EU ACHO …

A NOVA ERA DO MARKETING

A pandemia acelerou um processo que já vinha acontecendo desde a chegada dos smartphones

Vivemos em um mundo onde tiktoks de 11 segundos são mais poderosos do que comerciais na Globo, vídeos de unboxing no YouTube são mais eficazes do que campanhas maciças de trade marketing e comunidades no Facebook são tão poderosas quanto corporações globais. Assustado? Não julgue, entenda.

Nunca passamos tanto tempo diante de telas. Se essa frase já definia nossa vida nos últimos anos, ela se tornou ainda mais verdadeira com o isolamento social imposto pela pandemia causada pelo novo coronavírus. A comida vem pelo aplicativo; o entretenimento, pelas lives do Instagram; a aula de ginástica é no YouTube; o encontro social, o ensino e a reunião de família, no Zoom. Nossa vida online ficou mais intensa. Se nada mais será como antes, por que ainda fazemos propaganda à moda antiga?

Não sei se você percebeu, mas nos primeiros meses de quarentena as propagandas praticamente se resumiram a comunicados ligados à pandemia: de avisos sobre a produção de álcool em gel em larga escala a mensagens de otimismo e esperança. Essas propagandas foram feitas no calor do momento, como são produzidas as reportagens sobre grandes acontecimentos. Isso significa que as campanhas que estavam prontas foram adiadas ou, pior, canceladas. Dinheiro jogado no lixo.

Sabe o que mais me chamou a atenção? Tudo o que era fundamental, de repente, não era mais. As marcas foram rápidas, muito mais do que o normal. Sem o luxo dos longos prazos, grupos de foco, caríssimas produções externas, o mundo do marketing continua seguindo adiante e produzindo intensamente. Novas ativações, leves e ágeis, ganham vida em dias –   e não mais em meses, como era até então.

O orçamento para a publicidade, mais do que nunca, tem de estar alinhado à atenção das pessoas. E onde ela está? No celular. Mesmo quando estamos assistindo à televisão, nossos olhos a toda hora correm para a tela do smartphone, principalmente no intervalo comercial. Ainda faz sentido o anúncio na televisão custar tão caro? E o celular o ponto de convergência de todos os olhares ao longo do dia. E aqui falo especialmente das redes sociais.

O que esta crise está mostrando é que, com a urgência dos acontecimentos e com a celeridade das redes sociais, não dá mais para pensar em orçamento anual, campanhas que levam meses para ser produzidas, modelos de produção e relacionamento com o cliente totalmente engessados. Velocidade é a palavra. Quem previa a pandemia quando estava fazendo o orçamento de 2020 lá no meio de 2019? Não sabemos nem como vai ser o mundo daqui a seis meses.

A propaganda deveria seguir o modelo do mercado de ações: o que vale mais hoje? Como eu entendo onde está a arbitragem? Se é fazer stories no Instagram, então corra, porque amanhã talvez já não seja mais isso. É preciso apostar em produções ágeis, testes em microescala e diários. Se algo deu certo, investe-se mais dinheiro. Se não deu, descarta-se imediatamente. Muito menos pirotecnia e mais pragmatismo criativo. Num momento em que tecnologia é commodity (afinal, todos têm acesso a ela), o criativo está valendo mais. Apesar de todos os holofotes estarem voltados para inteligência artificial, big data, machine learning, realidade virtual e realidade aumentada, acredito que a criatividade será o verdadeiro diferencial competitivo.

Espero que a disrupção aconteça também na forma como as propagandas são apresentadas. Mesmo quando exibida na tela do celular, a comunicação que interrompe a experiência do usuário ainda é o padrão vigente: você está no sofá assistindo a um vídeo interessante e, do nada, pula um anúncio inconveniente à sua frente. Construir uma marca insistindo nessa forma irritante de exibir um produto, em pleno 2020, me parece um grande erro. Se quem tem mais de 30 anos e cresceu com esse modelo de comercial já não o engole mais, imagine a geração TikTok? Essa turma vai simplesmente deixar o anúncio falando sozinho.

