Nos Estados Unidos, estátuas de generais derrubadas e quadros de políticos depositados no lixo. Na Bélgica, monumentos ao Rei Leopoldo II desfigurados com golpes de martelo e tinta vermelha. Na Inglaterra, esculturas de homens de negócios do século XVIII desmanteladas e jogadas em rios. Em Praga, uma imagem gigante de Winston Churchill pichada com a frase “Era racista” e, em Paris, a estátua em frente ao Parlamento de Jean-Baptiste Colbert, autor do “Código Noir”, que governava a vida dos escravos nas colônias francesas, também danificada.
Em quase todo o ocidente, os protestos liderados pelo movimento Vidas Negras Importam têm fomentado toda uma campanha de acerto de contas com a história. As heranças de escravismo, colonialismo e racismo são todas alvos da reavaliação exigida pelos manifestantes, um processo abrangente que inclui não apenas a demolição de símbolos do passado mas principalmente uma nova visão do decorrido.
E no Brasil? Parece que os desdobramentos têm sido lentos e hesitantes. Não vejo ainda no país o mesmo fervor, apesar de uma população enorme de negros e pardos discriminados e a mais longa história de escravidão do ocidente. Por que essa relutância? Tem a ver com a extraordinária complexidade da história brasileira? Ou será que um autoexame seria tão dilacerante que o país não aguentaria? No exemplo americano, alguns casos são fáceis de resolver. Os generais sulistas secessionistas que lutaram para defender a escravidão na Guerra Civil, como Robert E. Lee e Stonewall Jackson? Traíram nosso país e não mereciam nenhum monumento. E os ideólogos da escravidão, como o senador John Calboun, e líderes do governo rebelde, como Jefferson Davis? Também não são dignos de homenagens. A Alemanha, por acaso, ainda tem estátuas enaltecendo Hitler? Mas também precisamos perguntar qual o objetivo desse movimento. Sua finalidade é uma reavaliação do passado fiel aos fatos, para que possamos entender melhor o que aconteceu e por quê? Ou ele prefere borrar da história personagens e incidentes considerados vergonhosos ou funestos, como Stálin fez com Trótski quando mandou apagar o rival de todas as fotos e pinturas da Revolução Bolchevique?
Tenho acompanhado o debate incipiente no Brasil sobre a estátua do bandeirante Borba Gato, e confesso que fico perplexo. Por que ele e só ele? Não foi o maior nem o pior dos bandeirantes que escravizaram indígenas e atacaram quilombos. Sim, a estátua é feia para caramba. Mas por que ninguém está reclamando o fim de homenagens a Raposo Tavares, por exemplo, ou Domingos Jorge Velho ou Miguel Sutil?
A esse respeito, li com grande interesse os comentários de Laurentino Gomes sobre a questão Borba Gato e concordo com ele – até certo ponto. Sim, “estátuas, prédios, palácios e outros monumentos são parte do patrimônio histórico” e “devem ser preservados como objetos de estudo e reflexão”. Mas como? Basta colocar uma breve placa explicativa? Ou as estátuas devem ser consignadas aos cantinhos empoeirados dos museus, com explicações mais detalhadas?
E como vai lidar o Brasil com os vários duques, marqueses, condes e barões que compraram, venderam ou herdaram escravos durante o Império?
E é mais complicado ainda o caso do Barão de Guaraciaba, rico fazendeiro negro, amigo da Princesa Isabel – e dono de mil escravos, também negros. É por essa mistura complicada de fatos que os positivistas, abolicionistas todos, criaram o culto a Tiradentes quando nasceu a República, numa tentativa de encontrar um herói não manchado pelo escravismo.
Nos Estados Unidos, já estamos presenciando alguns excessos de zelo. Monumentos enaltecendo o general Ulysses Grant, comandante das tropas que derrotaram os escravocratas, e líderes do movimento abolicionista foram derrubados na Califórnia e em Wisconsin. Tem até um jovem ativista negro que exige demolir todas as estátuas que retratam Jesus Cristo como “um branco europeu”. Claro que Donald Trump, grande defensor dos generais escravocratas, pegou a “ameaça” como bandeira de campanha.
Vejo que faço uma grande quantidade de perguntas e ofereço poucas respostas. Isso reflete minhas próprias dúvidas e incertezas. Como cidadão, quero fazer justiça a uma causa justa e, como jornalista e escritor, quero respeitar todos os fatos da história. Duas perguntas finais: os pecados de nossos próceres sempre pesam mais do que seus feitos? E quem tem o direito de decidir?
