EU ACHO …

VIOLÊNCIAS COTIDIANAS

Nenhuma sociedade está isenta de viver sem violência

A visão de uma sociedade democrática se baseia na manutenção de certos valores e direitos iguais. Hoje, observamos que muitas ações funcionam em sentidos diretamente opostos, aumentando a tensão e a insegurança sobre os indivíduos. O desrespeito e as humilhações ligados às explorações talvez sejam os mais fortes ingredientes para manutenção dessas violências morais e físicas. Esta observação representa o empobrecimento dos nossos direitos morais e legais e, consequentemente, a nossa recusa e motivação para lutar e mudar. Pela negação da lei e da ordem como valores fundamentais, nos tornamos também indiferentes ou coniventes. Essa apatia ou suposta neutralidade transforma-se numa violência voltada contra nós mesmos e contra aqueles que dependem de nós. Nesta situação, a arte de crescer e viver com prazer e segurança vão se tornando um exercício de sobrevivência ao caos instalado. O que fazemos para nos preservamos como cidadãos, quando os valores que aprendemos e respeitamos são modificados e nos vitimizam?

A descarga da nossa agressividade não torna a nossa vida social melhor, apenas estimula nossa revolta e descontrole. Como exemplos, vemos milhares de jovens que buscam, fora da família, grupos e movimentos onde afirmam suas insatisfações. Aqui não se trata de uma revolução e, sim, de questionamentos sobre seus lugares e papéis nessa instabilidade. Muitos pensadores da modernidade nos fazem refletir que, nas últimas décadas, a sociedade brasileira convive com um tipo de violência passiva, fruto de governos corruptos que assaltam a nação. Este comportamento se manifesta na ausência dos diálogos, na indiferença e no hábito de fazermos vistas grossas para a impunidade.

Assassinatos, roubos, propinas e tantos outros crimes sem punições são esquecidos ou se tornam grandes motes para discussões judiciais. Nesta situação pensamos que a sociedade vive a violência como fruto de uma submissão ou repressão do nosso passado colonialista. Infelizmente, nossa indiferença só fortalece a negligência de nossos representantes na profunda desvalorização de valores humanos do ser e do viver. Nenhuma sociedade está isenta de viver sem violência. Ela é a expressão de suas falhas e sempre existirão, enquanto as diferenças sociais existirem. Violência gera violência. Infelizmente, só as percebemos quando voltadas contra nós. Sequer imaginamos que nós as produzimos nas ruas, no trabalho, no lar e até com aqueles que amamos. Agindo assim, não deveríamos nos surpreender quando, virando-lhes as costas, ela nos atingisse em cheio, na mesma medida.

DR. JORGE PFEIFER – é psicólogo, psicanalista e articulista.

OUTROS OLHARES

 CANCELADOS

O boicote nas redes sociais oscila entre uma estratégia legítima e o linchamento virtual

Houve um tempo em que escritores de prestígio e acadêmicos com talento para escrever definiam o discurso das massas. Em artigos, eles articulavam o bom senso – ou não – e a partir dali cada leitor escolhia as opiniões com as quais se alinhava. Se ele discordava ou simplesmente considerava que poderia acrescentar algo ao debate, escrevia uma carta que demorava dias para chegar e, quando chegava, poderia ser lida ou não. E receber ou não uma resposta. Por décadas, assim funcionou o circuito da chamada opinião pública, mas os tempos mudaram. Hoje basta um clique. E bem mais do que seguir e comentar sobre o que se lê, se assiste e se escuta nas redes sociais, o usuário pretende ser ouvido ou simplesmente “cancelar” o que considera questionável ou ofensivo.

Eis a questão. Ao lado do poder de ser escutado, internautas perceberam que podem replicar no mundo virtual uma velha e conhecida prática do mundo real: o boicote. Mas quando a cultura do cancelamento é uma arma legítima de represália e quando ela deixa de ser protesto e se transforma em linchamento virtual?