Pensando nesse público mais jovem, que é quem dita as tendências, as marcas precisam começar a produzir entretenimento urgentemente. O modelo de mídia paga da forma como o conhecemos, de mera inserção de anúncios em múltiplos canais, está com os dias contados. Isso não é futurologia. Não faço ideia do que vai acontecer nos próximos dez anos, mas posso garantir que o que vai arrebentar daqui a cinco anos já existe hoje. Não é adivinhação, é observação. Olhar para o comportamento humano e reconhecer padrões é a fórmula que sigo para criar e fazer crescer minhas empresas.

Aos 29 anos e quatro empresas depois, tenho certeza de que absolutamente tudo de significativo que obtive na minha carreira veio da capacidade de prestar atenção no consumidor e executar rapidamente as ideias. A diferença é que, antes, isso era opcional, um diferencial. E agora é obrigatório, questão de sobrevivência. Em tempos de pandemia, é preciso ter coragem de romper com o que não nos serve mais. Quando tudo isso passar, o que você terá mudado, de fato, na forma como faz as coisas? Chega de entender os conceitos apenas intelectualmente, mas sem mudar nada de fato. É hora de mapear para onde o mundo está indo e seguir esses caminhos. A oportunidade é agora.

RAPHA AVELLAR – é empreendedor serial, CEO da agência Avellar e fundador da Cria, escola de marketing e publicidade

OUTROS OLHARES

A PEDRA DA BELEZA

O gua sha, tradicional técnica milenar chinesa que usa minerais para massagear o rosto, ganhou espaço entre as mulheres durante os meses de quarentena. Funciona? Sim

Em meio à profusão de sofisticados produtos antienvelhecimento, desenvolvidos com alta tecnologia, uma técnica milenar chinesa extremamente simples ressurgiu no mercado de beleza durante a quarentena e explodiu nas redes sociais: massagear a pele do rosto e do pescoço com pedras, especialmente o quartzo e a jade. O método é o gua sha (pronuncia-se guá xuá), algo como “raspar a dor” ou “eliminar a energia ruim”. Para os chineses, esses dois minerais são associados ao bem-estar, pureza e saúde há mais de 5.000 anos. O procedimento, ainda que soe um tanto exotérico e autorize alguma indagação, está ancorado em princípios lógicos e aprovados por médicos. A pressão das pedras sobre a pele estimula a micro­circulação, aquela que constitui a camada mais superficial da tez, onde se formam a coloração e as rugas finas. O fundamental é trabalhar com um trio de seixos: de borda reta, outro com curvas que se encaixem ao redor da área dos olhos e um em formato de “V”, que se ajuste ao ângulo da mandíbula. O preço varia de 40 reais a 200 reais a unidade, a depender do material e tamanho.

O ritual é simples. Os movimentos são ascendentes e circulares. Devem ser repetidos cerca de cinco vezes, resultando em sessões de vinte minutos de massagem. A frequência varia de duas a cinco vezes por semana. “O efeito tonificante pode ser estimulado em conjunto com cremes, óleos e vitaminas, já que as pedras aumentam a absorção dos produtos”, diz a dermatologista Adriana Vilarinho, dona de uma das clínicas mais tradicionais em São Paulo. “E, a depender da pressão, ele é capaz até de ativar a musculatura do rosto.” O sistema oriental não substitui, evidentemente, métodos eficientes e muito mais modernos, como laser e Botox e os cuidados com o sol. Os resultados com a experiência chinesa são menos duradouros. Mas carregam, entre os dedos, uma ideia afeita a tempos de isolamento social: a sensação prazerosa de cuidar do próprio corpo.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 13 DE AGOSTO

TREVAS AO MEIO-DIA

Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona (Lucas 23.44).

