O Brasil não tem dedicado todos os seus maiores esforços a essa etapa tão crucial da vida, que deveria ser considerada a grande janela de oportunidades para a garantia de um futuro melhor
É em meio a crises como a atual que problemas históricos marcantes de nosso país acabam vindo ainda mais à tona, atingindo feridas profundas que sempre existiram, mas que se tornam mais graves em circunstâncias muito adversas. Entre esses problemas está a imensa desigualdade brasileira, que a cada dia se desenha com mais clareza em nossa sociedade. Olhar para essa questão é também olhar para a infância, que pode ser considerada a etapa mais vulnerável da vida no Brasil.
É justamente na infância que a brutal desigualdade expõe uma de suas faces mais cruéis, ao aniquilar a possibilidade de futuro para um contingente tão significativo de brasileirinhos e brasileirinhas. Pois, no país, não bastassem as condições desiguais que já envolvem raça e gênero, discriminamos também por idade. Em nosso país, crianças não só representam a parcela mais pobre da população, mas também a menos amparada por investimentos realizados pelo Estado, de acordo com dados inéditos organizados pela Cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper.
Segundo o estudo, liderado pelo economista Ricardo Paes de Barros, cerca de 20% de toda a população infantil brasileira, ou seja, mais de 5 milhões de crianças de O a 10 anos, faz parte da parcela mais pobre de nossa sociedade (representada pelos 10% com menor renda). Essa porcentagem cai para 10% entre jovens de 20 anos e para 1% entre idosos com 65 anos ou mais. Crianças representam, portanto, o maior porcentual de vulneráveis, considerando todas as outras faixas etárias da população.
São incontáveis as evidências científicas que mostram as implicações futuras que a ausência de atenção para essa etapa da vida pode ocasionar. Afinal, é na infância que importantes conexões cerebrais acontecem numa velocidade incrível, impulsionadas por estímulos físicos, socioemocionais e cognitivos. A precariedade dessa atenção, mais comum em ambientes comprometidos pela desigualdade social, tende a produzir efeitos negativos que se ampliam ao longo dos anos. Portanto, a infância deveria ser considerada a grande janela de oportunidades para a garantia de um futuro de maior qualidade nas mais diversas áreas da vida, assim como para a construção de uma sociedade brasileira mais inclusiva, produtiva e equitativa.
Infelizmente, o Brasil não tem dedicado todos os seus maiores esforços a essa etapa tão crucial. O estudo da Cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper também identificou um gritante descompasso nos investimentos públicos dedicados às diferentes faixas etárias. Para se ter uma ideia, em nosso país os recursos destinados à população de 65 anos ou mais são seis vezes maior que o montante repassado às crianças, enquanto na grande maioria das outras nações pesquisadas essa proporção cai pela metade, ou seja, é apenas três vezes maior. Como consequência disso, crianças brasileiras que estão entre os 10% mais pobres de nosso país vivem com menos de 7 reais por dia, enquanto brasileiros de 65 anos que integram o grupo dos 10% mais ricos do país vivem com uma renda média 33 vezes superior, de 233 reais diários. A conclusão disso é um desequilíbrio contundente e preocupante: estamos fazendo um grande desinvestimento nas crianças, tornando ainda mais vulnerável a parcela mais desamparada de nossa sociedade, quando deveria ser priorizada em relação aos nossos cuidados, suporte e atenção.
Para além desse quadro, é consenso entre especialistas que a pandemia do novo coronavírus poderá agravar ainda mais a atual disparidade. Parte do investimento que é feito diretamente na infância passa pela oferta do serviço da educação pública, algo que não tem necessariamente chegado às crianças mais pobres, especialmente durante esta crise atual. Afinal, parcela relevante entre elas nem sequer possui condições de prosseguir com as aulas a distância, seja pela falta de estrutura tecnológica, seja pela ausência de estrutura familiar ou de rede de apoio. É preciso também considerar que o cenário pós-pandemia tende a agravar as dificuldades, levando em conta a possibilidade de aumento no abandono e na evasão escolar, especialmente num ambiente seriamente comprometido pelo desemprego e subemprego em meio à retração econômica.