No processo histórico da cultura, muitos dos limites que definem o certo e o errado estão esmaecidos, confusos ou ambíguos. Cristina Cypriano, psicanalista e doutora em sociologia, avalia que nesse contexto passamos a conviver com normas sociais emergentes e culturas muito jovens que passam a estabelecer novos limites que, ainda que não estejam bem solidificados, estão em constante processo de construção. E isso acontece tanto na vida real quanto no mundo virtual. “Devemos levar em consideração os novos movimentos sociais que são pautados em relação à vida íntima e pessoal. Nesse lugar, o cancelamento aparece contra tudo aquilo ou todos aqueles que ultrapassam certos pontos traçados por essas culturas jovens e novos movimentos sociais. A cultura do cancelamento torna-se necessária, portanto, como demarcação e reafirmação de limites.” Mas, como todo processo de regulação, a linha que separa o protesto legítimo do autoritarismo e da negação ao diálogo é tênue. O psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Christian Dunker pontua que há um uso um tanto quanto exagerado do cancelamento, mas isso não significa que ele deva ser invalidado. “Há que se distinguir o cancelamento, ato político e estrategicamente bem-posto, do cancelamento autocrático, que produz a sensação de moralismo. Toda vez que cancelo simplesmente porque ‘eu não faria assim’, pressupondo que o outro deva agir exatamente como eu ajo, eu estou indo contra a inclusão, a universalização do diálogo. E, ainda mais grave, ao me retirar do debate, o cancelado pode se beneficiar e criar um ambiente ainda mais tóxico, machista, violento e, portanto, aumentar a coerência identitária do seu grupo, o que seria péssimo.”

Da influencer Gabriela Pugliese, que furou a quarentena para dar uma festa para amigos, à atriz Thaila Ayala, que chamou sua marca de roupas de “Vírus” em meio à pandemia. Do youtuber Felipe Neto, após críticas ao governo Jair Bolsonaro, à escritora J.K. Rowling, acusada de transfobia após publicar o texto “Criando um mundo pós-Covid-19 mais igual para as pessoas que menstruam”. A lista não é pequena e nenhum dos citados ficou indiferente aos reflexos dos cancelamentos a que foram submetidos – de perda de contratos a seguidores em queda.

A historiadora Lilia Schwarcz, reconhecidamente uma das intelectuais mais influentes do País, dedicada ao estudo do preconceito e do racialismo no Brasil, viu-se no centro de debates, críticas e cancelamentos após publicar na Folha de São Paulo o artigo “Filme de Beyoncé erra ao glamourizar negritude com estampa de oncinha”. Dias depois, Schwarcz faria um mea-culpa nas redes sociais. “Errei e peço desculpas aos feminismos negros e aos movimentos negros com os quais desenvolvi, julgo eu, uma relação como aliada da causa antir­racista”, escreveu no Twitter.

A antropóloga social Izabel Accioly acredita que o cancelamento é importante para que os indivíduos sejam responsabilizados pelo que fazem e falam nas redes sociais, sobretudo quando se é uma pessoa pública, mas destaca que as críticas devem ser qualificadas e não se limitarem a seguir um comportamento de manada. “Como influenciador, você não pode achar que seu comportamento não é formador de opinião. No caso da Lilia, você a está cancelando porque viu um Twitter que dizia que ela era racista, ou você a está criticando porque leu o artigo e viu que ela critica uma imagem afrofuturista que ela nem sequer conhece? Então, veja bem, são duas críticas distintas. Uma é violenta e rasa, a outra está associada a argumentos.”

Embora haja uma dependência entre si, os especialistas destacam que a cultura do cancelamento e do linchamento virtual pressupõe comportamentos distintos. “Enquanto o cancelamento diz respeito à demarcação de limites e desautorização, o linchamento virtual dá um passo em direção à destruição, aniquilação do indivíduo”, avalia Cypriano. Nos Estados Unidos, a tentativa de cancelar o cancelamento tem ganhado fôlego, sobretudo entre os movimentos de direita. Enquanto acadêmicos famosos assinaram a carta da Harper’s Magazine que ataca a cultura do cancelamento, o New York Times publicou o artigo “10 teses sobre cultura do cancelamento”, assinado por Ross Douthat. Nele, o escritor diz que aqueles que têm mais a temer o fenômeno geralmente reverberam o reacionarismo da era Trump. “Os liberais ou centristas que temem o zelo da esquerda pelo cancelamento precisam identificar os lugares em que acham que as novas normas de esquerda não são apenas censuradoras demais, mas simplesmente erradas, e aí travar a batalha, tanto no conteúdo quanto no princípio liberal”, sugere o texto.