Quando Jesus, o Sol da Justiça nasceu, houve luz à meia-noite; quando Jesus morreu, houve trevas ao meio-dia. Até mesmo o sol escondeu o rosto diante das agruras do Calvário. O sofrimento do Filho de Deus não foi apenas físico, mas sobretudo espiritual. O inferno com toda a sua fúria vociferava contra Jesus. Mesmo com dor indescritível decorrente de açoites e torturas que precederam a fatídica jornada ao Gólgota, bem como da crucificação e das longas horas exposto a câimbras excruciantes, o maior sofrimento de Jesus foi ser abandonado pelo Pai. Do topo daquele leito vertical de morte, Jesus gritou: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27.46). Naquele momento, não havia beleza em Jesus. Ele foi feito maldição por nós.  Nossas transgressões estavam sobre ele. A feiura do nosso pecado o cobriu de vergonha e dor. A hediondez das nossas iniquidades foram lançadas sobre ele. Porque foi feito pecado por nós, a lei exigiu sua morte sumária, pois o salário do pecado é a morte. Foi na negridão daquele dia que o véu do templo se rasgou de alto a baixo e Jesus abriu para nós um novo e vivo caminho para Deus. Por meio de sua morte, fomos reconciliados com Deus. Na cruz, ele abriu-nos a porta do céu!

GESTÃO E CARREIRA

CRISE É CRESCIMENTO

Maior rede supermercadista do Brasil contrata 5 mil funcionários na pandemia, cresce 12,2% em vendas no primeiro trimestre, dispara no e-commerce e planeja abrir 30 lojas compradas do Makro.

O ritmo frenético dos carrinhos cheios nos corredores nos dias que antecederam o início da quarentena, por causa da pandemia da Covid-19, resultou em crescimento nas vendas de 12,2% nos primeiros três meses do ano do grupo francês Carrefour, maior rede supermercadista do Brasil. O faturamento da companhia no primeiro trimestre alcançou R$ 15,9 bilhões, ante R$ 14,1 bilhões registrados entre janeiro e março de 2019.

Os resultados do trimestre mostram que o apetite não foi afetado pelo isolamento social. Um dos reflexos diretos foi a decisão de contratar 5 mil funcionários para incorporar aos 87 mil colaboradores da rede. Um aumento substancial de 6% no quadro. Para a alta direção da companhia, não há exagero ou precipitação. “Buscamos crescer de maneira orgânica”, diz o CEO do grupo no País, Noël Prioux.

Os novos contratados – por meio de processo seletivo on-line – passam a ocupar espaços deixados por funcionários afastados e que se enquadram no grupo de risco do novo coronavírus, além de atuar nas plataformas digitais de entrega, cujas operações dispararam desde o início do isolamento social. Quando parte do time afastado estiver de volta, os contratados serão realocados nas 30 novas lojas do grupo, compradas do Makro em fevereiro por R$ 1,95 bilhão. Essas unidades serão incorporadas à bandeira Atacadão, que integra o grupo francês. Ao todo são 698 lojas (entre hipermercados, drogarias, postos, conveniência), das quais 190 da marca de atacado e varejo do grupo. A perspectiva é de que as novas unidades possam ser abertas ao público entre o fim do ano e início de 2021, caso o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprove a aquisição até setembro.

DISPUTA ACIRRADA

A compra das lojas vai ser decisiva para aumentar a distância entre a rede e seu principal concorrente em solo brasileiro, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlada pelo maior rival do Carrefour, o também francês Casino. Enquanto o Carrefour fechou 2019 com faturamento de R$ 62,2 bilhões, o GPA vem na cola, com R$ 61,5 bilhões. Uma diferença de 1%. A estratégia de aquisição envolve a expansão não apenas numérica, mas também geográfica. “A localização foi um fator importante”, diz Prioux. “E agregando à bandeira Atacadão, vamos conseguir ampliar as vendas e atingir algumas cidades onde não tínhamos presença.” Do total das novas lojas, oito estão no Nordeste, sete no Rio de Janeiro e três no Rio Grande do Sul. Nenhuma delas em São Paulo. “Essa aquisição vai representar um crescimento equivalente a um ano e meio”, afirma o CEO.

A aposta também faz sentido quando olhada no detalhe. A rede Atacadão, que faturou R$ 10,8 bilhões no primeiro trimestre, alta de 13,6% em relação aos três primeiros meses de 2019, registrou grande procura por itens de cesta básica, com preços mais baixos quando comprados em quantidades maiores. Colaborou para a performance o fato de que boa parte das redes do varejo, com exceção no segmento de alimentação, estava fechada, a aí os hipermercados viraram também espaços de compras para itens eletrônicos, eletrodomésticos e até roupas.

