NA SAÚDE E NA DOENÇA
O sistema hospitalar brasileiro possui falhas que estão sendo expostas com a crise do coronavírus. E foi em meio ao caos que surgiu a necessidade de valorizar os profissionais de engenharia clínica.

A crise do coronavírus trouxe à tona a fragilidade do sistema de saúde brasileiro. O relatório Cenário dos Hospitais no Brasil, realizado pela Federação Brasileira de Hospitais e pela Confederação Nacional de Saúde, identifica que, em 2019, o país contava com 1,95 leito hospitalar para cada 1.000 habitantes – muito longe da média mundial, que é de 3,2. Além disso, os hospitais brasileiros ainda sofrem com a falta de equipamentos ou de manutenção, colocando a vida dos pacientes em risco.
Para cuidar desses aspectos, existe um profissional chave: o engenheiro clínico. “Essa é uma posição estratégica nas unidades de saúde. É quem acompanha todo o ciclo de vida dos equipamentos, além das novas tecnologias disponíveis no mercado e as instalações do hospital”, diz Alexandre Ferrelli, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (Abeclin). “A profissão começou a ganhar importância no país na década de 1980, mas com a pandemia ficou evidente a necessidade da aparelhagem correta do hospital e da manutenção em dia.”
O engenheiro clínico também auxilia em obras de reforma e de ampliação, gerencia os resíduos sólidos e trabalha com o financeiro para tornar o hospital mais eficiente em termos de custos. E a especialização é fundamental para exercer a função. “É preciso saber sobre anatomia, fisiologia, equipamentos médicos, ferramentas de gestão e estar por dentro dos jargões”, diz Antonio Gilbertoni Junior, coordenador da pós-graduação em engenharia clínica do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein. Segundo ele, um hospital que tenha entre 100 e 200 leitos e seja de média complexidade exige uma equipe de engenharia de dez pessoas para trabalhar 24 horas.
Engenheiro eletrônico de formação, Marcelo Bonfim, de 53 anos, se especializou para trabalhar na saúde. Hoje, é gerente de engenharia clínica do Hospital Sírio-Libanês. “Resolvi apostar e já são 25 anos de profissão. O hospital parece uma minicidade e a estrutura é complexa”, diz. Atualmente, sua rotina é voltada para a gestão, mas, quando começou a carreira, seu foco era a operação. “É necessário falar com os enfermeiros, assessorar as equipes médicas, vistoriar o centro cirúrgico, conhecer os aparelhos.” Para dar conta, a dica é estar sempre atualizado, estudando e participando dos congressos de medicina.
ROTINA DE TRABALHO
Horas trabalhadas: de 8 a 10 horas diárias
ATIVIDADES-CHAVE
Avaliar a vida útil e realizar a manutenção dos equipamentos do hospital; treinar a equipe que vai utilizar os equipamentos; acompanhar obras de reforma e ampliação; auxiliar na redução de despesas; gerir os resíduos sólidos.
PONTOS POSITIVOS
Influenciar as estratégias do hospital, conviver com todas as áreas (desde as equipes de saúde até as administrativas) e unir os conhecimentos de engenharia com os de saúde.
PONTOS NEGATIVOS
Ainda não há uma regulamentação da profissão. O que existe é uma resolução da ANVISA, feita em 2010, que exige a presença de um engenheiro clínico nos hospitais.
O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA
Graduações como Engenharia Biomédica, Elétrica, Mecatrônica, Mecânica e de Produção oferecem base de conhecimento, mas a especialização (como uma pós-graduação em Engenharia Clínica) é essencial para exercer a função.
PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS
Capacidade de agir sob pressão e de manter-se atualizado sobre novas soluções e tecnologias; atenção às mudanças que ocorrem no cenário da saúde.
DIVISÃO DO TEMPO
50% – GESTÃO ADMINISTRATIVA (acompanhamento de questões financeiras, aprovações e reuniões)
30% – GERENCIAMENTO DA EQUIPE (apoio para o time e orientações técnicas)
20% – INTERFACE COM OUTRAS ÁREAS (contato com médicos e enfermeiros para identificar as demandas)
VAGAS: 54
SALÁRIO: DE 5.618 A 8.533 REAIS
QUEM CONTRATA
Hospitais públicos e particulares, além de fabricantes de equipamentos de saúde e consultorias de engenharia clínica.
Uma consideração sobre “GESTÃO E CARREIRA”
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