EU ACHO …

INSANIDADE DE REBANHO

As evidências cada vez mais abundantes de sequelas diversas nos pacientes recuperados da Covid-19 têm causado espanto e apreensão na comunidade médica e científica. A mais recente foi revelada em estudo publicado no European Heart Journal, com financiamento da British Heart Foundation. Entre os mais de 1.200 pacientes avaliados provenientes de 69 países, 55% apresentaram anomalias cardíacas e cardiopatias. Entre os cerca de 900 desses 1.200 que não tinham qualquer condição cardíaca preexistente, 46% apresentaram anomalias em ecocardiogramas e demais avaliações clínicas e diagnósticas. Ainda que não se possa dizer conclusivamente que as cardiopatias detectadas sejam decorrentes da Covid-19 – para tanto seria necessária a condução de um estudo randomizado com grupos de controle bem estabelecidos -, o estudo é mais um a demonstrar a existência de estreita correlação entre a Covid-19 e doenças cardiovasculares. Como muitos já suspeitam que a doença esteja mais para uma síndrome vascular sistêmica do que para um mal estritamente pulmonar, as evidências se encaixam.

Há também evidências de neuropatias, de doenças renais, de tromboses e acidentes cardiovasculares entre os pacientes recuperados. Portanto, os desafios relacionados ao sars-CoV-2 vão além da pandemia. Depois que ela passar – e isso ainda há de demorar -, é possível que os sistemas de saúde mundo afora continuem com intensa demanda ou até sobrecarga. Para além das mortes evitáveis, são as sequelas que põem em xeque as estratégias de “imunidade de rebanho” seguidas por governos como o brasileiro. Sim, pois ainda que a estratégia não tenha sido anunciada com essas palavras, a política de Bolsonaro é a de alcançar o mais indesejável dos resultados, a julgar por parâmetros de um governo minimamente responsável. Já com a política adotada, partimos para a insanidade de rebanho, e ela é irreversível.

O quadro tem consequências diversas para a economia. Mas, antes de enumerá-las, permito-me uma digressão. Penso que qualquer pessoa que pretenda fazer projeções macroeconômicas, debater políticas públicas ou apresentar propostas deva, antes de tudo, estabelecer algum tipo de relação com a área biomédica. Tenho insistido em diferentes espaços na necessidade de buscar algum conhecimento sobre temas dessa área para que se possa entender a extensão da crise subjacente, que de econômica nada tem. A crise econômica é tão somente o sintoma da patologia sistêmica que se propagou. Sem que se tenha alguma compreensão da doença, de como ela se manifesta, sem que se tenha uma mínima capacidade de acompanhar os artigos científicos, as projeções econômicas têm o mesmo valor que uma nota de um cruzeiro.

Quais as consequências? Em primeiro plano, está o SUS e todas aquelas pessoas que podem dele ter de depender depois de recuperadas da Covid-19. Ou seja, caso fique estabelecido que a Covid-19 causa sequelas reversíveis e irreversíveis, brandas ou severas, o subfinanciamento do SUS não só ficará mais agudo, como aportes de recursos serão necessários por muito mais tempo do que o previsto. Isso implicará abrir espaço no orçamento público para o investimento na saúde. A insanidade de rebanho, afinal, tem custos fiscais elevados – apenas para pôr a questão em termos compreensíveis para os fiscalistas mais extremados. Além de um maior número de dependentes do SUS e do inevitável ônus fiscal, as sequelas podem ser um dano adicional em um mercado de trabalho já combalido. Muitas pessoas podem ter de se afastar de seus empregos por um tempo. Em certos casos seu afastamento pesaria sobre as contas públicas, o que seria dramático para elas epara a esperada recuperação da economia. Por fim, uma economia permanentemente debilitada pelo vírus seria bem menos atraente para investidores externos ou domésticos, reduzindo o ímpeto de qualquer retomada prevista.

Eis, portanto, que a insanidade de rebanho brasileira – além de ser desumana – pode ser prejudicial para as contas públicas e a trajetória da dívida a perder de vista.

Em vez de nos darmos conta disso, insistimos no devaneio dos riscos inflacionários, na preservação de um teto de gastos incompatível com a insanidade de rebanho, nos temores de que o câmbio se desvalorize ainda mais e de que o investimento externo não retorne. Francamente? A porteira já se abriu e a insanidade é outra.

