EM BUSCA DO CONFORTO
Com a quarentena e mais tempo em casa, consumidores investem em conforto e em projetos para home offices, aquecendo o mercado de decoração e design

Nas casas ou nos apartamentos, do mais simples ao mais sofisticado, a pandemia obrigou a população a repensar seus valores e provocou adaptações no comportamento e no consumo. Entre elas, houve a valorização do conforto na própria residência, uma vez que a quarentena exigiu uma ampliação do tempo dentro de casa. “Uma família inteira reunida em um ambiente comum percebe rapidamente a relevância de um sofá mais confortável”, afirma Angelo Derenze, diretor-geral do D&D Shopping, templo da decoração em São Paulo. Apesar do fechamento parcial de muitas lojas físicas e as consequentes perdas do setor, o e-commerce de móveis e objetos vem permitindo uma recuperação. “Houve um crescimento na compra de TVs de alta definição, reflexo das famílias estarem passando mais tempo em casa assistindo a filmes e séries.” Segundo ele, o primeiro mês da pandemia, com tudo fechado, foi um choque. “Aos poucos, criamos um serviço de entrega dentro das normas sanitárias e iniciamos a retomada. Em abril vendemos 45% do esperado, mas em maio esse número já subiu para 95%. Em junho, obtivemos um crescimento de 30% acima do mesmo período no ano anterior. Se há uma grande vencedora com essa pandemia, é a casa das pessoas.”
O arquiteto João Armentano não parou um segundo durante a pandemia. Segundo ele, o aumento do trabalho revela que os arquitetos, de maneira geral, foram beneficiados com a valorização desse período longe das ruas. “Houve um aumento nos projetos de adaptação dos espaços para home office”, afirma. Se antes o escritório em casa era um luxo exclusivo das grandes residências, hoje é considerado uma necessidade. Armentano diz que houve também um crescimento dos projetos para a segunda casa, na praia ou no campo, para onde os profissionais que puderam trabalhar de forma remota viajaram com a família. “Acho que trabalhei mais durante a pandemia do que antes dela. O lar é onde a pessoa se sente abraçada, acolhida. Ninguém sabe o dia de amanhã, se haverá ou não uma nova pandemia. Dá para entender a vontade de investir na própria casa.”

HOME OFFICE
Segundo Eduardo Machado, diretor do Casa Shopping, no Rio de Janeiro, especializado em móveis, essa tendência de trabalhar em casa mexeu com o setor. “Antes, o sonho de consumo das pessoas era o ‘Espaço Gourmet’. Agora, querem conforto para assistir à TV e um bom espaço para trabalhar”. Para ele, o consumo em um shopping de decoração é diferente do habitual, pois o público não busca apenas produtos que são estritamente necessários. “As pessoas nunca chegam aqui para olhar vitrine, sem compromisso. Elas vêm comprar algo que pode melhorar a qualidade de vida.” A CEO do Casa Shopping, Flávia Marcolini, ressalta que o mercado está “bastante aquecido”.
Em Brasília, o shopping de decoração Casa Park foi beneficiado porque a flexibilização aconteceu mais cedo do que no Rio e em São Paulo. Cautelosa, a diretora de marketing, Ivana Valença, diz que é cedo para avaliar o crescimento. Ela confirma a alta na procura por móveis para escritórios caseiros. E cita a demanda por um espaço para as crianças estudarem e brincarem, uma vez que as aulas estão sendo realizadas de maneira virtual. “Essa espécie de ‘home office infantil’ também está em alta. As crianças estão em casa assistindo às aulas em vídeo, por isso a organização tem que ser maior do que era antes.”
Apesar de estar funcionando em horário reduzido, o Casa Park registrou em julho um aumento de 50% na circulação de pessoas em relação ao mês anterior. Em junho, 36 mil pessoas visitaram o shopping; em julho, esse número subiu para 58 mil. Cada vez mais, as pessoas estão redescobrindo o valor de um investimento muito valioso durante a pandemia: o conforto do próprio lar.

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