Apesar das polêmicas que a cultura do cancelamento têm provocado, tanto no Brasil quanto no exterior, Christian Dunker se diz otimista diante do fenômeno. “Nenhuma transformação acontece sem engasgos ou recuos. Como vamos criar uma cultura na internet, completamente nova, sem que apareçam em algum momento transgressões, barreiras, barbáries, excessos? É próprio do novo. É assim que acontece na vida e é assim que acontece na arte.”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 24 DE AGOSTO

O QUARTETO DO MAL

Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés (1Coríntios 15.25).

O apóstolo João, nos capítulos 12 a 14 de Apocalipse, nos fala sobre o quarteto do mal: o dragão, o anticristo, o falso profeta e a grande meretriz. Esses inimigos terríveis agem em conjunto e têm o mesmo propósito: lutar contra Cristo e sua igreja. O dragão é a antiga serpente, Satanás, o nosso arqui-inimigo. Por ter sido derrotado por Cristo, volta suas baterias contra a igreja. Esse adversário é assassino, ladrão, tentador, enganador, mentiroso, maligno, pai da mentira. Veio para roubar, matar e destruir. O anticristo é seu agente. Virá no poder e na força de Satanás. Perseguirá e matará muitos santos, mas estes o vencerão pela palavra do testemunho e pelo sangue do Cordeiro. Os salvos preferirão a morte à apostasia e, mesmo morrendo, triunfarão sobre o dragão e seu enviado. O falso profeta é o braço religioso desse ditador cruel que será adorado em toda a terra. Todos aqueles que não têm o selo de Deus se curvarão a essas potências do mal. A grande meretriz é o sistema político, econômico e religioso que hospeda e dá sustentação a essas forças demoníacas. O quarteto do mal, porém, não prevalecerá. Será derrotado fragorosa e retumbantemente pelo Senhor Jesus. Nos capítulos 17 a 20 de Apocalipse, João fala sobre a queda da grande meretriz e sobre o lançamento do anticristo, do falso profeta e do dragão no lago do fogo, onde serão atormentados pelos séculos dos séculos. A vitória segura e gloriosa será de Cristo e da sua igreja.

GESTÃO E CARREIRA

É TRABALHO OU MALHAÇÃO?

Uma academia dentro do escritório. Esse é o benefício da vez em empresas que levam a sério a saúde (e a produtividade) dos funcionários

O que uma empresa pode oferecer para fazer os olhos do funcionário brilhar? A lista tem crescido nos últimos anos: horário flexível, sala de descompressão, propósito… A resposta também passa pela saúde. É na área do bem-estar que parecem estar os novos e desejáveis benefícios. Umdeles é oferecer mais do que apenas acesso a uma academia de ginástica – e, sim, uma academia dentro do próprio escritório.

Foi o que fez a Asics, empresa de material esportivo, ao mudar de endereço em dezembro. Pedro, Zannoni, presidente da marca japonesa na América Latina, viu na passarela vazia que liga duas torres de escritórios o espaço perfeito para montar uma academia para os 130 empregados que atuam presencialmente – os colaboradores externos recebem uma carteirinha da Gympass, com descontos em várias academias. A própria Asics opera o espaço. “Em uma cidade como São Paulo, não precisar se locomover para praticar atividade física já traz um ganho para a qualidade de vida”, afirma Zannoni.