Um caminho possível para virar esse jogo e que ajudaria a reparar as consequências futuras decorrentes das nossas más escolhas em relação à infância seria, minimamente, garantir os benefícios intangíveis da educação. Afinal, a escola é um poderoso meio de ascensão social e de diminuição das disparidades, e só estará cumprindo efetivamente seu papel quando for oferecida com qualidade. Mas, infelizmente, isso é algo que também não vem acontecendo por aqui. Basta olhar os dados da última Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), que mostram que mais da metade dos alunos que concluem o 3º ano do ensino fundamental estão abaixo do desempenho mínimo esperado para leitura e matemática, aos 8 anos de idade.
Isso só reforça o desafio gigantesco que temos como poder público e sociedade. Se soubermos nos mobilizar, toda essa adversidade que vivemos pode ser também uma oportunidade para nos reinventarmos, redesenhando nossas escolas em direção a uma aprendizagem com mais valor e significado. Mas, se nada for alterado nesta dura realidade, continuaremos condenando duplamente as nossas crianças, especialmente as mais vulneráveis, tanto pela ausência de investimentos robustos e esforços certeiros quanto pela nossa incapacidade de oferecer a elas uma educação de qualidade. É fundamental reforçar que não cuidar da infância é simplesmente descartar o futuro. Assegurar a ela a oferta irrestrita da educação pública comprometida com o desenvolvimento pleno é muito mais do que um direito garantido em lei. É também a saída de compensação dessa clara desigualdade que afeta milhões de crianças brasileiras. Não podemos mais naturalizar e nos acostumar com essas diferenças tão latentes, ou continuaremos a limitar as chances de um futuro cheio de oportunidades e possibilidades de escolha para as novas gerações de brasileiros.
A destruição de postos de trabalho empurra milhões de brasileiros para a informalidade e o desalento, potencial ambiente de convulsão
Vanessa Cristina Teixeira dos Santos, de 38 anos, é atriz, dubladora, percussionista e cantora lírica, mezzo soprano. Com apoio do projeto Sonora Brasil, do Sesc, tinha uma turnê musical programada para estados do Norte e Nordeste de março a dezembro, pelo grupo Líricas Negras. O avanço do coronavírus no Brasil, hoje o epicentro da pandemia global, levou ao cancelamento das apresentações. Da noite para o dia, a artista viu todas as portas se fecharem. “Eu também toco na banda do Ilú Obá de Min e faço parte do Grupo Saracura, que promove humanização hospitalar por meio da música. Tudo está suspenso. Neste último caso, devido ao risco de exposição ao vírus, só devemos voltar quando houver uma vacina disponível”, lamenta Negravat, como é conhecida no meio artístico. Após três angustiantes meses, ela conseguiu vencer a burocracia e ter acesso ao auxílio emergencial pago pelo governo. O valor é, porém, insuficiente para quitar as despesas básicas, como aluguel e alimentação.
“Foi quando eu pensei: bom, tenho uma scooter, amo pilotar, posso trabalhar com isso. Consegui fechar parcerias com empresas para fazer entregas particulares, de roupas a produtos de artesanato”, conta. Bastaram três semanas no novo ofício, pelas ruas de São Paulo, para sentir o peso da instabilidade. “Em alguns dias tem bastante trabalho. Em outros não aparece nada. Ainda assim, fujo dos aplicativos, pois sei a exploração a que meus colegas estão submetidos”, afirma. “Por ser mulher, negra, lésbica e, além de tudo, cantora lírica, há tempos tenho essa postura de resistência. É preciso vencer a barreira das grandes empresas que dominam o mercado.”
