glamour de Sodoma, mas na fuga para longe dessa cidade pecaminosa!

GESTÃO E CARREIRA

O CLUBE DO LIVRO AGORA É DIGITAL

Mais de 300.000 livros foram baixados pelo aplicativo da Skeelo desde o começo da pandemia

O brasileiro não gosta de ler? Em maio do ano passado, os empreendedores Rodrigo Meinberg e Rafael Lunes decidiram apostar contra esse senso comum e lançaram um aplicativo de assinatura de e-books chamado Skeelo. Diferentemente dos concorrentes, que oferecem acesso ilimitado ao catálogo digital de livros, a dupla resolveu focar a curadoria de conteúdo e disponibilizar por mês um único título ao assinante, em geral um best-seller. Caso o leitor não goste da sugestão, tem um prazo para efetuar a troca pelo aplicativo. No total, já foram entregues mais de 80 milhões de livros aos assinantes.

Uma pessoa pode assinar o serviço por 23,90 reais por mês. Além disso, os sócios criaram um modelo de negócios em que as operadoras de telefonia e os bancos pagam pelo serviço para os clientes. Hoje, Claro, Algar Telecom, Tim, Oi e Banco do Brasil oferecem o aplicativo da Skeelo como benefício aos usuários. Com isso, a Skeelo passou de 3 milhões de assinantes no fim de 2019 para 21 milhões em junho deste ano. ”As operadoras agilizaram o processo de adesão ao Skeelo por causa do coronavírus”, diz Meinberg. De 23 de março a 29 de junho, foram mais de 300.000 e-books lidos, 275% mais do que no primeiro trimestre. A Skeelo planeja entrar em novos negócios. ”Vamos lançar audiobooks usando o mesmo conceito”, diz Lunes.

A HORA DO LIVRO             

A pandemia acelerou o crescimento de clubes de assinatura de livros, e-books e audiobooks

SKEELO

Preço: RS 23,90 por mês

O que é: clube virtual de livros

best-sellers

Crescimento: o consumo de livros mais do que dobrou em abril e maio em comparação aos três primeiros meses de 2020

TURISTA LITERÁRIO

Preço: RS 71,90 + frete

O que é: clube de assinatura de livros para jovens

Crescimento: de março a junho, o programa cresceu 70% em relação ao mesmo período de 2019

INTRÍNSECOS

Preço: RS 54,90 + frete

O que é: clube de assinatura da editora Intrínseca

Crescimento: o número de assinantes em maio cresceu 100% em relação ao ano anterior

STORYTEL

Preço: RS 27,90 por mês

O que é: serviço de streaming de audiobooks e e-books

Crescimento: o consumo local de conteúdo subiu 57% na plataforma desde o início da pandemia

TAG LIVROS

Preço: RS 55,90 + frete

O que é: programa de assinatura de livros

Crescimento: as visitas no site e os downloads dos aplicativos subiram 70% de março a junho em relação ao ano anterior

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SEXO PARA QUE?

Novos estudos revelam que, para a atual juventude, o prazer a dois na cama perdeu parte da graça, trocado pela vida eletrônica, e já não é sinônimo de contestação contra a caretice

Vai soar como oxímoro, uma impossibilidade, uma maluquice para tempos exageradamente modernos, mas é melhor ir direto ao ponto: os adolescentes e os jovens adultos, homens e mulheres, andam desinteressados do sexo. Para quê?, é o que parecem perguntar, alheios à sinfonia hormonal, de desejos à flor da pele, de tão tenra idade. Uma coleção de estudos internacionais atesta esse movimento de corpo. O trabalho mais recente, publicado em julho deste ano, feito por especialistas do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, em parceria com instituições como o Departamento de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, revelou que quase 31% de homens dos 18 aos 24 anos não fizeram sexo ao longo dos últimos doze meses. Entre as mulheres, 19% disseram “não, não quero”. E mudança histórica. Em 2002, menos de 20% do universo masculino dessa faixa etária dizia se abster das relações sexuais. As mulheres negavam deitar-se em 15% dos casos. Esperava-se, dada as sucessivas conquistas comportamentais, aos brados de igualdade e direitos, especialmente entre elas, que a libido se multiplicasse, mas não foi o que aconteceu.

É o que os especialistas chamam de “apagão sexual”. Não se trata de gente defendendo castidade ou sem vontade passando por momentos ruins na vida. É, a rigor, uma postura que dá as mãos aos novos humores, ao cotidiano reinventado, pendurado nas redes sociais, nos smartphones, na vida a um toque – a um toque do dedo no aparelho eletrônico. “Vejo como certa imaturidade quem põe o sexo como um dos assuntos mais importantes da vida”, diz Millene Müzel, 29 anos, estudante e estagiária de engenharia de materiais, numa frase cuja simplicidade resume a toada de toda uma geração. Mas, enfim, se algo se apagou, o que foi que acendeu?

A facilidade de comunicação por meio da internet, que exclui, em muitas situações, o contato físico. O prazer, hoje, pode ser o de ver azuladas as duas marquinhas do WhatsApp, a expansão meteórica das curtidas no Instagram ou algo um pouquinho mais apimentado, mas não muito. Metade dos jovens entre 18 e 22 anos já recebeu nudes como forma de conquista, mostra pesquisa conduzida pela Match Corporate, empresa que controla gigantes do segmento de relacionamentos amorosos, como o Tinder e o OkCupid. Um nude para cá, outro para lá, e basta. “O sexo virtual permite não só a conexão rápida, como também a desconexão sem grandes encargos e desgastes”, diz o antropólogo Michel Alcoforado, sócio do instituto de pesquisa Consumoteca, de São Paulo. Além disso, o alto consumo de conteúdo pornográfico, que chega às telas dos mais jovens cada vez mais cedo, também é contraproducente. O prazer solitário, imediato, fácil, facílimo, acaba por prejudicar interações fundamentadas do encontro a dois. “Chegamos a um ponto extremo, em que jovens saudáveis não conseguem manter um relacionamento por ser incapazes de se estimular ao lado de outra pessoa”, diz Carmita Abdo, psiquiatra, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex).

Seria superficial, embora decisivo, atribuir a desaceleração das atividades sexuais apenas aos contratempos de ordem digital. Há um outro interessante aspecto das atitudes da nova geração: a demora para engrenar nas atividades que remetam à vida adulta, como a saída da casa dos pais, o casamento e a conquista de certa independência financeira. Se no passado a juventude era naturalmente “empurrada” para a rua, hoje não é mais. Com o prazo para a maturidade estendido, a vida sexual também fica em segundo plano, por igualmente representar uma emancipação da realidade adolescente. Sem pressa, tudo muda. “Os jovens estão mais calmos para encontrar seus desejos e pô-los no lugar, sem ter que alardear nada”, afirma a professora Stella Christina Schrijnemaekers, antropóloga da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Essa calma, diga-se, carrega postura louvável. O batido e constrangedor hábito masculino de espalhar feitos sexuais, inevitavelmente falsos, virou tolice. Diz a psicóloga Raquel Varaschin, presidente do conselho da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (Sbrash): “O sexo não perdeu o protagonismo, mas está concorrendo com outros assuntos também relevantes como o vestibular e o mercado de trabalho extremamente competitivo”.

Desde que o mundo é mundo, o sexo conduz o comportamento da humanidade e por questões que vão muito além do caráter biológico. Na história moderna, ele representa uma das mais potentes ferramentas revolucionárias. Homens e mulheres que viveram os anos 1960 e 1970 viram florescer uma reviravolta feminina que mudou para sempre a concepção de desejo e libertação de corpos. Brotaram nessas duas décadas – para nunca mais deixar de existir – a pílula anticoncepcional e o divórcio. Nos anos 1980 e 1990 a epidemia causada pelo vírus HIV reergueu a patrulha moral sobre o que os corpos fazem na intimidade. E hoje, pela primeira vez, a atividade sexual talvez esteja perdendo seu caráter contestador. “Há uma certa exaustão sexual deflagrada pela carga histórica” diz a antropóloga e escritora Mirian Goldenberg. É como se homens e mulheres já não quisessem carregar nos ombros tanta responsabilidade. O direito de escolha, tão defendido pelas gerações anteriores, se manifesta agora em um novo tipo de liberdade, que parece cair bem aos novos tempos: o direito de não fazer. Ou fazer só de vez em quando, entre uma curtida e outra no Instagram, um piiim no WhatsApp.

EU ACHO …

DINHEIRO EMPRESTADO

Na quarentena, cuidado para não perder a grana e os amigos

Empréstimo, quem gosta de pagar? Quantia pequena nem se fala. O devedor reage: “Você vai me cobrar essa miséria?”. Quando eu tinha 20 anos, passei uma temporada nos Estados Unidos. Até me surpreendi quando alguém me devolveu 2 dólares. Lá, não importa a quantia. Empréstimo é empréstimo. Na quarentena, os pedidos explodiram. Mesmo com a flexibilização, muitos negócios não voltaram a ser como antes – e talvez não voltem nunca. A situação é difícil. Mas muitos já pediam antes do isolamento social. Um amigo, certa vez, precisava muito resolver uma emergência, nem me lembro qual. Ajudei. Passaram-se os anos. No Instagram, vi posts de suas viagens, na Bahia no Carnaval, em Trancoso no verão. Agora houve um corte em sua empresa. Vou salvar a situação de novo? Generosidade não é burrice. O pior é quando o calote assume o papel de justiça social. “Você não precisa” – é um mantra que sempre ouvi dos devedores. Quando cobro, sou acusado de mesquinharia. Surgem comentários entre os amigos.

Eu já emprestei bastante, até ajudei um amigo a fazer um curso. Prometeu que, quando arrumasse emprego, devolveria tudo. Nem um centavo. Agora, na pandemia, crise em seu trabalho. Pediu-me um empréstimo mensal, para quitar aluguel, supermercado…Sem deixar cair o nível de vida. Respondi a ele que empréstimo mensal não dá. Ofendeu-se. Caloteiro se ofende fácil. Nunca foi tão válido o velho ditado: “Quando se empresta dinheiro, perdem-se o dinheiro e o amigo”.

Há dois anos, um deles me ligou de madrugada. Tinha batido o carro em outro veículo, era culpado, estava sem seguro. Tinha emprego, carro… Avisei-o que teria uma responsabilidade: se não me pagasse, nunca mais eu emprestaria dinheiro a ninguém. Estaria prejudicando os outros no futuro. Em lágrimas, a pessoa me agradeceu. Bem mais tarde, saiu do emprego, vendeu seu carro, viajou… E nada! Foi uma lição.

Outra modalidade é o empréstimo de cartão. Uma funcionária deu o próprio para a melhor amiga comprar um eletrodoméstico a crédito. A tal amiga sumiu, óbvio. Da amizade, sobraram as prestações. Pior foi aquele que emprestou o nome. Primeiro, para a irmã montar uma empresa. Ela faliu. Depois de uma temporada no exterior, ele pediu um novo cartão no banco. Não conseguiu. Nome sujo. A irmã não encerrara o negócio, nem pagara o imposto de renda de anos. Gastou uma grana para resolver. Novamente, tentou o cartão de crédito. Ainda bloqueado. Muito antes, tinha emprestado o nome à namorada para financiar um carro. Ela não só não pagara, como devolvera o veículo. Este foi leiloado. Mas não quitou a dívida, que continuou rolando. Juros e juros. O rapaz teve de pagar tudo, e nem carro tinha para compensar. E se lamenta: “Se ela já estava com o nome sujo, qual a lógica de emprestar o meu?”.

Caia na real: quem tem o hábito de pedir empréstimo, seja de grana, seja do nome, não gosta de pagar. A quarentena está difícil? Quer ser generoso? Faça uma doação. Pelo menos você não vai passar pelo stress de brigar para receber.

*** WALCYR CARRASCO

OUTROS OLHARES

MEU GALPÃO, MINHA VIDA

A pandemia provocou inédito aumento de procura pelos self storages, como são chamados os espaços para guardar objetos pessoais e estoques de empresas

O isolamento social provocado pelo novo coronavírus afetou a forma como as pessoas e as empresas ocupam espaços. Áreas de convivência familiar passaram a ser usadas para as aulas dos filhos e o trabalho dos pais. Com a desaceleração abrupta da economia, escritórios e comércios viram o movimento cair e muitos tiveram de migrar para lugares menores. Ao mesmo tempo, outras atividades aproveitaram as mudanças de comportamento para adequar os negócios à crescente demanda pelo comércio eletrônico, o que obrigou grandes e pequenos varejistas a recorrer a locais específicos para estocar e distribuir mercadorias com agilidade. O novo cenário criou o ambiente perfeito para o avanço dos self storages. O conceito surgiu nos Estados Unidos na década de 60, mas apenas nos últimos anos se profissionalizou a ponto de atrair investimentos. Agora, virou febre. Para quem não conhece, os self storages são galpões onde é possível alugar boxes – que vão de 1 a 200 metros quadrados. Os usos são os mais variados: podem servir para guardar o berço aposentado até o estoque de cosméticos vendidos pela internet.

Fernanda Orbite, 40 anos, consultora de vendas do setor farmacêutico, se mudou há dois anos com a filha Lara, de 4, para a casa da mãe, que na época se recuperava de uma cirurgia. Ela optou por alugar seu imóvel e parte da mudança foi parar em um self storage. Com a pandemia, foi preciso fazer um novo ajuste na área do apartamento para que Lara assistisse às aulas pelo computador e Fernanda pudesse trabalhar em casa. “Só mantenho comigo o que realmente preciso usar”, diz. “Guardo de tudo, de aquecedor a impressora, além de brinquedos e roupas que não uso”. O boxe da consultora de vendas de São Paulo tem 3 metros quadrados e não lembra em nada os antigos e empoeirados guarda-móveis. O acesso é com senha e é possível chegar de carro até as docas para descarregar os volumes.

Os números confirmam a expansão do setor. Uma recente pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass), realizada pela consultoria Brain, mostra que, na comparação entre o primeiro e segundo trimestre do ano, o total de boxes no país subiu de 69.445 para 79.300. Com mais clientes, houve uma pressão nos preços. O valor médio do aluguel mensal do metro quadrado passou de 94 reais para 99 reais. “Com a pandemia e a necessidade de isolamento social, as pessoas estão buscando mais espaço em casa”, diz Rafael Cohen, presidente da Asbrasss. “Além disso, muitas empresas entregaram seus escritórios depois de migrar para o home office.”

O crescimento também vem sendo puxado pelas vendas do e-commerce. Concentrados nas maiores cidades do país, os galpões têm avançado para regiões centrais, o que torna o serviço de armazenamento uma espécie de extensão dos centros de distribuição. Com isso, as empresas conseguem descentralizar seus estoques e reduzir prazo de entrega dos pedidos. Maior companhia do setor, a GuardeAqui Self Storage, com 25 pontos, detectou uma disparada na procura por boxes. No primeiro semestre, o número de novas locações aumentou 33%, em comparação aos primeiros seis meses de 2019. Mariane Wiederkehr, CEO do GuardeAqui, conta que a demanda maior vem de contratos assinados por pessoas físicas, mas que o atendimento a empresas tem aumentado. “O self storage passou a ser uma extensão da casa e também atende ao novo mercado de trabalho”, diz a executiva.

Não à toa, as companhias do setor têm atraído um volume expressivo de recursos. O GuardeAqui recebeu nos últimos anos aportes do Pátria Investimentos e da Equity International. Outra empresa do ramo, a GoodStorage captou 300 milhões de dólares no mercado. Na GoodStorage, o processo de contratação do espaço é on-line e o acesso aos galpões é feito por senhas e biometria. Segundo o fundador Thiago Cordeiro, a pandemia impulsionou a procura em cerca de 20%. Apesar de o maior volume de negócios ainda vir de pessoa física, Cordeiro acredita que os pequenos empresários que voltarem seus empreendimentos para o comércio eletrônico deverão aderir a esse tipo de armazenamento. “Com o crescimento do e-commerce, as entregas aumentaram muito, o que foi facilitado pela quantidade menor de veículos em circulação durante a pandemia”, diz o executivo. Como será quando o tráfego voltar ao normal? “As empresas e as pessoas vão precisar de espaços pulverizados pelas cidades para diminuir o tempo de entrega dos pedidos, e é aí que nós entramos”, diz o presidente da companhia. Tudo indica, portanto, que o bom e velho quartinho da bagunça ficará definitivamente para trás.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 16 DE SETEMBRO

RENDIÇÃO, UMA NECESSIDADE IMEDIATA

Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará (Salmos 37.5).

A Segunda Guerra Mundial estava chegando ao fim. Era o ano de 1945. Hiroshima e Nagasaki haviam sido varridas do mapa pelo poder da bomba atômica. Os países do eixo, Alemanha, Itália e Japão, estavam derrotados. O presidente norte-americano e o primeiro-ministro da Inglaterra, Winston Churchil, desembarcaram em Tóquio, a fim que Hiroíto, o imperador japonês, assinasse o tratado de rendição. O imperador disse: “Eu assino o tratado, mas tenho algumas exigências a fazer”. Churchil respondeu com firmeza: “Não aceitamos exigências nem condições. Primeiro assine o tratado de rendição, depois reconstruiremos o Japão”. É assim que Deus faz conosco também. Não podemos exigir nada dele. Primeiro, nós nos rendemos a seus pés e depois ele restaura nossa vida. Não há esperança para o pecador enquanto ele não se render aos pés do Salvador. Não há cura para nossas feridas enquanto não nos curvamos diante daquele que tem o bálsamo de Gileade. Não há esperança para nossa alma a menos que nos prostremos diante daquele que é poderoso para perdoar, restaurar e salvar. Deus resiste ao soberbo, mas dá graças ao humilde. Somente aqueles que se ajoelham diante de Jesus, o Rei dos reis, poderão ficar de pé no Dia do Juízo final.

GESTÃO E CARREIRA

SALVAÇÃO OU ARMADILHA?

Quem abre um negócio por necessidade costuma sofrer com a alta carga emocional e com o despreparo para gerir uma empresa. Saiba como se preparar para empreender com segurança

Quando Kelli Carretoni, de 36 anos, e o marido, Marcos Senise, de 35, decidiram sair de Sidrolândia (MS) para recomeçar a vida em Florianópolis (SC) imaginaram que seria fácil abrir um food truck e se sustentar vendendo lanches. Desempregados, eles estavam morando de favor com a família havia seis meses quando decidiram arrumar as malas em agosto de 2018. Como já haviam visitado a ilha catarinense durante as férias de verão, pensaram que a multidão de turistas significaria sucesso garantido.

Mas a realidade do inverno em que chegaram à cidade foi bem diferente. Além de custos com locação e manutenção do trailer, o casal teria de arcar com alvará de funcionamento – e, também, com o aluguel de apartamento e todos os outros custos de vida. As contas não fechavam. “Decidimos recuar do nosso projeto inicial. Ficamos apavorados, pois tínhamos muitas despesas, o dinheiro estava indo embora e o desespero bateu”, diz Kelli. O sonho de ter um food truck durou apenas dois dias. Marcos começou a procurar emprego em lojas e restaurantes de Florianópolis. Apesar de carregar um diploma universitário de agronomia, ele não teve sucesso em sua área. Para piorar a situação, Kelli passou por um problema na coluna que exigiu repouso, internação e medicamentos – o que tornou a situação financeira do casal ainda mais preocupante. Foi então que tiveram a ideia de fazer bolos no pote para vender no comércio e na praia. Advogada de formação, Kelli sempre gostou de preparar doces e ficou encarregada. da produção, enquanto Marcos cuidava das vendas. Ele havia conseguido um emprego de vendedor durante o horário comercial e saía para vender bolos após o expediente. Depois de dez meses empregado, Marcos foi demitido e passou a se dedicar integralmente ao negócio. Com muito esforço, saíram do vermelho e hoje conseguem pagar todas as contas com os doces. A história poderia ter terminado mal, mas eles tiveram sorte. Em seu segundo verão na ilha, o casal está se preparando para formalizar a empresa e já sonha em abrir uma loja própria.