E-COMMERCE

Como aconteceu com todo tido de varejo no País durante a pandemia, no e-commerce houve um salto brutal no período. Em comparação ao primeiro trimestre de 2019, a disparada do GMV (volume bruto de mercadorias) alimentar avançou 235%. E para se ter uma ideia serviços de entrega em domicílio representaram 85% do comércio eletrônico do segmento alimentar, ante 61% do registrado no quarto trimestre do ano passado.

O presidente da companhia diz que, para garantir o abastecimento das prateleiras durante a quarentena, o Carrefour ampliou o volume de compras com fornecedores, para aumentar em 22 dias o estoque, acrescentando à média de 35 dias à frente. “Com as informações que tínhamos de nossas operações na Europa, conseguimos preparar nossas ações”, diz Prioux. “Em fevereiro, criamos um comitê e fizemos as compras necessárias para garantir o aumento no estoque e garantir os produtos para a enorme demanda”, afirma. E mesmo com a estratégia ela quase não foi o bastante. O estoque de 22 dias deixou as gôndolas em apenas dez. “Os primeiros dias após a quarentena foram de loucura total nas vendas.”

O movimento de alta vem sendo percebido por todo o segmento. O primeiro vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi, diz que o Brasil tem uma cadeia de abastecimento forte e estruturada. “O que nos garantiu a reposição dos produtos nas prateleiras para atender os 25 milhões de consumidores por semana”, afirma. “Também garantimos rapidamente os protocolos de segurança tanto para funcionários quanto clientes.” No ano passado, segundo a Abras, as 89,8 mil lojas do setor supermercadista faturaram R$ 378,3 bilhões, correspondente a 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB), com 1,9 milhão de empregos diretos.

FREIO EM ABRIL

Ainda que com a expressiva alta nas primeiras semanas após o início da quarentena, o segmento sentiu o efeito da desaceleração em abril, o primeiro mês cheio do isolamento social, conforme dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada na terça-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O varejo todo recuou 16,8% em abril deste ano em relação a abril de 2019. Em contrapartida, o setor supermercadista registrou alta de 4,7%. Foi o único dos oitos segmentos dentro da pesquisa que teve aumento. Mas quando a comparação é sobre março deste ano, nota-se o freio. As vendas no setor caíram 11,8%, o que se explica pela corrida por suprimentos logo no início da pandemia no Brasil.
Mas a performance do grupo Carrefour segue de olho na expansão. Cenário oposto ao vivido há pouco mais de uma década, quando rumores davam conta da saída da marca do País, justamente no momento em que seu principal concorrente na França começava a buscar espaço no Brasil, assumindo o controle do GPA, então nas mãos de Abílio Diniz. Hoje, por meio da Península Participações, Diniz é um dos maiores acionistas globais do Carrefour. “Foi um momento difícil, mas conseguimos uma grande retomada”, diz Prioux.

Para ele, o Brasil é muito importante para o Carrefour. “Temos crescimento, resultado e confiança para passar muito bem pela crise econômica.” As ações da companhia na B3 seguiram a gangorra da economia. No dia 1º de junho, estava em R$ 18,40. Na terça-feira (16), fechou em R$ 19,00. Ainda assim, segue abaixo dos R$ 21,80 de 24 de março, logo após o início do isolamento social.

Para João Galassi, da Abras, a volta da crise dependerá de fatores que vão da curva da retomada ao volume de crédito do sistema bancário. Mas, além das questões monetárias, um fator será decisivo: a qualidade do serviço. “Enquanto não houver vacina, o consumidor vai continuar buscando segurança no atendimento.”

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

INTRIGAS E AGRESSÕES

Reações impulsivas podem variar de um gênero para outro. Mulheres em geral, são mais dissimuladas. Homens, mais descontrolados

Os homens são mais violentos que as mulheres? A raiz da violência está nos genes ou nos fatores socioculturais? No intuito de responder a essas e outras questões, nos últimos anos pesquisadores realizaram vários estudos longitudinais – nos quais psicólogos, psiquiatras e neurologistas acompanharam voluntários durante um longo período, desde a infância ou início da adolescência até a idade adulta. Como comprovam estatísticas criminais no mundo inteiro, adolescentes e adultos jovens do sexo masculino são responsáveis pela maioria dos assassinatos, lesões corporais graves ou casos de violência sexual.