Negravat sabe que o setor cultural será o último a reabrir. Por isso, não tem esperança de encontrar trabalho no seu ramo até o fim do ano, nem perde mais tempo procurando algo. Assim, mesmo se fosse entrevistada por um pesquisador do IBGE, dificilmente entraria na estatística oficial de desemprego aberto. O instituto considera desempregado apenas quem está desocupado e procurou trabalho nos 30 dias anteriores à semana em que os dados foram coletados. Por conta desse critério, o “faz-tudo” Igor Luís Víctor da Silva, de 40 anos, também ficaria fora. Desde que perdeu o emprego no setor administrativo de uma transportadora em novembro de 2017, curiosamente o mesmo mês em que a reforma trabalhista de Michel Temer entrou em vigor, ele nunca mais encontrou emprego na sua área. Sobrevive de bicos.
Foi a necessidade que o obrigou a desenvolver múltiplos talentos. Quem o vê com as mãos sujas de graxa na oficina de um amigo, no Bairro do Limão, Zona Norte da capital paulista, não imagina que o trabalhador encarnou o papel de garçom de buffet, auxiliar de cozinha, churrasqueira de festas e faxineiro. Todos trabalhos informais, sem direitos nem benefícios. O único emprego com carteira assinada que conseguiu nos últimos dois anos foi como repositor de mercadorias em um supermercado. Durou pouco. “Fiquei 43 dias no serviço. Aí veio a pandemia e fui incluído na primeira leva de demitidos.” A mulher, diarista, também perdeu a maior parte de sua renda. De todos os clientes, fixos ou eventuais, apenas um se dispôs a manter os pagamentos. Trata-se de instituição religiosa, que também tem oferecido cestas básicas à família em apuros. “Tenho dois filhos, não posso depender apenas do auxílio emergencial. Minha caçula, de 11 anos, está estudando em casa, a distância. Não dá nem para cancelar a internet para aliviar o orçamento.”
A perspectiva é desoladora. Por causa da dificuldade de realizar as entrevistas em meio à pandemia, o IBGE adiou a divulgação dos dados do desemprego em junho, que seriam revelados na quarta-feira 29. A última pesquisa apontava uma taxa de desocupação de 12,9% no trimestre encerrado em maio, ou 12,7 milhões de brasileiros, com o fechamento de 7,8 milhões de postos de trabalho em relação ao trimestre anterior. Os especialistas alertam, porém, que o indicador está subestimado, pelo gigantesco número de desalentados, brasileiros que querem trabalhar, mas desistiram de procurar emprego.
Com o fim do distanciamento social e do auxílio emergencial, o desemprego deve alcançar ao menos 16% da população, projetam diferentes analistas. Em entrevista, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, reconheceu que a taxa de desocupação deve ter um repique em setembro. “O desemprego já aumentou, os dados é que não mostram isso”, admitiu. “Muitas pessoas que perderam o emprego estão classificadas hoje como população fora da força de trabalho, pela metodologia do IBGE. Elas não o procuram porque sabem que não adianta. Tão logo reabra a economia, o desemprego vai dar um pulo.”
O mercado de trabalho deteriora-se de forma acelerada. Entre o início de maio e a primeira semana de julho, o Brasil perdeu 2,1 milhões de ocupações, segundo a Pnad Covid-19, pesquisa do IBGE para mensurar os impactos da pandemia na economia e na saúde. Com isso, o nível de ocupação chegou ao menor índice da série histórica. Apenas 48,1% dos brasileiros em idade para trabalhar estão efetivamente ocupados. Da população fora da força de trabalho, 19,4 milhões gostariam de trabalhar, mas não o fizeram por causa da pandemia ou por não encontrarem uma ocupação onde moram. A taxa de informalidade foi estimada pelo instituto em 34,2%.
“Hoje, temos quase 131 milhões de desempregados. Se somar o contingente daqueles que desejam trabalhar, mas não estão procurando emprego no momento, estamos falando de mais de 30 milhões de brasileiros”, observa o economista José Dari Krein, professor da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho. “É uma situação sem precedentes. Em 2015 e 2016, o PIB despencou 7,2%, e nunca recuperamos os postos de trabalho perdidos. De lá para cá, a melhora foi inexpressiva. E a pandemia contribuiu para desorganizar ainda mais o mercado de trabalho.”