PURA NECESSIDADE

Histórias como a desse casal estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil – e não é porque o brasileiro se descobriu como empreendedor. O enfraquecimento da atividade econômica e o avanço do desemprego nos últimos anos são dois dos fatores que têm levado cada vez mais pessoas a abrir um negócio por necessidade.

Uma pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostrou que a taxa de empreendedorismo no Brasil está crescendo rapidamente, chegando a 38% em 2018, o equivalente a 52 milhões de pessoas. E, dos que abriram um negócio, 37,5% o fizeram por necessidade. A abertura de empresas que se enquadram no MEI (microempreendedor individual) também é um indicativo dessa tendência: de janeiro a outubro de 2019, o Brasil ganhou 1,5 milhão de novos microempreendedores, alcançando um total de 9,2 milhões. Com o registro, os empresários cujo faturamento chega a até 81.000 reais por ano podem ter CNPJ e emitir notas fiscais, além de ter acesso a direitos previdenciários e a auxílio-maternidade. “Há muita gente que não tem opção no trabalho formal e consegue no MEI um caminho para se formalizar e estar no mercado de trabalho”, afirma o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

COM EMOÇÃO

Se empreender por oportunidade já é desafiador, empreender por necessidade é ainda pior. Segundo especialistas, quem abre um negócio por não encontrar uma alternativa de renda costuma sofrer mais riscos de fracassar porque a carga emocional é muito mais intensa e tende a impactar a qualidade das decisões. “São muitas camadas de emoção envolvidas junto com um nível de conhecimento quase zero. As pessoas nessa situação ficam desesperadas porque o dinheiro nem sempre vem rápido”, afirma Marina Proença, especialista em marketing e criadora do curso Empreenda Simples.

Ao mesmo tempo, não há as mesmas garantias oferecidas por um emprego de carteira assinada, como fundo de garantia, férias remuneradas e 13º salário. Segundo Sandro Magaldi, fundador da startup Meu­ sucesso.com, que atua com educação empreendedora, a instabilidade dos rendimentos aliada a essas condições é um dos fatores mais desafiadores. “Empreender é sinônimo de risco. A segurança não é a mesma quando se tem uma ocupação formal”, afirma.

Outro ponto de atenção é a pressa para retirar uma renda de seu negócio, o que não permite que a empresa receba os investimentos necessários ao longo do tempo. “Esses ingredientes formam um bolo perigoso”, afirma Rubens Massa, professor no Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV Eaesp.

Em muitos casos, é preciso encontrar alternativas de renda até o negócio começar a dar certo. Foi o que fez Kênia Nazaro, de 33 anos. Formada em arquitetura, ela teve dificuldade para encontrar um emprego na área quando se formou em 2014. “O Brasil já estava em crise e meu mercado tinha quase chegado ao fundo do poço”, diz. Em vez de esperar por uma vaga, ela decidiu entrar em ação e começar a atuar por conta própria. “Precisava de dinheiro e também valorizar a graduação que eu fiz”, afirma. Com a marca Nazario Arquitetura, criou um perfil no Facebook com seu portfólio e, com dinheiro emprestado de sua mãe, imprimiu 5.000 panfletos para divulgar o negócio. Alguns meses depois, conseguiu o primeiro cliente. “Ele sabia que eu era inexperiente, mas decidiu arriscar”, diz. A clientela demorou a crescer e, até o início de 2018, Kênia precisou diversificar seu leque de atuação. Além de projetos de arquitetura, ela locava equipamentos recreativos para festas infantis. “Eu ficava por meses sem clientes e, para poder pagar as contas, comecei a alugar esses brinquedos”, diz. Agora, graças ao forte trabalho de divulgação nas redes sociais e na internet, Kênia conseguiu consolidar seu negócio de arquitetura. “O Instagram e o Facebook me dão clientes. Cheguei a um ponto em que eu não preciso mais ficar pagando para fazer propaganda porque os próprios clientes me indicam a outros”, diz a arquiteta, que está pensando em contratar um estagiário para ajudá-la.

PLANEJAMENTO É A CHAVE

Para quem está pensando em empreender por não encontrar mais nenhuma opção, a dica é buscar informação e pla11ejar o máximo possível antes de começar. Cursos gratuitos do Sebrae e informações disponíveis na internet são uma ótima alternativa para quem não tem dinheiro para investir em capacitação. Estar em contato com outros empreendedores também é uma boa ideia, seja por meio da internet, seja em feiras e eventos.

É essencial formular um modelo de negócios levando em conta o que a empresa vai fazer, quem será o cliente, como será o relacionamento com esse público, quais serão as principais atividades e os parceiros, assim como custos e receitas. “É preciso dar um primeiro passo e pesquisar”, diz Marina. Caso contrário, o risco de trabalhar muito e não ganhar dinheiro é alto. Também é importante considerar como seu negócio vai se diferenciar da concorrência, oferecendo produtos inovadores ou lançando mão de campanhas de marketing originais. “Se não souber responder qual dor você cura, nem comece”, afirma Pedro Superti, especialista em marketing de diferenciação.

Esse planejamento faz parte da história de Beatriz Carvalho, de 27 anos. Jornalista que nunca conseguiu atuar na área, ela criou, em 2017, o projeto Mulheres de Frente, que tem como objetivo usar a internet como ferramenta de empoderamento de mulheres da periferia da cidade do Rio de Janeiro. A ideia é ensiná-las a usar as redes sociais como ferramenta de trabalho. “As mulheres da favela são muito estigmatizadas pelo machismo e pelo racismo, e isso me incomodava muito”, diz. Para ajudar a mudar essa realidade, Beatriz oferece consultoria em mídias sociais, produção de eventos e também realiza workshops e oficinas presenciais em áreas carentes. Com isso, ela ajuda empreendedoras a divulgar seus produtos e serviços na internet de forma positiva, servindo de inspiração para outras mulheres.

Para tirar o negócio do papel, Beatriz precisou criar uma rede de contatos na região metropolitana do Rio. Sua principal fonte de negócio são as organizações não governamentais (ONGs) que atuam nessa região. “Procuro oferecer ajuda para eventos que elas realizam, e assim vou criando uma rede de contatos”, conta. Grupos de mensagens e participação em coletivos feministas também têm ajudado Beatriz em sua jornada empreendedora.

Em meados de 2017, o projeto foi mapeado pela Rede Favela Sustentável, da ONG Comunidades Catalisadoras. Em 2019, passou a fazer parte de uma incubadora de outra ONG, a Asplande. Na incubadora, Beatriz está aprendendo sobre modelo de negócios, marketing digital e gestão de negócios. “Esse mapeamento tem me dado mais visibilidade e um networking muito importante”, conta. No mesmo ano, ela se registrou como MEI para poder emitir notas fiscais. No longo prazo, sua intenção é levar o Mulheres de Frente para outros estados do Brasil e até para o exterior. Da necessidade pode ter surgido um grande projeto de vida.

POR QUE SER O PRÓPRIO PATRÃO?

A abertura de uma empresa é baseada na oportunidade ou na pura necessidade de conseguir renda. Veja como andaram essas duas motivações ao longo dos últimos anos

10 CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR DE SUCESSO

1. É atento a mercado e aposta em inovação

2. Dedica tempo ao planejamento

3. É resiliente e focado

4. Consegue manter a calma apesar das turbulências

5. Procura maneiras de se diferenciar da concorrência

6. Sabe quem é seu público-alvo

7. Tem clareza de receitas e custos

8. Entende que empreender é um processo

9. Não desiste se a primeira ideia não der certo

10. Gosta de aprender

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

POR QUE FIZ ISSO?

Estudos científicos mostram que não estamos totalmente no controle de nossas atitudes

Você já se pegou pensando por que fez uma pergunta em um momento importuno? Ou então, por qual motivo comprou aquele livro que jamais foi folheado? Todo mundo já teve algum desejo, medo ou ideia que surgiu sem se saber bem como e de onde. Essas atitudes podem ter sido influenciadas pela manifestação do inconsciente, que atua sobre nossa mente o tempo todo, seja enquanto dormimos ou estamos acordados.

“No dia a dia, nos deparamos com fatos que nos fazem pensar ‘por que fiz isso?’, ‘de onde veio esse pensamento?’ ou até ‘como fui capaz disso?’, Eles seriam difíceis de explicar apenas com a suposição da consciência e que precisam ser investigados a fundo. As nossas atitudes são permeadas por esses atos psíquicos que nos surpreendem e por pensamentos cuja origem não conhecemos”, destaca a psicóloga Maria Carolina Martins Furini.

PSIQUE EM ORDEM

Grande parte do que fazemos diariamente são processos inconscientes – ainda que sejam invocados de maneira voluntária, como andar, comer e falar. Aprendemos durante a vida e os realizamos automaticamente, pois ficam registrados na mente na forma de memória. Já outras lembranças ficam no inconsciente porque simplesmente julgamos que não sejam tão relevantes (ou você se lembra do número de telefone de todas as pessoas que já te passaram um dia?). Por último, nas profundezas do inconsciente, existem memórias de experiências que vivemos mas que, por algum motivo particular, insistimos em reprimir (geralmente situações que causaram desconforto, medo ou sofrimento).

Essa organização existe para que fosse possível manter a ordem da psique, já que seria impossível viver tantos anos guardando nitidamente todas as experiências passadas. Somos bombardeados o tempo todo por imagens, sons e sensações e o cérebro não tem tempo de processar racionalmente tudo.

NO COTIDIANO

Ainda que a influência do inconsciente chegue a ser imperceptível, ela é constante. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, acreditava que a “voz” do inconsciente podia escapar de forma direta ou indireta, por meio de sonhos, por exemplo. Há ainda os atos falhos, que podem ocorrer por equívocos na fala (trocar o nome das pessoas), na memória (se confundir onde guardou as chaves) e até nas ações (abraçar em vez de apertar a mão em um cumprimento). Claro que o episódio também pode ocorrer por pura distração, porém, se for recorrente, é importante ser analisado por você mesmo e até com a ajuda de um psicólogo.

Em seus estudos sobre o inconsciente, Freud aponta a influência do psíquico em nosso cotidiano. “Ao examinar a dificuldade em compreender o motivo ou a determinação de alguma conduta pessoal, ele compreende que os critérios utilizados pela consciência para tal decisão não conseguem se justificar ou não alcançam a totalidade da compreensão. Isso demonstra que algo para além da consciência, ou seja, algo do inconsciente, está inscrito aí”, explica Maria Carolina.

A análise poderia ser interpretada de que, mesmo o inconsciente estando presente nas ações, ele é despercebido por ser de difícil apreensão. “A racionalidade nos faz pesar os prós e os contras de nossas atitudes e decisões, enquanto o inconsciente se revela nas ações que julgamos inadequadas, impertinentes ou que não encontramos uma justificativa satisfatória para a mesma”, destaca a psicóloga Glaucia Guerra Benute.

A CIÊNCIA PROVA

Somar 8 mais 2 exige que você faça um pequeno esforço mental consciente, certo? De acordo com um estudo francês, você não precisa calcular racionalmente o resultado, já que a leitura e as operações matemáticas simples (com até três números de 1 a 9) podem ser executadas inconscientemente.

Por meio de alguns experimentos, os cientistas da Universidade de Bordeaux concluíram que diversas ações, até então consideradas racionais, podem ser feitas inconscientemente. No estudo, 300 voluntários foram expostos a palavras e equações com uma técnica chamada supressão contínua do flash (CFS, em inglês). Ela consistia em mostrar uma frase ou sequência numérica em frente ao olho esquerdo de cada indivíduo, ao mesmo tempo em que o olho direito recebia imagens com formas coloridas que mudavam rapidamente – que serviam para chamar a atenção, enquanto as outras informações eram registradas inconscientemente. Em seguida, ao ser apresentada a uma série de números, a pessoa reconhecia os números que representavam o resultado da soma ou a subtração que acabava de ver ou, então, as palavras e frases. Para os cientistas, o ser humano guarda e usa sem saber mais informações do que a ciência imaginava.

NA POLÍTICA

Outro exemplo de como o inconsciente influencia de forma imperceptível muitas de nossas ações tidas como racionais é uma pesquisa realizada em 2006 por psicólogos da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Os cientistas apresentaram aos participantes do estudo fotos de candidatos a cargos políticos do país por apenas um quarto de segundo. Em seguida, pediam que eles dissessem qual candidato parecia ser mais competente. Para a surpresa dos pesquisadores, 69% dos candidatos escolhidos pelos participantes tinham vencido as eleições para o governo e 72% se tornaram senadores. Incrível, não é?

ATÉ NAS COMPRAS

Nossas decisões na hora de fazer compras também são regidas pelo inconsciente. Um estudo realizado na Escócia indicou como o som do ambiente pode influenciar inconscientemente as atitudes do consumidor. Os pesquisadores colocaram vinhos franceses e alemães do mesmo tipo e preço nas prateleiras de um supermercado. Alternadamente, o estabelecimento tocava música francesa em um dia e alemã no outro. Nos dias em que o som do local era música francesa, 77% dos vinhos vendidos eram da França; já quando a música era alemã, 73% dos consumidores levaram garrafas da Alemanha. Ao entrevistarem os participantes da pesquisa, um em cada sete admitia a influência da música em suas compras, sendo que apenas um em cada 44 afirmou que o som ambiente neste caso teve um papel decisivo na escolha do vinho.

Como a compra de algo que exige tanta análise, como tipo de uva, região de origem e prato que será servido, pode ser influenciado simplesmente pelo som do momento? Só mesmo o enigma do inconsciente para explicar!

NEUROMARKETING

A importância da ação do inconsciente nas vendas é tanta que publicitários vêm apostando em um ramo conhecido como neuromarketing para despertar cada vez mais a atenção da mente do consumidor. Derivado da junção do marketing e da ciência, o objetivo é entender a essência do comportamento do consumidor – desejos, impulsos e motivações – visando a um maior lucro das marcas. Os resultados das pesquisas ainda são inconclusivos, porém, já se sabe que a maior parte das decisões de compra é tomada em nível subliminar. Sendo assim, é importante impactar o inconsciente do consumidor com memórias, emoções e experiências positivas para que ele se lembre mais facilmente de uma marca ou um produto na hora de escolher o que levar para casa.

FREUD X NEUROCIÊNCIA

O físico norte-americano Leonard Mlodinow é um defensor da ideia de que a mente subliminar é responsável pelos instintos que nos ajudam a sobreviver e socializar. Para explicar o funcionamento do inconsciente e medir todo seu poder, Mlodinow escreveu o livro Subliminar (Editora Zahar), onde reuniu uma ampla bibliografia sobre o assunto – da filosofia do século 18 aos estudos dos anos 2000, quando o surgimento das máquinas de ressonância magnética revolucionou as pesquisas sobre o tema. O autor defende que inconsciente é diferente daquele imaginado por Sigmund Freud. Até onde a ciência sabe, Freud acertou ao supor que o pensamento racional ocupa apenas uma parte pequena do cérebro, mas errou ao descrever o inconsciente como uma parte totalmente reprimida da mente. Exames de ressonância magnética mostram que o cérebro usa os mesmos circuitos neurais tanto para processar pensamentos conscientes quanto inconscientes, ou seja: as áreas racionais e irracionais estão interconectadas o tempo todo. O inconsciente seria a soma de memórias infinitas, porém, além de arquivá-las, ele as coloca em um processo de associação por meio de um método que ainda foge à compreensão do ser humano. Isso explica por que algumas lembranças, que nem sabíamos que tínhamos, simplesmente surgem em nossa mente sem que a invoquemos. “O inconsciente é um sistema psíquico que busca aparecer por meio da consciência, ou seja, são conteúdos que mesmo de forma confusa ou escondida tentam se manifestar em nossas atitudes e em nossa forma de agir no mundo”, completa a psicóloga Maria Carolina Martins Furini.

EU ACHO …

JUSTIÇA PARA AS VÍTIMAS DE ESTUPRO

Atraso na análise de kits de evidências pode impedir prisão de mais criminosos

Por todo o país, uma imensa quantidade de kits de análises de crimes de estupro não está sendo corretamente testada. Essas caixas de papelão contêm envelopes repletos de pelos, células da pele, sêmen, roupas e outras evidências forenses coletadas das vítimas após o relato do ataque sexual. Se o DNA em um kit corresponder a algum DNA guardado em um banco de dados de criminosos, alguém pode ser preso. Portanto, é um crime levar as mulheres a um processo de coleta, que é difícil do ponto de vista físico e emocional e dura horas, e nunca analisar os kits. Porém, mais de 100 mil kits de estupro estão empoeirando nas prateleiras de laboratórios, hospitais e delegacias nos EUA porque falta aos estados dinheiro ou vontade de processá-los.

Agora sabemos que, se os kits forem analisados, mais criminosos serão capturados. Por exemplo: o promotor distrital de Manhattan, em Nova York, concedeu subsídios para kits de estupro para 20 estados entre 2015 e 2018, e foram feitas 186 prisões e 64 condenações, muitas envolvendo estupradores em série cujo DNA apareceu em vários kits. Um esforço contínuo para testar um arquivo de kits antigos em Cuyahoga Count) Ohio, levou a mais de 400 condenações, principalmente em casos antigos. “É perigoso deixar essas pessoas soltas”, diz llse Knecht, diretora de políticas da Joyful Heart Foundation, uma ONG que apoia sobreviventes de agressão sexual. “Pesquisas mostram que, quanto mais tempo elas ficam nas ruas, mais crimes cometem porque é comum que sejam criminosos seriais”. Mais jurisdições deveriam se juntar a esses esforços. Resolver esse problema não depende apenas de dinheiro. Muitos estados agem como se os kits não fossem importantes e não tivessem um sistema para rastreá-los e processá-los: eles sequer têm um registro exato de quantos estão sem uso.

 Além de Washington, D.C., 32 estados já aprovaram leis que exigem que os kits recém-coletados sejam testados e 25 estados exigem algum tipo de rastreamento. Mas as leis são uma colcha de retalhos e não atendem tudo o que precisa ser feito. Em nível federal, em dezembro de 2019, o presidente Donald Trump assinou a Lei Debbie Smith, autorizando novamente uma lei de 2004 para disponibilizar US$ 151 milhões por ano para testar evidências forenses criminais. Mas o dinheiro é para todos os tipos de evidências de DNA, não apenas kits de estupro, e suas subvenções ajudam apenas com os kits não testados que já foram enviados para laboratórios, e não tocam no maior estoque de kits ainda nos armazéns da polícia ou dos hospitais.

Como essas são apenas soluções parciais, a situação geral está piorando. Um relatório de 2019 constatou que, entre 2011 e 2017, o número de solicitações para análise de DNA de cenas de crime em atraso – compostas principalmente por kits de estupro – cresceu 85%. “A demanda [por testes] aumentou tanto que em alguns lugares há uma nova série de pedidos”, diz Knecht. Embora os estados ainda estejam tentando processar os kits antigos, a polícia os está usando com mais frequência, em parte porque há mais conscientização da utilidade das evidências forenses na obtenção de condenações. “Em geral, é preciso aumentar a capacidade do sistema como um todo”, diz ela.

Poucos estados estão implantando completamente todas as seis estratégias sugeridas pela Joyful Heart para resolver o problema: (1) exigir um inventário anual estadual de kits não testados, (2) tornar obrigatório o teste de todos os kits não testados, (3) tornar os testes de novos kits obrigatórios. (4) estabelecer um sistema de rastreamento em todo o estado, (5) exigir que os sobreviventes sejam informados sobre o status de seu kit e (6) fornecer o financiamento para cada uma dessas iniciativas.

Fazer isso é o melhor caminho para que as vítimas sobreviventes recebam justiça. Devemos acreditar no que elas nos dizem e honrar a coragem delas em denunciar crimes e fornecer evidências ao usarmos essas evidências para capturar estupradores.