MONICA DE BOLLE – épesquisadora sênior do Peterson Institute for InternationaL Economics e professora da Universidade Johns Hopkins

OUTROS OLHARES

BARIÁTRICA JUVENIL

Seguro e eficaz, o procedimento cirúrgico se tornou a melhor alternativa para tratamento da obesidade mórbida

A adolescente paulista Lívia Pizzi tem 14 anos, 1,64 de altura e 110 quilos. Seu índice de massa corpórea é de 40.9, ou seja, nesse momento ela está em situação de obesidade mórbida, o que caracteriza uma doença grave. Tal grau de obesidade pode comprometer seriamente órgãos como fígado, rins, coração e pulmões. Além disso, os ossos dos joelhos são prejudicados. Ultrapassando aspectos relacionados à saúde física, a obesidade mórbida é devastadora a tudo que está relacionado à vida interpessoal e aos relacionamentos, principalmente na idade de Lívia. “Ela sofria bullying com frequência na escola”, conta a mãe da estudante, Gislene Pizzi, que se viu obrigada a mudar sua filha de colégio. “Mudei porque ela ficava triste e isolada das colegas”, conta. No início do ano, a família procurou o mesmo médico que fez uma cirurgia bariátrica no pai de Lívia, Rene Pizzi, o cirurgião e diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), em São Paulo, Luiz Vicente Berti. Lívia fará a cirurgia daqui um mês. “Se o paciente tem indicação para bariátrica, temos obrigação de fazer”, afirma o médico.

Desde 2013, esse tipo de cirurgia é permitido a partir dos 16 anos. As regras gerais para sua realização são o índice de massa corpórea (IMC) acima de 40, que caracteriza obesidade mórbida instalada, sem resposta a tratamento clínico, e a verificação de doença causada pela obesidade. A partir deste ponto, há acompanhamento de saúde e, em caso de menores de idade, e a exigência legal de concordância dos pais ou responsáveis. Assim como a família Pizzi, outras tentam realizar o procedimento médico a fim de melhorar a funcionalidade do corpo, evitar doenças, e retomar a convivência harmônica nos ambientes que frequentam. O filho do apresentador Fausto Silva, João Guilherme, de 16 anos, por exemplo, passou por uma cirurgia bariátrica em maio, que lhe tirou 20 quilos. Segundo Marcos Leão, presidente da SBCBM, ao longo do tempo a bariátrica foi melhorada tecnicamente e se tornou mais segura.

AUTOESTIMA

A obesidade mórbida acometeu o estudante amapaense Gabriel Alencar, 15, que sofreu com a doença até dezembro de 2019, quando foi submetido à cirurgia. “Foi à última solução encontrada para se ver livre desse mal”, conta Cristina Alencar, 47, mãe de Gabriel. Antes da realização do procedimento, o rapaz era de pouco papo e não conseguia se relacionar bem com os colegas. Além disso, tinha dificuldade de locomoção, devido aos 133 quilos em um corpo de 1,78 de altura. Gabriel está com 99 quilos e os problemas sumiram. “Meu filho está muito bem de saúde e de autoestima”, diz Cristina. A realização da bariátrica em jovens vai muito além de benefícios físicos. Há, realmente, uma vida antes e outra pós-cirurgia.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 26 DE AGOSTO

PERDOAR NÃO É FÁCIL, MAS NECESSÁRIO

Suportai-vos uns aos outros; perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós (Colossenses 3.13).

O grande escritor C. S. Lewis disse que é mais fácil falar de perdão que perdoar. É verdade! Falar de perdão é fácil; difícil é perdoar quem nos machuca. O perdão, porém, não é uma opção, mas uma necessidade. Guardar mágoa é autofagia, é autodestruição, é a mesma coisa que você se ferir mortalmente pensando que está ferindo seu desafeto. Quem não perdoa não tem paz.  Há famílias atormentadas pela falta de perdão vivendo na masmorra da mágoa. Quem não perdoa não pode orar, ofertar e ser perdoado. O perdão é condição vital para termos saúde física, emocional e espiritual. O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente, a alforria do coração.  O perdão cura, liberta e restaura. Constrói pontes onde a mágoa cavou abismos. Não há vida, casamento nem família saudável sem o exercício do perdão. José do Egito foi vítima do ódio consumado de seus irmãos. Sofreu por anos as consequências desse ódio. Mas Deus o restaurou e o honrou. José escolheu perdoar seus irmãos em vez de vingar-se deles. Deu duas provas dessa atitude. Chamou seu filho primogênito de Manassés, cujo significado é “Deus me fez esquecer”. José também deu a melhor terra do Egito a seus irmãos que o maltrataram. O perdão é um ato de misericórdia. É expressão da graça de Deus em nós e por nós.