O economista lembra que foram celebrados mais de 15 milhões de acordos de redução salarial ou suspensão da jornada de trabalho por conta da MP 936, cuja prorrogação não está nos planos do governo. “Muitas empresas suspenderam o contrato porque era mais barato do que demitir. Quando o benefício perder a validade, teremos uma onda de demissões. Isso, se a empresa não falir sem pagar os funcionários”, afirma Krein. Não bastasse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, parece apostar todas as fichas em uma flexibilização ainda maior da legislação trabalhista. Nos planos do governo figura até a liberação de contratos por hora, sem recolhimento de FGTS nem do INSS. “Em toda crise, é o mesmo discurso: ‘Quer emprego? Então é preciso ter uma relação de trabalho próxima da informalidade’. Só que, do ponto de vista prático, olhando para a história brasileira, essa promessa nunca foi cumprida. Onde estão os 6 milhões de empregos prometidos por Temer e Henrique Meirelles?”
De fato, as reformas tocadas desde a deposição de Dilma Rousseff não foram capazes de alavancar a economia. Após a recessão de 2015 e 2016, o PIB cresceu mero 1% ao ano até 2019. No trimestre encerrado em novembro de 2017, quando a reforma trabalhista de Temer e Meirelles entrou em vigor, a taxa de desocupação era de 12%. Em janeiro de 2020, quando o coronavírus não passava de uma ameaça distante, o desemprego alcançava 11,2% da população. A diferença corresponde a cerca de 700 mil postos de trabalho, oito vezes menos que o prometido.
“Claro que não dá para atribuir o desempenho da economia somente às mudanças na legislação trabalhista, mas ela contribuiu para o PIB raquítico. O consumo das famílias, para citar um exemplo, caiu bastante, devido à queda na renda do trabalhador e até em função dos contratos precários, que dificultam o acesso ao crédito”, observa Krein. “O que gera emprego é crescimento. Se o empresário não tiver confiança de que haverá demanda, ele diminui a produção e dispensa mão de obra. A redução de direitos trabalhistas apenas precariza o trabalho.”
Aos poucos, os “empreendedores”, como a mídia costuma tratar trabalhadores empurrados para a informalidade, se dão conta do engodo. No sábado 25, os entregadores de aplicativos fizeram a segunda paralisação nacional da categoria por melhores condições de trabalho, embora as empresas de tecnologia os considerem apenas usuários das plataformas, e não empregados – uma farsa com o beneplácito do Judiciário. A insatisfação é tanta que um grupo tenta construir uma cooperativa no Rio de Janeiro para garantir aos trabalhadores direitos essenciais, como descanso semanal ou auxílio em caso de afastamentos por acidentes ou problemas de saúde.
Eduarda Alberto, de 24 anos, é uma das idealizadoras do projeto. Bartender até o início da quarentena, ela passou a fazer entregas com sua moto. “Na época, meu namorado estava parando de trabalhar para os apps, cansado da exploração. Então, desde o início, tentei correr por fora”, diz a jovem integrante do grupo Entregadores Antifascistas, estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O maior desafio para viabilizar a cooperativa é justamente o desenvolvimento de um aplicativo para gerenciar os pedidos de entrega.
O grupo pretende apropriar-se da tecnologia desenvolvida pela CoopCycle, uma federação que reúne 30 cooperativas de entregadores na Europa e no Canadá. “Precisamos fazer adaptações. Por causa da topografia, os europeus atuam mais com bicicletas, o que é inviável aqui. Precisamos traduzir tudo para o português e adequar o sistema de pagamentos”, explica. Alheio ao drama do desemprego, Jair Bolsonaro tenta empurrar a fatura da crise para os estados e municípios que adotaram medidas de distanciamento social na esperança de conter o avanço do coronavírus. Em ofício encaminhado ao presidente na segunda-feira 27, o governador do Maranhão, Flávio Dino, propôs a criação de um Pacto Nacional pelo Emprego, a ser debatido com entidades empresariais e sindicais. Bolsonaro reagiu com deboche. “Tem governador agora que quer que eu faça um pacto pelo emprego. Mas ele continua com o estado dele fechado”, disse o ex- capitão durante conversa com seus seguidores na saída do Palácio da Alvorada.