OUTROS OLHARES

A NOSTALGIA É CHIQUE

Deflagrada pelo TikTok, a nova tendência para o vestuário entre os jovens é copiar referências clássicas do Renascimento

De onde ecoam as mais avassaladoras tendências de comportamento hoje? Nove entre dez são difundidas pelo aplicativo chinês TikTok, a rede social com mais de 1,5 bilhão de usuários e que Donald Trump transformou em cavalo de batalha na Guerra Fria contra a China. Não há, enfim, território mais afeito aos interesses da chamada Geração Z (dos nascidos entre 1995 e 2010, de 10 a 25 anos de idade) e ao consumo imediato, ligeiro, do que o infindável arsenal de vídeos curtos, de quinze segundos, ou pouco mais. Caiu, portanto, como uma luva para o universo sempre efêmero – mas interessantíssimo – da moda. O atual sucesso é um vestido de tom rosa-claro com decalques brilhantes em formato de moranguinhos, aplicados em um generoso tecido do tipo tule, que se desdobra em uma saia rodada. O modelo primaveril tem causado furor entre as usuárias, que postam depoimentos relatando ansiedade para a chegada do item depois da compra on-line.

A criação é obrada designer nova­iorquina Lirika Matoshi e custa 490 dólares, algo em torno de 2.750 reais. Convém ressaltar que não há nenhum item luxuoso na vestimenta que justifique o preço. Mas há um trunfo valioso em tempo de diversidade: manequins que vão do tamanho pequeno ao extra grande. Viralizou, aliás, a imagem da modelo plus size Tess Holliday com um deles na entrega do prêmio Grammy, em janeiro, antes da pandemia, quando o mundo era outro. Mas foi dentro de casa, no confinamento, que o fenômeno explodiu realmente, associado ao interesse pelas coisas do passado, natural e agradável porta de saída para a dureza do cotidiano. O vestido com a estampa silvestre remete, claramente, ao Renascimento, do século XIV ao XVI. A referência está sobretudo no recorte das peças, com mangas levemente bufantes e cintura marcada, logo abaixo dos seios. A saia mais solta, com generosas quantidades de tecido, também conversa com aquele período de transformações na Europa.

“O Renascimento foi uma época revolucionária para o vestuário feminino, quando as mulheres descobriram que podiam seduzir os homens ao realçar a cintura”, diz João Braga, professor de história da moda na Fundação Armando Alvares Penteado, de São Paulo. As citações renascentistas vão além: o gosto por tiaras para cabelo acolchoadas e blusas com decote quadrado. “A busca de referências do passado é uma forma de escapar dos problemas do dia a dia”, resume Laura Ferrazza, autora do livro Quando a Arte Encontra a Moda. “Quanto mais distante um período está, mais ele é romantizado e visto como ideal, em contraposição à atualidade.” Vive-se a história de um presente virado de cabeça para baixo – e o guarda-roupa é um bom modo de entendê-lo.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 15 DE SETEMBRO

A DISTÂNCIA NÃO LIMITA O PODER DE JESUS

Vai-te, e seja feito conforme a tua fé (Mateus 8.13).

Um soldado graduado viajou até Cafarnaum para implorar a Jesus em favor de seu criado, a quem amava, pois estava sofrendo muito em cima de uma cama, quase à morte. Jesus lhe disse: Eu irei curá-lo (Mateus 8.7). Mas o centurião lhe respondeu: Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado (v. 8). Aquele soldado romano demonstrou grande humildade e também robusta fé. Sabia que Jesus tinha poder para curar o seu criado. Sabia, porém, que ninguém pode achegar-se a Deus ostentando méritos ou fazendo exigências. Em vez de apresentar seus títulos a Jesus, afirmou que não era digno de recebê-lo em sua casa. O centurião não fez exigências, mas súplicas; não reivindicou direitos, mas clamou por misericórdia. Jesus ficou tão admirado com sua atitude, que afirmou: Nem mesmo em Israel achei fé como esta (v. 10). E, naquela mesma hora, o servo ficou curado. Jesus honra a fé do centurião e cura o servo à distância. Jesus pode fazer o mesmo ainda hoje. Não desista de clamar em favor de sua família e de seus amigos. Não há problema insolúvel quando o entregamos aos pés do Senhor. Não há causa perdida quando a depositamos nas mãos de Jesus. O Senhor pode tudo quanto ele quer. Cristo tem todo poder e autoridade no céu e na terra.

GESTÃO E CARREIRA

A REINVENÇÃO DOS NEGÓCIOS

A pandemia obrigou empresas tradicionais a buscarem novas fórmulas de atuação para fazer frente à crise. E algumas soluções deram tão certo que devem se transformar em prioridade de várias corporações

Quando a pandemia chegou, uma série de empresas teve de baixar as portas e a criatividade passou a ser a única alternativa para não deixar o negócio morrer na praia. Hotéis, restaurantes, organizadores de eventos e até sorveterias tiveram de se virar para ganhar uma sobrevida e resistir ao destino nebuloso que o vírus decretou ao mundo. Mas o que podia ser o fim já se mostra um novo começo. Soluções inusitadas ganharam forma e fazem tanto sucesso que devem permanecer no portfólio de muitas corporações daqui pra frente. É o caso dos quartos de hotéis da rede Accor, que viu sua ocupação despencar 80% desde março. Foi então que camas e poltronas saíram, abrindo espaço para mesas e cadeiras de escritório. Estava criado um ambiente alternativo para muitos executivos terem seu home office longe da rotina da residência.

A modalidade está dando tão certo que dos 330 hotéis da rede no País, 80 já oferecem a solução, que agora inclui salas de reuniões e até brinquedotecas para família. “Tivemos de agir rápido e criar alternativas. O sucesso foi tanto que a experiência está sendo replicada na Europa e chegará em breve à Ásia”, explica Patrick Mendes, CEO da Accor para América Latina, rede que tem entre suas bandeiras os hotéis Ibis, Sofitel, Mercure, Novotel, Pullman, entre outras. As diárias vão de R$ 29 a R$ 300, dependendo da marca. Os custos, segundo Patrick, foram marginais e a iniciativa compensou por manter as unidades funcionando.

A rapidez também foi a arma do Grupo MM. Especializada em eventos, a empresa havia realizado mais de 2,7 mil encontros, entre workshops, seminários e feiras em 2019, e apostava num crescimento de até 15% para este ano. Tudo estava indo como planejado até março, quando o jogo virou e foi preciso renegociar eventos cancelados pelos clientes com os fornecedores. “Tínhamos coisas agendadas até 2021, algumas até pagas”, diz a fundadora Meire Medeiros. Depois de enxugar seu quadro, ficando com 40% dos 120 funcionários, ela percebeu que o problema não seria restrito ao primeiro semestre e foi atrás de alternativas para realizar eventos virtuais. Encontrou parceiros que ofereceram plataformas robustas para substituir o presencial pelo online e agora já contabiliza 172 eventos contratados.

“Em um deles tínhamos dois mil convidados e conseguimos manter 1,6 mil conectados simultaneamente”, comemora. Daqui para frente, Meire acredita que a tecnologia vai continuar fazendo parte dos negócios e, mesmo que surja uma vacina, os eventos devem se tornar híbridos. O setor de eventos, que já amargou perdas de até R$ 90 bilhões neste ano, agora vê na tecnologia a chance de acrescentar mais gente aos encontros. “Por isso, investimos em um estúdio para gravação dos eventos online”, afirma. Mesmo não substituindo o formato tradicional, a nova modalidade conseguiu impedir uma queda total do faturamento da empresa, que manteve 60% da receita. E se os impactos foram severos para hotéis e eventos, no setor de alimentação não foi diferente. Impedidos de abrir as portas por meses, muitos apostaram no delivery. Mas como resolver o problema da entrega quando o produto é sorvete? A sorte da Bacio di Latte é que essa questão já estava sendo pensada pela empresa desde 2019. Em janeiro do ano passado, apenas três lojas da rede conseguiam entregar o produto com qualidade. Com testes de embalagens térmicas feitos há mais de um ano, a empresa encerrou 2019 com 55 lojas prontas para entregar e agora já são 120 das 135 lojas em todo o Brasil fazendo delivery.

APOSTA NO DELIVERY

Mas não foi fácil vencer o temor de que o produto não chegasse integro. Assim, a empresa arregaçou as mangas e junto com uma agência lançou uma campanha maciça na internet para mostrar que estava vendendo e se surpreendeu com uma questão básica, mas que jamais tinha imaginado. Nos sistemas de entrega de comida, o usuário procurava por sorvete e não gelato. “Não aparecíamos nem nas buscas e tivemos de mudar isso rápido”, explica o diretor de marketing da Bacio di Latte, Fábio Medeiros. Outro ponto crucial foram as quantidades. Tinha apenas duas embalagens para entrega, uma de 1,3 litro a R$ 89, e outra de 630 ml a R$ 65. O ticket médio nas lojas era de apenas R$ 16, porque as pessoas pediam apenas um sorvete de casquinha. “Criamos embalagens individuais, a R$ 20”. Aí vieram os kits que permitem às pessoas montar seu sorvete e, para melhorar, as pessoas podem usar vale refeição no pagamento. Agora a empresa trabalha na diversificação dos canais de venda, como supermercados e restaurantes. Com todas as ações, a rede comemora o salto de três mil para 40 mil pedidos mensais por delivery.

Nem as franquias escaparam dos efeitos da pandemia. A rede de spas urbanos Buddha criou uma modalidade onde massagistas e terapeutas atendem os clientes em suas casas. O Smart Spa já virou uma nova modalidade de franquia. Presente em shoppings, aeroportos e metrôs a Nutty Bavarian, que comercializa castanhas, precisou fechar todos os quiosques (mais de 120) em março e decidiu investir em vendas via WhatsApp, além do e-commerce. Para os franqueados participarem da nova frente foi criado um link para que cada um virasse um vendedor. A entrega é feita pelo iFood e até a sede em São Paulo virou um ponto de coleta para delivery. Além disso, tirou do papel o plano de entrar no varejo com vendas em supermercados. Diante da pandemia, a saída é inovar e se preparar para uma mudança profunda. Os negócios nunca mais serão os mesmos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A NECESSIDADE DE AFETO

As pessoas reagem de forma diferente às manifestações afetivas. Como podemos atuar como gestores das nossas emoções para uma vida mais saudável

A palavra afeto é um substantivo abstrato, o que significa que ela não existe sozinha, depende de alguém ou algo para existir. Trata-se de uma inclinação a uma pessoa ou objeto, uma disposição, seja positiva ou negativa. Os afetos foram, por muito tempo, subestimados, tratados como algo impreciso, irracional e primitivo, que remete ao início de nossa existência. Porém, hoje podemos perceber como eles são importantes em nossa vida e em nossas interações, pois somosseres relacionais. Apesar de fazer parte de nossa essência, cada pessoa lida de maneira diferente com os afetos, mas por quê? Essa é a questão que busco responder aqui. Para isso, parto do conceito de afeto e de uma contextualização histórica de seu estudo ao longo dos séculos, chegando aos pesquisadores contemporâneos. Dessa maneira poderemos compreender a que fatores estão ligadas essas diferenças e como podemos lidar melhor com os afetos em nossa vida.

A afetividade é um estado psíquico que engloba os sentimentos e as emoções. Mas, qual a diferença entre emoção e sentimento? A emoção é uma reação episódica, que envolve uma alteração no nosso corpo, como aumento na frequência cardíaca: medo, alegria e raiva são exemplos de emoção. O sentimento, por sua vez, é um estado psicológico de longa duração e nós o interpretamos de acordo com as nossas experiências, vivências, ou seja, ele tem uma dimensão subjetiva.

CONTROLE DAS EMOÇÕES

O psiquiatra Daniel Siegel e a psicanalista Tina Payne Bryson explicam que as emoções estão relacionadas à parte de baixo do cérebro (tronco cerebral e região límbica), já a parte superior do cérebro (córtex cerebral e suas diversas partes) garante uma percepção mais completa do mundo, como pensar, imaginar e planejar. Quando essa parte superior está funcionando bem, nós conseguimos controlar bem as nossas emoções, refletir antes de agir e reagir. Podemos afirmar então que quando alguém tem um ato de afeto ou reage positivamente a uma demonstração afetiva está com as duas áreas do cérebro integradas, pois consegue interpretar suas emoções em forma de sentimentos saudáveis. Os psicólogos Ângela Branco e Jaan Valsiner classificam os afetos em níveis: no nível inferior estão os processos fisiológicos imediatos (como uma sensação de bem-estar), no meio estariam as emoções (ódio, medo, alegria, raiva) e, no nível mais alto, estariam os estados afetivos (como os valores, sentimentos, convicções) que são sentidos por cada um de nós de forma diferente.

REGISTROS DA MEMÓRIA

Alguns autores acreditam que as emoções elementares, como o medo e a raiva, estariam se atrofiando no decorrer da evolução do ser humano pois foram configuradas no processo evolutivo da espécie e possuíam, naquele momento, função de reação fisiológica ao ataque e à defesa. Acredita-se que, devido às mudanças nas nossas condições de vida, elas seriam desnecessárias e, por vezes, nocivas para nós. Meu modo de entender os afetos é muito similar ao de Lev Vygotsky. O psicólogo não deixa de tomar como premissa a origem biológica das emoções, porém, segundo ele, elas também podem ser construídas por meio das relações sociais.

Além disso, as emoções elementares não se tornaram inúteis no processo evolutivo da espécie, essa premissa analisa o fato apenas por um viés biológico e deixa de lado o psicológico. Vygotsky destaca que as emoções sempre foram poderosas organizadoras de comportamento e essa função continua existindo até hoje.Assim, acreditando na possibilidade que temos de perceber as emoções, refletir sobre os sentimentos e buscar formas mais saudáveis de agir e reagir no mundo, as emoções podem ser fortes aliadas para uma vida melhor.

Considero que, como uma dimensão do psiquismo, a afetividade dá um sentido especial às nossas vivências e nossas lembranças e influencia sensivelmente os nossos pensamentos. Afetividade e cognição se complementam: sentimos de acordo com o que pensamos e pensamos de acordo com o que sentimos. A partir das memórias que guardamos de todas as nossas vivências, experiências individuais e sociais, construímos nosso modo de pensar, nossas ideias e nossos conceitos e essas questões nos influenciam e moldam a forma como vamos reagir aos afetos recebidos. É impossível desconsiderar o desenvolvimento do ser humano e seus afetos sem o poder das relações intrapessoais e interpessoais e da troca com o meio desde a mais tenra idade.

CARGA EMOCIONAL

Tendo discorrido sobre a relevância da esfera afetiva sobre nossa vida e sua relação com a parte cognitiva, o foco agora cairá sobre a forma como reagimos aos afetos. Para isso, vou me basear na teoria da inteligência multifocal (TIM), que busca oferecer uma compreensão sobre a construção dos pensamentos e sobre a importância de agirmos conscientemente sobre eles, para buscarmos uma saúde emocional melhor.

Segundo a TIM, as nossas experiências são armazenadas por meio de um fenômeno inconsciente chamado RAM (registro automático da memória), que registra, automaticamente, tudo aquilo que apreendemos por meio dos cinco sentidos e guarda essas memórias em “janelas”. Se uma experiência foi vivenciada com alta carga emocional, seja ela positiva ou negativa, ela será mais facilmente resgatada na memória em meio aos milhões de outros registros (janelas) que foram construídos ao longo da vida.

É importante compreender que não construímos nossos pensamentos somente porque queremos, de forma consciente (pela decisão do eu), muito pelo contrário, a construção é, em grande parte, feita de forma inconsciente, por meio do registro das experiências na memória.

Aquelas vivências que tiveram uma forte carga emocional criam janelas killer ou janelas light. As killer recebem esse nome por serem “assassinas da inteligência”, ou seja, elas não permitem que tenhamos reação inteligente diante de estímulos estressantes. Elas contêm nossas experiências traumáticas, como frustrações, perdas, medos, rejeições, traições etc. Já as janelas light são chamadas assim por “iluminarem a nossa inteligência”, permitindo respostas mais sábias diante das situações da vida. Correspondem às experiências saudáveis como superações, coragem, capacidade de se colocar no lugar do outro etc.

Tudo o que percebemos, sentimos, pensamos, experimentamos, torna-se tijolo na construção da plataforma de formação do eu. É por isso que o autoconhecimento da dimensão afetiva, ou seja, perceber aquilo que nos emociona e que nos faz sentir bem ou mal ajuda nas inúmeras decisões do dia a dia e na resolução de conflitos de natureza pessoal e interpessoal.

O que quero dizer é que ao vivenciarmos uma situação, nosso cérebro buscará, em milésimos de segundos, informações para sabermos como responder a ela, E onde ele vai buscar informações? No nosso maior banco de dados, na nossa memória. Assim, se você está tendo uma experiência afetiva qualquer em sua vida e os registros em sua memória em relação a esse tópico são majoritariamente janelas killer, provavelmente você não conseguirá ter uma reação saudável. Dessa maneira, podemos afirmar que a nossa reação aos afetos é diferente devido, majoritariamente, às diferentes experiências de vida que tivemos e ao registro delas em nossa memória.

GESTOR DA PSIQUE

Então, se tivemos experiências negativas em relação aos afetos, sempre responderemos de forma negativa às novas experiências? Não. Porque somos gestores de nosso psiquismo e podemos alterar em nossa memória não o registro, não a lembrança, mas a carga emocional ligada a elas, agregando novas janelas de compreensão e aprendizado sobre as situações.

A partir dessa compreensão, podemos afirmar que a nossa reação aos afetos depende de algumas variáveis ligadas à nossa memória e à maneira como agimos sobre ela. Essas variáveis seriam: “como estou” (estado emocional e motivacional no momento da vivência), “quem sou” (a história existencial arquivada nas janelas da memória), “onde estou” (ambiente social que influencia meu jeito de ser e minhas respostas), “quem sou geneticamente” (natureza genética e matriz metabólica cerebral) e o “como atuo como gestor da psique” (como atuo conscientemente diante dos registros da minha memória). Na sequência, falarei um pouco a respeito de estudos sobre os efeitos de determinadas experiências sobre os afetos, notadamente sobre o papel da família no desenvolvimento afetivo de seus filhos.

DESENVOLVIMENTO AFETIVO

Desde o princípio da vida fetal, milhões de pensamentos e emoções já são registrados na nossa memória, tecendo complexas redes de janelas na nossa psique, dando início desde cedo a nossa vida afetiva. Assim, é importante a família ter consciência de que precisa preparar um ambiente saudável e afetivo durante a gravidez para que o fenómeno RAM do bebe registre vivências e construa janelas da memória associadas a emoções tranquilas e, dessa maneira, desenvolva habilidades afetivas saudáveis. O feto carregará essas memórias por toda sua infância e vida adulta e elas se transformarão em pensamentos, em noções de si e do mundo, que se desdobrarão em reações daquele ser às manifestações e necessidades afetivas (abraço, segurança, proteção, interações com os outros).

Crianças privadas de afeto apresentam, entre outros prejuízos, alterações no funcionamento de áreas cerebrais associadas ao processamento das emoções, os efeitos serão observados a longo prazo, na idade adulta. Há uma clara evidência de que crianças que não desfrutaram de vínculos afetivos sólidos terão maior tendência à agressividade e ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas como depressão. Isso é o que afirma o pesquisador Jamie Hanson, do Departamento de Psicologia da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, ao salientar que “a negligência emocional praticada por pais e cuidadores em relação às crianças deixa marcas nos circuitos neuronais” e que “no futuro, essas cicatrizes podem contribuir para o surgimento de sérios distúrbios afetivos”.