Na enorme sede do Mercado Livre não à toa batizada de “Melicidade”, em São Paulo, os 2.600 empregados têm acesso livre a uma academia própria, administrada pelo Grupo Bioritmo com toda a grade que a rede de fitness oferece: salas de musculação e exercícios aeróbicos, aulas funcionais, modalidades de luta, entre outras. ”Hoje, quase um terço dos colaboradores frequenta a academia local semanalmente”, diz  Patrícia Monteiro, diretora de recursos humanos do Mercado Livre no Brasil. “Pesquisas de satisfação com os usuários mostram que a academia no local é um benefício de valor e favorece a redução dos níveis de absenteísmo, combate o estresse e melhora o entrosamento com os colegas.”

A tendência é impulsionada por algo mais do que altruísmo: cuidar da saúde dos funcionários é bom, também para a companhia. No mundo, segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde, os gastos anuais em consequência da inatividade física chegam a 67,5 bilhões de dólares, entre perda de produtividade e cuidados médicos. No Brasil, são 3,6 bilhões de dólares por ano. Uma quantia nada desprezível.

Ações de saúde e bem-estar são diretrizes globais em algumas empresas. A farmacêutica suíça Roche lançou mundialmente em 2013 o programa Live Well, Find Your Balance, com quatro pilares: práticas de prevenção, estilo de vida saudável, bem-estar emocional e recursos de bem-estar. “Olhamos para a saúde do funcionário de forma integrada e holística”, diz Cintya Silva, coordenadora de cultura, diversidade e bem­ estar da Roche. “Oferecemos desde acompanhamento médico e nutricional periódico até programas de acolhimento e suporte emocional, passando por facilidades como salão de beleza.” Lá, a academia de três andares, administrada em parceria com o Sesi, tem aulas de dança, pilates, circuito e spinning, além de infraestrutura para musculação.

Na empresa americana de bens de consumo Johnson & Johnson, a ambição é “ter a força de trabalho mais saudável do planeta”, diz; Retina Lackner, gerente de recursos humanos no Brasil. Para isso, os funcionários contam com aulas de meditação, boxe, treinamento funcional e dança em salas perto do escritório, e têm desconto na academia da Bodytech que fica no mesmo prédio. Os familiares também estão liberados para participar das aulas gratuitamente. “Pesquisas de clima e satisfação mostram o engajamento dos funcionários. Não se trata apenas de malhação, mas de promover um ambiente saudável física e mentalmente”, diz Betina.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

DESAFIOS DO TEMPO

A menopausa marca o fim de uma etapa da vida da mulher; para especialista, não pode ser comparada à andropausa masculina

Os estudos sobre a menopausa e a andropausa têm merecido crescente atenção nas últimas décadas devido ao aumento da expectativa de vida. Estima-se que a população mundial com idade acima dos 60 anos irá dobrar entre 2000 e 2025, chegando a mais de 1 bilhão de pessoas. No Brasil, as projeções são de cerca de 200 milhões de habitantes em 2020, dos quais 11 milhões terão entre 55 e 64 anos.

É curioso que, apesar de todas essas mudanças no perfil epidemiológico da população, a idade em que a menopausa ocorre continue a mesma: entre os 48 e 50anos, em média. Isso significa que um contingente cada vez maior de mulheres viverá após esta fase ter sido atingida, convivendo com os sintomas e as consequências da redução da produção do hormônio sexual feminino, o estrógeno.

Raciocínio semelhante vem sendo aplicado aos homens em relação à andropausa – fenômeno muito menos estudado, mas cujo interesse de pesquisa tem crescido nos últimos anos. Se nas mulheres, por um lado, a menopausa corresponde a um acentuado declínio na produção de estrógeno (que leva à falência funcional dos ovários e à interrupção do ciclo menstrual), nos homens, por outro, foram identificadas várias alterações hormonais, sendo a mais comum a diminuição dos níveis de testosterona, o que não resulta, porém, em comprometimento funcional dos testículos ou infertilidade. Outra diferença entre menopausa e andropausa é que os dois processos não ocorrem na mesma faixa etária; além disso, nem todos os homens se queixam da alteração hormonal associada à idade (cujo diagnóstico por sinal ainda é muito controverso), ao passo que 100 % das mulheres passam pela experiência da menopausa. Usar o termo andropausa como equivalente à menopausa é, portanto, incorreto.