**LARRY ROHTER – é jornalista e escritor, ex- correspondente do New York Times no Brasil e autor de Rondon, uma biografia
Onipresente há mais de uma década, a tecnologia “touch” se tornou um risco a mais com a explosão do novo coronavírus. Num futuro não tão distante, ela também deverá virar parte do passado.
Há quase uma década, um vídeo em que um bebê brincava com uma revista – como essa que você tem agora em suas mãos como se fosse um tablet, “tocando” nas páginas à espera de uma resposta, serviu como a prova definitiva da revolução da tecnologia “touch”. Era algo tão natural que ficou difícil imaginar como era mesmo o mundo dos aparelhos eletrônicos antes disso. Parece história antiga, mas foi apenas em 2007 que a Apple lançou o primeiro iPhone, o qual se definiu naquele ano como “o ícone de um novo modo de interação entre humanos e máquinas”. Agora, uma nova revolução, a do novo coronavírus, acabou por transformar esse avanço em uma espécie de inimigo íntimo.
Um estudo feito pelo Google em 2015 mostrou que os usuários desbloqueavam seus celulares, em média, 100 vezes por dia e nada indica que esse número tenha diminuído de lá para cá. Some-se a isso o fato de que os celulares atuais possuem superfícies altamente favoráveis à permanência do vírus e tem-se uma máquina de contágio.
“As pessoas ficam o dia inteiro com o celular na mão. Por esse motivo, ele não deixa de ser um possível veículo de transmissão do vírus”, afirmou o infectologista Leonardo Weissmann. Segundo ele, estudos realizados com outros tipos de coronavírus apontam que eles sobrevivem por até quatro dias em uma superfície do mesmo material da tela do celular – ainda não se sabe como o Sars-CoV-2, causador da atual pandemia, se comporta. Por isso, o especialista recomenda a higienização do aparelho pelo menos duas vezes ao dia. O mais indicado, segundo os fabricantes, é usar álcool 70% ou lenços umedecidos com a substância.
A boa notícia é que, depois de mais de uma década de dominância, a tecnologia touch começa a virar passado. Ou, ao menos, a ser superada. “Essas tecnologias não morrem de uma vez. O touchscreen está muito maduro. Usa sensores em que a indústria de consumo investiu literalmente milhões de dólares para chegar a esse estágio”, avaliou Marcelo Knõrich Zuffo, engenheiro coordenador do Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas da Universidade de São Paulo (Citi-USP).
“Cada geração de celulares (2G, 3G e 4G) teve uma tecnologia dominante. No 2G era usado stylus pen. As pessoas podem lembrar do palmtop. Depois, na época do 3G, começou-se a usar o botão. E, no 4G, as telas supersofisticadas com os touchscreens”, explicou Zuffo, que também foi ouvido em 2007, naquela primeira revolução. “Para o 5G a gente acha que vai ser voz. A gente vai falar com os dispositivos. E isso inclui o ventilador, a lâmpada, a porta, a geladeira”, afirmou. “Mas isso pode mudar a qualquer momento.”
Essa tecnologia de comando de voz já aparece há algum tempo em certas funções. É possível enviar uma mensagem de texto de WhatsApp ou encontrar rotas pelo Waze, por exemplo. Mas a maioria dos aparelhos ainda pede o desbloqueio do telefone com a digital do dono.
Nos modelos mais modernos, o reconhecimento facial e interação com a voz já são mais sofisticados, mas ainda estão distantes de uma fluidez como a do touch. Os bebês daquele vídeo de 2011, ainda que já falassem, teriam alguma dificuldade em dar ordens à revista.
“Atualmente, o que temos de comando de voz ainda não está bem resolvido. Usuários têm dificuldade de fazer seus comandos serem compreendidos pela inteligência artificial”, avaliou Edilberto Strauss, coordenador do Laboratório de Tecnologia da Informação da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mas o espaço para avanço no comando de voz é gigantesco e rápido. No ano passado, a Consumer Electronics Show, a CES, maior feira de eletroeletrônicos do mundo, exibiu em Las Vegas uma janela para essas tendências tecno lógicas. Assistentes virtuais e reais movidos pela inteligência artificial, e por uma simples ordem de voz, deverão estar espalhados pelos lares em poucos anos, dos robôs para aspirar a casa a geladeiras que fazem muito mais do que manter a temperatura. No centro disso estão os assistentes pessoais como a Alexa, da Amazon, e o Google’s Assistant, dois dos mais populares até agora.