Esse dado, entretanto, não significa que mulheres sejam menos agressivas. Homens tendem à violência física direta, enquanto elas recorrem à agressão dissimulada, superando de longe os garotos ao engendrar intrigas e realizar pressões psicológicas. No caso das meninas, os distúrbios de comportamento social surgem principalmente na puberdade. Aos 17 ou 18 anos, em geral eles desaparecem, provavelmente em razão das alterações hormonais típicas dessa fase.

As causas das diferenças entre homens e mulheres são variadas. Papéis sociais aprendidos por cada sexo têm sua importância. Ainda é comum ouvir, por exemplo: “Meninas não batem!”, mas: “Meninos têm de saber se defender!”. Além disso, estratégias de agressão indireta exigem “inteligência social” relativamente alta, que se desenvolve antes e mais rapidamente nas meninas. Diferenças neuropsicológicas também exercem influência nas manifestações de agressividade de ambos os sexos.

Em um trabalho publicado por nosso grupo em 2005, apresentamos mais detalhadamente as raízes psicobiológicas da violência física e avaliamos resultados colhidos em vários países. Foram analisados desde brigas com socos ou pontapés, mas sem maiores consequências, até embates que provocaram lesões corporais graves e homicídios.

Um dos maiores estudos longitudinais teve início em 1972, na Nova Zelândia. Uma equipe de psicólogos de vários países acompanha há 34 anos o destino de aproximadamente mil pessoas nascidas naquele ano na cidade de Dunedin. Os pesquisadores Terrie Moffitt e Avshalom Caspi, do King’s College de Londres, concentraram seus estudos principalmente em formas de comportamento anti social acompanhadas de violência física.

O pequeno grupo de violentos crônicos do sexo masculino que se revelam logo cedo apresenta características como baixa tolerância à frustração, dificuldade em aprender regras sociais, problemas de concentração, capacidade reduzida de compreensão dos sentimentos das outras pessoas e inteligência defasada.

Entretanto, o que mais se destaca é a falta de contenção psíquica, que os faz passar do sentimento ao ato quase imediatamente. Os impulsos agressivos são deflagrados pelas emoções; ao menor sinal de provocação ficam furiosos e não conseguem medir as consequências de seus atos. Alguns relatam, por exemplo, que se sentiram ameaçados ao ser encarados por alguém – e por isso tiveram de se defender. Posteriormente, muitas vezes se arrependem. Esses delinquentes crônicos costumam assumir posição de liderança em seu grupo – e sentem-se valorizados com isso, o que alimenta um círculo vicioso.

Segundo as observações, dois grupos podem ser diferenciados: no maior deles, a incidência de atitudes agressivas aumenta em ritmo acelerado quando os jovens têm entre 13 e 15 anos. Nos adolescentes em geral essas tendências regridem. Uma pequena parte dos voluntários, porém, logo na infância – às vezes já por volta dos 5 anos – apresenta comportamento anti social que permanece até a idade adulta. Esse grupo é formado quase exclusivamente por meninos. De fato, as pesquisas revelam que o sexo masculino é o mais importante “fator de risco” para a violência.

Criminosos com diversas passagens pela polícia em geral são pessoas com dificuldades para controlar impulsos agressivos. A análise de questionários preparados por uma equipe coordenada pelo psicólogo e neurologista Ernest S. Barrat respondidos em 1999 por presidiários no estado americano do Texas, mostrou que os detentos frequentemente provocavam briga com outros presos – apesar de terem de pagar por isso com condições de prisão muito mais severas. Quando os pesquisadores lhes perguntavam porque mantinham comportamentos que os prejudicavam, eles não encontravam explicação. Muitos reconheciam as desvantagens e já tinham tomado a decisão de agir com maior controle em situações semelhantes, mas nem eles mesmos acreditavam que conseguiriam se controlar.

TRAUMA E CONFLITO

A impulsividade de criminosos violentos crônicos parece ter como base uma predisposição cerebral. Neurologistas compararam a anatomia do cérebro desses homens à de cidadãos comuns e descobriram nos primeiros alterações fisiológicas na região frontal, mais exatamente no córtex pré-frontal e no sistema límbico.