Em abril, um grupo de economistas liderado por Esther Dweck, professora da UFRJ, projetou os impactos econômicos da pandemia. A equipe trabalhou com três cenários. O primeiro previa uma crise em V, com rápida recuperação da atividade econômica, após um período eficaz de isolamento social. O cenário de referência, por sua vez, vislumbrava uma reabilitação em U, com retomada lenta após um período prolongado de distanciamento social. Por fim, o cenário pessimista previa uma recuperação em L ou U prolongada, marcada por vagarosa retomada da atividade econômica a partir de 2021, após o fracasso das medidas sanitárias. “Estamos atualizando os dados, mas não temos observado mudanças significativas nas projeções”, diz Dweck. “Apenas descartamos o cenário otimista, porque ele é irreal.”
Neste caso, o Brasil deve perder de 8,2 milhões a 14,7 milhões de postos de trabalho em 2020. “Não há sinalização alguma de que o governo vai tomar medidas efetivas para estimular o crescimento da economia e, ao mesmo tempo, a pandemia induz a mudanças tecnológicas, em favor de uma maior automação do trabalho. A combinação desses dois fatores é explosiva para o mercado de trabalho”, lamenta Dweck. “Desde o início da pandemia, Bolsonaro tenta explorar a suposta dicotomia entre economia e medidas sanitárias, quando, na verdade, os países que fizeram uma quarentena mais séria conseguiram conter o avanço do vírus e retomaram as atividades econômicas de forma segura.” Epicentro global da pandemia, o Brasil acumula mais de 100 mil mortos e 3,2 milhões de infectados pelo coronavírus. Números oficiais e claramente subnotificados, convém sempre reforçar.
ENQUANTO ISSO…
…bilionários brasileiros ficam mais ricos na crise
A crise provocada pela pandemia do caronavírus inspira as mais sombrias previsões. Para o Banco Mundial, ela provocará a maior recessão desde a Segunda Guerra. O Fundo Monetário Internacional vislumbra a maior debacle desde a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. A OCDE, por sua vez, prevê a maior contração global em tempos de paz dos últimos cem anos, “com consequências sombrias e duradouras para as pessoas, empresas e governos”. A grande maioria da população brasileira sente na pele os impactos na perda de renda e trabalho, mas 42 compatriotas têm motivos de sobra para celebrar. Incluídos na lista de bilionários da Forbes, eles acrescentaram 34 bilhões de dólares às próprias fortunas entre março e julho deste ano, segundo a Oxfam.
Os dados constam no relatório “Quem Paga a Conta? – Taxar a Riqueza para Enfrentar a Crise da Covid-19 na América Latina e Caribe”, divulgado pela ONG na segunda-feira 27. Desde o início da quarentena, o continente ganhou um novo bilionário a cada duas semanas, “enquanto se estima que até 52 milhões de pessoas se tornarão pobres e 40 milhões perderão seus empregos neste ano”. Ao expor o contraste entre a bonança dos bilionários e o desamparo dos mais pobres, as principais vítimas do desemprego e também do coronavírus, a Oxfam alerta para a necessidade de uma reforma tributária capaz de desconcentrar renda no País.
“Entre a pífia proposta apresentada pelo governo federal e os discursos de lideranças do Congresso, que defendem uma reforma tributária voltada para a simplificação e a melhora do ambiente para investimento, a maioria da população é escanteada mais uma vez”, lamenta Kátia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil. “É como se a maioria da população não tivesse o direito a uma vida digna.” De fato, o abismo social só se aprofunda.
Restabelece-nos, ó Deus da nossa salvação… (Salmos 85.4a).