“O touch ainda deverá ser preservado por algum tempo, mesmo já sentindo o desgaste dos anos”, projetou Strauss. “Agora, quanto tempo, não sei. Já fiz previsões de coisas que sumiriam em 20 anos e elas levaram dois, três. E já pensei que outras tecnologias emergiriam, mas foram abortadas no meiodo desenvolvimento”, completou.
Para ter uma ideia da distância entre o surgimento de uma tecnologia e a chegada a um público mais amplo, o primeiro aparelho com touchscreen surgiu em 1967, segundo um artigo do pesquisador da Microsoft Bill Buxton, quatro décadas antes do iPhone. Era um equipamento para uso em radares de controle de tráfego aéreo, que ficou em ação até a década de 1990, criado pelo inglês Eric Johnson, no Royal Radar Establishment, em Malvern, Inglaterra.
A geração seguinte aos produtos de comando de voz também já está sendo desenhada. Nem tocar, muito menos falar, apenas gestos. O Google, por exemplo, está realizando o Projeto Soli. Nele, há a criação de chips que captam o movimento das mãos. O dono do dispositivo aperta o polegar contra o indicador – como se existisse um botão ali – para ativar alguma função ou desliza a ponta dos dedos – como se girasse uma manivela – para aumentar ou diminuir o som.
Não que o objetivo seja esse, mas os mecanismos dos dispositivos do futuro serão 100% seguros contra o coronavirus. Isso se até lá não surgirem novos e mais terríveis problemas.
Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia (2Corpintios 4.16).
O apóstolo Paulo nos ensina a viver na dimensão da eternidade. Nossos pés estão na terra, mas nosso coração está no céu. Vivemos neste mundo como peregrinos, mas estamos a caminho da nossa pátria permanente. Três verdades saltam aos nossos olhos. Em primeiro lugar, temos um corpo fraco, mas um espírito renovado. Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia Nossa fraqueza física é notória e indisfarçável. O tempo esculpe em nossa face rugas profundas. Nossas pernas ficam bambas; nossos joelhos, trôpegos; e nossas mãos, descaídas. Cada fio de cabelo branco que surge em nossa cabeça é a morte chamando-nos para um duelo. Nosso homem exterior, ou seja, nosso corpo, enfraquece-se progressivamente. Ao mesmo tempo, porém, nosso homem interior, ou seja, nosso espírito, renova-se dia após dia, transformado de glória em glória na imagem de Cristo. Na mesma medida em que nosso corpo se enfraquece, nosso espírito se fortalece. Na mesma proporção que o exterior se corrompe, o interior se renova. Temos um corpo fraco, mas um espírito forte.
A maior rede social corporativa do mundo, comprada pela Microsoft por US$ 26,2 bilhões, se torna obrigatória e dispara em meio à pandemia. O networking, em tempos de desemprego, nunca esteve tão valorizado.
A transição da adolescência para a fase adulta é marcada por um turbilhão de mudanças. Dói. O que é parte inescapável do processo de crescimento. Vale para as pessoas, vale para as empresas. O LinkedIn, maior rede social de identidade profissional e negócios do mundo, que neste mês completa 17 anos, vive essa fase. E se aproxima da maioridade justamente em um período turbulento. No epicentro da pandemia do novo coronavírus. Mas é exatamente nesse vórtice da economia mundial que a plataforma se consolida como obrigatória para trabalhadores e empregadores acompanharem as tendências corporativas. A vocação inicial de ser apenas um espaço de recrutamento está definitivamente para trás. “Nossa missão é conectar profissionais do mundo para torná-los mais competitivos e bem-sucedidos”, afirma Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para o Brasil e a América Latina. “É uma rede de muita abrangência, tanto para proposições dos usuários quanto de empresas.” Ter seu perfil nela tornou-se inevitável a qualquer pessoa, física ou jurídica.