Essas áreas estão ligadas ao surgimento, decodificação e controle das emoções. Efeitos inibidores sobre partes do sistema límbico, principalmente o hipotálamo e a amígdala, de onde vêm os impulsos agressivos, são atribuídos a áreas do córtex pré-frontal. Esse pressuposto é base da “hipótese do cérebro frontal”, segundo a qual as raízes psicobiológicas do comportamento anti social podem ser compreendidas como um “defeito” na regulação do córtex e do sistema límbico.

Vários estudos apoiam essa interpretação. O pesquisador Jordan Grafman e seus colegas do Instituto Nacional de Saúde em Bethesda, Estados Unidos, examinaram veteranos da guerra do Vietnã que sofreram ferimentos na região do córtex pré-frontal: os ex-soldados tinham clara tendência à agressividade. É preciso considerar, porém, que esses ex-combatentes viveram situações traumáticas durante o conflito, o que provavelmente também influi no funcionamento psíquico. No entanto, pacientes adultos com lesões frontais que não viveram experiências especialmente perturbadoras também costumam se comportar de forma inadequada e impulsiva, apresentando sintomas de distúrbio de personalidade anti social. Em ambos os casos, porém, não houve nenhum indício direto de violência física fora do comum.

FUNCÃO CORTICAL

A situação é diferente quando o cérebro frontal já é afetado na infância. Pesquisadores coordenados pelo neurologista Antônio Damásio, do Centro Médico da Universidade de Iowa, observaram consequências dramáticas nesse tipo de caso. Num deles, cirurgiões retiraram um tumor do cérebro frontal direito de um bebê de aproximadamente 3 meses. Quando o menino tinha 9 anos começaram a surgir problemas: era muito difícil motivá-lo na escola; ele permanecia isolado e passava o seu tempo livre exclusivamente diante da televisão ou ouvindo música. Em algumas ocasiões, ficava inexplicavelmente furioso, ameaçava e chegava a agredir fisicamente as pessoas. Interessante notar que ele cresceu em ambiente acolhedor, com pais amorosos e irmãos cujo desenvolvimento foi considerado normal.

Não se sabe se a hipótese sobre a anatomia cerebral também vale para o sexo feminino. Mulheres violentas são mais raras e, portanto, menos estudadas. De maneira geral, entre elas parece não haver conexão entre um volume reduzido da área pré-frontal e tendências patológicas, como comprovadamente existe na população masculina.

Ao que tudo indica, as mulheres possuem, por natureza, controle mais efetivo dos impulsos, que falha apenas quando a função cortical é lesionada de forma prematura e maciça. Damásio descreve o caso de uma menina atropelada aos 15 meses que sofreu grave traumatismo neurológico. Até os 3 anos ela se desenvolveu normalmente. Nessa fase surgiram as primeiras demonstrações de comportamento anômalo.

A SANGUE FRIO

Os pais perceberam que a filha não tinha reação alguma a eventuais repreensões e até a punições. Mais tarde, ela passou a não respeitar nenhuma regra, na escola brigava frequentemente com professores e colegas, mentia e cometia delitos como roubo. A jovem chamava a atenção principalmente por atacar os outros. Nenhum de seus irmãos apresentava diagnóstico de problemas de comportamento.

Outras observações que corroboram a hipótese do cérebro frontal foram feitas pelo neurologista Adrian Rainer, da Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles. Ele coordenou um estudo com assassinos condenados. Recorrendo a procedimentos de imageamento como a tomografia por emissão de pósitrons (PET), os pesquisadores constataram em muitos voluntários uma atividade metabólica nas regiões frontais do cérebro mais baixa do que a encontrada na população em geral. A segunda etapa da análise, porém, demonstrou que isso só era válido para criminosos que haviam matado por afeto, ou seja, por impulso e com forte motivação emocional. Em de tentos que haviam planejado o assassinato longamente, a sangue frio, o cérebro frontal parecia funcionar normalmente.