GESTÃO E CARREIRA

ESQUEÇA TUDO. PLUG NISTO

Trevisan Escola de Negócios quer transformar o que chamamos de educação – e isso interessa à sua empresa.

Alguém em algum lugar faz algo. E é assim que tudo começa. À frente da Trevisan Escola de Negócios, VanDyck Silveira quer construir essa diferença. Para tanto, poderia ter escolhido caminhos conceituais e teóricos. Ele preferiu à lá Engels: com ação. No fim de semana em que o governo de São Paulo declarou reclusão e fechamento de atividades econômicas por 15 dias, ele reuniu professores, seu time de tecnologia e remodelou todas as disciplinas presenciais – a Trevisan tem aulas presenciais e a distância (EAD) – para que nenhum estudante perdesse conteúdo. “Respondemos imediatamente. Nenhum aluno ficou a pé”, diz. “Vamos ver o que aconteceu nas universidades federais, estaduais e muitas particulares: suspenderam as aulas, e a gente não sabe por quanto tempo. É um total despreparo e descaso.” Para ele, o ensino superior está distante da pessoa comum.

Assim que assumiu a escola, em janeiro do ano passado – ele é um dos sócios –, VanDyck (pronuncia-se ‘van-di-que’) transformou o currículo dos cursos de graduação da Trevisan, o de Administração e o de Contabilidade. Das 4.000 horas de cada grade, pelo menos 600 (15%) serão dedicadas a disciplinas como Big Data, Inteligência Artificial e Internet das Coisas. E não por meio de encontros apenas teóricos. Mas de aplicações.

A ânsia por transformar cada aula numa solução vem de seus tempos como CEO da Corporate Learning Alliance (atual Headspring), joint-venture entre o londrino Financial Times e a IE Business School, em Madri, uma das escolas líderes no mundo da educação corporativa. “Criamos uma empresa focada nas 5 mil maiores companhias do mundo”, diz. Tinha o que ele chama de educação com consequências reais para as organizações. Os alunos eram estimulados e preparados para executar a estratégia das companhias. “Não era apenas usar o livro de RH, de Finanças ou de Marketing. É aquilo que a empresa precisa saber para executar uma estratégia personalizada, não genérica.”

Aproximar-se do FT, um dos veículos ícones do universo da economia e das finanças, cujas origens remontam a 1888, levou VanDyck a atuar no processo de transformação digital do jornal. “Ajudamos o Financial Times a encontrar sua posição como um portal de suporte a decisões dos agentes de mercado – empresários, banqueiros, executivos, traders.”

A versão impressa do jornal foi mantida, mas o foco passou a estar no serviço de insights de dados, de análises. “Algo que vai muito além da notícia pura”, diz. Essa inquietação ele pretende impregnar na Trevisan. Seja nos cursos de graduação ou nos de pós-graduação e educação executiva, com versões presenciais, on-line e in company. “Em um futuro próximo, somente escolas, colégios e universidades híbridas existirão. Aquelas que insistirem em modelos 100% presenciais desaparecerão.”

SÓCRATES

VanDyck ataca um ponto inquestionável. Poucas indústrias se mantêm operando no mesmo modelo e formato de entrega de serviços, desde que foram inventadas, como as do segmento de educação. “Não mudou nada desde Sócrates”, afirma. Por esse motivo ele acredita que a hora da disrupção do setor chegou. “Com tecnologia de ponta e pedagogia especializada – no desenvolvimento de crianças, jovens e executivos –, a experiência de aprender e fixar o conhecimento será única, melhor e mais duradoura.”

Ao todo, a Trevisan Escola de Negócios já soma 5 mil alunos, com 200 professores. Sem fazer previsão em número de matriculados, ele prefere falar de alcance. Até 2025, a partir do investimento em Educação a Distância, quer atingir o Brasil todo. Mas não descarta aquisições ou mesmo parcerias e fusões para o crescimento, apesar de ainda apostar no avanço orgânico. O faturamento em 2019 foi de R$ 25 milhões.