O LinkedIn instalou seu escritório em território brasileiro em 2011, quando tinha 6 milhões de usuários na rede por aqui. Hoje tem 43 milhões – o País é o quarto maior da plataforma, superado apenas por Estados Unidos (onde nasceu), China e Índia (com seus bilhões de habitantes). A média é de 100 mil novos perfis criados por semana. “Atingimos muita gente, mas gostaríamos de atingir mais. É a visão que nos norteia”, afirma Beck, funcionário com o crachá de número 2 do LinkedIn no Brasil. O número 1 foi de Osvaldo Barbosa de Oliveira, que o contratou no início de 2012 e deixou a empresa em 2016.
Nesses anos tanto usuários quanto a própria plataforma entenderam que mais que expor currículos o LinkedIn é um ambiente de exposição de marcas – as corporativas e as pessoais – e, consequentemente, um espaço de negócios. Terra fértil. Vale desde o empregado que aplica energia na ampliação do networking publicando conteúdos originais por meio de artigos, postagens de documentos e vídeos, até para a empresa que se posiciona compartilhando dados e informações e, de quebra, divulgando serviços ou produtos. Uma verdadeira vitrine para ver e ser visto. Flavia Gamonar, da divisão de Learning do LinkedIn, diz que é preciso transmitir a mensagem por meio de uso constante e postura. “Sempre levando junto a marca pessoal”, afirma.
CURSOS
Há aplicações mais robustas que permitem usar a rede de forma mais proveitosa. Para saber detalhadamente quem visualizou um perfil ou obter contato e conversar com líderes das corporações, a opção do usuário é assinar o Premium. O meio é igualmente importante às corporações, para fazer publicidade mais assertiva, recrutar talentos ou treinar equipes por meio do LinkedIn Learning, que oferece 15 mil cursos em vários idiomas – desde ensinar a usar Excel até como se relacionar com um chefe difícil –, sendo 200 em português.
Também há o LinkedIn Sales Navigator, lançado em 2014, que conecta compradores e vendedores. Tudo isso gera monetização para a rede social. São planos disponíveis tanto para profissionais quanto para empresas, divididos em quatro modelos com pagamentos mensais. Para carreira, com foco na recolocação profissional, R$ 49,99. Para ampliar e desenvolver redes de contatos para negócios, R$ 69,99. Em vendas, para profissionais que buscam potenciais compradores, R$239,99 (com acesso ao Sales Navigator). E contratação, para recrutadores e profissionais de Recursos Humanos em busca de talentos, R$ 439,17 (acesso ao software Recruiter). Dando suporte necessário a essa estrutura, são 255 funcionários no escritório do LinkedIn no Brasil.
A gigante não revela seus resultados. Nem a fatia que cada linha de solução traz. Um estudo divulgado no início do ano – antes da pandemia, portanto – pela eMarketer, especializada em mercado de marketing digital, mídia e comércio com base em assinaturas, apontou que globalmente o LinkedIn atrairá US$ 1,59 bilhão apenas com publicidade em 2020. Em 2021, US$ 1,77 bilhão. Segundo analistas, em seu último ano fiscal a rede social faturou, no geral, US$ 6,75 bilhões. Os resultados oficiais do trimestre encerrado em março de 2020 pelo grupo Microsoft, proprietário da marca, diz apenas que a performance foi 21% superior à do mesmo período de 2019. Mas com um sinal de alerta. “Nas últimas semanas do trimestre, porém, houve desaceleração, principalmente em pequenas e médias empresas, e uma redução nos gastos com publicidade no LinkedIn.” Hoje, a rede social possui 690 milhões de usuários. Em 2019, 4 milhões de profissionais de todo o mundo usaram a plataforma para mudar de emprego.
ENGAJAMENTO
Essa massa de usuários não para de crescer. E interagir. Com as pessoas em casa, de quarentena, em home office, o engajamento na plataforma aumentou em todo o mundo. E muito. Houve crescimento de 26% na criação de sessões e grupos. As conversas entre os usuários saltaram 55%. Os treinamentos on-line tiveram procura 50% maior. Foram 4 milhões de horas de cursos oferecidos pela rede social aos usuários.
Da mesma forma que o LinkedIn oferece oportunidades, ele também as aproveita. Duas ferramentas foram recentemente lançadas. Uma delas, o Stories, começou pelo Brasil e tem gerado resultados expressivos. A divulgação de conteúdo que permanece 24 horas para visualização já é bastante usada pelos brasileiros em outras redes e também caiu na graça no LinkedIn, para uso mais profissional. Esses tipos de posts mostram em tempo real como está sendo o home office das pessoas, as rotinas, as situações inusitadas encaradas nesta pandemia que alterou os processos tradicionais das corporações. “Brasileiro adora isso”, diz Milton Beck. “Registramos nas nossas métricas uma utilização acima do esperado”, afirma o executivo.