Esse resultado é plausível: por consequência de déficits no controle das emoções, criminosos impulsivos agem sem premeditação, ignorando até mesmo o risco de serem descobertos. Já o homicida detalhista e frio precisa de um cérebro frontal intacto, pois arquitetar o crime a longo prazo demanda complexos processos de decisão. Criminosos que agem sem piedade raramente demonstram arrependimento. Para o criminoso que planeja o ato, a prioridade é não ser apanhado – o sujeito impulsivo nem pensa nisso.

O estudo neurológico de criminosos violentos não descobertos é uma nova e polêmica área de pesquisa – e não apenas pela dificuldade metodológica de encontrar psicopatas em liberdade. Para obter informações confiáveis sobre seus delitos, os pesquisadores tiveram de lhes assegurar sigilo absoluto. Sendo assim, depois de passarem pelos exames tomográficos, os homicidas voltaram para casa, em liberdade.

Há pouco tempo, Adrian Rainer comparou dois grupos de pessoas com distúrbio de personalidade anti social que haviam cometido crimes graves. Integrantes de apenas um dos grupos tinham sido condenados. O pesquisador denominou os que não haviam sido descobertos como “psicopatas bem-sucedidos”, os condenados, “psicopatas malsucedidos”.

Os estudos de Rainer levaram a resultados interessantes: ao comparar a anatomia cerebral de ambos os grupos, apenas nos “mal­sucedidos” foi encontrada, de fato, redução significativa do volume da substância cinzenta no córtex pré-frontal. Entre os criminosos em liberdade, ela estava dentro dos padrões de normalidade.

A agressividade crônica grave, portanto, não está automaticamente relacionada a defeito no córtex pré ­frontal. Parece haver pessoas que cometem atos de grande violência regularmente, apesar de seu cérebro frontal estar completamente intacto. Sendo assim, distúrbios no córtex pré-frontal estão mais relacionados ao risco de o indivíduo ser preso do que propriamente à violência potencial.

EQUILÍBRIO DAS EMOÇÕES

O córtex pré-frontal é apenas um dos vários centros neurológicos que compõem uma complexa rede de regulação do equilíbrio das emoções, inclusive os impulsos agressivos. Outros estudos feitos por Rainer com o mesmo grupo de criminosos indicam a participação de estruturas límbicas, como o hipocampo, na conduta psicótica: nos “criminosos mal -sucedidos”, o hipocampo de ambos os hemisférios cerebrais tinha tamanho diferente – assimetria que os pesquisadores associam a distúrbios surgidos no estágio inicial do desenvolvimento.

Possivelmente, essas alterações enfraqueceram a interação entre o hipocampo e a amígdala, de forma que informações relativas à emoção são processadas de maneira irregular. Se o córtex pré-frontal também falha como instância controladora, parece compreensível que surjam comportamentos verbais e físicos inadequados.

No caso dos “psicopatas bem ­ sucedidos ” há fundamentos completamente diferentes envolvidos nas ações violentas, pois as pessoas que têm o controle de impulsos intacto cometem delitos conscientemente, de maneira calculada. Isso não comprova que esses criminosos não sofram de outras alterações cerebrais. Para tanto seria necessário examinar, por exemplo, o papel da amígdala, assim como da parte do sistema límbico que funciona como “sistema de recompensa”. As falhas no funcionamento dessas estruturas podem ser responsáveis pelo comportamento psicopata (isento de culpa e compaixão pelo sofrimento alheio), segundo outros pesquisadores, como Richard Blair, do Instituto Nacional de Saúde Mental em Bethesda.

As alterações no cérebro de criminosos podem ocorrer no nível neuroquímico. Atualmente, diversos estudos comprovam que um baixo nível de serotonina, que funciona como calmante e redutor do medo, está vinculado a comportamentos anti sociais e impulsivos. Tal associação não ocorre apenas em criminosos, mas na população de maneira geral. Porém, mais uma vez, apenas nos homens.

O hormônio sexual masculino também tem sua importância: diversos estudos do psicólogo James Dabbs, da Universidade do Estado da Geórgia, indicam a presença de níveis bastante altos de testosterona em criminosos impulsivos. Tais desvios do nível de hormônios ou das substâncias transmissoras podem ser hereditários ou surgir por influência do ambiente. Há, por exemplo, indícios de que experiências de negligência e maus-tratos na infância reduzem permanentemente os níveis de serotonina. Pesquisadores que estudam a plasticidade do cérebro, entretanto, cogitam a possibilidade de reparações, ainda que parciais, desse comprometimento.