DÉFICIT ANDROGÊNICO

A diminuição dos níveis de testosterona faz parte do envelhecimento dos homens. A produção desse hormônio começa a cair de 1% a 2% por ano a partir dos 40 anos. Até 15% dos homens podem sofrer do chamado déficit androgênico do envelhecimento masculino (Daem), distúrbio reconhecido pela medicina desde 1994, caracterizado por acentuada redução da produção de testosterona.

Já as repercussões da insuficiência estrogênica na menopausa a curto, médio e longo prazo são bem conhecidas. Os sintomas incluem fogachos ou ondas de calor, diminuição da lubrificação vaginal, sem falar no aumento do risco de doenças cardiovasculares, osteoporose e demências. Muito se fala também nos benefícios da terapia de reposição hormonal, que além do aspecto preventivo produz resultados importantes em termos de

qualidade de vida. Obviamente há riscos inerentes, mas que podem ser controlados pelos médicos, os quais devem levar em conta fatores como tipo e dosagem de hormônio, via de administração, início e duração do tratamento, antecedentes familiares e pessoais de câncer de mama, entre outros. Nos homens, porém, os efeitos da insuficiência androgênica precisam ser analisados com mais cuidado. Apenas 4% dos casos de disfunção sexual masculina têm causa hormonal. Muitas vezes os sintomas atribuídos ao hipoandrogenismo podem ser decorrentes de doenças como diabetes, hipertensão, depressão, ou do uso de medicamentos. Embora certos níveis de testosterona sejam necessários para manter a libido e a capacidade erétil, parece que os idosos precisam de menos hormônios. De fato, é extremamente difícil determinar os níveis necessários de hormônio sexual masculino para a manutenção da atividade sexual em pessoas saudáveis e sem fatores de risco (não -hormonais) facilitadores da disfunção sexual.

Nas mulheres, além do decréscimo da função ovariana, a menopausa implica alterações significativas nos mecanismos de feedback entre duas regiões cerebrais: hipotálamo e hipófise. A hipótese mais aceita atualmente é a de que essas estruturas se tornem menos sensíveis ao estrógeno. Além disso, parece haver diferentes fases, durante a transição menopáusica, de resposta do eixo hipotálamo-hipófise. Com o passar do tempo, níveis de estrógeno antes capazes de inibir a secreção de hormônio luteinizante (LH) pela hipófise já não conseguem exercer o mesmo efeito.

Os níveis de LH são maiores em mulheres na perimenopausa – fase de transição que marca o fim da vida reprodutiva feminina e antecede a última menstruação. É por isso que as ondas de calor e os distúrbios do sono, por exemplo, são mais comuns nessa etapa do que após a extinção do ciclo menstrual, embora seja importante frisar que nem todas as mulheres relatam alterações físicas e psíquicas. A manifestação desses sintomas pode ser resultado de uma sensibilidade diferenciada aos hormônios sexuais nos mais diversos centros cerebrais.

EFEITOS ESTRUTURAIS

Sabe-se hoje que distúrbios neurológicos e psiquiátricos manifestam ­se de formas diferentes quanto a origem, riscos, progressão e processo de recuperação em homens e mulheres. Embora não se conheçam precisamente as causas desse fenômeno, sabe-se que as concentrações de estrógeno ou de progesterona, ou a expressão de seus receptores, provavelmente desempenhem papel importante. O estrógeno é sintetizado em diversas regiões cerebrais – tanto no homem como na mulher – graças a uma enzima, chamada aromatase, que converte testosterona em hormônio sexual feminino. Essa produção local de estrógeno é essencial para o desenvolvimento cerebral, influenciando tanto a diferenciação quanto a plasticidade neuronal, o que implica efeitos estruturais e funcionais, respectivamente. Além disso, o estrógeno modula a atividade de vários neurotransmissores, como acetilcolina, serotonina, dopamina, bem como a transmissão adrenérgica. Isso poderia explicar seu efeito tônico mental, capaz de diminuir a ansiedade e melhorar o humor e a memória em algumas mulheres tratadas com terapia hormonal estrogênica na perimenopausa.