Assim compreendemos o papel imprescindível da família nesse processo de desenvolvimento dos afetos, pois é nela que se estabelecem os primeiros vínculos fundamentais para a possibilidade de pertencimento a outros grupos mais amplos no futuro. No núcleo familiar, a criança entra em contato com o meio que lhe fornecerá suporte para desenvolver seus afetos.

Contudo, muitas crianças nascem em famílias que se encontram em situação socioeconômica degradante, esse fator pode propiciar a vulnerabilidade de vínculos e afetos durante seu desenvolvimento. O abandono parental e a desestruturação familiar são considerados fatores de risco para a construção da afetividade nas crianças.

TEORIA DO APEGO

Corroborando essa linha de pensamento, o psicanalista inglês John Bowlby já havia apontado, na década de 1950, a importância do relacionamento com o cuidador primário no desenvolvimento   social e emocional da criança. Bowlby percebeu que existia uma dinâmica recorrente nas formas como nós nos apegamos às pessoas, o que ele chamou de teoria do apego. Segundo ele, nos relacionamentos amorosos podemos observar três perfis: o perfil A, mais saudável, tem facilidade  de se aproximar dos outros, o B, ansioso, anseia por amor e não sente que tem reciprocidade do  parceiro, e o C, distante, sente-se desconfortável quando alguém chega perto demais dele. Esses padrões de comportamento remontam a padrões da infância, ou seja, experiências traumáticas na infância geram relações amorosas conflituosas. Concluiu-se que as pessoas C provavelmente tiveram alguém da família que estava fisicamente presente, mas emocionalmente distante, por isso essas crianças desenvolveram um entendimento afetivo de que se conectar com alguém machuca. Jó o perfil B foi exposto a uma perda ou desaparecimento do cuidador durante a criação dele, por isso desenvolve o pensamento de que a qualquer momento será abandonado. Ninguém possuí cem por cento de nenhum dos três perfis, mas sim uma maior tendência a algum deles, o que faz com que pessoas que têm percepções muito diferentes do afeto entrem em atrito ao se relacionar.

Além das experiências de cuidado dentro da família e do meio social para o desenvolvimento dos afetos, algumas variáveis traumáticas podem afetar negativamente a forma como vamos lidar com eles, como o abuso sexual. Diversos estudos demonstram que as consequências do abuso sexual infanto juvenil facilitam o aparecimento de psicopatologias graves e prejudicam a evolução psicológica, social e afetiva da vítima. Esses efeitos podem se manifestar de várias formas, em qualquer idade. Muitas vítimas criam mecanismos de proteção que as impedem de continuar a viver como antes, como, por exemplo, desenvolver aversão a algumas formas de manifestação de afeto (abraços, beijos e qualquer tipo de toque no corpo).

É importante frisar que não somente as experiências de alto impacto emocional como traumas ou negligência familiar influenciam o nosso desenvolvimento afetivo, mas todas as nossas experiências e relacionamentos. Discorri sobre as mais impactantes, porém até mesmo situações que pareçam sem importância podem trazer influências às nossas reações afetivas. Portanto, é essencial que possamos pensar sobre a maneira como vivemos e expressamos nosso lado afetivo, colocando nosso eu como gestor, buscando respostas cada vez mais saudáveis e alinhadas ao que desejamos para nossa vida e a daqueles que nos rodeiam.

REAGIR AO AFETO

Com a correria dos dias de hoje, deixamos de nos preocupar com aspectos importantes para a nossa saúde emocional como os afetos. Olhar para dentro de nós é conseguir entender o que acontece na nossa mente para poder dialogar com nosso círculo social sobre o que nos causa dor e, também, sobre nossas alegrias, expectativas, sonhos.

Nós precisamos ser ativos na gestão do nosso psiquismo. O ser humano aprendeu a decifrar sua inteligência para atuar na vida social, mas não para atuar na sua própria mente. A forma como reagimos aos afetos vem sendo configurada desde quando estávamos no útero materno, de maneira inconsciente, mas existe uma forma consciente de modificar tais códigos: não podemos apagar as nossas janelas killer, mas podemos ressignificá-las a partir do momento em que temos consciência de que somos gestores do nosso eu, dos nossos pensamentos e nossos sentimentos.

Uma forma de reeditar nosso inconsciente é questionar qualquer pensamento não saudável que ronde a nossa mente, criticando-o e determinando ter uma nova reação, uma nova atitude, uma nova visão sobre ele. A partir desse processo consciente, retiramos o poder das janelas killer, e aumentamos o número de janelas light com relação àquele assunto que nos traumatiza, nos entristece, nos frustra, e isso influenciará nossas reações diante de acontecimentos do futuro. Um eu gestor que aprende a administrar seus pensamentos e emoções e a reeditar as zonas de conflito expande suas habilidades afetivas.

Assim como Vygotsky, devemos dar a devida importância à nossa vida afetiva, cuidando do que sentimos e do que pensamos. Ao fazer isso, também contribuímos para que outras pessoas possam refletir sobre seus afetos e cuidamos também de nossos relacionamentos, sejam eles afetivos, familiares e também profissionais. Pois toda relação tem afeto em maior ou menor grau.

Podemos concluir então que diferentes variáveis atuam influenciando nossos afetos, porém temos a possibilidade de alterar de maneira consciente nossas reações afetivas ao cuidarmos do nosso mundo interno. Não temos o poder de mudar nossa genética e nem as experiências que vivemos, mas temos o poder de alterar a carga emocional do registro dessas experiências, escrevendo uma nova história de sucesso de dentro para fora.

EU ACHO …

COMO MELHORAR A SUA IMUNIDADE

Algumas medidas simples e práticas podem aumentar sua resistência aos vírus

À medida que a ansiedade por causa do coronavírus se espalhou, proliferaram as falsas panaceias prometendo proteção contra ela. Mas há algumas medidas baseadas na ciência que se pode “adotar” para manter um sistema imune saudável.

Para começar, não fume. Fumantes são muito mais vulneráveis a infecções respiratórias. Segundo, certifique-se de seguir uma dieta com uma ampla variedade de vegetais, frutas e outros elementos de uma dieta saudável. “Uma ótima dieta diminui o risco de infecções e reduz a severidade delas”, diz Wafaie Fawzi, professor de nutrição e saúde global na Universidade Harvard. Terceiro, pratique uma boa higiene do sono para aumentar as chances de um adequado descanso noturno. E quarto, faça regularmente exercícios, o que também ajudará a dormir.       

Na área da dieta, vários nutrientes têm sido associados a uma resistência melhor aos vírus. Tomar suplementos de zinco, por exemplo, foi associado a uma menor taxa de infecções respiratórias e menor duração de sintomas relacionados. A deficiência em zinco, um mineral encontrado em carnes, moluscos, nozes e cereais integrais, é mais comum em países pobres, diz Fawzi, mas pode ocorrer em países ricos, em períodos de alto desemprego e interrupções na cadeia de abastecimento alimentar.

Também se mostrou que as vitaminas C e D melhoram a resistência a infecções respiratórias. A vitamina C desempenha um papel em reduzir danos teciduais criados por nossas próprias respostas imunes, o que talvez seja relevante para a covid-19. Doses orais da vitamina também abreviaram o período de permanência na UTI e na ventilação em pacientes de cirurgias cardíacas, segundo uma metanálise de 2019. Ela poderia ajudar pacientes de covid? Isso está sendo investigado, diz Fawzi.

Quanto à vitamina D, uma metanálise de 2017 de 25 ensaios randomizados controlados descobriu que suplementos de vitamina D reduzem o risco de infecção respiratória aguda, em especial para pessoas com baixos níveis dessa vitamina, o que corresponde a cerca de 40% dos americanos. A porcentagem é muito maior em afro-americanos e hispânicos. Fawzi observa que o final do inverno, quando a pandemia teve início nos Estados Unidos, também é a época em que os níveis de vitamina D estão baixos porque nós a adquirimos principalmente através da exposição ao sol. Fawzi e seus colegas co1meçaram a investigar se a vitamina D pode ajudar pacientes da covid.

Sabemos há muito tempo que o sono é essencial para melhorar nossas defesas. Estudos mostram que se uma pessoa é privada de sono depois de receber uma vacina, ela produzirá uma resposta de anticorpos mais fraca do que alguém que dormiu. Pesquisas sugerem que o sono acentua a migração de células T para os nodos linfáticos, onde são apresentadas às estrangeiras que desencadeiam a produção de anticorpos, diz Luciana Besedovsky, da Universidade de Tübingen, na Alemanha.

Um estudo de 2015 que mediu a duração média do sono de 164 voluntários saudáveis e então pingou um rinovírus em seus narizes descobriu que os que dormiram seis ou menos horas por noite tinham quatro vezes mais chance de desenvolver um resfriado do que os que dormiam mais de sete horas. E outro estudo que acompanhou 57 mil mulheres concluiu que as que dormiam cinco ou menos horas por noite foram 40% mais propensas a sofrer uma pneumonia, ao longo de quatro anos do que as que dormiam oito horas. Uma privação do sono extensa, diz Besedovsky, pode criar um estado inflamatório de baixo grau: “Isso parece esgotar seu sistema imune no longo prazo, de maneira que ele pode não ser capaz de combater infecções tão bem”.

Comprometer-se com uma hora regular de ir para a cama e uma rotina noturna que ajude a dormir, junto com uma dieta saudável – e talvez um multivitamínico – não vai necessariamente manter o coronavírus longe. Mas essas medidas têm um verdadeiro lado positivo de ajudá-lo a aguentar e resistir melhor a quaisquer ameaças à saúde que soprem em sua direção.

*** CLAUDIA WALLIS – é uma premiada escritora de ciência e ex-editora-chefe de Scientific American Mind.

OUTROS OLHARES

UMA PAIXÃO NACIONAL (E CADA VEZ MAIS ESPECIAL)

Há quase 300 anos o café chegava ao Brasil para provocar uma revolução na história do País. Do cafezinho ao blend mais sofisticado, o consumo só evolui mais a cada dia

Consagrado universalmente durante o período industrial, o café passou por uma transformação cultural e gastronômica através dos anos. Beber café virou um ato social tão valorizado que hoje a escolha de determinado blend da bebida traduz quem tem ou não um paladar sofisticado.

“O movimento econômico que acontece com a maioria dos produtos após o consumo em massa gera um momento de requinte e faz surgir novos mercados”, afirma o consultor Ensei Neto, um dos maiores especialistas em café do país. Hoje qualquer um pode tomar um pingado por R$ 3, mas também é possível pagar até R$ 40 em uma bebida especial como aquela em que a fruta passa por processos extremamente complexos antes de ser levada para a torra. A única certeza nesse mercado é que o segmento do café especial é uma realidade e veio para ficar. As cafeterias, locais que caíram no gosto do público e onde esse tipo de produto era geralmente consumido antes da pandemia, sofreram com o cenário. A boa notícia, porém, é que o hábito se transferiu para o home office: a procura pela bebida aumentou 35%.

Café Especial ou Café de Especialidade é o nome dado para as bebidas que possuem um selo oficial de qualidade. O termo vem do inglês Speciality Coffee e designa a bebida que obtém a classificação de 80 pontos ou mais em uma escala de 100 da “Metodologia SCAA” (Specialty Coffee Association of America) de avaliação sensorial. Se os sommeliers precisam de formação para avaliar corretamente um bom vinho, o mesmo acontece com o café. Apenas degustadores certificados pela SCAA ou por um Q-Grader licenciado pelo Coffee Quality Institute (CQI) podem fazer a pontuação. Apesar dos termos em inglês, os cursos são oferecidos no País, inclusive online.

A associação americana começou somente em 1982 a da parâmetros à qualidade das bebidas. Como explica a barista e mestre de torra, Isabela Raposeiras, essa preocupação com o café é muito recente. “Na história da humanidade o café é uma das bebidas mais jovens. Para se ter uma ideia, vinho, cerveja, destilados e chá são milenares. Já o café possui apenas 500 anos de história dentro do consumo que conhecemos hoje: a bebida, a infusão, a torra”, afirma Isabela. Para ela, o interesse pela gourmetização da bebida é recente. “O café é uma bebida complexa que sempre esteve presente na mesa do brasileiro. As novidades do mercado chamam a atenção do público”, diz ela, que, durante o período de isolamento social, colocou todas as suas forças nos cursos voltados para a formação de profissionais e entusiastas na área. “O café possui mais de mil compostos aromáticos, enquanto o vinho tem de 600 a 800, assim como o chocolate. Ou seja, o café é hoje a bebida popular aromaticamente mais complexa que existe”

Para o empresário Diego Gonzales, responsável pela rede de franquias Sofá Café, o consumo da bebida passou por diversas fases. Inicialmente, não havia preocupação com a qualidade. “Foi somente após a Segunda Guerra que se começou a olhar com mais seriedade para o café. Em seguida, veio o Café Especial”. Gonzales possui seis franquias no país, uma delas dentro do escritório do Google em São Paulo. “Eu só fechei uma loja nos EUA. No Brasil, eu consegui segurar tudo, inclusive funcionários”, diz ele, que faturava cerca de R$ 1 milhão por ano antes da pandemia. Em público ou em casa, o brasileiro não vai abandonar a bebida mais exportada e a segunda mais consumida do País – o café perde apenas para a água.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 14 DE SETEMBRO

MINHA DOR NÃO VAI PASSAR

Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece (Jó 3.25).

Jó foi um homem aprovado por Deus, questionado por Satanás e acusado pelos homens. Mesmo amado no céu, foi fuzilado na terra. Sofreu as maiores perdas, enfrentou as maiores angústias, curtiu as maiores dores. Perdeu bens, filhos e saúde. Perdeu o apoio da mulher e dos amigos. Ficou só no pó e na cinza, amargando sua dor. Quando estava encarquilhado, magérrimo, com a pele necrosada e o corpo tomado por feridas cheias de pus, ergueu aos céus sua queixa. Do profundo de sua alma clamou, dizendo: Se eu falar, a minha dor não cessa; se me calar, qual é o meu alívio? (16.6). O sofrimento de Jó foi atroz. Incluía sofrimento físico e emocional, moral e espiritual. Porém, no meio da noite escura da alma, esse velho patriarca ergue os olhos rumo ao futuro e diz: Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus (Jó 19.25,26). No tempo oportuno de Deus, brotou a cura para Jó. Deus restaurou sua sorte. Devolveu-lhe seus bens em dobro. Restaurou seu casamento e deu-lhe mais dez filhos. Sua dor cessou, e seu testemunho ainda ecoa nos ouvidos da história. O mesmo Deus que consolou Jó e restaurou sua sorte pode trazer um tempo de refrigério para a sua alma.

GESTÃO E CARREIRA

O ZOOM NOSSO DE CADA DIA

O número de downloads dos aplicativos de videoconferência quase dobrou nos últimos dois meses. Conheça os impactos e aprenda a lidar com essa nova realidade

O movimento começa cedo na casa de Josiane Santiago, de 37 anos, em Curitiba. Às 7h30 ela e o marido levantam e às 8 horas já estão trabalhando – ambos para a Copel, companhia de energia do Paraná. O filho Nicolas, de 7 anos, vê os vídeos gravados da escola às 10 horas, cinco vezes por semana. Já o mais novo, Leonardo, de 2 anos, acorda por volta das 10 horas. “Tenho deixado ele dormir”, diz Josiane, que é gerente da universidade corporativa da Copel. Desperto, Leonardo vê TV no quarto, que virou o escritório adaptado da mãe.

Em home office desde 23 de março e com expediente das 8h às 17h, Josiane e seu marido tiveram de priorizar a escola do menino mais velho, em fase de alfabetização. Além dos vídeos matutinos, à tarde Nicolas tem aulas virtuais ao vivo por três horas, de segunda a sexta, e inglês três dias por semana. O estudo acontece na sala de estar, que se transformou no local de trabalho do pai. Josiane ainda faz aulas de doutorado por Skype e aproveita o vídeo para falar com a família e ensaiar com o coral da igreja. “Nossa vida se tornou uma eterna reunião. Você olha a agenda e vê oito, nove compromissos por dia – e, na maioria dos casos, nem tem a opção de recusar”, diz Josiane. A história da gerente ilustra o que tem acontecido em outros lares: a vida em quarentena foi dominada pelos encontros virtuais. Prova disso é que os aplicativos de videochamada explodiram ao redor do mundo. Hangout, Microsoft Teams e Zoom alcançaram 72 milhões de downloads nas lojas do Google e da Apple globalmente durante a semana de 14 a 21 de março, um crescimento de 90% na média semanal de 2019, de acordo com uma pesquisa da App Annie. Só o Zoom tem registrado por dia mais de 300 milhões de pessoas em reuniões online no mundo – algo que contribuiu para o valor de mercado da empresa bater 49,78 bilhões de dólares, mais do que as sete maiores companhias aéreas juntas. No Brasil, as buscas no Google por termos relacionados a videoconferência tiveram um salto repentino de março a maio, sendo que a palavra “Zoom”, especificamente, subiu mais de 300%. Ficou claro que as reuniões não servem só para trabalhar ou estudar quando o próprio Zoom identificou um aumento de quase 2.000% nas videochamadas nos fins de semana. O fato é que a prática se tornou tão normal que zooming virou verbo nos Estados Unidos.

Conforme aumentou o tempo em isolamento, cresceu a variedade de usos dos vídeos online. Mundo afora, há concertos, espetáculos de circo, peças teatrais e até festas de aniversário de adulto ou de criança acontecendo na tela. Um estudo do centro de pesquisas Pew apontou que um terço dos americanos adultos já participou de uma comemoração virtual com amigos ou familiares.

ENCONTRO VIRTUAL, ESTRESSE REAL

O tempo em frente às telas – seja por diversão, seja por trabalho – tem gerado também exaustão. Para os especialistas, essa sensação é causada não só pelo maior número de reuniões, mas por termos de nos adaptar a muitas novidades desse estilo de vida isolado. “Enquanto essa rotina estiver sendo construída, ela será cansativa. O cansaço não vem da falta de energia, mas de sistemas que estão constantemente monitorando nosso comportamento e tentando resolver situações novas. O fato de não estarmos no piloto automático deixa o cérebro em alerta, e isso gera estresse e exaustão”, diz Carla Tieppo, neurocientista e fundadora da consultoria Ilumne. As reuniões também têm seu peso na fadiga. E isso tem a ver com a maneira como o ser humano aprendeu a se comunicar. Para interpretar uma mensagem, nosso sistema de transmissão e recepção avalia, além da linguagem verbal, as expressões faciais, o olhar, o movimento corporal e a distância entre os corpos. “A comunicação é o resultado do impacto que você causa em mim –   daquilo que eu estou dizendo e da forma como capto suas respostas. Para tal, uso as áreas sensoriais – os órgãos do sentido. Tudo isso me dá o poder de interpretar sua linguagem”, explica Vera Martins, consultora especializada em comunicação assertiva e inteligência emocional. “Essa linguagem não verbal equivale a dois terços do processo de comunicação”, diz Vera, que também é autora de Seja Assertivo (Altabooks, 58 reais). Na videoconferência, essas entrelinhas ficam de fora. Ninguém consegue vero pé do outro balançando em sinal de nervosismo, por exemplo. Quando um desses elementos é perdido, tanto quem fala como quem ouve precisam se concentrar mais para compreender a outra parte.

As ferramentas de conference call provocam outros desconfortos. Geralmente, quem tem a palavra ganha destaque na tela. Para os tímidos é um problema. Para os extrovertidos, também. Os primeiros nunca querem estar em evidência, enquanto os outros odeiam ficar de escanteio. Além disso, quem está falando fica com um rosto enorme na tela. Nosso cérebro, ao ver a imagem, interpreta o indivíduo como muito perto e liga o instinto de lutar ou correr, segundo um estudo da Universidade Stanford.