Pelo menos entre os homens, fatores biológicos, como disposição genética e déficits orgânicos e neuroquímicos, aumentam comprovadamente o risco de comportamento violento. No entanto – com exceção de lesões graves ocorridas na infância -, eles não levam obrigatoriamente a tal atitude. A combinação entre fatores de risco psicossociais de gravidade semelhante é que costuma ser perigosa. Isso pôde ser percebido por pesquisadores em diversos estudos. Entre esses fatores incluem-se a qualidade do relacionamento inicial entre mãe e bebê, eventuais maus ­ tratos e abusos sofridos na infância, negligência dos pais, rupturas e conflitos constantes na família, criminalidade de adultos próximos e pobreza extrema. O estudo de todos esses fatores é complexo, pois a maioria deles não pode ser considerada independentemente das alterações anátomo-fisiológicas.

Logo após o nascimento, já ocorre comunicação emocional íntima entre o bebê e a pessoa que desempenha a função materna (não necessariamente a mãe), conforme demonstraram vários especialistas, como o psicanalista inglês Donald Winnicott. Dificuldades no processo de interação, principalmente nos dois primeiros anos de vida, podem contribuir para a configuração de distúrbios de desenvolvimento – inclusive dificuldade de controlar os próprios impulsos, falta de empatia e capacidade reduzida de solução de conflitos.

Além disso, experiências vividas pelos pais em sua infância exercem influência sobre sua competência educativa. Enquanto alguns se apegam às próprias dores e reproduzem modelos de abandono e agressividade que viveram quando crianças, outros se permitem reelaborar as próprias carências com generosidade, oferecendo aos filhos acolhimento amoroso e continente – assim, interrompem o ciclo vicioso de violência física e psicológica. Por outro lado, parece que, se a criança tem uma constituição cognitiva e emocional sólida, as influências negativas do ambiente em que vive podem ser parcialmente compensadas.

Atualmente não se sabe por que muitos conseguem compensar até mesmo as piores experiências da infância ou lesões cerebrais, como se “consertassem” a si mesmos, enquanto tantos outros simplesmente não conseguem fazê-lo. Essa situação leva a reflexões, pois até que ponto se pode responsabilizar um ser humano por sua constituição genética, seu desenvolvimento cerebral, sua infância traumática ou seu ambiente social com poucas oportunidades? Não teríamos de pensar assim também em relação à tendência à violência resultante de tais fatores?

Com isso, surge a pergunta: a responsabilidade sobre os próprios atos pode ser totalmente imputada a uma pessoa? Faz sentido conjecturar que um criminoso poderia ter optado contra a violência se de fato quisesse ou se tivesse tido oportunidades diferentes? A suposição de que ele seria capaz de tal escolha, apesar de todos os condicionamentos psicobiológicos e sociais, causa grande polêmica entre psicanalistas, psicólogos, médicos, criminalistas e filósofos. Ao mesmo tempo, não é tolerável assistir a atos criminosos impassivelmente. Afinal, se tomarmos o homem como refém de sua própria história, de sua anatomia e de seu funcionamento cerebral, correremos o risco de adotar uma postura permissiva diante da violência. Talvez, para protegermos o coletivo seja necessário perseverarmos na prevenção – que consiste em dissuasão, acompanhamento psicoterapêutico e, em muitos casos, em reclusão.

Eticamente não se pode apoiar a ideia de simplesmente afastar do convívio social as pessoas com comportamento anormal – pois, estatisticamente, a maioria delas não se torna delinquente. Adotando essa postura, corre-se ainda o risco de disseminar a intolerância diante da diversidade.

Há, porém, a possibilidade de investigação precoce dos fatores de risco – psíquicos, físicos e sociais. Nesse terreno ainda há muito a fazer nos próximos anos, pois hoje, com todo o conhecimento e tecnologia disponíveis nem sempre é possível diferenciar com precisão as brigas comuns de crianças pequenas de comportamentos que prenunciam tendência à violência.

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