De duas características, porém, não abrirá mão. O olhar pragmático e a velocidade. Para VanDyck, isso tem a ver com o DNA da Trevisan. “Somos a única escola de negócios do Brasil que nasceu dentro uma grande empresa de consultoria.” O que o obriga, paralelamente, a buscar um perfil bem específico para seu quadro docente. “Nossos professores têm conhecimento sui generis, ninguém é 100% acadêmico ou 100% mercado.” E remete também a uma previsão de Antoninho Marmo Trevisan, fundador da consultoria. “Cada vez mais, as empresas serão escolas e as escolas serão empresas. Só faltava abraçar a tecnologia.” Foi o que ele fez. “Não temos medo.”

VanDyck Silveira fez 47 anos dia 25 de março, uma quarta-feira. Passou os dias da véspera envolvido em como evitar que qualquer aluno seu perdesse uma aula por causa da crise do coronavírus. Com 20 anos de experiência em educação superior e executiva, comanda a Trevisan Escola de Negócios.

O QUE PRETENDE DEIXAR COMO MARCA NA TREVISAN?
Que seja a primeira escola de negócios reconhecida pela sua capacidade de aplicar a ciência de dados e a Inteligência Artificial como parte integral e profunda da formação de seus alunos.

O SENHOR COSTUMA DIZER QUE INSTITUIÇÕES, INCLUSIVE RENOMADAS, ESTÃO AMARRADAS A UM MODELO INDUSTRIAL E PRETENDE QUE A TREVISAN FORME ALUNOS PARA LIDERAR A INDÚSTRIA 4.0. COMO?
A revolução passa pela fluência digital e pela possibilidade de fazer operações digitais. Todos os nossos programas ganharam uma considerável quantidade de horas em transformação digital.

NUM PAÍS DE ESTRUTURAS DE ENSINO TÃO ENGESSADAS, O QUE SERIA PRECISO MUDAR?
Conteúdos mais pragmáticos, conectados com a realidade. Precisamos que as crianças, desde pequenas, sejam estimuladas ao bom desenvolvimento cognitivo, que possam ter reforço em Matemática, que possamos ter desde cedo os olhos para a ciência.

ESSE NOVO ALUNO JÁ ACOMPANHOU A MUDANÇA?
Ainda temos alunos que se imaginam 100% de um lado (curso presencial) ou do outro (EAD). Mas todos são “blended”. Talvez, a Covid-19 tenha um lado positivo, por acelerar um modelo híbrido.

O MUNDO ACADÊMICO BRASILEIRO ESTÁ DESCOLADO DO MUNDO REAL?
Universidades mundo afora estão descoladas do mundo real, mas no Brasil é mais acirrado. Algumas universidades ainda apresentam ranço ideológico, dificuldade de lidar com executivos, com projetos que tenham fins lucrativos.

SE FOSSE ESTUDAR HOJE, O QUE FARIA?
Uma trilha com Economia, Matemática, Estatística, Psicologia, Neurociência e, no campo das Ciências Humanas, Filosofia Oriental. O modo de pensar oriental pode nos ensinar muito.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

GOLPE DE SORTE

Atribuir sucessos e fracassos ao acaso é cômodo; mas compreender as emoções e usá-las a nosso favor pode criar excelentes oportunidades

A sorte é realmente cega? Psicólogos que trataram do tema explicam que, por trás da convicção de que somos “sortudos” ou “azarados”, há o desejo de manter os acontecimentos sob controle, sobretudo os que nos inquietam. A explicação tem antecedente histórico: já na década de 20 o antropólogo Bronislaw Malinowski observou que os pescadores nativos da Melanésia recorriam a magias sempre que tinham de explorar águas desconhecidas. Quando permaneciam em regiões vizinhas, porém, confiavam apenas nas próprias habilidades. “As superstições oferecem uma sensação ilusória de controle dos eventos, que pode ajudar a aplacar nossas ansiedades”, diz o psicólogo americano Stuart Vyse. “Por isso elas são necessárias nos momentos em que nos sentimos vulneráveis.”

Os argumentos são válidos, mas insuficientes, segundo o psicólogo Richard Wiseman, professor da Universidade de Hertfordshire, Inglaterra. Ex-ilusionista e interessado em fenômenos paranormais, Wiseman conduziu um complexo estudo sobre os mecanismos possivelmente relacionados à sorte. O projeto, financiado por várias instituições, entre as quais a Associação Britânica para o Avanço da Ciência, gerou um manual chamado O fator sorte, traduzido em mais de 20 idiomas.