Fato é que precisamos nos esforçar mais nas conferências online. Uma reunião com vários participantes, exibidos no modo galeria, desafia a visão central do nosso cérebro. Ao sermos forçados a decodificar tantas pessoas ao mesmo tempo, ninguém passa por uma análise significativa, nem mesmo o orador. A mente fica sobrecarregada pelo excesso de estímulos, ao mesmo tempo em que se concentra na busca de pistas não verbais – que não consegue encontrar. Esse esgotamento generalizado fez surgir nos Estados Unidos o termo “Zoom fatigue” ou “fadiga do Zoom”. Essa sensação acontece por diferentes motivos. Um deles é a impossibilidade de fitar diretamente os olhos da outra pessoa. Para ver o interlocutor, temos de focar sua imagem na tela, mas, para dar a impressão de que estamos mirando seus olhos, precisamos encarar a câmera – e deixamos de ver o outro. “Sem o olhar profundo, a gente não fecha os ciclos, algo importante para a construção de grupo”, diz a neurocientista Carla. Outras pesquisas indicam que as pessoas se sentem desconfortáveis em ver suas expressões faciais na tela e ficam o tempo todo se analisando, preocupadas com a luz e com a imagem que irão passar. Por outro lado, com a câmera desligada, ficam com medo de os outros pensarem que estão escondendo algo ou que não estão produzindo. Além disso, há as questões de conexão de internet. Um artigo publicado no International Journal of Human-Computer Studies indica que atrasos de 1,2 segundo na transmissão fazem o interlocutor parecer menos atencioso, amigável e disciplinado.

NA HORA MARCADA

Ana Reno, vice-presidente de RH da Airbus, acredita que a pandemia fez crescer a quantidade de informações com que precisamos lidar. “As pessoas mandam mais e-mails, convites para webinars e lives.” Para ela, a covid-19 também misturou os papéis. “A gente está trabalhando em casa e vivendo no trabalho. Você tenta criar fronteiras, mas o emprego invadiu o canto do repouso. É a maior confusão. É como se você estivesse no bar e chegassem sua mãe, o padre, o professor”, afirma a executiva, que tem aproveitado as videoconferências para praticamente tudo.

De seu apartamento em Miami, nos Estados Unidos, ela participa de calls de trabalho; organiza happy hours com os colegas da Airbus espalhados por países como Itália, Índia e Espanha; encontra os amigos paulistas; aprende a tocar ukulele e flauta transversal; fala com a mãe duas vezes por dia; e faz atendimento psicológico como trabalho voluntário aos fins de semana. Além disso, arruma tempo para cursos e palestras virtuais. Como ela organiza tudo? “É preciso ter disciplina”, afirma Ana.

Disciplina é a palavra do momento. Se há um lado bom da pandemia, é que as pessoas aprenderam a respeitar uma simples regra de etiqueta: a pontualidade. As reuniões começam e terminam no horário e, caso alguém precise se atrasar por 2 minutos, já manda uma mensagem de aviso aos colegas. Ter o número certo de integrantes na sala virtual também garante eficácia na discussão. “Estão sendo convidadas pessoas realmente importantes para cada tema. Antes, a gente colocava 30 numa sala em que cabiam 20. Hoje, a média é de dez participantes e as decisões ficaram mais rápidas. Uma reunião que durava 3 horas agora acontece em 1 hora – e as pessoas saem sabendo o que devem fazer”, diz Silene Rodrigues, vice-presidente de RH da Sephora.

MAIS COMPAIXÃO

Talvez a lição mais importante da crise do coronavírus seja importar-se com o outro. Foi necessário o mundo se isolar em casa e se contatar apenas por máquinas para despertar nas pessoas o lado humano e trazer à tona a empatia. Fica difícil para um líder hoje ligar para o funcionário que tem três filhos e está trabalhando de casa, na mesa de jantar, com a internet ruim, e não perguntar como vão as coisas. “A situação cria compaixão não só pelo outro, mas também a autocompaixão. Mas muita gente que está em home office não consegue se olhar assim e entender que faz parte do momento não conseguir entregar tudo”, afirma Henrique Bueno, especializado em psicologia positiva e CEO do Wholebeing Institute Brasil.

Por isso, é importante que a fala seja focada, acolhedora e enfática. Outra estratégia na conversa a distância é checar se a mensagem está sendo entregue ao receptor. “Fale com frequência: ‘Eu estou te ajudando? Isso está fazendo sentido para você?’. No mundo virtual, aumentou a necessidade desse feedback”, diz Vera. Não é por acaso que, em muitas empresas, perguntar “Como você está?” virou script de começo de reunião, orientado pela área de recursos humanos. A busca é por conexão.

“Antes, nós estávamos ao lado uns dos outros, mas não estávamos verdadeiramente juntos. Achávamos que sentar perto já era o bastante”, diz

Josiane, da Copel. “Agora nós estamos rompendo barreiras. Quando voltarmos, tudo será diferente.”

10 DICAS PARA CONFERÊNCIAS ONLINE

O que fazer e o que não fazer, de acordo com os especialistas entrevistados nesta reportagem

1- Nem toda reunião precisa da câmera ligada. Quando as atualizações são rápidas, é possível fazê-las só por áudio

2- Evite videoconferências consecutivas. Dê a seu cérebro um intervalo

3- Estabeleça as regras do encontro: o objetivo, o tempo estimado para cada item e o resultado esperado. No final, destaque os próximos passos

4- Reduza o número de slides. Mais chato do que uma reunião longa é uma reunião longa lotada de apresentações online. Incentive a discussão

5- Nomeie uma pessoa para guiar a conversa, evitar falas atropeladas e mediar a participação de todos. No final, peça que cada um abra o microfone e dê sua opinião

6- Anote as ideias principais num papel – isso ajuda a reter o conhecimento

7- Seja seletivo na hora de convidar as pessoas. Quanto menos gente, melhor

8- Chamadas individuais, para saber como o outro está, ajudam a quebrar o isolamento social e a manter o time conectado

9- Reunião como mecanismo para checar se o funcionário está trabalhando é uma afronta.

10- Use aplicativos diferentes para conferências de trabalho e de lazer. Isso ajuda a criar uma separação das coisas

REUNIÃO PARA QUÊ?

Como os americanos têm usado as ferramentas de videoconferência para além do trabalho

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SEM CONTROLE

Em equilíbrio, a ansiedade e o estresse podem ser úteis, mas, em excesso, se tornam transtornos mentais graves

“A diferença entre o remédio eo veneno é a dosagem”. A frase popular é uma explicação para o desenvolvimento da ansiedade e do estresse de recursos naturais do organismo para distúrbios da mente. Partes da experiência humana, ambas emoções são extremamente úteis para o processo de sobrevivência da espécie. Até mesmo hoje em dia ter essas reações afloradas pode ser um combustível extra para sair da zona de conforto e empreender as mudanças necessárias na vida. Em situações de perigo, esses sentimentos são ferramentas ainda mais valiosas e essenciais para o indivíduo conseguir agir de forma apropriada. Entretanto, quando presentes de forma recorrente no cotidiano, podem se tomar prejudiciais, tirando o sujeito do controle de suas emoções.

Na atualidade, a ansiedade e o estresse têm se mostrado cada vez mais populares no Brasil. De acordo com uma pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017, o cenário do país é alarmante. Segundo o estudo, cerca de 9% dos brasileiros sofrem com algum tipo de ansiedade na rotina, o que deixa a nação na liderança dos índices mundiais do transtorno. Já em relação ao estresse, a pesquisa mais recente realizada pela instituição lnternational Stress Management Association (ISMA) aponta que mais de 70% dos brasileiros convivem com essa reação do organismo – o dado deixa o Brasil atrás apenas do Japão no quesito.

MUDANÇAS PSICOLÓGICAS

A origem da ansiedade e do estresse é ainda motivo de discussão. Uma das causas apontadas é experiências traumáticas, que são capazes de gerar uma forte instabilidade na psique, possibilitando o desenvolvimento de condições patológicas. Uma mudança brusca no ambiente profissional ou pessoal também pode ser um fator condicionante para o surgimento de distúrbios – Uma maior exigência no trabalho, separação conjugal ou demissão são alguns dos exemplos. Outro fator importante para se observar é o aspecto genético. Estudos apontam que, como em grande parte dos quadros psíquicos, a ansiedade e o estresse estão relacionados ao processo de neurodesenvolvimento que por sua vez, conta com uma significativa contribuição genética.

Ainda em relação às causas, uma avaliação realizada por neurocientistas da Universidade da Califórnia, em São Francisco nos Estados Unidos, apontou que duas áreas do cérebro são ativadas e trocam sinais entre si em pessoas ansiosas ou depressivas. A pesquisa que contou com 21 pacientes, descobriu que, em 113 dos voluntários que demonstraram tais características, houve uma movimentação entre a amigdala cerebelosa (neurônios pertencentes ao sistema límbico responsável pelas emoções) e, o hipocampo (estrutura cerebral que tem controle sobre os sentimentos) em formato de ondas cerebrais. Essa relação entre ambas partes neurais e uma mudança de humor foi tratada como uma informação importante por possibilitar aos pesquisadores avançarem na direção de um diagnóstico e de tratamentos mais precisos dos transtornos.

PERIGO CONSTANTE

Sentir-se sempre com os nervos à flor da pele é um perigoso sinal de que o estresse e a ansiedade se instalaram de forma prejudicial. No cenário em que tais reações se tornam patologias, os sintomas corporais começam a se manifestar e a mente, que antes exercia controle sobre os pensamentos, se embaralha, passando a não ter mais domínio sobre si própria.

Na ansiedade, a perspectiva de um confronto futuro gera no indivíduo um temor constante e presente, percebido como uma ameaça pela psique. Nas diversas manifestações do distúrbio, é possível notar reações de ansiedade e medo. “Na primeira, a pessoa presencia tensões musculares e comportamentos de vigilância para um problema que está por vir. No segundo, encontram-se presentes pensamentos de perigo e a necessidade de fuga imediata”, explica o neuropsicólogo Thiago Gomes.

Esse tipo de manifestação pode acontecer de diversas formas. Entre elas, as mais comuns são fobias, transtorno obsessivo compulsivo, ataques de pânico, transtorno de estresse pós traumático e ansiedade generalizada. Nesses casos o sujeito pode apresentar alguns sintomas físicos universais do quadro: tontura, tremores, sudorese, falta de ar, insônia e desmaios. Além disso, caso não busque tratamento psicológico, a pessoa ansiosa também pode observar um avanço do seu quadro para distúrbios consequentes, como a depressão.

REAÇÃO ROTINEIRA

Em relação ao estresse a desordem ocorre, muitas vezes, por problemas profissionais, pessoais ou sociais que inserem o indivíduo em um ambiente exaustivo, responsável por incapacitar suas ordens mental, emocional e física naturais. “Somos expostos a situações que vilanizam o estresse à medida em que ele começa a nos causar diversas dificuldades”, aponta a hipnoterapeuta Luciene Lima.

Dessa forma, o distúrbio surge em aspectos físicos como dores de cabeça, tensão muscular, problemas estomacais e decorrentes da baixa imunidade como gripe. “O estresse também se manifesta a partir do cansaço mental, gerando problemas de comportamento e diminuição da capacidade de pensar de modo produtivo, organizado e criativo. Apesar dos sintomas variarem, falta de paciência, desânimo, cansaço físico, distúrbios do sono e repetição de hábitos são alguns dos sinais mais comuns”, salienta Luciene.

REEDUCAÇÃO NECESSÁRIA

Para lidar com quadros emocionais de forma adequada é essencial alterar alguns pensamentos. De início, muitas vezes, as pessoas precisam mudar essa concepção de que procurar ajuda psicológica é um sinal de fraqueza e, por virtude, uma experiência negativa. Da mesma forma, que, ao sofrer de um problema cardíaco, procurar um cardiologista para saber se o quadro é grave é o mais adequado, buscar a opinião de especialistas da psique é o mais indicado para tratar um transtorno mental.

outra etapa fundamental para obter uma maior chance de cura é rever comportamentos prejudiciais. Por mais que seja difícil alterar alguns hábitos e se acostumar a isso de uma hora para  a outra, entender que a importância da exclusão de alguns atos da rotina para evoluir é um passo crucial no caminho para ter mais bem-estar.

À PROCURA DE AUXÍLIO

Tanto o estresse quanto a ansiedade precisam ser diagnosticadas por profissionais para que sejam tratados de forma apropriada. Apenas a partir de uma análise aprofundada – responsável por mapear sintomas e possíveis causas -, que o quadro emocional poderá ser constatado, possibilitando ao indivíduo um posterior tratamento sob medida. “Todo transtorno é diagnosticado somente quando os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos, do uso de um medicamento ou não são mais bem explicados por outro distúrbio”, afirma o neuropsicólogo Thiago Gomes.

Para identificar a ansiedade, são recomendados profissionais como psiquiatras, neurologistas, psicólogos clínicos ou neuropsicólogos. É importante salientar que determinar uma desordem, é o primeiro passo para obter auxílio, pois contar com uma visão analítica pode proporcionar à pessoa uma valiosa oportunidade de compreender a si mesmo e buscar meios para o seu próprio bem-estar.

EU ACHO …

QUANDO A CIÊNCIA É INCAPAZ DE DAR UMA RESPOSTA

Em tempos de coronavírus, nossos conhecimentos são maiores, mas as dúvidas são idênticas

É julho de 1944, e o vírus da poliomielite devasta os Estados Unidos em meio ao verão inclemente e à guerra em continentes longínquos. Em contraste com a Covid-19, as crianças são as mais atingidas pela paralisia. Nas férias, mesmo sem aulas, continuam a frequentar o pátio escolar, onde jogam beisebol e treinam outros esportes, sob a orientação de um professor de educação física. Aos poucos, a doença começa a fazer vítimas, sem que ninguém saiba direito dizer de onde vem, nem se as medidas de precaução são suficientes para garantir a segurança. Nos casos graves, só um pulmão artificial dá alguma esperança contra a morte precoce. As sequelas são visíveis nos sobreviventes. A pólio é atribuída ao leite contaminado, ao cachorro-quente servido numa lanchonete pé-sujo, à falta de desinfetantes e higiene nas mãos, a uma gangue de outro bairro que vem procurar briga e cospe no chão.

“Puseram um aviso de quarentena numa casa na minha rua. Há um caso de pólio na minha rua!”, esbraveja outra. “Tem que haver uma coisa a fazer, mas não estão fazendo nada!”, diz uma terceira. “Não seria melhor se ficassem em casa até que isso terminasse? A casa não é o lugar mais seguro numa crise como essa?”

Tal é o cenário pintado pelo romancista Philip Roth em Nêmesis, obra de sua fase final em que narra a tragédia pessoal de um professor de educação física dividido entre a lealdade às crianças de quem deve tomar conta no pátio escolar e o desejo de fugir para uma colônia de férias e reencontrar a noiva, assumindo um novo emprego perto dela e longe da dor. “Como é que posso deixar todos esses garotos na mão? Não posso abandoná-los. Eles precisam de mim mais do que nunca”, diz àquela que ama. Só fica mais tranquilo quando o pai dela, um médico, lhe revela a dificuldade dos próprios cientistas para lidar com o mal: “Não sabemos quem ou o que são os vetores da doença, nem como ela penetra no organismo. Uma doença que aleija em especial as crianças – isso é difícil para qualquer adulto aceitar”. Questionado sobre a necessidade de fechar o pátio onde meninos e meninas se divertem, mas estão a cada dia mais amedrontados, o doutor responde com outra pergunta: “O que fariam se não pudessem ir para o pátio? Ficariam em casa? Não, jogariam bola em qualquer outro lugar – nas ruas, nos terrenos baldios, nos parques. É impossível impedir que se juntem. Vão tomar um gole na garrafa de água do companheiro, por mais que se diga para não fazerem isso. Não são anjinhos – são meninos”.

Em tempos de coronavírus, nossos conhecimentos são maiores, mas as dúvidas são idênticas. Sabemos que a Covid-19 é mais branda nas crianças e que é pequena a chance de alguém contraí-la de quem tem menos de 10 anos. Que, para reduzir o risco, é possível adotar medidas como distanciamento, máscaras, ventilação e turmas menores. Que ficar em casa retarda o desenvolvimento infantil, e que o ensino à distância não tem a mesma eficácia do presencial. Que a retomada das aulas tem funcionado com poucos sobressaltos em países como Dinamarca ou Alemanha. Mas também sabemos que houve ressurgimento da epidemia em Israel, graças ao surto numa escola do ensino médio. Que, nos Estados Unidos, jovens se aglomeram nos estados onde as aulas foram retomadas, sem medidas de segurança nem cuidados com o avanço da epidemia. Que, por toda parte, a tensão toma conta das associações de professores e de profissionais da educação, em virtude dos riscos desconhecidos, ainda que sabidamente inferiores aos que afetam áreas como saúde e transporte. Todos olham para a ciência em busca de uma resposta, mas a ciência não tem resposta para tudo, não tem o poder de proteger todos, nem de impedir o pior. Qualquer decisão será necessariamente política – e o romance de Roth, como toda boa literatura, nos mostra que nem sempre é possível evitar a tragédia.

***HELIO GUROVITZ

OUTROS OLHARES

 UM DOCE REMÉDIO

Novo estudo conduzido pela Universidade de Oxford confirma a ação medicinal do mel nos tratamentos de tosse e dor de garganta

Um homem pendurado em um cipó, em esforço tremendo para coletar o mel de abelhas selvagens em uma colmeia aparentemente inalcançável. Muito provavelmente, eis a representação mais antiga da deliciosa substância dourada e viscosa, ilustrada em uma pintura rupestre nas cavernas de Arafia, em Valência, na Espanha, há 8.000 anos. Na Mesopotâmia, uma tábua de argila datada de 2000 a.C. traz uma receita para feridas do corpo: “Moer até que a areia do rio vire pó e amassar com água e mel, azeite puro e óleo de cedro e aplicar quente”. Poucos compostos naturais são reconhecidos como produto terapêutico há tanto tempo na história da humanidade. Os diversos (e bons) efeitos do néctar de flores processado pelos insetos acompanham as gerações em receitas caseiras. Faltavam apenas evidências científicas para comprovar a intuição. Finalmente elas surgiram.

O mel age contra sintomas de resfriado, como tosse e dor de garganta, atestou um trabalho conduzido pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, a partir dos resultados de catorze pesquisas que envolveram mais de 1.700 pessoas. A conclusão: o alimento pode ser tão ou mais eficaz que os antibióticos. O levantamento mostrou ainda que as bactérias não criam resistência ao mel. Um dos grandes problemas atuais é o fortalecimento desses microrganismos, devido ao uso indiscriminado de antibióticos. O mecanismo nocivo remonta à teoria da seleção natural das espécies. “Quando esses microrganismos são expostos aos antibióticos, um grupo pequeno e mais forte pode sobreviver, ciclo que é reforçado a cada geração”, diz Antônio Carlos Nascimento, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Como mel, não haveria esse fenômeno. As qualidades antibacterianas do mel são atribuídas em grande parte às enzimas da saliva da abelha, usada na fabricação natural da substância, mas também à acidez alta da substância (pH em torno de 3 e 4,5), o que ajuda a matar os microrganismos. Os pesquisadores afirmam, contudo, ser necessário realizar novos estudos para confirmar a descoberta – e não se trata, evidentemente, de sonegar a eficácia de produtos farmacêuticos. O mel, porém, já entrou nas diretrizes de saúde de órgãos regulatórios de alguns países. No Reino Unido ele se tornou recentemente a primeira opção no tratamento da maior parte das tosses, um modo de minimizar o uso indiscriminado de antibióticos.

O uso do mel para o tratamento de doenças precisa, logicamente, ser acompanhado por um especialista. “O mel pode ser consumido no intervalo de duas a três semanas a partir do início dos sintomas”, afirmou em comunicado a médica Tessa Lewis, representante do Instituto Nacional de Excelência na Saúde, organização que emite recomendações ao sistema público de saúde da Inglaterra. “Mas se nesse período o sintoma piorar e a pessoa se sentir indisposta ou sem ar, ela deve procurar um médico”. Em documento, a Organização Mundial da Saúde estabelece que chá de limão e mel tende a aliviar sintomas de tosse em crianças acima de 1 ano. Alguns cuidados também são necessários. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sugere cautela na manipulação do produto para que não se percam suas propriedades. O mel é delicado. Deve-se evitar aquecê-lo, para que suas enzimas não percam a potência, mantendo-se o alimento até a temperatura de no máximo 70 graus.