Parcela significativa das mulheres tem expectativas desfavoráveis em relação à menopausa, e muitas desenvolvem sintomatologia física e psíquica importante no climatério. Isso ocorre particularmente naquelas que apresentam transtorno disfórico pré-menstrual – forma grave de tensão pré-menstrual (TPM) -, o que sugere que os estados fisiológico e psicológico prévios seriam importantes preditores da interpretação e vivência da menopausa.

Vários autores não encontraram evidência de que a instalação da menopausa esteja associada à depressão. No entanto, o período prolongado de perimenopausa (no mínimo 27 meses) representaria um risco moderado ao humor depressivo. Segundo alguns estudos, o aumento na incidência de depressão na perimenopausa estaria associado a episódios depressivos anteriores, bem como a aspectos socioeconômicos. Outros fatores aparentemente envolvidos são históricos de transtorno disfórico pré-menstrual e de depressão pós-parto, responsabilidade como cuidadora, baixo nível educacional, luto e doenças crônicas.

No caso da menopausa cirúrgica, por meio da remoção do útero (histerectomia) com ou sem a retirada dos ovários e trompas (ooforectomia), os fatores de risco para depressão apresentam algumas diferenças em relação à menopausa natural. A boa preparação cirúrgica – que inclui a avaliação das emoções e das expectativas da paciente – é muito importante para minimizar o impacto do procedimento. Nessas circunstâncias o humor depressivo parece estar associado a histórico de depressão, idade jovem, apoio social inadequado, problemas conjugais, baixo nível socioeconômico, histórico de múltiplas cirurgias e cirurgia em situação de emergência. Alguns estudos indicam que mulheres que estão na perimenopausa ou na pós-menopausa há pouco tempo podem se beneficiar do efeito positivo do estrógeno sobre o humor, independentemente das possíveis causas da depressão. O mesmo parece ocorrer em relação à memória verbal. Os resultados em mulheres na pós-menopausa tardia são negativos.

CASTRAÇÃO QUÍMICA

Já a literatura científica sobre depressão ou sintomas depressivos e níveis de testosterona em homens de meia-idade parece equivocada. Embora muitos ensaios clínicos com andrógenos incluam questionários de humor ou depressão, não há evidências que indiquem que o declínio de testosterona seja um fator de risco significativo para a depressão, ainda que alguma influência no humor deprimido não possa ser totalmente excluída. Alguns trabalhos demonstraram a associação entre castração química e maior incidência de depressão, além de aumento significativo dos níveis plasmáticos da proteína beta-amiloide, a mesma envolvida na degeneração neurológica observada na doença de Alzheimer.

Vários estudos sobre a relação entre níveis de andrógenos e desempenho cognitivo têm produzido resultados inconsistentes, sugerindo ser necessário que se investigue melhor o papel dos hormônios em vários domínios das funções cognitivas. A melhora na memória verbal, por exemplo, poderia ser explicada pela conversão de testosterona ou andrógeno em estrógeno pela enzima aromatase. Portanto, no estágio atual das pesquisas é impossível destacar qualquer benefício cognitivo da administração de testosterona.

APELO DA MÍDIA

Ao contrário da grande maioria dos estudos que mostra melhora significativa da qualidade de vida de mulheres na menopausa com terapia de reposição hormonal (quando não houver contra­indicações), os resultados do tratamento análogo nos homens são amplamente negativos. Estudos recentes contrariam os mais antigos, nos quais as justificativas giravam em torno da melhor qualidade de vida dos homens submetidos à reposição de testosterona a longo prazo. Mesmo com o apelo da mídia, que exalta a importância da qualidade de vida dos homens na “andropausa”, até o presente momento não há estudos que confirmem tal crença. Tampouco há argumentos sólidos para o tratamento de idosos assintomáticos, mesmo quando detectada a diminuição da produção de testosterona.