Não é a primeira vez que a ciência tenta revelar as leis da sorte e do azar. Há alguns anos, o físico Richard A. J. Matthews estudou as chamadas leis de Murphy, a irônica suma do pessimismo resumida na máxima “se alguma coisa pode dar errado, dará”. Matthews investigou, em particular, por que uma fatia de pão com manteiga cai geralmente com o lado da manteiga para baixo. O fato foi confirmado por um estudo experimental, patrocinado por um fabricante de manteiga: o aparente azar deve-se simplesmente à relação física entre as dimensões da fatia e a altura em que estava colocada. São também explicáveis outros tipos de infortúnio, como o fato de que quando retiramos duas meias da gaveta geralmente elas não são do mesmo par.

Além disso, só damos atenção a certos fatos quando eles ocorrem – como a chegada do ônibus assim que se acende um cigarro -, o que contribui para reforçar nossos preconceitos e nos fazer ignorar as leis da probabilidade. “A diferença entre eventos ordinários e extraordinários é subjetiva”, explica o psicólogo Lorenzo Montali, da Universidade de Milão-Bicocca. “Estar atrasado, por exemplo, é um fato comum, mas certamente será recordado como um golpe de sorte se graças a ele somos salvos de um desastre.”

Ao estudar o pensamento não racional, Michael Wohl, psicólogo da Universidade Carleton, em Ontário, verificou que muitos jogadores obstinados estão convencidos de que podem influenciar o andamento de um jogo de azar graças à própria sorte, ignorando as leis da probabilidade e superestimando as possibilidades de vitória. Muitas vezes não nos damos conta de que certos eventos, como acertar na loteria, são raros, mas não impossíveis. “Quando ganhamos em um cassino, não pensamos no fato de que alguém tinha, necessariamente, de ganhar”, diz Montali.

SUPERSTIÇÃO E HABILIDADE

A mesma conclusão foi obtida pelo estudo realizado em 2002 por Paola Bressan, professora de psicologia da Universidade de Pádua, e publicado em 2002 na revista Applied Cognitive Psychology.

Ao pesquisar pessoas que acreditam em eventos paranormais, ela mostrou que certos acontecimentos parecem extraordinários porque não se leva em conta a probabilidade de que ocorram.

Pesquisadores interessados nesses temas, porém, tendem a analisar comportamentos específicos e não a nossa relação com a sorte enquanto tal. Segundo Wiseman, isso ocorre porque “o conceito de sorte é difícil de definir, ou porque muitos psicólogos não gostam de enfrentar temas ligados à superstição ou à magia”.

Para traduzir esse conceito tão evasivo em termos concretos, Wiseman publicou em 1994 um anúncio no jornal solicitando que pessoas particularmente sortudas ou azaradas entrassem em contato com ele para que seus comportamentos fossem analisados. Descobriu que cerca de 9% desses indivíduos podiam ser considerados azarados e 12% favorecidos pela sorte.

Todos os outros entravam na média. A análise experimental dos traços de personalidade que distinguiam as duas categorias permitiu concluir que os azarados são mais tensos e concentrados, ao passo que os sortudos tendem a considerar as coisas de forma mais relaxada, mas sem perder de vista o contexto geral. Wiseman deu aos participantes um jornal, solicitando que contassem as fotos impressas e prometendo um prêmio aos que o fizessem corretamente. Ora, o número solicitado estava gravado de forma evidente sobre uma das páginas, algo que muitos “azarados” não perceberam, pois estavam concentrados demais na tarefa.

Se levarmos em conta os dados coletados, ter sorte significa saber escolher ou criar as oportunidades e as ocasiões mais vantajosas. “Estamos fazendo uma pesquisa estatística sobre o mecanismo que poderíamos definir com a expressão ‘como o mundo é pequeno!’; tal mecanismo nos leva a encontrar frequentemente pessoas que ‘por acaso’ conhecem outras pessoas ligadas a nós”, explica o psicólogo. “Sabemos que os ‘felizardos’ são também hábeis para estabelecer ligações entre diversos grupos de indivíduos, aumentando assim a possibilidade de encontros úteis.”