Ainda anseio ver uma igreja ortodoxa e piedosa. Uma igreja que tenha palavra e poder, uma igreja que tenha doutrina e vida. Ainda anseio ver aqueles que conhecem a verdade sendo transformados por ela a ponto de se tornarem pessoas humildes, e não arrogantes. Ainda anseio ver uma igreja cujas obras provem a sua fé e cuja fé honre ao Senhor. Ainda anseio ver uma igreja que pregue com fidelidade, ensine com autoridade e louve a Deus com fervor. Anseio ver uma igreja em que Jesus tenha supremacia e as pessoas sejam verdadeiramente amadas. Ainda anseio ver uma igreja em que a doutrina dê as mãos ao fervor, a ortodoxia se vista com a túnica da santidade, a reforma desemboque no reavivamento. Estou cansado de ver o povo de Deus bandeando para um extremo e para outro. Aqueles mais zelosos da doutrina não raro são os mais apáticos no fervor. Aqueles que mais conhecem menos fazem. Aqueles que têm mais luz muitas vezes são os que têm menos calor. Aqueles que estadeiam sua cultura são os que menos refletem a doçura do Salvador. Ah! Ainda anseio ver uma igreja firmada na doutrina dos apóstolos, que ore e cante com entusiasmo. Uma igreja que tenha temor de Deus e alegria do Espírito. Uma igreja com profunda comunhão interna e grande simpatia dos de fora.
O sistema hospitalar brasileiro possui falhas que estão sendo expostas com a crise do coronavírus. E foi em meio ao caos que surgiu a necessidade de valorizar os profissionais de engenharia clínica.
A crise do coronavírus trouxe à tona a fragilidade do sistema de saúde brasileiro. O relatório Cenário dos Hospitais no Brasil, realizado pela Federação Brasileira de Hospitais e pela Confederação Nacional de Saúde, identifica que, em 2019, o país contava com 1,95 leito hospitalar para cada 1.000 habitantes – muito longe da média mundial, que é de 3,2. Além disso, os hospitais brasileiros ainda sofrem com a falta de equipamentos ou de manutenção, colocando a vida dos pacientes em risco.
Para cuidar desses aspectos, existe um profissional chave: o engenheiro clínico. “Essa é uma posição estratégica nas unidades de saúde. É quem acompanha todo o ciclo de vida dos equipamentos, além das novas tecnologias disponíveis no mercado e as instalações do hospital”, diz Alexandre Ferrelli, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (Abeclin). “A profissão começou a ganhar importância no país na década de 1980, mas com a pandemia ficou evidente a necessidade da aparelhagem correta do hospital e da manutenção em dia.”
O engenheiro clínico também auxilia em obras de reforma e de ampliação, gerencia os resíduos sólidos e trabalha com o financeiro para tornar o hospital mais eficiente em termos de custos. E a especialização é fundamental para exercer a função. “É preciso saber sobre anatomia, fisiologia, equipamentos médicos, ferramentas de gestão e estar por dentro dos jargões”, diz Antonio Gilbertoni Junior, coordenador da pós-graduação em engenharia clínica do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein. Segundo ele, um hospital que tenha entre 100 e 200 leitos e seja de média complexidade exige uma equipe de engenharia de dez pessoas para trabalhar 24 horas.
Engenheiro eletrônico de formação, Marcelo Bonfim, de 53 anos, se especializou para trabalhar na saúde. Hoje, é gerente de engenharia clínica do Hospital Sírio-Libanês. “Resolvi apostar e já são 25 anos de profissão. O hospital parece uma minicidade e a estrutura é complexa”, diz. Atualmente, sua rotina é voltada para a gestão, mas, quando começou a carreira, seu foco era a operação. “É necessário falar com os enfermeiros, assessorar as equipes médicas, vistoriar o centro cirúrgico, conhecer os aparelhos.” Para dar conta, a dica é estar sempre atualizado, estudando e participando dos congressos de medicina.