Embora o efeito antibacteriano do mel seja o mais louvado, e agora comprovado, há outros benefícios. As 200 substâncias que compõem o alimento deflagram inúmeros impactos positivos para a saúde (veja no quadro abaixo). Um dos mais surpreendentes é fato de conter lactobacilos. O mel, portanto, pode também prevenir gastrites intestinais. Não há consenso, porém, sobre a quantidade ideal a ser consumida. Os especialistas recomendam porções equivalentes a uma colher de chá ou a uma colher de sopa diariamente.

Mas nem tudo são flores. Nos últimos quatro anos, as abelhas entraram pela primeira vez na lista de espécies ameaçadas de extinção. Nos Estados Unidos, o país mais afetado pelo problema, o número desses insetos caiu pela metade. Há sumiço também no Brasil. Os motivos do desaparecimento são os mais variados – mudanças climáticas, abuso no uso de pesticidas, incêndios florestais. Sem abelhas, faltará mel – e não apenas mel. Elas são responsáveis pela polinização, que, ao garantir a perpetuação de espécies e frutos mais resistentes, responde por cerca de 60% das plantas cultivadas.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 13 DE SETEMBRO

O CAMINHO DA PROSPERIDADE

A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado (Provérbios 1. 25).

A generosidade, e não a usura, é o caminho da prosperidade. Aqueles que mais semeiam são os que mais colhem. Aqueles que mais abençoam são os mais abençoados. Corações generosos e mãos dadivosas produzem bolsos cheios, pois a Palavra de Deus diz que a alma generosa prosperará. Quando semeamos no campo do próximo, Deus multiplica a nossa sementeira. Quando repartimos as sementes da generosidade, multiplicamos nosso próprio celeiro. As sementes que se multiplicam não são aquelas que comemos nem as que armazenamos, mas as que semeamos. Aquele que dá ao pobre empresta a Deus. Isso é muito diferente da teologia da prosperidade. Há muitos ricos vivendo uma vida miserável, assim como há muitos pobres vivendo uma vida plena. Há pobres ricos e ricos pobres. O apóstolo Paulo chegou a dizer que aqueles que querem ficar ricos caem em tentação e cilada e serão atormentados com muitos flagelos. Nada trouxemos para este mundo e nada dele levaremos. O contentamento é um aprendizado. Devemos contentar-nos com a fartura e também com a escassez. Devemos depender mais do provedor que da provisão. Devemos ajuntar tesouros no céu, e não na terra. Devemos colocar nosso coração em Deus, e não no dinheiro. Devemos abrir a mão para socorrer o necessitado, e não armazenar tudo com usura para nós mesmos. Mais bem-aventurado é dar que receber. Esse é um princípio transmitido a nós pelo próprio Senhor Jesus!

GESTÃO E CARREIRA

O APETITE DA TYSON FOODS PELO BRASIL

Empresa americana compra 40% do frigorífico gaúcho “Vibra”, coloca um pé no mercado doméstico e passa a ter acesso ao suprimento de aves para reforçar o abastecimento de clientes em mercados externos.

A Tyson Foods, gigante americana do setor de alimentos, vem acelerando seus planos de internacionalização nos últimos anos – em ritmo semelhante ao de concorrentes como JBS, BRF e Marfrig. Chegou a vez de o Brasil entrar no cardápio da estratégia de expansão da companhia. Neste mês, com a aquisição de 40% da divisão de alimentos do grupo brasileiro Vibra, do Rio Grande do Sul, produtora e exportadora de produtos avícolas, os americanos colocam um pé no mercado brasileiro e passam a ter acesso ao suprimento de aves no País para atender parte de suas operações globais. Além disso, existe a possibilidade de distribuição de produtos Tyson no varejo brasileiro.

Proprietária de marcas conhecidas nos Estados Unidos, muitas delas no segmento de hambúrgueres e carnes processadas, a Tyson faturou US$ 42 bilhões no ano passado e possui 121 mil empregados. Seus executivos estimam que nos próximos cinco anos 98% do crescimento do consumo de proteínas acontecerá fora dos Estados Unidos. Daí a importância de expandir as operações para mercados variados. No ano passado a Tyson Foods comprou as operações de aves na Tailândia e Europa da também brasileira BRF. Mas, ainda assim, foi um negócio fora do território doméstico. Entrar no mercado brasileiro dará mais flexibilidade à companhia. “Este investimento na Vibra nos permitirá atender clientes brasileiros e de mercados de demanda prioritária na Ásia, Europa e Oriente Médio”, disse o presidente da área internacional da Tyson Foods, Donnie King, em nota. A Tyson já esteve no Brasil com marca própria, mas não teve sucesso e vendeu as operações para a JBS por US$ 175 milhões em 2014. O investimento na Vibra representa um retorno mais seguro, dentro de uma operação já estruturada.

O economista e consultor de agronegócio Marcos Fava enxerga como positiva a chegada da Tyson Foods ao mercado brasileiro. As expectativas de crescimento da economia, aliadas à alta competitividade do setor no Brasil, são fatores preponderantes para a decisão ter sido tomada. “O Brasil é hoje o País mais competitivo no segmento de frangos. Operando por aqui, a Tyson terá mais facilidade para abastecer seus clientes em outros continentes. Eu acredito que ela também tenha interesse em ampliar a atuação no mercado brasileiro, que deve crescer cerca de 2,5%”, disse Fava. “Em que ritmo ela pretende explorar o mercado nacional é uma variável que não sabemos.”

Com sede no município gaúcho de Montenegro, a Vibra tem 4 mil funcionários e 14 unidades de produção espalhadas pelo Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. No mercado nacional atende principalmente as regiões Sul e Sudeste. Mas sua força maior está nas exportações. As vendas realizadas para cerca de 50 países contribuíram com 60% do faturamento de R$ 1,4 bilhão em 2019. A empresa gaúcha fornece anualmente cerca de 170 mil toneladas de carne de frango e pretende faturar em 2020 em torno de R$ 1,6 bilhão com abatimento de 200 mil toneladas. Hoje são abatidas cerca de 520 mil cabeças por dia. O Oriente Médio representa 50% de suas vendas externas, mas Europa e Ásia também são mercados importantes.

A relação da Vibra com a Tyson Foods não é recente. Há dois anos, ambas são parceiras em sistema de “copacking”, em que a brasileira produz e embala, por demanda, produtos com a marca Tyson, que vão para países do Oriente Médio. “Eles gostaram do nosso desempenho e forma de trabalhar e aceitaram ampliar a parceria por meio dessa operação que na prática foi uma capitalização da Vibra”, explica o CEO, Gerson Luís Muller.

EXPANSÃO

Com os recursos dessa capitalização – que não tiveram os valores revelados – a Vibra poderá crescer organicamente e atingir a meta traçada para os próximos cinco anos, de aumentar em 70% o abate de aves. Muller não descarta adquirir concorrentes, mas isso não deve ocorrer de imediato. “Não é o momento de comprar. Os valores estão altos. Vamos aguardar as oportunidades surgirem.”

Para a Vibra, o negócio também possibilita acessar mais mercados consumidores por meio da estrutura comercial da Tyson Foods, além da oportunidade de absorver know how comercial, tecnológico e compartilhar escritórios mundo afora. “A Tyson fornece para redes de fast food e tem laboratórios que desenvolvem produtos específicos para seus clientes. Acho que podemos absorver conhecimento e expandir nossa área de atuação através da estrutura deles”, diz o executivo, que afirma não haver no contrato cláusula que preveja a venda da Vibra à Tyson Foods. “Se houver interesse, a gente conversa.”

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

VOZ INTERIOR

O que seu inconsciente tem a ver com sua intuição? Saiba as respostas que a ciência já oferece

Sabe aquela sensação de que tem alguma coisa errada acontecendo, mesmo que não seja tão óbvio? É esse o sentimento que poderia representar muito bem a intuição. “A intuição é um processo inconsciente que dá a sensação de resposta para alguma situação que a pessoa está passando. Está ligada às emoções e, portanto, o sistema límbico atua diretamente no processo, deixando a decisão mais automática e menos racional”, explica o neurocientista Aristides Brito.

TIPOS

A intuição pode ser dividida em três tipos: uma permite saber o que outra pessoa está sentindo sem fazer esforço; a segunda tem a ver com a experiência, ou seja, você repete tanto alguma coisa que não precisa mais pensar para fazê-la; e a última é sobre a capacidade de prever o futuro.

Você se lembra da Cida, que participou do reality show Big Brother Brasil? Em uma manhã, quando estava no programa, ela começou a ouvir vozes e entendeu como sendo sua irmã chamando por ela. O surpreendente éque a irmã de Cida (que estava fora da casa) tinha câncer e, horas depois do pressentimento, a produção do BBBdisse que ela tinha falecido. Ou seja, a intuição de Cida estava trazendo uma mensagem.

Embora possa ser assustador, do ponto de vista científico, nós temos premonições o tempo todo. “Existem pessoas mais intuitivas e que seguem suas intuições. Geralmente, conseguem captar informações em algum ‘lugar’ não acessível a todos. Existem mães que, de repente, sentem que algo errado aconteceu com seu filho, sem que nada justifique esse sentimento, e logo recebem a notícia que confirma sua intuição”, conta o médico homeopata Roberto Debski.

Mas até que ponto isso é favorável? “As vantagens estão relacionadas à ampliação de soluções erespostas, quando a pessoa dá espaço para a intuição. As pessoas intuitivas são normalmente mais criativas. O lado negativo é que nem sempre fundamentam suas decisões, e isso pode gerar erros primários”, afirma Aristides.

A CIÊNCIA EXPLICA

Outro tipo de intuição é aquela que acontece em decorrência da experiência, de forma inconsciente. Por exemplo, o treinador de tênis Victor Braden percebeu que todas as vezes que estava assistindo a uma partida de tênis conseguia adivinhar se o atleta iria cometer dupla falta (situação em que o jogador erra as duas chances de saque a que tem direito). O que o fazia conseguir prever os erros era sua própria experiência, que melhora com o tempo e de forma inconsciente. Ou seja, mesmo sem perceber, Victor tinha tanta prática em tênis que era capaz de notar pequenos detalhes que fariam a diferença no final. “Pesquisas atuais indicam que há ‘campos morfogenéticos’, ou campos de informação, que algumas pessoas podem perceber, e que já eram descritos por civilizações antigas, como o Akasha dos hindus ou o inconsciente coletivo, proposto por Carl Gustav Jung. Quem consegue acessar esses campos de informação, onde tudo está conectado, tem um conhecimento intuitivo”, esclarece Roberto.

Um estudo feito na Universidade de Iowa (Estados Unidos) comprovou o processo de aprendizado inconsciente. Para isso, foram utilizados quatro maços de cartas, dois azuis e dois vermelhos, sendo que os participantes do experimento deveriam ir virando as cartas ao acaso: dependendo do que aparecia nelas, a pessoa ganhava ou perdia pequenas quantias em dólares. A “pegadinha” estava no fato de que as cartas vermelhas ofereciam prêmios mais interessantes, mas, muitas vezes, correspondiam a grandes penalidades, que fariam o jogador ficar sem nada se ele insistisse em virá-las. Em outras palavras, o melhor seria virar só as cartas azuis, que sempre traziam um prêmio considerável e, no máximo, penalidades suaves. O objetivo era descobrir quanto tempo as pessoas demoravam a notar que existia essa pegadinha. Em média, depois de 50 jogadas, os voluntários começaram a preferir as cartas azuis, sem saber explicar o motivo disso – eles só conseguiam justificar a escolha quando o número de cartas viradas chegava a 80.

Na busca para compreender a dinâmica do cérebro dos participantes, o grupo de Iowa mediu a produção de suor nas glândulas que as pessoas têm na palma das mãos, já que o suor nessa região é um indicador de estresse. Em torno da 10ª carta virada, o suadouro nas mãos ligado ao estresse já se manifestava diante do maço de cartas vermelhas. Portanto, mesmo de forma inconsciente, as pessoas já tinham notado que havia algo de errado ali. A lição que fica dessa experiência éque a intuição dizia para os indivíduos tomarem a atitude certa antes que a parte racional do cérebro soubesse o que estava acontecendo.

CULPA DAS EXPRESSÕES

Outro tipo de intuição é a que nos permite simpatizar ou não com alguém. Ao longo de um único dia, você pode conhecer duas ou mais pessoas e conversar sobre o mesmo assunto, o que não quer dizer que você vai gostar de todas elas. O responsável por seu “santo bater” ou não com alguém é o inconsciente, que analisa as expressões faciais das pessoas e transmite a informação de que elas são confiáveis ou estão sendo falsas.

É mais ou menos o que acontece com uma criança pequena: se você chama a atenção do bebê que está na dele, brincando, ele olha no seu rosto para saber se você éuma ameaça. Nesse momento, se você simular como sendo uma ameaça, fazendo uma careta, ele dará sinal de desaprovação. Portanto, a intuição éalgo tão instintiva que, mesmo não percebendo, seu cérebro analisa as situações, busca relações com fatos anteriores e permite tomar decisões assertivas mesmo sem racionalidade.

EU ACHO…

TECNOLOGIA NÃO É PEDAGOGIA

Os avanços tecnológicos são apenas mecanismos de transmissão

Com grandes dificuldades, Guglielmo Marconi tentava vender aos navios o seu telégrafo sem fio. Mas eis que, em 1912, um iceberg entrou na rota do Titanic. Graças ao telégrafo embarcado, um cargueiro nas proximidades captou o SOS e resgatou 700 passageiros. No fim das contas, o iceberg vendeu mais equipamentos do que conseguiria algum mago de marketing.

Apesar dos loquazes arautos de tecnologias redentoras, a escola sempre deu as costas a elas. O cinema vai revolucionar a escola! Com o rádio a escola chega a qualquer grotão! Com a TV a escola não será a mesma! Entram em cena os computadores na educação, e lá se vão cinquenta anos de tentativas. Agora é a nuvem. O que têm em comum esses inventos revolucionários é o seu fracasso retumbante no ensino acadêmico. Nada deu certo. Ou foi ignorado ou não mostrou resultados (como é o caso do computador na aula). Como qualquer organização, a escola tem sua cultura, suas práticas consagradas e, igualmente, ferozes mecanismos para defendê-las. Não é um reles computador que mudará seus hábitos seculares. Com um peteleco, a tralha vai para o armário e nunca mais é vista. Ou enguiça e ninguém conserta.

Não prestam essas inovações? Prova de seu valor é a sua adoção nos cursos profissionais, naqueles oferecidos nos programas de educação corporativa e em tudo que não é o ensino acadêmico. Bravamente, a escola resistia.

A Covid-19 foi o iceberg que se chocou com essas escolas. O serviço foi feito por um bicho desse tamanhinho. Depois de rejeitar, negacear e empacar, da noite para o dia as instituições de ensino foram obrigadas a se bandear para a educação a distância, cuja íntima convivência com a tecnologia vinha de bom tempo.

Quem se persignou, vendo na tecnologia coisa do diabo, de uma hora para outra passou a pilotar computadores, PowerPoints, Zoom, Blackboard, chats e tudo o mais que há por aí. Bem feito, pois a tecnologia tem muito a oferecer (tudo que foi citado acima pode ter o seu lugar).

No entanto, é preciso não cometer um outro pecado. Tecnologia não é pedagogia. É apenas uma mecânica de transmitir conteúdos. Não é a pizza, mas apenas o seu entregador.

O YouTube congela e conserva imagens digitais. Serve para tudo, até para ensinar, desde tabuada até medicina genômica. Pode propor a decoreba. Mas, no “ensino invertido”, permite implementar uma pedagogia eficaz. Nela, o aluno vê o vídeo e depois discute na aula. O YouTube é apenas o meio de transporte.

Confundir o entregador com a pizza é achar que, introduzindo tecnologia, tudo estará resolvido. Não estará. O mais reluzente tablet pode estar a serviço de decorar as capitais da Ásia Central. Mas dá certo quando é o canal para estratégias de ensinar conteúdos de forma criativa. Devemos também entender: tecnologia não é agente de mudança. E tecnologia comprada não vem com as ideias necessárias para o seu bom uso.

Primeira lição: lamentamos, mas há mudanças que requerem uma tragédia para ser implementadas. Segunda: tecnologia na educação é apenas meio de transporte, nem redentora nem portadora de uma boa pedagogia.

***CLAUDIO DE MOURA CASTRO

OUTROS OLHARES

PERDENDO O GÁS

A Coca-Cola procura alternativas para reverter a contínua queda de vendas causada pela rejeição dos millennials aos refrigerantes e agravada pela pandemia

Há 134 anos, o farmacêutico americano John Pemberton (1831-1888) misturou noz-de-cola, extrato de folhas de coca e água em uma fórmula secretíssima e – eureca! – inventou a Coca-Cola, o refrigerante mais popular do planeta. Nem ela, no entanto, escapou do rombo que a pandemia abriu no consumo em geral. No auge das medidas de confinamento, entre março e junho, a empresa sofreu um baque de 28% no faturamento, em relação aos meses anteriores. No mercado de ações, sua avaliação caiu 14%, em comparação ao início de 2020. Esse retrocesso tem uma explicação óbvia: metade das vendas do refrigerante se dá em restaurantes, cafés, lanchonetes e hotéis, todos fechados na quarentena mais abrangente da história. “Foi o trimestre mais difícil em mais de um século de empresa”, disse James Quincey, presidente global da companhia. O fato, porém, é que a Coca-Cola já vinha perdendo consumidores, alvejada, mais até do que as concorrentes, pela preferência da geração atual de jovens, os chamados millennials, por produtos mais naturais e sustentáveis. Segundo especialistas, a Coca-Cola está pagando o preço de ter se mantido presa à linha de bebidas, sem se expandir para outras áreas. Para efeito de comparação, durante a pandemia as perdas registradas pela Pepsi, sua principal concorrente, não passaram de 3%, justamente por causa das receitas provenientes de sua cesta de produtos alimentícios – um dos poucos setores a se expandir nestes tempos difíceis. Já a Coca-Cola, ainda que ofereça sucos, águas e leites em seu catálogo, continua a ter nos refrigerantes seu carro-chefe, e eles não param de perder o gás.

Jovens empenhados em levar vida saudável, um fenômeno global, se arrepiam diante da informação de que cada latinha de Coca carrega, em média, 35gramas de açúcar, dez a mais do que o consumo diário recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Resultado: passado o pico do mercado, nos anos 1990, o consumo de refrigerantes nos Estados Unidos teve queda de 35%, acentuada na última década (veja no gráfico abaixo). O México, maior freguês mundial de bebidas gaseificadas, criou um imposto extra sobre refrigerantes para frear o hábito, medida adotada também por França, Noruega e Portugal. “Os jovens querem bebidas e alimentos que sejam reflexo do seu estilo de vida”, diz Rochelle Bailis, da Connexity, empresa de análise de consumo.