Os outros “fatores” da sorte consistem, segundo Wiseman, em seguir a própria intuição, ser otimista quanto ao futuro, não capitular diante das dificuldades e tentar, até onde possível, enfatizar aspectos positivos, inclusive dos eventos negativos. Em suma, trata-se de aprender a considerar as coisas de outra forma. Wiseman observa que dependendo do ponto de vista, mais que a situação em si, a pessoa pode se considerar bem ou mal sucedida. Em minha pesquisa, vários entrevistados acreditavam ter sorte na vida, mesmo que tivessem experimentado fatos dramáticos, doenças ou lutos. O que pensa uma pessoa que foi envolvida, involuntariamente, em incidente grave e “infeliz”, que saiu dele seriamente ferida mas, “felizmente”, viva? “Em geral, os pessimistas se julgam simplesmente realistas, mas os otimistas, ainda que vivam numa espécie de ilusão, desfrutam dos efeitos positivos dessa atitude”, assinala o psicólogo. O mesmo ocorre com pessoas que têm fé – tema de outra pesquisa de Wiseman -, algo que lhes permite dar sentido aos eventos que marcam a vida.

Confiar na sorte é algo que, embora banal, está na base de nossa visão de mundo. Paola Bressan recorda que “a tendência a dar ordem e significado ao que acontece a nossa volta, criando rapidamente relações entre eventos simultâneos ou sucessivos – como o trovão e a tempestade ou a ingestão de comida estragada e mal-estar – é indispensável para a sobrevivência”. As pessoas mais inclinadas a essa atitude, os “perseguidores de significado”, conforme a expressão de Paola, tendem a subestimar as leis da probabilidade e a encontrar um maior número de “coincidências”, que atribuem à sorte ou a experiências paranormais. “Trata-se de ilusões cognitivas, que, porém, nos ajudam a viver melhor”, explica a psicóloga.

Atribuir os acontecimentos à sorte permite que a pessoa seja mais indulgente consigo mesma. “Segundo a teoria da atribuição, proposta em 1958 pelo psicólogo Fritz Heider, quando analisamos a causa de um fato, podemos nos basear em uma dimensão interna ou externa em relação a nós mesmos e estável ou instável quanto ao tempo”, explica Montali. Em suma, podemos atribuir o mau desempenho em um exame ao nosso despreparo, à má vontade do professor ou à constante antipatia deste em relação a nós.

Nessa perspectiva, sorte e azar são causas externas instáveis, que conferem sentido a um evento que até então não tinha sentido algum e reduzem a ansiedade causada pela incerteza. Ao mesmo tempo, isso nos absolve de qualquer culpa: “É um erro que protege o eu”, explica Montali, “tanto mais tendemos a atribuir os êxitos aos nossos talentos e os fracassos ao azar”. Esse erro pode alimentar preconceitos. “Um estudo feito em 1974 mostrou que indivíduos de ambos os sexos, interrogados sobre as causas do êxito profissional de pessoas famosas, tendem a atribuir o sucesso dos homens à capacidade destes e o das mulheres à sorte.”

“A superstição e o pensamento mágico são instrumentos para enfrentarmos a incerteza: quando nos consideramos azarados estamos dizendo que não somos responsáveis por nossos fracassos”, resume Wiseman, que hoje oferece verdadeiras “lições de sorte” a gerentes e outros interessados: “Alguns dos meus alunos ‘azarados’ conseguem mudar radicalmente a vida quando assimilam as regras que sugiro. Ser sortudo quer dizer enfrentar os problemas de forma criativa”.

BRUXOS DO BEM

Recorrer a videntes também é uma forma de afastar incertezas, confiando a outros o nosso destino. Wiseman explica: “Essas pessoas, muitas vezes, levantam problemas que nem sequer existem, oferecendo-nos então uma solução custosa. E são bastante astutas para nos convencer de que sua intervenção afastou uma ameaça na verdade inexistente. Já aqueles que procuram videntes tendem a ignorar as predições negativas, concentrando-se nas positivas. É uma atitude típica de quem não gosta da incerteza. Minha experiência sugere que são justamente as situações indeterminadas que nos permitem assumir o controle sobre nossa vida”.

Muitos confiam ainda em amuletos, como, por exemplo, um objeto que carregavam consigo em um momento particularmente favorável da vida. “Os talismãs nos dão a sensação de que retomamos o controle da situação e têm a vantagem de não servir como desculpa para não enfrentarmos as situações; aliás, algumas pessoas ‘sortudas’ que estudamos carregavam um”, conclui o psicólogo. Wiseman está preparando um “amuleto científico”, isto é, um medalhão no qual serão inscritos os princípios que inspiram a “escola da sorte”. Sua proposta é testar experimentalmente a eficácia desse objeto com seus alunos.

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