ROTINA DE TRABALHO
Horas trabalhadas: de 8 a 10 horas diárias
ATIVIDADES-CHAVE
Avaliar a vida útil e realizar a manutenção dos equipamentos do hospital; treinar a equipe que vai utilizar os equipamentos; acompanhar obras de reforma e ampliação; auxiliar na redução de despesas; gerir os resíduos sólidos.
PONTOS POSITIVOS
Influenciar as estratégias do hospital, conviver com todas as áreas (desde as equipes de saúde até as administrativas) e unir os conhecimentos de engenharia com os de saúde.
PONTOS NEGATIVOS
Ainda não há uma regulamentação da profissão. O que existe é uma resolução da ANVISA, feita em 2010, que exige a presença de um engenheiro clínico nos hospitais.
O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA
Graduações como Engenharia Biomédica, Elétrica, Mecatrônica, Mecânica e de Produção oferecem base de conhecimento, mas a especialização (como uma pós-graduação em Engenharia Clínica) é essencial para exercer a função.
PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS
Capacidade de agir sob pressão e de manter-se atualizado sobre novas soluções e tecnologias; atenção às mudanças que ocorrem no cenário da saúde.
DIVISÃO DO TEMPO
50% – GESTÃO ADMINISTRATIVA (acompanhamento de questões financeiras, aprovações e reuniões)
30% – GERENCIAMENTO DA EQUIPE (apoio para o time e orientações técnicas)
20% – INTERFACE COM OUTRAS ÁREAS (contato com médicos e enfermeiros para identificar as demandas)
VAGAS: 54
SALÁRIO: DE 5.618 A 8.533 REAIS
QUEM CONTRATA
Hospitais públicos e particulares, além de fabricantes de equipamentos de saúde e consultorias de engenharia clínica.
Pesquisas mostram que, convivendo emtempo integral sob o mesmo teto, os casais têm feito menos sexo – situação que exige empenho para ser revertida
A pandemia mexeu no modo como as pessoas trabalham, estudam, se divertem e intensificou a convivência entre aquelas que vivem na mesma casa. Com tantas e profundas mudanças, é natural que as relações humanas também tenham sido afetadas. Uma pesquisa intitulada Emoções em Quarentena, conduzida pela consultoria Wonderboom, debruçou-se com lupa científica sobre o tema. Durante treze semanas, estudou, a partir de depoimentos, os sentimentos dos brasileiros no período de isolamento. Ao responder ao questionário, 70% dos entrevistados cariocas declararam ter diminuído o ritmo das relações sexuais ou mesmo estar em abstinência (a média nacional foi de 72%). “No momento atual, a ansiedade está muito presente. Ela, por sua vez, pode provocar insônia, que gera cansaço e stress. Esse somatório de fatores resulta na queda da libido e na consequente diminuição das atividades sexuais”, analisa o médico Fabiano Serfaty, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Apenas 11% afirmaram que a assiduidade na cama aumentou. Não foi o caso do radialista L.M., 37 anos. Em nome da privacidade, ele prefere manter o anonimato, mas trata do assunto com rara franqueza. Casado há onze anos e com um filho adolescente de uma relação anterior, teve um momento de animação quando a quarentena foi decretada. Acreditava que viveria uma segunda lua de mel. Conta que acabou diante da pia de louça suja na cozinha e ainda cheia de compras do mercado para desinfetar. Lado a lado com a mulher 24 horas por dia, os conflitos foram se tornando cada vez mais recorrentes. “Convivendo mais, acabamos brigando mais. Conto nos dedos de uma mão quantas vezes fizemos sexo desde que o isolamento começou. O jeito é abrir uma cerveja, jogar videogame e espantar os pensamentos carnais da minha cabeça”, desabafa.
Apesar de não ser o foco central da pesquisa, as questões relacionadas a sexo (e à falta dele) acabaram despertando grande interesse por parte dos entrevistados, que foram instados a sugerir perguntas para as próximas sondagens. “Muitos querem saber mais sobre a rotina sexual das outras pessoas, um indicador de que estão refletindo sobre isso e têm suas aflições”, analisa a pesquisadora Camila Coelho, que comandou o estudo brasileiro. O trabalho vai mais adiante. Em relação à libido, aponta que quase metade dos confinados com parceiro e sem filhos percebeu uma diminuição do desejo sexual durante o confinamento imposto pela pandemia.