A Coca-Cola Brasil não divulga seus resultados, mas calcula-se que a queda do faturamento acompanhou o padrão mundial, mesmo tendo a empresa montado uma operação de guerra para manter o ritmo dos negócios em meio às restrições. Um programa-piloto de vendas através do WhatsApp, comandado por inteligência artificial, fez o número de varejistas saltar de 10.000 usuários para 180.000. Também foram incentivados os combos promocionais, que unem refeições e bebidas, em serviços de delivery de comida. Mas sobreviver na pandemia não resolve o problema maior da mudança de hábitos no planeta. No Brasil, segundo pesquisa do Ministério da Saúde, houve redução de 53% no consumo regular de refrigerantes e bebidas açucaradas entre 2007 e 2018. No ano passado, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir), que reúne 58 fabricantes, incluindo Coca-Cola, Ambev e Heineken, assinou um protocolo voluntário com o governo comprometendo-se a reduzir o açúcar de seus produtos até 2022. Ciente dos novos tempos, a Coca adquiriu marcas como as bebidas de soja Ades e o iogurte Verde Campo, e lançou o Café Leão. “Adequamos nosso portfólio às diferentes demandas de uma jornada diária”, diz Flávio Camelier, vice-presidente de transformação digital da empresa no Brasil. “Nosso olhar acompanha as oportunidades de inovação, e a pandemia acelerou esse processo.”

Diante das dificuldades crescentes, a matriz americana está dando início à mais ousada revisão no portfólio da Coca-Cola das últimas décadas. Das 400 marcas principais, metade representa apenas 2% do lucro – e o presidente Quincey, em balanço recente, deixou entrever que boa parte vai sumir das prateleiras. Uma das apostas para fugir dos refrigerantes é investir na linha de bebidas alcoólicas. Em agosto, a Coca lançou nos Estados Unidos (ainda sem previsão de chegar ao Brasil) a Topo Chico, uma água com gás alcoólica à base de frutas. A novidade vem tendo boa aceitação entre os cobiçados millennials, por ter menos calorias que a cerveja e teor alcoólico semelhante. “A Coca enfrenta uma questão séria. Em um mundo em total transformação, encontra-se em baixa na maioria dos países”, analisa Roberto Kanter, especialista em varejo da Fundação Getúlio Vargas. Reinar entre os refrigerantes, definitivamente, já não tem o mesmo gosto.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 12 DE SETEMBRO

OS SINAIS DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO

… e haverá fomes e terremotos em vários lugares (Mateus 24.7b).

Os sinais da segunda vinda de Cristo estão drapejando suas bandeiras. O alarme já foi tocado. A trombeta já está soando. Guerras, conflitos, fomes, pestilências e terremotos são avisos do céu. O terremoto que sacudiu o Japão e o tsunami que varreu algumas de suas cidades em março de 2011 ainda nos chocam. A natureza geme e se contorce de dor. Os terremotos e maremotos, além de fenômenos naturais, são também trombetas de Deus aos ouvidos da humanidade. Esses desastres provêm de causas naturais e também de intervenção sobrenatural. Os efeitos da queda atingiram não apenas a raça humana, mas também a natureza, que agora está sujeita à servidão e aguarda, com gemidos profundos, a restauração desse cativeiro (Romanos 8.20- 22). De igual forma, a igreja, tendo as primícias do Espírito, também geme à espera de sua completa redenção, quando teremos corpos incorruptíveis e gloriosos. Até mesmo o Espírito Santo está gemendo, com gemidos inexprimíveis, intercedendo por nós, em nós, ao Deus que está sobre nós (Romanos 8.26). Precisamos olhar para os fenômenos da natureza não apenas com os olhos da investigação científica, mas também com a perspectiva da fé, pois esses fenômenos são sinais da segunda vinda de Cristo.

GESTÃO E CARREIRA

SEM RISCOS E COM MENOS TRIBUTOS

Todas as empresas pagam, pelo menos, dez contribuições aos governos federal, estadual e municipal. Especialista dão orientações para que sua empresa pague somente aquilo que é obrigatório

Não à toa, o Brasil tem a maior carga tributária do mundo. O País, e aqui também se incluem os estados e municípios, mordem o equivalente a 35,07% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Um valor que atingiu recorde histórico em 2019.

Só para se ter uma ideia, são R$2,39 trilhões. Isso cantando empresas e pessoas físicas. Um avanço de 1,33% se compararmos com 2018, a maior alta desde o início da série histórica, em 1947. Os dados foram coletados pelos economistas José Roberto Afonso e Kleber de Castro, extraídos de fontes oficiais.

São pelo menos dez impostos obrigatórios em todo o País. E com a economia dando poucos sinais de recuperação – “andando de lado”, como consideram muitos -, pagar os tributos e se manter no azul é sempre uma dificuldade. “O maior problema do Brasil não é a quantidade de impostos em si, mas a complexidade do nosso sistema tributário. Temos também uma infinidade de obrigações acessórias que demandam das empresas investimentos em sistemas e capacitação de pessoal para que estejam em dia com suas obrigações tributárias”, afirma o sócio do escritório Loeser, Blanchet e Hadad Advogados, Fernando Loeser.

Mas nem tudo é notícia ruim. É possível amenizar a quantidade de impostos pagos com alguma negociação, e sem comprometer a estabilidade jurídica da empresa. O advogado tributário do escritório Nahas Advogados, Luciano Pedro da Silva, enumera algumas dicas importantes. “Aprimoramento e melhora do controle financeiro e da produção; análise comparativa entre os Regimes Fiscais Tributários; análise de possíveis benefícios fiscais; subdivisão de empresas podem fazer sentido em alguns casos”.

O especialista alerta ainda para a análise de situações em que seja viável a terceirização de atividade não essenciais e complementa: “Buscar auxílio e integração entre o Departamento Jurídico Tributário (interno ou externo) e o Departamento Pessoal e Contábil (interno ou externo) para uma análise detalhada sobre os impactos da Reforma Trabalhista”. Para ele, vale também fazer a análise junto ao Departamento Jurídico para ajuizamento de ações ou requerimentos administrativos para diminuição da carga tributária e recuperação de valores pagos a maior ou que não foram objeto de compensação ou utilização de créditos disponíveis.

INCENTIVOS

Os incentivos fiscais oferecidos pelo governo também podem ser uma saída para quem precisa reduzir a carga de tributos. São vários programas oferecidos, como a Lei Federal de Incentivo à Cultura, Lei Federal de Incentivo ao Esporte, Fundo da Infância e Adolescência  (FIA), Fundo Nacional do Idoso (FNI), Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com deficiência (PRONAS), Programa Nacional de  Apoio à Atenção Oncológica  (PRONON) – todos em âmbito nacional.

Além disso, o empresário pode “assumir” algumas situações, como o investimento em áreas específicas da economia, troca de ações, adequação de regime e planejamento tributário. Para aderir a alguma delas, o credenciamento deve ser feito na secretaria responsável pelo incentivo, além da apresentação de documentos em períodos específicos para comprovar o investimento na opção escolhida.

BENEFÍCIOS LOCAIS

Cada estado e município pode criar benefícios próprios para reduzir impostos que são cobrados localmente. No entanto, Loeser lembra que isso gerou outro problema. “No passado recente tivemos muitos benefícios instituídos por alguns estados e que não eram aceitos por outros, o que resultou na conhecida “guerra fiscal. “Nessa situação, muitos contribuintes acabaram tendo problemas e precisaram ingressar com medidas judiciais”, pontua. Há uma queda de braço entre governos para acabar com a agenda fiscal, porém sem nenhuma definição à vista. ”A criação e concessão de incentivos fiscais não é algo sem limites.

Ou seja, existem regras que os governos federal, estadual e municipal devem seguir para que eles sejam validados”, completa.

Não é possível detalhar exatamente quanto pode ser deduzido do tributo, pois isso depende de cada tipo de incentivo e da forma como a adesão é feita. Em alguns casos, a redução chega a 3% sobre o IRPT para quem opta pelo lucro real, ou até 7% na redução total dos impostos.

A consultora tributária da King Contabilidade, Elvira de Carvalho, reforça que o planejamento tem que ser palavra de ordem na empresa. “No final de cada ano é necessário que os empresários tenham especial atenção para decidir qual regime tributário deve prevalecer para o próximo ano. Portanto, é o momento de procurar seus contadores a fim de que estes façam as simulações necessárias para tomada de decisão quanto a melhor tributação para o ano que se inicia”, afirma.

Opinião compartilhada pelo sócio- fundador da Baril Advogados Associados, Natan Baril. “O planejamento empresarial, àquele que tem foco na definição da matriz societária, governança, funcional e contratual, com ênfase na oportunidade de planejamento tributário, é a melhor ferramenta para minimizar os resultados do negócio sob a ótica fiscal”, completa.

DE OLHO NO CALENDÁRIO

É importante salientar que a escolha pelo sistema tributário é feita sempre em janeiro, e não pode ser mudada durante o ano. Com impostos reduzidos, outra dúvida paira sobre os empresários: e quem fez acordos com REFIS, Programa de Regularização Tributária (PRT) e Programa Especial de Regularização Tributária (PERT)? Os advogados explicam que també1n é possível renegociar os valores, desde que os eventuais acionamentos e questionamentos junto ao Fisco sejam retirados.

O contabilista, economista e fundador da Attend Assessoria, Consultoria e Auditoria SIS, Sandro Rodrigues, lembra que não é possível reduzir a carga tributária desses acordos, que já são definidos no momento em que a regularização é acertada – corrigidos geralmente pela Taxa Selic, quando se fala em âmbito federal, ou por outros índices se a negociação for acertada com estados ou prefeituras. ”Quanto menor o prazo para quitar os parcelamentos, maior será a redução de juros e multas. Em alguns casos, os débitos com o Fisco Federal podem ser abatidos total ou parcialmente com créditos oriundos de prejuízos fiscais, desde que a empresa seja optante do regimento tributário do lucro real e tenha devidamente registrados nas escriturações contábeis tais prejuízos”, detalha Rodrigues.

O parcelamento não muda se a empresa trocar a tributação para uma que seja mais vantajosa. “É possível a utilização de procedimentos administrativos para reduzir ou compensar créditos alocados ou não utilizáveis, independentemente do planejamento financeiro e contábil dos parcelamentos disponíveis – em que quase sempre há boas reduções e planejamento financeiro para alinhar”, complementa Luciano Pedro da Silva.

OS IMPOSTOS NACIONAIS

PIS – Contribuição para o Programa de Integração Social

O valor pode ser de 0,65% ou 1,65%, dependendo do regime tributário e se é cumulativo ou não cumulativo.

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

Pode ser de 3,0%, ou 7,6%, igualmente ao exposto sobre o PIS. Ainda há 0,65% para o PIS e 4% para a COFINS, quando o fato gerador for oriundo de receitas financeiras no lucro real.

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

A alíquota varia conforme o produto. Quanto mais necessário e básico, a quantidade é menor, podendo chegar a zero (casos de alimentos e remédios. De outro lado, se o produto é considerado “supérfluo” ou quando o governo deseja, o imposto é cobrado (exemplos: joias, perfumes, bebidas e cigarros).

DAS – Documento de Arrecadação do Simples Nacional

É diferente conforme a atividade. Pode ser a partir de 4,5% até 19%.

SOBRE O LUCRO PRESUMIDO

IRPJ – Imposto de Renda de Pessoa Jurídica

Alíquota para base de 8% para o comércio e indústria 16% ou 32% para serviços, variando de acordo com a atividade, aplicando em seguida a alíquota de 15%, além do adicional de 10 % quando a base de cálculo ultrapassar R$60 mil por trimestre.

CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Liquido

Alíquota de 12% para o comércio e indústria e 16% ou 32% para serviços (dependendo da atividade), aplicando-se em seguida a alíquota de 9%.

SOBRE O LUCRO REAL

IRPJ

A alíquota será de 15% sobre o lucro fiscal, acrescentado ao adicional de 10%, quando a base de cálculo ultrapassar R$240 mil, exceto se foi lucro real trimestral, que o limite volta a R$60 mil.

CSLL

A alíquota será de 9% sobre o lucro com os devidos ajustes da base de cálculo da contribuição social.

IMPOSTO ESTADUAL

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

No estado de São Paulo, eles variam de 7% até 20%, dependendo da mercadoria. Nos demais estados também são diferentes, alguns como elevados incentivos, como é o caso do Espírito Santo e Santa Catarina. As alíquotas fixas interestaduais podem ser de 4% (produtos importados) ou de 7% ou 12%, conforme o estado de destino.

IMPOSTO MUNICIPAL

ISS – Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

Em São Paulo, os percentuais variam de 2% até 5% dependendo da atividade. Nos demais municípios, tais regras são semelhantes.

OS INCENTIVOS DO GOVERNO

LEI ROUANET (atual lei deincentivo à cultura)

Criada em 1991, permite que empresas destinem parte dos tributos para o financiamento de atividades culturais, como peças de teatro, shows musicais, filmes e qualquer outra forma de manifestação cultural. Apesar de envolvida em polêmicas, é considerada a “chave” da retomada da produção cultural do País nos anos 1990.

LEI DO AUDIOVISUAL

Diferente da Rouanet, é focada no financiamento de produções audiovisuais. Isso inclui, não apenas a produção, como também a distribuição de filmes, documentários, séries e outros formatos.

LEI DE INCENTIVO AO ESPORTE

Criada em 2006, destina­ se, entre outras coisas, à aquisição de materiais e uniformes esportivos, organização de eventos e alimentação em eventos esportivos.

PROGRAMA NACIONAL DE ONCOLOGIA (PRONON)

Os recursos das empresas são destinados às pesquisas e ao tratamento de pacientes com câncer.

PROGRAMA NACIONAL DE ACESSIBILIDADE (PRONAS)

O mecanismo de funcionamento é similar ao do PRONON, no entanto aqui o foco é o apoio às pessoas com deficiência. As empresas podem destinar até 1% do valor a ser pago em impostos ao apoio à projetos nessa área.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SAIR DA DEPRESSÃO

Além das drogas, outros tratamentos têm sido eficazes no combate ao distúrbio que afeta 20% da população

Os números são preocupantes: 10 milhões de brasileiros sofrem de depressão. Estima-se que o distúrbio se manifeste em 15 % a 20% da população do planeta pelo menos uma vez durante a vida. Quem sofre a primeira crise tem 50% de chance de reincidência. Após o segundo episódio, a probabilidade sobe para 70% e a partir do terceiro pula para 90%. Apesar das estatísticas pouco animadoras, existem diversos recursos disponíveis para controlar a doença que, dependendo da intensidade, além da tristeza profunda e inexplicável, pode incluir entre seus sintomas distúrbios de sono e de apetite, irritabilidade, cansaço, perda da memória, dores de cabeça e no corpo, problemas digestivos e até mesmo pensamentos suicidas.

Até a década de 70, quando surgiram os primeiros antidepressivos, o único tratamento disponível contra o distúrbio era a psicoterapia. Atualmente, existem mais de 60 medicamentos no mercado. Eles estão na linha de frente no combate ao problema, já que a de pressão envolve alterações neuroquímicas – embora também tenha fortes implicações psíquicas, emocionais e sociais. Do ponto de vista neurológico, o cérebro do depressivo sofre queda dos níveis dos neurotransmissores serotonina, dopamina e noradrenalina. Os antidepressivos restabelecem esses níveis.

Além das quatro classes de antidepressivos comercializados desde as décadas de 80 e 90, o arsenal de combate à doença ganhou novas armas em 2005, quando foram lançados no Brasil os inibidores de noradrenalina e serotonina zenlafaxina e duloxctina (pertencentes à categoria de antidepressivos atípicos). “O fato de agirem em dois neurotransmissores faz com que esses medicamentos funcionem melhor. A remissão do quadro e o início da ação são mais rápidos que os verificados com as outras classes de antidepressivos. Além disso, também diminui o número de recaídas”, explica a psiquiatra Verusca Lastoria, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo a médica, essa classe de drogas é especialmente eficiente para pacientes com depressão moderada ou grave, associada a sintomas somáticos, como dores no corpo.

TERAPIAS COMPLEMENTARES

Além da terapia farmacológica, atividades como ioga, meditação e acupuntura são cada vez mais bem­ vistas pelos especialistas como complemento para os modernos antidepressivos no combate à depressão. “Medicamento é indispensável e ao mesmo tempo insuficiente”, reconhece o psiquiatra Geraldo José Ballone, coordenador do site Psiqweb. A ciência vem descobrindo que, assim como o exercício físico, exercitar a mente pode estimular a gênese de novas células cerebrais e ajudar no tratamento de depressão, ansiedade e stress. Segundo Ballone, somente nos casos de depressão leve é possível melhorar sem medicamentos.

A ioga foi o complemento escolhido pela empresária paulistana Cláudia Pereira, de 40 anos, no combate à depressão e ao pânico. O problema começou em 1999, desencadeado por complicações financeiras. Ela evitou o tratamento durante mais de seis anos, e o caso evoluiu para crises de pânico, no começo de 2006. “Fiquei apática e passei a ter medo terrível, não sei do quê. O tele fone não podia tocar que eu achava que alguma coisa horrível tinha acontecido”, conta. Foi nesse ponto que decidiu procurar um psiquiatra e começou a tomar antidepressivo. “Voltei a ficar bem, parecia outra pessoa.” Como não sentia mais nada, a empresária decidiu abandonar a medicação e, após uma sobrecarga de trabalho, os sintomas voltaram. A solução foi novamente recorrer aos remédios, mas desta vez acompanhados da ioga. “Acho importante praticar uma atividade física, alguma coisa que faça a pessoa olhar para si e desacelerar. A depressão me fez esquecer das coisas de que eu gostava. Agora estou me tratando e tentando levar a vida menos a sério.” Ela pretende persistir nos dois tratamentos.

Outra técnica que vem sendo pesquisada para o combate à depressão é a acupuntura. “Empiricamente, ela auxilia no tratamento de depressão leve, que muitas vezes não exige o uso de remédios. Em casos mais avançados, tem sido um recurso terapêutico complementar ao tratamento clínico medicamentoso, ajudando na redução ou eliminação de efeitos colaterais potenciais e aumentando a tolerância às drogas.

Além disso, as agulhas melhoram a qualidade do sono e podem ser benéficas para tratar quadros paralelos como gastrite, dor de cabeça e tensão pré-menstrual. Elas potencializam os efeitos do tratamento e costumam acelerar a melhora”, explica o psiquiatra Francisco Carlos Machado Rocha, do departamento de psiquiatria da Unifesp, especialista em medicina chinesa e acupuntura.

Falar sobre o problema como forma de resolvê-lo ou amenizá-lo é o sistema adotado por grupos de auto- ajuda específicos para portadores de distúrbios psiquiátricos como depressão e pânico. Instituições sem fins lucrativos como a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e a Associação Pró-Saúde Mental (Fênix) organizam reuniões semanais para pacientes e parentes, em que as pessoas partilham suas experiências. “Como não se trata de um tratamento, e sim de um coadjuvante contra a depressão, não existe orientação específica. Os participantes se encontram e trocam experiências”, explica o psicólogo Adriano Camargo, presidente executivo da Abrata. “Ao escutar relatos de vivências parecidas com as suas, as pessoas se sentem mais capazes de enfrentar seus problemas e deixam de se sentir como ETs.” Para os que preferem se expor menos, outra opção são os grupos de auto- ajuda on-line. Existem diversos espalhados pela internet.

CASOS EXTREMOS

Além da depressão leve e moderada, existem os casos mais graves, com grande risco de suicídio. Cerca de 30% dos pacientes não respondem nem aos medicamentos mais modernos. Para esses casos, a novidade é a estimulação magnética transcraniana (EMT), aplicada ainda de forma experimental tanto no Brasil como no exterior. “A EMT pode ser usada também em casos mais leves de depressão, para diminuir o tempo de tratamento. Os efeitos colaterais são mínimos, mas há relatos de dor de cabeça nas primeiras sessões”, explica o psiquiatra Roni Broder Cohen, que conseguiu aprovação da comissão de ética da Unifesp para utilizar a técnica clinicamente. Segundo ele, o tratamento requer dez a 15 sessões de cerca de 45 minutos. “É o suficiente para 70% dos casos”, diz.