A reposição androgênica deve ser restrita a pacientes sintomáticos, com níveis de testosterona bem inferiores aos valores de referência, e administrada somente depois da exclusão de outros fatores, como depressão, stress e diabetes, que podem causar redução da libido e disfunção erétil, por exemplo. Quando houver indicação, deve-se optar por doses baixas do hormônio masculino, tendo em conta a exacerbação de doenças dependentes da ação da testosterona, como hiperplasia benigna da próstata, câncer prostático, e ritrocitose (aumento do número de hemácias) e apneia do sono. É preciso prudência e muita investigação clínica, uma vez que os dados de que dispomos ainda são muitos limitados. Estudos de longo prazo, como os realizados para a terapia hormonal de mulheres na menopausa, são necessários para conhecer os riscos associados a esse tipo de tratamento.

A SINERGIA ENTRE CÉREBRO E OVÁRIOS

Os hormônios sexuais femininos – estrógeno e progesterona – são produzidos nos ovários, mas sua síntese está sujeita ao controle de um circuito regulatório no qual duas regiões cerebrais desempenham papel decisivo: o hipotálamo e a hipófise (glândula situada na parte inferior do cérebro).

Na primeira metade do ciclo menstrual, chamada folicular, o nível de estrógeno no sangue é muito baixo. No hipotálamo, isso estimula a síntese dos hormônios liberadores de gonadotropina. Um desses mensageiros químicos, o FSR-RF (sigla em inglês para fator liberador do hormônio folículo-estimulante), induz na hipófise a liberação do hormônio folículo-estimulante (FSH), que, então, via corrente sanguínea, chega aos ovários. Ali, o FSH intensifica a síntese de estrógeno, ao mesmo tempo que estimula o amadurecimento de um óvulo.

Quando o nível de estrógeno atinge determinado patamar, o hipotálamo interrompe a produção do FSH-RF e intensifica a de LH-RF (sigla em inglês para fator liberador do hormônio luteinizante). Esse segundo hormônio liberador de gonadotropina provoca a ovulação e, com o auxílio da progesterona produzida nos ovários, prepara a mucosa uterina para a implantação de um embrião. Caso não ocorra a fecundação, a concentração de estrógeno no sangue diminui drasticamente e, em consequência disso, a mucosa do útero é expelida, dando origem ao fluxo menstrual. Um novo ciclo, então, tem início.

Além da diminuição da função ovariana, com o avançar da idade observam-se também alterações nos mecanismos de retro- alimentação que envolvem hipotálamo e hipófise. Pesquisas recentes sugerem que essas estruturas cerebrais tornem-se menos sensíveis ao estrógeno em mulheres na perimenopausa. Além disso, os mesmos níveis desse hormônio, que estimulam a secreção de LH, já não são suficientes para fazer o mesmo nas mulheres mais velhas. Por outro lado, os níveis de LH costumam estar mais altos na perimenopausa, mesmo com concentrações de estrógeno que inibiriam a secreção de LH em mulheres mais jovens. É nesse período que antecede a menopausa que ocorrem as ondas de calor e os distúrbios de sono. A terapia à base de estrógeno costuma ser eficaz contra esses sintomas. Todas essas observações apoiam a hipótese da diminuição da sensibilidade do cérebro aos hormônios ovarianos, marcando o fim de uma sinergia neuroendócrina e da fase reprodutiva da mulher.

O TEMPO COMO ALIADO

Nos últimos anos, estudos realizados com imageamento cerebral revelaram que, com o transcorrer do tempo, redes neurais são reestruturadas e o sistema nervoso tanto de homens quanto de mulheres passa a ativar áreas que até então eram pouco utilizadas no cérebro. Como a expectativa de vida aumentou, o ingresso efetivo na aposentadoria é cada vez mais tardio e as pessoas permanecem intelectual e profissionalmente ativas por mais tempo, faculdades como cognição e memória tendem a ser exercitadas e fortalecidas por períodos mais longos. Segundo especialistas como o psiquiatra Leonardo Caixeta, professor de neurociências da Universidade Federal de Goiás (UFG) e autor do livro Demência Uma abordagem multidisciplinar, a prática frequente de atividades que estimulam as funções cerebrais (como a leitura, por exemplo) pode retardar a instalação da demência.

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