As transmissões ao vivo são outra novidade. Ainda estão em testes, liberadas para poucos produtores de conteúdo e empresas que solicitam acesso especial. “As lives atraem muita atenção. Cada postagem desse tipo tem 23 vezes mais comentários e seis vezes mais reações do que vídeos normais”, diz Beck. De acordo com Madalena Feliciano, gestora de carreira e CEO da Outliers Careers e IPCoaching, o engajamento é fator multiplicador. Para cada pessoa conectada, outras 400 podem ser alcançadas. “Para se dar bem na rede, é preciso montar seu perfil de acordo com a imagem que você deseja mostrar, estabelecer sua marca profissional e publicar conteúdo útil”, afirma. “Além de atualizar suas informações regularmente e manter sua participação ativa.”
A plataforma também estimula a participação dos usuários –, mas é território quase blindado para o chamado Fla-Flu político, tão presente em redes sociais como Facebook e WhatsApp. Beck diz que o fato de a plataforma estar associada a um ambiente profissional, com a pessoa identificada e vinculada a uma organização, com cargo, faz as vezes de filtro. “Isso já inibe, impõe certo limite a possíveis haters”, afirma. “Atitudes de ódio e desprezo pelo outro não acontecem.” O executivo diz que há regras de políticas de uso do LinkedIn, monitoradas por Inteligência Artificial e por curadores. Mas se isso funcionasse por si só o Facebook e o Twitter não seriam campos de batalha. O papel de um ambiente profissional parece cuidar de boa parte desse cenário menos belicoso.
MENOS VAGAS
Se por um lado o engajamento está em alta, por outro a crise provocada pelo novo coronavírus deixa seus estragos. A plataforma registra queda de 28% nas vagas anunciadas pelas companhias. Antes da pandemia, eram 200 mil oportunidades abertas em média. Hoje, são 144 mil. “Há insegurança no mercado”, afirma Beck. Mas é preciso olhar nos detalhes, porque existe um desbalanceamento nas ofertas. Muitas vagas foram extintas, principalmente nas áreas de turismo, entretenimento e academias, que têm sofrido mais com a paralisação de serviços. Porém, há oportunidades criadas nos setores ligados ao combate direto à Covid-19, como postos de enfermeiros, médicos, backoffice de hospitais, além de serviços essenciais como o de alimentação, com demandas que vão de caixas de supermercado a entregadores de mercadorias e refeições por delivery. Também houve crescimento de vagas para área de tecnologia.
Diante desse cenário de descompasso, o LinkedIn imprime algumas ações de apoio. A primeira iniciativa foi oferecer gratuitamente algumas funcionalidades a empresas que visam contratar profissionais da linha de frente, em especial hospitais e supermercados, para minimizar os efeitos da crise. Funcionários da plataforma com experiência em recrutamento iniciaram trabalho voluntário para buscar profissionais a essas companhias. O LinkedIn também abriu sua ferramenta Sales Navigator a ONGs que precisam captar recursos financeiros e doações. Para usuários desempregados, a rede social liberou 275 cursos gratuitamente, em sete idiomas, sendo duas séries de 24 cursos em português. “Os empregos diminuíram, mas vão voltar. Ajudamos nessa retomada”, diz Beck.
TRAJETÓRIA
O currículo do próprio LinkedIn começou a ser formulado em 2002, quando Reid Hoffman, Allen Blue, Jean-Luc Vaillant, Eric Ly e Konstantin Guericke iniciaram o esboço do conceito de uma rede profissional on-line, ainda que de forma simples. A ferramenta foi colocada no ar em 5 de maio de 2003, antes dos primos mais populares Facebook (2004), Twitter (2006) e Instagram (2010). Começou com apenas 350 contatos dos próprios colegas dos criadores. E cresceu organicamente pelo potencial para troca de conhecimentos, novidades e oportunidades do mercado de trabalho. Tamanho foi o sucesso da rede que, em 2016, atraiu o interesse da gigante Microsoft, que naquele ano comprou o LinkedIn por US$ 26,2 bilhões.