Mais antiga e polêmica, mas também eficiente para depressão grave, é a eletroconvulsoterapia, o conhecido eletrochoque. A eficácia no tratamento do transtorno é muito alta (em torno de 90%), comparada com as medicações (em torno de 70%), segundo Ballone. O psiquiatra explica que o tratamento consiste na aplicação de uma carga elétrica no cérebro, com o paciente anestesiado (é utilizada anestesia geral com duração em torno de 5 minutos). A estimulação produz uma convulsão, mas muito diferente da que ocorre na epilepsia, pois a anestesia promove relaxamento muscular. “O eletrochoque é usado como primeira alternativa para depressão grave em países nórdicos, e nos Estados Unidos é bastante aplicada. Já no Brasil, existe muito preconceito, sendo praticada somente em universidades. Trata-se de um tratamento muito seguro, com complicações mínimas, especialmente em casos em que os medicamentos são contra- indicados, como na gravidez e em pacientes idosos.”

Apesar de os médicos preferirem não usar a palavra “cura” quando o assunto é tratamento do distúrbio (assim como acontece em outras doenças crônicas, como diabetes e pressão alta), o termo- chave é “controle”. Os diversos recursos da ciência e as terapias disponíveis permitem que o paciente mantenha o controle dos sintomas e leve vida normal.

ARSENAL FARMACOLÓGICO

ANTIDEPRESSIVOS DISPONÍVEIS NO MERCADO

INIBIDORES DA MONOAMINAOXIDASE (lmao) – Foram os primeiros antidepressivos largamente usados. Eles inibem a ação de uma enzima responsável pela degradação dos neurotransmissores noradrenalina, dopamina e serotonina. Raramente são prescritos como tratamento de primeira linha porque exigem uma dieta especial para evitar interações potencialmente perigosas, embora esporádicas, com certos alimentos. No entanto, ainda são indicados como último recurso.

ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (ADT) – Inibem a recaptação dos neurotransmissores noradrenalina e serotonina. Os ADTs têm efeitos colaterais desagradáveis como sonolência, boca seca e visão embaçada; cerca de 30% dos pacientes param de tomar o medicamento por causa desses problemas. Eles são potencialmente letais em altas doses. No entanto, ainda podem ser a melhor escolha para certos casos de depressão.

INIBIDORES SELETIVOS DE RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS) – Drogas como Prozac e Paxil bloqueiam a recaptação da serotonina pelos neurônios pré-sinápticos. Eles substituíram os ADTs porque provocam menos efeitos colaterais e apresentam menor probabilidade de morte em casos de overdose. Mesmo assim, efeitos adversos como problemas gastrointestinais e sexuais não são raros. Indicações de que os ISRSs possam aumentar pensamentos e ações suicidas em crianças e adolescentes levaram a uma advertência obrigatória no uso do medicamento para essas faixas etárias nos Estados Unidos e à proibição para menores na Inglaterra.

ATÍPICOS – Afetam vários sistemas neurotransmissores ou usam mecanismos diferentes para o bloqueio da recaptação. Alguns exemplos são bupropion, venlaflaxina, nefazodona e mirtazapina.

EU ACHO …

MASCULINIDADE TÓXICA

Os homens precisam superar as velhas convicções de “macho”

Um grupo de homens está no bar, tomando cerveja. Passa uma mulher. Eles fazem comentários em voz alta. Ou assobiam, a chamam de “gostosa”. Todos sentem-se na obrigação de participar. Não fazer parte da turma é sinal de “fraqueza”, de ser menos “macho”. A necessidade de corresponder a parâmetros de masculinidade pesa sobre os homens. A tal ponto que está surgindo a tendência, ainda pequena, de discutir esses estereótipos. Seria uma contrapartida masculina ao feminismo.

Quando foi que você ouviu pela primeira vez a expressão “seja homem”? Também já escutei, em muitas rodas masculinas, o comentário: “Aquele lá não é homem”. A frase é utilizada para se referir a quem exibe atitudes frágeis ou expõe suas emoções. Segundo o documentário The Mask You Live ln (“A máscara em que você vive”), da americana Jennifer Siebel Newsom, o menino aprende que na vida deve:

*** ser bom em esportes,

*** ficar muito rico,

*** fazer sexo com o máximo possível de mulheres.

Muitos garotos sofrem bullying por não serem bons jogadores de futebol. Se um deles joga mal, os outros dizem que “joga que nem mulher”. O que está sendo ensinado a esses meninos sobre as mulheres quando se usa essa frase? Tenho um conhecido minimizado na família porque é bancado pela mulher. Os parentes chegam a dizer que ele é um “gigolô”. Mas, se o homem sustenta a mulher, acham supernatural. Homem tem de ser o “provedor”. Pior ainda, para ser “macho” é preciso fazer sexo com muitas mulheres. Eu sei de casos de executivos que, em festas das empresas, são praticamente obrigados a sair com prostitutas para não ficarem mal diante dos colegas. Houve um bem-casado que, para não trair a mulher, pediu à profissional que mentisse, e passou a noite conversando com ela. A verdade é que boa parte dos homens aprende sexo por meio de filmes pornô. A imagem que eles formam da relação e da mulher, como objeto de uso, é fortíssima. Quanto a eles próprios, assim como um ator pornô, “devem” performar na cama. Há também outra forte convicção masculina, que ainda está para ser realmente derrubada: “Só homem gosta de sexo”. Quando ele depara com uma mulher que gosta, sente que existe algo de errado com ela. O mundo está mudando, eu sei. Mas ainda falta.

Até a ministra falou que menino veste azul e menina veste rosa. É uma convenção. Mas reforça estereótipos. Se o garoto chora na escola, ele acaba sofrendo bullying e até apanha dos coleguinhas. O horrendo ditado “homem de verdade não chora” continua valendo. Desde pequeno, o menino aprende que deve mascarar a emoção, a dor, a própria fragilidade. Tudo o que é associado à mulher é demérito, como o serviço doméstico. Se alguém voltar sete gerações atrás, vai encontrar inúmeras histórias de abuso e violência, dos homens contra as mulheres, as famílias e, principalmente, contra quem é “diferente”. A masculinidade é tóxica para os próprios homens. Mas também mata as mulheres. A libertação desses parâmetros criará sujeitos mais plenos. Os homens estão começando a falar, e espero que não se calem mais.

*** WALCYR CARRASCO

OUTROS OLHARES

A FICÇÃO VIROU REALIDADE

empresa americana lança cabine para a projeção de hologramas, o que deverá popularizar a tecnologia de apresentações tridimensionais consagrada na saga Star Wars

A cena é uma das mais marcantes do primeiro filme da saga Star Wars, de 1977, depois batizado de Episódio IV: Uma Nova Esperança. Luke Skywalker está limpando o robô R2-D2 e acidentalmente descobre o holograma da princesa Leia, que clama por ajuda. Pela primeira vez a técnica de projeção de imagens tridimensionais, criada pelo húngaro Dennis Gabor, era apresentada ao grande público, o que ajudou o longa a conquistar uma legião de fãs. A inovação demorou para emplacar. Em 2012, o cantor americano Snoop Dogg dividiu o palco de um festival com o rapper Tupac, morto em 1996 — ele estava presente na forma de um holograma. Em 2019, a Microsoft lançou um holograma tradutor, que converte o inglês para qualquer outro idioma. As iniciativas, porém, estavam restritas às grandes apresentações musicais ou a projetos corporativos, mantendo-se inacessíveis a pessoas comuns. Agora isso está prestes a mudar.

Há alguns dias, a empresa americana Portl apresentou uma cabine que permite a projeção de hologramas em tamanho real para todos os lugares. A invenção é revolucionária: trata-se da primeira máquina portátil capaz de “teletransportar” pessoas de carne e osso. Graças à tal cabine, a imagem do indivíduo pode ser projetada a milhares de quilômetros de distância, desde que o receptor tenha acesso a alguma fonte de energia e conexão de internet. “Estamos cumprindo uma promessa de longa data”, disse David Nussbaum, CEO da Portl e inventor do equipamento. “A ideia dos hologramas é antiga: apresentamos essa tecnologia desde Star Wars e De Volta para o Futuro. Agora, finalmente podemos abrir as portas de um novo mundo para o consumidor.”

O mundo novo custará caro. Segundo Nussbaum, a cabine será vendida inicialmente por 60.000 dólares ó cerca de 325.000 reais -, mas a ideia é lançar no ano que vem máquinas mais acessíveis. A tecnologia permite várias aplicações. Ela pode tornar reuniões de trabalho mais dinâmicas, mesmo com profissionais posicionados em cidades diferentes, ampliar o alcance de comícios políticos (o candidato fala de Washington mas sua imagem, digamos, aparece em Los Angeles) e abrir novos horizontes para palestrantes, sem a necessidade de que estejam presentes fisicamente no auditório. Sem contar, claro, as possibilidades abertas para o ensino a distância e a telemedicina, que ganharam novo impulso na crise do coronavírus. Nussbaum também prevê que, em breve, celebridades irão até a casa dos fãs usando a técnica da holografia. Star Wars, enfim, chegou à vida real.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 11 DE SETEMBRO

O VENTO E O MAR OBEDECEM À JESUS

E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança (Marcos 4.39).

As tempestades da vida são inevitáveis, imprevisíveis e inadministráveis. No entanto, elas não vêm para nossa destruição, mas para nosso fortalecimento. Depois de ensinar sobre as parábolas do reino, às margens do mar da Galileia, Jesus ordenou aos discípulos que passassem à outra margem. Quando estavam no meio do percurso, foram surpreendidos por furiosa tempestade. Os discípulos ficaram alarmados e gritaram: Mestre, não te importa que pereçamos? (v. 38). Jesus despertou do sono, acalmou o mar, mandou o vento aquietar-se e confrontou os discípulos: Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé? (v. 40). Os discípulos deveriam ter fé, e não medo, justamente por causa da ordem de Jesus para passarem à outra margem e da presença do Mestre com eles. Aquele barco não poderia naufragar com o Criador dos céus e da terra. Depois que o mar se acalmou, os discípulos, atônitos, perguntavam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (v. 41). As tempestades da vida são inevitáveis, imprevisíveis, inadministráveis, mas também são pedagógicas. Não vêm para nos destruir, mas para nos fortalecer na fé. As tempestades são maiores do que nossas forças, mas estão totalmente sob o controle de Jesus.

GESTÃO E CARREIRA

ATRAÇÃO RECÍPROCA

Empresas usam ferramenta de marketing para se tornar desejadas – e conhecidas pelos profissionais que querem contratar. Conheça o Inbound Recruiting

Para resolver essa questão, uma estratégia está tomando conta das organizações: o inbound recruiting. O termo foi criado em alusão ao inbound marketing, estratégia que consiste em criar diferentes tipos de conteúdo para uma marca (como artigos, vídeos, e-books e podcasts) para atrair clientes e construir um relacionamento com quem pode se tornar um consumidor no futuro.

E é exatamente no relacionamento que essa técnica se baseia. A ideia é se aproximar dos talentos em potencial muito antes de recrutá-los. Para isso, as empresas utilizam as redes sociais e seus sites de carreira para divulgar informações relevantes para o público de interesse – e fogem do tradicional anúncio “venha trabalhar conosco”. O pulo do gato é conectar propósitos. “O profissional que se identifica com os valores comunicados vai consumindo aquele conteúdo e passa a admirar a marca. Com isso, a chance de ele se candidatar a uma vaga é muito maior”, diz Vanessa Cepellos, professora de gestão de pessoas na FGV-Eaesp.

HORA DE ENCANTAR

Mais do que informar, o objetivo do inbound recruiting é encantar os futuros funcionários. Uma das maneiras de fazer isso é transformar em protagonista quem conhece muito bem a companhia: os atuais funcionários. Essa estratégia é interessante quando a empresa dá voz a quem trabalha na operação e não apenas aos executivos. Os profissionais podem, por exemplo, gravar vídeos contando sua trajetória de carreira, dar depoimentos explicando como a companhia foi importante para sua família ou se posicionar nas redes sociais como especialistas naquela área de atração.

Quando a iniciativa dá certo, a companhia atrai naturalmente quem é alinhado a seus valores, propósitos e jeito de ser – e pode criar um banco de talentos de primeira. Foi exatamente isso que aconteceu com a empresa de tecnologia e engenharia Radix, que, em 2018 começou a utilizar as ferramentas de inbound recruiting de forma intensa. Segundo a diretora de gente e gestão, Daniella Gallo, o assunto surgiu em eventos de RH e chamou a atenção da equipe de recursos humanos. A partir de então, a empresa passou a cuidar com mais atenção da página de carreira de seu site e a publicar mais ativamente em suas redes sociais, principalmente no Instagram e no LinkedIn. “Decidimos criar uma série de vídeos com relatos de nossos funcionários e divulga-los”, afirma Daniella.

Para cativar seu candidato ideal, que é um jovem curioso, autodidata e apaixonado por tecnologia, a Radix divulga conteúdo técnico e artigos e outros materiais escritos pelos funcionários. Além disso, promove reuniões mensais para falar sobre temas de tecnologia e engenharia com o público externo – assuntos relacionados à transformação digital são recorrentes nesses eventos. Com a pandemia da covid-19, os encontros presenciais tiveram de dar espaço para eventos online.

Uma iniciativa importante foi a realização de um Hackathon com três dias de duração, no ano passado. A iniciativa reuniu 60 pessoas entre programadores, designers e outras pessoas ligadas a desenvolvimento de softwares. “Vários profissionais foram contratados depois”, afirma Daniella. A agilidade no recrutamento, aliás, aumentou: o tempo médio diminuiu drasticamente nos cargos mais difíceis de encontrar, como cientistas de dados e arquitetos de software. “A gente chegava a levar mais de 40 dias para contratar um especialista, mas esse prazo caiu para cerca de 20 dias”, diz a executiva. Mesmo os inscritos que não são contratados imediatamente, mas que têm alinhamento cultural e técnico, continuam observados pela Radix. “A pessoa fica no meu radar e, quando surge a vaga, eu posso acioná-la”, diz Daniella.     

PARTE DA ESTRATÉGIA

Encontrar profissionais capacitados e que gostem dos valores organizacionais é um desafio estratégico para as companhias – afinal, recrutar errado é caro. Uma pesquisa global feita pela consultoria PwC revelou que contratações equivocadas podem elevar os custos das companhias em 19,8 bilhões de dólares ao ano,

Por isso, na ThoughtWorks, consultoria global de software, o assunto é tratado com muito cuidado e existem duas pessoas dedicadas ao marketing de recrutamento. Como a companhia demanda competências técnicas específicas, a estratégia de inbound recruiting está calcada em conteúdos produzidos pelos funcionários da empresa em temas como tecnologia e gestão e em eventos próprios ou conduzidos com parceiros nos quais ficam claros pilares importantes para a companhia, como o de inclusão.

“Quanto mais as pessoas tiverem contato com a marca, melhor.  Principalmente as que a gente gostaria de ter em nossa empresa: profissionais especializados e diversos”, afirma Tais Silva, head de recrutamento. “Sempre trazemos a questão da representatividade em nossos conteúdos, porque isso atrai e fala muito sobre a marca.”

O grande benefício de manter o contato próximo com os potenciais candidatos é aumentar a quantidade e a qualidade dos postulantes às novas vagas. Em 2019, por exemplo, o número de jovens candidatos ao programa de contratação de recém-formados e universitários da ThoughtWorks aumentou 2,5 vezes. O impacto também foi expressivo nas três carreiras em que a companhia tem dificuldade de atração. Entre desenvolvedores de software júnior em São Paulo, o número de aplicações subiu 400%, de 2018 para 2019. Para desenvolvedores mobile em todo o Brasil, o avanço foi de 90%. Já para gerentes de projeto de desenvolvimento de software em todo o país, o crescimento de 300%. Com esses índices, o número de contratações previsto para 2019, que era de 180 pessoas, subiu para 250. “Além de atrair mais, notamos que o público que se candidata é mais aderente ao perfil desejado”, explica Tais.

DO CORAÇÃO

Embora os benefícios no recrutamento sejam visíveis, os especialistas destacam que os bons resultados de longo prazo só ocorrem se a jornada do profissional dentro da empresa confirmar todos os valores que foram usados para atrai-lo. “Caso a promessa não seja verdadeira, ocorre uma frustração que causa ruptura”, destaca a executiva da ThoughtWorks.

Para não cair nessa armadilha, as empresas devem tomar alguns cuidados na hora de planejar o marketing de recrutamento. O mais importante é que toda a comunicação reflita o que realmente acontece no dia a dia da organização. “É a cultura que gera a propaganda, e não uma imagem preestabelecida na cabeça de um gestor”, diz Carolina Cabral, gerente senior  de recrutamento da consultoria Robert Half. Em outras palavras, o inbound recruiting só dá certo quando é genuino.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O LADO BOM DE ENVELHECER

Cada vez mais, pessoas vivem mais e por muito mais tempo

Sabedoras que sou estudiosa, escritora e pesquisadora sobre o processo de envelhecimento, não são raras as vezes que algumas pessoas, quando me encontram, vão logo dizendo: não quero falar sobre a velhice! – Isso me dói. Me dá medo. Falemos de assuntos mais interessantes; menos fúnebres. A priori, não tenho uma plaquinha sinalizando essa temática em mim. E também não dialogamos o que o coletivo não queira, mesmo sabendo da necessidade de debatermos alterações intrínsecas a um processo inerente a todo Ser humano. Tudo a seu tempo e hora. Estamos vivendo a era do envelhecimento. O mundo, habitado por mais de 800 milhões de pessoas de 60+ está tendo que se preparar para as consequências econômicas e sociais que a situação sugere. Cada vez mais, pessoas vivem mais e por muito mais tempo. Inicia-se a era da longevidade com centenários, superiores à população da Irlanda – cerca de 329 mil. O Brasil não foge à regra. Somos mais de 208 milhões de habitantes e, destes, 30 milhões são 60+. De uma avalanche de problemas com doenças, peles vincadas, perdas de sentidos, a velhice é assombrada por poucas oportunidades no mercado e muitas intervenções médicas. Mas, se há tanta coisa ruim assim, haveria alguma boa possibilidade vinculada a esse processo, a qual pudesse ser agrupada ao coletivo dos grisalhos? Pesquisas científicas mais recentes apontam que envelhecer não significa entrar em ritmo de decadência física e mental, como aconteciam em décadas passadas. Os estereótipos de velhices sedentárias, apáticas, deselegantes, desinteressadas e ultrapassadas já ficaram para trás. Com o passar do tempo algumas habilidades vão se tornando mais eficazes que outras. Poderíamos dizer que as pessoas envelhecidas:

MAIS INTELIGENTES: capacidade de resolver problemas, ter maior vocabulário, melhor orientação espacial e memória verbal.

MAIS FORTALECIDA MEMÓRIA IMUNOLÓGICA: proteção cumulativa promovida ao longo dos anos.

ALERGIAS EM DECLÍNIO: a produção dos anticorpos tende a diminuir com a idade e, portanto, aos 60 anos há quase um total desaparecimento dos quadros alérgicos.

MAIS PRAZER SEXUAL: isso se dá pela experiência de ambos, em especial, pela maior confiança da mulher.

MENOS ENXAQUECAS: as crises se tornam mais curtas, menos intensas e menos recorrentes.

MENOS SUOR: as glândulas sudoríparas encolhem e se tornam menos numerosas.

MAIOR RESILIÊNCIA: capacidade de se recuperar de eventos estressores.

MELHOR EQUILÍBRIO EMOCIONAL: as pessoas perdoam mais, têm mente mais aberta, respeitam amplamente as diferenças, administram melhor as críticas, não julgam com tanta facilidade, silenciam com mais frequência. Enfim, existem muitos motivos para se desejar envelhecer. Privilégio este negado a muitos.

PROFA. DRA. GENI DE ARAÚJO COSTA – Pesquisadora: Envelhecimento, bem-estar e qualidade de vida. Apresentadora do Quadro Vida Ativa – Rádio Universitária. Palestrante/Comunicadora/Escritora. Contato: genicosta6@gmail.com