Esse não é nem de longe um fenômeno exclusivamente brasileiro. Um estudo feito na China e publicado no The Journal of Sexual Medicine concluiu que uma em cada quatro pessoas reduziu o desejo sexual desde que o novo coronavírus apareceu no planeta. Na Itália, uma pesquisa com mulheres casadas beirando os 40 anos mostrou que a pandemia e o consequente distanciamento social influenciaram negativamente a qualidade de sua vida sexual. “Isso é absolutamente normal, na medida em que o desejo é resultado de uma predisposição mental. Se manter o sexo vivendo sob o mesmo teto já exige normalmente criatividade, isso se torna ainda mais desafiante quando o medo da morte, o luto, as contas, entre tantas preocupações simultâneas, tomam o nosso pensamento”, observa a psiquiatra Analice Gigliotti.
Outro desdobramento da convivência em tempo integral é que a individualidade sai prejudicada, assim como o senso de liberdade. “Tenho recebido muitos relatos de pacientes que se sentem sufocados, principalmente as mulheres, em geral as mais dedicadas aos cuidados com a casa e os filhos. É difícil mesmo ressuscitar o desejo nesta confusão”, diz a psicanalista Regina Navarro Lins. Casada há um ano e meio e sem filhos, M.H., 30 anos, viu “uma luz de alerta piscar” quando se deu conta de que estava há mais de quinze dias sem sexo no isolamento. Chamou o marido para conversar. Ele foi direto: disse que vinha se sentindo “jogado para escanteio”. “No isolamento, os dias são muito iguais, apesar de as nossas emoções oscilarem o tempo todo. É diferente de quando a gente tinha uma rotina de sair, encontrar nossos amigos, beber e voltar para casa mais animadinhos e inspirados para uma noite a dois”, compara a jovem recém-casada.
Um desafio para casais que encaram a quarentena juntos é fazer do tempo que passam a sós um momento verdadeiramente íntimo, sem distrações tão comuns, como celular e televisão. O fotógrafo carioca Pedro Garcia, que comanda o perfil Cartiê Bressão no Instagram, sentiu o baque. Longe da rua, seu espaço de criação, e com um bebê de menos de 2 anos, ele e a esposa, a cantora Lila, buscaram na música uma forma de aproveitar o pouco tempo que sobrava para os dois. Nasceu assim o projeto Noite Transante, com playlists criadas pelos próprios artistas, como Alcione, Letrux e Duda Beat, para ajudar os casais a aquecerem o clima em casa.
“É praticamente um serviço de utilidade pública nos dias de hoje”, brinca o fotógrafo. A lista de Mart’nália, por exemplo, pulsa desde o som da cantora nigeriana Sade ao suingue do fenômeno baiano Baco Exu do Blues, percorrendo gigantes da MPB como Caetano Veloso e Djavan.
Um interessante efeito colateral da baixa nas relações sexuais dentro de casa é a efervescência no mercado brasileiro de sex shops: entre março e maio, enquanto muitos setores apanhavam com a crise, esse crescia 4% em relação a 2019. Um marco foi a venda de 1 milhão de vibradores, item que pela primeira vez figura no topo do ranking dos produtos mais buscados neste segmento. Segundo a pesquisa Mercado Erótico na Pandemia, que ouviu empresários do ramo no Brasil, os principais compradores do apetrecho são homens e mulheres casados, de 18 a 35 anos, buscando novas formas de encontrar o prazer. “Neste momento, qualquer esforço para reacender a chama é válido. E numa relação longa, como se sabe, ela vai e vem”, lembra a psiquiatra Analice Gigliotti.
REFLEXOS DA PANDEMIA
Como está a frequência das relações sexuais dos entrevistados
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
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