Até chegar a esse patamar, a rede registrou alguns percalços. Um dos principais foi um certo preconceito por parte de profissionais que ocupavam postos de alto escalão. Isso ocorria porque era vista apenas como uma plataforma de recrutamento. Ou seja, a pessoa estava cadastrada nela para procurar emprego. CEO, presidente, chairman ou diretor evitavam a rede. “Acreditavam que poderia ser negativo para a imagem”, diz o diretor-geral. Mais do que isso, passariam a impressão de que a empresa que representavam não estaria bem.
Por isso, o LinkedIn funcionava como um anúncio de jornal ou um panfleto colocado na porta de uma loja. Ainda que de forma mais sofisticada, pois estava alocada em uma rede social, com algumas funções de busca. Nas companhias, era comum haver apenas um headhunter – ou a contratação dos serviços desse profissional em empresas especializadas – para caçar talentos no mercado, e só para as áreas de chefia. Aos poucos, o LinkedIn começou a ser observado de forma diferente. “Foi um trabalho de formiguinha”, diz Beck. “Nas visitas que fazíamos, explicávamos para as empresas que elas poderiam fazer uma busca direcionada e selecionar os melhores profissionais para todas as posições.” Mas as companhias não estavam acostumadas com esse modelo. “Devagar, mostramos que era uma rede funcional. Isso não existia dez anos atrás. Foi revolucionário.”
A roda começou a girar a favor, de forma natural. Quanto mais as empresas contratavam pelo LinkedIn, mais os profissionais compreendiam a importância de estar na plataforma. Era uma oportunidade para desenvolvimento de carreira das pessoas. E formou-se um ciclo virtuoso. Os recrutadores passaram, então, a fazer uma busca ativa, não apenas passiva entre os que se interessavam pelas vagas anunciadas.
MESMO NÍVEL
A mudança de mentalidade das corporações foi rápida e radical. Recente pesquisa da Jobvite, especializada em recrutamento, mostra que 93% dos entrevistadores buscam o perfil de seus possíveis candidatos no LinkedIn. Mais do que isso, se antes havia receio e preconceito, hoje há necessidade de expor posicionamentos, visões e missões na plataforma, muito em razão dos planos e estratégias de comunicação terem evoluído e a presença e popularidade de outras redes terem colaborado para isso. Organizações e líderes usam o espaço para mostrar a cara da corporação. E nesse sentido não há diferença cultural corporativa entre o Brasil e outros países. “Grande parte das empresas brasileiras está no mesmo nível de sofisticação das europeias, por exemplo, na compreensão do potencial da rede”, afirma Beck.
E não são apenas assuntos pertinentes à própria companhia que caem no gosto dos usuários. Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, posta artigos que vão desde educação até sobre violência contra mulher. “É um assunto muito sério neste período de quarentena. O Magazine Luiza vai meter a colher sim. A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. Chega!”, escreveu a empresária, que lidera o ranking do LinkedIn entre os maiores influenciadores da plataforma. Entre as companhias, o Itaú está na primeira posição do ranking que mostra as empresas mais desejadas para se trabalhar. E também toca em assuntos que fogem de seu métier, mas que posicionam o banco perante a sociedade, para agregar valor à marca. No dia 17 de maio, a instituição financeira abordou o Dia Internacional contra a Homofobia, de conscientização sobre os direitos LGBT. “É um dia para refletir sobre as dores e conquistas do passado, mas também para celebrar o respeito, a diversidade e a liberdade de todas as pessoas serem quem elas realmente são”, pontuou na publicação. O LinkedIn começa a escalar a idade adulta com a maturidade de um veterano. E como plataforma inevitável e cada vez mais desejável quando se trata de mundo do trabalho. O seu, o da sua empresa ou o do futuro.
A CARTILHA DO LINKEDIN
Um perfil completo e atualizado pode transmitir confiança e credibilidade. Dentre as principais dicas para usar a rede de forma adequada e em seu máximo potencial, estão:
O que leva muitos brasileiros à resistência e a não democrática aceitação de gêneros que saiam da padronizada definição de homem e mulher
Homem é homem e mulher é mulher. Certo? Errado. Se muitos brasileiros ainda pensam dentro desse rígido dualismo, é porque são, segundo sociólogos e psicólogos sociais, desprovidos de empatia. Dessa forma, resistem àquilo que não lhes é igual. Pior: tal comportamento implica reacionarismo. Pior ainda: se a falta de empatia e as atitudes reacionárias levam alguém a opinar sobre a vida do outro, ultrapassou-se todos os limites éticos. É mais do que falta do que fazer: é possuir um temperamento autoritário, falso moralista e antidemocrático. Esse fenômeno, que leva a radicalismos, atinge os planos econômico, racial, étnico, político, ideológico e, principalmente, o de gênero. Explica-se, assim, o ódio gratuito que ainda é comum ver-se pelos casais LGBTs. E, também se explica, a violenta reação nas redes sociais contra o ator e homem trans Thammy Miranda, pelo fato de ele ter integrado uma campanha publicitária destinada ao Dia dos Pais para a marca de cosméticos Natura. Thammy foi um dos assuntos mais comentados no Twitter. Muita gente mostrou-se inconformada e revoltada porque ele tem um filho fruto de inseminação. “Ninguém precisa me agredir porque é diferente de mim”, disse Thammy. “É tão surreal não existir respeito que eu fico sem palavras para explicar o que deveria ser natural”.
Houve um tempo em que corpos eram queimados em fogueiras e em praças públicas quando não se coadunavam ao padrão que a sociedade impunha — no qual só entravam famílias formadas por homens e mulheres que psicologicamente e emocionalmente se identificam com o gênero com o qual nasceram e que hoje ganharam a denominação de cis. Para bem da democracia social, o tempo foi andando e algumas conquistas nesse campo dos direitos civis estão sendo consolidadas. “A orientação sexual já foi vista como pecado, crime e doença”, diz Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+. Em 2005, ele e o marido, David Harrad, resolveram aumentar a família. Iniciaram o que seria a “gravidez” mais longa da história: adotar filho sendo um casal homoafetivo. Ao longo de uma década sonharam com a família ao mesmo tempo que lidaram com a burocracia da Justiça: “Queria que os preconceituosos ficassem um mês na nossa pele para entender o que sentimos”. Situação similar ocorreu com Ricardo Reis e Léu Vieira. “Nossa sociedade é marcada pelo preconceito: machismo, racismo e intolerância em diversos aspectos. Isso é medo do novo”, diz Ricardo. “Desde pequeno somos educados a ter medo e esse fato liga-se a tabus”.
A cada momento a falta de empatia com a vida do outro é reafirmada por muita gente no Brasil — fenômeno que, felizmente, tende cada vez mais a deixar de existir. Impõe-se que o outro seja como eu sou, e, quando o avanço e as discussões plurais ganham força, reacionários resistem para que a sociedade seja um aglomerado de iguais — homogênea e arcaica. “Do ponto de vista psicológico, falta empatia a muitos brasileiros. Falta pensar nas consequências que um comentário maldoso pode ter na vida de alguém”, diz Sheila Queiróz, psicóloga da conceituada Clínica Maia e especializada em saúde mental. “As crianças precisam ser educadas para o diferente não ser visto como ruim”. É assim que a plena existência poderá ser alcançada, uma vez que sociedades igualitárias somente são possíveis quando as liberdades e garantias individuais forem respeitadas. “Apesar do ditado de que não há pecado abaixo da linha do equador, temos fortes estruturas de violência contra as minorias”, diz Renan Quinalha, professor de Direito da Unifesp. “E a democracia pressupõe garantia de direitos individuais”.
GENITOR NÃO É PAI
A transexualidade significa o gênero com o qual uma pessoa se identifica, não importando os seus órgãos reprodutores. No caso de Thammy os ataques, ainda que absurdos, não saíram das redes sociais. Mas, na chamada vida real, a coisa é tristemente bem diversa e o Brasil tem pouco de positivo. O nosso País lidera de maneira trágica e vergonhosa o ranking das nações nas quais mais se matam transexuais em todo o mundo. Aqui, alguém assumir a sua vontade sexual, saindo do padrão, implica risco de morte e violência. “O órgão sexual não define gênero. E ser pai é diferente de ser genitor”, diz Lorenzo Vincenzo, homem trans casado com uma mulher cis, que, antes de conhecê-lo, cuidava sozinha dos filhos – cada criança é biologicamente fruto de diferentes relações. A democracia, na mais ampla dimensão humana, pressupõe a não resistência às escolhas da outra pessoa. A melhor forma de caminhar para isso é seguir o que nos ensinou a escritora e poeta americana Maya Angelou: “Nenhum de nós pode ser livre até que todos sejam livres”.
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
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